Cuidado e desmedicalização na atenção básica
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- Joaquim di Azevedo das Neves
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1 Rio de Janeiro, agosto de 2012 Cuidado e desmedicalização na atenção básica Laura Camargo Macruz Feuerwerker Profa. Associada FSP-USP
2 Medicalização e a disputa pela vida Movimento de compreender todos os sofrimentos como resultado de processos de adoecimento. E o adoecimento como uma expressão particular das leis gerais científicas do processo saúde-doença. Produção da clínica como saber científico, único legítimo produtor de verdades, que permite compreender as doenças no corpo biológico dos homens. Somente os detentores desse saber estariam habilitados a interferir sobre esses processos.
3 Medicalização Cada vez mais setores da vida passam a ser controlados pelo saber médico-científico com a promessa de evitar a doença e o sofrimento e de assegurar o prolongamento da vida.
4 Outra possibilidade de entender a saúde A idéia de doença e de saúde encontra-se muito próxima do que cada um considera sentir-se bem. Essa percepção varia de pessoa para pessoa e depende de cada cultura, da religião, do meio em que cada um está inserido e da maneira como sua relação com o mundo produz seu modo de viver. Saúde é um assunto da vida das pessoas. É um assunto de cada um, algo que se ganha, que se enfrenta e de que se depende.
5 Outra possibilidade de entender a saúde A saúde pode ser compreendida, então, como a capacidade de cada um de enfrentar situações novas, como a margem de tolerância que cada um possui para enfrentar e superar as adversidades da sua vida que fazem parte dela. Isto significa dizer que cada pessoa tem capacidades próprias para administrar, de forma autônoma, as tensões do meio com as quais ela precisa conviver.
6 Quem seria, então, o usuário? Um sujeito que vem procurando ajuda e que é portador de necessidades de diferentes tipos. Um sujeito que precisa ser escutado, precisa entender o que está acontecendo consigo, que, geralmente, precisa de alívio para seu sofrimento e precisa aprender a manejar sua vida nos novos contextos que surgem. E para isso precisa aceder a diferentes tipos de tecnologias em saúde. Mas também é um sujeito portador de desejos, recursos, opiniões, saberes e sentimentos. Acima de tudo, um sujeito à procura de um bom encontro com as equipes/trabalhadores de saúde.
7 As tensões no encontro entre trabalhadores e usuários» Equipe de trabalhadores considera que o usuário vai organizar sua vida em torno de seus diagnósticos;» Usuários esperam dos trabalhadores de saúde uma contribuição para enfrentar seus processos de adoecimento sem perder qualidade de vida;» Ou seja, os usuários esperam que, apesar de serem portadores de diferentes agravos, possam tocar sua vida normalmente, sem nem lembrar que convivem com esses problemas.
8 Então, o cuidado envolve encontros e disputas Tensão constitutiva do encontro cuidador: possibilidade de troca ou de interdição de saberes num território que desafia o saber técnico-científico. As diferentes expectativas usuário/família e trabalhadores. As diferentes referências: os saberes técnicos e a vida. Os diferentes lugares: quem é sujeito e quem é objeto. A disputa pelo comando da vida Gestão que favorece ou dificulta o encontro.
9 Disputa de projetos de cuidado Dupla mão: se a equipe nega o saber dos usuários/ cuidadores, estes tendem a fazer o mesmo em relação às suas orientações técnicas. Os usuários, na gestão de sua vida, terminam incorporando pouco as contribuições dos saberes técnicos. Nas situações de os agravos crônicos esse desencontro dificulta a produção de acordos que melhorem seu controle.
10 Necessidade de ampliar a escuta e se abrir para o diálogo» Ampliar escuta para conhecer modos de viver e produção de sentido para os usuários» Criar oportunidade de viver o mundo do usuário, seus problemas, valores e contexto;» Reconhecer as situações desafiadoras que exigem ação de equipe» Reconhecer o usuário como gestor de sua própria vida» maior a chance de haver diálogo e negociações intercessoras.
11 Interdisciplinaridade Quanto mais os trabalhadores se abrem para a escuta, maior a possibilidade de identificar a complexidade dos problemas a serem enfrentados; E aí entra a necessidade de articular diferentes saberes na produção de projetos terapêuticos em defesa da vida; Quando provocados e desafiados pela complexidade das situações é que vale a pena o esforço da articulação e da interdisciplinaridade.
12 Desafios para a produção do cuidado Além da organização do processo de trabalho, é preciso produzir equipe com trabalho orientado pelas necessidades do usuário e do coletivo familiar; Criar ferramentas para enfrentar os conflitos que abrir-se em relação ao agir e ao saber do outro traz conflitos e desafios; Construir outro equilíbrio entre as tecnologias envolvidas no cuidado em saúde; Superar a fragmentação do sistema de saúde e produzir continuidade da atenção.
13 Projeto terapêutico O projeto terapêutico tem que ser centrado no usuário, pois ele é o gestor de sua vida e suas necessidades são singulares, dependentes do contexto, de sua história de vida etc; O projeto terapêutico deve ser construído de modo compartilhado e deve contribuir para ampliar a autonomia dos usuários na condução de seus modos de estar na vida.
14 O manejo da vida e os saberes Os modos como as pessoas enfrentam sofrimentos e adoecimentos variam com sua história de vida, sua cultura, religião, saberes etc; Essa vivência, portanto, um processo complexo, afetivocultural. O manejo da situação não é simplesmente racional, dependente exclusivamente de seus saberes e das informações de que dispõem.
15 Como se costuma pensar a educação na saúde no manejo da saúde? Espera-se dos usuários obediência às prescrições e orientações dos profissionais de saúde, já que estes são detentores do saber científico; Para tanto, torna-se fundamental transmitir aos usuários o saber científico acerca das doenças, sua etiologia e tratamento; Maioria das ações educativas centradas nessa transmissão de conhecimentos.
16 Com que problemas nos defrontamos, particularmente no manejo de situações crônicas? Nos últimos 15 anos, 70% dos trabalhos a respeito do manejo dos agravos crônicos focaliza esse tema das ações educativas como estratégia de produzir adesão, obediência ; Apesar das inúmeras aulas e de se tornarem detentores de saber acerca de suas doenças, a adesão dos usuários ao tratamento prescrito tem sido muito limitada;
17 Outra possibilidade para ações educativas algumas noções: Ampliar o conhecimento é importante, mas é preciso partir das inquietações e questões dos usuários; São mais significativos as oportunidades de compartilhamento, entre diferentes usuários, das vivências e estratégias de convivência com os diferentes agravos. O principal objetivo é favorecer a construção de estratégias de manejo que ampliem a autonomia e a satisfação dos usuários com sua vida. E isso inclui reconhecer que eles podem escolher manejar riscos.
18 Contatos:
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