PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Transcrição

1 fls. 70 HABEAS CORPUS Nº COMARCA: Carapicuíba VARA DE ORIGEM: 1ª Vara Criminal IMPETRANTES: Iberê Bandeira de Mello e Amanda Candido Furlan PACIENTE: Elaine Cristina Pereira Vistos. Trata-se de habeas corpus, com pedido de liminar, impetrado pelos advogados Iberê Bandeira de Mello e Amanda Candido Furlan em favor de Elaine Cristina Pereira, com o objetivo de obter a revogação da prisão preventiva decretada ou, subsidiariamente, a aplicação de medidas cautelares diversas da prisão. Alegam, em breve síntese, a incompetência da Justiça Comum para o julgamento do processo originário, pois toda a investigação se deu dentro de um contexto do cometimento de Crime Eleitoral (sic), bem como que não foi oportunizada a apresentação de defesa preliminar, nos termos do artigo 514, do Código de Processo Penal, o que ocasionou cerceamento de defesa. Sustentam, ainda, a inidoneidade do decreto de prisão

2 fls. 71 preventiva e a ausência dos requisitos autorizadores da prisão cautelar, assim como que estão presentes os requisitos para a fixação de medidas cautelares diversas da prisão. Relatei. A antecipação do juízo de mérito, na esfera do habeas corpus, requer demonstração inequívoca da ilegalidade do ato impugnado, o que não se verifica no caso. Cumpre consignar, inicialmente, que, neste exame de cognição sumária, não é possível acoroçoar, com o que foi apresentado na impetração, a alegação de incompetência da Justiça Comum para o processamento e julgamento do feito. E não há falar em irregularidade em razão de não ter sido oportunizada à paciente a apresentação de defesa preliminar, na forma do artigo 514, do Código de Processo Penal, pois a aplicação do referido dispositivo legal, de acordo com a corrente jurisprudencial majoritária, somente tem cabimento quando a imputação tratar, exclusivamente, de crimes funcionais típicos, o que não é o caso dos autos, tendo em vista a imputação, também, pelos crimes de organização criminosa e falsidade ideológica. Confira-se: (...) a jurisprudência desta Corte vem afirmando que o procedimento previsto nos arts. 513 e seguintes do CPP reserva-se aos casos em que são imputados ao réu apenas crimes funcionários típicos. (STF. HC

3 fls /SP. Rel. Min. Ricardo Lewandowski. 12/05/09) (...) A defesa preliminar é aplicada nos casos de crimes funcionais, praticados por funcionário público no exercício de suas funções ou em razão destas, mas apenas nos casos dos delitos descritos nos art. 312 a art. 326, do Código Penal, que tratam dos crimes funcionais próprios (STJ. HC /MS. Rel. Min. Gilson Dipp. 08/05/06) No mais, vê-se que a paciente foi presa preventivamente em processo no qual foi denunciada por infração ao artigo 2º, 3º e 4º, inciso II, da Lei /13, ao artigo 319, por 10 vezes, c.c. o artigo 327, 2º, e ao artigo 299, parágrafo único, por vezes, na forma do artigo 69, todos do Código Penal. É dos autos que a paciente, então Diretora de Recursos Humanos e, posteriormente, Secretária de Administração da Prefeitura do Município de Carapicuíba, integrava organização criminosa, estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, que tinha por objetivo obter, direta ou indiretamente, vantagem de natureza eleitoral, através da prática de crimes de prevaricação e falsidade ideológica, relacionados a fraudes em processos seletivos para a contratação de pessoal pela Prefeitura de Carapicuíba. Insta consignar, desde já, que não se constata, nesta análise perfunctória, com o que há nos autos, a ocorrência de constrangimento ilegal apto a ensejar o deferimento da liminar.

4 fls. 73 O que se vê, em verdade, é que a douta juíza a quo explanou, de maneira fundamentada, as razões de seu convencimento, no sentido da necessidade da prisão preventiva da paciente como garantia da ordem pública, por conveniência da instrução criminal e, ainda, para assegurar a aplicação da lei penal. Na decisão que decretou a prisão preventiva da paciente há menção a fatos graves que envolvem a perpetração de fraude documental pela paciente, com o óbvio intuito de embaraçar a instrução criminal e a busca da verdade real. Asseverou a douta juíza, na referida decisão, que a paciente enviou ao Ministério Público, após requisição do órgão, documentos consistentes em fichas de inscrições fraudadas, inclusive com cópias de documentos expedidos com data posterior à data da inscrição, o que denota, claramente, intenção de perturbar ou impedir a produção probatória. Constata-se, portanto, prima facie, que, ao que parece, há fundados elementos, nos autos, a indicar tentativa de embaraçar a instrução criminal. No que se refere à possibilidade de aplicação das medidas cautelares diversas da prisão, asseverou a douta juíza que são inadequadas e insuficientes para o caso concreto, eis que presentes os requisitos autorizadores da prisão preventiva. Frise-se não ser o caso, também, nesta análise preliminar, de aplicação de medidas cautelares diversas da prisão.

5 fls. 74 É que, por ter a paciente ocupado cargo do alto escalão do Poder Executivo Municipal, o que, por certo, faz com que tenha influência na Comarca dos fatos, a aplicação de medidas cautelares poderia revelar-se insuficiente, na medida em que não elidiria, de maneira plena, seu poder de influência na cidade, inclusive sobre integrantes da funcionalidade pública municipal. Nessa esteira, seria prematuro reconhecer o direito invocado pelos impetrantes antes do processamento regular do writ, quando, então, será possível a ampla compreensão da questão submetida ao Tribunal. Indefere-se a liminar. Requisitem-se informações à douta autoridade judiciária indicada como coatora, a respeito, com as cópias pertinentes. Justiça. Após, remetam-se os autos à Procuradoria Geral de Intime-se e cumpra-se. São Paulo, 30 de agosto de Mauricio Henrique Guimarães Pereira Filho Relator