Denise Fernandes CARETTA Prefeitura Municipal de Taubaté Denise RAMOS Colégio COTET
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1 O DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM INFANTIL NAS PERSPECTIVAS SÓCIO-HISTÓRICA, ANTROPOLÓGICA E PEDAGÓGICA: UM ESTUDO DO REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL DA EDUCAÇÃO INFANTIL Denise Fernandes CARETTA Prefeitura Municipal de Taubaté Denise RAMOS Colégio COTET O interesse por esse trabalho deve-se ao fato de já sermos profissionais da área da educação, trabalhamos como professoras de Educação Infantil. Assim, achamos muito propício uma monografia que tratasse de um assunto com que, na prática, estamos em contato diariamente. Analisamos por meio dessa pesquisa o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil sob uma perspectiva sócio-histórica, antropológica e pedagógica. Assim, como uma pesquisa comparativa, partimos dos conceitos de Vygotsky a respeito da aquisição do conhecimento e de outros autores consagrados que sistematizaram a educação infantil; a seguir fizemos um paralelo com os estudos antropológicos de Heath (1982) em três comunidades do Sul dos Estados Unidos na qual as crianças apresentavam conceitos muito diferentes em relação a práticas letradas e por último comparamos toda essa teoria a concepções pedagógicas atuais com o Referencial Curricular Nacional (1998). Por tudo isso, podemos delinear que o nosso trabalho procura focar as preocupações em torno das necessidades dos alunos e as capacidades a serem desenvolvidas pelos educadores para suprirem tais necessidades apresentadas pelas crianças durante o processo ensino-aprendizagem. Para que o desenvolvimento do saber seja bem sucedido é necessário que os professores estejam atentos e, assim, consigam, de um modo pleno e real, educar. Uma vez que o objetivo deste trabalho é apresentar as teorias de base antropológica sócio-histórica e pedagógica que fundamentam a prática docente na Educação Infantil, reunimos neste capítulo os estudos e as abordagens de algumas autoras, porém com alguns enfoques diferentes. A princípio, faremos um panorama sobre a vida e idéias principais de Lev Semenovich Vygotsky, o
2 autor fonte da abordagem sócio-interacionista 1, segundo Rego (1995) e Oliveira (1997). A seguir, falaremos sobre a pesquisa de Shirley Brice Heath (1982), acerca das práticas de letramento e especificaremos o assunto conforme Barton e Hamilton (2000), Kato (1990), Soares (1997), e Street in Kleiman (1995). Com a abordagem sócio-histórica dos estudos teóricos sobre Vygotsky, Rego (1995) aborda, em sua obra, a perspectiva histórico-cultural do autor. Vygotsky deteve-se em questões de várias áreas do conhecimento, como, a arte, a literatura, a lingüística, a filosofia, a neurologia, o estudo das deficiências e temas relacionados aos problemas da educação. O projeto principal de seu trabalho, conforme Rego (1995, p. 24), consistia na tentativa de estudar os processos psicológicos tipicamente humanos (gêneses) e as transformações do desenvolvimento humano nas suas dimensões filogenética, ou seja, a evolução de uma espécie; ontogenética, que constitui no desenvolvimento de um indivíduo, e históricosocial, que trata do desenvolvimento humano e sua relação com o contexto social em que vive. Sua pesquisa baseia-se, primeiramente, com chimpanzés e depois com o homem, principalmente com a criança. A primeira está relacionada à utilização de aspectos motores ou de outros instrumentos para se conseguir alguma coisa, como observamos no exemplo dos chimpanzés com as bananas. A segunda trata da imitação de algum som, expressão facial como meio de contato com outros membros do grupo social. Já na evolução do indivíduo ontogênese ocorre o processo semelhante àquele descrito pela evolução da espécie com os primatas. Vygotsky explana que as crianças também passam por essas duas fases da linguagem (fase pré-verbal do desenvolvimento do pensamento e fase préintelectual do desenvolvimento da linguagem) sendo capazes de resolver um problema antes mesmo de falar. No entanto, em um determinado momento da vida, por volta dos dois anos de idade, o pensamento e linguagem se unem
3 (OLIVEIRA, 1997, p. 47) e inicia-se a fase intelectual, na qual o pensamento torna-se mediado pela linguagem. A atenção e a lembrança voluntária, a memorização ativa, o pensamento abstrato, o raciocínio dedutivo, a capacidade de planejamento etc, são mecanismos considerados superiores, pois, são intencionais, através de ações conscientemente controladas, processos voluntários (REGO, 1995, p. 39). Segundo Vygotsky não são inatas e se originam apenas em seres humanos, nas relações entre os indivíduos e no processo de internalização de formas culturais de comportamento. Não são como alguns mecanismos elementares encontrados nos animais, nem no homem, nos momentos em que há reflexo, reações automatizadas ou processos de associação simples entre eventos, em que não é preciso um planejamento ou raciocínio sobre o problema. Para a autora, os trabalhos de Vygotsky. A segunda idéia básica trata do desenvolvimento do indivíduo de acordo com suas relações sociais e é exemplificada por Vygotsky em Oliveira (1997, p.85) quando diz, por exemplo, que um indivíduo de um grupo cultural que não dispõe da escrita, jamais será alfabetizado mesmo que tenha todos os aparatos físicos e biológicos para isso; a escrita só será desenvolvida por seres vivos que vivem em sociedades letradas e que valorizam esse processo. Assim como a escrita, outras habilidades, segundo Vygotsky, só serão desenvolvidas em contato social que as valorizem, desse modo, o estudioso, segundo Oliveira (1997, p. 24), afirma que [...] o homem transforma-se de biológico em sócio-histórico num processo em que a cultura é parte essencial da constituição da natureza humana. Desse modo, esquematicamente temos: HOMEM MEIO FÍSICO E SOCIAL LINGUAGEM (signo ou ferramenta psicológica) Com a abordagem antropológica, entendemos letramento como o uso social que os diferentes grupos sociais fazem da leitura e da escrita em suas
4 interações cotidianas (BARTON; HAMILTON, 2000). Para formar cidadãos atuantes e participantes da sociedade, é preciso conhecer a importância do letramento na vida social contemporânea. Uma pessoa letrada não precisa necessariamente ser uma pessoa alfabetizada, ou seja, ela pode fazer uso das práticas de letramento nas práticas sociais cotidianas, mas não saber ler ou escrever. A criança vai se inserindo no mundo letrado, ao conviver com distintos usos da escrita, que ela vê, lê, escreve, percebe na sociedade. Essa inclusão começa muito antes da alfabetização, quando a criança começa a interagir socialmente no seu mundo social. O letramento é cultural, por isso muitas crianças já vão para a escola com o conhecimento alcançado de maneira informal absorvido do cotidiano (SOARES, 1998); outras não, porque suas práticas familiares e sociais não incluem a prática da escrita. O letramento é observado em textos escritos, porém não podemos deixar de notar que o letramento pode advir de outros meios, tecnológicos, orais, digitais etc. Conseqüentemente, são diferentes nos vários contextos sociais, mudando conforme a situação em que as pessoas estão inseridas. O letramento está associado aos tipos de eventos (rotinas que podemos observar) que fazemos parte (BARTON E HAMILTON, 2000, p. 7-9). Por exemplo, no ambiente de trabalho, usamos tipos de letramento (uso do computador para enviar recados, redação de prestação de contas...) diferentes do qual fazemos uso quando estamos em uma situação informal com os amigos (bate-papo descontraído, animado por rotinas sociais diferentes). Apesar de ser diverso, um tipo de letramento pode estar infiltrado em uma determinada prática social, ou seja, em outro contexto de letramento Barton e Hamilton (2000, p.5) afirmam que as práticas que são desenvolvidas na família, na religião e na educação, geralmente, são levadas a outros âmbitos sociais, pois, tratam de instituições socialmente estruturadas. Os autores enfatizam que Os atos de ler e escrever não são os únicos meios através dos quais as pessoas atribuem significado aos textos. (BARTON e HAMILTON, 1998, cap.14 apud Barton e Hamilton, 2000). Dessa forma, alfabetizar e, mais ainda, letrar uma criança são desafios que a escola encara a todo o momento, pois notamos que não há uma receita pronta que diz como fazê-los. Porém o que acreditamos é que o uso da
5 leitura e da escrita de diferentes gêneros, desde a infância, mesmo a criança não tendo sido alfabetizada, possibilita o desenvolvimento dessas capacidades que são adquiridas, a longo prazo. Não há um método curto e fácil. Trata-se de uma atividade demorada e que exige dedicação do formador. Exporemos a seguir concepções pedagógicas referentes à Educação Infantil. Com sua pesquisa sobre as práticas docentes, Angotti (2002, p. XIX) objetivou a realização de uma sistematização descritiva, analítica e interpretativa das informações sobre o trabalho do profissional da pré-escola. Procurou abranger os aspectos didáticos, propriamente ditos, bem como interpretá-los à luz das concepções teóricas, identificando os aspectos subjacentes às atividades, realizadas sob observação. O que de concreto foi destacado pela autora, durante a sua observação, foi a preocupação das mantenedoras em oferecer materiais de prontidão para a alfabetização, por meio dos treinos ortográficos e caligráficos que se concretizavam em cadernos, cartilhas (livros didáticos), com lápis e borracha, não dando nenhuma margem à liberação da expressão infantil dentro de diferentes e variadas formas de comunicação.
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