O TRATAMENTO DA VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NOS LIVROS DIDÁTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL DE 5º A 8º SÉRIES
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- Simone Ribas Castanho
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1 O TRATAMENTO DA VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NOS LIVROS DIDÁTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL DE 5º A 8º SÉRIES Ariany Maldonado Querino Lucélia de Fátima Ribeiro Mônica Tironi Silvana Tangleica Taymara Daiane Ribeiro (G- CLCA-UENP/CJ) Vera Maria Ramos Pinto (Orientadora-CLCA-UENP/CJ) O presente trabalho visa apresentar análise da coleção dos livros didáticos Português: Leitura, Produção e Gramática, de Leila Lauar Sarmento de 5º a 8º séries do ensino fundamental, adotada em várias escolas públicas do Paraná com a aprovação do MEC e recomendada pelo PNLD, 2008 (Programa Nacional do Livro Didático). Em nossa análise, investigamos o tratamento dado ao ensino da variação linguística nesses livros. Para esse estudo, utilizamos fundamentação teórica da Sociolinguística Variacionista e para análise dos livros, o roteiro sugerido por Bagno (2009). Fundamentação teórica A ausência da variedade linguística esteve presente no ensino das propostas pedagógicas durante muito tempo. Sendo a sociolinguística um campo de estudo muito recente, que se originou nos EUA em meados da década de 1960, época, também, em que surgiu a necessidade de se modificar ensino-aprendizagem da língua materna, devido à abertura das escolas, levando-se em consideração o perfil do alunado. Assim, as instituições que antes recebiam as classes favorecidas e objetivavam formar dirigentes do país, passaram a admitir as camadas populares, democratizando a escola e, consequentemente, a reformulação das funções e objetivos de ensino. Desde muito tempo, a persistência no ensino da língua portuguesa é metódico e baseia-se na gramática tradicionalista, com foco na norma-padrão. Valorizam-se a gramática, as nomenclaturas, conceitos, visando a aprender e não à apreensão, o que gera um ensino mecânico, conservador e pouco reflexivo acerca da diversidade linguística da nossa língua. No momento em que contempla a norma-padrão como obra finalizada, o ensino fecha-se para 249
2 as demais aprendizagens, excluindo as diversas manifestações. A esse respeito, os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa (PCN) preconizam: Não há linguagem no vazio, seu grande objetivo é a interação, a comunicação com o outro, dentro de um espaço social, como por exemplo, a língua, produto humano e social que organiza e ordena de forma articulada os dados das experiências comuns aos membros de determinada comunidade linguística. ( BRASIL,2000, p.5). Segundo essa preconização dos PCN, a linguagem dá-se através de diversas interações, e não somente preservando a norma-padrão. Entretanto, o ensino da gramática não deve elencar somente a existência do falar certo. Nesse sentido, não deve validar somente a norma-padrão, aquele ideal de língua, mas também as diversas variantes desta norma. Pois qualquer língua falada por qual comunidade que seja, apresenta sempre variação, uma vez que nenhuma língua é homogênea, varia de época para época, de região para região, de classe social para classe social. Nem individualmente pode-se afirmar que o uso seja uniforme. Assim, como a sociedade humana sofre modificações, a língua também se transforma. Porém, para muitos gramaticistas, esta diversidade é vista como um problema, condenando desta forma os diferentes falares, esquecendo que a língua-mãe originou deste processo. Conforme Bagno (1999), o reconhecimento de existência das variedades linguísticas é fundamental para o ensino da língua portuguesa. Evidencia-se a isto o uso da linguagem através da comunicação, que vai além do que simples definições gramaticais, desde que é necessário o indivíduo dominar diversos usos na língua, pois, para cada situação, é uma aplicação, dependendo do diálogo e de seus interlocutores. A partir desta perspectiva, recuperam-se os estudos históricos, sociais, e culturais do dia a dia, e procura-se mostrar aos alunos a importância de se preservar e respeitar os diferentes dialetos, e a de que não existe o falar errado, mas sim pesquisar a causa deste, porque para todo o por quê tem uma resposta. Os PCN (2000) afirmam: O conhecimento, a análise e o confronto de opinões sobre as diferentes manifestações de linguagem devem levar o aluno a respeitá-las e preserválas como construções simbólicas e representações da diversidade social e histórica.ao mesmo tempo em que o aluno conhece as várias manifestações, como produto diferentes esferas sociais, deve aprender a respeitar as linguagens. Em lugar de criar fossos entre as manifestações, esta proposta indica a criação de elos entre elas. (BRASIL, 2000) 250
3 Análise e descrição dos livros didáticos A coleção Português: Leitura, Produção, Gramática,de Leila Lauar Sarmento, recomendada pelo PNLD/2008 5º a 8º séries do Ensino Fundamental, não apresenta propostas que privilegiam as variedades linguísticas, com objetivo a ampliar a competência linguística do alunado. A autora não proporciona o pensamento reflexivo sobre a língua e nem sobre os diversos dialetos encontrados em diferentes pontos do nosso país. Ao examinar os quatro volumes da coleção, verificamos que não foi encontrado nenhum capítulo específico sobre a variação linguística. O que encontramos, no final do capítulo I do livro de 5ª série (p.21), foi uma HQ do menino maluquinho, de Ziraldo, com duas perguntas como propostas de exercício: 251
4 Nesta HQ, o papagaio fala cometendo rotacismos, no lugar da letra L, pronuncia R : Craro, Maria Crara, Cróvis. O professor, para entrar no mérito da questão da variação linguística, não pode apresentar uma atitude preconceituosa com relação à fala do papagaio, ele deve mencionar aos alunos que o papagaio aprendeu, com seu dono, a falar daquela forma, que não é uma maneira adequada de se pronunciar aquelas palavras, por isso os alunos devem procurar sempre pronunciar as palavras adequadamente, pois falar craro, no lugar de claro, Maria Crara, ao invés de Maria Clara, Cróvis, Clóvis, não é uma maneira prestigiada socialmente. Entretanto, devem respeitar quem fala. Nas paginas 36, 48, 50, a autora começa a trabalhar a linguagem formal e informal, por meio dos gêneros carta, convite e cartão postal, levando, em consideração, o receptor desses textos. Este é um aspecto positivo a ser trabalhado. Segundo Bagno (2009), há, nessa atividade, o reconhecimento de que há variedades na língua. Mas, há contradição no exercício de produção textual, que pede para o aluno empregar a linguagem informal obedecendo às regras gramaticais. Por mais que no fragmento encontrado trate da escrita, e tratando-se desta deve se utilizar a língua de maneira adequada às normas, Não tem nenhum cabimento apresentar as formas variantes, em seguida propor alguma atividade que implique simplesmente em negar a existência e o valor que elas têm ( BAGNO, 2009). Na página 143, Sarmento (2008) apresenta a distinção entre linguagem formal e informal: 252
5 Já, no livro de 6ª série (p. 256), na parte gramatical, há estudo sobre o uso da linguagem oral e escrita, reconhecendo, então, que a língua escrita não é homogênea e que tanto a língua falada quanto a escrita, necessita estar adequada ao contexto para o qual é produzido.há, ainda, neste texto, menção à variedade regional. 253
6 Com essa proposta de atividade, acreditamos que a autora peca, apenas, quando quer diferenciar essas variedades, com a norma padrão, utilizando o termo, variedade padrão, pois: [...] não faz muito sentido usar os termos variedade-padrão, língua-padrão, dialeto-padrão, porque o padrão não é variedade, nem língua, nem dialeto. Para tratar de variedade, língua ou dialeto é preciso que existam pessoas de carne e osso falando essa variedade, língua ou dialeto, e ninguém fala (nem escreve) o padrão, Como o próprio nome diz é um padrão, um modelo idealizado (BAGNO, 2009) No exemplar da 7ª série, foi encontrado, na apresentação de um exercício, o emprego do termo variedade padrão ao invés de norma padrão (p. 291). Na página 156, foi observado, na parte gramatical, um trecho falando sobre o regionalismo, de forma bastante sintética, com a finalidade apenas de situar o aluno que existem as diferentes linguagens regionais, mas sem mencionar o porquê destas diversidades. 254
7 No livro da 8ª série, também, foi encontrado, nas páginas: 33, 55, 155, o uso do termo variação padrão. Em toda a coleção, a variação linguística não tem um tratamento adequado, mas sim superficial. Não há capítulo completo, explicando, analisando, exemplificando a variação linguística em si. Mesmo as diferenças linguísticas abordadas nos livros analisados ainda são falhas e distorcidas, deixando uma explicação vaga. A proposta dos exemplares se limita mais à interpretação e produção de texto e gramática. Entretanto, é relevante mencionarmos que, apesar de não tratar as variedades linguísticas de forma adequada, foi possível constatarmos que, em toda a coleção, a autora evita utilizar o termo certo e errado, prefere utilizar adequado e inadequado, e em poucos momentos é empregada palavra corrija, substituindo-a por: modifique, altere, melhore. O Programa Nacional do Livro Didático PNLD/ MEC (2008), a respeito desse assunto, nessa coleção, argumenta: A oralidade não é tratada, na obra, como objeto de ensino e aprendizagem [...] Também não há referência às variedades da linguagem oral [...] O trabalho com os conhecimentos linguísticos é, quase sempre, descontextualizado e excessivamente apegado à tradição e prescrições relativas à norma-padrão. Conclusão A coleção Língua Portuguesa: Português: Leitura, produção e Gramática, de Leila Lauar Sarmento, não apresenta uma abordagem significativa relacionada à variação linguística. A autora não faz uso das discussões vinculadas sobre o tema estudado, privando os alunos das reflexões sobre tal assunto, e dos diversos dialetos presente na sociedade. Assim, exclui a própria língua dos estudantes, uma vez que o enfoque é a norma-padrão. Referências: BAGNO, Marcos. Preconceito lingüístico: o que é, como se faz. São Paulo: Loyola, 1999 Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação lingüística. São Paulo: Parábola Editorial, Não é errado falar assim! Em defesa do português brasileiro. São Paulo: Parábola Editorial,
8 BORTONI-RICARDO, S. M. Educação em língua materna: a Sociolingüística na sala de aula. São Paulo: Parábola Editorial, 2004 BRASIL. Ministério da Educação e do deporto. Parâmetros Curriculares Nacional de Língua Portuguesa 3º e 4º ciclos. Brasilia, MOLICCA, M. C.; BRAGA, M. L. (orgs). Introdução à sociolinguística: tratamento da variação. São Paulo, Contexto, MONTEIRO, J.L. Para compreender Labov. São Paulo: Vozes, PNLD. Disponível em: ftp://ftp.fnde.gov.br/web/livro_didatico/guias_pnld_2008_linguaportuguesa.pdf. Acesso em: 10/09/2010. SARMENTO, Leila Lauar. Português: Leitura, produção e Gramática. 5ª a 8ª séries Ensino Fundamental. São Paulo: Moderna, Para citar este artigo: QUERINO, Ariany Maldonado et al. O tratamento da variação linguística nos livros didáticos do ensino fundamental de 5º a 8º séries. In: VII SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA SÓLETRAS - Estudos Linguísticos e Literários Anais... UENP Universidade Estadual do Norte do Paraná Centro de Letras, Comunicação e Artes. Jacarezinho, ISSN p
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