Trabalho Decente no Brasil. Laís Abramo Diretora do Escritório da OIT no Brasil

Transcrição

1 Trabalho Decente no Brasil Laís Abramo Diretora do Escritório da OIT no Brasil Porto Alegre, 31 de outubro de 2011

2 ESQUEMA DA APRESENTAÇÃO 1. O Conceito de Trabalho Decente 2. O compromisso do Brasil com a Agenda do Trabalho Decente 3. Trabalho Decente no Brasil e no Rio Grande do Sul: Avanços e Desafios 2

3 O Conceito de Trabalho Decente

4 ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO Fundada em 1919 (Tratado de Versalhes) atualmente são 183 membros Mandato: promover a justiça social e o reconhecimento internacional dos direitos humanos e trabalhistas Única Agência do Sistema ONU com estrutura tripartite empregadores, trabalhadores e governo Formula normas internacionais de trabalho (189 convenções em 2011)

5 O conceito de TRABALHO DECENTE Formalizado pela OIT em 1999 Sintetiza sua missão histórica de: Promover oportunidades para que homens e mulheres possam conseguir um trabalho produtivo e de qualidade em condições de liberdade, equidade, segurança e dignidade humana 5

6 Ponto de convergência de 4 objetivos estratégicos Multidimensionalidade: dimensões quantitativas e qualitativas do emprego A geração de mais e melhores EMPREGOS A promoção dos DIREITOS no trabalho TRABALHO DECENTE A extensão da PROTEÇÃO SOCIAL O fortalecimento do DIÁLOGO SOCIAL EQUIDADE: eixo transversal Noção correlata: Trabalho inaceitável (a ser abolido)

7 Um conceito multidimensional Dimensão quantitativa: oportunidades de empregos para homens e mulheres Dimensão qualitativa: salários, condições de trabalho, saúde e segurança, oportunidades de formação e crescimento profissional, direitos Noção correlata: trabalho inaceitável (a ser abolido) trabalho infantil, trabalho escravo ou forçado, trabalho degradante, tráfico de pessoas 7

8 Direitos Fundamentais no Trabalho Declaração sobre os Direitos e Princípios Fundamentais no Trabalho (1988): Liberdade sindical e direito efetivo de negociação coletiva (Convenções n. 87 e n. 98) Erradicação de todas as formas de trabalho forçado e obrigatório (Convenções n. 29 e n. 105) Erradicação do trabalho infantil (Convenções n. 138 e 182) Eliminação da discriminação (Convenções n. 100 e n. 111) 8

9 A quem se aplica o conceito de trabalho decente? Ao conjunto dos trabalhadores e trabalhadoras: Todas as pessoas que trabalham tem direitos assim como níveis mínimos de remuneração, proteção e condições de trabalho - que devem ser respeitados. não apenas aqueles que tem um emprego regular, estável, protegido, no setor formal ou estruturado da economia inclui também as pessoas que trabalham à margem do mercado de trabalho estruturado 9

10 A Centralidade do Trabalho O trabalho como via fundamental para a superação da pobreza, das desigualdades e da exclusão social O trabalho é uma das formas mais diretas pelas quais o desenvolvimento pode favorecer as pessoas Brasil: 76% da renda das famílias advém do trabalho O trabalho como condição básica para o exercício da cidadania e para o fortalecimento da democracia. 10

11 Contexto Internacional (anos 1980/1990) baixas taxas de crescimento econômico aumento do desemprego e do emprego informal e precário debilitamento da organização sindical e dos processos de negociação coletiva persistência e expansão de formas degradantes e inaceitáveis de trabalho Além disso, predominava uma visão de que seria quase impossível que voltassem a crescer e a predominar em nossas sociedades as formas estáveis e protegidas de trabalho 11

12 A Agenda do Trabalho Decente: uma resposta a essa situação Uma estratégia de ação frente à crise mundial do emprego (anterior à crise de 2008 e uma de suas causas) 195 milhões de desempregados (2007) a metade de todos os ocupados (cerca de 1,4 bilhão de pessoas) vivia com menos de US$ 2 por dia (situação de pobreza) 20% deles vivia com menos de US$ 1 por dia (situação de extrema pobreza Seu objetivo fundamental: afirmar o direito ao trabalho e a sua importância central nas estratégias de redução da pobreza e da desigualdade social crescimento e desenvolvimento fortalecimento da governabilidade democrática 12

13 Empresas Sustentáveis Conceito relacionado ao de desenvolvimento sustentável Um tipo de desenvolvimento capaz de satisfazer as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de satisfação das necessidades das gerações futuras Aprovado na CIT 2007 Incorporado à Declaração sobre a Justiça Social para uma Globalização Equitativa e ao Pacto Mundial para o Emprego Enfatiza o papel do setor privado para os desafios do desenvolvimento, incluindo a geração de emprego Sem empresas sustentáveis não há trabalho decente Sem trabalho decente não há empresas sustentáveis

14 Empregos verdes Trabalho decente criado em setores e atividades econômicas com reduzido impacto ambiental e que contribui à criação de empresas e economias ambiental, econômica e socialmente sustentáveis Empregos que ajudam a: reduzir o consumo de energia e matérias primas descarbonizar a economia proteger e restaurar os ecosistemas e a biodiversidade minimizar os desperdícios e a poluição Empregos verdes no Brasil (dez. 2010, dados da RAIS): 2, 9 milhões (6,9% do total de empregos formais) crescimento de 25,4% entre 2006 e 2010

15 Grande potencial de crescimento dos empregos verdes Brasil, dezembro de 2010 (dados da RAIS): 2, 9 milhões (6,9% do total de empregos formais) crescimento de 25,4% entre 2006 e 2010 Setores considerados: o produção e manejo florestal (florestas nativas e plantadas) o geração e distribuição de energias renováveis o saneamento, gestão de resíduos e riscos ambientais o manutenção, reparação e recuperação de produtos e materiais o transportes coletivos alternativos ao rodoviário e aeroviário o telecomunicações e teleatendimento

16 O compromisso do Brasil com a Agenda do Trabalho Decente

17 Agenda Nacional do Trabalho Decente Compromisso assumido entre o presidente Lula e o Diretor Geral da OIT em junho de 2003 Lançada em maio de 2006 durante XVI Reunião Regional Americana (RRA) com o objetivo de: gerar trabalho decente para combater a pobreza e as desigualdades sociais Prioridades: 1. Gerar Mais e Melhores Empregos, com Igualdade de Oportunidades e de Tratamento 2. Erradicar o Trabalho Escravo e o Trabalho Infantil, em especial nas suas piores formas 3. Fortalecer os Atores Tripartites e o Diálogo Social como um instrumento de governabilidade democrática

18 Agendas estaduais e municipais de trabalho decente Ineditismo e importância da experiência brasileira de desenvolvimento de Agendas Sub-Nacionais de Trabalho Decente Agenda Bahia de Trabalho Decente (2007) Agenda Mato Grosso pelo Trabalho Decente (2009) Agenda Regional de Trabalho Decente da Região do Grande ABC paulista (2010) (7 municípios) Agenda do Trabalho Decente de Curitiba (2011) Novas agendas surgem no processo da I CNETD Minas Gerais, Rio Grande do Norte, Tocantins: decisão aprovada nas respectivas conferências estaduais 18

19 Plano Nacional de Emprego e Trabalho Decente Comitê Executivo Interministerial (CEI) (junho de 2009) formado por 18 Ministérios/Secretarias Plano Nacional de Emprego e Trabalho Decente: Lançado em maio de 2010 Dentro das 3 prioridades da ANTD, estabelece 12 resultados esperados com metas e indicadores (2011 e 2015) DESAFIO: Garantir que o emprego seja tratado como elemento central das políticas públicas

20 Agenda Nacional de Trabalho Decente para a Juventude (2010) Subcomitê de Juventude (no âmbito da CEI) e Grupo Técnico Tripartite 4 prioridades: 1. Mais e melhor educação 2. Conciliação estudos, trabalho e vida familiar 3. Inserção digna e ativa no mundo do trabalho 4. Diálogo Social: juventude, trabalho e educação 20

21 Indicadores de Trabalho Decente: Avanços e Desafios

22 Disposição para monitorar avanços e desafios (dimensões do Trabalho Decente) Contexto Socioeconômico (que condiciona o Trabalho Decente) 1. Oportunidades de emprego 2. Rendimentos adequados e trabalho produtivo 3. Jornada de trabalho decente 4. Combinação trabalho, vida pessoal e familiar 5. Trabalho a ser abolido 6. Estabilidade e segurança no trabalho 7. Igualdade de oportunidades e de tratamento no emprego 8. Ambiente de trabalho seguro 9. Seguridade social 10. Diálogo social e representação de trabalhadores e de empregadores

23 Indicadores de trabalho decente: AVANÇOS ( ) Redução da pobreza: 29,7 milhões de pessoas ( ) Redução da desigualdade social Diminuição da taxa de desemprego: 12,3% para 6,7% ( ) Aumento da formalidade: 48,4% para 54,3% 15,4 milhões de novos empregos formais até 2010 Aumento da cobertura da previdência social: 46,3% para 54,1% 23

24 Indicadores de trabalho decente: AVANÇOS ( ) Valorização real do salário mínimo: 67,4% ( ) Aumento do rendimento médio real: 25% Redução significativa do trabalho infantil Aumento do número de trabalhadores liberados da condição análoga à escravidão 24

25 OPORTUNIDADES DE EMPREGO Queda significativa do desemprego (Brasil, 2003 a 2010) Fonte: PME/IBGE.

26 OPORTUNIDADES DE EMPREGO Aumento da Taxa de Formalidade Taxa de Formalidade da População Ocupada de 16 a 64 anos de idade Brasil, % 55,0 54,3 52,5 53,3 51,6 50,0 50,4 49,1 48,4 47,5 Fonte: PME/IBGE Fonte: PNAD/IBGE.

27 SEGURIDADE SOCIAL Crescimento da proporção de trabalhadores que contribuem à previdência 55,0 População Ocupada de 16 anos ou mais de idade que Contribui à Previdência Social Brasil, ,4 52,5 51,9 53,0 50,0 49,8 47,5 47,6 48,5 45, Fonte: PNAD/IBGE.

28 Evolução do salário mínimo real ( ) R$ Valores em R$ de janeiro de Fonte: DIEESE.

29 OPORTUNIDADES DE EMPREGO Rio Grande do Sul: taxa de desemprego inferior à média nacional (PNAD, 2009) BRASIL RIO GRANDE DO SUL Total 8,4 6,3 Homens 6,2 4,7 Mulheres 11,1 8,0 Brancos 7,3 5,8 Negros 9,4 8,2 Mulheres negras 12,8 10,2

30 OPORTUNIDADES DE EMPREGO Taxa de desemprego da população de 16 a 64 anos de idade, 2009 Fonte: IBGE - PNAD

31 SEGURIDADE SOCIAL Aumenta a % da População Ocupada com 16 anos ou mais de idade que contribui para a Previdência Social RIO GRANDE DO SUL 2004 e 2009 Fonte: IBGE - PNAD

32 SEGURIDADE SOCIAL % da População Ocupada com 16 anos ou mais de idade que Contribui para a Previdência Social Brasil, Sul e RS, 2009 Fonte: IBGE - PNAD

33 TRABALHO A SER ABOLIDO Percentual de crianças de 5 a 17 anos de idade ocupadas, segundo grupos etários RIO GRANDE DO SUL, ,0 45,0 43,7 40,0 36,9 35,0 30,0 25,0 25,5 22,8 20,0 15,0 11,4 14,4 16,0 10,0 5,6 5,0 2,2 0,8 0,0 05 a 09 anos 10 a 13 anos 14 e 15 anos 16 e 17 anos 10 a 17 anos

34 OPORTUNIDADES DE EMPREGO Indicadores de trabalho decente: DESAFIOS (PNAD, 2009) Desemprego juvenil é muito superior à taxa média de desemprego Desemprego das mulheres é significativamente superior ao dos homens BRASIL RIO GRANDE DO SUL Total Jovens Total Jovens Total 8,4 17,8 6,3 13,9 Homens 6,2 13,9 4,7 10,3 Mulheres 11,1 23,1 8,0 18,4 34

35 OPORTUNIDADES DE EMPREGO % de desemprego juvenil (15 a 24 anos) comparada à % de desemprego total (16 a 64), 2009 Fonte: IBGE - PNAD

36 OPORTUNIDADES DE EMPREGO Jovens que não estudam e não estão no mercado de trabalho (15-24 anos, 2009, porcentagens) BRASIL Total 18,4 14,1 RIO GRANDE DO SUL Homens 12,1 9,6 Mulheres 24,8 *mais que o dobro 18,8 * quase o dobro Brancos 16,1 12,9 Negros 20,4 18,9 Mulheres negras 28,2 25,5

37 OPORTUNIDADES DE EMPREGO Jovens que não estudam e não estão no mercado de trabalho (15-24 anos, 2009, porcentagens)

38 Alta informalidade e desigualdades de gênero e raça (PNAD, 2009) BRASIL Total 45,7 40,0 RIO GRANDE DO SUL Homens 43,0 35,9 Mulheres 49,3 44,9 Brancos 38,1 38,9 Negros 53,2 44,8 Mulheres negras 57,5 49,1

39 IGUALDADE DE OPORTUNIDADES Trabalhadoras Domésticas Salário médio: inferior ao mínimo Alta incidência de trabalho infantil Altas taxas de informalidade: % de carteira de trabalho assinada: Brasil: 32,3% Rio Grande do Sul: 42,3%

40 JORNADA DE TRABALHO DECENTE Jornada de trabalho % da população ocupada com 16 anos e mais de idade com jornada superior a 44hs semanais Brasil e Rio Grande do Sul (PNAD, 2009) BRASIL Total 29,8 29,3 RIO GRANDE DO SUL Homens 36,6 37,1 Mulheres 20,7 19,8 Brancos 29,4 29,3 Negros 30,2 29,6

41 IGUALDADE DE OPORTUNIDADES A dupla jornada de trabalho das mulheres POPULAÇÃO OCUPADA DE 16 ANOS OU MAIS DE IDADE NO TRABALHO PRINCIPAL E NÚMERO MÉDIO DE HORAS SEMANAIS DEDICADAS AO MERCADO DE TRABALHO E AOS AFAZERES DOMÉSTICOS BRASIL, 2009 Média de Horas Semanais Média de Horas Semanais Jornada Semanal Sexo no Mercado de Trabalho Gastas c/ Afazeres Domésticos Total (A) (B) (A + B) Homens 43,4 9,5 52,9 Mulheres 36,0 22,0 58,0 Fonte: IBGE Microdados da PNAD

42 A dupla jornada de trabalho das mulheres (população ocupada de 16 anos ou mais, PNAD 2009) Homens Mulheres Nível de ocupação 68,6% 47,2% Realizam afazeres domésticos Jornada trabalho remunerado Jornada afazeres domésticos 46,1% 87,9% 43,4 horas 36,0 horas 9,5 horas 22,0 horas Jornada total de trabalho 52,9 horas 58,01 horas

43 AMBIENTE DE TRABALHO SEGURO Saúde e segurança no trabalho Taxa de Incidência de Acidentes do Trabalho (por mil vínculos), 2009 Brasil: 21,4 RS: 28,05 Taxa de Mortalidade (por 100 mil vínculos), 2009 Brasil: 7,4 RS: 5,95 Fonte: Anuário Estatístico de Acidentes de Trabalho, 2009, disponível no site do Ministério da Previdência Social

44 DIÁLOGO SOCIAL Taxa de sindicalização (população ocupada de 16 anos ou mais, PNAD 2009) BRASIL Total 18,1 22,9 RIO GRANDE DO SUL Homens 19,1 24,6 Mulheres 16,9 20,8 Brancos 19,6 24,3 Negros 16,7 16,2 Mulheres negras 15,7 13,3

45 A I Conferência de Emprego e Trabalho Decente

46 I Conferência Nacional de Emprego e Trabalho Decente Lema: Gerar emprego e trabalho decente para combater a pobreza e as desigualdades sociais Parte de uma dinâmica que se fortalece no país a partir de 2003: amplos processos de consulta e participação cidadã nas mais diversas áreas das políticas públicas É a primeira no âmbito do emprego e trabalho: abordagem geral e integrada - coerente com o conceito de trabalho decente Peculiaridade: tripartismo

47 Objetivos: I Conferência Nacional de Emprego e Trabalho Decente definir diretrizes para uma Política Nacional de Emprego e Trabalho Decente como política de Estado monitorada por um amplo processo de consulta tripartite rever e atualizar o PNETD (PPA e novas prioridades nacionais como a erradicação da extrema pobreza)

48 SIGNIFICADO da I CNETD Mudança de escala no compromisso do país com a promoção do trabalho decente Mais amplo exercício de diálogo social já ocorrido no país (fortalecimento do tripartismo) Oportunidade ímpar de incorporar à agenda do trabalho decente a diversidade de temas e situações que caracterizam o país Possibilidade de surgimento de outras agendas estaduais e municipais de trabalho decente Experiência única no mundo - referência para outros países e para a cooperação Sul-Sul 48

49 Processo Estadual Conferência estadual é parte integrante da CNETD Municipais/regionais: facultativas Prioridade: temário nacional, podendo contemplar em sua agenda questões de interesse local Conferências Estaduais podem contribuir para a elaboração de uma Agenda Estadual de Trabalho Decente como resultado do processo será possível identificar: o diagnóstico estadual do trabalho decente: déficits/oportunidades/avanços a identificação das prioridades (eixos/áreas temáticas)

50 Muito Obrigada! Escritório da OIT no Brasil: 50