EAE 0423-Economia Brasileira I. Economia política do ajustamento brasileiro ( )

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Arthur Desconhecida Gama
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1 EAE 0423-Economia Brasileira I Economia política do ajustamento brasileiro ( )

2 Análise sobre a política de ajustamento econômico do Brasil aos dois choques internacionais do preço do petróleo. Questão norteadora do artigo: Por que o país não se ajustou melhor à deterioração da situação externa?

3 Durante a gestão Figueredo, a inflação subiu de 40% para mais de 200% a.a.; a renda per capita caiu cerca de 10% entre 79 e 84; e a dívida externa alcançou um patamar exorbitante. A preocupação das autoridades econômicas com a escalada do custo do serviço da dívida foi sendo minimizada a medida que se observava entradas cada vez mais maciças de capital externo durante a década de 70.

4 Como o milagre havia se beneficiado de uma capacidade ociosa acumulada, foram necessárias taxas relativamente baixas de investimento e de poupança doméstica. A relação capital/produto foi de 1,75 em média entre 1971/73, comparada a 2,67 no período 1965/70. O bom desempenho das exportações levou a um aumento significativo das reservas cambiais. De 69 a 72, o preço médio das exportações subiu 7% a.a., enquanto o acréscimo do das importações foi de apenas 1%.

5 As circunstâncias favoráveis do período do milagre mantiveram as demandas por financiamento externo dentro de limites razoáveis. O déficit em conta corrente chegou a 2% do PIB e a tendência ao excesso de importações era intensificada pela escassez crescente de insumos no mercado interno e por uma tx de câmbio sobrevalorizada devido ao ajustamento dar-se com base na inflação projetada e não na inflação real, mais elevada. Em 1974, US$ 2 bilhões (de um déficit total de US$ 6,2 bilhões) atribuía-se à elevação dos preços do petróleo. Boa parte das compras de importados antecipava possíveis racionamentos (ou alta de preços) posteriores, contribuindo para sua efetivação. As entradas de capital transformaram-se no mecanismo central de conciliar crescimento e estabilização.

6 O financiamento externo satisfazia múltiplos objetivos: 1) amortecia as pressões inflacionárias domésticas, não apenas pelo aumento da oferta de insumos importados, mas também por permitir ao governo não elevar o preço interno das importações (especialmente dos combustíveis); 2) importações em excesso e relativamente baratas sustentavam taxas de investimento fixo em patamares elevados; 3) a poupança externa resolvia em parte o dilema do financiamento insuficiente para as elevadas taxas de crescimento no momento em que havia se esgotado as margens de capacidade ociosa do parque industrial instalado. Assim, metas ambiciosas de crescimento se mantinham compatíveis com aumentos do consumo, pois não se exigiam aumentos expressivos da poupança doméstica.

7 II PND a ênfase heterodoxa sobre o crescimento e os controles do Estado contrastavam com uma política mais convencional de ajustamento de mercado à elevação dos preços do petróleo. Uma resposta ortodoxa teria se voltado para o realinhamento dos preços relativos e à redução da renda real; desvalorização cambial para estimular as exportações; políticas fiscal e monetária restritivas para reduzir a demanda agregada e estimular a poupança doméstica. As defasagens temporárias do ajustamento poderiam ser suavizadas pelo financiamento externo que cobriria o BP até que o realinhamento da produção interna tivesse sido adequadamente realizado.

8 Dois pontos de crítica ao plano de ajustamento: 1) a aparente coerência em resolver o problema do BP a curto prazo ao mesmo tempo em que o país estava respondendo a necessidade de alterar o tipo de desenvolvimento e de aprofundar a estrutura industrial a longo prazo. O erro foi o peso excessivo dado à substituição de importações como forma de aliviar a restrição de divisas. 2) a expansão do setor público impôs um crescente financiamento do déficit, vindo a depender em excesso dos recursos externos. Agindo assim, o Estado se ampliou, mas tornou-se economicamente fraco ao necessitar cada vez mais de subsídios, o que ampliava ainda mais o deficit.

9 Emblemático é o caso da indústria de bens de capital que não sofreu qualquer substituição até 1977, pois o volume de importações desses bens tinha aumentado consideravelmente após 1973, em função da aceleração dos investimentos. A ISI só funcionaria a curto prazo para melhorar a situação do BP quando houvesse significativa margem de capacidade ociosa a ser explorada. Como o II PND previa a entrada em setores novos, a substituição, desse forma, só poderia ocorrer ao custo inicial de maiores importações, logo, de maior vulnerabilidade externa.

10 Os recursos externos ajudavam a amenizar algumas das inconsistências do programa de ajustamento. Os bancos privados emprestavam para as estatais que, além de se envolverem em novas atividades produtivas, cobriam os déficits do setor público e do BP. Para o autor, o ajustamento baseava-se no endividamento externo comandado pelo crescimento. No entanto, o processo não podia continuar com sua intensidade inicial: o expressivo crescimento de 1976 e a consequente aceleração da inflação eram sinais claros de desequilíbrio doméstico.

11 Objetivos em elevar as taxas reais de juros: 1. Desencorajar o consumo privado, tornando os ativos financeiros mais atraentes do que o dispêndio e elevando o custo de se tomar emprestado; 2. Estimular os tomadores domésticos a recorrerem ao crédito externo de forma a aliviar as pressões inflacionárias; 3. Fechar o déficit do BP pela entrada de capitais.

12 Efeitos adversos: 1. As entradas de capital financiavam não apenas o déficit em conta corrente, mas também a acumulação de reservas, redundando em aumentos da base monetária e dos depósitos nos bancos; 2. Assim, a expansão monetária continuava excedendo os limites fixados no orçamento monetário; 3. Aumento da demanda por crédito subsidiado, no qual seu financiamento não se dava por meio de transferências fiscais, mas pelo crédito do Bacen; 4. As taxas reais de juros positivas eram uma força desestabilizadora que levava à expansão da base monetária.

13 A política cambial se limitava a acompanhar a inflação relativa. Desvalorizações maiores eram descartadas pela expectativa de que seriam repassadas aos preços e salários. Não havia incentivos aos exportadores para penetrarem mais nos mercados externos. As restrições às importações e sua substituição eram limitadas quanto ao montante de divisas que podiam ser liberadas para atender ao crescente serviço da dívida externa. Esta cresceu em média cerca de 28% a.a. entre

14 Embora a conta corrente tenha sido continuamente reduzida após os US$ 7,1 bilhões em 1974 para US$ 4 bilhões em 1977, a dívida líquida quadruplicou em relação ao seu nível do final de 1973, que era de US$ 6,2 bilhões. O endividamento é um mecanismo de transferência do ajustamento para o futuro. O país se tornou claramente mais vulnerável, já que sua integração na economia mundial era cada vez mais assimétrica: sua participação no total mundial da dívida era muito maior que sua participação no comércio.

15 A política macroeconômica partiu da teoria da inflação de custos. Significativo aumento da tx de juros desde Liberalização dos preços administrados com o retorno de Delfim Netto agora como ministro do Planejamento. Nova lei salarial estabeleceu reajustes semestrais e ganhos reais para os salários mais baixos.

16 Na área externa, Delfim estabeleceu uma maxidesvalorização de 30% em dezembro de 79, a primeira em 10 anos. Subsídios às exportações e depósitos sobre importações foram renovados. O ministro prefixou a correção monetária e a desvalorização cambial para 1980 em 45 e 40%, respectivamente, com o objetivo de mudar as expectativas inflacionárias.

17 A estratégia de Delfim era uma mistura da fórmula convencional do FMI (desvalorização para estimular exportações e substituição de importações) com o monetarismo internacional do Cone Sul (restrito à relação entre preços domésticos e internacionais) e com o intervencionismo brasileiro. Tal postura confundia a comunidade financeira internacional. Os banqueiros se recusavam a rolar a dívida sem um programa de estabilidade. A partir de novembro de 1980, o governo mudaria sua estratégia.

18 Os resultados, porém, foram decepcionantes: Crescimento de 7% em 80 alimentado pelo consumo; Tx de investimento em queda; Ativos financeiros, que passaram a render muito menos do que a tx de inflação, foram trocados pela compra especulativa de ativos físicos; Disparada da inflação que alcançou os três dígitos; Déficit em conta corrente de US$ 12,4 bilhões (marca histórica) exigia um financiamento maciço em 1982 o déficit chegaria a US$ 16,3 bilhões; Dívida líquida real de cerca de US$ 60 bilhões (três vezes o volume de exportações) em 1982 subiria para US$ 83,5 bilhões.

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