Procissão da Ressurreição (8 de Abril de 1784) Cota CMPV/ Actas da Câmara

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1 Procissão da Ressurreição (8 de Abril de 1784) Cota CMPV/ Actas da Câmara

2 NEWSLETTER: Dando continuidade à nossa nova rubrica on-line: Páginas de História com Estórias, passamos a apresentar o documento do mês de Março deste espaço cultural. DOCUMENTO DO MÊS DE MARÇO: Procissão da Ressurreição (8 de Abril de 1784) Cota CMPV/ Actas da Câmara --

3 PROCISSÃO DA RESSURREIÇÃO (8 Abril 1784) O documento escolhido para este mês de Março é uma Acta da Câmara* relativa à Procissão da Ressurreição. Datada de 8 de Abril de 1784, trata-se de uma listagem daqueles que pegariam nas varas do palio na Procissão da Ressurreição. Uma tradição com séculos de existência, muito respeitada na Póvoa de Varzim. A Páscoa vive-se, na Póvoa, muito intensamente. Festa religiosa por excelência, tem muitas tradições a ela associada. A Semana Santa é carregada de simbolismo e muitos são os actos litúrgicos a que se pode assistir, entre eles: a Procissão dos Passos que culmina com o Encontro 1 ; o Domingo de Ramos em que se benzem os ramos de oliveira ou palmitos que as pessoas empunham durante a procissão matinal de ar festivo; a Quinta-feira Santa na qual se celebra a Eucaristia e tem-se por tradição visitar as igrejas que se encontram enfeitadas a preceito; a Sexta-feira Santa, dia em que se evoca a Morte do Senhor e se celebram durante a tarde cerimónias religiosas, e à noite tem lugar a Procissão do Enterro. O Sábado de Aleluia, em que tudo é preparado para receber a visita do Senhor no Domingo de Páscoa, e à noite dá-se vida à Queima do Judas. Uma comemoração religiosa e também lúdico brincalhona: a leitura sarcástica do testamento e a queima, em grande algazarra, de Judas Iscariote, o apóstolo que traiu Jesus por trinta modas. Na manhã do Domingo de Páscoa, acontece a Procissão da Ressurreição, Cristo ressuscitou, Aleluia Aleluia, um desfile alegre e de regozijo na qual participam as cruzes que integram o Compasso, entre outras figuras religiosas. No documento escolhido este mês, pode-se ler o nome de todos aqueles que iriam transportar o palio nessa procissão: Manuel João da Mouta, Matias Gomes Morim, Christovão Lopes, Daniel Rodrigues, Marçal Gonçalves e Manoel Francisco Coentrão e para as lanternas José RuiVal, José Rodrigues da Costa, Manoel Francisco [Gomes], José Francisco de Miranda, e para isso fossem notificados com a coima de serem presos e autuados. 2 1 breve sermão proferido por um sacerdote, alusivo à dor que Nossa Senhora sentiu ao ver o Seu Filho sofrer 2 in Acata da Câmara 8 Abril 1784 CMPV 0015, fls 60

4 Na Acta da Câmara de 18 de Maio de 1799 e na do dia 23 de Março de 1839, também aparece a mesma referência a esta procissão, as pessoas que iriam levar o palio, a bandeira e as lanternas. No Domingo de Páscoa cumpre-se ainda a tradição do Compasso. Cruzes enfeitadas saem à rua para visitarem a casa das pessoas, as campainhas avisam da sua passagem e levam a mensagem da Boa Nova de Cristo Ressuscitado. Também se cumpre neste dia a ida a casa dos padrinhos receber o folar, depois da entrega a estes, pelos seus afilhados, dos ramos benzidos no Domingo de Ramos. Uma tradição também perdida no tempo, são os Bois da Páscoa. Em tempos passados, a tarde da Quinta-feira Santa era dedicada a esses animais, gordos e luzidios, enfeitados com sinos, flores e fitas vermelhas, que percorriam as povoações limítrofes antes de se dirigirem para a Póvoa. Acompanhados do seu proprietário e de uma moça vestida com traje minhoto a preceito, aqueles animais desfilavam pelas ruas da cidade e terminavam frente à Câmara Municipal, onde um júri apreciava os animais para atribuição de prémios. Quando se fala na Páscoa, também nos vem à memória um passado recente, em que se praticava o jogo na péla nas ruas da Póvoa de Varzim. Um jogo bem conhecido daqueles que se dedicam ao estudo dos nossos costumes. Como muitos outros, esse hábito foi-se perdendo e hoje dificilmente vemos a prática dessa tradição. Era um entretenimento local, típico da época da Páscoa, que atraía muitos mirones e que o desenvolvimento veio banir das ruas desta terra. Na segunda-feira que se segue ao Domingo de Páscoa também se cumpre uma tradição antiga, o Dia de Anjo. Em tempos idos a Póvoa ficava deserta, todos rumavam ao campo, era dia de piquenique e bailarico, cantares e jogos, por excelência. Hoje este costume é menos visível, são agora poucos os que cumprem a tradição, mais uma que se perdeu no tempo. A data da Páscoa foi fixada pela Igreja no ano 325, de modo a cair no domingo mais próximo da primeira Lua Cheia do mês lunar que começa com o equinócio da Primavera. Isto não é muito fácil de entender e faz com que a data da Páscoa varie de ano para ano, sendo sempre entre 22 de Março e 25 de Abril, sendo a Páscoa numa festa móvel.

5 Tal como acontece na Natureza, a Páscoa põe fim a um período triste - o tempo da Quaresma. Os sinos tocam Aleluia, Jesus voltou a viver e subiu ao céu. A festa da Páscoa refere-se à última ceia de Jesus com os Apóstolos, a sua prisão, julgamento e condenação à morte, seguida da sua crucifixão e ressurreição. * documentos que integram o espólio do Arquivo Municipal.