Aprender a viver é aprender a soltar
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- Lorenzo Cipriano Lacerda
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1 Aprender a viver é aprender a soltar Novos tempos Novas reflexões O difícil aprendizado em lidar com as perdas e as mudanças na família A maior perda que um ser humano pode passar é a morte. E por incrível que pareça temos recursos para lidar com ela. Por mais difícil que seja, por mais escondido estejam esses recursos, fica o desafio de aprender a soltar para viver melhor. Duas considerações teóricas me ajudam a refletir sobre esse desafio: Impermanencia e Resiliência. Antes de desenvolve os temas acima citados acrescento ainda que nossa história familiar pode ajudar no processo de recuperação após a perda. A história familiar é construída através da vivência com os membros da nossa família de origem e está registrada em nossa matriz familiar o que foi impresso e carimbado no nosso corpo e na nossa mente. Aprendi que todas as experiências, sejam elas negativas ou positivas, são oportunidades de aprendizado e recuperação, desde que a pessoa possa refletir sobre elas.
2 IMPERMANÊNCIA Entrei em contato com a filosofia budista há muitos anos atrás. Dentre os ensinamentos que mais despertam meu interesse está a idéia de Impermanência. Na abordagem budista a vida e a morte são vistas como um todo, como uma série de realidades transitórias em constante mudança. A finalidade de se refletir sobre a morte explora o conceito base da filosofia budista a impermanência. Como diz Sogyan (1999), não haveria nenhuma possibilidade de chegar a conhecer a morte se ela acontece só uma vez. Mas felizmente a vida não é mais do que uma contínua dança de nascimento e morte, um bailado de mudanças.toda vez que ouço o sussurrar de um ribeirão ou as ondas quebrando na praia, ou ainda as batidas do meu coração, escuto o som da impermanência. Essas mudanças, essas pequenas mortes são nossos elos vivos com a morte. A impermanência é a essencia da nossa condição humana, ela rege muito mais que nossas vidas, influencia o cosmos bem como o nosso planeta. Podemos observar seus efeitos, por exemplo, nas mudanças das estações, na ascenção e queda das naçõese nas mudanças na vida familiar. Mas a mudança mais devastadora da vida humana é a morte (Tartang, 1977). Ao nos recusarmos a aceitar a morte o fim dos ciclos ficamos aprisionados no tempo, congelando nossos corações e sentimentos, perdendo a perspectiva de futuro e fluxo da vida.
3 Quando a pessoa chega a uma situação limite traz a resistência à mudança, mas também a capacidade de se reorganizar diante dela, do inesperado e de se libertar do sofrimento. Isto é uma qualidade inerente aos seres humanos e aos sistemas de relações. Ao desperdiçarmos essa oportunidade, deixamo-nos dominar pelo apego, congelando o tempo e com ele o que temos de mais precioso que é viver plenamente. Vivemos com medo das mudanças, de soltar o velho para dar lugar ao novo, ao renovado. No entanto, de acordo com Sogyan Rinpoche aprender a viver é aprender a soltar. RESILIÊNCIA O ajustamento à morte tem sido visto como sendo um dos mais difíceis ao longo das mudanças nos ciclos de vida. Todas as relações são afetadas pelos sentimentos que cada membro da família tem diante do fato. Todos os homens são mortais: mas para cada homem a sua morte é um acidente e, mesmo se a conhece e consente, uma violência indevida (Beauvoir, 1964). Para podermos lidar melhor com a morte e suas questões precisamos estar comprometidos com a importância das relações humanas, suas conexões e a continuidade das relações familiares. A morte de alguém nos priva de algo muito valioso que é o contato, interrompe o fluxo relacional e parte da história se vai (McGoldrick e Walsh, 1998).
4 O impacto da perda pode ter efeito imediato e a longo prazo. Para que esse vácuo que a morte traz seja melhor superado e seja facilitada a reintegração dos membros de uma família devemos levar em conta existirem recursos internos dentro das relações familiares que permitem às pessoas recobrarem-se do golpe, superarem as adversidades integrando-as na trama de vida da família ou seja usando a resiliência familiar. (Walsh, 1998). O enfoque centrado na resiliência permite identificar e apontar processos interativos fundamentais que possibilitam às famílias suportarem desafios dissociadores. Na perspectiva da resiliência as famílias deixam de ser vistas como uma entidade danificadora para serem olhadas como grupos capazes de enfrentar as perdas reafirmando suas possibilidades de reparação. Ao consolidar a resiliência familiar recuperamos a unidade funcional da família e possibilitamos o despertar dessa capacidade em todos os seus membros, deslocando o foco de uma visão unilateral da patologia familiar para um modelo com base na competência e voltado para a força. Para utilizar a idéia da força da família gosto de recorrer à metáfora apresentada no filme História real, de David Lynch (2000). Nesse filme o pai explicava para os filhos o que era a família: se você segurar um graveto e tentar parti-lo ao meio, ele logo se quebrará, mas se você amarrar vários gravetos e tentar novamente, eles não se quebrarão com facilidade...
5 O RITUAL Quando atendo famílias em que o impacto das mortes ocorridas no passado continua causando efeito no presente, utilizo rituais de despedida como recursos terapêuticos. Introduzi no processo terapêutico o que chamo de ritual do fogo. Sabendo da importância das despedidas de velhos padrões e de ressentimentos guardados, muitas vezes de geração para geração, nada melhor do que a concretude e o simbolismo do fogo para facilitar a expressão emocional. Cartas de agradecimento e despedidas são queimadas.
6 Sonia Mendes
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