CRIANÇA CEGA: LIMITES E POSSIBILIDADES - DA ESTIMULAÇÃO PRECOCE A ALFABEITZAÇÃO EM BRAILLE
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- Gabriela Barateiro Duarte
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1 CRIANÇA CEGA: LIMITES E POSSIBILIDADES - DA ESTIMULAÇÃO PRECOCE A ALFABEITZAÇÃO EM BRAILLE Leilane de Nazaré Fagundes Pessoa Instituto de Ciências da Educação / Universidade Federal do Pará Aguinaldo da Silva Barros Centro de Referência em Inclusão Educacional Gabriel Lima Mendes / SEMEC-PMB Edson Pinheiro Wanzeler Centro de Referência em Inclusão Educacional Gabriel Lima Mendes / SEMEC-PMB Eixo Temático: Estimulação Precoce, reabilitação e inclusão Palavras-Chave: Estimulação Precoce. Criança Cega. Educação Inclusiva. Alfabetização em Braille. 1. Introdução A educação de crianças cegas é permeada por diferentes caminhos, possibilidades e necessidades, das quais trazemos para esse estudo a Estimulação Precoce e a alfabetização no Sistema Braille, principais motivos de nossos anseios, neste momento, enquanto profissionais atuantes na educação inclusiva no município de Belém/PA. Deste modo, o presente texto tem por objetivo discutir acerca da importância da estimulação precoce de crianças cegas para a alfabetização no Sistema Braille. Constituída em uma pesquisa de abordagem qualitativa, por meio de pesquisa bibliográfica, teve como suporte leituras em autores como, por exemplo, Vigostki (1994), Carletto (2016), entre outros, que contribuíram com o objetivo traçado para este estudo. O texto está dividido em seções, que caminham pelo conhecer a importância da estimulação precoce para a criança cega e como essa estimulação atinge diretamente a alfabetização em Braille. 2. A Estimulação Precoce e sua importância para a criança cega As atuais discussões relacionadas a educação especial, em uma perspectiva de educação inclusiva, de crianças de zero a quatro anos de idade, chamam nossa atenção, pois, a carência,
2 a inadequação, ou ainda a sobrecarga de estimulação nos primeiros anos de vida, diminuem o ritmo natural do processo evolutivo infantil, aumentando também o distanciamento dos padrões do desenvolvimento físico, senso rio-perceptivo, motor, socioafetivo, cognitivo e da linguagem (BRASIL, 1995, p.7). Desse modo, a estimulação precoce, compreendida como [...] um conjunto dinâmico de atividades e de recursos humanos e ambientais incentivadores que são destinados a proporcionar à criança, nos seus primeiros anos de vida, experiências significativas para alcançar pleno desenvolvimento no seu processo evolutivo (BRASIL, 1995, p.7), em especial com crianças cegas, foco de nossos anseios neste momento, deve ocorrer desde a mais tenra idade, a fim de evitar que se desenvolvam características que compreendemos como negativas, dentre as quais, podemos destacar: a tendência ao isolamento; a falta de motivação para a mobilidade; a restrição quanto ao domínio do espaço e do tempo; a dificuldade na aquisição de conceitos básicos (tamanho, forma, distância, permanência dos objetos); os maneirismos (estereotipias típicas do deficiente visual); a dependência exacerbada do outro; dentre outras que interferem no desenvolvimento global, pessoal/social, psíquico e cognitivo da criança (RODRIGUES, 2012). Nessa perspectiva, Vigotski (1994), destaca que, a cegueira cria limitações quando a criança começa a integrar-se socialmente, em virtude da dificuldade social definitiva recaída sobre ela, devido a criação de inferioridade, incerteza, embaraço e fraqueza que surgem como a falta de conhecimento sobre a deficiência visual por parte da sociedade que circunda a criança. Fatores estes, que tendem à supercompensação do desenvolvimento como reação psicológica. Sendo assim, vale destacar que a estimulação precoce incide também no caráter social da criança, visto que a criança, em geral, enxerga, ouve, sente, aquilo que as pessoas em no meio em que está envolvida lhe indicam para apontar, ver, ouvir, sentir, de acordo com as possibilidades do tempo e lugar social (CAIADO, 2003). Nesse sentido, as crianças cegas, apesar de apresentarem a mesma sequência de desenvolvimento das crianças sem deficiência visual, apresentam alguns limites e desafios que, inicialmente, giram em torno do ritmo do seu desenvolvimento, que torna-se mais lento em consequência da falta de estímulos motores e visuais, por exemplo. O que dificulta a construção e reconhecimento do seu esquema corporal (lateralidade, organização e estruturação espacial e na orientação e identificação de objetos e de pessoas) (WARREN; KOCON, 1984).
3 Nesta senda, segundo Vigotski (1994), a habilidade da pessoa cega de distinguir pelo toque experiências físicas, é um modo compensatório, não por um ascensão da estimulação nervosa, mas pela prática repetida da percepção, que possibilita a criança cega reconhecer objetos, sensações e texturas, permitindo o acesso ao Sistema Braille e, por meio dele a leitura e a escrita; de ascender por meio do conhecimento e do trabalho. Por esse motivo, o trabalho de estimulação precoce com crianças cegas, deve valer-se primeiramente do reconhecimento do seu próprio corpo, seu primeiro brinquedo, da segurança em si mesma e nos agentes envolvidos nesse processo; escola, equipe multidisciplinar e família, esta última reconhecida como peça fundamental no desenvolvimento da criança, a fim de proporcionar-lhe assistência, apoio e segurança, para o alcance da autonomia e da independência (RODRIGUES, 2012). 3. A relação: Estimulação Precoce e alfabetização em Braille O trabalho com o ensino do Sistema Braille 1, para uma criança cega, deve iniciar nas Unidades Educacionais Especializadas, no setor de Estimulação Precoce, com crianças de idade a partir de um ano. As quais, quando estimuladas de maneira satisfatória, são promovidas ao setor do alfa Braille, em geral aos cinco anos de idade. Nesta ótica, é importante destacar que, uma criança jamais aprenderá o Sistema Braille se não possuir seu tato bem estimulado. Sendo assim, a alfabetização, por meio do Sistema deve obter o suporte do setor de estimulação precoce da Unidade, no qual inicia-se um trabalho para desenvolver a sensibilidade e percepção tátil. Pois, precisa-se treinar os outros sentidos na ausência da visão, sobretudo o tato (BARROS, 2012; MOSQUEIRA, 2010). Estimulando este sentido, por meio de identificação de figuras e texturas, apertando massas de modelar e bolinhas, dobrando papéis, pintando desenhos em relevo, etc., a criança cria um domínio sobre ele, preparando-se para a efetivação da alfabetização em Braille. A 1 O Sistema Braille tem por base um conjunto de seis pontos, que permitem a formação de 64 símbolos distintos. Torna-se necessário, para poder escrever todos os símbolos com correspondência aos que existem na escrita a negro, realizar combinações de símbolos, alguns com significados distintos, dependendo do contexto em que se inserem.
4 estimulação tátil colabora para um progresso no raciocínio da criança cega. Finalizando esse passo, ela estará pronta para começar o processo de alfabetização em si. A partir deste momento ocorre, gradativamente, a assimilação das letras (MOSQUEIRA, 2010). É importante frisar que a necessidade de atendimento precoce, já nas primeiras semanas de vida da criança que nasce cega ou que fica cega no início de sua vida, é diretamente proporcional as suas chances de um normal desenvolvimento motor, social, cognitivo e afetivo (CARLETTO, 2016, p. 2). A leitura é um processo fundamental para que o professor perceba de que modo foi feita a preparação do aluno no setor de Estimulação Precoce. De acordo com Griffin e Gerber (2016, n.p) Ler Braille requer um procedimento muito sistemático para perceber todos os detalhes do Braille. Esse procedimento frequentemente utiliza o progresso da esquerda para direita, atenção para não pular linhas, reconhecimento geral dos símbolos Braille com a mão direita e discriminação cuidadosa dos símbolos com a mão esquerda. Para isso, o tempo de alfabetização em Braille se dá em média, no período de um ano. Daí, a importância do estímulo tátil, antes de frequentar o setor Alfa Braille, com a finalidade de não comprometer sua alfabetização e não retardar sua inserção no programa de ensino regular. (BARROS, 2012) Diante do exposto, e corroborando com a concepção de Vigotski (1994) sobre a deficiência visual, percebemos que a cegueira proporciona ao indivíduo uma total reestruturação de todas as potencialidades do organismo e personalidade, sendo de suma importância o trabalho de estimulação precoce como impulsionador para essa reestruturação, e consequentemente o desenvolvimento de uma alfabetização de qualidade no sistema braile na Língua Portuguesa. 4. Conclusões A real compreensão a respeito da contribuição da estimulação precoce para o processo de ensino e aprendizagem de crianças cegas, mostra-se como algo primordial para a alfabetização em braile e consequentemente em língua portuguesa, tornando-a letrada em seu idioma natural. Sendo assim, a discussão a respeito da estimulação precoce e da alfabetização em braile com crianças cegas agrega valores aos profissionais que atuam no atendimento deste público,
5 em especial aos que trabalham na educação infantil, haja vista a característica da faixa etária das crianças. Deste modo, o reconhecer a criança em suas particularidades e instituir o mais cedo possível elementos fundamentais para o seu desenvolvimento, junto, não apenas ao contexto escolar, mas sim ao social, corroborando com sua formação histórico-cultural, define, para nós, a estimulação precoce como elemento decisivo no processo de construção do saber pautado nas premissas da leitura e da escrita, como agentes da autonomia do estudante em sociedade. Referências BARROS, A. S. O sistema braile a alfabetização de crianças cegas: o trabalho desenvolvido na unidade educacional especializada José Álvares de Azevedo Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em Letras Habilitação Língua Portuguesa). Universidade Federal do Pará, Belém, BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Diretrizes Educacionais sobre Estimulação Precoce: o portador de necessidades educativas especiais. Brasília: MEC, SEESP, (Série Diretrizes, 3). CAIADO, K. R. M. Aluno deficiente visual na escola: lembranças e depoimentos. Campinas: Autores Associados, CARLETTO, M. R. V. A estimulação essencial da criança cega. Disponível em: < Acesso em 12 fev GERBER, P. J., GRIFFIN, H. C. Desenvolvimento Tátil e suas Implicações na Educação de Crianças Cegas. Disponível em: < Acesso em 15 fev [Não paginado] HEIMERS, W. Como devo educar meu filho cego? Um guia para a educação de crianças cegas e de visão prejudicada. Tradução Huberto Schoenfeldt. Fundação para o livro do cego no Brasil São Paulo, MOSQUEIRA, C. F. F. Deficiência Visual na Escola Inclusiva. Curitiba: Ibpex, VIGOTSKI, L. A Criança Cega. Tradução Achilles Delari Jr. e Eugênio Pereira de Paula Jr WARREN, D.H. ; KOCON, J.A. Factores in the successful mobility of the blind: a review. American Foudation for the blind, Rodrigues, M. R. C. Psicomotricidade e deficiência visual: estimulação precoce. In: FERREIRA, C. A. M; RAMOS, M. I. B. (Orgs.) Psicomotricidade: educação especial e inclusão social. 2 ed.- Rio de Janeiro: Wak Ed., 2012.
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