Fatos, Mitos e Agenda O FUTURO DO SISTEMA DE SAÚDE BRASILEIRO
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- Bruna Gama Barros
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1 Fatos, Mitos e Agenda O FUTURO DO SISTEMA DE SAÚDE BRASILEIRO
2 O BRASIL GASTA 9% DO PIB COM SAÚDE ARGENTINA 8,1% CHILE 8,0% RUSSIA 5,1% INDIA 4,1% CHINA 5,1 % ESPANHA 9,5% FRANÇA 11,9% Fonte: Banco Mundial 2
3 MAS O GASTO POR BRASILEIRO... O gasto médio anual por brasileiro é de R$1.500,00 enquanto a média por habitante dos países da OCDE é de R$7.500,00. Para atingir o padrão de gasto da OCDE comprometeríamos 45% do PIB. Ou seja, gastamos muito como % do PIB, mas pouco por habitante. 3
4 Todos aqui sabem que o gasto vai aumentar Acelerado envelhecimento da população Disseminação do uso das novas tecnologias Expansão do desejo individual de consumo de produtos e serviços médicos O Sistema está se tornando insustentável. 4
5 Brasil Alto gasto com saúde em relação ao PIB, próximo ao dos países desenvolvidos. Baixo gasto com saúde por habitante, em relação aos países desenvolvidos. Envelhecimento da população. Mudança epidemiológica, para doenças crônicas e de maior custo de tratamento. Incorporação acelerada de inovação tecnológica. 5
6 O FINANCIAMENTO DA SAÚDE Os Governos federal, estaduais e municipais respondem por 43% do gasto total com saúde, através do SUS. As Famílias compram planos de saúde e também, diretamente, serviços e produtos médicos, farmacêuticos e hospitalares, participando com 39% do gasto. As Empresas, pagando assistência própria e planos de saúde para seus empregados, participam com 18% do gasto total. Fonte: Cálculo próprio, a partir dos dados do Sistema de Contas Nacionais do IBGE 6
7 Financiamento Público 1. Vinculação orçamentária? Emenda Constitucional (EC29) pretendia vincular no mínimo 10% do orçamento para o financiamento da saúde pública. Sua regulamentação, após tramitar cerca de 10 anos no Congresso, foi sancionada em 2012 com vetos. Na prática, tais vetos mantiveram a desvinculação e a flexibilidade orçamentária dos gastos com a saúde pública. 7
8 Financiamento Público 2 2. Aumento de impostos? Atualmente, a carga tributária brasileira, após bater sucessivos recordes, situa-se em 37% do PIB. Aumento de recursos por esta via parece difícil. E o PIB... Introduzir novo instrumento fiscal específico para a saúde também não seria fácil, como demonstrado na fracassada tentativa de recriação da CPMF em
9 Financiamento pelas Famílias Aumento de preços dos planos? Entre 2000 e 2011, a variação do IPCA foi de 114,2%. Contratos das pessoas físicas com os planos de saúde, 150,9 % e TCs 203,1%. Gastos com planos de saúde representam parcelas cada vez maiores dos orçamentos domésticos. Qual será o limite? Fonte: ANS e IBGE 9
10 Financiamento pelas Empresas Maior pagamento de planos de saúde pelas empresas? Empresas também enfrentam a expansão de seus gastos com a saúde de funcionários. Custos vêm aumentando e atingiram 8,6% da folha salarial. 48% delas pretendem reduzir seus planos de saúde. Fonte: Towers,
11 Os diferentes Marcos Regulatórios Sistemas de proteção social: Esping-Andersen, Wood e Gough, Ferrera, DiGiovanni, Barros Silva, Sonia Draibe, Manuel Riesco e outros: Diferenciados modelos de proteção social como resultado da combinação dos papéis dos Governos, das Famílias e das Empresas, moldados pelos marcos culturais e políticos de cada país, no financiamento e na abrangência da assistência aos cidadãos. 11
12 O esgotamento de nossa capacidade de financiamento, no marco regulatório atual Governos, Famílias e Empresas vêm dando sinais de esgotamento de sua capacidade de continuar aumentando os recursos destinados à saúde. 12
13 A OCDE Os países membros da OCDE vêm trabalhando nesta temática. Na França, na Alemanha, na Espanha, dentre outros países, em especial após a crise 2008/2009 e 2011/2012, se discute a redefinição da regulação e do papel dos setores público e privado na assistência à saúde, para evitar desperdícios e lacunas. 13
14 Australia 100% de cobertura do sistema público, todos os residentes permanentes têm direito ao Medicare, financiado por impostos. Gasto privado é 7,3% do total. 44,9% da população tem alguma cobertura privada. A cobertura privada é duplicada, complementar e suplementar. 30% dos prêmios são devolvidos nas compras individuais de seguros privados. Fonte: OCDE 14
15 Brasil 100% de cobertura do sistema público, todos os residentes são cobertos pelo SUS, financiado por impostos federais, estaduais e municipais. Gasto privado é 57% do total. 24,4% da população tem cobertura privada. A cobertura privada é duplicada. As despesas com saúde são dedutíveis pelas pessoas físicas, do total da renda tributável. As empresas podem abater da renda tributável os gastos com planos de saúde com seus funcionários. Fonte: SUS, IBGE e SRF-MF 15
16 Conceitos Sistemas duplicados: mesma cobertura, mesmo complexo público-privado médico industrial. Sistemas complementares: sistema estrutural tipo núcleo e periferia, central e acessório, principal e secundário. Sistemas suplementares: sistemas sem núcleo, que trabalham por adição, sem principal e secundário, forte independência entre as partes do sistema. 16
17 Agenda da OCDE Tendo como pano de fundo a re-definição dos papéis do setor público e do setor privado, vêm sendo pesquisados: A criação de novos mecanismos de financiamento privado para a saúde. A criação de instrumentos financeiros para enfrentar o envelhecimento populacional. O desenvolvimento de novos mecanismos de franquia e co-participação dos usuários que solicitam serviços privados e públicos. A redefinição do tratamento fiscal para quem não utiliza os serviços públicos de saúde. Fonte: OCDE, Private Health Insurance in OECD Countries: The Benefits and Costs for Individual and Health Systems. 17
18 Um novo marco regulatório para a saúde As informações que temos sobre o envelhecimento populacional, a tecnologia, o aparente esgotamento das fontes financiadoras. As recentes manifestações das ruas. Indicam que se deve pensar em um novo arranjo institucional para a saúde. Em que o papel do Estado, das Famílias e das Empresas seja revisto. 18
19 O obstáculo ideológico de fundo No entanto, há um grave conflito ideológico na saúde. Os interesses são diversos, o mundo acadêmico, em geral, trata a questão da saúde como nobre demais para o mercado. Este conflito ideológico obscurece o debate. Afinal, é difícil uma exclusiva solução de mercado para resolver os problemas da saúde, dadas as relevantes questões sociais que envolvem o tema; assim como não se pode imaginar que o setor público ocupe o espaço do setor privado, tendo em vista as suas grandes limitações atuais. 19
20 A questão ideológica estimula a criação de mitos 20
21 Vamos tratar de três deles: Primeiro mito da saúde: Nosso sistema é supletivo. Não, nosso sistema é duplicado. Em tal sistema as relações entre o público e o privado não deveriam ater-se à cobrança de um ressarcimento. Não estamos falando de palavras, supletivo, duplicado. E sim de distinguir papéis, atribuições, iluminar áreas de sombra, evitar desperdícios num sistema duplicado. Os sistemas público e privado são perversamente competitivos entre si. Atuam sobre um mesmo complexo público-privado médico industrial com evidente desvantagem para o sistema público. 21
22 Segundo mito da saúde: Uma derivação da duplicidade é oferecimento do plano de referência. a obrigatoriedade de A venda de planos de coberturas menores é tido como falta gravíssima, oferecimento de vaga na fila do SUS, transferência para o SUS dos casos mais complexos. Aí o mito. 22
23 Os chamados planos ambulatoriais geram insegurança jurídica para operadoras e beneficiários. Esta questão remonta ao processo de aprovação da lei O plano ambulatorial, que só atende o beneficiário por 12 horas, sem internação, existe e é devidamente regulamentado pela ANS. Poderia ser iniciada por ai a discussão sobre a existência de outros tipos de planos que não o de referência. Mas o tema é um mito. 23
24 Terceiro mito da saúde: Extinguir as deduções tributárias dos gastos com a saúde aumentará os recursos para o SUS. Existem muitos outros mitos, mas sobre este tema vamos nos estender mais um pouco. 24
25 Legislação: Pessoas Físicas: A Lei 9250/95, permite abater da base de cálculo do imposto devido os gastos com despesas médicas, hospitalares e com planos de saúde. E também com Cultura, Cinema, Fundos de Amparo à Criança, Pesquisa Oncológica e Apoio a Deficientes. Pessoas Jurídicas: A Lei 9249/95 permite tratar as despesas com assistência médica como despesa operacional na apuração do lucro real e na base de cálculo da CSLL. 25
26 As Pessoas Jurídicas pagando planos de saúde para funcionários foram responsáveis por 2,6% das deduções em Foram R$ 2,9 bilhões. Este Programa financiou o atendimento de aproximadamente 29,1 milhões de pessoas. Um número algo menor, pois não se benificiam órgãos públicos, lucro presumido e Simples. Comércio e Serviços : R$ 35,2 bilhões, ou 30,9%. Industria : R$ 22,3 bilhões, ou 19,6%. 26
27 Exemplo numérico: R$ 100 de plano, R$ 0 de lucro. Se não pagasse, 64% lucro, 36% impostos. O lucro das empresas seria maior. Se vão R$ 36,00 para o orçamento, R$1,80 devem ir para a saúde (5% do orçamento). Estes R$1,80 teriam de pagar o atendimento que os 100 pagam para os funcionários. Haveria imediata perda de qualidade. E não há vínculo. O orçamento não vincula tributos com gastos com a saúde. Pode gerar para o SUS menos que R$ 1,80. 27
28 Imagine-se que o MF recebesse recursos extras com a eliminação destes gastos tributários. Seriam estes recursos reaplicados no SUS? Ou iriam para o superávit primário? Não há qualquer garantia que iriam para a saúde pública, muito ao contrário, conforme vimos na regulamentação da PEC
29 O sistema de incentivos fiscais não retira recursos do sistema público de saúde. A eliminacaõ da renu ncia fiscal com gastos privados em sau de implicaria, marcadamente, onus tributa rio para as classes de renda me dia e me dia baixa, e as empresas intensivas de mão de obra. Restando du vidas se recursos financeiros adicionais chegariam, de fato, aos mais pobres. 29
30 A expressão do mito: Ademais, estratégias como subsídio fiscal para gasto privado com saúde e incentivos a planos para funcionários públicos confundem e prejudicam o sucesso da universalidade e devem ser combatidos, não obstante seu enfrentamento não garanta o sucesso do SUS". ( in: Evidência sobre o mix público privado: agravamento das iniqüidades e da segmentação em sistemas nacionais de saúde. Ciência e Saúde Coletiva, vol. 16, 2011.) 30
31 Os fatos são conhecidos por todos e ao longo do dia vamos vê-los com detalhes. Veremos que o sistema de saúde brasileiro caminha para a insustentabilidade. E qual seria a agenda da sustentabilidade, o futuro do sistema de saúde brasileiro? 31
32 Propomos nova regulação na relação sistema público/sistema privado, com a introdução de conceitos como eficiência, racionalização, segurança jurídica; a criação de programas de redução de custos dos sistemas público e privado; a adoção de medidas que visem o aumento da capacidade de financiamento do SUS e dos planos de saúde. Para tanto, repensar o marco regulatório da saúde identificando e combatendo a mistificação. 32
33 MUITO OBRIGADO! 33
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