VIVÊNCIA DE UM GRUPO DE SENTIMENTOS NO CAPS PRADO VEPPO- SM-RS.

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1 VIVÊNCIA DE UM GRUPO DE SENTIMENTOS NO CAPS PRADO VEPPO- SM-RS. Niara Cabral Iserhard 1 Annie Jeanninne Bisso Lacchini 2 Na década de 80, o movimento brasileiro pela reforma psiquiátrica teve uma iniciativa na luta por uma sociedade sem manicômios, que reflete a tendência para comprometer a sociedade no domínio do processo de desinstitucionalização, estabelecendo metas para extinção da violência nas instituições visando uma nova realidade na psiquiatria. A influência de Franco Basaglia foi marcante, dando origem a reconstrução do conceito desinstitucionalização, no sentido das transformações mais propriamente qualitativas, no âmbito do modelo de saúde que se implementa. Trouxe contribuições no processo prático-teórico de desinstitucionalização. Surge um novo contexto prático-discursivo sobre a loucura e o sofrimento humano. Abre-se uma nova perspectiva de relação ética entre os homens e as instituições. Hegel defendia o conceito se é possível tratar, se é possível reeducar (moralmente), é porque não há perda absoluta da razão ou da liberdade. Assim, não havendo perda absoluta da razão ou da liberdade, torna-se possível resgatar a totalidade do ser humano em reconstituir a moral. Somente em 2001 foi criada a Lei em 6 de abril, após 12 anos de rejeição do projeto original, foi aprovado um substitutivo que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental, ficando conhecida como a Lei da Reforma Psiquiátrica Brasileira. Cidadania e direitos não basta, não se determina que as pessoas sejam cidadãs e sujeitos de direito por decreto. A construção de cidadania diz respeito a um processo social e, tal qual se refere ao campo da saúde mental e atenção psicossocial, sendo um processo social complexo. A atenção psicossocial é 1 CAPS Prado Veppo 2 Universidade Federal de Santa Maria

2 2 necessária para acolher pessoas em crise, possibilitando que todas as pessoas envolvidas possam ser escutadas, expressando suas dificuldades, temores e expectativas. É importante estabelecer vínculos afetivos e profissionais com estas pessoas, que elas sejam realmente escutadas e cuidadas, que percebam a ligação dos profissionais efetivamente voltados para seus problemas, dispostos e compromissados a ajudá-las. Na saúde mental e atenção psicossocial, o que se pretende é uma rede de relações entre sujeitos, sujeitos que escutam e cuidam: médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais e outros autores que são evidenciados neste processo social complexo. O processo de trabalho incorporou as questões nascidas de todas as experiências, inclusive aprendendo com a tradição basagliana a refletir e a incorporar os erros e os acertos dos processos anteriores. O conjunto das estratégias e princípios no campo da saúde mental e atenção psicossocial no Brasil são responsáveis por um novo cenário político, em que há um efetivo processo de participação e construção social sem similar em nenhum país do mundo, mesmo na Itália. A atenção psicossocial é um dispositivo da reforma psiquiátrica, na qual tem compromisso com o usuário de desenvolver a sua autonomia e assegurar os seus direitos humanos na sociedade. Como enfermeira da equipe multiprofissional da atenção psicossocial notou-se a necessidade de criar uma Oficina Terapêutica de sentimentos, para os usuários intensivos do CAPS Prado Veppo. Os autores Costa e Figueiredo (2008) nos trazem algumas contribuições referentes a Oficinas Terapêuticas, relatando que essa atividade propicia a inclusão de todos os usuários, e o movimento conjunto do grupo, onde o contato entre os indivíduos com o senso de realidade considerado debilitado ou anormal, cujas singularidades são castradas incessantemente pelo padrão de normalidade, tornam-se inexistentes. Frente a isso, objetivou-se realizar atividades grupais de socialização e expressão de sentimentos, em usuários com sofrimento psíquico. A realização dessas oficinas objetiva a escuta, o ouvir atento, e a discussão com os usuários em relação ao significado do serviço prestado pela equipe, e juntamente com eles oportunizar um espaço para que consigam

3 3 expor os seus sentimentos. A oficina de sentimento trabalha com a reinserção social do usuário na comunidade, com a sua valorização enquanto ser humano, e da aceitação de seus limites e do seu sofrimento psíquico. Os usuários intensivos foram convidados a participar da oficina, com hora e dia previamente agendados, com realização semanal. Obteve-se a presença de 12 integrantes, no primeiro momento foi abordado um assunto relacionado com o CAPS, no segundo momento os usuários se manifestam expressando o sentimento em relação ao assunto e um desenho explicando o que significa esse sentimento em suas vidas, no terceiro momento eles tem um espaço para explicar o significado do desenho relacionando com a convivência de seu cotidiano no serviço, na família e na comunidade. No primeiro encontro, que foi o mais marcante foi abordado o tema: O que o CAPS representava em suas vidas? O sentimento de todos integrantes do grupo foi positivo relatando palavras como: segurança, família, amizade, casa, compreensão, acolhimento, felicidade e bem estar. Todos os desenhos representaram uma união entre os usuários e profissionais, independente dos problemas que existem no CAPS, para eles o serviço é a sua verdadeira casa. É o momento de escuta que fortalece o vínculo do profissional com os usuários, permitindo estabelecer a confiança e o respeito para que eles exponham seus sentimentos. Foi possível perceber que os usuários sentem-se valorizados como sujeito nesse contexto, e é uma realidade necessária na reconstrução da sua vida, pois vêem a Oficina de Sentimentos como um espaço real na vida deles, uma vez que se trabalham temáticas relacionadas à realidade deles, no contexto de vida em que estão inseridos. Os usuários ainda expressaram que a oficina foi uma contribuição importante no processo de tratamento, e demonstraram muito entusiasmo para posteriores participações nas Oficinas. Nesse tipo de atividade participa-se na solução de conflitos, compartilhando medos e angústias pelo sofrimento psíquico, e identificam-se os obstáculos que impedem o desenvolvimento do sujeito no cotidiano. As relações sociais necessitam de evolução e fortalecimento, atitudes devem ser repensadas, para que assim possamos garantir a segurança pessoal, liberá-los das influências externas impondo hábitos intelectuais e morais. Laços familiares duradouros com mais autonomia na sua vida cotidiana

4 4 com atividades na comunidade, perto de suas residências, exercendo a cidadania e fortalecendo seus direitos humanos. Palavras-chaves: Enfermagem, saúde mental, oficina terapêutica.

5 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COSTA, C.M. FIGUEIREDO, A. (org) Oficinas Terapêuticas em Saúde Mental: Sujeito, produção e cidadania. Rio de Janeiro. ContraCapa,2008. AMARANTE, P. Saúde Mental e Atenção Psicossocial. Rio de Janeiro: Fiocruz, AMARANTE, P. O Homem e a Serpente: Outras Histórias para a Loucura e a Psiquiatria. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2008.