ACÓRDÃO. DE SOUZA NUCCI (Presidente), OSNI PEREIRA E BORGES PEREIRA. São Paulo, 24 de março de 2015.

Transcrição

1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Habeas Corpus nº , da Comarca de Itapira, em que é paciente LUIS GABRIEL MASSARI, Impetrantes MARCELO FELLER e RODRIGO ANTONIO SERAFIM. ACORDAM, em 16ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Após a sustentação oral do Dr. Marcelo Feller, e uso da palavra pelo Exmo. Sr. Procurador de Justiça, Dr. Paulo Juricic, por maioria de votos Indeferiram liminarmente a ordem. Vencido o 2º Juiz, Des. Osni Pereira, que declarará o voto.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores GUILHERME DE SOUZA NUCCI (Presidente), OSNI PEREIRA E BORGES PEREIRA. São Paulo, 24 de março de Guilherme de Souza Nucci RELATOR Assinatura Eletrônica

2 Habeas Corpus nº Comarca: Itapira Impetrantes: Marcelo Feller e Rodrigo Antonio Serafim Paciente: Luis Gabriel Massari VOTO N.º 8902 Habeas corpus. Insurgência contra decisão que indeferiu pedido de produção de prova. Inadequação da via eleita. Cabível correição parcial. Impetrante que propõe a análise de elementos de prova para justificar a necessidade de produção da prova requerida. Inviabilidade de exame do conjunto probatório pela via eleita. Ordem indeferida in limine. Trata-se de habeas corpus, com pedido liminar, impetrado por ilustres advogados em favor de LUIS GABRIEL MASSARI, contra ato do MM. Juiz de Direito, Dr. Pedro Rebello Bortolini, da 1ª Vara Criminal da Comarca de Itapira, sob a alegação de sofrer o paciente constrangimento ilegal consistente no indeferido de pedido pela expedição de ofício à rede de televisão Record para que esta informe os dados qualificativos de pessoa entrevistada com o recurso de desfoque. Alega o impetrante que o indivíduo entrevistado pela rede Record se diz testemunha ocular do

3 homicídio apurado nos autos principais, tendo apresentado à emissora de televisão versão hábil a corroborar a tese defensiva, sendo imprescindível sua qualificação. Sustenta ser indevido o indeferimento do pedido uma vez que o sigilo de fonte apenas pode ser alegado pela própria imprensa. Ademais, afirma não ser o indivíduo propriamente uma fonte, posto não ter apresentado dados confidenciais. Acrescenta que a plenitude de defesa deva prevalecer sobre o sigilo conferido à impressa. Requer o deferimento liminar para sobrestar a audiência designada para o 12/fev p.p., e a concessão definitiva da ordem para que se determine a expedição de ofício à rede Record com o fim de se obter os dados qualificativos do entrevistado e cópia da reportagem sem a utilização do recurso de desfoque da imagem. O pedido deve ser indeferido, conforme preceitua o art. 663, do Código de Processo Penal, porquanto insuscetível de avaliação pela via eleita. Visualiza-se duas razões para o indeferimento in limine da presente ordem. Primeiramente porque o habeas corpus não é o meio processual adequado à impugnação das decisões de indeferimento de produção de provas. Note-se que o writ vem sendo admitido como forma de ataque a algumas decisões interlocutórias quando, por exemplo, inexistir previsão para a interposição de recurso em sentido estrito, e quanto a decisão puder afetar a liberdade

4 individual do paciente. Não é esta, porém, a hipótese dos autos. Isto porque contra decisão de indeferimento de provas deve ser manejada a correição parcial, nos termos do art. 6º, I, da Lei 5.010/66. Vale anotar que os argumentos trazidos pelo impetrante no sentido de haver cerceamento de defesa, e de que não poderia o magistrado a quo se valer do argumento do sigilo de fonte, se procedentes fossem, caracterizariam o abuso por parte do juízo prolator da decisão guerreada, dando azo justamente à correição parcial. Nesse aspecto veja-se os julgados desta Casa de Justiça: CORREIÇÃO PARCIAL Estelionato - Recurso do Ministério Público contra decisão indeferindo a oitiva de testemunha arrolada tempestivamente na denúncia - O indeferimento da oitiva de testemunha com base no art. 400, 1º, do CPP deve ser realizada com moderação, sob pena de ferir o devido processo legal - Recurso ministerial provido. (Correição Parcial nº , 8ª C. Crim., Rel. Des. Camilo Léllis, j. em 24/04/2014) Correição parcial - Prova emprestada - Recurso ministerial pretendendo a juntada de prova emprestada - Necessidade - Não violação ao princípio do contraditório e ampla defesa - Deferimento. (Correição Parcial nº , 16ª C. Crim.,

5 Rel. Des. Borges Pereira, j. em 16/04/2013) Há ainda uma segunda razão pela qual deve ser indeferido liminarmente o mandamus. O impetrante traz questões impossíveis de ser adequadamente solucionadas sem a análise pormenorizada do conjunto probatório. Sustenta o impetrante ser o entrevistado anônimo amigo da vítima, tendo apresentado à emissora de televisão versão distinta da narrativa das demais testemunhas presenciais, alegando, ainda, que a versão da desconhecida testemunha seria condizente com a explanação dada pelo réu. Tais constatações, entretanto, exigem a análise detalhada do conjunto probatório, sem a qual não se pode concluir pela real necessidade de oitiva do indivíduo desconhecido. Da mesma forma, a eventual necessidade de acareação apenas pode ser constatada após a análise de ambos os depoimentos que se pretenda confrontar, entretanto, como é sabido, não se presta o habeas corpus à análise das provas já produzidas. Em semelhante situação já decidiu o E. Superior Tribunal de Justiça: III - Inviável, na estreita via do habeas corpus, a reapreciação do mérito do indeferimento motivado de produção de prova, porquanto demanda exame aprofundado das demais provas existentes nos autos. Precedentes do Egrégio Supremo

6 Tribunal Federal e desta Corte Superior. (HC /RJ, 5ª T., Rel. Min. Regina Helena Costa, j. em 15/10/2013) Entendo, portanto, tenha o impetrante se valido de meio inadequado, não cabendo o exame proposto pela estreita via do habeas corpus. Ante o exposto, pelo meu voto, indefiro in limine a presente ordem impetrada, consoante dispõe o art. 663 do Código de Processo Penal. GUILHERME DE SOUZA NUCCI Relator

7 Voto nº Habeas Corpus nº Comarca: Itapira Impetrantes: Marcelo Feller e Rodrigo Antonio Serafim Paciente: Luis Gabriel Massari DECLARAÇÃO DE VOTO VENCIDO Ouso divergir da douta maioria. Registre-se, inicialmente, não caber nos estreitos limites do habeas corpus a apreciação do mérito da acusação feita ao paciente, porquanto a análise da prova acerca da autoria dos fatos que lhe são imputados e da sua tipicidade está reservada ao Juízo de primeiro grau, ao ensejo do julgamento da ação penal, após a sua devida instrução e amplo debate, inclusive sob pena de supressão de um grau de jurisdição. Contudo, tendo em vista o princípio constitucional da ampla defesa, é caso de se conhecer do presente writ. No caso em exame, verifica-se que o indeferimento do pleito de produção de prova testemunhal impede o exercício da ampla defesa e obstaculiza o cumprimento do princípio da verdade real. Ao Juízo, em se tratando de processo penal, especificamente, incumbe prover à regularidade do processo e manter a

8 ordem no curso dos respectivos atos, deferindo a realização de provas, sempre em busca da verdade real, indeferindo quando se tratar de prova excessiva, impertinente ou protelatória, o que não ocorre no caso em exame. Logo, restou caracterizado o constrangimento ilegal sofrido pelo paciente, consistente no cerceamento ao direito de defesa. A decisão ora impugnada pode afetar a liberdade individual do paciente. Com efeito, alegam os impetrantes que o indivíduo entrevistado pela Rede Record se diz testemunha presencial do homicídio apurado nos autos principais. Na ocasião, o referido indivíduo apresentou à emissora televisiva versão hábil a corroborar a tese defensiva, razão pela qual seria imprescindível sua qualificação e oitiva. Por outro lado, o direito à ampla defesa deve prevalecer sobre o sigilo de fonte assegurado aos órgãos de imprensa. Além disso, não se pode olvidar que o escopo do processo penal é a busca da verdade real, constituindo-se a prova testemunhal um de seus instrumentos mais valiosos. Em consequência, ao ver negado seu pedido de produção da prova testemunhal, houve flagrante prejuízo ao direito de defesa constitucionalmente assegurado ao paciente, na medida em que a oitiva do indivíduo entrevistado pela equipe de reportagem poderá representar relevante contribuição para a solução da demanda, salientando-se que se trata de testemunha presencial do homicídio

9 apurado na ação penal. Na esteira dessas considerações, a ordem deve ser concedida, nos termos da inicial do presente writ. Em face do exposto, por este voto, concede-se a ordem de habeas corpus impetrada em favor de LUIS GABRIEL MASSARI, para que a d. autoridade coatora determine à TVB Record Campinas que informe os dados qualificativos do indivíduo entrevistado no vídeo citado, bem como que envie cópia da mídia sem a utilização do recurso de desfoque da imagem. É o voto. OSNI PEREIRA 2º Julgador

10 Este documento é cópia do original que recebeu as seguintes assinaturas digitais: Pg. inicial Pg. final Categoria Nome do assinante Confirmação 1 6 Acórdãos Eletrônicos 7 9 Declarações de Votos GUILHERME DE SOUZA NUCCI OSNI ASSIS PEREIRA 14B349B Para conferir o original acesse o site: informando o processo e o código de confirmação da tabela acima.