CRENÇAS QUE ALUNOS DE LETRAS PORTUGUÊS/INGLÊS MANIFESTAM A RESPEITO DO PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA
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1 CRENÇAS QUE ALUNOS DE LETRAS PORTUGUÊS/INGLÊS MANIFESTAM A RESPEITO DO PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA Maria Avelino de Araujo (BIC/ARAUCÁRIA), Letícia Fraga (Orientadora), e- mail: leticiafraga@gmail.com Universidade Estadual de Ponta Grossa /Departamento de Letras/Ponta Grossa, PR. Área: Línguística aplicada - sub-área: Língua Portuguesa Palavras-chave: Crenças Linguísticas, Gramática, Línguística aplicada. Resumo Por muito tempo o ensino de Língua Portuguesa tem sido pautado na gramática normativa, apresentada como uma obra acabada, tornando a língua materna uma teoria fragmentada, repleta de regras e exceções, voltada apenas para a metalinguagem; porém, não inclui aqui a discussão se deve ou não se deve ensinar gramática, mas sim a reflexão sobre o modo como ela está sendo trabalhada com os alunos, de forma descontextualizada. Contudo, esta pesquisa diz respeito a um levantamento das crenças que alunos de Letras/Inglês, de uma universidade do interior do Paraná, manifestam sobre o papel da gramática no ensino de Língua Portuguesa. Introdução A criança ao ingressar na escola já possui um conhecimento da estrutura da sua língua, sabe se comunicar em sua língua, ou seja, já possui uma gramática internalizada, mas quando chega à escola essa gramática é deixada de lado, os conhecimentos lingüísticos que o aluno tem de sua língua não são aproveitados. Terra (1997) afirma que todo falante possui uma gramática que interioriza desde tenra idade, a partir de suas próprias experiências lingüísticas, logo, esse conhecimento internalizado é independente de escolarização. Todavia, o ensino de português tem sido alvo de críticas nas últimas décadas, pois o seu ensino é voltado inteiramente para a teoria gramatical. Não obstante, o ensino de gramática nas escolas tem sido exclusivamente prescritivo, aderindo a regras de gramática normativa que são expostas conforme a tradição literária clássica, da qual são extraídos os exemplos a serem trabalhados em sala de aula (TRAVAGLIA, 2006: 101). Ainda que se questione o modo como a gramática é trabalhada em sala de aula, outro ponto para refletir, diz respeito, talvez, à crença que o professor carrega consigo sobre concepção de língua e de gramática. Contudo, é esta crença a respeito de gramática e língua que se refletirá na
2 sua prática pedagógica em sala de aula. Segundo Barcelos e Abrahão, as crenças influenciam nossas ações, nossos comportamentos, nossas atitudes. Ainda as autoras, tanto no Brasil como no exterior percebe-se uma preocupação a respeito das crenças sobre ensino e aprendizado, pois se acredita em sua influência. Ou seja, para a autora há uma relação de causa e efeito entre crença e ação. No entanto, não há apenas uma definição para o que vem a ser crença, existem várias denominações, vários pontos de vista. Conforme Barcelos e Abrahão (2008), Entendo crenças, de maneira semelhante à Dewey (1933), como uma forma de pensamento, como construções da realidade, maneiras de ver e perceber o mundo e seus fenômenos, coconstruídas em nossas experiências e resultantes de um processo interativo de interpretação e (re) significação. Como tal, crenças são sociais (mas também individuais), dinâmicas, contextuais e paradoxais (BARCELOS; ABRAHÃO, 2008, p. 18). Nota-se que a crença que os professores manifestam com relação ao ensino de Língua Portuguesa é a de que deve prevalecer o ensino tradicional,como disse acima, atrelado no ensino da gramática normativa, ou seja, o aluno torna-se um mero receptor de regras gramaticais, sem fazer reflexões em torno do que está aprendendo. Não vem ao caso abolir o ensino de gramática, pelo contrário, o ensino de gramática é importante, como Possenti (1996) mesmo afirma que o objetivo da escola é o de ensinar a norma padrão, mas de uma forma contextualizada, criando situações para que seja aprendido. Metodologia Para a realização desse trabalho, optou-se por uma pesquisa qualitativa. Os sujeitos dessa pesquisa foram 10 alunos, sendo cinco alunos iniciantes e cinco alunos concluintes do curso de Letras, os quais foram entrevistados de acordo com um roteiro de entrevista que continha 18 questões abertas que relacionavam gramática, língua e metodologia de ensino de Língua Portuguesa. Neste projeto, nossa intenção foi, junto aos alunos, fazer um levantamento sobre o conceito de gramática que estes manifestam; a relação entre ensino de língua portuguesa e gramática; por que se estuda gramática; qual concepção de língua que adotam, dentre outras questões. Optou-se por entrevista e não por questionário pelo motivo de que a aplicação deste não refletiria exatamente a crença do aluno; para Dufva (2003) apud Barcelos e Abrahão (2008: 21), as afirmativas dos questionários não são crenças em si, mas apenas uma possível formulação das crenças, desse modo, não revela o que os informantes acreditam de fato. Resultados e Discussão As principais crenças levantadas foram:
3 O ensino de português não foi bom, era focado na gramática; Língua serve para se comunicar; Ensinar língua não é ensinar gramática; Gramática são regras, normas do falar e escrever certo; O objetivo do ensino da gramática é falar e escrever bem; aprender a norma culta; A gramática serviu para escrever e falar melhor; Não se ensina gramática adequadamente na escola; O ensino de gramática deveria ser contextualizado; Ensina-se português para aprender a norma culta, em diferentes situações; A gramática serve para falar e escrever bem; Quem tem bom conhecimento em gramática produz bons textos; O brasileiro fala mal português porque não sabe gramática; Não há problemas em usar a norma culta o tempo inteiro. As crenças manifestadas acima dizem respeito tanto aos alunos iniciantes do curso como aos alunos concluintes. Puderam ser observadas outras crenças em relação ao ensino, mas procuramos salientar as mais recorrentes; também houve muita diversidade das crenças dos dois grupos, como pode ser observado acima. Nota-se que apesar de haverem questões como a de um ensino de gramática contextualizado, que é o que os autores propõem, também há questões a serem repensadas, como, por exemplo, a crença de que a gramática serve para falar e escrever bem. De acordo com Perini (1999 apud BAGNO, 2007), não existe um grão de evidência em favor disso; (...). Se fosse assim, todos os gramáticos seriam grandes escritores e grandes escritores seriam especialistas em gramática. Essa mesma crença apareceu em um trabalho anterior de ARAÚJO (2009). Isso se justifica por aparecerem crenças de que quem tem bom conhecimento em gramática produz bons textos, como se pode observar no trecho abaixo. É... isso também é verdade (risos), não, a gramática é. Porque você tem que...né, como eu disse, tem que dominar né, um pouco, você tem que saber, né, um jeito, ter um vocabulário mais amplo, né? Se você quiser fazer um texto mais elaborado, né, mais, assim, que dê um resultado melhor né, pro povo, né? Também não pode fazer aquela coisa muito difícil né, daí ninguém entende né? Mas assim, sabe né, entende? Dá uma variada assim no texto e que todo mundo entenda, né? (P. 1º ano). Outra crença a ser refletida foi a de que o brasileiro fala mal português porque não sabe gramática, presença mais marcante na opinião dos alunos iniciantes. É...é...é verdade mesmo. O brasileiro até que...até que não dá pra dizer que é muito mal assim, até que é mais ou menos, é mais ou menos (risos). O problema é que... a gente aprende a gramática só que a gente não faz, não fala a gramática. (P.1 ano). Não. Acho que a gente fala...a gente não fala mal, é...a gente sabe gramática, só não gosta de usar.(risos)(s. 1º ano).
4 Esta confusão entre língua falada e língua escrita necessita fortemente de uma análise no ensino, pois, como citado anteriormente, o ensino ainda baseia-se na língua escrita literária, mesmo com o advento da ciência lingüística em que a língua falada começou a ser objeto de estudo na ciência. Parafraseando Bagno (2007), o que o ensino tradicional espera é que os alunos falem como os grandes escritores literários, ou seja, alimenta a idéia de que o certo é falar assim porque se escreve assim, não levando em conta o conhecimento lingüístico que o aluno tem sua língua. Essa crença logo é contrariada quando afirmam que ensinar língua não é ensinar gramática. Contudo, apesar de tais crenças terem sido manifestadas, leva-se a considerar que não há uma opinião clara com relação ao ensino de gramática, pois houve algumas incoerências nas crenças acima. Conclusões Apesar dos alunos apresentarem algumas crenças tradicionais com relação à aprendizagem da língua, essa pesquisa volta-se apenas em descrever as crenças dos informantes; isso não quer dizer que venham praticar essas crenças em sala de aula, para tanto, necessitaria de uma verificação contextualizada, pois as crenças, como reforça Lima (2008: 148), as crenças não são estáticas e individuais, mas fazem sentido apenas se estiverem relacionadas a um contexto. Vale salientar que esse trabalho é uma pequena amostra das crenças de alguns alunos, portanto, procurou-se não generalizar para o curso inteiro. Agradecimentos Agradeço a professora Letícia, a Fundação Araucária e os informantes. Referências Araújo, Maria Avelino. Crenças que alunos de Letras/Inglês manifestam a respeito do papel da gramática no ensino de língua portuguesa. Disponível em: acesso em 25, Julho, Bagno, Marcos. Preconceito linguístico: O que é, como se faz. São Paulo, Loyola, 49ª Ed, Barcelos, Ana Maria Ferreira; Abrahão, Maria Helena Vieira. Crenças e ensino de línguas. São Paulo, Pontes, Lima, Solange dos Santos. Crenças e expectativas de um professor e alunos de uma sala de quinta série e suas influências no processo de ensino e aprendizagem de inglês em uma escola pública. In: Barcelos, Ana Maria Ferreira; Abrahão, Maria Helena Vieira. Crenças e ensino de línguas. São Paulo, Pontes, Possenti, S. Por que (não) ensinar gramática na escola. Mercado das Letras, Campinas, São Paulo, Terra, Ernani. Linguagem, língua e fala. São Paulo, Scipione, 1997.
5 Travaglia, Luiz Carlos. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática. 11ª ed., São Paulo, Cortez, 2006.
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