O PROCESSO DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO

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1 O PROCESSO DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO MARISA BELMUDES MARTINEZ Falar do processo de desenvolvimento cognitivo do homem é nos fazer refletir sobre nossa própria maneira de construir o conhecimento. Esse texto não pretende abordar o envolvimento emocional situado por trás da aprendizagem e suas conseqüências percebidas nas diversas manifestações no decorrer do processo de construção do conhecimento. Antes a intenção é a de tentar levar o leitor a uma reflexão profunda sobre como ele poderá colaborar de forma objetiva e produtiva com todos aqueles que estão construindo o conhecimento. Quando nos referimos ao processo de desenvolvimento direcionado para os seres humanos, não podemos deixar de entender a complexidade dos aspectos que então estão envolvidos. Tanto o desenvolvimento físico, quanto o cognitivo, moral, social e afetivo estão intimamente ligados mesmo cada um deles tendo suas próprias características. É exatamente essa inter-relação existente entre as diferentes características que vai possibilitar a mútua influência de um sobre o outro, desta forma, quando os avanços e ganhos são semelhantes o processo de desenvolvimento do sujeito se torna equilibrado o que não significa que todos eles estarão caminhando perfeitamente juntos, sempre. Ao longo da vida o sujeito passa por inúmeras experiências e transformações por isso mesmo, nem sempre o desenvolvimento cognitivo mesmo sendo ele quem abre as portas para que o desenvolvimento moral aconteça - vai avançar exatamente da mesma forma que o desenvolvimento afetivo. Também ainda, há outros momentos onde o sujeito parece estar com todos os seus esforços centralizados no desenvolvimento social. É aos poucos que esse processo vai ganhando corpo e cada sujeito terá seu ritmo, nunca exatamente igual ao do outro. Sendo o desenvolvimento uma forma progressiva de adaptar-se ao meio haverá, então, uma constante busca de equilíbrio nas relações entre sujeito e tudo aquilo que o cerca, sejam pessoas, sejam objetos, sejam acontecimentos. É através dessas relações que gradativamente, tanto os esquemas de ações quanto

2 as estruturas mentais vão se construindo. Os esquemas de ações e as estruturas mentais se constituem em ferramentas poderosíssimas que irão possibilitar com que a construção do conhecimento aconteça. Por esquema de ações podemos compreender tudo o que em uma ação é generalizável, ou seja, tudo aquilo que se torna comum nas diferentes aplicações de uma mesma ação aos diferentes objetos e situações. Segurar uma vassoura, por exemplo, para varrer e também para matar um inseto pode ser chamado de um esquema. Aqui, o esquema de segurar o segurar a vassoura para varrer seria uma ação interiorizada, mas também generalizável porque existiu a possibilidade de se coordenar o esquema de pensamento já existente com outro semelhante o segurar a vassoura para matar um inseto. Entendemos como estruturas as maneiras como a vida mental do sujeito se organiza, são sistemas que apresentam leis de totalidade onde não pode haver caracterização ou definição independente entre seus elementos e as relações que os unem. Normalmente uma estrutura permite que vários esquemas se coordenem permitindo então que a modificação em um deles possa provocar tanto nos outros esquemas, quanto na estrutura total, outras modificações. É importante ressaltar que, nesse gradativo e constante processo, nada se perde das estruturas já adquiridas anteriormente, pois elas se integram como subestruturas às novas estruturas que irão então preparar as próximas. Como um processo externo do desenvolvimento do sujeito, a adaptação se refere às relações que o pensamento mantém com as coisas mostrando assim a existência do equilíbrio progressivo entre os processos de assimilação e acomodação. Todas as vezes que um sujeito agir, quer seja sobre um objeto, quer seja sobre pessoas ou mesmo sobre os acontecimentos, cada dado dessa experiência será incorporado àqueles esquemas e estruturas já existentes no sujeito. O que vai então outorgar os significados aos novos objetos, pessoas, acontecimentos ou novos dados, é o mecanismo que chamamos de assimilação. É imprescindível que haja uma modificação daqueles esquemas e das estruturas já adquiridas pelo sujeito anteriormente, para que exista a assimilação. Se essa modificação não acontecer em função das novas características mesmo que sejam pouco diferentes dos novos elementos assimilados, não poderá existir a acomodação.

3 Não existe, de forma alguma, a assimilação sem que ocorra a acomodação e o mecanismo da acomodação só poderá acontecer graças ao processo de assimilação. Podemos dizer então que o que ocorreu foi a adaptação de um esquema de assimilação. Considerando as relações existentes entre os componentes já adaptados e as relações existentes entre os diversos esquemas e estruturas de um sujeito, vamos perceber que o processo externo de adaptação está subentendido no processo interno da organização, sendo assim, a modificação em um só esquema ou estrutura vai provocar a modificação nos demais e também na estrutura total deste sujeito. A organização não será estática, pois sofrerá modificações todas as vezes que novos elementos forem assimilados assim como as estruturas não estão acabadas, mas cada vez mais na medida em que o desenvolvimento se processa, vão adquirir maior mobilidade e elasticidade. A organização diz respeito á adaptação que também diz respeito á organização. QUANDO O PENSAMENTO SE ADAPTA ÀS COISAS, SE ORGANIZA ORGANIZANDO VAI ESTRUTURAR AS COISAS SE À medida que o sujeito consegue conquistar novas formas de compreender a realidade e sobre ela atuar, esta organização mental será modificada e a este processo denominamos equilíbrio ou processo de equilibração. O processo de equilíbrio não é estático, antes, é dinâmico, ativo, sucessivo e gradativo, por isso mesmo, o processo de desenvolvimento busca atingir formas de equilíbrio sempre e maiores e melhores e jamais continuará o mesmo.

4 Uma vez que nosso corpo é composto por estruturas como as células que organizadas em elementos maiores formam os órgãos ou o sistema de funcionamento também no aspecto mental, nossas estruturas partem do mais simples para o mais complexo. Por isso mesmo são vários os fatores que irão contribuir para que o desenvolvimento cognitivo aconteça, a saber: a maturação do sistema nervoso e endocrinológico; tudo aquilo que se adquire como experiência através da ação do sujeito sobre os objetos além das inteirações e transmissões sociais e a equilibração. Todas as transformações - que de certa forma não vão depender tanto das condições, das experiências quanto das práticas externas - que ocorrem no organismo em função da idade ou do tempo, corresponde à maturação. É a maturação quem vai propiciar que novas perspectivas surjam e, consequentemente, novas condutas determinando então a sequencia na ordem das etapas do desenvolvimento. Só a maturação não será suficiente para explicar o desenvolvimento, pois, nem a hereditariedade nem a genética podem programar as estruturas que para serem construídas precisam da experiência e dos fatores sociais. Compreender o processo de desenvolvimento abre perspectivas para que possamos compreender, por exemplo, que uma criança jamais deve ser comparada em suas aquisições e conquistas com outras que, por diversos fatores podem ter conseguido maiores avanços. É através da coordenação de ações com os demais, do intercâmbio de idéias, das transmissões da cultura e da educação que a construção das estruturas cognitivas será influenciada pela vida social do sujeito. Isto nos mostra que como existem diferentes maneiras de interagir socialmente, diferentes núcleos e contextos familiares, e que cada cultura tem suas particularidades, veremos então um desenvolvimento cognitivo com maior ou menor ritmo em ganhos ou atrasos, observados em diferentes culturas. Neste contexto, urge que tanto o professor quanto o psicopedagogo entendam que seus papéis são de fundamental importância quando da solicitação não só do pensamento, mas também das atividades da criança, do adolescente e do adulto. Propiciar situações que estimulem a criatividade e as descobertas através do envolvimento prazeroso no intercâmbio de idéias, da invenção de outras maneiras de encontrar soluções para problemas e questões propostas, trará segurança ao sujeito que não se intimidará frente aos novos desafios.

5 Cabe enfim, ao profissional envolvido com a aprendizagem não cobrar do sujeito respostas prontas e estereotipadas, mas sim o saber organizar situações que favoreçam o desencadeamento do processo de equilibração. Somente desta forma haverá condições suficientes para que o processo do desenvolvimento cognitivo aconteça de forma saudável. BIBLIOGRAFIA: CARRAHER, Terezinha Nunes (org.). Aprender Pensando - Contribuições da Psicologia Cognitiva para a Educação; 11ª Ed. Petrópolis, Rio de Janeiro, Editora Vozes, 1986 BEARD. Ruth, M. Como a Criança Pensa 11ª Ed., São Paulo, Editora Ibrasa, 1999 DANTE, Luis Roberto. A Didática da Matemática na Pré-Escola - Por que, o que e como trabalhar as primeiras idéias matemáticas;; São Paulo, Editora Ática, 1996 FERNÁNDEZ, Alicia. A Inteligência Aprisionada Abordagem Psicopedagógica Clínica da Criança e Sua Família; 2ª Ed. Porto Alegre, Artes Médicas, 1991 DOLLE, Jean Marie. Para Compreender Jean Piaget, Rio de Janeiro, Editora Agir, 2000