ACESSIBILIDADE E FORMAÇÃO DE PROFESSORES: EXPERIÊNCIA COM UM ALUNO CEGO DO CURSO DE GEOGRAFIA, A DISTÂNCIA
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- Victor de Paiva Gameiro
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1 ACESSIBILIDADE E FORMAÇÃO DE PROFESSORES: EXPERIÊNCIA COM UM ALUNO CEGO DO CURSO DE GEOGRAFIA, A DISTÂNCIA Maria Antônia Tavares de Oliveira Endo mariantonia@cead.ufop.br Curso de Geografia 1900 Paulo de Tarso Amorim Castro ptacastro@gmail.com Curso de Engenharia Geológica Marcilene Magalhães da Silva marcilene@prograd.ufop.br Técnica em Assuntos Educacionais NEI/PROGRAD/UFOP Silvana Vanêssa Peixoto Silvana.tutoria.op@cead.ufop.br Analista de Orientação Educacional FEOP/CEAD/UFOP Resumo Este trabalho apresenta a experiência de acessibilidade de um aluno cego, matriculado no curso de Licenciatura em Geografia, a distância, da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). O Projeto, inicialmente, foi desenvolvido no âmbito do Programa Pró-Ativa 1 e objetivou produzir materiais didáticos táteis, visando a contribuir com o processo de ensino e aprendizagem. Isso foi necessário devido à especificidade do curso de Geografia, que faz uso de amplo material visual, e à dificuldade de acesso do aluno a imagens e à compreensão de conteúdos tratados. No sentido de auxiliar esse aluno, para algumas disciplinas, foram confeccionados 21 materiais táteis (mapas e figuras), apresentados com acompanhamento e orientação, técnica e pedagógica, quanto a manuseio e exploração, o que deu bons resultados. Visando a garantir acessibilidade e permanência desse aluno no curso, a expectativa é a continuidade e aprimoramento deste trabalho, tendo em vista que o trato com a diversidade é um dos aspectos relevantes na formação de professores para a educação básica. 1 O programa Pró-Ativa, criado em 1999, é uma ação da Pró-Reitoria de Graduação da UFOP destinada a contribuir para a melhoria do ensino de graduação, por meio de desenvolvimento de propostas de aperfeiçoamento das práticas pedagógicas; elaboração e organização de materiais e coleções didáticas de auxílio às disciplinas. Disponível em: < Acesso em: 28 mar
2 Palavras-chave: formação para o ensino de geografia; acessibilidade; material tátil; aluno com cegueira, educação a distância EIXO 15 - A Geografia na Educação Básica: metodologia, tecnologia e formação docente. 1. Introdução Ao longo do tempo, a sociedade tem reconhecido a acessibilidade como essencial para a inclusão e afirmação da dignidade humana. Em 2008, com o advento da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva Inclusiva, foi determinado que pessoas com necessidades educacionais especiais fossem matriculadas na rede regular de ensino. Tal política se efetivou inicialmente na Educação Básica e seus reflexos, ainda que timidamente, começam a ser sentidos no Ensino Superior. Muitas dessas pessoas, bem-sucedidas nos níveis anteriores, estão chegando à universidade. Mas se faz necessário perguntar se, uma vez admitidas, elas vão alcançar também o êxito de permanecer e se formar no Ensino Superior. Com essa preocupação, a UFOP, por meio de ações do Núcleo de Educação Inclusiva (NEI), vem desenvolvendo estratégias e utilizando tecnologias assistivas, no sentido de ampliar possibilidades de acesso e permanência de um grupo cada vez mais numeroso. Uma das experiências que vivenciamos está relacionada ao atendimento de um aluno cego, matriculado no curso de Licenciatura em Geografia, a distância, no Polo de Apoio Presencial de Araguari. O foco do nosso trabalho se concentrou na confecção e adaptação de materiais táteis. Isso porque os componentes curriculares correspondentes fazem intenso uso de imagens, além de trabalhar com a manipulação de peças e trabalhos de campo. Para que se atingissem os objetivos de reconhecer, selecionar, adaptar e produzir materiais didáticos (mapas, figuras, etc.) acessíveis ao aluno cego, para algumas disciplinas, foi planejada uma metodologia que pudesse garantir o desenvolvimento das habilidades e competências propostas no Projeto Político-Pedagógico do curso e, ao mesmo tempo, oferecer condições de aprendizagem ao aluno, por meio dos materiais táteis, garantindo a acessibilidade. Essa metodologia, para além de servir de apoio ao aluno em questão, se apresenta a todos os alunos do curso como uma estratégia pedagógica para o futuro trabalho que estes realizarão na educação básica Fundamentação Teórica A Educação a Distância (EAD) é conceituada na legislação brasileira pelo Decreto n.º (2005):
3 modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos. (BRASIL, 2005, Art. 1º). Pode-se notar que a EAD possui características inclusivas, tendo em vista a grande possibilidade de atender a um público que, por vários motivos, não teria condições de frequentar o ensino presencial, muito menos de chegar ao Ensino Superior. Mas é importante afirmar que a garantia da efetivação da inclusão cabe aos diferentes agentes envolvidos, isto é, utilizar esta metodologia com vistas à inclusão exige intencionalidade, escolha correta de estratégias, recursos e disponibilidade para reinventar o cotidiano pedagógico diante das diferenças percebidas. (SILVA, et al, p. 6). A EAD, por sua organização e estrutura, tem atraído pessoas com perfis bastante diversificados, entre as quais pessoas com deficiência, que têm nela uma oportunidade de cursar a graduação. Mas, como promover a inclusão na EAD de pessoas com deficiência? No sentido de garantir a esse público o acesso, a permanência e o sucesso acadêmico, muitas universidades estão desenvolvendo metodologias e estratégias. Para Silva (2008), é cada vez maior o número de alunos com necessidades especiais que chegam ao Ensino Superior e não se questiona, hoje, se a escola, em seus diferentes níveis, deve ou não aceitar a matrícula, por ser um direito constitucional garantido. A situação que está sendo problematizada é que incluir o aluno com deficiência não basta para garantir a sua permanência: as instituições de ensino e os docentes necessitam, para além de uma postura política de aceitação das diferenças, conhecimentos técnicos para saber trabalhar com as necessidades educacionais especiais decorrentes de problemas de aprendizagem, das diferenças mentais, físicas ou sensoriais, de altas habilidades, de síndromes, condutas típicas e outras. (SILVA, 2008, p. 10) 1902 As diretrizes da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva destacam: na educação superior, a educação especial se efetiva por meio de ações que promovam o acesso, a permanência e a participação dos alunos. Estas ações envolvem o planejamento e a organização de recursos e serviços para a promoção da acessibilidade arquitetônica, nas comunicações, nos sistemas de informação, nos materiais didáticos e pedagógicos, que devem ser disponibilizados nos processos seletivos e no desenvolvimento de todas as atividades que envolvam o ensino, a pesquisa e a extensão. (BRASIL, 2008, p. 23). É nessa perspectiva que assenta a preocupação da UFOP em criar condições para que o aluno com deficiência consiga participar de todas as atividades inerentes
4 aos componentes curriculares de seu curso. Nesse sentido, Silva e Santos (2013) afirmam: Após consolidada a cultura institucional inclusiva, em que todos são responsáveis, os princípios construídos são a base que orientam tanto as decisões políticas quanto as práticas. O fortalecimento da cultura inclusiva assegura que essa inclusão esteja presente nas diretrizes da escola permeando todas as políticas e possibilitando que todas as atividades de sala de aula ou extracurriculares apoiem a diversidade dos alunos, eliminando todas as barreiras existentes, com o objetivo da plena participação de todos (SILVA; SANTOS, 2013, p. 2). Portanto o presente trabalho foi desenvolvido com o objetivo de fortalecer a cultura inclusiva na educação Apresentação da experiência e resultados parciais Para a realização do trabalho de preparação das materiais táteis acessíveis para o aluno cego, da Licenciatura em Geografia, foi necessária a constituição de uma equipe multidisciplinar, composta pela coordenadora do curso e por professores, especialistas e bolsistas vinculados ao NEI/UFOP. Entre as ações desenvolvidas destacam-se: revisão bibliográfica, pesquisa e levantamento de experiências de produção de material didático tátil para alunos cegos ou com baixa visão, realização de reuniões periódicas dos envolvidos, planejamento e confecção de materiais, validação do material por alunos cegos vinculados ao NEI, disponibilização do acervo ao aluno acompanhado, avaliação parcial e reflexão sobre o impacto da utilização desses materiais acessíveis na aprendizagem. Os mapas e figuras táteis foram produzidos e adaptados artesanalmente. Primeiramente, houve a ampliação dos mapas e figuras para tamanho A3, em seguida foram realizadas as colagens, com a utilização de variados materiais, como EVA (emborrachado) de variadas texturas, barbante, cola relevo, purpurina, cordonê, miçanga. Além disso, foi feita a legenda e descrição de todo o material tátil produzido, utilizando o Sistema Braille. Até o momento, foram confeccionados 21 materiais táteis (mapas e figuras), com a finalidade de contribuir com o processo de ensino e aprendizagem. Antes do envio dos materiais táteis ao aluno, foi realizada a validação por outros alunos cegos atendidos pelo NEI, no sentido de conhecer a percepção do material, servindo os resultados de base para possíveis ajustes. Após essa etapa, os materiais foram encaminhados ao aluno, que pôde explorar e manusear, no Polo de Apoio Presencial, com acompanhamento e orientação, técnica e pedagógica. A utilização de materiais táteis proporcionou a ampliação da concepção de mundo do
5 aluno com cegueira. Apoiado no suporte teórico, ele pôde identificar formas e contrastes físicos. Ainda que se considere a questão da escala, reproduções de edificações ou fenômenos geográficos, assim como texturas nos mapas e/ou figuras, permitem ao aluno com deficiência visual o conhecimento de formas, formações e distribuição espacial. No caso apresentado, o contato com esse material tátil produziu bons resultados, uma vez que o aluno, receptivo, ficou motivado, o que contribuiu para facilitar a aprendizagem. 4. Conclusão O trabalho de produção de materiais táteis, que, até o momento, foi direcionado para apenas algumas disciplinas, será aprimorado e ampliado para as demais disciplinas, uma vez que a experiência demonstrou que essa estratégia contribuiu para a construção do conhecimento do aluno. A expectativa é que essa experiência, além de contribuir com a aprendizagem do aluno, seja uma mola propulsora para novos debates, reflexões, aprimoramento do trabalho desenvolvido e oportunidade de novos aprendizados na área da inclusão, principalmente na adaptação e confecção de materiais didáticos táteis. Acreditamos que a iniciativa do Projeto, oferecendo suporte a um aluno cego, representa importante passo no sentido de criar condições que garantam permanência, bons resultados no curso e, por extensão, uma boa formação docente para o conjunto dos estudantes do curso, pois é uma experiência concreta de acessibilidade educacional, com a qual futuramente os egressos do curso deverão tratar Referências: BRASIL. Decreto nº 5.622, de 19 de dezembro de Regulamenta o art. 80 da Lei n o 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: < Acesso em: 28 mar SILVA, Marcilene Magalhães. SANTOS, Adilson Pereira dos. Educação Inclusiva: Considerações sobre Política Públicas e formação de professores p. no prelo. SILVA, Maria Cristina da Fonseca. Políticas de Inclusão no Ensino Superior: Panorama da Legislação Brasileira. VI Congresso Português e Sociologia Disponível em: < Acesso em: 26 mar SILVA, Solange Cristina da et al. A Acessibilidade na Educação a Distância. VIII Congresso Brasileiro de Ensino Superior a Distância. Ouro Preto Disponível em:
6 < ESUD.pdf >. Acesso em 28 mar
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