ENSINANDO UMA LÍNGUA ESTRANGEIRA PARA ALUNOS SURDOS: SABERES E PRÁTICAS
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- Nathalie Nunes de Vieira
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1 1 ENSINANDO UMA LÍNGUA ESTRANGEIRA PARA ALUNOS SURDOS: SABERES E PRÁTICAS Resumo Karina Ávila Pereira Universidade Federal de Pelotas Este artigo refere se a um recorte de uma tese de Doutorado em Educação em fase de finalização. Nele investiga se o papel da língua estrangeira na educação de surdos e os saberes docentes envolvidos nessa prática pedagógica. Para isso, tomou se como base que a política educacional orientadora do ensino de línguas estrangeiras no Brasil são os Parâmetros curriculares Nacionais de Língua estrangeira, os PCNs LE. Entrevistas foram feitas com professores de línguas estrangeiras em escolas de surdos do estado do Rio Grande do Sul. Os dados coletados mostraram que os professores apesar de utilizarem os PCN s como documentos orientadores de suas práticas sentem falta de uma política voltada às especificidades lingüísticas dos alunos surdos. Nesse sentido, os professores acabam criando seus próprios materiais de ensino e utilizando seus saberes provenientes da própria experiência na sala de aula e da experiência de troca com seus pares. Palavras chave Ensino de LE para surdos, formação de professores bilíngües, saberes docentes Introdução A literatura atual sobre educação de surdos defende de maneira incisiva que os surdos têm por primeira língua a Libras Língua brasileira de sinais, uma língua de modalidade viso espacial e como segunda língua o português na sua modalidade dois, ou seja, a escrita. Já em relação ao campo da aprendizagem de línguas estrangeiras por surdos apresenta muitas dúvidas se estas constituem ou não como terceira língua para estes sujeitos. Uma rápida revisão bibliográfica sobre ensino de línguas estrangeiras para surdos nos permite mapear poucos trabalhos científicos a respeito de como ensinar essas línguas (métodos e abordagens) e um número razoável narrando suas práticas pedagógicas realizadas nas próprias escolas de surdos. Rosa et alli (2008) comentam que para se pensar um ensino de LE para surdos é preciso entender que estes percebem o mundo de forma distinta e interagem com ele de forma diferente dos ouvintes. Segundo as autoras, essa seria uma das causas que justificam a não obrigatoriedade dos surdos de desenvolverem a oralidade, nem na sua 02071
2 2 L2 a língua portuguesa e nem na língua estrangeira alvo. Essas autoras acreditam que deve ser priorizado o ensino da modalidade escrita da LE para surdos. Pensando no contexto da educação de surdos brasileiros e dos ouvintes brasileiros, o Método da Tradução era e ainda é o método mais utilizado em sala de aula, pois parte da primeira língua para o ensino da segunda língua. Todavia, as questões que envolvem a aprendizagem de uma L2 a partir da L1 do aluno são cabíveis para os alunos ouvintes que possuem, na maioria dos casos, a língua portuguesa como L1, ou seja, L1 e L2 na mesma modalidade. Quando trata se de alunos surdos, existe mais uma língua envolvida nesse processo, que é a LE alvo, sendo que elas são de modalidades diferentes. O espaço educacional destinado a aprendizagem de línguas estrangeiras ainda é a escola (convencional, pública) ou escolas particulares. Neste recorte de pesquisa o foco da investigação foi no ensino de LE para surdos em escolas específicas para esses sujeitos. Neste espaço educacional, a aprendizagem de uma LE é atravessada por duas línguas, a Libras e o português, podendo se caracterizá lo como um espaço de ensino bilíngue de aprendizagem. Documentos oficiais norteadores da prática pedagógica Os PCN LE do ensino fundamental e do ensino médio têm a intenção de ser uma fonte de referência para discussões sobre o ensinar e o aprender língua estrangeira nas escolas brasileiras. Para que seja possível um ensino de LE reflexivo, estes apontam não terem um caráter dogmático, ou seja, constituem se como uma referência de ensino. Um dos objetivos dos PCN s é trazer de volta o papel da LE no contexto educacional brasileiro, pois o aprendizado de uma LE e da Língua Materna é um direito assegurado a todo cidadão de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases e com a Declaração Universal dos Direitos Linguísticos, publicada pelo Centro Internacional Escarré para Minorias Étnicas e Nações (Ciemen) e pelo PEN Club Internacional. (PCN,1998) No contexto escolar, o estudo da gramática das línguas estrangeiras era privilegiado em detrimento de um ensino que estivesse focado em uma abordagem comunicativa. No Brasil, a falta de professores com formação linguística e material didático teve importante influência na falta de motivação para aprender uma língua 02072
3 3 estrangeira. Assim, o ensino de uma LE ficava focado apenas no estudo de formas gramaticais, na memorização de regras e na prioridade da língua escrita. (PCN, 2000) Para que se tenha efetivamente um ensino de LE é necessário que ele desempenhe uma função social na sociedade brasileira. A aprendizagem de uma língua estrangeira precisa garantir ao aluno seu engajamento discursivo através de atividades pedagógicas centradas na constituição do aluno como ser discursivo, ou seja, sua construção como sujeito do discurso que cria significados por intermédio da utilização de uma língua estrangeira. (PCN, 1998) Assim, a aprendizagem de uma língua estrangeira e de uma língua materna é um direito de todo cidadão, conforme expresso em lei de diretrizes e bases e na declaração universal dos direitos linguisticos. É inquestionável a importância da língua inglesa no mundo atual devido à abertura nos âmbitos comercial, cultural, científico, político e até mesmo turístico, na qual ela é ferramenta que permite que as trocas e/ou relações aconteçam. (SILVA, 2005) Metodologia entrevistas com professores de LE de escolas de surdos Professores de língua estrangeira LE ( inglês, francês ou espanhol) que atuam em escolas de surdos do Rio Grande do Sul foram convidados a participar dessa pesquisa. O Estado do Rio Grande do Sul possui doze escolas de surdos. Para esse recorte foram escolhidas três professores de cada uma dessas escolas para serem entrevistados. As temáticas norteadoras das entrevistas foram: a) tempo de trabalho na escola de surdos, b) formação acadêmica, c) como e onde aprendeu a Libras, d) formação específica para ensino de surdos, e) em quais documentos oficiais esses professores se apóiam para suas práticas, f) quais metodologias de ensino de LE permeiam as aulas, g) quais mudanças fariam na sua prática pedagógica. As três entrevistadas já atuam na educação de surdos a mais de cinco anos, trabalhando no ensino de LE para surdos. Todas as entrevistadas também possuem uma formação específica para atuarem com esses alunos seja ela em nível de formação continuada ou especialização. O primeiro contato com a escola de surdos é o que possibilita, muitas vezes, o contato com a Língua de sinais. No caso dessas professoras a aprendizagem dessa língua foi acontecendo através da imersão lingüística que a escola de surdos propiciava, e assim as mesmas foram aprendendo a Libras
4 4 As entrevistadas afirmaram que utilizam os PCN s como referência, mas não como norteadores, uma vez que as especificidades linguísticas de grupos minoritários como os surdos, índios e outros grupos não são profundamente contempladas neste documento. Nesse sentido, as professoras utilizam se de seus saberes pessoais, e daqueles provenientes da sua formação acadêmica e da sua própria prática docente para elencar critérios e metodologias próprias para o ensino de LE para surdos nesses espaços escolares. Os saberes profissionais dos docentes constituem se como plurais, compósitos e heterogêneos, pois fazem relação com a prática da sala de aula, conhecimentos do saber fazer e saber ser bastante diversificados. (TARDIF, 2002) Nesse sentido, o ensino de línguas estrangeiras para surdos atravessa uma grande barreira metodológica, pois muitos professores ainda baseiam suas aulas em uma abordagem de tradução e gramática, não valorizando o aspecto comunicacional. Uma das três professoras entrevistadas menciona que gostaria que materiais específicos para o ensino de línguas estrangeiras para surdos fosse criado para auxiliar sua prática. Enquanto esses materiais não estão acessíveis a mesma procura adaptar os livros e materiais já existentes a realidade lingüística e cultural de seus alunos de acordo com seus saberes docentes. Referências Bibliográficas BRASIL. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros curriculares nacionais, Linguagens, códigos e suas tecnologias Língua Estrangeira Moderna. Brasília, BRASIL. Ministério da Educação Secretaria de Educação Fundamental.Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua estrangeira / Secretaria de Educação Fundamental.. Brasília, ROSA,Letícia.;SANCHES,Cleidimara;FARIAS,Mayla;FIGLIE,Vanessa;VOLTOLINI, Viviane;UBA,Rossana. Aprendizagem de Língua Estrangeira: Um direito do aluno surdo. Anais do Educere, Acessado em SILVA, Claudiney M. de Oliveira. O surdo na escola inclusiva aprendendo uma língua estrangeira (Inglês): Um desafio para professores e alunos. Dissertação de Mestrado.Universidade de Brasília: Brasília, TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Editora Vozes. Petrópolis,
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