A MITOLOGIA DO PRECONCEITO LINGUÍSTICO
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- Sebastião Belém Custódio
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1 A MITOLOGIA DO PRECONCEITO LINGUÍSTICO Volmir Antonio Silveira 1 Referência: BAGNO, Marcos. Preconceito Linguístico - o que é, como se faz. 49ª ed. São Paulo: Loyola, p. Dados sobre o autor: Marcos Bagno, nasceu em 21 de agosto de 1961, em Cataguases (MG). Ao longo de sua trajetória, muda-se para as cidades de Salvador, Rio de Janeiro e Brasília. É Doutor em Filologia e Língua Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP) e atua como professor de Linguística no Instituto de Letras da Universidade de Brasília, correlacionando esta atividade com a tradução e a escrita. Dados sobre a obra: A obra Preconceito linguístico - o que é, como faz, traz uma reflexão acerca dos mitos que envolvem a língua falada no Brasil. O autor discorre sobre a importância de desmistificar a imagem equivocada de que a língua correta é a língua escrita (formal), considerando que, é preciso respeitar às particularidades de cada região do país, dentro das quais existem singularidades, que refletem seus valores culturais. Marcos Bagno, nessa obra, atenta ainda para a importância de buscar o real contexto, em que se inserem às variações linguísticas, salientando que educar para às diferenças é compreender que o Brasil é formado a partir das variações do português falado, para além da norma culta. Resumo: A obra Preconceito Linguístico - o que é, como se faz é dividida em quatro partes, nas quais são tratados assuntos referentes ao preconceito linguístico. Para efeito deste trabalho será resenhada apenas a parte I, que é subdividida em oito parte menores. O mito I, intitulado A língua portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendente, refere-se à existência de um padrão verbal no Brasil, desconsiderando, para tanto, todas as variações linguísticas que compõem o português falado, existindo assim uma unificação da norma culta. O autor contrapõe 1 Acadêmico do 3º período do curso de Ciências Contábeis da Celer Faculdades. REVISTA CONVERSATIO / XAXIM SC / Vol. 1 / Número 1 / Jan. /Jun. / 2016 Página 201
2 o mito, por se tratar de uma visão distorcida, perante a realidade vivenciada no país, salientando que a educação é a maior prejudicada com esta mitologia arcaica, tendo em vista que a grande maioria dos alunos, emana de situações socioeconômicas desprivilegiadas e de ambientes familiares impróprios para o desempenho verbal da norma culta. Marcos Bagno, ressalta que a linguagem falada no Brasil é o português, no entanto, alerta acerca da impossibilidade de coexistir uma padronização verbal, devido as diversas variações linguísticas, provenientes dos diferentes aspectos culturais, sendo, portanto incoerente tal mito, por não compreender a realidade vivenciada pelos brasileiros. O mito II, tem por título Brasileiro não sabe português / Só em Portugal se fala bem português, onde, o autor faz menção ao complexo de inferioridade vivenciado pelos brasileiros, em que persiste a diminuição valorativa do português falado no país em contraste com o português de Portugal. Esquece-se que a época de colônia de Portugal, foi deixada no passado, menosprezando a rica dicção do país. O mito, Consiste em um equívoco, uma vez que tratam-se de duas línguas distintas, ambas com suas ortografias, regras gramaticais e pronúncias. Marcos Bagno, atenta para o (pre)conceito com a língua portuguesa pronunciada no Brasil em relação à falada em Portugal baseando-se nos exemplos do inglês americano e o britânico, onde cada um tem as suas variações, mas o que prevalece para o mundo dos negócios é o americano, situação análoga ocorre entre o português do Brasil e o de Portugal. Nota-se que já está na hora das pessoas saírem de suas realidades paralelas de inferioridade, e respeitar a riqueza de sua diversidade linguística. O mito III, titulado Português é muito difícil, é um mito que adverte para às dificuldades encontradas por brasileiros na pronúncia e escrita dentro da norma culta. O autor frisa que todas as pessoas já nascem com o domínio de sua linguagem materna, todavia, no decorrer de sua vida, muitas regras gramaticais importadas, são impostas, tornando mais complexo o aprendizado. No Brasil, grande parte da população, não tem propriedade sobre a linguagem letrada, e com isso afirmar que os brasileiros não sabem falar português, torna-se um equívoco, pois todo ser tem amplo conhecimento sobre a linguagem que foi lhe apresentada, desde o seu nascimento, o que difere do aprendizado, são as inúmeras regras importadas. REVISTA CONVERSATIO / XAXIM SC / Vol. 1 / Número 1 / Jan. /Jun. / 2016 Página 202
3 O mito IV, traz por tema As pessoas sem instrução falam tudo errado, o autor contraria esta mitologia, por defender a tese que todas as pessoas falam corretamente, variando apenas à maneira como lhe foi apresentado a linguagem. Um ponto que o autor considera são as inúmeras variações linguísticas regionais, que ocasionam diferenças na pronúncia. O autor sustenta a premissa que, toda pessoa é capaz de obter o aprendizado e se adaptar a norma culta. Logo, como seria possível afirmar que a dicção não está correta? O simples fato de um indivíduo não ter instrução, não significa que não saiba falar corretamente, mas sim que a pronúncia e conhecimento está de acordo com os moldes vivenciados, que lhe foram ensinados. O mito V, intitulado O lugar onde melhor se fala português no Brasil é o Maranhão, Neste assunto o autor demonstra a ineficiência do mito, por não possuir nada de concreto que formalize o estado maranhense como sendo o lugar que melhor se fala português no Brasil. Apreciando as inúmeras variações linguísticas que o nosso país possui devido as diferentes culturas, é inviável ter a afirmação que este ou aquele estado brasileiro se fala melhor ou pior o português, mas é possível perceber as diferenças contidas nas pronúncias. Deve-se levar em consideração o respeito a toda a forma de expressão, seja ela culta ou coloquial. Entretanto ao se falar que um estado possui a linguagem correta, torna-se um equívoco, pois cria um pré-conceito para uma determinada região, e como é possível avaliar o quão correto é a pronúncia, se não tiver amplo conhecimento da dicção regional. O mito VI, intitulado O certo é falar assim porque se escreve assim, neste conceito o autor traz para debate a dificuldade de padronização linguística em nosso país, devido as inúmeras variações culturais, que sofrem alterações dependendo à região que a palavra é pronunciada. Um ponto defendido é referente a uma padronização da escrita, para que haja concordância e fácil interpretação dos textos descritos. Entretanto em nenhum momento é possível, a obrigatoriedade de padronizar a pronúncia. Um exemplo possível, que foi abordado é referente ao sistema público de ensino, onde não tem a probabilidade de um professor obrigar o aluno a pronunciar uma palavra de forma correta, pois há inúmeros fatores linguísticos envolvidos. O autor avisa como o professor irá avaliar, se o estudante está ou não, efetuando a pronúncia correta, se o que é possível de ser cobrado é uma escrita padronizada, mas nunca uma pronúncia padronizada. REVISTA CONVERSATIO / XAXIM SC / Vol. 1 / Número 1 / Jan. /Jun. / 2016 Página 203
4 O mito VII, que traz por tema É preciso saber gramática para falar e escrever bem, neste ponto o autor contrapõe o mito com exemplos de escritores renomados, e de grande destaque da língua portuguesa, que não tinham conhecimento gramatical, e mesmo assim realizaram obras de grandes destaque para a literatura brasileira. Um dos problemas vivenciados é a superestimação da gramática, inibindo assim todo o poder criativo. A gramática, tem por objetivo a padronização e a facilitação na escrita, mas escritores têm se tornado reféns dela, e acabam deixando de lado a inspiração e o dom natural da escrita. O mito VIII, traz por tema O domínio da norma culta é um instrumento de ascensão social, em um primeiro momento o autor faz menção ao fato de grande parte das pessoas bem sucedidas e com um padrão culto de linguística, defenderem este modelo de ensino em escolas por pensarem que este é o motivo de se obter a ascensão social. Porém, a partir dos inúmeros exemplos, citados pelo autor, é possível observar a incoerência deste mito. Sendo assim não haveria disparidade salariais entre um fazendeiro e um professor. Em um primeiro momento, se atentarmos para a norma culta, é possível dizer que o professor é o que mais se destaca e é bem mais sucedido, pois faz uso da mais alta linguagem culta da atualidade, e por isso, faria jus aos mais altos salários, e ao confortarmos a realidade do português falado pelos fazendeiros, que em sua grande maioria, não possuem o domínio da norma culta, sendo, portanto, subjugados como pessoas que não são bem sucedidas, em função de não falarem um português rebuscado. Entretanto a realidade vivenciada é totalmente contrária, pois para uma pessoa obter a sua ascensão social não é preciso, necessariamente, ter amplo conhecimento linguístico. O trabalho desenvolvido por Bagno, na escrita do livro Preconceito Linguístico o que é como se faz, traz para debate oito mitos que notoriamente ainda fazem sentido para algumas pessoas. No decorrer da obra é perceptível a desmistificação de tais, onde o autor utiliza de uma abordagem detalhada, com citações que permitem a verdadeira compreensão do preconceito linguístico. Todos os mitos foram baseados em estudos do autor, o que facilita a percepção do préconceito existente, que assola e discrimina quem não tem domínio da pronúncia padrão. A partir da leitura da obra do autor, foi possível perceber a quebra de REVISTA CONVERSATIO / XAXIM SC / Vol. 1 / Número 1 / Jan. /Jun. / 2016 Página 204
5 mitologias ultrapassadas, e uma visão rebuscada perante as variações linguísticas, incluindo ao contexto todas as formas de expressão verbal. Palavras-chave: Crítica. Preconceito Linguístico. REFERÊNCIAS BAGNO, Marcos. Preconceito Linguístico - o que é, como se faz. 49. ed. São Paulo: Loyola, p. REVISTA CONVERSATIO / XAXIM SC / Vol. 1 / Número 1 / Jan. /Jun. / 2016 Página 205
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