As pupilas do senhor reitor

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Rui Almada Carreiro
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As pupilas do senhor reitor Júlio Dinis para principiantes Diana Santos d.s.m.santos@ilos.uio.

1 As pupilas do senhor reitor Júlio Dinis para principiantes Diana Santos 22 de Fevereiro de 2016 As pupilas do senhor reitor Este livro foi escrito dos 24 aos 27 anos por Joaquim Guilherme Gomes Coelho, com o pseudónimo Júlio Dinis, e publicado como folhetim no Jornal do Porto em 1866, e como livro em Foi o primeiro livro publicado por Júlio Dinis, embora Uma família inglesa tenha sido escrita antes. Foi o livro de Júlio Dinis que mais sucesso teve, se medirmos pelo número de adaptações ao cinema: 1922 (mudo), 1935, 1960, 1970 (Brasil), 1994 (Brasil), além de obras derivadas, como a minissérie da RTP João Semana, 2005 Diana Santos (UiO) Pupilas 22 Fev / 16

A obra completa de Júlio Dinis Júlio Dinis (1839-1871) morreu tuberculoso aos 31 anos, por isso apenas nos deixou as seguintes obras (com data da primeira publicação como livro): 1867 As Pupilas do

2 A obra completa de Júlio Dinis Júlio Dinis ( ) morreu tuberculoso aos 31 anos, por isso apenas nos deixou as seguintes obras (com data da primeira publicação como livro): 1867 As Pupilas do Senhor Reitor 1868 Uma Família Inglesa 1868 A Morgadinha dos Canaviais 1870 Serões da Província (primeiro volume) 1871 Os Fidalgos da Casa Mourisca 1873 Poesias 1946 Serões da Província (segundo volume) Teatro Inédito (3 volumes) 1947? Cartas e Esboços literários além de ter publicado em jornais e revistas também com o pseudónimo de Diana de Aveleda. Diana Santos (UiO) Pupilas 22 Fev / 16 Porque o escolhi Foi o primeiro livro adulto que li, quando visitei a Biblioteca Nacional aos dez anos. Gostei tanto que li todos os outros, e continuei a ler Júlio Dinis durante a minha vida toda (como jovem, como mãe, agora). Diana Santos (UiO) Pupilas 22 Fev / 16

3 A trama História de duas irmãs (as pupilas), e de dois irmãos. Muito diferentes: Margarida, introvertida e séria, Clara, extrovertida e alegre. Muito diferentes: Pedro, lavrador e direto, Daniel, médico e complicado, sonhador, inconstante. A história começa quando eles são pequenos, para dar a ideia da vida na aldeia, e para esclarecer as origens das personagens, e recomeça quando Daniel volta da cidade, já médico. Diana Santos (UiO) Pupilas 22 Fev / 16 Temas tratados Veja-se maneiras de ver o livro: A vida de um médico de aldeia A oposição entre novo e velho A influência da personalidade no destino As relações humanas Diana Santos (UiO) Pupilas 22 Fev / 16

Feminista Na minha opinião, os livros de Júlio Dinis são extremamente feministas: As mulheres (heroínas) são sempre melhores do que os homens Mais inteligentes, mais completas, mais interessantes,

4 Feminista Na minha opinião, os livros de Júlio Dinis são extremamente feministas: As mulheres (heroínas) são sempre melhores do que os homens Mais inteligentes, mais completas, mais interessantes, mais refletidas, com mais escrúpulos morais Foi muito criticado por idealizar a mulher, muitos críticos disseram que era totalmente irrealista encontrar uma mulher como Margarida numa aldeia perdida de Portugal. Diana Santos (UiO) Pupilas 22 Fev / 16 Cómico Uma das coisas que talvez tenha tornado Júlio Dinis tão popular é que ele integra sempre cenas extremamente cómicas, porque representam um olhar muito observador sobre certos tipos humanos e situações. Mesmo anedotas, com as quais tenho feito sensação... A cena do arsénico A cena da caça A cena da conversa do brasileiro na taberna A cena da educação de Carlos pelo Manuel QUintino A cena das informações que Jenny vai recolher A cena do confronto entre o abade e Jorge sobre a gestão da propriedade A descrição dos dois ingleses amigos do Mr. Whitestone A leitura do jornal sobre a guerra da Crimeia por Cecília Diana Santos (UiO) Pupilas 22 Fev / 16

5 Romântico Os livros dele acabam bem! As histórias de amor, depois de muitas peripécias, acabam da melhor maneira. Mas muita crítica social e de costumes, e muito olhar divertido sobre cenas da vida quotidiana e sobre as particularidades de muitas pessoas e profissões. E muita descrição da política e dos problemas com a educação, etc. Diana Santos (UiO) Pupilas 22 Fev / 16 Honesto Tentou descrever da melhor maneira possível as pessoas e situações que conhecia ou tentava conhecer: o Porto e Ovar, o Norte do país. Tentou encontrar assuntos que pudessem educar, divertir e fazer pensar. Não é literatura cor-de-rosa! Tentou descrever as personalidades e os traços psicológicos que (re)conhecia em si próprio. Tentou fazer histórias edificantes, em que fazia propostas políticas progressistas embora com compaixão e respeito pelos ultrapasssados pela história, mas criticando sempre a ambição e a desonestidade. Tentou apresentar Portugal e os portugueses como não inferiores ao resto da Europa. Retratou Garrett e D. Pedro IV com uma admiração sem limites mas com grande contenção forma de dar modelos e ideais sem ser moralista. Diana Santos (UiO) Pupilas 22 Fev / 16

6 O estilo O narrador fala com o leitor e com a leitora, invoca as opiniões e lembranças da audiência, discute pratos, aparências, modas, estados de espírito, fala dele mesmo a torto e a direito, comentando estados de espírito ou reações. Os diálogos são muito realistas, e não perdem ritmo Há descrições de lugares, e de experiências, que estão tão bem pintados que ficam na nossa memória Há pessoas tão típicas que se tornam arquétipos da própria paisagem social portuguesa: é o exemplo do João Semana, do boticário, e do próprio reitor Diana Santos (UiO) Pupilas 22 Fev / 16 O aproveitamento de Júlio Dinis pelo Estado Novo Os clássicos, por muito revolucionários que sejam na sua época, tendem a tornar-se parte do sistema em épocas seguintes, e esse foi também o destino do Júlio Dinis, sobretudo das Pupilas. porque podia prestar-se a uma idealização da aldeia e da vida rural porque tinha pouca crítica social Isso não é um problema do livro ou do autor, é um problema global de toda a literatura... Diana Santos (UiO) Pupilas 22 Fev / 16

Porque é que eu acho que este livro pode apelar a jovens noruegueses de agora Fala sobre personalidade de jovens mulheres (e de homens jovens) Descreve os ambientes de festa e as ressacas (embora

7 Porque é que eu acho que este livro pode apelar a jovens noruegueses de agora Fala sobre personalidade de jovens mulheres (e de homens jovens) Descreve os ambientes de festa e as ressacas (embora seja uma desfolhada e não haja bebida) É dramático e inesperado: e embora os pormenores sejam datados, as personalidades e situações não são, ou melhor, podem ser passadas (adaptadas) para a atualidade É passado no campo (o que pode ter também alguma ressonância num coração norueguês) Diana Santos (UiO) Pupilas 22 Fev / 16 Um grande admirador O único prémio Nobel de Medicina português, Egas Moniz, foi o editor do Júlio Dinis, e escreveu um livro extremamente comovente sobre ele. Exemplos de coisas que ele diz nesse livro: encontra e biografa o médico verdadeiro por trás de João Semana dá primazia a Júlio Dinis comparado com Freud discute e comenta a vida académica de Júlio Dinis como médico Um bom exemplo de que em Portugal a literatura é amada e admirada por todas as classes, é considerada um bem comum. Diana Santos (UiO) Pupilas 22 Fev / 16

8 Fontes das imagens Retrato de Júlio Dinis da Biblioteca Nacional: As duas imagens dos filmes antigos: Nicolau Breyner no papel de João Semana: 85/85584c0f2d12ada1dd2d83fdd7ef935e&w=490&sx=0&sy=0&sw=487 &sh=365&q=75 Diana Santos (UiO) Pupilas 22 Fev / 16 Outras fontes usadas na apresentação Cruz, Jorge. Este Cavalheiro é João Semana. Acta Med Port 2014 Jan-Feb 27(1), pp Moniz, Egas. Júlio Dinis e a sua obra. Lisboa: Casa Ventura Abrantes, (1a. Edição). Porto: Livraria Civilização, Civilização Brasileira, Diana Santos (UiO) Pupilas 22 Fev / 16

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