A Biopolítica contemporânea como forma de gestão dos corpos

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1 2 A Biopolítica contemporânea como forma de gestão dos corpos Suspeitamos que o Holocausto pode ter meramente revelado um reverso da mesma sociedade moderna cujo verso, mais familiar, tanto admiramos. E que as duas faces estão presas confortavelmente e de forma perfeita ao mesmo corpo. O que a gente talvez mais tema é que as duas faces não possam mais existir uma sem a outra, como verso e reverso de uma moeda. (Zygmunt Bauman) Nos anos oitenta, o Brasil atravessa uma profunda mudança política, ao sair de um regime ditatorial que durara mais de vinte anos. Da mesma forma acontece com outros países da América Latina no chamado período de redemocratização. O cenário político mundial neste período foi extremamente favorável para esse processo. De acordo com Paulo Arantes golpes de estado hoje em dia são politicamente incorretos 1. Os regimes militares nos países periféricos se tornaram obsoletos. Quando o muro ruiu e o regime comunista entrou em colapso, não havia mais necessidade da manutenção de um regime autoritário nos governos do Cone Sul para controlar as insurgências. Só que os esperados dividendos da almejada paz não vieram. Pelo contrário, foram reinvestidos em um novo período de guerra. No contexto político mundial, observa-se o enfraquecimento do Estado Nação e uma diminuição do seu poder de negociação, simultaneamente a ascendência de um novo valor - a segurança. O nosso tempo pode ser caracterizado pela mudança da política internacional, da posição de defesa para a de segurança. Não é mais suficiente reagir às ameaças, talvez isso já seja tarde demais. A ordem política agora é adotar uma postura ativa 2. A segurança começa a aparecer nos discursos oficiais não como um dos direitos fundamentais, mas como o valor supremo, o qual deve ser buscado a qualquer custo, inclusive do sacrifício de outros direitos. As modernas nações democráticas receberam poderes para declarar guerras defensivas, aquelas declaradas para evitar um suposto 1 ARANTES, Paulo. Extinção. Op. Cit. p HARDT, Michael; NEGRI, Antonio. Multidão: guerra e democracia na era do império. Rio de Janeiro: Record, p. 40.

2 48 ataque. A segurança exige um constante condicionamento do ambiente político por meio de práticas militares e policiais. Ela adquire um caráter biopolítico, a partir do momento que transforma a vida social. A suspensão da ordem democrática durante os períodos de guerra sempre foi vista como uma condição temporária, devido a situação excepcional. Entretanto, esse estado de guerra, segundo Antonio Negri transformou-se em nossa condição global permanente 3, o que permite concluir que essa suspensão do ordenamento não mais se configura na situação excepcional, mas tornou-se a regra, conduzindo inclusive essas democracias a se tornarem totalitárias. Diante dessa conjuntura, Giorgio Agamben apresenta sua tese sobre o estado de exceção permanente, em resposta a uma mistificação da nova ordem mundial, na tetralogia sobre o Homo Sacer. Seus textos se iniciam no início dos anos 60, mas perante os acontecimentos no início do século XXI e diante de uma convergência entre democracia e sistema totalitário, a problematização da relação soberana recebeu uma nova perspectiva de discussão. Na tetralogia, o autor utiliza os paradigmas 4 do homo sacer 5 e do campo de concentração para desenvolver a articulação da estrutura entre soberania e vida nua. O discurso da excepcionalidade então é chamado a baila com maior frequência, como recurso necessário e como justificativa para a restrição de liberdades. O mundo pós 11 de setembro assistiu a volta de práticas violentas, as quais foram chanceladas como custo necessário. O cenário biopolítico do nosso tempo ganha um novo elemento com a promulgação do Ato Patriótico em 2001, promulgado pelo senado norte-americano, em que o significado biopolítico da 3 HARDT, Michael; NEGRI, Antonio. Multidão: guerra e democracia na era do império. Op. Cit. p Agamben escreve sobre as diversas formas de interpretação do conceito de paradigma, para esclarecer o caráter de sua investigação não era meramente historiográfico. O autor estabelece sua definição de paradigma como um objeto singular, válido para todos da mesma classe, define a ideia do conjunto do qual faz parte e constitui. O homo sacer, o muçulmano, estado de exceção e o campo de concentração são casos de paradigmas no son hipótesis a través de lãs cuales se intenta explicar La modernidad, reconduciéndola a algo así como a uma causa o um origen histórico. Por El contrario, como su misma multiplicidad podría dejar entrever, se trata em todos lós casos de paradigmas que tenían por objetivo hacer inteligible uma serie de fenômenos cuyo parentesco se le había escapado o podia escapar a La mirada Del historiador. AGAMBEN, Giorgio. Qué es um paradigma? p Figura do direito romano arcaico que representava um indivíduo fora do direito, contra o qual a morte não representava um homicídio. Sua figura representa o contraposto do poder soberano no campo jurídico. Homo Sacer O poder soberano e a vida nua I. Op. Cit. p.16.

3 49 exceção aparece em toda sua potência, como estrutura em que o direito inclui em si o vivente por meio de sua suspensão. Essa ordem do presidente dos Estados Unidos autoriza a detenção do indivíduo suspeito por tempo indefinido, são os detainees um tipo inclassificável, objeto de dominação de fato. Essa detenção não tem natureza específica, pois não encontra respaldo no campo legal e, fora de qualquer tipo de controle 6. O estudo da soberania se mostra um elemento fundamental para compreensão da democracia contemporânea, apesar da aparente contradição promovida pela ideia de um sistema consensual. No Brasil, a necessidade dessa análise se coloca de forma mais urgente, devido ao aumento exponencial da violência institucional. Agamben faz essa análise: De modo diverso, mas análogo, o projeto democrático-capitalista de eliminar as classes pobres, hoje em dia, através do desenvolvimento, não somente reproduz em seu próprio interior o povo dos excluídos, mas transforma em vida nua todas as populações do Terceiro Mundo 7. Na realidade, a politização da vida nua tornou-se uma marca da modernidade, caminhando para transformações políticas e filosóficas radicais. Para o autor, os dilemas do nosso tempo só serão compreendidos sob o ponto de vista da biopolítica em que foram criados. A partir dos estudos realizados por Michel Foucault sobre o conceito de biopolítica 8 e Hannah Arendt ao tratar dos estados totalitários do novecentos, Agamben adentra o campo do direito para evidenciar possíveis relações entre direito e violência 9. O objetivo do autor não foi desenvolver uma tese pessimista e sensacionalista sobre as tendências políticas contemporâneas, mas na verdade, induzir a uma reflexão sobre os caminhos seguidos pelos governos atuais no sentido de entender as novas realidades do poder, na qual o regime de exceção é cada vez mais generalizado. Os conflitos atuais exigem da política novos direitos e mais restrições das liberdades, estreitando o vínculo entre a vida natural e o poder soberano. 6 AGAMBEN, Giorgio. Estado de exceção. Op. Cit. p AGAMBEN, Giorgio. Homo Sacer O poder soberano e a vida nua I. Op. Cit. p Para efeito deste trabalho não serão apresentadas aqui as diferenças teóricas do conceito de biopolítica na obra de Foucault e na obra de Agamben. 9 COSTA, Flavia. Entrevista com Giorgio Agamben. Op. Cit.

4 50 Hannah Arendt estudou os governos totalitários em sua obra Origens do Totalitarismo: anti semitismo, imperialismo, totalitarismo, na qual apontava estes como a emergência de um novo paradigma de governo, longe de ser ilegal, recorre à fonte de autoridade da qual as leis positivas recebem a sua legitimidade final; que longe de ser arbitrário, é mais obediente a essas forças sobre humanas que qualquer governo jamais o foi 10. Ou seja, Arendt conclui que a legitimidade do governo totalitário decorria justamente das leis positivadas. Esse funcionamento é importante para entender os governos atuais regidos pela lógica da segurança. Isto por que, o estado de exceção é uma sombra que paira sobre as democracias contemporâneas. E a sua sistemática interna não foi desmontada, como aparenta ter sido. Essa permanência será utilizada por Agamben em sua obra Homo Sacer para analisar o estado de exceção nos tempos atuais. Foucault apresenta a formulação definitiva do conceito de biopolítica no primeiro volume da História da sexualidade, intitulado como A Vontade de saber 11. Por muito tempo a grande particularidade do poder soberano foi o direito de vida e de morte. O filósofo francês estuda a transição do Estado-territorial para o Estado de população, o que significa uma atenção direcionada aos fatores da vida biológica da população. O poder começa a penetrar no corpo do sujeito e em suas formas de vida, o Estado assume um duplo vínculo político entre as técnicas de individualização subjetivas e a totalização objetiva: ele adota um cuidado com a vida natural dos indivíduos, ao mesmo tempo em que desenvolve as tecnologias de subjetivação, que consistem em vincular o indivíduo à própria identidade e 10 ARENDT, Hannah. Origens do Totalitarismo: anti-semitismo, imperalismo, totalitarismo. Companhia das Letras, p Concretamente, esse poder sobre a vida desenvolveu-se a partir do século XVII, em duas formas principais; que não são antitéticas e constituem, ao contrário, dois polos de desenvolvimento interligados por todo um feixe intermediário de relações. Um dos polos, o primeiro a ser formado, ao que parece, centrou-se no corpo como máquina: no seu adestramento, na ampliação de suas aptidões, na extorsão de suas forças, no crescimento paralelo de sua utilidade e docilidade, na sua integração em sistemas de controle eficazes e econômicos tudo isso assegurado por procedimentos de poder que caracterizam as disciplinas: anátomo-políticas do corpo humano. O segundo, que se formou um pouco mais tarde, por volta da metade do século XVIII, centrou-se no corpo-espécie, no corpo transpassado pela mecânica do ser vivo e como suporte dos processos biológicos: a proliferação, os nascimentos e a mortalidade, o nível de saúde, a duração da vida, a longevidade, com todas as condições que podem fazê-los variar; tais processos são assumidos mediante toda uma série de intervenções e controles reguladores: uma bio-política da população. FOUCAULT, Michel. História da sexualidade: a vontade de saber. Graal, Tradução: Maria Theresa da Costa Albuquerque e J.A. Guilhon de Albuquerque. p. 132.

5 51 consciência por meio de um controle externo 12. Neste ponto, Foucault não assumiu uma teoria unitária do poder e é justamente nessa interseção que se encontra o trabalho de Agamben 13. Ao mostrar essas duas análises o modelo jurídico-institucional e as fórmulas biopolíticas - de forma intrinsecamente relacionadas, na medida em que a vida nua constitui o núcleo originário do poder soberano 14. A biopolítica é um novo modelo de governamentalidade 15 e se apresenta como uma tecnologia de poder direcionada para a população 16. Segundo Foucault trata-se de uma tecnologia de poder que não exclui a técnica disciplinar, mas que a embute, que a integra, que a modifica parcialmente e que, sobretudo, vai utilizála implantando-se de certo modo nela, e incrustando-se efetivamente graças a essa técnica disciplinar prévia 17. Ela depende de duas vertentes distintas e igualmente importantes: técnicas de gestão dos corpos individuais, assim como as técnicas de governo das populações. O fio condutor de sua pesquisa consiste em reconstruir o vínculo entre o modelo jurídico institucional da soberania e o modelo normalizador das ciências humanas, analisar a relação entre a vida e o poder, libertando-a da violência intrínseca ao direito e consequentemente ao estado de exceção que o compõe como princípio interno. 12 AGAMBEN, Giorgio. Homo Sacer O poder soberano e a vida nua I. Op. Cit.p Neste ponto ocorre uma distinção entre as concepções de biopoder em Foucault e Agamben. A teoria de Foucault é construída sob uma separação bem definida entre os termos como disciplina e controle, ou entre disciplina e segurança, de forma a evitar uma teoria unitária do poder. Já Agamben trata do tema da soberania como um ponto de interseção nas transformações do poder, sem se preocupar com o poder de forma unitária, ou não. VIEIRA, Rafael Barros. Exceção, violência e direito: notas sobre a crítica ao direito a partir de Giorgio Agamben. Dissertação de Mestrado. Orientadora: Bethania Assy. PUC, Nota 274. p BATISTA, Vera Malaguti. Vida Nua e Soberania. Resenha Bibliográfica. Revista Discursos Sediciosos: crime, direito e sociedade. Ano 7, nº 12, 2º semestre de p A nova governamentalidade da política de Estado se apoia em dois grandes conjuntos de saberes e de tecnologias políticas, uma tecnologia político-militar e uma polícia. No cruzamento dessas duas tecnologias, encontram-se o comércio e a circulação interestatal da moeda: é a partir do enriquecimento pelo comércio que se espera a possibilidade de aumentar a população, a mão de obra, a produção e a exportação, e a possibilidade de se dotar de exércitos fortes e numerosos. REVEL, JUDITH. Dicionário Foucault. Rio de Janeiro: Forense Universitária, p Como uma razão de estado, ela foi formada por dois campos: uma tecnologia diplomático-militar que consiste em assegurar e desenvolver as forças do Estado por um sistema de alianças e pela organização de um aparelho armado. (...) A outra é constituída pela polícia, no sentido que então se dava a esse termo: o conjunto dos meios necessários para fazer crescer, do interior as forças do Estado. Segurança, Território, População Curso dado no Collège de France ( ). Trad. Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes p FOUCAULT, Michel. Em defesa da sociedade. São Paulo: Martins Fontes, p. 289.

6 52 A biopolítica não é uma criação da modernidade, ela tem sido uma constante na política ocidental. O objetivo de Agamben com esse estudo é desvendar o sentido da política ocidental para abrir um novo horizonte de possibilidades. A perspectiva adotada é da imanência da política, na medida em que volta-se para si própria. Com a ascensão dos estados totalitários ficou mais clara a problematização do estado de exceção. Qual seja, o problema da vida totalmente exposta a violência e ao poder soberano. No estado biopolítico, a soberania não atua mais sobre o poder de vida e de morte na tradicional formulação fazer morrer e deixar viver, mas constitui o seu inverso fazer viver e deixar morrer. Com o binômio regra e exceção, a vida natural torna-se um fator nos cálculos do poder estatal 18. O novo modelo político é formado por dispositivos direcionados a vontade do sujeito em afinidade com as tecnologias sociais. Os processos de subjetivação são direcionados para a formação do sujeito submetido a um controle externo. Sua consciência é manipulada no sentido de obediência a novas formas de controle. A sujeição é internalizada a ponto de formar corpos úteis e dóceis para o sistema, dotados de uma aparente autonomia. O poder passa a ser exercido sobre a vida. Nessa forma de gestão, a exceção aparece como vínculo originário, o que significa a violência como uma potencialidade permanente sobre o corpo individual e social da população. Para Agamben é impossível pensar a política sem realizar pesquisas arqueológicas, por entender que muitos conceitos jurídicos agem dentro dos mecanismos atuais de poder. Ao trabalhar o estado de exceção, ele busca entender o modo como a máquina político jurídica funciona, o que o levou a concluir o estado de exceção como um motor imóvel da máquina jurídica ocidental. 19 Em entrevista, Agamben define seu método como arqueológico e paradigmático, aproximando-se de Foucault, mas não necessariamente coincidente. Ele defende esse processo como a única via possível de compreensão do presente, transformando dicotomias em bipolaridades, por meio de paradigmas 20. Como por AGAMBEN, Giorgio. Homo Sacer O poder soberano e a vida nua I. Op. Cit. p. 10. SAFATLE, Vladimir. A política da profanação. Folha de São Paulo. 18 de setembro de COSTA, Flavia. Entrevista com Giorgio Agamben. Op. Cit. p. 2-3.

7 53 exemplo, o homo sacer, uma figura limítrofe utilizada por Agamben como um paradigma da biopolítica contemporânea. Este capítulo propõe uma análise dos paradigmas desenvolvidos por Agamben para compreensão do atual modelo de governo. O estado de exceção tem suas origens nos regimes totalitários do novecentos e permanências nas democracias ocidentais, por meio da relação de violência que interrompe e depõe o direito. O conceito de campo como um espaço onde a exceção é a regra. E o homo sacer, figura do direito romano arcaico que pode ser comparado ao muçulmano, figura dos campos de concentração que já não era mais considerado como pessoa, podendo ser encontrado em diversas figuras do cenário político mundial, pois observamos a desumanização de determinados sujeitos como ferramentas dos jogos de poder. 2.1 O estado de exceção permanente Se fosse possível e desejável resumir em uma única fórmula o atual estado do mundo, eu não pensaria duas vezes: estado de sítio. 21 (Paulo Arantes) Mas afinal, o que é o estado de exceção? Como incorporar em um mesmo sistema a previsibilidade legal e a excepcionalidade não contida no sistema? No seu sentido técnico-jurídico, ao se decretar o estado de exceção, a ordem jurídica normal fica suspensa, as categorias do lícito e do ilícito tornam-se indiscerníveis, o que era delituoso sob a ordem jurídica normal passa a ser justificado e permitido e, vice-versa. A lei vige em seu estar suspensa 22, os limites entre dentro e fora não fazem mais sentido, eles se anulam. É imprescindível saber onde começa e 21 Paulo Arantes não distingue estado de sítio de estado de exceção, ou de plenos poderes, ou estado de emergência. Todos são denominações para o regime jurídico excepcional a que uma comunidade política é temporariamente submetida, por motivo de ameaça à ordem pública, e durante o qual se conferem poderes extraordinários às autoridades governamentais, ao mesmo tempo em que se restringem ou suspendem as liberdades públicas e certas garantias constitucionais. ARANTES, Paulo. Extinção. Op. Cit. p AGAMBEN, Giorgio. Onde começa o novo êxodo. Revista Lugar Comum Estudos de mídia, cultura e democracia. nº 7, janeiro-abril p. 175.

8 54 onde acaba a emergência. No entanto, contraditoriamente, a ordem hoje é a exceção se tornar a regra e esse estado se transformar em permanente. A questão basilar nesse ponto da investigação se encontra na existência de mecanismos de suspensão legal dentro do próprio ordenamento jurídico. Como compreender um sistema jurídico construído sob os fundamentos da harmonização social por meio da representação da vontade geral? O entendimento corrente se funda sobre o direito como forma de legitimar a legalidade e o exercício do poder. Nesse raciocínio, o que não estaria previsto no sistema legal, estaria automaticamente fora do ordenamento, já que o direito é entendido como completo. Agamben se debruça sobre essa questão e estuda a estrutura do estado de exceção por entender esse instituto como uma chave de compreensão de alguns aspectos do direito. A complexidade da caracterização do estado de exceção corresponde também a sua incerteza terminológica. Agamben parte da ideia de que as escolhas terminológicas não podem ser neutras, então a expressão estado de exceção tem uma vinculação originária, relacionada com o estado de guerra 23. Mas essa ideia é equivocada, na medida em que ele não é um direito especial (de guerra), mas na verdade um conceito-limite determinador da suspensão da ordem jurídica. O estado de exceção remonta ao instituto do estado de sítio, no decreto de 8 de julho de 1791 da Assembleia Constituinte Francesa 24. Esse instrumento legal se originou como dispositivo associado a situação de guerra, que logo foi desvinculado e passou a ser usado pelas polícias em situações extraordinárias. Ele estende os poderes da autoridade militar ao âmbito civil e confere o poder de suspensão da constituição em situações excepcionais e de necessidade. Em 1811, o decreto napoleônico estende a incidência da decretação para além desses casos, em qualquer situação de ameaça. Na nova constituição de 1848 estabeleceu-se que uma nova lei definiria as situações, formas e efeitos do estado de sítio. No ano seguinte, essa lei é alterada, determinando que o estado de sítio poderia ser declarado pelo parlamento no caso de perigo iminente para a 23 AGAMBEN, Giorgio. Estado de exceção.op. Cit. p O estado de sítio remonta a tradição do Império Romano, entretanto, para efeito deste trabalho, o histórico iniciará a partir do século 18. AGAMBEN, Giorgio. Estado de exceção. Op. Cit. p. 16.

9 55 segurança, externa ou interna. Já em 1877, a lei é novamente alterada para estabelecer que o estado de sítio poderia ser decretado por uma simples lei em casos de perigo iminente devido a uma guerra externa ou a uma insurreição armada. Posteriormente, desemboca a Primeira Guerra Mundial, o que provoca na maior parte dos países em guerra um estado de exceção permanente. Essa situação se prorroga até 12 de outubro de 1919, período no qual a atividade do Parlamento se restringiu a votar leis cujo conteúdo era mera delegação da atividade legislativa ao executivo, foi nesse período que a legislação excepcional por meio de decreto governamental (que nos é hoje perfeitamente familiar) tornou-se uma prática corrente nas democracias europeias. Foi nessa época em que o executivo transformava-se em órgão legislativo, pois a ampliação dos poderes do executivo prosseguiu após o fim da guerra e, assim, a emergência militar deu espaço para a emergência econômica. Essa mesma delegação de poderes ocorreu novamente durante a Segunda Guerra Mundial, quando o presidente da frança pediu plenos poderes ao Parlamento para fazer face a ameaça da Alemanha. A partir de então, torna-se uma tendência nas democracias ocidentais a declaração do estado de exceção permanente, agora sob o paradigma da segurança como técnica de normal de governo. O histórico do estado de exceção foi reconstruído aqui de forma muito breve para evidenciar como as transferências de poder dentro das relações de soberania não ocorrem por meio de rupturas. Ao contrário, ele aponta a lógica da exceção sob uma dupla face, como uma zona de abertura e captura, ambas inseridas no sistema legal 25. A clássica definição de Carl Schmitt é soberano aquele que decide o estado de exceção 26 foi o ponto de partida do estudo de Agamben. A exceção tornada regra no estado de exceção é o fio condutor, quando o imperativo da necessidade e da utilidade incorpora-se a política, podendo-se afastar as leis e o direito para manutenção do Estado. Esse paradigma é entendido no campo da teoria do estado. Nessa linha, a contribuição de Schmitt consiste em considerar a exceção o próprio núcleo da norma, ela suspende a ordem jurídica, e assim, o soberano é quem decide a necessidade circunstancial justificadora da suspensão. 25 Uma evidência dessa tese é a tendência da política na era Bush em se auto denominar Commander in chief of the army, Bush procurou com isso produzir um ambiente de guerra, onde a emergência se torne permanente e não exista mais distinção entre paz e guerra. AGAMBEN, Giorgio. Estado de exceção. Op. Cit. p SCHMITT, Carl. Teologia Política. Belo Horizonte: Del Rey, p. 7.

10 56 O soberano detém a decisão. Com a justificativa de manutenção da ordem pública, o soberano exerce o poder decisório sobre a exceção, suspende a eficácia das normas apesar delas ainda serem formalmente válidas. Apresenta-se o paradoxo da soberania 27 : o soberano suspende o ordenamento que o define como soberano, ele se coloca fora de um ordenamento que garante a própria legitimidade da sua autoridade, a sua condição de existência. Então, o soberano está ao mesmo tempo dentro e fora da soberania, pois ele permanece fora do ordenamento ao suspendê-lo, ao mesmo tempo em que é dele a decisão da suspensão 28. Esse paradoxo é extremamente importante pois esclarece como a soberania constitui o conceito-limite do ordenamento jurídico. A exceção é uma espécie de exclusão. Ela é um caso singular, que é excluído da norma geral. Mas o que caracteriza propriamente a exceção é que aquilo que é excluído não está, por causa disto, absolutamente fora de relação com a norma; ao contrário, esta se mantém em relação com aquela na forma da suspensão. A norma se aplica à exceção desaplicando-se, retirando-se desta. O estado de exceção não é, portanto, o caos que precede a ordem, mas a situação que resulta da sua suspensão 29. No momento em que a regra é suspensa, ela abre espaço para a exceção. A exceção como definidora da estrutura da soberania é compreendida como aquilo que está fora suspendendo a validade do ordenamento. A lei mantém uma relação com essa exterioridade. Agamben denomina de relação de exceção 30 conexão entre a inclusão de alguma coisa por meio da sua exclusão. Essa afirmação poderia levar a conclusão da exceção ser entendida como uma lacuna no direito. No entanto, ela é mais do que isso, pois para essa situação bastaria a inclusão da exceção dentro do campo de previsibilidade da norma. Por isso, a exceção não pode ser caracterizada como uma mera lacuna no direito, não se refere a uma carência no texto legal que deve ser preenchida pelo intérprete jurídico. Refere-se antes a suspensão do direito como condição de sua existência 31. E ainda assim, haveria que se indagar quais situações provocam a essa 27 A exceção comprova que a soberania não se esgota na ordem jurídica. Da mesma forma que não a transcende pois ela é intrinsecamente relacionada com o direito. 28 A expressão ao mesmo tempo é fundamental para a compreensão do paradoxo pois o soberano, tendo o poder legal de suspender a validade da lei, coloca-se legalmente fora da lei. AGAMBEN, Giorgio. Homo Sacer O poder soberano e a vida nua I. Op. Cit. p AGAMBEN, Giorgio. Homo Sacer O poder soberano e a vida nua I. Op. Cit. p AGAMBEN, Giorgio. Homo Sacer O poder soberano e a vida nua I. Op. Cit. p Ao se entender a exceção como uma lacuna, tem que ser compreendida fora do seu sentido próprio. Se ela fosse um espaço no ordenamento, ela seria interna ao direito, o que não é

11 57 exceção? E mais importante ainda, quem determina essas situações? Ou seja, quem decide sobre a exceção? A explicação dogmática se restringe a defini-la como uma forma de proteção do sistema legal, mediante uma suspensão temporária da ordem legal vigente. Mas a exceção não é a negação da ordem legal posta, e sim a situação de anomia gerada a partir da suspensão, para justamente conservar seus fundamentos. Nesse sentido, a exceção se coloca como uma chave de compreensão fundamental do próprio direito, sobre o funcionamento da lei com a soberania: a situação paradoxal da exceção apresenta a inclusão do que foi expulso 32, o que significa um espaço de abertura e captura de relações não contidas dentro do ordenamento. Isso permite ao soberano decidir sobre situações jurídicas que não estão contidas na lei. O sistema passa a incluir uma exterioridade e o que está fora suspende a norma. O estado de exceção separa, pois, a norma de sua aplicação para tornar possível a aplicação. Introduz no direito uma zona de anomia para tornar possível a normatização do real 33. Essa inclusão exclusiva é o campo exato das tensões entre um mínimo de vigência formal e o máximo de aplicação real, provocando uma zona cinzenta de indistinção, o que comprova a insuficiência da divisão topográfica das normas para explicar o funcionamento da soberania e suas relações adjacentes. Na relação dicotômica entre norma e exceção a suspensão está incluída. Essa zona de inclusão exclusiva permite repensar a relação entre a lei e a decisão soberana, a centralidade do estado de exceção enquanto paradigma de funcionamento das estruturas jurídicas que procuram normatizar o campo da política e da ação social. Que o espectro da suspensão legal da lei, que este reconhecimento da lei que pode conviver com sua própria suspensão seja o motor imóvel das democracias contemporâneas 34. Essa nova forma de pensar a suficiente para explicar o instituto. Nas palavras do autor A lacuna não é interna à lei, mas diz respeito à sua relação com a realidade, à possibilidade mesma de sua aplicação. É como se o direito contivesse uma fratura essencial entre o estabelecimento da norma e sua aplicação e que, em caso extremo, só pudesse ser preenchida pelo estado de exceção, ou seja, criando-se uma área onde essa aplicação é suspensa, mas onde a lei, enquanto tal, permanece em vigor. AGAMBEN, Giorgio. Estado de exceção.op. Cit. p AGAMBEN, Giorgio. Homo Sacer O poder soberano e a vida nua I. Op. Cit. p AGAMBEN, Giorgio. Estado de exceção. Op. Cit. p SAFATLE, Vladimir. A política da profanação. Folha de São Paulo. 18 de setembro de 2005.

12 58 decisão soberana e a lei será importante para entender a elevada letalidade da política de segurança pública do Rio de Janeiro, na qual o Estado concede um poder de decisão a autoridade policial sobre o momento de morte 35. O estado de exceção fornece algumas pistas para identificar dentro de um Estado de Direito o funcionamento de uma tanatopolítica, em um momento que prevalece a lógica da segurança e da guerra infinita. Isto por que ao analisar a máquina governamental, através da perspectiva da política e do direito, pode-se observar como as hierarquias se invertem e o poder executivo, personificado na instituição policial, se apresenta no cerne do problema atual. Nesse espaço vazio de direito, a classificação jurídica tradicional do gênero de ações entre legislação, execução e transgressão perde o seu sentido, de forma que o agente policial quando comete um homicídio durante a exceção não cumpre nem transgride a lei, ele está inexecutando a lei 36. A segurança é colocada hoje como paradigma de governo. Mas contrariamente a concepção corrente, intensamente produzida pelas mídias, os estados contemporâneos não são garantidores da ordem. São na verdade, máquinas de produção e gestão da desordem. Eles não estão preocupados em impor a ordem, pois são justamente essas intervenções estatais que lhes dão legitimidade e reafirmam o seu poder 37. O modelo de estado totalitário moderno é caracterizado por meio de uma guerra civil legal, a qual permite a eliminação física de categorias inteiras de cidadãos considerados descartáveis nos cálculos de poder. Para essa prática, a criação voluntária de um estado de emergência permanente é primordial nas gestões democráticas 38, deixa de ser uma medida provisória para se tornar uma técnica de governo. 35 AGAMBEN, Giorgio. Sovereign Police. In: Means without end Notes on politics. Minneapolis: University of Minessota Press, p AGAMBEN, Giorgio. A zona morta da lei. Folha de São Paulo. 16 de março de Agamben cita uma frase de um policial italiano durante uma manifestação em Gênova característica desse tipo de pensamento: O Estado não quer que imponhamos a ordem, mas que administremos a desordem. Como política governamental, os Estados Unidos articulam suas intervenções mundiais sob essa perspectiva: Parece-me evidente que este é o princípio que guia, particularmente, a política exterior norte-americana, mas não apenas ela. Trata-se de criar zonas de desordem permanente ( zones of termoil, como dizem os estrategistas) que permitem intervenções constantes orientadas na direção que se julgar útil. Ou seja, os Estados Unidos são hoje uma gigantesca máquina de produção e gestão da desordem. AGAMBEN, Giorgio. Entrevista a Folha de São Paulo. 18 de setembro de AGAMBEN, Giorgio. Estado de exceção. Op. Cit. p. 13.

13 59 Para Agamben, a exceção evidencia a essência da autoridade estatal, na medida em que ela define a estrutura do poder soberano. No estado de exceção está em questão a validade da norma e consequentemente da autoridade estatal. A relação de exceção é demonstrada como aquilo que está fora, incluído por meio da suspensão da validade do próprio sistema jurídico. A regra ao ser suspensa, dá lugar a exceção e é por meio desse mecanismo que ela confirma a validade de sua condição. A exceção não pode ser definida nem como fato nem como direito, mas uma tentativa de compreensão pode colocá-la como um paradoxal limiar de indiferença 39, no qual o que está em jogo não é estabelecer delimitações entre o que está ou não incluído, mas de definir uma zona limiar ilocalizável de indiferença, a qual confirma a validade do ordenamento. A tese da exceção como estrutura política tende a tornar-se a regra nos dias atuais. Quando essa zona ilocalizável no âmbito legal tomou forma, ela foi concretizada no campo de concentração - o espaço do estado de exceção absoluto 40. É preciso refletir sobre o estatuto paradoxal do campo enquanto espaço de exceção: ele é um pedaço de território que é colocado fora do ordenamento jurídico normal, mas não é por causa disso, simplesmente um espaço externo. Aquilo que nele é excluído é, segundo o significado etimológico do termo exceção, capturado fora, incluído através da sua própria exclusão. Mas aquilo que, deste modo, é antes de tudo capturado no ordenamento é o próprio estado de exceção. Na medida em que o estado de exceção é, de fato, desejado, ele inaugura um novo paradigma jurídico-político, no qual a norma torna-se indiscernível da exceção. O campo é, digamos, a estrutura em que o estado de exceção, em cuja possível decisão se baseia o poder soberano, é realizado normalmente 41. A tese filosófica do campo de concentração como paradigma político foi deslocado do referencial da pólis para esse espaço onde aparece uma nova relação biopolítica entre os cidadãos e o Estado. Ao tratar do paradigma do campo de concentração, Agamben busca reforçar como os procedimentos biopolíticos utilizados no regime nazista podem ser relacionados com o modelo de governamentalidade em curso, no qual o mecanismo de destruição em massa do inimigo corresponde ao paradigma do Estado-nação moderno. Nos campos nazistas, o soberano não se restringe mais a decidir sobre a exceção diante de uma situação de perigo para a segurança pública, como determinava a constituição de 39 AGAMBEN, Giorgio. Homo Sacer O poder soberano e a vida nua I. Op. Cit. p DE LA DURANTAYE, Leland. Giorgio Agamben: A critical introduction. California: Stanford University Press, p AGAMBEN, Giorgio. Homo Sacer O poder soberano e a vida nua I. Op. Cit. p Grifos do autor.

14 60 Weimar. Ele agora produz a situação de fato, como resultado da decisão sobre a exceção. Por isso, o campo se torna um espaço virtual híbrido entre a noção de direito e de fato, onde não é possível identificá-los separadamente. Agamben faz uma provocação sobre esse assunto, para retirar o véu sobre a pergunta superficial de como foi possível cometer crimes tão cruéis contra seres humanos e, direciona a pergunta sobre o real questionamento diante da situação: quais foram os dispositivos jurídicos e políticos da época que permitiram cometer um genocídio em tamanha proporção sem que fosse considerado crime? A condição extrema de vida nua que seus habitantes foram expostos não pode ser considerado um fato extrapolítico e extrajurídico, catalogado no campo dos atos atrozes. O campo como localização deslocante é a matriz oculta da política em que ainda vivemos, que devemos aprender a reconhecer através de todas as suas metamorfoses, nas zones d attente de nossos aeroportos bem como em certas periferias de nossas cidades 42. Esse é o questionamento mais útil diante da tragédia e elucida o real problema inserido no ordenamento jurídico alemão que apresenta permanências no presente. O estado de exceção transformado em regra significa a indistinção entre o corpo biológico do corpo político 43. Por isso, o campo de concentração se tornou um paradigma da política moderna, ele é o primeiro espaço onde o público e o privado são indistinguíveis. O que foi realmente a experiência dos campos para os seus sobreviventes? Um acontecimento histórico ou uma experiência privada? Naquele espaço, o vivente foi excluído da comunidade política e reduzido a mera vida nua. Negri e Hardt também analisam a política contemporânea sob o paradigma do campo de concentração, onde o Estado soberano e o campo atuam sob uma relação de complementaridade 44. Com a diferença de que nos dias atuais, o campo não é mais um espaço fixo e isolado, mas adquire uma forma permeável, flutuante no espaço e no tempo. Esses espaços, onde funciona um híbrido entre direito e fato, produziram permanências, aproximando os lagers nazistas dos atuais campos de refugiados de guerra, da Faixa de Gaza e dos centros de 42 AGAMBEN, Giorgio. Homo Sacer O poder soberano e a vida nua I. Op. Cit. p Grifos do autor. 43 AGAMBEN, Giorgio. Onde começa o novo êxodo. Revista Lugar Comum Estudos de mídia, cultura e democracia. nº 7, janeiro-abril p NEGRI, Antonio & HARDT, Michael. Campo. Revista Lugar Comum Estudos de mídia, cultura e democracia. nº 7, janeiro-abril p. 70.

15 61 detenção de imigrantes na Europa. Nesse mesmo sentido se forma um paralelo com as favelas do Rio de Janeiro 45. Estigmatizadas como territórios do crime e da violência, as favelas são as áreas que sofrem maior incidência das políticas com derramamento de sangue. Sob a metáfora da guerra, o estado de exceção é acionado, impondo uma dupla política, territórios vigentes sob o Estado de Direito e territórios regidos pela lógica da exceção as favelas. No entendimento de Agamben, o estado de exceção torna-se uma nova e estável disposição espacial no campo, em que habita a vida nua em proporção crescente. O sistema político não funciona mais sob a lógica de ordenar formas de vida sob determinadas normas jurídicas em um determinado espaço. O paradigma agora funciona como um ordenamento sem localização (o estado de exceção), correspondente a uma localização sem ordenamento (o campo como exceção permanente) uma localização deslocante que excede o sistema político. A questão da validade da norma não depende da sua correspondência com uma situação concreta, justamente por se tratar de uma formulação abstrata, evidenciando a proximidade do direito com aspectos de potência da linguagem. A norma mantém assim uma relação virtual, podendo inclusive, por exemplo, sancionar uma conduta transgressora. Na exceção soberana, a ordem normativa pode adquirir o mínimo de validade e o máximo de eficácia na decisão, adquirindo força de lei. Ou seja, pura potência totalmente dissociada do ato. A expressão força de lei significa capacidade de obrigar e, no campo do direito ela adquire a conotação de separação entre a aplicabilidade da norma e sua essência formal 46, por meio da qual medidas legais que não são formalmente leis adquirem sua força. 45 Agamben defende a ideia da presença virtual do campo nos dias atuais toda vez que é criada uma tal estrutura, independentemente da natureza dos crimes que aí são cometidos e qualquer que seja a sua denominação ou topografia específica. AGAMBEN, Giorgio. Homo Sacer O poder soberano e a vida nua I. Op. Cit. p Essa discussão se coloca de forma muito presente no nosso tempo devido a tendência das democracias ocidentais em estender os poderes do executivo no âmbito legislativo, por meio da expedição de decretos com força de lei como consecutivo da crescente delegação por meio de lei de plenos poderes: Entendemos por leis de plenos poderes aquelas por meio das quais se atribui ao executivo um poder de regulamentação excepcionalmente amplo, em particular o poder de modificar e de anular, por decretos, as leis em vigor. TINGSTEN, Herbert. Apud AGAMBEN, Giorgio. Estado de exceção.op. Cit. p

16 62 No estado de exceção, a particularidade dessa expressão é a dissociação de força de lei da lei 47. O conceito de exceção define um regime da lei no qual a norma vale, mas não se aplica (porque não tem força), e atos que não possuem o valor de lei adquirem sua força. Isso significa que, no caso-limite, a força de lei flutua como um elemento indeterminado que pode ser reivindicado ora pela autoridade do Estado, ora pela autoridade de uma organização revolucionária 48. Essa situação é possível pois esse sintagma define um duplo estado da lei no qual potência e ato estão radicalmente separados, uma ficção jurídica na qual o direito atribui a própria desintegração de suas normas 49. Então, o estado de exceção é um espaço em que a força de lei realiza uma norma, no sentido de aplicá-la desaplicando, cuja aplicação foi suspensa. A concepção do direito como um campo do saber realizado pela prática da subsunção efetivação, como uma abstração ideal representante do real, não dá conta da tendência atual de inserir no texto legal normas abertas, para regular nossa complexa realidade. No entanto, essa visão do direito não engloba a indexação da lei exercida pela decisão soberana. A decisão é o momento de transição do campo ideal, visualizado no texto legal, para a realidade concreta. Isto por que, a decisão personaliza o direito, no sentido de alguém que aplique o texto abstrato e, para isso o sujeito decide qual norma se aplica ao caso concreto. Por isso a grande importância do fundamento místico da autoridade da lei, pois quem decide a adequação ou não de uma relação no direito não é a norma no campo ideal, mas a autoridade que a aplica 50. Criticar a vinculação entre razão e norma, razão e normatização da vida abriu espaços para Agamben questionar os modos de racionalização. A exceção soberana é o dispositivo mediante o qual o direito se refere a vida de forma a incluí-la, no mesmo gesto em que suspende o exercício do direito, por isso a teoria 47 Essa expressão foi apresentada por Jacques Derrida em 1990 na conferência intitulada Força de Lei O Fundamento Místico da Autoridade para demonstrar como as leis tem seu fundamento de validade apoiado sobre a autoridade daquele que a decreta, como os decretos formulados pelo executivo com força de lei principalmente no estado de exceção. Agamben ainda cita o caso limite no julgamento de Eichmann em que ele alegava em sua defesa as palavras do Führer têm força de lei. AGAMBEN, Giorgio. A zona morta da lei. Folha de São Paulo. 16 de março de AGAMBEN, Giorgio. A zona morta da lei. Folha de São Paulo. 16 de março de AGAMBEN, Giorgio. Estado de exceção.op. Cit. p VIEIRA, Rafael Barros. Exceção, violência e direito: notas sobre a crítica ao direito a partir de Giorgio Agamben. Op. Cit. p. 142.

17 63 do estado de exceção é a premissa para relacionar o vivente e o direito. Se as medidas excepcionais são o resultado de períodos de crise política, é preciso estudá-las no campo político, apesar de serem medidas jurídicas, o que evidencia mais um paradoxo: a exceção se apresenta como a forma legal daquilo que não pode ser compreendido na forma legal 51. De outra forma, sendo a exceção o dispositivo pelo qual o direito se refere a vida, ela é também condição preliminar do sistema que vincula e abandona o vivente ao direito. Uma ambiguidade constitutiva da ordem jurídica vida e norma, fato e direito está sempre presente, fora e dentro de si mesma, como uma dupla natureza do direito. Partindo dessa situação, a exceção funda o nexo entre violência e direito e, quando ela se torna concreta, ela mesma rompe esse nexo 52. A humanidade do homem é decidida na politização da vida nua. Isso significa que o homem se caracteriza como vivo a partir do momento em que se opõe e consegue se separar de sua vida nua, mantendo com ela uma relação de exclusão inclusiva. Isso é o elemento caracterizador do homem como um ser político e demonstra a dicotomia fundamental: vida nua e política, zoé e bíos. Quando as fronteiras começam a desvanecer, a vida nua se libera e se transforma em sujeito e objeto da ordem política, o lugar para a organização do poder do Estado e para sua emancipação 53. Ao incluir o vivente no campo do direito, como elemento chave da realidade contemporânea, Agamben demonstra toda a potência da ação soberana e da violência, que já pode ser sentida nos procedimentos biométricos utilizados nos dias atuais, estabelecendo um vínculo entre o sujeito e o poder. Esse procedimento evidencia uma qualificação do sujeito como objeto, e consequentemente uma relação de pertencimento a ordem soberana. De forma que é possível um registro da vida biológica dos corpos 54, deixando um espaço cada vez menor para a vida 51 AGAMBEN, Giorgio. Estado de exceção. Op. Cit. p COSTA, Flavia. Entrevista com Giorgio Agamben. Op. Cit. 53 BATISTA, Vera Malaguti. Vida Nua e Soberania. Op. Cit. p A tatuagem biopolítica que os EUA nos impõem neste momento para podermos penetrar em seu território pode muito bem ser o sinal precursor daquilo que, futuramente, nos será exigido aceitar como a inscrição normal da identidade do bom cidadão nos mecanismos e engrenagens do estado. Agamben cancelou seus cursos em Nova York quando soube da nova política de segurança dos Estados Unidos nos seus aeroportos impondo a todos o registro de suas impressões digitais. Matéria foi publicada no jornal francês Le Monde para justificar o cancelamento e publicizar seu repúdio a essas técnicas biopolíticas de controle. AGAMBEN, Giorgio. Não a tatuagem biopolítica. Folha de São Paulo. 18 de janeiro de 2004.

18 64 política - o cidadão em sentido estrito, restringindo seu espaço, até o ponto em que a humanidade torna-se perigosa aos olhos do estado. Sob outra perspectiva, o estado de exceção pode ser entendido como um processo de generalização de dispositivos de exceção. Um conjunto de políticas públicas de exceção é implementado para a violação sistemática de direitos dos cidadãos por meio de dispositivos biopolíticos. Para Agamben o dispositivo significa qualquer coisa que tenha de algum modo a capacidade de capturar, orientar, determinar, interceptar, modelar, controlar e assegurar os gestos, as condutas, as opiniões e os discursos dos seres viventes 55. Isto por que, quando o biopoder regula a vida social por dentro, ocorre um processo de subjetivação direcionado para a obediência e sujeição, no qual as tecnologias de produção do eu forjam a identidade de sujeitos em um processo de assujeitamento. O sujeito é resultado do contato entre o ser vivente e os dispositivos. Ou seja, dispositivo é uma máquina de subjetivações (no sentido dos sujeitos serem sempre sujeitados a um poder) e, enquanto tal, uma máquina de governo. Entretanto, nos dispositivos contemporâneos, o processo é no sentido de dessubjetivação. Então, não é mais possível a produção de um sujeito real, mas sim um sujeito espectral, pois os processos de subjetivação e dessubjetivação são ambos indiferentes, e não dão lugar a produção de um novo sujeito. Os dispositivos são empregados como ferramentas de sujeição dos indivíduos às estratégias de poder. Essas premissas são importantes para relacionar com o estado de exceção, vida nua e a elevada letalidade da força policial. O nexo entre violência e direito é feito pela exceção. Por isso, quando é acionada a matabilidade de categorias de indivíduos para garantir a segurança do conjunto da população, essa prática é considerada um dispositivo inserido na biopolítica. A dessubjetivação ocorre a partir do momento em que naturaliza a morte de sujeitos inimigos da sociedade, o dispositivo opera a inclusão exclusiva do sujeito matável e insacrificável. No sentido jurídico estrito, o dispositivo significa a parte de um juízo que contém a decisão separadamente da motivação. Isto é, a parte da sentença (ou de 55 AGAMBEN, Giorgio. O que é o contemporâneo? E outros ensaios. Chapecó: Argos, p. 40.

19 65 uma lei) que decide e dispõe 56. Esse entendimento é útil para se pensar a política de segurança pública do Rio de Janeiro, onde o policial detém o poder de decisão do soberano e o homicídio praticado por ele representa uma sentença de morte. A vida nua se apresenta na sua forma mais pura quando o agente inscreve a vida humana por meio da sua inclusão-exclusiva e decide sobre o momento de morte do individuo, como estratégia de controle social nas periferias urbanas. A captura da vida nua é um mecanismo de dessubjetivação e de constituição de subjetividades-alvo do extermínio. A análise da exceção e da decisão soberana foi tratada nesse capítulo do trabalho por constituírem uma chave de leitura das relações entre poder, força e violência elementos internos da decisão. As conexões entre esses elementos demonstram como opera o estado de exceção no Brasil, partindo da ideia que toda violência social tende a se legitimar e, essa legitimação precisa do direito para tal finalidade. Nos tempos atuais em que estruturas estatais encontram-se em crise e a exceção virou a regra, a problematização dos limites do estado recebem uma nova perspectiva. O estado de exceção se faz permanente por meio de práticas institucionais reprodutoras de violências. O tecnicismo da violência se faz presente na ordem jurídica e social quando admite a desumanização do outro e violações sistemáticas de direitos humanos. A prática da tortura, muito utilizada na ditadura militar e repudiada no período de redemocratização do país, hoje volta a ser aceita pelos setores conservadores e reacionários da sociedade como meio necessário para se garantir a segurança 57. As evidências do estado de exceção permanente no Brasil demonstram claramente não somente práticas de suspensão da ordem jurídica vigente, mas também a aplicação de medidas excepcionais com uma ótica 56 No seu sentido tecnológico significa o modo em que estão dispostas as partes de uma máquina ou de um mecanismo e, por extensão, o próprio mecanismo. No seu sentido militar significa o conjunto de meios dispostos em conformidade com um plano. AGAMBEN, Giorgio. O que é o contemporâneo? E outros ensaios. Op. Cit. p Às classes confortáveis do núcleo orgânico correspondiam, como um complemento exato, as classes torturáveis nas zonas periféricas do sistema. Em tempo: na literatura especializada, e chocada, com esse paradoxo brasileiro que vem a ser a explosão exponencial da violência à medida que se consolida a democratização da sociedade, observa-se que as classes torturáveis são compostas especificamente de presos comuns, pobres e negros, torturáveis obviamente nas delegacias de polícia e prisões, rotina invisível que o escândalo da ditadura militar recalcou ainda mais, por ser inadmissível torturar brancos de classe média. ARANTES, Paulo. Extinção. Op. Cit. p. 163.

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