Comunicação e Expressão
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- Marcos Cabreira Bicalho
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1 Comunicação e Expressão
2 A Dissertação Caro aluno: A partir deste momento, refletiremos um pouco sobre uma outra modalidade de texto: a dissertação. Diante das nossas reflexões anteriores, surge agora, uma importante questão: Se descrever é caracterizar um ser ou um objeto e se narrar é contar sobre algo ou alguém, o que seria dissertar? Leia a notícia a seguir: O desmatamento no Brasil 03/05/08. José Um dos diversos problemas que o Brasil está enfrentando hoje, é o triste desmatamento que ocorre nas milhares de florestas que existem em nosso país. Madeireiras clandestinas abriram enormes clareiras em nossas florestas, desrespeitando não só o local, mas sim a vida que ali existe. Esse problema poderá agravar ainda mais outro grande problema, que é o aquecimento global, que está atingindo todo o mundo. A Amazônia é um dos estados mais afetados pelo desmatamento, mesmo sendo a maior riqueza ecológica não só do nosso país, mas sim de todo o mundo. O desmatamento deverá ser discutido pelas autoridades brasileiras e quem o comete deve ser severamente punido. Fonte: O texto analisa um grave problema que o Brasil vem enfrentando atualmente: o desmatamento de suas florestas. O autor destaca que madeireiras clandestinas têm derrubado árvores de forma desordenada, sem pensar nas consequências que isso tem trazido ao meio ambiente.
3 Para abordar a questão, esse autor não nos contou uma história, nem descreveu uma região desmatada, utilizando-se, para isso, de uma linguagem figurativa, mas ele utilizou elementos abstratos (diversos, problema, afetados, riqueza etc.) para expor o seu ponto de vista e nos informar sobre o problema. O texto tem uma informação muito direta, o que o torna extremamente objetivo. E é essa qualidade, a objetividade, que dá forma ao texto dissertativo. Portanto, uma das primeiras características do texto dissertativo é que, por intermédio dele, o autor analisa e interpreta a realidade por meio de elementos abstratos (problemas, enfrentando, desrespeitando, punido etc.). Quando se utiliza de termos concretos, tais como, autoridades, florestas, país etc., toma-os na sua forma mais ampla, ou seja, não fala de uma floresta em particular ou analisa algum problema específico nela existente. Para discutir tais problemas, ele não elabora uma história, mas procura tratar o problema universalizando a questão. Caso você não se lembre o que são termos concretos e abstratos, volte à aula Textos Temáticos e Textos Figurativos. Além disso, vemos que a progressão dos enunciados obedece a uma relação lógica e não cronológica tal como ocorre na narração. Primeiramente foi colocado o problema, o que ele poderia causar e qual deveria ser a solução. Portanto, para Platão e Fiorin (1996, p.252) a dissertação é o tipo de texto que analisa, interpreta, explica e avalia os dados da realidade. Esses autores dizem que as características do texto dissertativo são: a) Ao contrário do texto narrativo e do descritivo, O TEXTO DISSERTATIVO é temático, ou seja, não trata de episódios ou seres concretos e particularizados, mas de análises e interpretações genéricas válidas para muitos casos concretos e particulares; opera predominantemente com termos abstratos. Ex: Um dos diversos problemas que o Brasil está enfrentando hoje, é o triste desmatamento que ocorre nas milhares de florestas que existem em nosso país. b) Como o texto narrativo, ele mostra mudança de situação. Ex: O texto sobre o desmatamento no Brasil trata do problema que tal ação criminosa provoca, não só
4 na região atingida pela derrubada indiscriminada, mas também o aquecimento global que afeta o mundo como um todo. c) Ao contrário do texto narrativo, cuja ordenação é cronológica, ele tem uma ordenação que obedece às relações lógicas. Ao abordar sobre as consequências do desmatamento, a mudança de abordagem está em relação ao assunto e não numa relação temporal. Primeiro trata das consequências na própria região, depois no mundo. d) Já que a dissertação pretende expor verdades gerais válidas para muitos fatos particulares, o tempo por excelência da dissertação é o presente no valor atemporal ou seja, não há referência propriamente dita ao tempo cronológico; admite-se nela ainda o uso de outros tempos do sistema do presente, a saber: o presente com valor temporal: o pretérito perfeito e o futuro do presente. Madeireiras clandestinas abriram enormes clareiras em nossas florestas, desrespeitando não só o local, mas sim a vida que ali existe. Esse problema poderá agravar ainda mais outro grande problema, que é o aquecimento global, que está atingindo todo o mundo. (PLATÃO & FIORIN. 1996, p.252) Muitas vezes pensamos que é somente num texto dissertativo que o escritor manifesta o próprio ponto de vista sobre um determinado assunto. Como nós já vimos anteriormente, todo texto possui um tema e ao elaborá-lo, quer seja por meio da dissertação, da narração ou da descrição, o escritor está manifestando o que pensa sobre o assunto. O que difere cada tipo de texto é o modo como o escritor apresenta suas opiniões. Platão e Fiorin (1996, p.253) vão dizer que a narração vai mostrar mudanças de situação, ou seja, o escritor vai captar o mundo e vai contar essa transformação, como ocorre no conto Pausa. Na descrição serão expostos propriedades e aspectos de um ser particular numa relação de simultaneidade, ou seja, não relatando mudanças conforme ocorre no texto Jardim Morto de García Lorca. Já no texto dissertativo, o escritor procura explicar, analisar, classificar e avaliar os seres concretos, por isso, sua referência ao mundo faz-se por conceitos amplos, muitas vezes abstraídas do tempo e do espaço. Dessa forma,
5 o discurso dissertativo típico é o da ciência, o da filosofia, o dos jornais, etc. Podemos dizer que existem dois tipos de textos dissertativos: o expositivo e o argumentativo. O Texto Dissertativo Expositivo O texto expositivo tem por objetivo desenvolver ou explicar um assunto, ou seja, discorrer sobre ele. É muito comum usarmos esse tipo de texto numa apresentação científica, quando fazemos um relatório, um artigo enciclopédico ou quando vamos explicar algo. Em princípio, o texto expositivo não está preocupado com a persuasão e sim, com a transmissão de conhecimento, sendo, portanto, um texto informativo. Dessa forma, ele apresenta informações sobre um objeto ou fato específico, procurando descrever e enumerar suas características. Um fato importante é a apresentação de muita informação e, caso se trate de algo novo, é necessário que haja inúmeros detalhes para que o leitor consiga construir uma imagem do que está sendo abordado. Um bom texto expositivo deve deixar claro o assunto ou o tema central sobre o qual está se tratando. Quando se trata de temas polêmicos, a apresentação de comentários se faz necessária para que o autor informe aos leitores sobre as possibilidades de análise do assunto discutido. Leia o texto a seguir: Vacina contra H1N1 será testada em humanos no Brasil O Instituto Butantan está convocando voluntários em São Paulo para testar a tolerância e segurança de 13 vacinas fabricadas pela própria instituição contra o vírus H1N1, causador da gripe suína. São necessários 400 voluntários, de
6 18 a 50 anos, de ambos os sexos e que sejam saudáveis. Os participantes não podem ter contraído o vírus, não podem ser portadores de HIV e as mulheres não podem estar grávidas. Os estudos serão conduzidos pelo Instituto da Criança do Hospital das Clínicas, pelo Hospital Universitário da USP e pelo Butantan. As vacinas foram feitas com amostras importadas do vírus e, só após os testes, o Instituto definirá qual será produzida de fato. A pesquisa deve terminar em março, para que a fabricação da vacina possa começar. ( Acesso em 08/02/2010) O texto acima está informando o leitor sobre o teste de vacina contra o vírus da gripe suína, que o Instituto Butantan fará em voluntários. Observe que esse texto não tem por objetivo convencer o leitor sobre os benefícios da vacina, mas o seu propósito é apenas o de informar, sem emitir um juízo de valor. É um texto dissertativo, porque ele procura ser objetivo na sua informação e também procura transmitir o seu conteúdo de forma clara, tendo na sua maioria elementos abstratos da linguagem (estudos, testar, tolerância, segurança, participantes, pesquisa etc.). Quando vamos responder uma questão de prova ou de algum concurso, nós geralmente elaboramos um texto expositivo, pois deveremos responder de forma clara, com todas as informações necessárias, o que se pergunta. Isso tem sido um grande problema, principalmente quando falamos em questões de provas, pois, muitas vezes, o estudante pensa que respondeu corretamente à questão formulada e que conseguiu transmitir, com clareza, o que sabia; mas, no momento de verificar o resultado, se surpreende ao perceber que sua resposta foi considerada incorreta. Para que isso não ocorra, precisamos ler atentamente a questão e entender o que
7 de fato se pede para que possamos responder acertadamente. Vejamos um exemplo bem simples: suponhamos que o professor dê a seguinte questão: Leia o texto abaixo: Para Escrever Claramente Escrever com clareza é muito importante para estabelecer uma comunicação eficiente no ambiente profissional. Veja alguns "princípios da redação clara", segundo o livro O Poder da Simplicidade, de Jack Trout e Steve Rivkin. 1. Dê preferência às sentenças curtas. 2. Prefira a palavra mais simples à mais complexa. 3. Escolha a palavra mais familiar. 4. Evite palavras desnecessárias. 5. Coloque ação em seus verbos. 6. Escreva como você fala. 7. Escreva para se expressar, não para impressionar. ( Acesso em 08/02/2010) O texto Para Escrever Claramente é um texto expositivo. Justifique. Como você responderia a questão: O texto Para Escrever Claramente é um texto expositivo. Justifique. Talvez, muitos alunos tenham começado a sua resposta dessa forma: Sim ou Não. Se você fez isso, a sua resposta está equivocada, pois não foi formulada uma pergunta e sim feita uma afirmação, ou seja, o professor não quer saber se o texto é ou não é expositivo; ele já está dizendo que é. O que se quer saber é: por que o texto Para Escrever Claramente é expositivo?
8 Outra resposta que estaria errada seria: Ele é expositivo porque expõe um assunto. Como vimos, todo texto trata de um assunto, nenhum texto é pautado em nada. Sempre iremos escrever sobre alguma coisa. Agora, se você disse: O texto Para Escrever Claramente é expositivo porque trabalha com os elementos abstratos da linguagem, tais como, clareza, comunicação, profissional, a fim de fornecer algumas dicas para a elaboração de um texto bem escrito; além disso, a exposição dos elementos é feita de forma clara e denotativa, pois as palavras foram utilizadas em seu sentido literal, objetivo e explícito, possuindo, assim, um nítido caráter instrucional, PARABÉNS! A sua resposta está corretíssima, pois nela existem informações importantes que caracterizam um texto expositivo. Um recurso muito útil do texto expositivo é a definição. Muitas vezes, quando vamos escrever um texto, recorremos à definição para deixar claro para o nosso leitor sobre o que, exatamente, estamos falando. Engana-se quem pensa que a definição é utilizada apenas para apresentação de termos técnicos. Muitas vezes, em nosso texto, queremos esclarecer em qual sentido um determinado termo está sendo empregado e, para isso, utilizamos a definição. Observe o texto abaixo: Pobre excluído Globalização está criando um novo tipo de pobre. erentemente dos pobres que tinham renda baixa, viviam pacífica ecentemente, em bairros humildes ou no meio de bairros ricos, m esperança de que seus filhos dariam um salto social, surgem ra pobres que vivem em guetos, no meio da violência, sem prego, com receitas ocasionais, muitas vezes derivadas do co de drogas, obrigados a ver seus filhos e filhas jogados à stituição. A pobreza de antes decorria da falta de modernidade; a a é causada pela modernidade. BUARQUE, Cristovam. Admirável mundo atual ( Acesso em 08/02/2010) Todos nós conhecemos o sentido dos termos pobres e excluídos. Cristovam Buarque, porém, pretende nos demonstrar que esses termos assumem uma nova
9 significação em um mundo globalizado. Para tanto, recorre à definição e nos informa sobre o significado de pobre excluído, como se estivesse preparando um verbete de dicionário, quando ele diz pobres que vivem em guetos, no meio da violência, sem emprego, com receitas ocasionais, muitas vezes derivadas do tráfico de drogas, obrigados a ver seus filhos e filhas jogados à prostituição. Portanto, o texto expositivo visa falar sobre um assunto para que os outros o conheçam. Assim, podemos defini-lo como um tipo de texto que tem por finalidade transmitir uma informação de modo claro e objetivo. Texto Dissertativo Argumentativo Agora proponho outra pergunta para sua reflexão: Você poderia me dizer qual é a diferença de um texto dissertativo expositivo e um texto dissertativo argumentativo? Talvez você diga: essa é fácil: um texto expositivo expõe uma ideia e o argumentativo argumenta sobre um assunto. Parece óbvio, mas não é tão simples assim. Conforme já vimos, o texto expositivo procura explicar algo para alguém, tendo como objetivo transmitir conhecimentos para o leitor; já o texto argumentativo possui outras características. Cabe deixar claro que, nesse momento, veremos apenas o que é argumentar e como se organiza tal texto. No próximo capítulo, aprofundaremos a nossa análise, estudando as estratégias de argumentação e seus possíveis defeitos. Argumentar é defender uma ideia, procurando apresentar razões para que as pessoas, com quem estamos argumentando, aceitem nosso ponto de vista como sendo o melhor, o mais acertado, o mais equilibrado ou o mais verdadeiro.
10 Em outras palavras, sempre que argumentamos, temos o objetivo de convencer o outro que nós temos razão ou que é lógica a forma como pensamos. Para que isso fique mais claro, nós precisamos entender, primeiramente, como funciona a ação comunicativa. Observe o quadro abaixo. Para que a comunicação aconteça são necessários, no mínimo, esses elementos: o emissor ou remetente, que é aquele que envia a mensagem (pode ser uma única pessoa, um grupo de pessoas ou uma instituição - uma empresa, um sindicato, uma universidade etc.); o receptor ou destinatário, que é aquele a quem a mensagem é endereçada (também pode ser um indivíduo ou um grupo etc.); a mensagem, que é o conteúdo das informações transmitidas; o canal, que é o meio pelo qual a mensagem é transmitida, que pode ser uma carta, um , um vídeo etc.; o código, que é o conjunto de elementos linguísticos selecionados e de regras definidas para combinar tais elementos e que deve ser conhecido tanto do emissor quanto pelo receptor - quando consideramos a comunicação verbal, o código usado é a língua, tanto na modalidade oral quanto escrita. Em nosso caso, o código utilizado é a Língua Portuguesa. Finalmente, destacamos o referente, que é o contexto ou a situação em que a mensagem foi dita.
11 Para deixarmos mais claro o que acabamos de expor, daremos um exemplo: Quando você escreve um texto, você está exercendo o papel de emissor. O receptor será a pessoa ou o grupo a quem seu texto é dirigido, correto? A mensagem é aquilo que você está escrevendo e está tentando transmitir para outra pessoa, que pode ser uma informação, uma pergunta, um esclarecimento etc. Como você está escrevendo, o canal escolhido para que sua mensagem chegue até ao receptor poderá ser um , uma carta, um relatório etc. O código utilizado será, muito provavelmente, a língua portuguesa. O referente será a situação que o levou a escrever: trabalho, amizade, família etc. Dessa forma, quando produzimos um texto, estabelecemos um ato de comunicação. Ao realizá-lo, você deverá levar em conta todos os elementos envolvidos: seu papel de emissor, as características do receptor, seu conhecimento da situação em que está se dando essa mensagem, seu domínio do código - que nesse caso será a língua - e a escolha de um canal eficiente para a transmissão da mensagem. Isso vale para qualquer tipo de texto. Todavia, quando falamos de texto argumentativo, esses elementos terão uma importância muito maior. Talvez, você pergunte: por quê? Porque ao argumentar você deverá ter consciência de quem será o seu receptor, pois será ele quem determinará o que você irá dizer e como dizer. Por exemplo: se você quiser convencer um amigo que a sua opinião é a melhor sobre um determinado assunto, você, certamente, utilizará uma estratégia de argumentação. Agora, se você for convencer o seu chefe sobre a implantação de um projeto que você elaborou, com certeza, a estratégia de argumentação será outra. Muitas vezes o conteúdo da mensagem pode ser o mesmo para pessoas diferentes, contudo, serão essas pessoas que irão delinear a forma como a dizemos. A Caixa Econômica Federal, quando criou o logo VEM PRA CAIXA VOCÊ TAMBÉM. VEM!!, utilizou, no enunciado, uma estratégia argumentativa em virtude
12 do público que queria alcançar. Será que você consegue identificar qual é essa estratégia e por que ela foi utilizada? Se você disse que é a transgressão gramatical do imperativo do verbo vir, você acertou. A forma adequada, gramaticalmente falando, seria: VENHA PARA CAIXA VOCÊ TAMBÉM. VENHA!!. É evidente que existe uma intenção ao utilizar a forma vem no lugar de venha, intenção esta relacionada ao público a quem é destinada essa propaganda. Além da sonoridade e da preservação da rima, o uso do vem é uma forma coloquial da linguagem, usada diariamente pelo público brasileiro. Ao usar essa terminologia, o objetivo da propaganda torna-se claro: é criar uma proximidade com esse público, como se estivesse dizendo que o banco fala a linguagem da população. Caso os produtores dessa propaganda utilizassem a forma gramatical correta venha, o efeito provocado, ou seja, a persuasão e o convencimento seriam o mesmo? Tenho certeza de que não. Portanto, um bom argumento tem por objetivo persuadir o outro, isto é, fazer o receptor aceitar o que lhe foi comunicado, levá-lo a crer no que foi dito e a realizar o que lhe foi proposto. E isto só é possível quando conhecemos o receptor de nossa mensagem e identificamos qual o canal e a utilização do código mais adequado para persuadi-lo. Por isso, em nosso texto, devemos usar uma linguagem adequada, pensando sempre naquele que vai receber nossa mensagem. LEMBRE-SE: TODA A AÇÃO COMUNICATIVA EFICAZ É BASEADA NO CONHECIMENTO PRÉVIO QUE TEMOS DO NOSSO RECEPTOR.
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