Curso PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL. Disciplina PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO

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1 Curso PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL Disciplina PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO

2 Curso PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL Disciplina PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO Eunice do Vale MADEIRA Fabiane MUNIZ Henrique de Carvalho PEREIRA Hildeberto MARTINS Luis Eduardo GRANATO Maria Cristina Fontes URRUTIGARAY Maria POPPE

3 Sobre os autores 3 Meu nome é MARIA DA CONCEIÇÃO MAGGIONI POPPE, sou psicóloga formada pela UFRJ. Na atividade docente iniciei minhas atividades em 1997, aqui mesmo no IAVM, primeiramente só nos cursos de pós-graduação Lato Sensu na modalidade presencial. No ano de 2001 passei a fazer parte também do corpo de professores que atuam no IAVM na modalidade a distância. Eis aqui nosso encontro e minha grata satisfação! HILDEBERTO MARTINS é Psicólogo, Bacharel e Licenciado em Psicologia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ); Mestre em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medicina Social da UERJ; Professor substituto da Universidade Federal Fluminense (UFF), no biênio 2002/2004 e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Doutorando em Psicologia Social pela Universidade de São Paulo (USP). Oi Queridos! Meu nome é FABIANE MUNIZ. Sou psicóloga e sempre me interessei muito pela área da sexologia. Desde 1990 já atendia pessoas com problemas sexuais. Depois entrei na pósgraduação em sexualidade e logo em seguida no mestrado. E hoje estou aqui como professora de vocês. Grande abraço! Depois deste curso façam o de sexualidade, heim!! Estou aguardando vocês! Meu nome é LUIS EDUARDO GRANATO, sou psicólogo clínico e mestre em antropologia social. Trabalho na rede pública de saúde e em consultório particular e dou aulas no departamento de psicologia de uma universidade particular. Meus interesses acadêmicos tratam justamente da relação entre o que se denomina como "social" e "individual", como pode ser inferido pela minha formação (psicologia e antropologia). Olá, tudo bem? Sou MARIA CRISTINA URRUTIGARAY. Trabalho no IAVM desde Sou formada pela UFRJ em Psicologia. Tenho pós-graduação em Psicologia Analítica Junguiana pelo IBMR e Psicopedagogia, pela Universidade de Havana-Cuba. Também fiz meu mestrado por Cuba e me diplomei em Educação com ênfase em psicopedagogia. Trabalho com as Técnicas Expressivas e Arteterapia, e tenho dois livros publicados nesta linha de pesquisa sobre imagens, imaginário e a Arteterapia. Meu nome é EUNICE DO VALE MADEIRA, sou formada em Pedagogia pela UERJ (1968) e em Psicologia pela FAHUPE (1993), posteriormente fiz mestrado em Psicologia Escolar na Universidade Gama Filho (1987). Atualmente sou Professora Assistente da Universidade Veiga de Almeida e trabalho com os temas: motivação e afetividade. Terei muito prazer em trabalhar com vocês! Eu me chamo HENRIQUE PEREIRA, sou psicólogo clínico, atuando no Rio de Janeiro e Niterói. Obtive o título de doutor em Psicologia Social pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Em minha tese de doutorado examinei a psicologia analítica de Jung da perspectiva sociológica da teoria do ator-rede de Bruno Latour. Organizo e ministro cursos de extensão em psicologia junguiana e pós-junguiana. Atualmente leciono nas universidades Candido Mendes e Estácio de Sá, e no Centro Universitário de Maringá.

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5 Sumário 5 07 Apresentação 09 Aula 1 Introdução à psicologia do desenvolvimento 27 Aula 2 Jean Piaget e o desenvolvimento cognitivo. 53 Aula 3 O modelo histórico- cultural de Vygotsky 83 Aula 4 Wallon e o estudo da psicogênese 105 Aula 5 Freud e as fases psicossexuais do desenvolvimento Aula 6 O desenvolvimento da infância à velhice AV1 Estudo dirigido da disciplina AV2 Trabalho acadêmico de aprofundamento Referências bibliográficas

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7 Objetivos gerais Apresentação CADERNO DE ESTUDOS Psicologia do Desenvolvimento Queridos alunos, mais uma vez estamos aqui com vocês. Que bom! Este caderno tem seis aulas sobre as Teorias psicológicas do desenvolvimento humano. Na primeira aula você terá a oportunidade de conhecer um pouco da história da psicologia assim como alguns conceitos básicos para que possamos, então, entrar propriamente no que nos interessa dentro da psicologia que é a psicologia do desenvolvimento. Aí começaremos o nosso passeio com os teóricos. Na segunda aula falaremos de Jean Piaget, que com toda a sua inteligência foi o primeiro escolhido para nosso percurso. Depois, na terceira aula, conheceremos Vygotsky e seus pontos de vista históricos e culturais, para depois demonstrarmos os pontos de encontros e desencontros desses dois grandes nomes da psicologia. Na quarta aula quem vem com muita emoção e afetividade é Henry Wallon. Com Wallon chegaremos a conclusão que é por causa da expressão e dos sentimentos dos outros que tentamos fazer algo para mudar o mundo a nossa volta. Na quinta aula, estudaremos o último teórico de nosso caderno, Freud e sua teoria sobre neurose, sexualidade, etc. Enfim, veremos os pontos principais da psicanálise para o nosso curso. Mas não acaba por aí não, pois na ultima aula faremos um passeio por todas as idades, desde a infância até a velhice. Bom estudo! Este caderno de estudos tem como objetivos: Demonstrar a importância e contribuição da psicologia do desenvolvimento na formação de profissionais da saúde e educação; Demonstrar a teoria Epistemológia de Jean Piaget sobre como o homem desvenda o mundo, como interage com ele e como ele elabora as idéias; Demonstrar o modelo histórico-cultural de Vygotsky no que se refere ao desenvolvimento do homem; Conhecer os conceitos propostos por Wallon e sua relevância para o entendimento dos estágios do desenvolvimento no qual destaca o papel da tonicidade para integração do corpo com o meio físico e social; Provocar uma reflexão sobre alguns conceitos da psicanálise de Freud e principalmente sobre as fases psicossexuais do desenvolvimento; Por fim, passear pelas idades sob o olhar da psicologia do desenvolvimento.

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9 Objetivos Apresentação AULA Introdução à Psicologia do Desenvolvimento Maria Poppe 1 Nesta aula apresentaremos as origens da Psicologia Geral enquanto ciência, buscando dar um destaque especial para os estudos da Psicologia do Desenvolvimento que é o foco desta disciplina. Assim como vimos, o objetivo dessa disciplina consiste em mapear todas as fases do desenvolvimento humano e suas características particulares, abordando as mudanças e aquisições vividas em cada etapa. Embora estas sejam mais perceptíveis durante o período da infância, vale ressaltar que elas ocorrem ao longo da vida. Porém, antes de comentarmos sobre as fases do desenvolvimento e as principais contribuições de cada teoria do desenvolvimento, cabe aqui apresentar o ramo da Psicologia que se destina a estudar esse assunto, isto é, a Psicologia do Desenvolvimento. Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: Entender a importância da psicologia na compreensão de todas as teorias de base que fundamentam o desenvolvimento humano; Saber a influência dos fatores orgânicos no desenvolvimento humano, mas destacando também o papel do meio ambiente influenciando igualmente o desenvolvimento humano; Discutir os diferentes campos de estudo da psicologia do desenvolvimento; Compreender a relevância desse tipo de estudo para a sua formação.

10 Aula 1 Introdução à psicologia do desenvolvimento 10 Introdução 10 O que é Psicologia? 10 Campo de estudo da psicologia do desenvolvimento 14 Um pouco de história 19 Introdução Bem, para entendermos o que é a Psicologia do Desenvolvimento, seu objeto de estudo e maiores contribuições, precisamos definir primeiro o que ela seja. Para tal, leia o quadro abaixo que retiramos da internet, do site da Wikipédia: PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO É o estudo científico das mudanças de comportamento relacionadas à idade durante a vida de uma pessoa. Este campo examina mudanças através de uma ampla variedade de tópicos, incluindo habilidades motoras, habilidades em solução de problemas, entendimento conceitual, aquisição de linguagem, entendimento da moral e formação da identidade. Dentre as questões formuladas por psicólogos do desenvolvimento poderiamos destacar. São as crianças qualitativamente diferentes dos adultos ou eles simplesmente não têm a mesma experiência dos adultos? O desenvolvimento ocorre através de uma acumulação gradual de conhecimento ou por mudanças de um estágio de pensamento ou outro? As crianças nascem com conhecimento inato ou elas percebem as coisas com a experiência? O desenvolvimento é direcionado pelo contexto social ou por algo dentro da criança? Fonte:Wikipédia( %A1gina_princial) Bem, agora voltemos ao assunto que devemos iniciar nosso diálogo que é a Psicologia, ciência que deu origem ao campo de estudo da Psicologia do Desenvolvimento. O que é Psicologia? SÍMBOLO QUE REPRESENTA A CIÊNCIA DA PSICOLOGIA Podemos definir Psicologia como sendo o estudo científico do comportamento, onde o termo comportamento inclui todas as respostas, isto é, atos motores e respostas fisiológicas manifestas, assim como, os eventos mentais internos e subjetivos

11 Aula 1 Introdução à psicologia do desenvolvimento 11 (imagens, memórias, pensamentos e sentimentos). Esses eventos podem ser externos e observáveis ou inferidos indiretamente através de relatos verbais ou indicadores fisiológicos. A inferência indireta se realiza, por exemplo: Quando se ouve uma história ou quando se lê um livro, pois imediatamente o mundo imaginário será habitado por construções próprias do ouvinte ou leitor para ilustrar os sons e palavras que compõem o relato ou a leitura; Quando se tem um aumento da freqüência cardíaca, transpiração, rubor da face e etc. que são indicadores fisiológicos, também, alimentados pelos relatos ou pelas leituras. Para que a Psicologia possa ser considerada um estudo científico é preciso que esta apresente características distintivas dessa modalidade de estudo, tais como: objetividade, repetibilidade, comunicação com outros e abordagem sistemática. Como nos aponta Lindzey, Hall e Thompson em seu livro Psicologia (1977), tais conceitos podem ser definidos da seguinte maneira: Objetividade envolve o estabelecimento de definições que sejam precisas e inteiramente compreensíveis para qualquer pessoa adequadamente treinada, bem como, a realização de observações de tal maneira que reflitam exatamente o que existe no mundo real (objetivamente observado). Definições adequadas que permitam medir alguma coisa (estatura, dominância, inteligência, motivação e etc.) de forma que possa ser quantificada - isto é, que possam ser atribuídos a esta, números as

12 Aula 1 Introdução à psicologia do desenvolvimento 12 observações por algum meio significativo e proveitoso. Desta maneira, se determina padrões, classificações e referências. Para refletir O investigador a partir de sua pesquisa relata que: uma resposta seguida de recompensa tem maior probabilidade de ocorrer novamente do que uma resposta não seguida de recompensa. Se o investigador fornecer uma adequada definição desses termos, outros psicólogos poderão observar essa mesma relação regularmente em outras ocasiões e em diferentes situações. A finalidade principal da objetividade é a eliminação das tendências pessoais do observador, seus preconceitos e convicções, que poderiam distorcer ou obscurecer o acontecimento ou objeto que estivesse sendo observado. Porém, não é suficiente que os dados sejam coletados de maneira objetiva. É preciso ainda que, os resultados sejam REPETÍVEIS para que se confirme a coleta de dados. Além disso, uma descoberta científica deve poder ser partilhada com outros, tanto no sentido da comunicação da descoberta, quanto na possibilidade de que a experiência seja repetida em outros laboratórios. Caso contrário, não será possível afirmar uma abrangência que é necessária ao experimento. Outro compromisso fundamental de uma disciplina científica é o de lidar com os eventos estudados de uma forma METÓDICA e ABRANGENTE. Sendo assim, um investigador não pode tratar de tópicos interessantes isolados e deixar sem resposta questões significativas que estejam relacionadas ao campo observado. É, então, o essencial da teoria psicológica tornar racional e sistemática a busca do psicólogo por uma compreensão do comportamento? Certamente que é! De fato, uma das principais contribuições da teoria é proporcionar tanto uma estrutura dentro da qual as descobertas existentes possam ser incorporadas e vistas em suas relações umas com as outras, quanto também um mapa daquelas questões relevantes que ainda não foram estudadas. Por exemplo, podemos saber que a esquizofrenia é caracterizada por certas

13 Aula 1 Introdução à psicologia do desenvolvimento 13 deficiências intelectuais e que existe uma forte determinação hereditária desse distúrbio. Mas qual é a relação entre as deficiências intelectuais e os fatores hereditários? Em geral a tarefa do psicólogo consiste em explorar o comportamento sistematicamente - não por capricho, interesse pessoal ou mesmo modismo, mas de modo a que, eventualmente, a totalidade dos organismos que se comportam venha a ser descrita e compreendida em todos os seus aspectos. (Lindzey, Hall & Thompson, 1977, p.5) Dentro dessa perspectiva também trabalham os estudiosos do desenvolvimento, pois estes estão interessados na relação entre o tempo e a existência humana e procuram descrever e explicar sistematicamente às mudanças que ocorrem nos modos de pensar, sentir e agir nas diferentes fases da vida. Eis, então, as primeiras idéias do que podemos denominar de estudo sobre o desenvolvimento. ALGUNS FATORES QUE INFLUENCIAM O DESENVOLVIMENTO HUMANO Hereditariedade a carga genética estabelece o potencial do indivíduo, que pode ou não se desenvolver. Existem pesquisas que comprovam os aspectos genéticos da inteligência. No entanto, a inteligência pode se desenvolver aquém ou além do seu potencial, dependendo das condições do meio que encontra. Crescimento orgânico se refere ao aspecto físico. O aumento de altura e a estabilização do esqueleto permitem ao indivíduo comportamentos e um domínio do mundo que antes não existiam. Pense na possibilidade de descobertas de uma criança, quando começa a engatinhar e depois a andar, em relação a quando esta criança estava no berço com alguns dias de vida. Maturação neurofisiológica é o que torna possível determinado padrão de comportamento. A alfabetização das crianças, por exemplo, depende dessa maturação. Para segurar o lápis e manejá-lo como um adulto, é necessário um desenvolvimento neurológico que a criança de 2, 3 anos ainda não tem. Observe como ela segura o lápis.

14 Aula 1 Introdução à psicologia do desenvolvimento 14 Meio o conjunto de influências e estimulações ambientais altera os padrões de comportamento do indivíduo. Por exemplo, se a estimulação verbal for mais intensa, uma criança de 3 anos pode ter um repertório verbal muito maior do que a média das crianças de sua idade, mas, ao mesmo tempo, pode não subir e descer com facilidade uma escada, porque esta situação pode não ter feito parte de sua experiência de vida. (Bock, 1999: 99). Campo de estudo da Psicologia do Desenvolvimento A Psicologia do desenvolvimento tem três objetivos que configuram o seu campo de estudo, como nos descreve Maria A. Cória-Sabini (2003) em Psicologia do Desenvolvimento são eles: 1º. OBJETIVO: Descrição da gênese das condutas psicomotoras, afetivas, cognitivas e sociais, e do processo de mudança dessas condutas ao longo da vida. É preciso explicar porque as modificações ocorrem e determinar os fatores, processos e mecanismos responsáveis por elas. O campo da Psicologia do Desenvolvimento é caracterizado por essas questões e conduzem tanto a estudos descritivos quanto explicativos do comportamento humano ao longo da vida. 2º. OBJETIVO: Fatores que afetam o desenvolvimento das condutas: Tradicionalmente, os fatores responsáveis pela gênese das condutas e suas modificações ao longo da vida se apresentam divididos em fatores genéticos e ambientais. Essa divisão também aparece com outros nomes, tais como: Comportamento inato ou aprendido, comportamento instintivo ou inteligente, processos de

15 Aula 1 Introdução à psicologia do desenvolvimento 15 maturação ou de aprendizagem etc. Dentro dessa visão, os determinantes do comportamento estariam divididos em duas posições antagônicas, ou seja, uma posição que defende que cada pessoa nasce com um conjunto de predisposições e que o curso do desenvolvimento será normal caso seja assegurado condições ambientais mínimas. E uma segunda posição que define o desenvolvimento humano como uma história de condicionamento (princípio que controla as ações humanas de forma causal) ou como um processo de aprendizagem social. Sabe-se hoje que essa divisão é simplista e pouco produtiva para a compreensão das interações organismo-meio, que constituem a essência do processo de desenvolvimento. A posição atual dos teóricos do desenvolvimento, no entanto, é de que os assim chamados fatores genéticos só podem se manifestar como respostas ao ambiente, como também os assim chamados fatores ambientais só podem agir sobre uma estrutura já existente que, em última análise, é a estrutura herdada. (Cória-Sabini, 2003, p.14) A observação do desenvolvimento do comportamento social do bebê no primeiro ano de vida mostra claramente a interação entre os fatores ambientais e genéticos no desenvolvimento. Esse primeiro contato social do bebê só é possível porque ele nasce com uma série de comportamentos e capacidades, embora esses elementos sozinhos não sejam suficientes. Essa primeira relação social também depende de experiências e condições que a criança encontra no ambiente, tais como: estímulos, cuidados, atenção, afeto. Portanto, as características da primeira relação social, bem como o seu desenvolvimento posterior, são o resul-

16 Aula 1 Introdução à psicologia do desenvolvimento 16 resultado da interação organismomeio; não são nem inteiramente préprogramadas (genéticas), nem resultantes apenas de aprendizagem (ambientais). (Cória-Sabini, 2003, p.14) 3º. OBJETIVO: Identificação de estágios ou fases no desenvolvimento: Todas as pesquisas realizadas no campo do desenvolvimento apontam semelhanças na forma de pensar, agir e sentir de indivíduos dentro de uma mesma faixa etária, além de apontar que há variações ao longo das idades. Essas descobertas possibilitaram o emprego de conceitos tais como estágios, períodos, fases para descrever o desenvolvimento humano. Sendo assim, o desenvolvimento se dá por estágios ou etapas que se diferenciam pela qualidade da cognição, do comportamento, das relações afetivas, etc. A identificação das mudanças que ocorrem ao longo do desenvolvimento humano serviu para estabelecer um referencial na avaliação do progresso individual, além do que as expectativas de comportamento para cada idade acabaram se tornando um sistema de controle de conduta individual. O termo controle pode ser empregado, uma vez que instituições como a escola e a família passam a adotar como referência os parâmetros estabelecidos pelos estudiosos para comparar comportamentos e exigir atitudes frente a determinadas situações. Assim agindo, não somente produzem expectativas como também conflitos que influenciam os aspectos emocionais no desenvolvimento global que também comparecem no espaço escolar. Algumas teorias contribuíram com conceitos importantes para o conhecimento dos processos envolvidos no desenvolvimento e, embora, essas

17 Aula 1 Introdução à psicologia do desenvolvimento 17 teorias apresentem enfoques distintos existem princípios que são comuns a todas. Dentre estes destacam-se: A transição de um estágio para outro se dá dentro de um processo de integração e não pela justaposição de etapas estranhas entre si; A ordem de sucessão dos estágios é constante; As idades que delimitam um determinado estágio podem variar dentro de certos limites. Maria A. Cória-Sabini (2003) aponta três motivos para que esse aspecto normativo das teorias tenha sido bem aceito por profissionais e por leigos. O PRIMEIRO MOTIVO é que a existência de normas a respeito do desenvolvimento possibilita a criação de condições ideais para o aparecimento ou avaliação de certas condutas, estabelecendo pontos referenciais formais ou informais na vida social. EXEMPLO: Produtos e serviços que são oferecidos a partir de pesquisas realizadas para atingir um determinado público ou faixa etária. O SEGUNDO MOTIVO baseia-se no fato de que as normas podem ser tomadas como um referencial para uma auto-avaliação, ou seja, a existência de um referencial definido, comum a uma determinada fase, pode auxiliar a minimizar as crises e propiciar melhor adaptação aos desafios ambientais. EXEMPLO: A conversa entre mães que têm filhos adolescentes, a troca de experiências, faz com que estas tenham maior serenidade para lidar com a tão falada crise da adolescência. Uma vez que, o isolamento nessas situações gera mais ansiedade, assim como outros sentimentos que se identificam com fracasso e ineficiência na relação com os adolescentes.

18 Aula 1 Introdução à psicologia do desenvolvimento 18 E o TERCEIRO MOTIVO é que a existência de normas oferece referencial para pesquisa. Várias teorias admitem a existência de estágios e de interrelação entre eles, essas teorias estimularam várias pesquisas que investigaram as etapas, os processos ou mecanismos que determinam a sucessão dos estágios e a relação entre eles. Esses estudos investigaram os aspectos emocionais, cognitivos e sociais do desenvolvimento. Dentre as teorias voltadas para o estudo do desenvolvimento humano duas exerceram influência decisiva: A teoria de Jean Piaget (abordando a dimensão cognitiva) e a Psicanálise (abordando a dimensão emocional-afetiva). Porém, não há uma teoria que dê conta do desenvolvimento em todas as suas dimensões, na medida em que as teorias acabam por privilegiar um aspecto em detrimento de outros. Fica claro, então que:...para entender o comportamento de um indivíduo particular, em qualquer etapa do seu desenvolvimento, é necessário conhecer não apenas as mudanças cognitivas, sociais, emocionais e biológicas que ocorrem, mas também qual o impacto que cada uma delas pode ter sobre as outras. O desenvolvimento é um processo unitário e individual. (Cória-Sabini, 2003, p.18-19) Torna-se fundamental o conhecimento das diferentes teorias e abordagens uma vez que, nenhuma delas compreende o conjunto da complexidade humana. O desenvolvimento de cada criança é multideterminado, ainda que, os estudos procurem encontrar aspectos comuns e universais, pois é dessa forma que a ciência se organiza.

19 Aula 1 Introdução à psicologia do desenvolvimento 19 Um pouco de história Antes de chegarmos a apresentar as principais contribuições de cada teoria do desenvolvimento precisamos pensar de que forma teve início a investigação sobre o desenvolvimento. Por onde começaram os pesquisadores? Quais os aspectos históricos envolvidos no nascimento da Psicologia do Desenvolvimento? Podemos dizer que as idéias de Darwin ( ) sobre a evolução das espécies e do comportamento serviram de estímulo para que os pensadores pudessem perceber a criança como fonte de informação sobre a natureza humana e que a investigação sobre o desenvolvimento humano teve seu início pelo estudo da infância. Mas o conceito de infância foi sempre o mesmo? A criança sempre foi vista como um indivíduo que precisa ser cuidado, protegido e orientado? Não. Por incrível que pareça, até o século XVII a criança era considerada um adulto em miniatura, ou seja, acreditava-se que os sentimentos, as ações e o raciocínio de uma criança eram constituídos dos mesmos elementos básicos daqueles dos adultos e essa concepção era determinante no tratamento que a sociedade dava as crianças (Ariès, 1981). Sabe-se que até o século XVII as crianças só recebiam tratamento especial até os sete anos e, depois disso, elas eram inseridas na comunidade dos adultos e passavam a desempenhar as mesmas atividades que eles. EXEMPLO: As crianças que pertenciam às classes menos privilegiadas trabalhavam no campo, vendiam nos mercados e aprendiam um ofício.

20 Aula 1 Introdução à psicologia do desenvolvimento 20 E nas famílias mais abastadas? Será que a criança era vista da mesma forma? Sim, nessas famílias, também, não era dispensado nenhum tratamento especial. Como nos mostra Maria A. Cória- Sabini em Psicologia do Desenvolvimento: Dica da professora Você deve estar se perguntando: Essas mudanças ocorreram ao mesmo tempo nas classes baixas e na burguesia? Não. A gradativa mudança no conceito de infância, a percepção da criança como um indivíduo em formação, que necessita de cuidado, proteção e orientação era exclusiva dos aristocratas e dos burgueses. A classe baixa, até o século XIX, fazia pouquíssima distinção entre crianças e adultos, submetendo, inclusive, suas crianças as mesmas faltas legais que os mais velhos....era comum que as crianças começassem a escolarização aos quatro ou cinco anos de idade. O ensino esforçava-se para ser enciclopédico e para desenvolver as faculdades mentais de atenção, memória, abstração etc. Por isso era árduo e difícil. O método empregado era a repetição em voz alta das informações dadas pelo mestre. Como ninguém dava importância à compreensão no processo de aprendizagem, não se questionava a dificuldade dos assuntos ensinados, nem se prestava atenção às diferenças individuais. As classes eram compostas com elementos de todas as idades. Assim, ninguém se espantava ao ver meninos de sete anos e jovens de dezoito recitando juntos uma lição. (2003, p.23) A partir do século XVII, o conceito de infância vai se transformando, alguns pensadores começam a defender a idéia de que a mente da criança é diferente da mente do adulto, a igreja afasta as crianças dos assuntos ligados ao sexo, alegando a inadequação dessas vivências para formação do caráter e da moral dos indivíduos e estabelece-se o ensino graduado e a formação de classes com crianças da mesma idade. As famílias começam a se preocupar com os assuntos e ações que possam prejudicar a formação moral de seus filhos. EXEMPLO: Proibição a participação das crianças em festas públicas e orgias. Dois aspectos foram fundamentais para que a sociedade mudasse o tratamento dispensado as crianças, foram eles:

21 Aula 1 Introdução à psicologia do desenvolvimento 21 O grande número de crianças que não sobreviviam à infância; O crescimento da burguesia. Com isso, a infância passa a ser considerado um período importante do desenvolvimento, momento de formação do caráter e da moral. A criança ganha um lugar diferenciado na família e a família acaba por assumir a responsabilidade pelo pleno desenvolvimento dos seus filhos. Com a evolução do conceito de infância surgem os primeiros estudos no campo do desenvolvimento infantil (décadas de 1920 e 1930). Nesse momento, os investigadores buscam obter um padrão normativo para o desenvolvimento físico, motor e social do ser humano. estudos? E de que forma se deram? Como eram esses Os estudos baseavam-se na observação das atividades de bebês nos seus primeiros anos de vida e buscavam responder perguntas, como: Com que idade o bebê consegue sentar sem ajuda? E andar? Quando aparece o primeiro sorriso social? O que percebemos é que esses estudos intencionavam descrever e articular as mudanças de comportamento de acordo com a idade e com as variações existentes entre crianças de uma mesma faixa etária, possibilitando, assim, a criação de padrões de desenvolvimento. Este tipo de pesquisa é chamado de descritivo. Nas pesquisas descritivas a idade é a variável mais importante, e as descrições são, primariamente, sobre diversos comportamentos que caracterizam um determinado nível de desenvolvimento. As tabelas normativas

22 Aula 1 Introdução à psicologia do desenvolvimento 22 resultantes desses estudos representam uma contribuição muito importante e até hoje proporcionam conhecimentos úteis para pediatras, pais e educadores. (Cória-Sabini, 2003, p.24 e 25) Você deve estar se perguntando: Para que serve uma tabela que aponte o comportamento esperado em cada idade? É simples: Embora saibamos que o Para refletir Como o pediatra poderia avaliar fidedignamente essa criança se não tivesse conhecimento dos estágios do desenvolvimento infantil? Nesse caso, não seria útil a utilização das escalas de desenvolvimento? desenvolvimento de cada criança é multideterminado e que isso possibilita variações no tempo de aquisição das aprendizagens, esta pode estabelecer níveis, estágios de desenvolvimento, que ofereçam o conhecimento de um padrão de normalidade esperado para cada faixa etária, facilita a identificação de problemas e a aplicação de medidas para enfrentamento dos obstáculos percebidos. Por Exemplo: Uma mãe chega ao pediatra preocupada porque sua filha de três anos ainda não fala. Ela diz: Doutor, tenho observado, na pracinha que eu freqüento, que todas as crianças com mais de dois anos e meio estão falando, e minha filha ainda não fala nem mamãe, será que ela tem algum problema? Como nos aponta Clara R. Rappaport (1981) em Psicologia do Desenvolvimento: E mais:...a partir da elaboração destas escalas, de certa forma, o desenvolvimento de cada criança poderia ser medido e comparado com o que se esperava para a sua faixa de idade ou com o comportamento considerado normal. (Rappaport, 1981, p. 2) Fica claro então que o psicólogo do desenvolvimento, através da pesquisa (descrição precisa dos fenômenos com-

23 Aula 1 Introdução à psicologia do desenvolvimento 23 portamentais individuais ou em situação de interação social) e da teorização (tentativa de explicar e integrar os dados das pesquisas num todo coerente e unitário), oferece subsídios para a compreensão: a) Do processo normal de desenvolvimento numa determinada cultura. Isto é, conhecimento das capacidades, potencialidades, limitações, ansiedades, angústias mais ou menos típicas de cada faixa etária; b) Dos possíveis desvios, desajustes e distúrbios que ocorrem durante o processo e podem resultar em problemas emocionais (neuroses, psicoses), sociais (delinquência, vícios, etc.), escolares (repetência, evasão, distúrbios de aprendizagem) ou profissionais. (Rappaport, 1981, p.4) Com isso, percebemos que a Psicologia do Desenvolvimento enriquece o trabalho de profissionais na medida em que seus estudos permitem circunscrever as habilidades, capacidades e limitações de cada faixa etária nos vários aspectos da personalidade, sejam eles: motores, emocionais, intelectuais e etc. Tais informações viabilizam a criação de programas escolares, esportivos, recreativos, assim como de metodologias de ensino, adequadas a idade cronológica e a escolaridade. Vale destacar que, o desenvolvimento humano deve ser entendido como uma globalidade, mas, para efeito de estudo este tem sido abordado a partir de quatro aspectos básicos, são eles: Aspecto físico-motor se refere ao crescimento orgânico, à maturação neurofisiológica, à capacidade de manipulação de objetos e de exercício do próprio corpo. Exemplo: a criança leva a chupeta à boca ou consegue tomar a mamadeira sozinha, por volta dos 7 meses, porque já coordena os movimentos das mãos; Aspecto intelectual é a capacidade de pensamento, raciocínio. Por exemplo, a criança de 2 anos que usa um cabo de vassoura para puxar um brinquedo que está embaixo de um móvel ou o jovem que planeja seus gastos a partir de sua mesada ou salário;

24 Aula 1 Introdução à psicologia do desenvolvimento 24 Aspecto afetivo-emocional é o modo particular de o indivíduo integrar as suas experiências. É o sentir, A sexualidade faz parte desse aspecto. Exemplos: a vergonha que sente em algumas situações, o medo em outras, a alegria de rever um amigo querido; Aspecto social é a maneira como o indivíduo reage diante das situações que envolvem outras pessoas. Por exemplo, em um grupo de crianças, no parque, é possível observar algumas que espontaneamente buscam outras para brincar enquanto outras permanecem sozinhas. Todas as teorias do desenvolvimento humano partem do pressuposto de que esses quatro aspectos são indissociados, mas elas podem enfatizar aspectos diferentes, isto é, estudar o desenvolvimento global a partir da ênfase em um dos aspectos. (Bock, 1999: 100) Agora que já apresentamos a Psicologia do desenvolvimento, seu alcance e objetivos e mostramos os aspectos históricos implicados no seu nascimento, cabe falarmos aprofundadamente das teorias do desenvolvimento que compõe o seu corpo teórico. Destacaremos as importantes contribuições de Piaget, Vygotsky, Wallon e Freud. Bem, mas antes de iniciarmos essa nova etapa, proponho a você a realização de exercícios que busca fixar o conteúdo dado e também estimular a reflexão a respeito do tema trabalhado. EXERCÍCIO 1 O que é Psicologia e qual a importância de estudá-la em seu curso?

25 Aula 1 Introdução à psicologia do desenvolvimento 25 EXERCÍCIO 2 Quais são os principais objetivos da Psicologia do Desenvolvimento? Descreva-os. EXERCÍCIO 3 A psicologia do desenvolvimento estuda o ser humano em seus diferentes aspectos. São eles: ( A ) Cognitivo, emocional e social; ( B ) Emocional, social e físico; ( C ) Cognitivo, emocional e físico; ( D ) Emocional, cognitivo, motor, físico e social; ( E ) Culturais, políticos e filosóficos. EXERCÍCIO 4 A espécie humana se humaniza e se transforma em pessoa portadora de uma história através do(a): ( A ) Cultura; ( B ) Evolução genética; ( C ) Relação parental: ( D ) Modelo de mundo aspirado; ( E ) Inteligência.

26 Aula 1 Introdução à psicologia do desenvolvimento 26 Vimos até agora: RESUMO A definição de Psicologia e seus fundamentos científicos, que permitem validar uma observação com critérios e repetições de experimentos; A caracterização do desenvolvimento humano que recebe influência de diferentes fatores hereditários, orgânicos, maturacionais e ambientais, e assim, marcam o conjunto das diferenças individuais tão ricas na experiência docente; O campo de estudo da Psicologia do Desenvolvimento que integra a gênese das condutas globais da criança e todo seu processo de mudanças, os fatores que afetam o desenvolvimento de condutas e a identificação de estágios no desenvolvimento; Uma breve história da Psicologia do Desenvolvimento com considerações sobre a visão da infância que teve influências históricas, culturais e sociais.

27 Objetivos Apresentação AULA Jean Piaget e o desenvolvimento cognitivo Eunice do Vale Madeira 2 Nesta aula o nosso convidado é Jean Piaget. Jean Piaget foi um epistemólogo suíço que por mais de quarenta anos realizou pesquisas com crianças. A teoria de Piaget revolucionou a compreensão que se tinha a respeito do desenvolvimento intelectual. Ele explicou o desenvolvimento mental do ser humano no campo do pensamento, da linguagem e da afetividade. Piaget postulou que o desenvolvimento cognitivo se realiza em estágios e com isso ele demonstrou que a natureza e as características da inteligência mudam significativamente com o passar do tempo. Além disso, relacionou o desenvolvimento cognitivo à maturação e a experiência, ou seja, ele acreditava que as características biológicas da criança impõem alguns limites na ordem e rapidez em que as competências cognitivas emergem, embora acreditasse que a experiência ativa com o mundo era decisiva para o desenvolvimento cognitivo. Sendo assim, maturação e experiência não podem ter papéis isolados no desenvolvimento. A exploração e atuação no meio ambiente por parte da criança propiciam um desenvolvimento cognitivo melhor. Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: Conceituar os principais tópicos propostos por Piaget; Discutir sobre as fases do desenvolvimento da inteligência; Reconhecer que a concepção de Piaget sobre a influência do ambiente é determinante na construção da inteligência; Saber que para Piaget as teses sobre o inatismo da inteligência estão superadas; Fazer uma relação entre a teoria Piagetiana e seu curso.

28 Aula 2 Jean Piaget e o desenvolvimento cognitivo 28 Introdução 28 Elementos da teoria piagetiana 29 O processo de equilibração 34 Tipos de operações infralógicas 42 Tipos de operações lógicas 44 Introdução humano. Nesta aula, você conhecerá um pouco do pensar O pensamento é uma coisa à toa, mas como é que a gente voa quando começa a pensar... Entender como o Homem desvenda o mundo, como interage com ele, como elabora idéias que o auxiliam a ser um construtor de seu habitat, sempre foi motivo de pesquisa entre pensadores, cientistas e filósofos. Entre eles, um nome se destaca: Jean Piaget, biólogo, epistemólogo, nascido em Neuchâtel, Suíça, no ano de 1896 e falecido em Desde menino, o interesse científico de Piaget era notório. Ainda jovem e com pouco tempo de formado, interessou-se pela magia do pensamento humano. Seus estudos que configuraram a Teoria da Epistemologia Genética, ainda, são considerados como um dos pilares para o conhecimento do desenvolvimento cognitivo, até mesmo nos meios científicos. Piaget significa para a inteligência o que Freud representa para a afetividade. (Dolle) A teoria de Piaget é tão simples que somente um gênio a poderia ter concebido. (Einstein) Para Piaget, o homem é um sistema aberto. A resposta do ambiente contribui para um processo constante de reorganização mental, auto-regulando-o. Sua visão teórica é interacionista: o Homem é produto de uma bagagem genética que se desenvolve no meio social.

29 Aula 2 Jean Piaget e o desenvolvimento cognitivo 29 Trabalhou inicialmente com dois psicólogos franceses - Binet e Simon (escala de inteligência) - e se interessou pelas respostas erradas, concluindo que tais respostas eram consideradas erradas por serem analisadas a partir do ponto de vista do adulto. "As respostas infantis têm uma lógica própria". Sua grande busca sempre foi entender a gênese das estruturas lógicas do pensamento da criança, como se organizam suas ações inteligentes. Sua pergunta é: como se dá o conhecimento? O conhecimento não procede nem da experiência única dos objetos nem de uma programação inata pré-formada no sujeito, mas de construções sucessivas com elaborações constantes de estruturas novas. (Piaget, 1976) Para Piaget, o desenvolvimento psíquico é semelhante ao desenvolvimento orgânico, tem uma direção - equilíbrio progressivo. Em sua ótica a inteligência é uma adaptação na busca do equilíbrio entre o organismo e o meio. Ela é construída através do contato com o meio e as experiências vividas - AÇÃO. Elementos da teoria piagetiana Como se pode perceber, Piaget concebe o ser humano enquanto um ser que se constrói na relação com o meio um ser que aprende na relação sujeitoobjeto. Vejamos alguns elementos de sua teoria:

30 Aula 2 Jean Piaget e o desenvolvimento cognitivo 30 HEREDITARIEDADE Dica da professora Neste ponto devemos lembrar que, Piaget como biólogo foi fortemente influenciado pela tese Darwinista da evolução das espécies. Piaget licenciou-se em 1915, em ciências naturais, com uma tese em biologia sobre moluscos. Tais estudos permitiramlhe incorporar as discussões decorrentes da teoria da evolução de Darwin (COSTA, 2001) O indivíduo herda: Estruturas biológicas; Um organismo que amadurece em contato com o meio ambiente; Capacidades cujo desenvolvimento depende do meio ambiente. ADAPTAÇÃO Adaptação é a forma adequada para se lidar com situações novas. Acontece por dois processos: assimilação e acomodação. E de que forma, por meio de que processos ocorre essa adaptação do organismo às exigências do meio? Os seres humanos interagem continuamente com o ambiente, organizando suas vivências e formando novas estruturas organizacionais em resposta a novas experiências. Esse processo de adaptação ocorre através de dois processos complementares: ASSIMILAÇÃO E ACOMODAÇÃO (grifo nosso). (Conger,J.J.; Huston,A.C.; Kagan,J. Mussen, P.H., 1990, p.240) ASSIMILAÇÃO É o processo de incorporação dos desafios e informações do meio aos esquemas mentais existentes, ou seja, se refere aos esforços realizados pelo indivíduo para lidar com o ambiente, buscando ajustá-lo às estruturas já existentes no organismo. Assimilação é a tentativa de solucionar uma situação, utilizando uma estrutura mental já formada. É semelhante à assimilação biológica. (Exemplo: alimento conhecido X alimento novo).

31 Aula 2 Jean Piaget e o desenvolvimento cognitivo 31 Acomodação - É a tentativa de solucionar uma situação nova buscando novas maneiras de agir, considerando as propriedades do objeto. Consiste em diferenciar cada vez mais, refinadamente, os esquemas de ação para os adaptar melhor às condições cambiantes do campo de atividade, contribuindo, ao mesmo tempo, para a criação de esquemas novos. O sujeito se constrói como sujeito enquanto constrói o objeto. Os processos de acomodação levam o sujeito a estabelecer relações de objetividade com o mundo. Ao estruturar o objeto, a criança estrutura a si mesma enquanto sujeito. Quanto mais o mundo adquire coerência, mais ela própria se torna coerente. ACOMODAÇÃO é o processo de criação ou mudança de esquemas mentais em conseqüência da necessidade de assimilar os desafios ou informações do meio. Através da acomodação, os conceitos são mudados em resposta às exigências ambientais. A acomodação é o complemento da assimilação. Usemos um exemplo para ilustrar melhor os processos de assimilação e acomodação: Para uma criança de cinco anos todo animal que tiver bico, tiver asas e voar é considerado uma ave. Ao visitar a fazenda do seu tio se depara com um avestruz e o ASSIMILA ao seu conceito de ave. Porém fica intrigada porque o avestruz é muito maior do que as aves que ela já viu e seu tio lhe contou que avestruz não voa. Ela se pergunta: Será que avestruz é uma ave? (ISSO A COLOCA NUM ESTADO DE DESEQULÍBRIO).

32 Aula 2 Jean Piaget e o desenvolvimento cognitivo 32 Ela pode ACOMODAR novas informações sobre o avestruz e com isso alterar seu conceito de ave ou ainda formar um novo conceito diferente de ave - formar um conceito (avestruz), o que permitirá que ela reconheça um avestruz quando o vir. Essa acomodação a deixará por um tempo em estado de equilíbrio ou estabilidade cognitiva....piaget supôs que todos os organismos lutam pelo equilíbrio. Quando o equilíbrio cognitivo é perturbado por exemplo, quando alguma coisa é encontrada os processos de assimilação e acomodação funcionam de modo a restabelecê-lo. O estabelecimento do equilíbrio é, às vezes, chamado equilibração. A Assimilação e a Acomodação quase ocorrem juntas. A criança primeiro tenta entender uma nova experiência, usando velhas idéias e soluções (assimilação); quando elas não funcionam, a criança é forçada a mudar sua estrutura ou entendimento do mundo (acomodação). (Conger,J.J.; Huston,A.C.; Kagan,J. Mussen, P.H., 1990, p.241) Durante toda a vida haverá interação entre os processos de assimilação e acomodação. Todas as adaptações cognitivas são resultantes desses processos, em função dessa constância Piaget chamou esses processos (assimilação e acomodação) de INVARIANTES FUNCIONAIS. É importante ressaltar que embora os processos de assimilação e acomodação sejam invariáveis, as estruturas mentais se formam e são modificadas ao longo da vida. ESQUEMA Unidade estrutural básica de pensamento ou de ação e que corresponde, de certa maneira, à estrutura

33 Aula 2 Jean Piaget e o desenvolvimento cognitivo 33 biológica que muda e se adapta. Agir é coordenar esquemas entre si. O bebê ao nascer possui reflexos e sensação. Ele age através das funções tônica e de motilidade e estabelece uma comunicação tônico-afetiva. Essa é a primeira forma de comunicação do ser humano. Por esse processo, o bebê vai organizando suas sensações e utilizando intencionalmente seus reflexos. Exemplo - Reflexo de preensão - O bebê, ao nascer, agarra tudo que for colocado na palma de sua mão. Com a maturação biológica e com estímulos do ambiente, a criança desenvolverá um ESQUEMA DE PREENSÃO que associado ao olhar lhe permite trazer o objeto que está no seu alcance para junto de si (exemplo: colocar a chupeta na boca). Dica da professora O reflexo de preensão é uma situação simples que podemos observar no cotidiano de uma criança. Procure analisá-lo sob a perspectiva piagetiana da próxima vez! EQUILÍBRIO DESENVOLVIMENTO MENTAL * Equilibração das estruturas cognitivas (inicialmente esquemas sensoriais-motores). X DESENVOLVIMENTO ORGÂNICO * Equilíbrio orgânico * Diferentes possibilidades de interagir com o ambiente em diferentes faixas etárias. Segundo Piaget, o desenvolvimento cognitivo é explicado através de quatro fatores que, ao se processarem, permitem tal desenvolvimento. São eles: Maturação - É o crescimento fisiológico das estruturas orgânicas hereditárias.

34 Aula 2 Jean Piaget e o desenvolvimento cognitivo 34 Experiência Física - Possibilita o conhecimento físico através da observação. Quer saber mais? O conceito de equilíbrio, Piaget foi buscá-lo na Física, onde todo corpo tende a busca de uma homeostase ou estado de equilíbrio. Ex.: a bola rola; o vidro quebra; o gelo derrete na água, a areia não. Conhecimento lógico-matemático - A partir daí, a criança constrói relações lógicas. Ex.: Enfileirar 10 pedras. Contar em diferentes direções. Refazer o desenho e contar novamente. Descoberta de que a soma independe da ordem. Transmissão social - informações contraditórias ou desafiadoras. Equilibração - É o processo que produz coordenação entre a acomodação e a assimilação. Coordena e regula os três fatores anteriores, fazendo surgir estados progressivos de equilíbrio. Obs.: Esses estados não são permanentes. A criança, ao nascer, inicia seu processo de equilibração sucessiva e progressiva por meio do desenvolvimento das estruturas da inteligência. Isto ocorre em quatro períodos distintos, cuja ordem é fixa. Em cada período, o indivíduo tem um modo típico de se relacionar com o mundo, determinado por uma estrutura mental característica que possibilita uma forma particular de raciocínio. O processo de equilibração O processo de equilibração sucessiva se caracteriza em cada um dos seguintes períodos:

35 Aula 2 Jean Piaget e o desenvolvimento cognitivo 35 Período da inteligência sensório-motora (0-2 anos); Período da inteligência simbólica ou préoperatória (2-7 anos); Período da inteligência operatória concreta (7-11/12 anos); Período da inteligência operatória formal (a partir de 11/12 anos com patamar de equilíbrio entre 14/15 anos). I - PERÍODO SENSÓRIO-MOTOR (0-2 ANOS) CONQUISTA DO MUNDO (evolução psíquica) Percepção Movimentos Importante Esse período se desenvolve em três estágios: 1) Dos reflexos. Características: Melhoria da interação através de exercício; Impulsos instintivos alimentares. Quantos mitos e crendices foram superados com esses estudos. Pois foi confirmada a existência da herança biológica dos reflexos e da discriminação de sensações que contribuem para o desenvolvimento do bebê. 2) De organização das percepções e hábitos. Exemplos: Sucção sistemática do polegar; Virar a cabeça em direção ao ruído; Seguir um objeto em movimento. 3) De inteligência senso-motora. Inteligência prática (anterior à organização do pensamento);

36 Aula 2 Jean Piaget e o desenvolvimento cognitivo 36 Manipulação de objetos em lugar de palavras e conceitos (esquemas de ação). Ex.: pegar uma vareta para alcançar um objeto; Procura de objeto fora do campo da percepção (coberto com um lenço - mais ou menos 1 ano). Nesse estágio, dois processos fundamentais Dica de leitura Para brincar com o tempo, utilize com seus alunos o livro Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll. Lewis Carroll foi um professor de matemática, inglês, que se tornou famoso com este livro. A sua primeira tradução para o português foi feita por Monteiro Lobato por volta de 1930 é uma das obrasprimas da literatura infantil mundial. ocorrem: Construção de categorias e de objetos. Ao categorizar, a criança aprende a agrupar objetos por atributos. Ex.: separar carros de bolas. Construção da causalidade e do tempo. Aos 2 anos, a criança estrutura a noção de espaço (ligada ao movimento) - um espaço geral que compreende os outros, caracterizando as relações dos objetos entre si. Causalidade - É a relação entre um resultado empírico e a ação que o atraiu (esquema causal). Ex.: Descobrir que, puxando um cordão, o brinquedo se movimenta. Manifestação de sentimentos elementares ou afetos perceptivos ligados à própria atividade. Ex.: prazer, dor, agradável, desagradável, interesse pelo próprio corpo etc.

37 Aula 2 Jean Piaget e o desenvolvimento cognitivo 37 Obs.: Todos os aspectos enumerados são diretamente influenciados e, ao mesmo tempo, influenciam na afetividade e inteligência. Exemplificando: Uma criança de dez meses vê, por acaso, uma valise no canto oposto da sala. Fixa o olho no objeto. Começa a deslocar-se em direção a ele. Faz todo o sacrifício imposto por um deslocamento desajeitado arrastando-se, esbarrando nos móveis e paredesenquanto consegue avistar a valise. Se em um dado momento, perdê-la de vista, em função de um anteparo, sua atenção se voltará para um outro objeto interessante que esteja ao seu alcance e visível no seu novo campo visual, dedicando sua atenção e movimentos corporais a esta nova imagem, esquecendo-se do objetivo do deslocamento anterior (Furth, 1986). Como podemos perceber, neste exemplo, a criança demonstrou vários conhecimentos práticos. Foi capaz de fixar seus sentidos e a orientação do corpo em coisas que lhe atraíam o interesse e mostrou-se capaz de coordenar essa habilidade com eficiência. Entretanto, não foi capaz de um comportamento mais estável em relação ao primeiro objetivo de alcançar a valise. Sua atenção mostrou-se inteiramente dependente da ação. Dica da professora Importante identificar que nesse período o mundo que existe para a criança é o mundo percebido. O objeto deixa de existir quando não alcançado mais pelo campo visual. Observe crianças, ainda menores, que choram na ausência de seus cuidadores, mesmo que por breve período de tempo. A existência do objeto é em tempo real, pois não há condições de fixação, na memória daquele objeto. II - PERÍODO PRÉ-OPERACIONAL (2-7 ANOS) Este é um período marcado pelo aparecimento da linguagem, capacidade de reconstituir ações passadas (narrativa) e antecipar ações (representação mental), o que causa profundas mudanças tanto na área afetiva quanto cognitiva. É também um poderoso agente de socialização, da organização do pensamento

38 Aula 2 Jean Piaget e o desenvolvimento cognitivo 38 (interiorização da palavra) e de experiências mentais (interiorização da ação). Tais mudanças não são bruscas, elas ocorrem em transformações lentas e sucessivas. É preciso que a criança reconstrua o objeto, o espaço, o tempo, as categorias lógicas de classes e de relações no plano da representação. Entretanto, é preciso ressaltar que esta é uma representação simbólica, uma vez que a criança não pensa propriamente, mas vê mentalmente o que evoca, no plano do egocentrismo intelectual, pois sua inteligência ainda não é reversível e ela ainda opera no concreto. Ela transporta o mundo para sua cabeça, transformando o real ao sabor de suas necessidades e desejos. Para pesquisar Piaget fala do egocentrismo em dois níveis: intelectual e social. Procure pesquisar e diferenciar estes conceitos. Esse período se subdivide em dois estágios: a) Estágio Pré-Conceitual (2-4 anos). A criança opera em nível de representação simbólica (imitação); Pensamento egocêntrico (não é capaz de se colocar no lugar do outro). Dica da professora Observe crianças em creche, há pouca socialização. As brincadeiras são isoladas, seu universo imaginário é grande suficiente para falar com animais, objetos e amigos fantasmas. Assim como, tudo que está ao seu alcance é SEU, puro egocentrismo. É a indiferenciação entre o ponto de vista próprio e os pontos de vista dos outros ou entre a atividade própria e as transformações do objeto. É um fenômeno inconsciente. É uma absorção do eu nas coisas e nas pessoas com indiferenciação, uma vez que atribui ao outro qualidades provenientes de si ou da perspectiva particular em que está envolvido. A criança não relativiza por ausência de descentração. O egocentrismo confunde aparência com realidade, manifestando-se na representação que a criança faz de si no mundo.

39 Aula 2 Jean Piaget e o desenvolvimento cognitivo 39 Animismo - presume que todos os objetos estão vivos - Provém de uma assimilação das coisas à própria atividade. Linguagem egocêntrica sem a preocupação de comunicação com o outro. Raciocínio transdutivo - o raciocínio vai do particular para o particular. É a justaposição de elementos sem vinculá-los. A criança não estrutura suas idéias em conceitos, como o adulto, mas em pré-conceitos. São particulares no sentido em que evocam realidades igualmente particulares, possuindo um correlato simbólico próprio de cada criança. Ex.: Conta-se que uma criança de três anos, em dia de verão ensolarado, estranhou ao ver sua mãe com óculos escuros de grandes lentes. Esta, percebendo, tirou-o. E a criança, abrindo um largo sorriso exclamou: - Agora você é minha mãe!. Outra situação interessante é a da criança que, em viagem com a sua família, tendo visto uma barata na garagem de sua casa ao entrar no automóvel e, coincidentemente avistando outra barata que passava pelo chão do local para onde fora, exclamou: - Ela também veio! Finalismo - tudo tem um porquê; Artificialismo - As coisas foram construídas (as montanhas crescem - os lagos foram escavados) São esquemas de assimilação egocêntrica; Imitação diferida - É a formação de um símbolo mental de algo que a criança vê e mais tarde imita.

40 Aula 2 Jean Piaget e o desenvolvimento cognitivo 40 anos). b) Estágio Pré-Lógico ou Intuitivo (4-7 Raciocínio pré-lógico (baseado em experiências perceptuais). A criança considera a imagem mental em toda sua concreticidade e a organiza mentalmente, sem conseguir utilizá-las em outros lugares de sua organização mental. Exemplo: O objeto não pode ter duas funções. Se a mão se chama Maria, mais ninguém poderá ser Maria também. E diz ao coleguinha: A minha mãe que é Maria, a sua mãe não é Maria,... não é. Ao final deste período, a criança se encontra em fase intermediária de não conservação e conservação. É o início das ligações entre estados e transformações, tornando possível pensá-las sob a forma reversível. Centração - enfoque em apenas um estado de uma situação (volume, comprimento). e largura. Obs.: Aos 5 anos a criança não considera altura Por exemplo: Ao lhe mostrar dois objetos semelhantes às figuras acima, um vazio e outro cheio de água (ambos têm o mesmo volume) e, mesmo passando o líquido de um para o outro recipiente na frente dela, ao lhe perguntar em qual cabe mais a criança não considerará a altura e a largura para responder. Poderá até dizer que são iguais, mas ao se questionar o porquê, dirá que viu todo o líquido passar de um para o outro recipiente.

41 Aula 2 Jean Piaget e o desenvolvimento cognitivo 41 Pelo ensaio e erro, a criança pode chegar a uma descoberta intuitiva de relações. Irreversibilidade de pensamento - A criança não consegue reverter uma atividade, voltando atrás no raciocínio, a fim de coordenar os fenômenos previamente observados, com as circunstâncias presentes; Ex.: Você tem um irmão? Sim E ele tem uma irmã? Não Enfoque em estados - A criança não entende o significado da transformação (conservação); Em exercícios de seriação com bastões, as respostas são intuitivas. Não faz inserções. Exercite o pensamento de seus alunos. Segue uma sugestão, a poesia de Cecília Meireles. OU ISTO OU AQUILO Ou se tem chuva e não se tem sol ou se tem sol e não se tem chuva! Ou se calça a luva e não se põe o anel, ou se põe o anel e não se calça a luva! Quem sobe nos ares não fica no chão, quem fica no chão não sobe nos ares. É uma grande pena que não se possa estar ao mesmo tempo nos dois lugares! Ou guardo o dinheiro e não compro o doce, ou compro o doce e gasto o dinheiro. Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo... e vivo escolhendo o dia inteiro! Não sei se brinco, não sei se estudo, se saio correndo ou fico tranqüilo. Mas não consegui entender nada qual é o melhor: se é isto ou aquilo. III - OPERAÇÕES CONCRETAS (7-12 ANOS) Operações são ações no pensamento. É aquilo que transforma um estado A em um estado B deixando, pelo menos, uma propriedade invariante no

42 Aula 2 Jean Piaget e o desenvolvimento cognitivo 42 decorrer da transformação, com possível retorno de B para A, anulando essa transformação. (Fraise e Piaget, 1979) Operações concretas. É a capacidade de raciocinar logicamente, organizar os pensamentos em estruturas coerentes e totais, e dispô-los em relações hierárquicas ou seqüenciais. (Pulaski, 1980) Dica da professora Gardner, ao formular a Teoria das Inteligências Múltiplas, tece algumas críticas ao trabalho de Piaget. No entanto, quando desenvolve sua teoria sobre a Inteligência Lógico- Matemática, reconhece que ninguém desenvolveu melhor este tema do que o próprio Piaget. A crítica de Gardner diz respeito ao fato de Piaget não haver levado em consideração as outras inteligências, que na opinião de Gardner compõem o conjunto da cognição. São de duas ordens as operações que se constroem neste período: Operações lógico-matemáticas - São operações do sujeito sobre o objeto, que é visto como uma unidade a ser quantificada, seriada, classificada. Não são acompanhadas de imagem mental; Operações infralógicas - São as que se aplicam sobre um objeto situado num espaço e num tempo, nas suas relações parte-todo e nas suas relações físicas com outros objetos. Tipos de operações infralógicas CONSERVAÇÕES FÍSICAS Conservação é uma noção operatória que Dica de leitura permite à criança compreender que alterações de forma não causam alterações de quantidade, peso ou volume. Sobre este tema, leia: GARDNER, H. Estruturas da Mente. Porto Alegre: Artmed, Em nível pré-operatório a criança, por não descentrar (centrar a atenção em dois ou mais estados ao mesmo tempo), não percebe a transformação, ficando presa a apenas uma forma do objeto.

43 Aula 2 Jean Piaget e o desenvolvimento cognitivo 43 Conservações de quantidade a) Contínua Transvasamento de líquidos Identidade simples - A água é a mesma, não aumenta nem diminui. Reversibilidade; por inversão - Se volta a água para o copo ela cabe toda. Reversibilidade por compensação ou reciprocidade de relações - A taça é mais baixa mas é larga. O copo é alto, mas é estreito, é a mesma coisa. Alteração da forma de uma porção de massa b) Descontínua Colocar, simultaneamente, com as duas mãos um grão de cada vez num copo alto e estreito e num outro largo e baixo na frente da criança. Interromper e questionar: Onde há mais grãos? 6/7 anos - É igual. 7/8 anos - Você botou um de cada vez em um e outro, então é igual. Conservação de peso Por volta de oito anos a criança já é capaz de entender que um quilograma de chumbo é igual a um quilograma de algodão, embora, em termos de quantidade física, ambos aparentem grande diferença. A criança compreende que alterações de forma não são, necessariamente, acompanhadas de alteração de peso. Importante No entanto, deve ser ponderada cada uma dessas experiências em função da realidade e do meio vividos pela criança. Lembremos que Piaget era suíço e em seu país não havia fome nem violência. Portanto, flexibilizar os conceitos e a evolução das crianças nas diferentes faixas etárias é tarefa fundamental de todo educador. Dica de leitura GOULART, Iris. Piaget: experiências básicas para utilização pelo professor. 14ª ed., Petrópolis: Vozes, 1998.

44 Aula 2 Jean Piaget e o desenvolvimento cognitivo 44 Conservação de volume Por volta de nove, dez anos, a criança já deve ser capaz de perceber que determinado volume permanece inalterado, mesmo quando aparentemente ocupa um espaço maior. Esta noção é alcançada quando a criança compreende que alterações de forma, posição, diferenças de peso não estão, obrigatoriamente, associadas às variações de volume. CONSERVAÇÕES ESPACIAIS Conservação de comprimento Após os sete anos, a criança já é capaz de entender, por exemplo, que duas retas são iguais mesmo quando aparentemente são diferentes, como no desenho abaixo. Obs.: A conservação de comprimento é mais fácil de ser entendida do que a conservação de quantidades contínuas, volume e peso. Tipos de operações lógicas Vejamos alguns tipos de operações lógicas e o desempenho das mesmas no decorrer do processo de desenvolvimento cognitivo. CLASSIFICAÇÃO É uma operação lógica em que a criança é capaz de organizar objetos em grupos de acordo com um ou mais atributos comuns a eles.

45 Aula 2 Jean Piaget e o desenvolvimento cognitivo 45 Aditiva visual 5/6 anos - um atributo 8/9 anos - dois ou mais atributos Aditiva antecipatória Ao se pedir à criança que coloque as figuras em envelopes, atendendo à mesma característica, usando o mínimo possível de envelopes, as respostas evidenciarão o nível de maturidade. Assim sendo, estruturas lógicas mais evoluídas vão caracterizar maior visão de síntese. Composição de classes A classe-inclusão é um tipo de operação de classificação na qual a criança compreende as relações entre um conjunto de objetos e seus subconjuntos, e entre vários subconjuntos. 9/10 anos - respostas corretas sobre todos e alguns. Dica de leitura DOLLE, Jean-Marie. Para compreender Jean Piaget: uma iniciação à psicologia genética piagetiana. 4ª ed., Rio de Janeiro: Zahar, Obs.: A classe-inclusão é indispensável para a compreensão do conceito de número. Classificação multiplicativa - por volta de 8 anos A criança deve fazer classificações usando dois atributos ao mesmo tempo.

46 Aula 2 Jean Piaget e o desenvolvimento cognitivo 46 Multiplicação lógica de classes - final do período operatório concreto A criança deverá ser capaz de trabalhar com duas, três ou mais variáveis, combinando-as entre si. SERIAÇÃO Nas operações lógicas de seriação, o indivíduo faz correspondências seriais. Consiste em corresponder a um conjunto de objetos de tamanhos diferentes, outros conjuntos de objetos igualmente diferentes em tamanho, seriando-os e fazendo correspondência termo a termo. Seriação simples; Seriação complexa; Transitividade - É o coroamento da operação lógica de seriação. Exemplo - Utilizando 3 conjuntos de botões (20 azuis - 25 vermelhos - 30 verdes), apresentar o azul e o vermelho, dizendo que há menos azuis do que vermelhos. Afastar o azul. Apresentar o verde junto ao vermelho. Dizer que há menos vermelhos do que verdes e questionar: Qual a cor do menor conjunto? Qual a cor do maior conjunto? Correspondências seriais - 7 anos - seriação simples COMPENSAÇÃO É um tipo de raciocínio que tenta restabelecer o equilíbrio de um sistema, modificando uma variável do próprio sistema ou de um sistema diferente.

47 Aula 2 Jean Piaget e o desenvolvimento cognitivo 47 A criança precisa entender proporção. A partir da proporção qualitativa, chegará às proporções métricas simples. 7/9 anos - proporções simples 9/11 anos - proporções complexas Vamos analisar alguns casos narrados por Furth (1990) e teremos a possibilidade de entender melhor a importância da teoria apresentada. Uma menina de nove anos de uma escola de elite passa duas horas alinhando algumas frases sobre barômetro. Sua mente está ocupada em copiar e memorizar palavras, em fixar a descrição do aspecto desse instrumento. Nessa atividade ela pensa pouquíssimo, ou quase nada, no único aspecto desse instrumento que poderia encerrar um desafio à sua inteligência a compreensão da utilização e funcionamento do aparelho. Desta forma, seu intelecto não é adequadamente exercitado. Se esta criança tiver a oportunidade de ser estimulada a pensar fora da escola, provavelmente, terá a oportunidade de compensar tanto tempo perdido em tarefas escolares inúteis. Uma criança de cinco ou seis anos menos afortunada, que não contou no passado com um meio favorável, nem conta agora com um meio estimulante, como é o da escola descrita no caso anterior, estará jogando fora a oportunidade de estabelecer contato com a energia natural que possui e perderia o momento de trabalhar e desenvolver sua inteligência em um processo de aprendizagem construtiva. Dica da professora Atenção às considerações que estão sendo desenvolvidas nesta parte do texto. Elas são muito importantes! Marque as frases que você considera fundamentais na compreensão do que está sendo formulado.

48 Aula 2 Jean Piaget e o desenvolvimento cognitivo 48 A aceitação de limitações mínimas predeterminadas para aquilo que uma criança é capaz de realizar, por parte dos professores, pais e às vezes da própria criança, tende a estimular uma atitude passiva e a fixar critérios de expectativas prématuros e improcedentes. Tal tendência é tão injusta para a criança com altas habilidades quanto para aquelas portadoras de deficiência mental. Como vimos nos exemplos apresentados, os estímulos oferecidos ao processo de pensar, como atividades desafiadoras da inteligência, é que favorecerão o desenvolvimento do intelecto. É neste caminho que a escola precisa investir se quiser trabalhar o desenvolvimento da inteligência de seus alunos como define Piaget na seguinte frase citada por Furth, 1990, A lógica do desenvolvimento é o desenvolvimento da lógica. Dica de leitura Sobre currículo: MOREIRA, Antonio Flavio B. Currículo: questões atuais. 1ª ed., Campinas: Papirus, SALES, Christina. O Currículo Construtivista na Educação Infantil: práticas e atividades. Tradução Vinícius Figueira. Porto Alegre: Artmed, ANDRADE, Rosamaria Calaes de. O Currículo ressignificado. Porto Alegre: Artmed, A escola precisa saber que tanto existe uma inteligência voltada para o campo musical, quanto para o campo das artes plásticas, das relações sociais e dos cálculos matemáticos. Que para desenvolvê-la, a criança e o jovem precisam contar com uma escola que não os obriguem a parar de pensar. Reconhecer que a inteligência trata de conceitos gerais, tais como: o conceito de objeto (identificando sua natureza), o conceito de classe, de relação e de raciocínio lógico e que um mesmo indivíduo poderá ter todos estes conceitos bem desenvolvidos ou apenas alguns, dependendo do estímulo ambiental que receba na escola e fora dela, é um grande passo para que as instituições educacionais atuem com mais eficiência no desenvolvimento da inteligência de seus alunos.

49 Aula 2 Jean Piaget e o desenvolvimento cognitivo 49 A escola para o pensamento não deveria estar limitada a um currículo fixo. Na análise de Furth (1966), Não haveria necessidade de completar um programa fixo, havendo tempo amplo para se atender ao desenvolvimento essencial. Se ao final de quatro anos na escola elementar, uma criança não houvesse aprendido outra coisa senão usar seu intelecto nas atividades ordinárias de sua vida e da leitura, não seria este um resultado conveniente e de bons prognósticos para aprendizagens futuras? Ou ela deveria saber a data do descobrimento do Brasil, o nome dos presidentes, a conjugação dos verbos, para ser considerada bem-sucedida em seu processo de desenvolvimento intelectivo? EXERCÍCIO 1 Quem foi Piaget e qual sua contribuição para a psicologia do desenvolvimento principalmente no que se refere ao desenvolvimento cognitivo? Dica de leitura Sobre currículo: MOREIRA, Antonio Flavio B. Currículo: questões atuais. Campinas: Papirus, SALES, Christina. O Currículo Construtivista na Educação Infantil: práticas e atividades. Porto Alegre: Artmed, ANDRADE, Rosamaria Calaes de. O Currículo ressignificado. Porto Alegre: Artmed, EXERCÍCIO 2 Baseado no curso que está fazendo formule uma atividade que possa trabalhar com seus alunos ou clientes utilizando os conhecimentos da teoria piagetiana.

50 Aula 2 Jean Piaget e o desenvolvimento cognitivo 50 EXERCÍCIO 3 Segundo Piaget, os fatores que explicam o desenvolvimento cognitivo são: ( A ) Maturação, transmissão social e experiência física; ( B ) Experiência e conhecimento lógico-matemático; ( C ) Transmissão social, equilibração e maturação; ( D ) Equilibração, maturação, experiência e transmissão social; ( E ) Apenas o fator experiência. EXERCÍCIO 4 A teoria piagetiana afirma que o desenvolvimento do ser humano se processa através dos períodos abaixo relacionados numa ordem única: I. Período pré-operacional; II. Período operatório formal; III. Período operatório concreto; IV. Período sensório-motor. ( A ) IV, I, III, II ( B ) I, III, II, IV; ( C ) II, III, I, IV; ( D ) III, I, II, IV; ( E ) I, II, III, IV. RESUMO Vimos até agora: Apresentação e discussão dos conceitos estruturais da epistemologia genética de Jean Piaget;

51 Aula 2 Jean Piaget e o desenvolvimento cognitivo 51 A resposta do ambiente contribui para um processo constante de reorganização mental, auto-regulando-o; O conhecimento não procede nem da experiência única dos objetos nem de uma programação inata pré-formada no sujeito, mas de construções sucessivas com elaborações constantes de estruturas novas; O sujeito se constrói como sujeito enquanto constrói o objeto. Os processos de acomodação levam o sujeito a estabelecer relações de objetividade com o mundo. Tais processos estão presentes durante toda a vida do indivíduo; A criança, ao nascer, inicia seu processo de equilibração sucessiva e progressiva por meio do desenvolvimento das estruturas da inteligência; Por fim, vimos a apresentação dos estágios do desenvolvimento da inteligência que segundo Piaget se organizam através de um processo interno (maturação neurológica) em contato com os estímulos ambientais e constituem as estruturas mentais.

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53 Objetivos Apresentação AULA O modelo Histórico- Cultural de Vygotsky Eunice do Vale Madeira Maria Cristina Fontes Urrutigaray 3 Nesta aula, o destaque é dado ao pensador que somente na década de 80 passou a ser conhecido nos meios educativos. Entretanto, a demora do conhecimento de sua teoria não diminui sua importância e valor. Lev Semenovich Vygotsky é conhecido como um dos principais representantes de uma escola da psicologia soviética denominada psicologia sócio-histórica. Para ele, o fundamento do funcionamento psicológico humano é cultural e, conseqüentemente, histórico. Vygotsky foi contemporâneo de Piaget, mas sua construção teórica difere bastante deste devido as influências recebidas pelo momento histórico, social e cultural que o moldou. Estamos falando de um pensador nascido na Rússia Czarista que viveu o conturbado período da Revolução Socialista e as discussões sobre as teses do materialismo dialético. Vygotsky se interessava pela formação social dos signos, neste sentido sua preocupação estava em torno da relação entre pensamento e linguagem. A linguagem que intermedia as relações sociais e forma o discurso interior em cada pessoa. Sendo assim, o funcionamento psicológico do homem é moldado pela cultura. Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: Identificar semelhanças e diferenças entre as teorias de Piaget e Vygotsky, que fazem parte dos conceitos construtivistas; Reconhecer os principais postulados da teoria sóciohistórica, bem como sua influência no processo de desenvolvimento e aprendizagem; Destacar a importância da mediação e sua condição de realização nos espaços de aprendizagem; Dialogar sobre o processo de formação de conceitos na criança que são propostos por Vygotsky.

54 Aula 3 O modelo histórico-cultural de Vygotsky 54 Introdução 54 O homem possui uma base biológica 61 Mediação 62 Processos de internalização 66 Intervenção psicológica 75 Introdução Nesta aula vamos compreender um pouco do pensamento de LEV SEMENOVICH VYGOTSKY (Rússia / ). Todo inventor, até mesmo um gênio, sempre é conseqüência de seu tempo e ambiente. Sua criatividade deriva das necessidades que foram criadas antes dele e baseia-se nas possibilidades que, uma vez mais, existem fora dele. É por isso que observamos uma continuidade rigorosa no desenvolvimento histórico da tecnologia e da ciência. Nenhuma invenção ou descoberta científica aparece antes de serem criadas as condições materiais e psicológicas necessárias para o seu surgimento. A criatividade é um processo historicamente contínuo em que cada forma seguinte é determinada pelas precedentes. (Lev. Vygotsky, apud. Veer e Valsiner, 1999) Quer saber mais? Apesar da vida curta, o pensador bielo-russo teve uma produção intelectual intensa. Você leu há pouco que ele formou-se em Direito. Mas também fez cursos de Medicina, História e Filosofia. Lev. Semyonivich Vygotsky nasceu em 5 de Novembro de 1896, numa cidade provinciana da Rússia. Descendente de judeus, sofreu sanções pertinentes de uma Rússia czarista anti-semita. Portanto era fortemente identificado com as questões do povo judeu, pois estes não possuíam permissão do governo czarista para viver fora de seus guetos predeterminados nem podiam servir nas fileiras do exército por serem considerados pessoas não confiáveis. Em meio ao total isolamento imposto pelo governo, inclusive o sofrimento de conviver com uma cota para admissão de judeu em instituições de ensino superior, assim cresceu Vygotsky. Sua formação iniciou-se em Direito, pois essa carreira possibilitaria sua permissão de morar fora do

55 Aula 3 O modelo histórico-cultural de Vygotsky 55 território demarcado. Seguiu-se, a partir de sua graduação, uma enorme gama de interesses e pesquisas, incluindo o despertar para os valores semânticos lingüísticos, a psicologia e a medicina. Trabalhou muito com a defectologia e realizou brilhantes trabalhos na área da psicologia da aprendizagem. Morreu em 1934, deixando uma produção científica e significativa, tendo como principal colaborador Luria, seu discípulo, amigo e redator de suas últimas idéias. Na verdade Vygotsky teve, entre seus colaboradores, dois que merecem destaque pela continuidade que deram à sua obra. São eles Alexander Romanovich LURIA e Alexei Nicolaievich LEONTIEV. Para navegar Para saber mais de Luria e Leontiev poderá pesquisar via Web. O que acha? A partir destas colaborações iniciais (humilhações sofridas), é possível identificar as inúmeras aproximações entre a sua proposta metodológica e os pressupostos do comunismo construído por Engels e Marx, (uma sociedade comum e igualitária para todos). Inovador, e até porque não dizer revolucionário para sua época, Vygotsky fez um percurso teórico na busca de uma nova Psicologia, que fosse uma síntese entre duas fortes tendências nesta área no início do século. Para entendê-lo melhor, é importante conhecer tais tendências na área de Psicologia na época de seus estudos. Vygotsky preocupava-se com uma certa divisão conceitual nos estudos da Psicologia e procurou pensar cientificamente de modo a unificar as idéias de sua época. Abaixo segue a maneira como a Psicologia se encontrava.

56 Aula 3 O modelo histórico-cultural de Vygotsky 56 Importante Watson, primeiro psicólogo behaviorista, desconsiderava a consciência e defendia a idéia da psicologia como um ramo objetivo da Ciência Natural. PSICOLOGIA COMO CIÊNCIA NATURAL Nesta época a psicologia buscava explicar processos sensoriais e reflexos considerando o homem basicamente como corpo, não abordando funções psicológicas complexas. A psicologia behaviorista tratava o corpo como um organismo, igual a qualquer outro ser vivo, que recebe estímulos e reage a estes com respostas imediatas sem levar em consideração a consciência. PSICOLOGIA COMO CIÊNCIA MENTAL A psicologia por outro lado descrevia as propriedades dos processos psicológicos superiores, considerando o homem como mente, consciência. Era uma abordagem descritiva, dirigida a fenômenos globais, não produzindo descrições dos processos complexos em termos aceitáveis para a ciência. As duas abordagens acima refletiam, para Vygotsky, uma análise de um ser fragmentado que na psicologia ora contemplava aspectos mais cognitivos e pragmáticos, ora acentuava a visão de homem como um ser psíquico cujos aspectos afetivos eram mais relevantes. A busca de Vygotsky era por uma abordagem que tratasse a inteligência e a afetividade de igual modo, ou melhor, valorizando ambas as características da natureza humana e integrando-as as características sociais que o homem está inserido. Pode-se afirmar que, Vygotsky e seus colaboradores buscavam uma outra abordagem nova que possibilitasse uma síntese entre as duas psicologias, antes descrita, e não o somatório. Uma síntese que abordasse o homem enquanto corpo e

57 Aula 3 O modelo histórico-cultural de Vygotsky 57 mente, ser biológico e ser social, membro da espécie humana e participante de um processo histórico. Pretendeu construir uma nova psicologia sobre a interpretação marxista, visando entender o funcionamento intelectual no homem. Para ele, a função da psicologia deveria incluir: A compreensão e a identificação dos mecanismos cerebrais envolvidos em cada uma das funções psicológicas (sua base estruturalista); A conceitualização e a explicação do desenvolvimento destas funções (seu procedimento histórico de análise); A especificação ou a objetivação das relações entre formas simples e complexas de um mesmo comportamento (seu enfoque funcionalista). Vygotsky viu, nos métodos e princípios do materialismo dialético, a solução dos paradoxos científicos com que se defrontavam seus contemporâneos e procurou desenvolver um método que permitisse a compreensão da natureza do comportamento humano, enquanto parte do desenvolvimento histórico geral da nossa espécie. Acabou sistematizando uma abordagem fundamentalmente nova sobre o processo de desenvolvimento do pensamento e das funções cognitivas complexas de um sujeito contextualizado e, portanto, histórico. A essência deste novo método é o princípio de que todos os fenômenos têm uma história caracterizada por mudanças qualitativas e quantitativas e que devem ser estudados como processos decorrentes de movimentos e mudanças.

58 Aula 3 O modelo histórico-cultural de Vygotsky 58 Quer saber mais? Você vai observar que em Vygotsky, os aspectos mais difundidos e explorados de sua abordagem são aqueles referentes ao funcionamento cognitivo; (...) É interessante notar, porem, que Vygotsky nunca usou o termo COGNIÇÃO. Martha Kohl de Oliveira in O problema da afetividade em Vygotsky. Vygotsky entendia que a compreensão do ser humano dependia do estudo do processo de internalização das formas culturalmente dadas de funcionamento psicológico. Foi através dessa premissa que tentou explicar a transformação dos processos psicológicos elementares, relacionados aos fatores biológicos do desenvolvimento, em processos superiores, resultantes da inserção do homem num determinado contexto sócio-histórico. Através de seu estudo sobre as funções psicológicas mais sofisticadas, exclusivamente humanas, Vygotsky esclarece em que medida o ser humano constitui-se enquanto tal na sua relação com o outro social. Baseando-se no pressuposto de que não há essência humana a priori imutável, investiga a construção do sujeito na interação com o mundo, a sua relação com os demais indivíduos, a gênese das estruturas de seu pensamento, a construção do conhecimento. Conseguindo, finalmente, explicar como a cultura torna-se parte da natureza humana num processo histórico que, ao longo do desenvolvimento da espécie e do indivíduo, forma o funcionamento psicológico do homem. Vygotsky estendeu a noção de mediação homem-mundo pelo trabalho e o uso de instrumentos ao uso de signos. Afirma que a relação do indivíduo com o ambiente é mediada, pois este, enquanto sujeito de conhecimento, não tem acesso imediato aos objetos e sim a sistemas simbólicos que representam a realidade. Essa é a razão de atribuir um papel de destaque à linguagem (já que é o principal sistema simbólico de todos os grupos humanos), que se interpõe entre o sujeito e o objeto de conhecimento. Ao mesmo tempo em que a linguagem é um fator importante para o desenvolvimento mental da

59 Aula 3 O modelo histórico-cultural de Vygotsky 59 criança, exercendo uma função organizadora e planejadora de seu pensamento, ela tem também uma função social e comunicativa. Através da linguagem, a criança entra em contato com o conhecimento humano e adquire conceitos sobre o mundo que a rodeia, apropriando-se da experiência acumulada pelo gênero humano no decurso da história social. É, também, a partir da interação social, da qual a linguagem é expressão fundamental, que a criança constrói sua própria individualidade. E NA ESCOLA? É importante também que o professor se coloque como um interlocutor real, interessado pelas trocas comunicativas com as crianças. Para tanto, ele precisa permanecer atento às colocações de seus alunos, ouvi-los, buscando atribuir sentidos e significados dentro dos contextos e experiência da realidade das crianças.. Muitas vezes, as crianças conversam segundo uma lógica própria, regulada por uma forma de pensar específica, denominada pensamento sincrético. Esta é uma construção postulada por Vygotsky, para explicar as plásticas relações e conceitos elaborados pelas crianças. (Daniela Panutti, psicóloga, Programa Salto para o Futuro, TV Escola, junho de 2004) A construção do sujeito e de sua consciência é em si mesma uma construção social. Assim, a consciência representa para Vygotsky um contato social consigo mesmo. Deste modo, quando a criança fala para si mesma em sua fala interior, reproduzindo, em princípio, os padrões da relação significativa com os outros, está construindo sua consciência e constituindose enquanto sujeito. Esse processo é possível no momento em que as relações interpessoais são transformadas em intrapessoais, permitindo assim a construção mais delicada da sociedade, que é a consciência humana. Em todo o processo, o desenvolvimento da função auto-reguladora dos signos, especialmente da linguagem, desempenha um papel

60 Aula 3 O modelo histórico-cultural de Vygotsky 60 Dica da professora Embora muitos autores tenham contribuído para a compreensão da linguagem entre mãe e bebê, um deles, Vygotsky considera a linguagem como um exercício social, pressupondo não só a relação entre os falantes, mas permitindo também relacionamento interpsíquico, que participam da construção da imaginação e memória, entre outras, que são funções mentais superiores. capital, porque dá lugar à gestação de formas que, ao se internalizarem, transformam-se em consciência. É por isso que Vygotsky afirma que a relação pensamento-linguagem é a chave para a compreensão da natureza da consciência humana. As palavras têm um papel central no desenvolvimento do pensamento, na evolução histórica da consciência como um todo. A consciência é refletida na palavra como o sol se reflete na gota de água. Uma palavra é um microorganismo da consciência humana. Ao falar de linguagem, ele estava interessado no desenvolvimento de um modelo de produção do pensamento no qual a linguagem tivesse um lugar determinante, desempenhando funções específicas, sendo o mais importante esquema de mediação do comportamento humano. Ele afirma que a linguagem é um compartir de pensamentos. A utilização da abordagem marxista orientou os estudos de Vygotsky, representando uma mudança significativa na interpretação das pesquisas acerca dos fenômenos psíquicos e da caracterização do ser humano. O indivíduo, agora contextualizado (histórica e socialmente), pode ser desnudado ou estudado dialeticamente com relação às leis da sua evolução biológica e às leis de seu desenvolvimento sóciohistórico. Portanto, para entender o homem, faz-se necessário entender sua demanda primordial, isto é, seu contexto histórico-social. Pois de nada adianta falar em termos de desenvolvimento se não tivermos um parâmetro inicial que identifique e sinalize este processo. O homem é um produto social e um agente ativo na criação cultural.

61 Aula 3 O modelo histórico-cultural de Vygotsky 61 A síntese que resume o pensamento de Vygotsky tem seus pilares em algumas idéias centrais que serão trabalhadas nos próximos tópicos. O homem possui uma base biológica As funções do cérebro têm um suporte biológico, pois são produtos de uma atividade cerebral. O cérebro é um sistema aberto, portanto tem possibilidade de troca com o meio externo, de grande plasticidade, cuja estrutura e modos de funcionamento são moldados ao longo da história da espécie e do desenvolvimento individual. Dica de leitura LURIA, A. R. Fundamentos de neuropsicologia. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, EDUSP, Como se pode perceber, Vygotsky recusou a noção de funções mentais fixas e imutáveis, pois acreditava na sociabilidade humana e na influência do social no homem. Em sua forma de ver, o funcionamento psicológico se fundamenta nas relações sociais entre o indivíduo e o mundo exterior, desenvolvendo-se num processo histórico. No percurso do homem enquanto ser biológico e sociohistórico (humanização), a cultura é essencial, uma vez que é nesta inserção que o indivíduo é levado a interagir e, para funcionar satisfatoriamente vai, não só, absorvendo a cultura, como também a modificando ao mesmo tempo em que, para tal, desenvolve estruturas internas cognitivas. Este é um processo onde predominam as funções psicológicas superiores, firmemente embasadas nas formas culturalmente construídas de ordenar o real. Estas funções são típicas do ser humano e envolvem o controle consciente do comportamento, a ação intencional, a liberdade do indivíduo em relação ao momento presente e ao espaço. Dica da professora Os fenômenos biológicos, psicológicos e sociais marcam as primeiras etapas da existência do homem, da concepção à adolescência, determinando diretamente uma parte importante do seu comportamento.

62 Aula 3 O modelo histórico-cultural de Vygotsky 62 É importante ressaltar que a relação Homemmundo na ótica Vygotskiana é uma relação mediada por sistemas simbólicos que se organizam através da linguagem. Todo seu estudo, por isso mesmo, irá se concentrar na relação entre pensamento e linguagem. Dica de leitura FREITAS, M. T. A. Vygotsky Um século depois. Juiz de Fora: EDUFJF, O valor dado à linguagem na obra de Vygotsky foi sua marca principal e é nesta que se estabelece à relação entre mundo interno e externo em cada sujeito. A função de mediação da linguagem possibilita a criança e, depois, ao homem garantir seu estado de consciência e seu suporte de comunicação com o outro. O mundo da linguagem e dos símbolos foi o universo de pesquisa de Vygotsky, fonte explicativa da natureza humana que compreendia como sendo dotada de consciência de si e do mundo que vive. Assim, então, dá sentido a personalidade como elemento que singulariza o sujeito das funções elementares para as funções mentais superiores. As funções psicológicas superiores se utilizam das funções mentais essenciais como memória, pensamento, percepção, atenção, e dota de consciência as ações do sujeito, como mecanismos intencionais e voluntários, que adquirem sentido na relação do homem com o mundo. Vale destacar que, os processos psicológicos elementares e superiores permitem a integração entre corpo e alma, e entre sujeito e mundo, tão importante para Vygotsky. Mediação A perspectiva histórico-cultural tem como ênfase a postulação do fator mediação enquanto caracterização da relação do homem com o mundo e com os outros homens.

63 Aula 3 O modelo histórico-cultural de Vygotsky 63 Mediação é o processo de intervenção de um elemento intermediário numa relação que deixa de ser direta para ser mediada por esse elemento. Este é um conceito central na fundamentação sociohistórica do funcionamento psicológico. Podemos citar como exemplo a relação entre um indivíduo e uma vela acesa: Dica da professora Atenção aos outros conceitos importantes na psicologia Vygotskyniana. da mão. Relação direta sensação de calor e retirada Relação mediada retirada da mão pela lembrança da experiência anterior. Ao longo da vida do indivíduo, as relações mediadas passam a predominar sobre as relações diretas. Segundo Vygotsky há dois tipos de elementos mediadores: instrumentos e signos. INSTRUMENTO É o instrumento que vai mediar a ação de um sujeito, é o objeto que possibilitará esta ação. É, pois, um objeto social, mediador da relação entre o sujeito e o mundo. Obs: Os animais usam instrumentos, mas não os produzem deliberadamente, não os guardam para uso futuro, não preservam sua função para transmiti-la a seus pares. SIGNOS O signo (o objeto, forma, fenômeno, gesto, figura ou som) como representante de algo diferente de

64 Aula 3 O modelo histórico-cultural de Vygotsky 64 si mesmo. E serve para expressar eventos, idéias, situações, servindo como auxílio da memória e da atenção humana. Ele consiste, portanto, no auxílio das ações concretas, instituído pelos signos lingüísticos, ele tem a função de controlar voluntariamente a atividade psicológica ampliando a capacidade mnêmica e a atenção voluntária, dirigindo e orientando as ações humanas. Para pensar O recurso da linguagem é privilégio do gênero humano, constituindo-se ao mesmo tempo sua característica universal. O homem dispõe para isto de um equipamento mental que age em conjunto com o aparelho fonador. A invenção e o uso de signos como meios auxiliares para solucionar um dado problema psicológico (lembrar, comparar coisas, relatar, escolher etc) é análoga à invenção e ao uso de instrumentos, só que agora no campo psicológico. O signo age como um instrumento da atividade psicológica de maneira análoga ao papel de instrumento no trabalho. (Vygotsky, L., 1984) A linguagem é um poderoso instrumento semiótico que está tanto orientado para o outro quanto para o próprio sujeito e que, neste caso, possibilita sua subjetividade e desenvolvimento. Importante No inicio de nossa apostila contamos que Vygotsky nunca havia usado o termo cognição. É claro que isto não quer dizer que os psicólogos soviéticos tenham deixado de estudar processos como percepção, pensamento ou memória (Wertsch, p. 63). O autor citado continua informando que Vygotsky usou o termo função mental para referirse a esses processos. A linguagem (a ferramenta do homem) resulta de um sistema simbólico essencial e basal a todo grupo social humano. Ela é elaborada no curso da história social através da sedimentação de signos compostos em estruturas complexas, sendo fator primordial e imprescindível na psicologização (formação do psiquismo). Através da aquisição da linguagem, o sujeito adquire a possibilidade de transformação pessoal (desenvolvimento), a partir de três possibilidades: Evocar a presença de objetos ausentes; Abstrair e generalizar as características de fatos e/ou objetos, eventos ou situações circunstanciais;

65 Aula 3 O modelo histórico-cultural de Vygotsky 65 Comunicar e garantir a preservação, a transmissão e a assimilação da cultura. Assim sendo, para Vygotsky, a convivência em sociedade é essencial para a transformação do homem de elemento biológico em ser humano. É através da aprendizagem determinada pelas relações com os outros e mediada pela linguagem que construímos os conhecimentos, os quais permitem nosso desenvolvimento mental. Segundo o psicólogo, a criança nasce dotada apenas de funções psicológicas elementares, como os reflexos e a atenção involuntária, presentes em todos os animais mais desenvolvidos. Com o aprendizado cultural, no entanto, parte dessas funções básicas transformam-se em funções psicológicas superiores como a consciência, o planejamento e a deliberação, características exclusivas do homem. Contudo, as informações não são incorporadas diretamente do meio, elas são mediadas pelos signos, os quais carregam os significados sociais e históricos. Isso não significa que o indivíduo seja como um espelho, apenas refletindo o que aprende, pois as informações são reelaboradas numa espécie de linguagem interna, própria de cada individualidade. Por isto, a linguagem é duplamente importante para Vygotsky. Além de ser o principal instrumento de intermediação do conhecimento entre os seres humanos, ela tem relação direta com o próprio desenvolvimento psicológico. Nenhum conhecimento é construído pela pessoa sozinha, mas sim em parceria com as outras, que são os mediadores. Ricardo Baquero em seu livro Vygotsky e a aprendizagem escolar, assim descreve a função dos instrumentos e signos da cultura traçando um paralelo

66 Aula 3 O modelo histórico-cultural de Vygotsky 66 com a função da maturação e crescimento para o desenvolvimento da criança. Na distinção que se pode realizar, então, no domínio ontogenético, quer dizer, no desenvolvimento da criança, a linha natural de desenvolvimento se assemelha aos processos de maturação e crescimento, enquanto que a linha cultural trata com os processos de apropriação e domínio dos recursos e instrumentos que a cultura dispõe. (Baquero, 1998, p. 29) Os processos de mediação sofrem transformações, ao longo do desenvolvimento do indivíduo, e fornecem um suporte concreto para a ação do homem no mundo. Este processo se organiza através de um outro chamado processo de internalização, que será apresentado no tópico seguinte. Processo de internalização São representações mentais que tomam o lugar dos objetos, das situações e dos eventos no mundo real. A questão da internalização, enquanto processo de constituição da subjetividade, e a construção do significado envolvem um aspecto particularmente relevante para a compreensão da abordagem unificadora do funcionamento psicológico humano proposto por Vygotsky: a internalização da linguagem. No processo de aquisição da linguagem, a criança primeiro utiliza a fala socializada, com a função de comunicação, contato social. Em fases mais avançadas de sua aquisição, porém, a linguagem, utilizada inicialmente para intercâmbio com outras pessoas, é internalizada e passa a servir ao próprio indivíduo. Isto é, ao longo de seu desenvolvimento, a pessoa passa a ser capaz de utilizar a linguagem como ins

67 Aula 3 O modelo histórico-cultural de Vygotsky 67 trumento de pensamento, com a função de adaptação pessoal. (Oliveira, M., 1992) Ao longo do processo de desenvolvimento, o indivíduo deixa de necessitar de marcas externas e passa a utilizar signos internos (representações mentais que substituem os objetos do mundo real). Tal capacidade permite ao homem libertar-se do espaço e tempo presentes, fazer relações mentais na ausência das coisas, imaginar, fazer planos, agir com intencionalidade. Ao longo da história da espécie humana, os signos passam a ser compartilhados com os membros de um grupo, permitindo interação e comunicação. Podemos, pois, perceber que os sistemas de representação da realidade (a linguagem é o sistema simbólico básico de todos os grupos humanos) são produtos sociais. Dica de leitura REY, Fernando Luiz González. Sujeito e subjetividade: uma aproximação histórico-cultural. São Paulo: Pioneira, É na cultura que o indivíduo adquire ferramentas que lhe permitirão estabelecer uma mediação com o mundo e também se constituir. Agora que você já tomou conhecimento de conceitos da Teoria Sócio-Histórica, podemos pontuar algumas conclusões que, certamente, facilitarão seu entendimento. Importante O grupo cultural fornece ao indivíduo um ambiente estruturado, uma vez que todos os elementos são carregados de significado comum ao grupo. A cultura não é algo pronto. Ela é altamente dinâmica e, por isso, mutável e toda a produção humana também. A vida social é dinâmica, cada sujeito é ativo, em interação entre o mundo cultural e o mundo subjetivo de cada um. A chamada herança cultural foi sendo transmitida de geração a geração, por mecanismos próprios, que não o corpo. A cultura significa a herança total da humanidade, e uma cultura é característica de um certo grupo social.

68 Aula 3 O modelo histórico-cultural de Vygotsky 68 A internalização da matéria-prima fornecida pela cultura não é um processo de absorção passiva, mas de transformação e de síntese. A internalização se trata de um processo mediante o qual se concretiza esta reorganização de uma função psicológica desde o plano interpsicológico ao plano intrapsicológico. (Baquero, 1998, p.47) O processo de desenvolvimento do ser humano se dá de fora para dentro. O indivíduo primeiro realiza ações externas que serão interpretadas pelas pessoas de acordo com significados culturalmente estabelecidos. Tais significados percebidos passam a dar sentido à ação primária. Deste modo, torna-se fácil entender que o mundo e as respostas, que dele se recebem, levam o indivíduo a construir seu pensar, sua maneira de ser através da lente da compreensão do funcionamento do todo com o qual interage. Para navegar Consulte o site trata-se de um campo de estudo da Universidade Federal de Juiz de Fora chamado linguagem, interação e conhecimento. A interação humana é possibilitada basicamente por dois fatores característicos do ser humano: Pensamento e Linguagem. O estudo de Vygotsky gira em torno destes fatores, de sua construção e interpelação. A linguagem tem duas funções básicas. A primeira delas é o intercâmbio social função da comunicação. O Homem, por sua característica de ser social, sempre interagiu, primeiro de forma primitiva, evoluindo para maneiras mais elaboradas, até chegar à linguagem verbal, ou seja, à construção de um código composto de sons, conceitos próprios e partilhado por um mesmo grupo. A função da comunicação gerou uma segunda: pensamento generalizante. Através dessa função, a

69 Aula 3 O modelo histórico-cultural de Vygotsky 69 linguagem ordena o real criando categorias conceituais, fornecendo os conceitos e as formas de organização do real, tornando a linguagem um instrumento do pensamento. Segundo Vygotsky, ao longo do desenvolvimento da espécie humana, a trajetória do pensamento se une à da linguagem, possibilitando ao biológico se transformar em sociohistórico. No desenvolvimento do indivíduo, ocorre um processo semelhante, o pensamento torna-se verbal e a linguagem racional, ou seja, a fase pré-lingüística do pensamento (utilização de instrumentos e inteligência prática) e a fase pré-intelectual da linguagem (alívio emocional e função social) dão origem ao pensamento verbal e a linguagem torna-se racional. A interação com membros mais maduros da cultura que já dispõem de uma linguagem estruturada é que vai provocar o salto qualitativo para o pensamento verbal. É no significado da palavra que pensamento e fala se unem em pensamento verbal. O significado de uma palavra representa um amálgama tão estreito do pensamento e da linguagem, que fica difícil dizer se se trata de um fenômeno da fala ou de um fenômeno do pensamento. Uma palavra sem significado é um som vazio; o significado, portanto, é um critério da palavra, seu componente indispensável. Pareceria, então, que o significado poderia ser visto como um fenômeno da fala. Mas, do ponto de vista da Psicologia, o significado de cada palavra é uma generalização ou um conceito. E como as generalizações e os conceitos são, inegavelmente, atos do pensamento, podemos considerar o significado como um fenômeno do pensamento. (Vygotsky, L., 1989)

70 Aula 3 O modelo histórico-cultural de Vygotsky 70 Em seus estudos, Vygotsky distingue dois componentes do significado da palavra: Dica de leitura OLIVEIRA, Marcos Barbosa de.; OLIVEIRA, Marta Khol de. Investigações cognitivas: conceitos, linguagem e cultura. Porto Alegre: Artmed, significado propriamente dito Refere-se ao sistema de relações objetivas que se formou no processo de desenvolvimento da palavra, tornando-se um núcleo relativamente estável de compreensão da palavra, compartilhado com todas as pessoas que o utilizam; sentido Refere-se ao significado da palavra para cada indivíduo, composto por relações que dizem respeito ao contexto de uso da palavra e às vivências afetivas do indivíduo (ligação do contexto de uso da língua aos motivos afetivos e pessoais de seus usuários). Para uma melhor compreensão dos conceitos, vamos utilizar a palavra restaurante. Seu significado é compreensível para todos lugar onde se come, aparelhado com mobiliário e utensílios necessários aos objetivos de sua existência. O sentido ficará por conta do significado individual pode ser o lugar de lazer ou de trabalho, de descontração ou de cansaço. A linguagem, como instrumento do pensamento, supõe um processo de internalização (discurso interior), é uma atividade individualizada e intrapsíquica que se estrutura a partir da atividade social, interpsíquica. Como se pode perceber, o atributo específico do ser humano - a faculdade de pensar - demonstra que o individual e o social se interpenetram em harmoniosa conjugação, configurando a essência humana. Se o individual imprime ao mundo um olhar específico, é o mergulho no caldeirão cultural que permite ao indivíduo

71 Aula 3 O modelo histórico-cultural de Vygotsky 71 a compreensão da dinâmica do que o circunda. Por exemplo, como entender a mensagem de compositores de algumas músicas de protesto sem o conhecimento de fatos históricos da época que inspiraram tais letras? Outras áreas de conhecimento como Desenvolvimento e Aprendizagem também são temas centrais nos estudos de Vygotsky, embora ele não tenha estruturado uma concepção teórica sobre estas áreas. Dica da professora Como exemplo, trabalhe com adolescentes o significado das músicas Aquele Abraço (Gilberto Gil) e Meu Caro Amigo (Chico Buarque) A idéia do desenvolvimento humano marcada pela maturação do organismo (define parte do percurso) é secundarizada em Vygostsky em função da importância da interação e da cultura para a aprendizagem (que possibilita o despertar de processos internos de desenvolvimento). A personalidade envolve totalidade deste ser que se desenvolve e aprende, estruturado no eixo do pensamento e da linguagem. Dica de leitura Sobre o valor do fator interacional em Vygostsky vale a pena ler a obra de: REGO, Teresa. Vygostsky: Uma Perspectiva Histórico-Cultural da Educação. Petrópolis: Vozes, O contexto teórico deste autor, que foi pesquisador nas áreas de Psicologia, Pedagogia, Filosofia e professor atuante em diversas instituições de ensino, trouxe grande contribuição para o mundo escolar. Segundo ele, o conhecimento escolar é o saber acumulado nas diferentes disciplinas científicas. Neste momento, a troca com o mundo não é espontânea, passando a ser articulada a partir de propósitos cuja eleição o aluno não participou. Estaria aí uma das dificuldades da aprendizagem sistematizada. Segundo Vygotsky, a evolução intelectual é caracterizada por saltos qualitativos de um nível de conhecimento para outro. A fim de explicar esse processo, ele desenvolveu o conceito de zona de desenvolvimento proximal ou potencial (Z.D.P), definida como a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar

72 Aula 3 O modelo histórico-cultural de Vygotsky 72 através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através de solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes. Trocando em miúdos: A zona proximal define aquelas funções que ainda não estão suficientemente amadurecidas, mas que se encontram em processo de maturação. A estruturação da relação entre desenvolvimento e aprendizagem é descrita, então, através do conceito ZONA DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL: Distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes. (Vygotsky, L., 1984) Podemos, pois, concluir que é preciso considerar a capacidade da criança na realização de tarefas: Desenvolvimento REAL A criança já é capaz de ações independentes, ou seja, ela as realiza sem necessitar da ajuda de uma outra pessoa; Desenvolvimento POTENCIAL A criança já é capaz de realizar determinadas ações, porém, com a ajuda de outra pessoa. Para Vygotsky, as possibilidades de aprendizagem não se encontram somente na dependência do nível de desenvolvimento mental da criança, mas também é determinada pelos processos de que nela já amadureceram (nível de desenvolvimento real), mas, principalmente, prospectivamente pelos processos que ainda estão em

73 Aula 3 O modelo histórico-cultural de Vygotsky 73 formação (nível de desenvolvimento potencial). Assim, Vygotsky elaborou o conceito de zona de desenvolvimento proximal, que tem importantes implicações educacionais, como já visto. De acordo com esse conceito, todo bom ensino é aquele que se direciona para as funções psicológicas emergentes. Desta forma, o ensino deve incidir sobre a zona de desenvolvimento proximal, estimulando processos internos maturacionais que determinam por se efetivar, passando a constituir a base para novas aprendizagens. Ao atender a este princípio, a escola estará dirigindo a criança para aquilo que ela não é capaz de fazer, centrando-se na direção das potencialidades a serem desenvolvidas. Na medida em que ele viu a aprendizagem como um processo essencialmente social que ocorre na interação com adultos e companheiros mais experientes, onde o papel da linguagem é destacado percebe-se que é na aproximação de habilidades e conhecimentos socialmente disponíveis que as funções psicológicas humanas são construídas. Nesse sentido, as concepções de Vygotsky, em relação à Educação, podem abrir perspectivas para uma redefinição do papel da escola e do trabalho pedagógico. Dica da professora Observe, em situação institucional ou doméstica, duas ou três situações em que a ZDP ou Zona de Desenvolvimento Proximal pode ser constatada. Leia com atenção a caixa de diálogo que explica este conceito muito bem e SUCESSO! O aprendizado, portanto, constitui-se como principal elemento responsável pela criação da zona de desenvolvimento potencial. E ele se realiza através da interação da criança com outros indivíduos que atuam como agentes ou mediadores de potencialidades. A zona de desenvolvimento proximal, como já dissemos, permite a compreensão da dinâmica interna do desenvolvimento individual. Somente através da análise de seu alcance, é que podemos verificar os Importante A zona de desenvolvimento proximal é o caminho que o indivíduo vai percorrer para desenvolver funções em processo de amadurecimento. Trata-se de um domínio psicológico em constante transformação.

74 Aula 3 O modelo histórico-cultural de Vygotsky 74 ciclos já alcançados bem como aqueles em vias de formação. A ZDP é encarada como o fator determinante e delineador da competência da criança e de suas futuras conquistas. Para a psicologia, sua especificação é de suma relevância para a elaboração de estratégias pedagógicas. Mas esse caminho exige a proximidade com o outro, o processo de socialização, existe também a idéia de que é através da intersubjetividade que as conquistas se darão tanto na aprendizagem quanto no desenvolvimento. Em crianças é principalmente processado com atividades lúdicas, sendo a brincadeira uma atividade de experimentação da cultura, para Vygotsky. Dica de leitura Winnicott, D. W. O Brincar & a Realidade. Rio de Janeiro: Imago, A brincadeira encena a cultura num funcionamento imaginário e intersubjetivo, utilizando a linguagem verbal que alimenta os processos simbólicos necessários a estes funcionamentos. Isso nos faz lembrar de Winnicott. Quer saber mais? Winnicott foi um pediatra e psicanalista britânico da segunda metade do século XX. Vem recebendo, por fim, o reconhecimento merecido por suas extraordinárias contribuições oferecidas à Psicanálise e principalmente à educação. Para Winnicott a brincadeira é universal, e significa um espaço de troca entre o mundo interno e a realidade externa, que se inicia com a mãe brincando com o bebê. Diz ainda, que o brincar favorece o crescimento e conduz aos relacionamentos grupais, propiciando a comunicação. Na brincadeira, a criança introduz seus conflitos e os soluciona, de tal forma que, explora caminhos possíveis para resolução de suas aflições no confronto com o mundo real.

75 Aula 3 O modelo histórico-cultural de Vygotsky 75 Intervenção psicológica É na zona proximal que a intervenção é mais transformadora. A escola funciona como um motor para novas conquistas e o papel do professor é interferir em tal zona. O bom ensino é aquele que se adianta ao desenvolvimento. Entretanto, Vygotsky não propõe um trabalho diretivo e autoritário, nem o aluno como um ser passivo. Seu objetivo é trabalhar com a importância do meio cultural e com a possibilidade de reconstrução, pelo indivíduo, dos significados culturalmente transmitidos. Neste processo evolutivo e de construção do ser humano, Vygotsky destaca o mecanismo da Imitação, que ele não vê como simples cópia e sim como a reconstrução individual daquilo que é observado nos adultos. Não é, pois, um processo mecânico; só sendo possível a imitação da ação que esteja dentro da zona de desenvolvimento proximal do indivíduo. Dica de leitura MOLON, Susana Inês. Subjetividade e constituição do sujeito em Vygotsky. Petrópolis: Vozes, Diante desta abordagem teórica, você tem condições de perceber um sujeito contextualizado, portador de uma história, fora da qual se torna mera abstração. Não sendo possível olhá-lo como um recorte. Sua personalidade, embora diferente de todas as outras, se estruturou de uma matéria-prima cultural e histórica de uma época que, por sua vez, está inserida na própria história da humanidade. A compreensão da teoria de Vygotsky poderá ainda se tornar maior através da transcrição de pequenos trechos escritos por Leontiev (1988), no livro Linguagem, Desenvolvimento e Aprendizagem:

76 Aula 3 O modelo histórico-cultural de Vygotsky 76 Para esclarecer o problema teórico das forças motivadoras do desenvolvimento do psiquismo infantil, precisamos, primeiro, compreender o que determina o caráter psicológico da personalidade, em qualquer estágio de seu desenvolvimento. O primeiro ponto a ser estabelecido é o seguinte: durante o desenvolvimento da criança, sob a influência das circunstâncias concretas de sua vida, o lugar que ela objetivamente ocupa no sistema das relações humanas se altera. Tentaremos demonstrar isso por meio de uma descrição dos estágios reais pelos quais passa uma criança em seu desenvolvimento. A infância pré-escolar é o período da vida em que o mundo da realidade humana que cerca a criança abre-se cada vez mais para ela. Em toda a sua atividade e, sobretudo, em seus jogos, que ultrapassaram agora os estreitos limites da manipulação dos objetos que a cercam, a criança penetra num mundo mais amplo, assimilando-o de forma eficaz. Ela assimila um mundo objetivo como um mundo de objetos humanos, reproduzindo ações humanas com eles. Ela guia um 'carro', aponta uma 'pistola', embora seja realmente impossível andar em seu carro ou atirar com sua arma. Mas neste ponto de seu desenvolvimento isto é irrelevante para ela, porque suas necessidades vitais são satisfeitas pelos adultos, independentemente da produtividade concreta de seus atos. Uma criança reconhece sua dependência das pessoas que a cercam diretamente. Ela tem de levar em conta as exigências, em relação a seu comportamento, das pessoas que a cercam, porque isso realmente determina suas relações pessoais. Não apenas seus êxitos e seus malogros dependem dessas relações, como suas alegrias e tristezas também estão envolvidas com tais relações e têm a força de motivação. Durante esse período da vida de uma criança, o mundo ao seu redor se decompõe como se fosse em dois grupos. Um grupo consiste em pessoas inteiramente relacionadas com ela, sendo que as relações com elas deter-

77 Aula 3 O modelo histórico-cultural de Vygotsky 77 minam suas relações com todo o resto do mundo. Essas pessoas são sua mãe, seu pai, ou aquelas que ocupam lugares junto a ela. Um segundo círculo, mais amplo, é formado por todas as demais pessoas, sendo que as relações com essas são mediadas pelas relações que ela estabeleceu no primeiro círculo, mais estreito. E isto não é tão simples quando uma criança em idade pré-escolar é posta em um jardim-de-infância. Seu modo de vida parece mudar radicalmente, e em uma certa medida isso é verdade, mas psicologicamente sua atividade permanece como antes, dentro do seus muito Importantes limites básicos...o ponto principal, finalmente, é que agora as relações da criança perdem seu papel anterior determinante no círculo mais amplo de seus contatos......ao estudar o desenvolvimento psicológico infantil, nós devemos por isso, começar analisando o desenvolvimento da atividade da criança, como ela é construída nas condições concretas de vida......as relações de uma criança dentro de um grupo de crianças são também peculiares. Os vínculos que as crianças de três a cinco anos estabelecem entre si constituem ainda, em grande parte, o elemento pessoal em seu desenvolvimento, que conduz a um verdadeiro espírito de grupo......devemos, por isso, falar da dependência do desenvolvimento psíquico em relação à atividade principal e não à atividade em geral......a atividade principal é então a atividade cujo desenvolvimento governa as mudanças mais importantes nos processos psíquicos e nos traços psicológicos da personalidade da criança (Leontiev, A., 1990). Podemos, pois, perceber que, segundo Vygotsky, o intrapsicológico se organiza a partir de processos interpsicológicos, que passam a mediar a atividade do ser humano no mundo, em constante interação. E também que a atividade é uma forma complexa de relação homem-mundo, que envolve

78 Aula 3 O modelo histórico-cultural de Vygotsky 78 finalidades conscientes e atuação coletiva e de cooperação. Devemos também considerar que nenhuma atividade humana poderá ser analisada fora do contexto sociohistórico. Por exemplo: Como conceber uma atividade com papel e lápis numa sociedade sem escrita? Sintetizando nosso estudo, podemos destacar pontos fundamentais na obra de Vygotsky: O funcionamento cerebral como suporte biológico do funcionamento psicológico; A influência da cultura no desenvolvimento cognitivo dos indivíduos; A atividade do homem no mundo, inserida num sistema de relações sociais, como o principal foco de interesse dos estudos em psicologia. EXERCÍCIO 1 Disserte sobre os principais postulados da teoria sóciohistórica?

79 Aula 3 O modelo histórico-cultural de Vygotsky 79 EXERCÍCIO 2 Segundo Vygotsky, qual a influência da cultura no processo de desenvolvimento e aprendizagem do ser humano? EXERCÍCIO 3 Segundo vygotsky, o processo de desenvolvimento do ser humano se dá: ( A ) Do social para o individual; ( B ) De dentro para fora; ( C ) De modo constante; ( D ) Do equilíbrio para o desequilíbrio; ( E ) De maneira constante e invariável. EXERCÍCIO 4 Na visão de vygotsky, a grande função da linguagem é funcionar: ( A ) De forma comunicativa; ( B ) De forma explicativa; ( C ) Como ferramenta de trabalho; ( D ) Como instrumento cultural; ( E ) Como esquema de mediação do comportamento humano.

80 Aula 3 O modelo histórico-cultural de Vygotsky 80 Vimos até agora: RESUMO Vygotsky não ignora as definições biológicas das espécies humanas; no entanto, atribui uma enorme importância à dimensão social, e esta última fornece os instrumentos e os símbolos, assim como todos os elementos presentes no ambiente humano impregnados de significado cultural, a linguagem é o instrumento que funciona como mediador entre indivíduo e mundo a sua volta. Ela fornece os mecanismos psicológicos e as formas de agir nesse mundo; O aprendizado é considerado, assim, um aspecto necessário e fundamental no processo de desenvolvimento das funções psicológicas superiores, constituído pelo pensamento comunicado através da incorporação da língua; Portanto, o desenvolvimento pleno do ser humano depende do aprendizado que se realiza num determinado grupo cultural, a partir da interação com outros indivíduos da espécie. Isto quer dizer que, por exemplo, um indivíduo criado numa tribo indígena, que desconhece o sistema de escrita e não tem nenhum tipo de contato com um ambiente letrado, não se alfabetizará. O mesmo ocorre com a aquisição da fala. A criança só aprenderá a falar se pertencer a uma comunidade de falantes, ou seja, ser possuidora de condições orgânicas (como possuir o aparelho fonador) não é suficiente para que o indivíduo adquira a linguagem;

81 Aula 3 O modelo histórico-cultural de Vygotsky 81 Para Vygotsky, o sujeito é produzido pela cultura. Nessa perspectiva, o aprendizado torna-se o fator que possibilita e movimenta o processo de desenvolvimento; Desse ponto de vista, o aprendizado é o aspecto necessário e universal, uma espécie de garantia do desenvolvimento das características psicológicas especificamente humanas e culturalmente organizadas.

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83 Objetivos Apresentação AULA Wallon e o estudo da psicogênese Maria Poppe 4 Nesta aula iremos apresentar a teoria de Henry Wallon que teve um papel fundamental nas mudanças de foco sobre o desenvolvimento. Digo isto, pois a inserção da relevância do aspecto psicomotor considerado presente e atuante no desenvolvimento infantil refletiu igualmente, na compreensão Do Desenvolvimento e aprendizagem como um tripé constituído pelos aspectos afetivo, cognitivo e psicomotor. A partir da relevância acima descrita, os espaços de aprendizagem tiveram que incluir determinantes que proporcionem o desenvolvimento psicomotor das crianças tanto quanto os determinantes que contribuam no desenvolvimento cognitivo e afetivo. Assim, podemos observar que houve alterações no mobiliário das escolas, na disposição destes de tal maneira que contemplassem as necessidades motoras de seus estudantes, e não somente na educação infantil. Tornou-se uma preocupação pedagógica garantir também o desenvolvimento psicomotor de forma integrada aos demais aspectos do desenvolvimento humano. Agora, se você não trabalha em escolas e nem com crianças, ou seja, se o grupo trabalha é de adolescentes, adultos ou idosos, Wallon também será útil para você! Aguarde pra ver. Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: Identificar as principais idéias de Henry Wallon, bem como sua importância para as novas práticas de aprendizagem; Conhecer os conceitos propostos por Wallon e sua relevância para a atividade educacional; Entender os estágios do desenvolvimento na compreensão de Wallon que destaca o papel da tonicidade para integração do corpo com o meio físico e social; Reconhecer a importância da ludicidade em qualquer momento da vida e em especial nos espaços de aprendizagem, principalmente, destacando seu papel no desenvolvimento psicomotor.

84 Aula 4 Wallon e o estudo da psicogênese 84 Introdução 84 A natureza do sistema 87 Objetivos principais 99 Introdução Henry Wallon ( ) nasceu em Paris. Antes de iniciar seus estudos em psicologia estudou Filosofia e Medicina, sendo possível identificar em sua obra as influências desses campos de saber. Mais um pouco de história do Wallonn: Antes de começar seus estudos em psicologia HENRY WALLON passou também pela filosofia e medicina e ao longo de sua carreira foi cada vez mais explícita a aproximação com a Educação, já que se interessou pela pesquisa em crianças, em especial sobre problemas patológicos (casos de retardo mental, epilepsia, anomalias psicomotoras etc.), tentando encontrar respostas práticas para o desenvolvimento de seu intelecto. Em 1902, com 23 anos, formou-se em filosofia pela Escola Normal Superior, cursou também medicina, formandose em Viveu num período marcado por instabilidade social e turbulência política. As duas guerras mundiais ( e ), o avanço do fascismo no período entre guerras, as revoluções socialistas e as guerras para libertação das colônias na África atingiram boa parte da Europa e, em especial, a França. Em 1914 atuou como médico do exército francês, permanecendo vários meses no front de combate. O contato com lesões cerebrais de excombatentes fez com que revisse posições neurológicas que havia desenvolvido no trabalho com crianças deficientes. Até 1931 atuou como médico de instituições psiquiátricas. Paralelamente à atuação de médico e psiquiatra consolida-se seu interesse pela psicologia da criança.

85 Aula 4 Wallon e o estudo da psicogênese 85 Na 2ª guerra atuou na Resistência Francesa contra os alemães, foi perseguido pela Gestapo, teve que viver na clandestinidade. De 1920 a 1937, é o encarregado de conferências sobre a psicologia da criança na Sorbonne e outras instituições de ensino superior. Em 1925 fundou um laboratório destinado à pesquisa e ao atendimento de crianças ditas deficientes. Ainda em 1925 publica sua tese de doutorado L Enfant Turbulent (A Criança Turbulenta). Inicia um período de intensa produção com livros voltados para a Psicologia da criança, como o livro intitulado Origens do pensamento na criança. Em 1931 viaja para Moscou, sendo convidado para integrar o Círculo da Rússia Nova, grupo formado por intelectuais que se reuniam com o objetivo de aprofundar o estudo do materialismo dialético e de examinar as possibilidades oferecidas por este referencial aos vários campos da ciência. Publicaria em 1941 o livro L evolution psychologiuqe de l enfant (A evolução psicológica da criança). Em 1942, filiou-se ao Partido Comunista, do qual já era simpatizante. Manteria ligação com o partido até o final da vida. Em 1948 cria a revista Enfance (Infância). Nesse periódico as publicações servem como instrumento de pesquisa para os pesquisadores em Psicologia e fonte de informação para os educadores. Wallon faleceu em A observação de crianças doentes (casos de epilepsia, retardo, anomalias psicomotoras) e sua experiência clínica com adultos traumatizados e/ou seqüelados pela guerra deram o embasamento para suas concepções teóricas.

86 Aula 4 Wallon e o estudo da psicogênese 86 Sua investigação das funções psíquicas sempre esteve atrelada a infra-estrutura orgânica dessas funções. Sua teoria é fundamentada em termos neurológicos, na perspectiva genética e na análise comparativa, utilizando a Neurologia, a Psicopatologia, a Antropologia e a Psicologia. Em seus estudos das Síndromes Psicomotoras deixou evidentes as relações no desenvolvimento infantil entre movimento e psiquismo, interagindo com o meio social. Mas Wallon adverte para os riscos de se comparar o comportamento da criança com o do adulto. Propôs estudar o desenvolvimento infantil a partir da própria criança, compreendendo cada uma das suas manifestações, no conjunto de suas possibilidades, levando em consideração a idade da criança. Wallon considera a doença como um elemento necessário a compreensão da normalidade. Atuou como médico e psiquiatra, mas focou seu interesse na psicologia da criança, principalmente, nas questões relacionadas ao desenvolvimento do intelecto, o que o aproximou da Educação. Wallon postulava que o método adequado para a psicologia era a observação, como nos aponta Heloysa Dantas: As bases da sua concepção metodológica estão lançadas: à psicologia convém um tratamento histórico (genético), neurofuncional, multidirecional, comparativo. As funções devem ser estudadas evolutiva e involutivamente (daí o interesse pela doença e pela velhice). (Dantas, 1992, p. 36) Sua proposta não deve ser considerada organicista, pois para Wallon o ser humano é

87 Aula 4 Wallon e o estudo da psicogênese 87 organicamente social, o que supõe a intervenção da cultura na estruturação orgânica e na sua atualização. Concebe a vida dos organismos como uma alternância de opostos, onde se mantém uma pulsação permanente. Por isso, sua idéia de que o amadurecimento do sistema nervoso (SN) sozinho, não garante o desenvolvimento intelectual mais complexo. A influência do meio social se torna decisiva na aquisição da inteligência simbólica, sendo a cultura e a linguagem elementos importantes que fornecem ao pensamento os instrumentos de sua evolução. Wallon, em seus estudos, não se preocupara com a quantificação dos resultados, pois acreditava na psicologia como uma ciência qualitativa, optara por uma análise genética para não perder a inteiridade do objeto. :: Psicologia Psicogenética: A Natureza do Sistema A teoria de Henri Wallon pode ser considerada uma tentativa de articulação entre os fatores biológicos (atos motores) e os fatores subjetivos (ato mental). Preconizou ainda que as funções humanas devem ser analisadas de maneira evolutiva (progresso/saúde) e involutivamente (regressão/doença). Modelo psicológico que tem como objetivo descrever a gênese do desenvolvimento humano. Wallon, Piaget e Vygotsky são seus principais teóricos. Dica de leitura Baseando-se em sua experiência pessoal enquanto profissional de saúde construiu um modelo teórico que foi definido como Psicologia Psicogenética. Esse modelo teórico percebe e compreende o ser humano como organicamente social, ou seja, ele precisa da cultura para se atualizar. É através das primeiras e primárias interações objetivas (ato motor) que o sujeito trava com a cultura, que pode existir desenvolvimento de determinadas capacidades WALLON, H. As origens do caráter na criança: os prelúdios do sentimento de personalidade DANTAS, Pedro da Silva. Para conhecer Wallon: uma psicologia dialética GALVÃO, Izabel. Henri Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento infantil

88 Aula 4 Wallon e o estudo da psicogênese 88 intelectuais, ou seja, o ato mental se desenvolve a partir do ato motor. Para essa teoria a motricidade necessita de um espaço de expressão, ou seja, a motricidade humana começa a atuar antes no meio social (e a modificá-lo) do que no meio físico. O desenvolvimento do ato mental (aquisição crescente do domínio dos signos culturais) reduz a motricidade, em sua dimensão cinética, e se virtualiza em ato mental, gerando certo enfraquecimento da função cinética e um gradativo crescimento do processo ideativo e intelectual. Wallon aponta ainda e isso é bastante importante - que a expressividade humana, inicialmente, só afeta o meio social e não o meio físico (um sorriso só pode ser veículo de comunicação para um outro e nunca de contato com o meio físico). A seqüência psicogenética dos movimentos expressivos acompanha o amadurecimento das estruturas nervosas do organismo humano em seu processo constante e invariável de maturação. Em sua teoria, Wallon buscou articular os fatores biológicos (atos motores) com os fatores subjetivos (ato mental). O grande eixo é a motricidade, para ele, o ato mental se desenvolve a partir do ato motor, exemplo disso, a aquisição de habilidades motoras básicas, como a preensão e a marcha que contribuem para essa integração e desenvolvimento. O ser humano é, então, organicamente social, porque carece da cultura para se atualizar e o desenvolvimento de determinadas capacidades intelectuais dependem das interações objetivas que o sujeito estabelece com a cultura. Antes que a motricidade possa alcançar o meio físico, ela atua e modifica o meio social.

89 Aula 4 Wallon e o estudo da psicogênese 89 É a motricidade expressiva da mímica, inteiramente ineficaz do ponto de vista instrumental: não tem efeitos transformadores sobre o ambiente físico. Mas o mesmo não acontece em relação ao ambiente social: pela expressividade o individuo humano atua sobre o outro, e é isto que lhe permite sobreviver, durante o seu prolongado período de dependência. A motricidade humana, descobre Wallon em sua análise genética, começa pela atuação sobre o meio social, antes de poder modificar o meio físico. O contato com este, na espécie humana, nunca é direto: é sempre intermediado pelo social, tanto em sua dimensão interpessoal quanto cultural. (Dantas, 1992, p. 38) Com isso, percebemos que na concepção walloniana, há uma descontinuidade entre ato motor e ato mental na medida em que o ATO MOTOR PRECEDE O ATO MENTAL, assim como, o meio social é modificado, transformado pela expressividade humana antes que esta possa ter efeitos sobre o meio físico. Exemplo: o choro do bebê contagia a mãe, que lhe oferece o seio. O choro afeta e modifica o meio social: a mãe dá um sentido a esse desconforto, sem o que não haveria nenhuma modificação no meio físico. Segundo Dantas (1992), Wallon dá ênfase a questão da motricidade, não dissociando-a do conjunto de funcionamento da pessoa. Associa a patologia do movimento à patologia da personalidade. Identifica duas funções na atividade muscular: Dica da professora Quando queremos modificar algo no mundo ou a nossa volta é por que nos preocupamos com o outro. Assim o meio físico será modificado através do meio social. Ou seja, ver o outro sofrer provoca uma atitude em nós. Cinética ou clônica movimento visível há uma mudança de posição do corpo ou segmentos deste no espaço; Postural ou tônica responde pela manutenção da posição assumida e pela mímica. Atividade do músculo parado.

90 Aula 4 Wallon e o estudo da psicogênese 90 Wallon dará ênfase à função tônica, embora a dimensão afetiva ocupe um lugar central em sua teoria. Para ele, a emoção tem profundas raízes na vida orgânica. Ele descobre a origem dos comportamentos vegetativos dos estados emocionais na função tônica e caracteriza a atividade emocional como complexa e paradoxal, por ser, simultaneamente, de natureza biológica e social. Para Wallon o psiquismo é uma síntese entre o orgânico e o social. É o vinculo que a consciência afetiva instaura com o ambiente social que permite ao individuo o acesso ao universo simbólico da cultura. O desenvolvimento para Wallon é uma constante e progressiva construção, com predominância funcional de momentos afetivos e cognitivos. Caráter funcional - etapas da elaboração do real e conhecimento do mundo físico. Caráter afetivo - relação com o mundo humano e a construção do Eu. Bem, até aqui, já temos claro que o organismo biológico é afetado e modificado pela cultura, sendo o psiquismo uma síntese entre o orgânico e o social. Mas, uma questão se impõe: Por que ou para que Wallon dá ênfase ao conceito de tônus, qual a implicação do tônus no desenvolvimento emocional? A resposta é simples e esclarece a ênfase dada: Wallon utiliza o papel do tônus como um critério classificatório para identificar a natureza das emoções, tais como:

91 Aula 4 Wallon e o estudo da psicogênese 91 Hipotônica emoções que levam a redução do tônus. Ex: depressão, susto; Hipertônica emoções que geram tônus. Ex: cólera, ansiedade; Fluxo tônico se dá quando ocorre a elevação e escoamento do tônus em movimentos expressivos. EX: alegria. Wallon aponta a existência de três acessos as manifestações passionais, são elas: Através de uma natureza química, central; Mecânico-muscular, periférica; Abstrata, representacional. Além disso, aponta a função social do comportamento emocional e seu conseqüente caráter contagioso, buscando trazer luz à compreensão dos processos interpessoais. Sobre os três acessos a manifestação passional acima descrita vale lembrar alguns exemplos bem ilustrativos: 1º. EXEMPLO: Na natureza química central podemos observar a química cerebral atuando em situações de susto, por exemplo, cuja reação corpórea é de sudorese e taquicardia; 2º. EXEMPLO: No mecânico-muscular periférico podemos observar a reação corpórea pós relaxamento, onde a tonicidade é alterada juntamente com o estado emocional; 3º. EXEMPLO: Na abstrata representacional é notória através das reações diante de uma obra de arte ou um filme que pode levar o espectador a grandes emoções. E qual a utilização que nós profissionais da saúde e/ou educação podemos fazer das concepções teóricas propostas por Wallon?

92 Aula 4 Wallon e o estudo da psicogênese 92 Vale ressaltar que para Wallon a emoção traz consigo a redução da eficácia do funcionamento cognitivo. Mas o que significa isso? Para Wallon tem que se descartar a emoção, excluí-la? Não, para Wallon a afetividade é um componente PERMANENTE da ação, a emoção não desaparece, mas ele postula que é preciso que a emoção consiga transmutar-se em ação mental ou motora, pois quando é emoção pura, ela produz efeitos desorganizadores, e, por isso, reduz a eficácia do funcionamento cognitivo. Daí Wallon achar importante o conhecimento dos processos emocionais para que possamos educar a emoção. Sabemos também que é através da motricidade que a criança reivindica muitos espaços e com estes estabelece os primeiros contatos com a linguagem socializada. As noções de aqui e ali, de frente e trás, de esquerda e direita, de dentro e de fora, e outras inúmeras que são essenciais para a orientação do ser humano, tanto no sentido de sua autonomia quanto de sua independência. Para Wallon, a criança não é somente uma combinação de sensações ou um conjunto de movimentos. A experiência da criança, e mesmo de um adulto, combina movimentos com emoções, representações com socializações o tempo todo (Dantas, 1992). E o professor? Pode utilizar-se desse conhecimento em sua prática? Traremos uma situação do cotidiano da sala de aula para melhor exemplificar o poder de contágio da emoção, a redução da capacidade cognitiva, que a explosão causa (emoção pura) e a importância da educação da emoção (conscientização dos limites e regras sociais) para que o processo se restabeleça.

93 Aula 4 Wallon e o estudo da psicogênese 93 Uma professora de pré-escola está trabalhando com seus alunos na rodinha uma história do interesse de toda a turma. Um dos alunos insiste em sair da sala, resistindo a toda tentativa de fazê-lo participar. Após a frustração causada pela permanência na sala, tem uma explosão de choro, e, imediatamente, mais três colegas de turma começam a chorar (contágio). A professora chama o grupo e conversa sobre a hora da rodinha faz um acordo com eles que depois desse tempo, eles terão atividade livre (desenho, jogos, brincadeiras), levando ao entendimento do tempo de cada atividade, importância da realização da tarefa, de forma a transmutar a emoção pura em ato mental, visando o restabelecimento da participação dos alunos de forma organizada. Sabemos que, durante uma explosão de emoção a capacidade de raciocinar, compreender fica reduzida, por isso, o professor primeiro acolheu seus alunos, procurou saber o que estava acontecendo, o motivo do choro, para depois conversar e fazê-los entender as rotinas escolares. Wallon considera que o caráter altamente contagioso da emoção é conseqüência da visibilidade do que se sente. A emoção é visível, expõe-se no exterior através de modificações observáveis na mímica e expressão facial, sensibilizando o observador as suas manifestações. Essa teoria defende a existência de um diálogo tônico. Não se trata, aqui, de empatias, sintonia, formas de intersubjetividade. A emoção tem visibilidade no corpo, na mímica, na expressão facial e isso possibilita uma comunicação forte e primitiva que utiliza a atividade tônico-postural para estabelecer-se. E na comunicação é chamada de DIÁLOGO TÔNICO. A afetividade, então, é uma fase do desenvolvimento (podendo ser considerada a mais arcaica) e não só uma das dimensões do ser humano. E como Wallon conceitua o desenvolvimento? Ele é um processo descontínuo, suas etapas são marcadas por rupturas, reviravoltas, a passagem das fases se dá através de reformulações, ou seja, não há linearidade, já que uma etapa reformula a outra e o momento de passagem entre as etapas se dá através de crises que modificam o comportamento da criança.

94 Aula 4 Wallon e o estudo da psicogênese 94 O desenvolvimento é marcado por conflitos que surgem em função do processo maturacional e das condições ambientais, e tem no decorrer das etapas a reformulação dos avanços alcançados na fase anterior, aumentando com isso a complexidade da ação. Os conflitos, ora são de origem EXÓGENA caracterizada por desencontros entre as ações da criança e o ambiente externo (estruturados por adultos e pela cultura), ora são de origem ENDÓGENA caracterizada por efeito da maturação nervosa. Wallon estabeleceu seis etapas para o desenvolvimento psicomotor, são elas: 1ª etapa ESTÁGIO IMPULSIVO-EMOCIONAL (0-03 meses) - Essa fase é definida por movimentos reflexos, impulsivos, globais e incoordenados do corpo, também se observa o predomínio da afetividade nas reações do bebê às pessoas. 2ª etapa ESTÁGIO EXPRESSIVO-EMOCIONAL (03 meses 01 ano) Ocorre o desenvolvimento de algumas estruturas nervosas e observa-se o início das respostas sociais ao ambiente. É a interação da criança com o meio. 3ª etapa ESTÁGIO SENSÓRIO-MOTOR E PROJETIVO (01 03 anos) Apresenta avanços que promovem mudanças consideráveis, tais como: aquisição da marcha e da preensão, maior exploração dos espaços e manipulação de objetos, desenvolvimento da função simbólica e da linguagem. O PROJETIVO se associa a necessidade do uso de gestos para exteriorizar o ato mental e tem predominância das relações cognitivas com o meio (inteligência prática e simbólica).

95 Aula 4 Wallon e o estudo da psicogênese 95 4ª etapa ESTÁGIO DO PERSONALISMO (03 06 anos) As interações sociais promovem o processo de formação da personalidade e a construção da consciência de si mesmo. As crianças mostram interesse pelas pessoas que as cercam. Retorno da predominância das relações afetivas. 5ª etapa ESTÁGIO CATEGORIAL (7 11 anos) Nesse estágio consolida-se a função simbólica e a inteligência. Ocorrem os progressos intelectuais, a criança dirige seu interesse para as coisas, para conquista do mundo exterior, imprimindo suas relações com o meio, com predominância do aspecto cognitivo. 6ª etapa ESTÁGIO DA ADOLESCÊNCIA (11 12 anos) Nesse estágio ocorre uma predominância funcional. É comum ocorrer nesse estágio a crise da puberdade, rompendo a tranqüilidade afetiva, impondo a necessidade de uma nova definição dos contornos da personalidade, desestruturados devido as modificações corporais pela ação hormonal. O foco de interesse está voltado para questões de ordem pessoal, existencial e moral, com retorno a afetividade. :: Alternância funcional: Na passagem de um estágio para outro há uma alternância entre as formas de atividades e de interesse da criança chamada ALTERNÂNCIA FUNCIONAL. Para melhor compreendermos a teoria apresentada, não podemos esquecer que Wallon elabora sua concepção de desenvolvimento levando em consideração alguns aspectos importantes: Cada fase predominante (de dominância, afetividade, cognição), incorpora as conquistas realizadas pela outra fase, construindo-se reciprocamente, num permanente processo de integração e diferenciação.

96 Aula 4 Wallon e o estudo da psicogênese 96 1º Aspecto: A criança é um sujeito contextualizado, devemos levar em conta suas relações com o meio; 2º Aspecto: A motricidade é essencial para a formação de comportamentos mais sofisticados; 3º Aspecto: As etapas do desenvolvimento são marcadas por rupturas e conflitos; 4º Aspecto: A sucessão das etapas do desenvolvimento não se dá de forma linear, mas por reformulação; 5º Aspecto: O ato motor precede o ato mental; 6º Aspecto: O psiquismo é uma síntese entre o orgânico e o social. Wallon contribuiu por desenvolver um estudo que considera a criança um ser completo, para ser observada de forma global, nas suas múltiplas manifestações. Sua pesquisa articula emoção, cognição e motricidade. Após apresentarmos o percurso da Psicologia do Desenvolvimento e suas principais correntes teóricas, consideramos importante apresentar a vocês um modelo psicológico chamado Psicologia Psicogenética. Vocês devem estar se interrogando a respeito do interesse desse assunto no âmbito dessa aula? Pois bem, consideramos relevante o conhecimento do enfoque teórico da Psicologia Psicogenética porque seu propósito reside no estudo dos processos psíquicos em sua gênese, na análise dos processos desde sua origem, proporcionando uma abordagem do sujeito e

97 Aula 4 Wallon e o estudo da psicogênese 97 de suas atividades de forma integrada, dentro de uma visão global de desenvolvimento. Dentro dessa concepção teórica, o sujeito não é fragmentado em partes descontextualizadas, ele é abordado na sua vertente biológica e social. Outro motivo importante para apresentar a psicologia psicogenética a vocês é o fato de que os teóricos já estudados (Piaget, Vygotsky e Wallon) desenvolveram seus estudos objetivando a descrição da gênese do desenvolvimento humano, sendo por isso elevados ao posto de representantes desse modelo de abordagem científica. Cabe ao profissional incrementar, favorecer aspectos indispensáveis ao desenvolvimento, tais como: sociabilidade, autonomia, criatividade, autoria e cidadania, sem esquecermos da necessidade de estimulação do desenvolvimento psicomotor, da linguagem e das funções cognitivas (atenção, concentração, memória e percepção). Só assim será possível promover uma educação transformadora e facilitadora para um desenvolvimento global de nossos educandos. E, para que isso aconteça o que precisamos considerar? A importância da ludicidade no processo de desenvolvimento, por ser a experiência lúdica uma oportunidade de estimulação psicomotora que abrange questões relevantes para a aprendizagem, como: coordenação motora ampla e fina, equilíbrio estático e dinâmico, organização espaço-temporal. Aproximação e articulação do conteúdo dado com as experiências do dia-a-dia do educando, de forma a tornar o conteúdo inteligível e aplicável por ele.

98 Aula 4 Wallon e o estudo da psicogênese 98 Tornar o meio ambiente (escola, clinicas, empresas...) um lugar de convivência com as diferenças e diversidades culturais, promovendo, com isso, valores determinantes no desenvolvimento da cidadania. Somente com a participação de todos será possível estabelecer uma educação transformadora, onde o processo de desenvolvimento e aprendizagem contemple o aprimoramento do indivíduo nas suas competências e na superação de suas dificuldades. Para poder explicar as transformações que se processam no desenvolvimento Wallon recorre ainda a outros campos científicos na tentativa de aprofundar a explicação dos fatores de desenvolvimento (psiquiatria, neurologia, psicopatologia, antropologia, psicologia animal). Podemos afirmar que, como bem apontou Dantas (1983), a teoria de Wallon concebe o homem como sendo um ser genética e organicamente social, sendo que a sua existência se realiza como resultante das exigências da sociedade e as exigências do organismo. A teoria de Wallon, na tentativa de construir uma nova proposta de atendimento e entendimento da criança, estabeleceu uma estreita interlocução com a teoria construtivista de Piaget e psicanalítica de Freud. Wallon formulou sua teoria como uma tentativa de demonstrar as contradições e diferenças apresentadas entre a sua teoria e a teoria de Piaget, pois considerava ser essa a melhor maneira de discutir e construir conceitos quando se está buscando o conhecimento. Parece ser evidente que ambos se propuseram elaborar uma análise genética dos processos psíquicos (assim como Vygotsky), mas,

99 Aula 4 Wallon e o estudo da psicogênese 99 contudo, podemos dizer que enquanto Wallon pretendia elaborar uma gênese da pessoa completa, a teoria piagetiana é uma tentativa de construir uma gênese da inteligência. Com relação aos trabalhos psicanalíticos de Freud parece que esse autor estabeleceu uma postura ao mesmo tempo de interesse e de reserva. Ambos tiveram uma formação em neurologia e medicina, mas Freud, ao formular sua teoria do inconsciente, abandonou a neurologia e dedicou-se ao estudo das neuroses, enquanto Wallon não a abandona em decorrência do seu trabalho com crianças com distúrbios mentais e de comportamento. Objetivos Principais A teoria de Wallon procura explicar os fundamentos da psicologia enquanto modelo científico, seus aspectos epistemológicos e metodológicos. Essa teoria enfatiza o organismo como condição primeira do pensamento, pois toda a função psíquica supõe um componente orgânico, mas foi além ao preconizar que isso não é condição suficiente para o desenvolvimento da natureza humana, pois o objeto da ação mental é proveniente e construído no ambiente o qual o sujeito está inserido, ou seja, é um processo construído exteriormente. Essa teoria define que o ser humano é determinado fisiológica e socialmente. A psicologia psicogenética tem como propósito teórico o estudo dos processos psíquicos em sua gênese. Esse modelo faz a análise dos processos iniciais, os mais originários do sujeito. Para Wallon essa foi a forma mais segura e a única maneira de compreender as atividades humanas sem separá-las em partes elementares ou torná-las abstratas demais.

100 Aula 4 Wallon e o estudo da psicogênese 100 Para esse autor, a atividade do homem não pode ser pensada descontextualizada do meio social. Contudo, afirma também que certos padrões sociais não podiam existir sem a presença de sujeitos que tivessem certas habilidades biológicas (como a linguagem), o que sugere uma conformação determinada pelo cérebro humano. A demonstração cabal dessa articulação é a ocorrência de certas perturbações que afetam a integridade das ações humanas e privam o indivíduo do recurso da palavra. Por esse prisma não é possível dissociar o fator biológico do contexto social no qual está inserido o homem. Esta é uma das características básicas da sua teoria do desenvolvimento humano. O método adotado por Wallon é o da observação pura. Considerava que esta metodologia permitia conhecer a criança em seu contexto, no ambiente no qual ela está inserida. EXERCÍCIO 1 O que é a psicologia psicogenética de Wallon?

101 Aula 4 Wallon e o estudo da psicogênese 101 EXERCÍCIO 2 Como Wallon explica as mudanças nas etapas do desenvolvimento? EXERCÍCIO 3 Wallon estabeleceu seis etapas para o desenvolvimento psicomotor. Relacione-as com suas respectivas idades e depois marque a opção com a ordenação correta: Estágio impulsivo-emocional Estágio expressivo-emocional Estágio sensório-motor e projetivo Estágio do personalismo Estágio categorial Estágio da adolescência ( ) (7 11 anos) ( ) (03 meses 01 ano) ( ) (11 12 anos) ( ) (03 06 anos) ( ) (0-03 meses) ( ) (01 03 anos) ( A ) 1,2,3,4,5,6 ( B ) 6,5,4,3,2,1 ( C ) 3,4,5,2,1,6 ( D ) 4,5,3,6,2,1 ( E ) 5,2,6,4,1,3

102 Aula 4 Wallon e o estudo da psicogênese 102 EXERCÍCIO 4 Que estágio é definido por movimentos reflexos, impulsivos, globais e incoordenados do corpo? ( A ) Estágio do personalismo; ( B ) Estágio impulsivo-emocional; ( C ) Estágio sensório-motor e projetivo; ( D ) Estágio expressivo-emocional; ( E ) Estágio categorial. Vimos até agora: RESUMO A gênese da inteligência para Wallon é genética e organicamente social, ou seja: "O ser humano é organicamente social e sua estrutura orgânica supõe a intervenção da cultura para se atualizar". Nesse sentido, a teoria do desenvolvimento cognitivo de Wallon está calcada na psicogênese da pessoa completa; Henri Wallon pôde construir o seu modelo de análise ao pensar no desenvolvimento humano, estudando-o a partir do desenvolvimento psíquico da criança normal e deficiente; Esse processo gera, em cada nova etapa, significativas mudanças nas anteriormente experimentadas. Nesse sentido, a passagem dos estágios de desenvolvimento não pode se dar de maneira linear, mas somente por reformulação. O que se sucedem, no momento da passagem de uma etapa a outra,

103 Aula 4 Wallon e o estudo da psicogênese 103 são crises que alteram o comportamento da criança; Para Wallon os conflitos que se efetivam nesse processo podem ser considerados de origem exógena quando são efeitos do resultado dos desencontros entre as ações da criança e o seu ambiente externo, ambiente que é estruturado pelos adultos e pela sua cultura. Por outro lado, eles podem ser considerados endógenos quando gerados pelos efeitos da maturação nervosa (Galvão, 1995). São esses conflitos os desencadeadores do desenvolvimento humano; O processo de evolução da criança, ao mesmo tempo que está determinado pela relação entre o corpo, o movimento e a afetividade, também determina mudanças cognitivas, afetivas e motoras que são construídas e aprendidas, cuja educação escolar tem um papel essencial; Os estágios de desenvolvimento, embora guardem semelhanças com os que Piaget formulou são de fato diferentes, pois incluem a associação entre os aspectos afetivos e cognitivos de forma não simultânea, mas que causam interferência e interdependência.

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105 Objetivos Apresentação AULA Freud e as Fases Psicossexuais do Desenvolvimento Henrique Pereira Luis Eduardo Granato Hildeberto Martins Fabiane Muniz 5 Olá! Agora o próximo da lista dos teóricos do desenvolvimento é Sigmund Freud. A psicanálise foi pensada por Freud como uma nova maneira radical de compreender o sofrimento humano a partir da pesquisa de aspectos negligenciados da natureza humana: as patologias psíquicas. Para ele, essa compreensão só podia ser viável através do estudo do inconsciente, um sistema psíquico totalmente diferente do sistema consciente, e que por isso possuiria uma dinâmica (modo de funcionamento) e economia própria (produção e eliminação de energia), ou seja, uma maneira de investimento e de energia característico para a resolução dos conflitos psíquicos, que nesse caso seriam sempre inconscientes. Tem muita coisa pra aprender nessa aula. Vem com a gente! Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: Conhecer a biografia de Freud; Conhecer a natureza do sistema; Estudar os principais conceitos da psicanálise de Freud; Entender o funcionamento do aparelho psíquico segundo a teoria Freudiana; Descrever as fases psicossexuais do desenvolvimento; Discutir sobre os objetivos principais da psicanálise; Discutir sobre as criticas da teoria de Freud.

106 Aula 5 Freud e as fases psicossexuais do desenvolvimento 106 Sigmund Freud 106 Alguns conceitos fundamentais da psicanálise 109 Fazes psicossexuais do desenvolvimento 121 Sexualidade, Pulsão e Libido 135 SIGMUND FREUD Sigmund Freud BIOGRAFIA Sigmund Freud nasceu em seis de maio de 1856, na cidade de Freiberg, Moravia. Viveu grande parte da sua vida em Viena, na Áustria. Por causa de sua descendência judaica sofreu sérias dificuldades em seus primeiros anos de estudos, formando-se tardiamente em medicina no ano de Freud não era um grande entusiasta da prática médica, e a única área que lhe interessou foi a neurologia. Preferia o campo da pesquisa e do ensino, mas em decorrência de sua condição financeira teve que desistir de seus projetos acadêmicos e abraçar a clínica médica como resposta a este problema. :: Associação livre: Esse método foi inventado a partir da sugestão de uma de suas pacientes durante o tratamento clínico (Elisabeth Von R.). Durante a sua formação médica foi um grande discípulo das idéias de Jean Martin Charcot ( ) e Josef Breuer ( ) e conseqüentemente do método hipnótico e da sugestão antes de inventar um conceito-método fundamental para a ciência psicanalítica: a associação livre. Contudo, o que determinou definitivamente esse novo campo de estudo sobre a subjetividade humana foi a elaboração do conceito de inconsciente. No início do século XX Freud começou a fazer enorme sucesso, realizando inúmeras viagens para divulgar e explicar a psicanálise. Viajou para Massachussets, Budapeste, Munique e Berlim, entre outras cidades. Com o acirramento do movimento nazista na Alemanha e a perseguição aos intelectuais em decorrência de suas idéias e posições políticas, Freud começou a ter sérios problemas, inclusive ocorrendo a destruição de suas obras por ordem desse movimento fascista. Devido a interferência de várias personalidades, inclusive de Franklin Delano Roosevelt

107 Aula 5 Freud e as fases psicossexuais do desenvolvimento 107 (Estadista norte-americano) e Benito Mussolini (Estadista fascista italiano), conseguiu transferir-se, em 1938, para Londres, Inglaterra, onde se refugiou em decorrência da perseguição nazista. Morreu em conseqüência de um câncer nesta capital, em A NATUREZA DO SISTEMA Desde o princípio os estudos freudianos marcaram uma grande diferença entre a Psicologia e a psicanálise. Para a Psicologia da época o Inconsciente seria uma parte, um aspecto secundário do sistema consciente, e por isso estando subordinado a este último. O inconsciente era um adendo do sistema mais importante, a consciência, sendo nesse sentido irrelevante realizar estudos sobre ele. É impossível ignorar que as escolas psicológicas do século XIX e XX privilegiaram os estudos sobre a consciência e a vontade em seus aspectos mais objetivos e, portanto, observáveis. Para Freud o inconsciente é um sistema independente, mesmo que mantenha relações necessárias com outros sistemas, como veremos mais adiante. O psicanalista Luiz Alfredo Garcia-Roza (1992), um grande estudioso da teoria freudiana, ao comentar sobre o conceito de inconsciente na teoria psicanalítica diz que: o que define portanto o inconsciente não são seus conteúdos mas o modo segundo o qual ele opera, impondo a esses conteúdos uma determinada forma. Em princípio, Freud elaborou seu modelo psicológico seguindo o padrão científico da época, por isso ele descreveu, num primeiro momento, o aparelho psíquico como um sistema neuronal, como seus neurônios e funções específicas. Essa idéia seria abandonada posteriormente por uma perspectiva menos acadêmica e mais clínica, terreno o qual

108 Aula 5 Freud e as fases psicossexuais do desenvolvimento 108 Importante Isso ficou evidente no trabalho intitulado Projeto para uma Psicologia científica, escrito em 1895 e que não foi publicado em vida por Freud. permitiu o surgimento dos principais conceitos da teoria psicanalítica. Se Freud abraçou num primeiro momento uma pretensão científica na construção do seu aparelho psíquico foi porque a construção de uma nova ciência (a psicanálise) deve passar inicialmente pelo crivo do modelo científico da época. Mas Freud ao tomar conhecimento que suas idéias seriam revolucionárias não pôde mais abandoná-las, mesmo que isso significasse ir contra os preceitos científicos vigentes naquele momento. A construção do modelo teórico psicanalítico se deveu ao trabalho e análise de uma psicopatologia bastante comum e de difícil solução do século XIX: a histeria. Foi o interesse pela histeria, iniciado provavelmente a partir dos seus estudos em Salpêtrière, Paris, com Jean-Martin Charcot, onde tudo começou. Esse contato com Charcot, na época um dos mais renomados psiquiatras franceses, foi em decorrência de uma bolsa de estudos ganha por Freud. O contato com esse eminente psiquiatra impressionou significativamente Freud, que resolveu traduzir seus trabalhos acadêmicos. De volta a Viena, faria conferências sobre histeria, mas estas não seriam bem acolhidas pela comunidade acadêmica médica. Freud dedicou grande parte do seu tempo à pesquisa clínica. Utilizando o método hipnótico trabalhou inicialmente em colaboração com Josef Breuer, inclusive publicando trabalhos conjuntos sobre o tratamento de casos de histeria. Alguns anos depois rompeu com seu mestre por causa de idéias divergentes em relação ao funcionamento do psiquismo humano e de seus mecanismos de defesa. A descoberta clínica da importância do conflito psíquico para a produção de respostas defensivas inconscientes levou Freud a abandonar a hipnose e a analisar um outro aspecto evidenciado durante o

109 Aula 5 Freud e as fases psicossexuais do desenvolvimento 109 tratamento: elucidação da resistência. Para Freud esse fenômeno é um mecanismo de defesa do psiquismo na tentativa de dar conta do conflito inconsciente de amor/ódio em relação à figura do analista (no caso, Freud), que é o substituto de uma figura mais arcaica, no caso o pai como objeto simbólico de amor/ódio. É o próprio Freud quem diz que a resistência é regulada pela distância em relação ao recalcado; por outro lado, corresponde a uma função defensiva. Com a formulação da segunda tópica, o caráter defensivo será mais enfatizado. Alguns conceitos fundamentais da psicanálise Descartes (séc. XVII) foi o grande formulador da noção moderna de subjetividade. Subjetividade que identificou à Razão, ao Espírito, à Consciência. Era a razão a garantia do conhecimento, do acesso à verdade. Esta concepção influenciou entre outros W. Wundt, o fundador da psicologia moderna, em 1879, que quis fazer desse saber o estudo da experiência consciente. :: Resistência: Definida como "tudo o que nos atos e palavras do analisando, durante o tratamento psicanalítico, se opõe ao acesso deste ao seu inconsciente". :: Segunda Tópica: O conceito de tópica decorre da idéia de lugar psíquico formulado por Freud na tentativa de descrever os conflitos inconscientes resultantes da luta entre isso, eu e supereu (id, ego e superego) presentes no aparelho psíquico e que ocupariam lugares (topos) diferentes nesse mesmo aparelho. Mas Freud, com a produção do conceito de inconsciente, operou uma mudança significativa nessa imagem que o homem fazia de si próprio. Mostrou, a partir da análise de pacientes neuróticos, que o aparelho psíquico (alma, psique ou mente) não é unitário, mas dividido. A subjetividade perdera seu centro, já que não se reduzia tão-somente à consciência. Haveria um outro sistema psíquico em funcionamento a ser levando em conta que não o consciente, isto é, o inconsciente. Assim, em Cinco Lições de Psicanálise, de 1909, Freud elegeu a divisão da mente e a dissociação da personalidade como pontos centrais da teoria psicanalítica. Mas como chegou a tal conclusão?

110 Aula 5 Freud e as fases psicossexuais do desenvolvimento 110 Esquema do aparelho psíquico proposto por Freud em A dissecção da personalidade psíquica (Vol. XXII das Obras Completas). RESISTÊNCIA, DEFESA E RECALCAMENTO Quer saber mais? Freud foi estudar com Charcot um proeminente médico francês que aplicava a hipnose a pacientes com paralisias histéricas. Quando hipnotizadas as pacientes conseguiam mexer o membro paralisado. Freud certa vez escreveu que a psicanálise só pôde ser inventada quando abandonou a hipnose como técnica psicoterapêutica. A hipnose, enquanto terapia baseada na sugestão, mascarava um fenômeno clínico importantíssimo, qual seja, a resistência. Freud observou que, por um lado, o paciente procura o analista para que o ajude a curar-se de seu sofrimento, mas, por outro, alguma barreira se ergue dentro de si contra o tratamento. Esta barreira é a resistência. Ela é notada quando o paciente deixa de associar livremente, quando sua memória falha e as reminiscências lhe escapam. Mas contra o quê o paciente resiste? Resiste a imagens, pensamentos e idéias que lhe dão desprazer, causam sofrimento, despertam vergonha e culpa. Com efeito, a resistência seria a expressão observável do mecanismo do ego, que Freud chamou de defesa. A defesa, portanto, visa proteger o eu de representações (idéias) investidas de afeto desagradáveis. O recalque ou recalcamento, por sua vez, é um dos mecanismos de defesa do eu, não devendo, por conseguinte, ser confundido com a noção genérica de defesa. O recalque designa a operação pela qual o

111 Aula 5 Freud e as fases psicossexuais do desenvolvimento 111 indivíduo procura repelir ou manter no inconsciente representações (...) ligadas a uma pulsão (Pontalis & Laplanche, 19?, p.553). Os conceitos de resistência, defesa e recalque assinalam o estado de divisão e luta em que se encontra a personalidade. Uma batalha se trava entre diferentes forças dentro do psiquismo humano. Isto é, de um lado há as representações investidas de desejo do inconsciente que querem tornar-se conscientes e do outro as defesas do ego erguidas contra elas. O INCONSCIENTE A psicanálise é uma trama de conceitos. Para explicar um de seus conceitos precisamos de outros para torná-lo inteligível. Nesse sentido, as idéias de resistência, defesa, e recalque se vinculam à hipótese da existência de um outro sistema psíquico, distinto do consciente, o inconsciente. Na neurose, em particular, fica evidenciada a existência de um conflito entre esses dois sistemas. Conflito que o sujeito não suporta, levando-o assim a refugiar-se no sintoma como uma tentativa de superá-lo. A neurose é, por conseguinte, uma fuga. O sintoma alienação. A terapia psicanalítica surge então como uma atividade que procura desconstruir as resistências do paciente de modo que ele possa re-conhecer aquilo que recalcou e que, portanto desconhece. A verdade não está mais agora no eu consciente ou na Razão, como queria Descartes, mas no desejo inconsciente. A psicanálise é, pois, uma ética do desejo. Em A interpretação dos sonhos, de 1900, Freud apresenta o seu primeiro modelo de aparelho psíquico (primeira tópica). Ali, o psiquismo aparece dividido em três regiões psíquicas: consciente, pré-consciente e inconsciente. Mas se o inconsciente é por definição

112 Aula 5 Freud e as fases psicossexuais do desenvolvimento 112 Dica da professora As piadas (chistes) também são, segundo Freud, uma forma socialmente aceita de dar expressão ao recalcado. desconhecido, não conhecido, como sabemos de sua existência? Mediante seus efeitos sobre o consciente, o que Freud denominou de formações de compromisso. Tais formações são os sonhos, os sintomas, as fantasias e atos falhos (parapraxias). Todos esses fenômenos fogem ao controle do eu, revelam-se espontâneos, parecem possuir autonomia. Neste primeiro modelo, Freud praticamente reduz o inconsciente a conteúdos psíquicos recalcados, isto é, representações impedidas de alcançarem o sistema pré-consciente/consciente. Porém, em O Ego e o Id, de 1920, reformula sua imagem de aparelho psíquico. A segunda tópica assimila à instância do id as principais características do inconsciente. As outras demais instâncias formadoras do aparelho psíquico são o ego e o superego. Neste novo modelo, nem tudo que é inconsciente o é porque foi recalcado. O ego e o superego, por exemplo, têm agora partes inconscientes. O id, além do mais, é descrito por Freud como um caldeirão pulsional e o grande reservatório de libido. Pulsão e libido são dois dos principais conceitos da psicanálise que tratam da sexualidade. O que tanto causa desprazer ao ego e que portanto tem de ser recalcado são os impulsos sexuais que se originam no id. Dito de outra forma parece haver algo na sexualidade que causa desprazer ao sujeito. A INSTAURAÇÃO DO INCONSCIENTE: O CONCEITO DE RECALCAMENTO A teoria do recalcamento ocupa um espaço privilegiado dentro do modelo metapsicológico freudiano (modelo teórico). Esse conceito aparece em textos anteriores ao texto A interpretação de sonhos, sendo comparado por Freud ao conceito de defesa, mas

113 Aula 5 Freud e as fases psicossexuais do desenvolvimento 113 não se confundido com este. Esse conceito foi traduzido para o português como repressão, termo que não se aproxima, segundo alguns autores, do real sentido que Freud quis dar à sua idéia. Dentro da teoria psicanalítica o conceito de recalque é considerado o mecanismo de defesa característico, mas não o único, da personalidade neurótica, permitindo que esta estrutura psíquica possa lidar com os conflitos que afetam o sujeito. Esses conflitos são o resultado do aumento da tensão (energia) dentro do aparelho psíquico, causado pela excitação do mesmo, e da tentativa (sempre frustrada) de sua eliminação total pelo escoamento da descarga desencadeadora da excitação. A descoberta da teoria psicanalítica aponta para os caminhos possíveis junto ao aparelho psíquico da descarga causadora da excitação, já que a sua total descarga tem conseqüências negativas para a vida do sujeito (a morte), mas que é ao menos, em tese, desejado por este aparelho (princípio de Nirvana). É na tentativa de descrever esse funcionamento que Freud esbarra com a idéia de recalque como barreira protetora do aparelho psíquico, já que ela é a defesa inconsciente do ego (eu). Os comentários que se seguem sobre a teoria psicanalítica acompanham de perto as formulações e idéias apresentadas por Luiz Alfredo Garcia-Roza (1990, 1991, 1992, 1993) em seus estudos sobre os mais variados aspectos da teoria freudiana. Esquematicamente podemos definir o recalcamento como uma fronteira entre os sistemas Inconsciente (ICS) e Pré-consciente/Consciente (PCS/CS), cujo propósito seria regular a passagem de certas inscrições inconscientes (traços mnêmicos). Devemos lembrar que antes da fundação desses dois sistemas certas experiências (olfativas, auditivas, visuais etc.) são inscritas no in- :: Princípio de Nirvana: É o movimento pelo qual o aparelho psíquico pode levar a zero ou ao mínimo possível qualquer quantidade de excitação, tanto de origem externa ou interna. Ele está relacionado, segundo Freud, em um certo nível à pulsão de morte. :: Inconsciente: É um dos sistemas do aparelho psíquico. Seus conteúdos (representantes das pulsões) estão inacessíveis à consciência e só podem retornar a ela como formações de compromisso (sonho, ato falho, sintoma) depois de passarem pela censura. Já o sistema Préconsciente/ Consciente é distinto do primeiro sistema já que está separado pela censura. Os conteúdos préconscientes são acessíveis à consciência.

114 Aula 5 Freud e as fases psicossexuais do desenvolvimento 114 consciente, sendo que a sua possível acessibilidade à consciência fica impedida a partir de então em conseqüência da tensão que foi gerada no aparelho psíquico e que é denominada de recalcamento originário. Para Freud é o recalcamento originário que permite a separação do inconsciente em seus sistemas constituintes. :: Censura: O conceito de censura é mais utilizado por Freud na primeira tópica, depois sendo confundida com o conceito de recalque e defesa. Ela é a barreira que se constitui entre os sistemas do aparelho psíquico. Segundo Freud, somente quando essas experiências recalcadas ganham um sentido para o sujeito (suas fantasias) em decorrência do processo de verbalização e da constituição de uma imagem egóica (imagem do eu) é que elas ganham a função traumática e podem ser experimentadas como insuportáveis, necessitando com isso ser recalcadas, processo definido como recalcamento secundário ou propriamente dito. Quando acontece o fracasso do recalcamento, em decorrência de uma série de fatores, pode acontecer de os elementos recalcados reaparecem no sistema PCS/CS. Esses conteúdos inconscientes que atravessam a barreira do recalque só conseguem fazê-lo de maneira deformada sob a forma de prazer parcial, como formação de compromisso (sonhos, atos involuntários, manifestações patológicas, relações transferenciais etc.). Esse movimento é denominado de retorno do recalcado. Podemos resumir esses estágios do recalcamento da seguinte maneira: O RECALCAMENTO ORIGINÁRIO inscrição/fixação de certas experiências cuja significação inexiste para o sujeito, registro imaginário (pré-verbal, antes do ingresso no simbólico), vão servir de pólo da atração para o recalcamento secundário, só existe o contra-investimento; O RECALCAMENTO SECUNDÁRIO efeito do conflito entre os sistemas ICS e PCS/CS. Sua função é impedir que certas representações do sistema inconsciente tenham acesso ao sistema PCS/CS. Esse seria o recalcamento propriamente dito;

115 Aula 5 Freud e as fases psicossexuais do desenvolvimento 115 O RETORNO DO RECALCADO efeito do fracasso do recalcamento, onde os elementos recalcados reaparecem e conseguem fazê-lo de maneira deformada sob a forma de compromisso. A sua incidência na vida mental do ser humano demonstra e confirma a idéia psicanalítica de indestrutibilidade dos conteúdos inconscientes. A demonstração empírica do fenômeno do recalcamento foi resultante da descoberta freudiana do conceito de resistência, que se apresentava na clínica como uma falha na memória ou a incapacidade de falar sobre um determinado tema sem um motivo aparente. A resistência, segundo Freud, está sempre a serviço das defesas inconscientes do sujeito. O FUNCIONAMENTO DO APARELHO PSÍQUICO O aparelho psíquico ao longo da teoria freudiana, e dos continuadores desse modelo (Lacan, Klein etc.), é definido a partir de três características bem distintas, mas intimamente articuladas. Assim, o sistema inconsciente psicanalítico pode ser analisado e descrito do ponto de vista tópico, dinâmico e econômico. O CARÁTER TÓPICO Os lugares psíquicos têm um caráter metafórico e é dessa maneira que devem ser pensados pois para a teoria freudiana não existe um lugar anatômico, uma localização cerebral para o inconsciente, não sendo encontrando neles coisas da ordem da materialidade física mas sim da ordem das representações e afetos. É Freud mesmo quem alerta ao dizer: (...) evitaremos cuidadosamente a tentação de determinar anatomicamente de qualquer maneira a localização psíquica [do inconsciente].

116 Aula 5 Freud e as fases psicossexuais do desenvolvimento 116 Em sua primeira formulação do aparelho psíquico, Sigmund Freud chama de lugares psíquicos os sistemas dotados de características e funções diferenciadas e que também apresentam certa ordenação hierarquizada. Essa preocupação era uma tentativa de explicar os fenômenos mentais que eram apresentados pelos pacientes na clínica. A proposta de tópica já estava presente desde A interpretação de sonhos e seria conhecida como primeira tópica, composta de Consciente, Préconsciente e Inconsciente. O Pré-Consciente e o Consciente formam uma única instância subjetiva. Cada instância psíquica tem determinadas funções específicas e está ao mesmo tempo articulada aos outros aspectos envolvidos na caracterização do sistema como um todo. Assim, o sistema ICS (tópico) está ligado ao processo primário, fenômeno inconsciente que visa à descarga total de toda a energia inconsciente através da passagem da energia psíquica a outra instância (PCS/CS) sem a interferência das barreiras defensivas. Esse processo ainda está articulado ao processo econômico e dinâmico denominado de energia livre, fenômeno referente à descarga direta dessa energia psíquica e, conseqüentemente vinculado ao princípio de prazer, princípio o qual define que toda a atividade psíquica está voltada para a eliminação do desprazer e a manutenção do prazer. Todo esse processo inconsciente está vinculado e resulta em fenômenos como o sonho e os sintomas patológicos. O sistema PCS/CS (tópico) está, por outro lado, ligado ao processo secundário, fenômeno préconsciente e consciente. Este visa à descarga parcial da energia inconsciente através da passagem da energia psíquica a outra instância (PCS/CS) sem a interferência

117 Aula 5 Freud e as fases psicossexuais do desenvolvimento 117 das barreiras defensivas e, portanto, articulado ao processo econômico e dinâmico denominado de energia ligada, fenômeno referente à descarga moderada ou controlada dessa energia psíquica e, conseqüentemente vinculado ao princípio da realidade, princípio o qual define que toda a atividade psíquica está voltada para a regulação do aparelho psíquico a partir de princípios impostos pela realidade exterior e tendo como conseqüência o adiamento da descarga energética, ou seja, a transformação da energia livre em ligada. Todo esse processo está vinculado a fenômenos a serviço do ego, como a atenção, o pensamento da vigília, a memória e a linguagem. O CARÁTER DINÂMICO O aparelho psíquico freudiano também é caracterizado pelo que passou a se chamar de seu caráter dinâmico, ou seja, pelos aspectos referentes à luta entre a energia psíquica que impulsiona o aparelho a uma tentativa de descarga dessa mesma energia e o movimento contrário destinado a impedir essa descarga que é conhecido como recalcamento. Nesse processo está presente a idéia de conflito, fenômeno que permite o funcionamento desse mesmo aparelho. Essa idéia freudiana é considerada um grande avanço em relação a compreensão do inconsciente e seus processos ao enfatizar o aspecto dinâmico e não mais uma concepção estática desse sistema e das patologias associadas aos fenômenos psíquicos, o que era comum em estudos psiquiátricos da época. Esse princípio serviu de base para a própria definição de dualismo pulsional da teoria freudiana. A noção dinâmica de Freud não pressupõe somente a idéia de força, mas de conflito entre forças como motor do funcionamento do aparelho psíquico. Para Freud era necessária uma força contrária impedindo o acesso dos

118 Aula 5 Freud e as fases psicossexuais do desenvolvimento 118 produtos inconsciente à consciência (Laplanche e Pontalis, 1992). :: Produtos do inconsciente: Produtos que são resultado do efeito de deturpação decorrente do processo de recalcamento. Os fenômenos mais comuns resultantes desse trabalho são os sintomas neuróticos. Como se sabe, a energia psíquica está sempre associada a um representante (representação de coisas ou de palavras) e que este ao tentar ter acesso à consciência pode ser impedido pelo processo de recalcamento. Como resultado disso podemos ter o que é denominado de retorno do recalcado ou mais simplesmente produtos do inconsciente. Para a psicanálise esse fenômeno é uma solução de compromisso entre as instâncias do aparelho psíquico, já que o retorno do recalcado na verdade é a junção entre o recalcado e um elemento consciente da vida do sujeito. Esse elaborado truque se faz necessário para que o conteúdo recalcado possa advir ao campo pré-consciente/consciência sem ser totalmente censurado pela barreira do recalcamento. Não custa lembrar que o(s) produto(s) inconsciente(s) que chega(m) ao nível da consciência pode(m) novamente retornar para o sistema inconsciente em conseqüência de um fenômeno chamado de recalcamento secundário. Outro mecanismo característico e que demonstra o funcionamento conflitivo do aparelho psíquico é a resistência, fenômeno evidenciado na clínica psicanalítica. Esses fenômenos atestam a importância da compreensão dos processos conflitivos para a investigação e descrição mais detalhada do inconsciente e de suas conseqüências para a vida do sujeito. Passemos agora para a descrição do aspecto econômico. Mas antes, que tal fazer um exercício para testar o que aprendeu?

119 Aula 5 Freud e as fases psicossexuais do desenvolvimento 119 O CARÁTER ECONÔMICO: O DESTINO DAS QUANTIDADES DE EXCITAÇÃO Segundo a lógica freudiana, para que o aparelho psíquico pudesse funcionar plena e eficazmente era necessária uma certa quantidade de energia, ou fisicamente falando é necessário uma certa quantidade de excitação dentro desse aparelho. Essa energia foi definida com o nome de pulsão, e se tornou um dos conceitos mais importantes da psicanálise. Para descrever o funcionamento do aparelho psíquico a partir da força que o alimenta, denominada de pulsão, Freud demonstra que ela não se apresenta diretamente no sistema, e sim é representada. Os representantes psíquicos da pulsão são: representação de coisas e representação de palavras (inscrições da pulsão no sistema psíquico). Os representantes psíquicos ficam assim divididos no aparelho, segundo o caráter tópico: ICS: representação de coisas; PCS/CS: representação de palavras e afeto. O que passa é a representação e não a energia investida nesta representação. Toda energia de investimento tem como fonte original as pulsões e esta energia é a libido (energia das pulsões sexuais). Quanto ao caráter econômico o sistema inconsciente pode ser assim definido: Sistema Ics energia livre princípio do prazer (desprazer ligado ao aumento das quantidades de excitação; prazer ligado à sua redução) Sistema Pcs/Cs energia ligada princípio de realidade (transformação de energia livre em ligada)

120 Aula 5 Freud e as fases psicossexuais do desenvolvimento 120 Segundo a teoria freudiana a aquisição da linguagem é de grande importância, já que é a partir da apropriação que fazemos do mundo através da linguagem que o acesso ao simbólico se efetiva. A função simbólica é um conjunto de leis que estruturam o inconsciente freudiano. Com o avanço e reformulação das principais idéias ao longo de toda a sua vida a teoria tópica também foi revista, o que ficou evidente após o trabalho intitulado Jenseits des Lustprinzips (Além do princípio do prazer), de A partir desse momento a teoria freudiana seguiu uma nova direção e que culminou com a formulação de uma segunda tópica. Esse novo modelo iria consagrar definitivamente os conceitos usados por Freud para determinar os lugares psíquicos: o Isso (Id), o Eu (Ego) e o Supereu (Superego). Dica de filme Para conhecer melhor a teoria psicanalítica sugerimos os filmes Freud além da alma, Encaixotando Helena, Inconscientes, entre outros. Outra grande contribuição da teoria freudiana para o campo educacional foi a formulação das fases de desenvolvimento psicossexual infantil. Elas foram descritas em decorrência do investimento libidinal de uma região ou lugar subjetivo do corpo humano. As fases são as seguintes: oral, anal, fálica e genital. O desenvolvimento psicossexual ainda é composto pelo período de latência. As idades aqui apresentadas são os períodos aproximados da eclosão dessas fases e dos respectivos fenômenos que caracterizam cada uma delas. Contudo, cabe lembrar que esses fenômenos não ficam restritos a esses períodos cronológicos, já que o inconsciente é atemporal. Passemos agora a sua breve descrição. FASE ORAL (0 06 meses) A boca é a zona erógena (zona de prazer). 1º corte: o desmame (perda do seio-falo).

121 Aula 5 Freud e as fases psicossexuais do desenvolvimento 121 FASE ANAL (02 03 anos) 2º corte: exigência de controle esfincteriano (mediação corporal intermediado por regras, prescrições e interdições) relação fezesfalo. FASE FÁLICA (04 06 anos) O complexo de Édipo e o complexo de castração. No menino: Angústia de castração. Na menina: Inveja do pênis. 3º corte: complexo de castração (angústia de castração) relação pênis-falo. PERÍODO DE LATÊNCIA (07 11 anos) Caracterizado por um maior investimento no plano social. Seria o momento de investimento nos processos coletivos e sociais e coincide como o período de socialização escolar. FASE GENITAL (11/12 anos) Ela se configura na puberdade. Se caracteriza pela escolha da identidade sexual. etapas. Vejamos com mais detalhes cada uma dessas O texto foi baseado na própria obra de Freud Fases psicossexuais do desenvolvimento FASE ORAL A fase oral começa no nascimento e envolve os lábios e a língua. É a pulsão (instinto) básica do bebê de receber alimento, assim diminuem as tensões de fome e sede. Esse momento de alimentação também representa conforto, carinho, aconchego, atenção... que é igual a prazer.

122 Aula 5 Freud e as fases psicossexuais do desenvolvimento 122 A boca é a primeira área do corpo que o bebê pode controlar. A maior parte de energia libidinal disponível é direcionada ou focalizada nesta área. Importante Freud, conforme Kupfer (2001) divide essa fase em duas etapas: oral receptivo e oral agressivo. No oral receptivo a criança succiona e no oral agressivo a criança morde com tendências a destruir e odiar. Crianças que recebem afeto suficiente passam por esta fase com tranqüilidade, o ego fortalecido e a autoestima aumentada. Se ao contrário o afeto não for suficiente poderá ter problemas como: grudar nos outros, bebida, fumo, comida, mascar chicletes, obesidade e outros. Na fase oral, como o prazer está centrado na boca, o bebê quer conhecer o mundo pela boca: morder, sorrir, chorar, sugar, chupar. Mamar é a primeira forma de prazer que ele alcança com seu próprio esforço, é a inauguração de sua capacidade de se relacionar com o mundo, o primeiro vínculo de carinho que será um dos mais importantes de sua vida. Este vínculo não se cria apenas dando o peito ou a mamadeira, mas reside na capacidade de transmitir segurança e carinho ao bebê. Neste período, o bebê não tem uma compreensão clara sobre o seio, para ele o seio faz parte do seu corpo. Se o seio for gratificador, a criança terá expectativas otimistas do mundo e também será generoso. Se ao contrário, o seio for frustrador, a criança terá expectativas pessimistas do mundo e terá ressentimentos. A mãe ou a pessoa que desempenha o papel de cuidar do bebê precisa ser equilibrada para poder exercer uma influência positiva sobre o bebê. Existe um segundo momento da fase oral, chamada de Fase oral tardia que ocorre depois do aparecimento dos dentes. Nesta fase, inclui a gratificação de instintos agressivos. Ex.: Morder o seio da mãe. Conforme o crescimento da criança, outras áreas do corpo desenvolvem-se e tornam-se importantes áreas de gratificação. Entretanto, alguma energia é permanentemente fixada nos meios de gratificação oral. E por isso alguns adultos têm hábitos orais como interesses contínuos em manter prazeres orais. (Ex.:

123 Aula 5 Freud e as fases psicossexuais do desenvolvimento 123 comer, chupar, mascar, fumar, morder, lamber). Estas pessoas podem ser parcialmente fixadas na fase oral, cuja maturação psicológica pode não ter se completado, ou seja, ou o prazer se fixou na área oral, ou faltou recompensa e agora é necessário repor. Outra suposta conseqüência da fase oral é um adulto ligado ao sarcasmo, que tem prazer em zombar, insultar, e até mesmo de arrancar o alimento dos outros ou de fazer fofocas. Ou seja, estes comportamentos também podem estar ligados a esta fase do desenvolvimento. A retenção de algum interesse em prazeres orais é normal. Esse interesse só pode ser encarado como patológico se for o modo dominante de gratificação, isto é, se uma pessoa for excessivamente dependente de hábitos orais para aliviar a ansiedade. Importante Dúvidas de pai e mãe. Posso me referir aos órgãos genitais por apelidos engraçadinhos? Sim, mas não deixe de ensinar os nomes científicos: pênis e vagina. Por que apenas os órgãos sexuais devem ter apelidos? Não se chama nariz ou braço de outra coisa. Usar nomes "sérios" também confere naturalidade ao assunto. FASE ANAL Com o crescimento da criança, novas áreas de tensão e gratificação são levadas à consciência. Entre 1 e 3/4 anos as crianças aprendem a controlar os esfíncteres anais e a bexiga. Nesta fase, então, a zona erógena está localizada no ânus, sendo que a principal tarefa dessa etapa do desenvolvimento é o controle dos esfíncteres. O prazer está centrado em produzir fezes e urina, primeiras produções da criança, como também na estimulação do reto e das partes adjacentes. Ao notar que após a evacuação há um grande alívio, a criança sente e percebe o cocô como uma coisa boa, o que a desperta para o prazer anal. Com o início do controle dos esfíncteres a criança trocará a fralda pelo penico ou vaso sanitário, um momento importante do ponto de vista emocional.

124 Aula 5 Freud e as fases psicossexuais do desenvolvimento 124 Inicia a capacidade de compreensão e de comunicação. Quando a fase anal não é vivida de maneira tranqüila o indivíduo tende a se tornar frio, racional, sempre acha que alguém esconde algo ou sentimentos. Às vezes, segundo Freud, quando uma criança é muito repudiada pelos pais por mexer com fezes, no futuro poderá sublimar este desejo trabalhando como escultor, com dinheiro ou outro similar. O treinamento do uso do banheiro desperta um interesse natural pela autodescoberta. Prestam atenção especial à micção e à evacuação. A obtenção do controle fisiológico é ligada à percepção de que esse controle é uma nova fonte de prazer. Além disso, aprendem que o crescente nível de controle dos esfíncteres lhes traz atenção e elogios por parte dos pais. E o inverso também é verdadeiro, assim, o interesse dos pais no treinamento da higiene permite à criança exigir atenção tanto pelo controle bem-sucedido quanto pelos erros. Quer saber mais? Na fase fálica meninos e meninas começam e se tocar. Segundo Sacchetto, O mais importante é fazer com que a criança possa ter experiências, das mais diversas com a figura masculina ou feminina, do mesmo gênero, preferencialmente o pai ou a mãe. Karen Kaufmann Sacchetto Fonte: ol.com.br/bb5a6/a_ descoberta_da_sexu alidade.htm Acesso em 26/10/2006 Características adultas que estão associadas à fixação parcial nesta fase são: ordem, parcimônia e obstinação. A confusão que pode acompanhar a fase anal é a aparente contradição entre o elogio e o reconhecimento, e a idéia de que ir ao banheiro é sujo e que deve ser guardado em segredo. Ex.: a criança não compreende inicialmente que suas fezes e urina não sejam apreciadas. Afinal de contas as fezes são suas primeiras produções. Assim, as observam, acenam e dizem adeus ao darem descarga; às vezes, oferecem como presente aos pais que se surpreendem e até reagem com repugnância. FASE FÁLICA Aos 3 anos a criança entra na fase em que focaliza as áreas genitais do corpo. Nessa fase, a

125 Aula 5 Freud e as fases psicossexuais do desenvolvimento 125 criança se dá conta de seu pênis ou da falta de um que é o caso das meninas. É a primeira fase em que as crianças se tornam conscientes das diferenças sexuais. É durante esse período que homens e mulheres desenvolvem sérios temores sobre questões sexuais. A fase fálica, então, é a terceira fase do desenvolvimento psicossexual da personalidade. Nesta fase a zona erógena localiza-se nos órgãos genitais, estando a descoberta desses órgãos vinculada a manipulação, ao prazer e a percepção das diferenças entre os órgãos genitais. Surgem ainda os namorinhos, o que é tomado por Freud como muito saudável, já que as crianças começam a reconhecer com mais clareza as diferenças entre homens e mulheres. A criança começa a se ligar em assuntos sexuais com grande interesse, quer saber sobre os órgãos sexuais das pessoas próximas, sobre a relação sexual dos pais e tem necessidade de saber de onde vêm os bebês. Está alerta a linguagem corporal, a reação dos adultos às cenas de televisão, o tom de voz com que o sexo é discutido, os olhares trocados quando o assunto aparece. Tudo entra na compreensão infantil e dá forma a suas fantasias sexuais. Dica da professora Fálica vem de Falo que significa Pênis. Por isso, esta fase chama-se fase fálica. As características desta fase são: a criança gosta de exibir o próprio corpo, fixa atenção no corpo do outro, gosta de jogos, brincadeiras sexuais e de manipular-se, questionadora, quer saber o por quê de tudo, aprende se relacionar com outras crianças. Nesta fase o menino se apaixona pela mãe e sente ciúmes do pai que beija e dorme com a mãe. A menina se apaixona pelo pai e culpa a mãe que vai em

126 Aula 5 Freud e as fases psicossexuais do desenvolvimento 126 busca do pai, além de ter inveja do pênis do menino. Freud denominou esta situação de Complexo de Édipo, e a inveja da menina em relação ao pênis de Complexo de Castração. O complexo de Édipo é resolvido quando o menino começa a se desligar da mãe e a se identificar com o pai. Freud chamava esse processo de identificação com o agressor. Todavia podem ocorrer desvios neste percurso, como no caso da mãe que fala muito mal dos homens ou do pai, impedindo o filho de se identificar com o pai. A mãe muitas vezes tem atitudes sedutoras podendo agravar o sentimento do filho. Uma mãe que não aceita ser mulher o ainda um pai que deprecie a esposa, para Freud causa na menina uma grande dificuldade para a identificação com a mãe. Uma pessoa que não conseguiu passar bem a fase fálica possui um caráter fálico sendo: temerário, resoluto, inseguro de si, agressivo, provocativo, superestima o pênis, hostis às mulheres, é vaidoso ou então uma mulher masculinizada. Se superar esta fase com tranqüilidade, corresponde a uma pessoa amigável, respeitadora, generosa, responsável, autoconfiante e que consegue superar os conflitos. O desenvolvimento da inveja do pênis para a menina é um momento crítico, pois tem a aparente descoberta que lhe falta algo, e, com isso, o desejo de ter um pênis. A descoberta de que é castrada representa um marco decisivo no crescimento da menina. Daí partem três linhas de desenvolvimento possíveis: Uma conduz à inibição sexual, outra à modificação do caráter no sentido de um complexo de masculinidade e a terceira, finalmente, à feminilidade normal. (Freud, 1933, p. 31) É nessa fase que a criança vivencia a excitação sexual, ou seja, o prazer com a estimulação das áreas genitais. Esta excitação está ligada, na mente da criança, à presença física próxima de seus pais. Mas o desejo desse contato torna-se cada vez mais difícil de ser satisfeito pela criança. E ela luta pela intimidade que seus pais compartilham entre si.

127 Aula 5 Freud e as fases psicossexuais do desenvolvimento 127 Esta fase caracteriza-se pelo desejo da criança de ir para a cama de seus pais e pelo ciúme da atenção que seus pais dão um para o outro, ao invés de dar à criança. O menino deseja estar próximo da mãe. E tem o pai como rival. Mas, ao mesmo tempo, quer o amor e a afeição do seu pai e, por isso, sua mãe é vista também como uma rival. A criança fica numa situação insustentável de querer e temer ambos os pais. É quando ocorre o Complexo de Édipo (tragédia grega peça de Sófocles). Para Freud todo o menino revive um drama interno similar. Deseja possuir a mãe e matar seu pai, mas também teme seu pai e receia ser castrado por ele, reduzindo a criança a um ser sem sexo. Isto causa uma ansiedade, reconhecida por ansiedade de castração. O amor e o temor pelo pai, e o amor e desejo sexual pela mãe não podem nunca ser completamente resolvidos. Assim é reprimido, guardado no inconsciente. Afinal de contas não devemos ter nossos pais como nossos objetos de desejo sexual. Importante O aumento desta intimidade fará com que fortaleça a confiança entre os filhos e os pais. Alertar, esclarecer e desmistificar o sexo e a sexualidade fará com que nossos filhos possam se tornar adolescentes e adultos conscientes para tomar as próprias decisões no que se refere a sexualidade. "Podemos vivenciar nossa sexualidade de forma extremamente benéfica e positiva para um desenvolvimento sadio, desde que feito com muito amor. Reprimir é anular a si próprio. Respeitar, aprender a sentir e escutar as mensagens que seu corpo transmite proporcionará uma elevação da autoestima. É preciso saber se amar para aprender a amar o outro. Amar o outro é doar-se." (Hellmann, 2006b) O superego entra em ação pela primeira vez. O superego é o nosso juiz interno, aquele que nos julga e nos condena, ou seja, são as leis e a razão. É o que nos faz pensar no que é certo e no que é errado. Assim o superego tem o dever de manter tudo isso inconsciente, impedi-lo de aparecer na consciência, evitar que se pense a respeito ou que se reflita sobre isso. Nas meninas o problema é similar, mas a expressão e a solução são diferentes. A menina deseja o pai, vê sua mãe como rival, mas não teme a castração, assim a necessidade da menina de reprimir

128 Aula 5 Freud e as fases psicossexuais do desenvolvimento 128 seus desejos é menos severa. A diferença está na intensidade do problema, assim as meninas reprimem a situação edipiana mais tarde. Conseqüência: a criança parece modificar seu apego aos pais (depois dos 5 anos de idade) e se voltam para o relacionamento com amigos, atividades escolares, esportes etc. Esta época, dos 5 anos até o começo da puberdade, é denominada período de latência. PERÍODO DE LATÊNCIA É o tempo em que os desejos sexuais não resolvidos da fase fálica são inibidos, ou seja, a repressão que é feita pelo superego tem sucesso. Durante este período os anseios sexuais diminuem de vigor e são abandonados e esquecidos. Surge a vergonha, a repulsa e a moralidade. É durante este período de latência total ou parcial que se constroem as forças psíquicas que irão mais tarde impedir o curso do instinto sexual e, como barreiras, restringir seu fluxo A repugnância, os sentimentos de vergonha e as exigências dos ideais estéticos e morais. (Id. 1933, p. 181) A educação tem a ver com a construção dessas barreiras, mas na realidade este desenvolvimento é organicamente determinado pela hereditariedade e pode ocasionalmente ocorrer sem auxílio da educação. Aqui cabe pensar que mesmo com a energia sexual reprimida, o impulso sexual não cessa nesta fase de latência. Sendo assim esta energia é dirigida para outras finalidades.

129 Aula 5 Freud e as fases psicossexuais do desenvolvimento 129 Vamos aos detalhes: A fase da latência, então, é a quarta fase do desenvolvimento psicossexual da criança, corresponde aproximadamente a faixa etária dos 6 aos 12 anos de idade. Não há nesta fase uma zona erógena, mas uma calmaria nos impulsos sexuais, permanecendo a sexualidade dormente até a eclosão da puberdade, o que a faz ressurgir novamente. É uma fase rica, criativa e de grandes interesses extra-sexuais. O desenvolvimento da identidade e da intelectualidade se torna pontos centrais. A criança é despertada para o grupo com atividades esportivas, intelectuais, artísticas, busca de conhecimentos e de adequação às normas sócioculturais moldadas. (apud Silveira, 2006) Quer saber mais? Compreender a sexualidade "permite expandir a percepção dos limites aos quais cada um está confinado por nossas próprias experiências de vida". (Rodrigues, Jr. 2006) RODRIGUES JR., Oswaldo M. Sexualidade. Fonte: e.com/sexualidade A masturbação desacelera e a criança se encontra livre para o aprendizado. Há também, nesta fase,duas etapas: uma que vai dos 6 aos 9 anos e outra dos 9 aos 12 anos. Nela, a criança se liga a heróis de ficção, pais e professores como em ídolos, além de se tornar mais democrática e mais justa. Gosta também de contar histórias intermináveis, diverte-se fazendo contas de matemática e se envaidece por saber ler e escrever sozinha. A fase dos porquês se acalma, suas perguntas têm mais fundamentos e exigem respostas claras, que passam a ser incorporadas à sua bagagem intelectual, começando a consolidar seu acervo intelectual. As brincadeiras também vão se tornando mais elaboradas e a criança adquire interesses por outras coisas e amizades. Deixa de lado o amor exagerado aos pais, diante da necessidade de pertencer a algum grupo, o que a ajuda a superar o complexo de Édipo. Depois dos pais, o professor é o segundo objeto de amor. Uma decepção com o professor pode afetar no desenvolvimento da personalidade. O ideal seria que os professores fossem pessoas mais equilibradas, sem

130 Aula 5 Freud e as fases psicossexuais do desenvolvimento 130 grandes problemas familiares para exercerem uma influência positiva nas crianças. Se a criança não consegue resolver muitos de seus conflitos pode se tornar uma pessoa irritada, agressiva, exibicionista, masturbadora e um estudante fraco. O adulto que não passou bem a fase da latência geralmente apresenta um caráter infanto-juvenil, gosta de carros, filmes de cowboys, heróis de ficção, não tem responsabilidade familiar e encara a mulher como apenas um objeto. (apud Silveira, 2006) Mediante a descobrindo dos prazeres da vida, por meio da convivência em grupo, uma das primeiras regras que vai se afirmando é a de que meninos brincam com meninos e meninas, com meninas. Cada um refugia com seus pares em busca de uma identidade. Quer saber mais? "Desde que o mundo é mundo, a sexualidade é parte essencial da vida do homem. Tem ocupado lugar na mitologia, na filosofia, nas artes, em toda forma de representação e conhecimento humano, inclusive, mais recentemente, nas Ciências." (Sayão, 2006a). SAYÃO, Yara. BOCK, Silvio Duarte. A sexualidade nas épocas e culturas. Fonte: de.org.br Acessado em: 20/10/2006. Essa é afirmada pela oposição ao outro sexo, o que origina uma rivalidade manifestada por provocações, rixas e intrigas. No início esta rivalidade não tem conotação sexual, só mais tarde, à medida que vai chegando a puberdade, momento em que a sexualidade se manifesta e que começa o interesse pelo sexo oposto. Todavia, Freud esclarece que, na verdade, não é que eles não se interessam pelo sexo oposto, simplesmente levam mais tempo para descobri-lo. Enquanto isso briga e compete para saber quem é o melhor por qualquer motivo: quem faz xixi mais longe, quem arrota mais barulhento, quem chuta mais forte. (apud Silveira, 2006) Neste período surge também a preocupação se o menino se sente mais à vontade com as meninas, como uma manifestação precoce da homossexualidade. Embora a criança tenha uma certa noção de identidade

131 Aula 5 Freud e as fases psicossexuais do desenvolvimento 131 sexual, ela não se fixa nessa ou naquela orientação, pois essa está longe de ser definida. A INTERRUPÇÃO DO PERÍODO DE LATÊNCIA De acordo com Freud (1905), em alguns momentos deste período de latência, ocorre uma manifestação fragmentária da sexualidade que escapou à sublimação, até que o instinto sexual surja com maior intensidade na puberdade. FASE GENITAL É a fase final do desenvolvimento biológico e psicológico. Ocorre com o início da puberdade, onde o corpo sofrerá modificações devido ao efeito dos hormônios. É o retorno da energia libidinal aos órgãos sexuais. Tudo o que foi reprimido na fase de latência volta, porém os desejos sexuais que retornam não são direcionados aos pais. Neste momento, meninos e meninas estão ambos conscientes de suas identidades sexuais distintas e começam a buscar formas de satisfazer suas necessidades eróticas e interpessoais. Perguntaram para Freud, na velhice, como definiria um adulto normal que alcançou a fase genital e ele respondeu: Aquele que é capaz de amar e trabalhar. Para a psicanálise, alcançar a fase genital significa que a pessoa atingiu o pleno desenvolvimento do adulto normal, conseguiu discriminar seu papel sexual, desenvolveu-se intelectual e socialmente, o objeto de desejo não está mais no próprio corpo, mas em um objeto externo ao indivíduo, o outro e é o tempo das realizações.

132 Aula 5 Freud e as fases psicossexuais do desenvolvimento 132 A BUSCA DO PRAZER COMEÇA NA INFÂNCIA Entrevista com o Professor Milton Zaiden, membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise e especialista em psicanálise infantil Qual a influência da psicanálise na concepção teórica do mundo mental da criança? Zaiden - Bem, praticamente a psicanálise consiste na descrição do mundo mental da criança. Pode-se até dizer que são a mesma coisa: falar em psicanálise é, em última instância descrever o mundo mental da criança. Freud ao estudar o adulto começou a descobrir a existência da criança dentro dele. Tudo aquilo que os estudiosos da mente humana faziam anteriormente eram tentativas de aproximação de um doente mental: primeiro, de vêlo como um doente; depois de tentar estabelecer uma classificação de doenças, diferenciar em grupos, coisas desse gênero. Freud foi quem percebeu que todos os chamados sintomas tinham um determinado significado. E, à medida em que foi aprofundando seus dados de observação e contatos com seus pacientes, formulou uma teoria dizendo que tudo aquilo que ele observava nada mais era do que a persistência do mundo mental da criança no adulto. Então ele trouxe todo esse conceito de desenvolvimento do psiquismo, do aparelho mental - e, para ilustrar melhor, é o mesmo caso de uma maçã verde que não pudesse amadurecer por haver nela condições tais que impedissem o seu amadurecimento - de modo que essa influência é total na minha maneira de ver. (Jornal "Folha de São Paulo ) Folhetim - Como se deram os primeiros estudos de Freud sobre a criança? Zaiden - Antes de tudo Freud era um estudioso primeiramente curioso; e, em segundo lugar, um observador muito perspicaz. Seus primeiros pacientes"mostraram" a Freud que possuíam na vida sexual. Foi a partir desses dados que começou a desenvolver uma teoria de que a função sexual existia, desde o começo da vida. Ficava difícil compreender como alguma coisa pudesse surgir, nascer no ser humano a partir de uma determinada idade, como se algo descesse lá do céu. A gente pode explicar, por exemplo, que uma perna ou um dedo existem, mesmo que de forma rudimentar, desde o embrião. Então a gente podia supor que as várias funções, sejam digestivas, renais, mentais ou sexuais também tivessem um principio e, depois, toda uma continuidade de desenvolvimento até chegar na "função sexual do adulto".

133 Aula 5 Freud e as fases psicossexuais do desenvolvimento 133 O mérito de Freud nesta questão, foi o de diminuir aqueles limites tão nítidos que existiam entre o que se considerava "normal e anormal". Ele viu que esses limites não eram tão nítidos, havia um interposição. A função sexual normal, na sua concepção, passou a ter um conceito mais amplo, tanto no sentido do normal para anormal, quanto no de adulto para criança. Zaiden diz - Agora é preciso diferenciar o sexual do genital. O adulto, por exemplo, exerce funções sexuais num nível genital - que é a realização do ato sexual - quando ele o faz em busca do prazer, olhando sob o prisma biológico (embora a religião tenha colocado esse ato sexual sob a condição da reprodução). Freud descobriu, e teorizou, que a sexualidade se manifestava de várias maneiras, e não só através o genital. Quer dizer, na criança tudo aquilo que ela considerasse prazeiroso passava a ser considerado como sexual. Neste caso estaria o prazer que a criança sente ao ser amamentada, tanto pelo contato físico com a mãe, como na alimentação em si, satisfazendo a fome. De uma forma esquemática - mas pouco esclarecedora em meu modo de ver - nós poderíamos dizer, que, a partir da teoria de Freud, a primeira e principal satisfação de uma pessoa vinha através da amamentação materna. Na medida em que a pessoa vai crescendo, essa necessidade ligada à boca passava para as necessidades excretoras, especialmente com a evacuação. Ou seja, a sexualidade ligada a outro ponto do corpo. Depois é que começaria a haver um predomínio ligado ao genital. Fonte: d.html data de acesso 26/10/2006 Essa fase será foco de estudo na próxima aula que terá como tema a sexualidade na adolescência. Na presente aula estamos nos restringindo à sexualidade infantil. A fase genital foi citada aqui para que possamos ter por completo as etapas de desenvolvimento psicossexual escrita por Freud. Além disso, essa simples introdução da fase genital serve como ponte para o estudo da próxima aula que será sobre sexualidade na adolescência. Resumindo, então as fases psicossexuais do desenvolvimento: Segundo Guimarães e Galina (2004) Freud em suas investigações na prática clínica sobre as causas e funcionamento das neuroses, descobriu que a

134 Aula 5 Freud e as fases psicossexuais do desenvolvimento 134 grande maioria de pensamentos e desejos recalcados referia-se a conflitos de ordem sexual, localizados nos primeiros anos de vida dos indivíduos, isto é, na vida infantil estavam as experiências de caráter traumático, recalcadas, que se configuravam como origem dos sintomas atuais e, confirmava-se, desta forma, que as ocorrências deste período de vida marcam profundamente o psiquismo. As descobertas colocam a sexualidade no centro da vida mental e assim Freud desenvolve um dos conceitos mais importantes para a teoria psicanalítica: a sexualidade infantil. A Teoria Sexual infantil destacam-se diversos aspectos da sexualidade que vão contra as idéias de sua época, pois mostra que a função sexual existe desde o nascimento e não só a partir da puberdade; explica que a sexualidade passa por um período longo até chegar à maturidade, onde as funções de obtenção de prazer e reprodução podem estar associadas; e aponta a libido como a energia psíquica dos impulsos sexuais. Sendo assim Freud descreve o processo de desenvolvimento psicosexual. Ele fala que nos primeiros tempos de vida o individuo encontra prazer no próprio corpo, a função sexual está ligada à sobrevivência. O corpo é erotizado, destacando-se neles algumas zonas erógenas. Ocorre também um desenvolvimento progressivo da sexualidade, este está ligado com as diferentes formas de gratificações e de relações objetais. Ainda com relação ao desenvolvimento psicossexual, Freud coloca que no primeiro ano de vida a criança está na fase oral onde a zona erógena é a boca, e o prazer está ligado à alimentação; nesta o objetivo sexual consiste na incorporação do objeto e estimulação da zona oral. Uma segunda fase é conhecida como anal nela a zona de erotização é no ânus, a relação com os objetos está ligado ao controle dos esfíncteres, o controle se torna uma nova fonte de prazer. A terceira fase é conhecida como fálica nela o órgão sexual é a zona erógena. Nos meninos esta fase se caracteriza por um interesse

135 Aula 5 Freud e as fases psicossexuais do desenvolvimento 135 narcísico pelo próprio pênis e o medo da castração, em contrapartida a menina descobre em si ausência deste e o deseja. Neste período ocorre o complexo de Édipo, cuja elaboração e declínio produz conseqüências fundamentais para a estruturação do psiquismo. Em seguida há um período de latência, onde ocorre uma diminuição das atividades sexuais, que vai até a puberdade. Na adolescência atingi-se a última fase, a fase genital, nela o objeto sexual é o outro. (Guimarães, Mariana e Galina, Paola Bagatim. Anais da VI Semana de Psicologia da UEM: Subjetividade e Arte Maringá-UEM 06/10/2004 à 08/10/2004). Gostou desse resumo? Então ótimo! Sexualidade, Pulsão e Libido A sexualidade entrou em cena na teoria psicanalítica desde os seus primórdios. Em Estudos sobre a Histeria, de , Freud considerou o trauma do paciente neurótico como produto de uma sedução sexual real. Entretanto, começou logo a duvidar desta teoria. Ora, seria improvável que todas as pacientes histéricas que chegavam ao seu consultório tivessem efetivamente sido seduzidas pelos pais ou parentes próximos. Além disso, o fracasso terapêutico de muitos desses casos de neurose sugeria que algo importante estava faltando para a compreensão da patologia (Garcia-Roza, 2002). Se a sedução não era real, que seria então? Fantasia, responde Freud. Fantasia decorrente de impulsos sexuais infantis recalcados. Aqui entra em cena a sexualidade infantil, até então ignorada por Freud. A partir dos Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade, de 1905, Freud desenvolve uma teoria da sexualidade que se afasta das concepções vigentes. Tais concepções se fundavam sobre o conceito de Importante Entenda-se bem o que Freud quer dizer com sexual. Em seu pensamento, sexual não se confunde com genital. A sexualidade genital refere-se precisamente à cópula com o objetivo de procriar ou de obter prazer orgástico. Mas a sexualidade é mais ampla que a sexualidade genital. Inclui as preliminares do ato sexual, as perversões, as experiências sensuais vividas em relação ao seu próprio corpo ou em contato com o corpo da mãe (Kupfer, 2001, p. 39). Na verdade, é sexual, em psicanálise, é toda experiência humana que envolva o prazer.

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