Superior Tribunal de Justiça

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1 HABEAS CORPUS Nº SP (2018/ ) RELATOR IMPETRANTE ADVOGADOS IMPETRADO PACIENTE : MINISTRO REYNALDO SOARES DA FONSECA : MARIO DE OLIVEIRA FILHO E OUTROS : MÁRIO DE OLIVEIRA FILHO - SP RICARDO CALIL HADDAD ATALA - SP EDSON LUIZ SILVESTRIN FILHO - SP PAULO HENRIQUE DOS SANTOS - SP : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO : MARIO HENRIQUE DE ABREU DECISÃO Trata-se de habeas corpus, com pedido liminar, impetrado em benefício de MARIO HENRIQUE DE ABREU - preso cautelarmente no contexto de sua denúncia por suposta infração ao art. 2º, 3º e 4º, II, da Lei n /2013 e aos arts. 316 e 317 do CP, ambos na forma do art. 69 do CP - contra decisão por meio da qual Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo indeferiu a medida de urgência pleiteada naquela instância, nos autos de n (e-stj fls. 180/194). A defesa sustenta a ilegitimidade da segregação cautelar, afirmando, em síntese, que não se apuraram indícios válidos de fumus comissi delicti ou de periculum libertatis. Argumenta que o Juízo da primeira instância, acertadamente, não havia identificado indícios suficientes para a decretação da prisão preventiva; que a prisão preventiva decretada de ofício ofende o sistema acusatório; que a ausência de urgência é confirmada pela constatação de que os fatos que teriam conduzido à prisão preventiva datam de mais de oito meses atrás; que suposto contato ilegal com testemunha foi realizado exclusivamente por um outro réu, por quem o ora paciente não poderia ser responsabilizado; e que reputada sensação genérica de estar intimidada, manifestada por testemunha protegida, não poderia ser reputado fundamento idôneo para a prisão preventiva. Em liminar e no mérito, pede o relaxamento da prisão preventiva. Por meio de petição que ainda não se encontra formalmente juntada Documento: Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 27/06/2018 Página 1 de 5

2 aos autos, a defesa informa que "Realizou-se no último dia 21 de maio a audiência de instrução criminal sendo inquiridas três das seis testemunhas arroladas na denúncia", e que "das três testemunhas nenhuma se disse ameaçada física ou psicologicamente pelo paciente Mário Abreu". É o relatório. Decido. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, na esteira da Súmula n. 691 do Supremo Tribunal Federal, aplicável por analogia, entende que não cabe habeas corpus contra decisão que indefere liminar na origem. Em situações excepcionais, entretanto, como forma de garantir a efetividade da prestação jurisdicional nas situações de urgência, uma vez constatada a existência de flagrante ilegalidade, abuso de poder ou teratologia, é possível a superação do mencionado enunciado (HC n /SP, Rel. Min. REYNALDO SOARES DA FONSECA, Quinta Turma, julgado em 4/8/15, DJe 12/8/15). No caso destes autos, não há ilegalidade flagrante, abuso de poder ou teratologia a autorizar a concessão da ordem de ofício. A instância de origem registrou indícios de que o paciente integraria organização criminosa instalada no âmbito da Secretaria do Meio Ambiente do Município de São Bernardo do Campo/SP, especializada em liberar alvarás mediante pagamentos ilícitos, e é certo que a jurisprudência desta Corte admite a prisão preventiva com finalidade de obstar a continuidade de organização criminosa, como no caso destes autos, a teor dos seguintes julgados, dentre outros: HABEAS CORPUS. LAVAGEM DE DINHEIRO, ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA E FURTO QUALIFICADO. PRISÃO PREVENTIVA. POSIÇÃO DE DESTAQUE EM COMPLEXA E ESTRUTURADA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA. MOTIVAÇÃO IDÔNEA. AUSÊNCIA DE SIMILITUDE FÁTICO-PROCESSUAL COM OS CORRÉUS SOLTOS. INEVIDÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. 1. Havendo notícias de que o paciente ocupa posição de destaque em complexa e estruturada organização criminosa, fundamentada está a manutenção da sua prisão cautelar. Precedentes. Documento: Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 27/06/2018 Página 2 de 5

3 3. Ordem denegada. (HC /SC, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 07/06/2018, DJe 13/06/2018) PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO. NÃO CABIMENTO. ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA. PRISÃO PREVENTIVA. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. PENA EM PERSPECTIVA. ANÁLISE INVIÁVEL. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. I - A Terceira Seção desta Corte, seguindo entendimento firmado pela IV - Sobre o tema, já se pronunciou o col. Supremo Tribunal Federal no sentido de que "A necessidade de se interromper ou diminuir a atuação de integrantes de organização criminosa, enquadra-se no conceito de garantia da ordem pública, constituindo fundamentação cautelar idônea e suficiente para a prisão preventiva" (HC n /SP, Primeira Turma, Relª. Minª. Cármen Lúcia, DJe de 20/2/2009). Habeas Corpus não conhecido. (HC /RJ, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 07/06/2018, DJe 15/06/2018) PROCESSUAL PENAL E PENAL. HABEAS CORPUS. TRÁFICO E ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO DE ENTORPECENTES. FURTO QUALIFICADO. EXPLOSÃO DE CAIXAS ELETRÔNICOS. DISPARO DE ARMA DE FOGO. EXCESSO DE PRAZO. MATÉRIA NÃO ANALISADA PELO TRIBUNAL DE ORIGEM. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. NEGATIVA DE AUTORIA. DILAÇÃO PROBATÓRIA. NÃO CONHECIMENTO. PRISÃO PREVENTIVA. FUNDAMENTAÇÃO CONCRETA. ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA. ILEGALIDADE. AUSÊNCIA. HABEAS CORPUS DENEGADO. 3. Apresentada fundamentação concreta para a decretação da prisão preventiva, explicitando que o paciente integra complexa organização criminosa para a práticas de crimes graves, dentre os quais furtos a agências bancárias com emprego de explosivos e armas de fogo, bem como tráfico de entorpecentes, além de receptação e outras subtrações, não se há falar em ilegalidade do decreto prisional. 4. Habeas corpus denegado. (HC /SP, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 05/06/2018, DJe 11/06/2018) Documento: Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 27/06/2018 Página 3 de 5

4 Quanto à tese de que a prisão preventiva não poderia ter sido decretada de ofício, observa-se que, aparentemente, houve efetiva provocação do órgão acusatório nesse sentido, na medida em que o Juízo da primeira instância registrou estar indeferindo o pedido de prisão preventiva (e-stj fl. 112): 7. Com relação ao pedido de prisão preventiva dos acusados, em que pesem os argumentos da acusação, indefiro o pedido formulado. A prisão preventiva é medida drástica, que somente deve ser adotada em casos extremos. No caso em tela, apesar da gravidade dos crimes descritos na denúncia; analisando o procedimento investigatório criminal, verifico que o caso merece uma maior elucidação. E, nas hipóteses em que as circunstâncias da infração reclamam maior elucidação, o decreto de prisão deve ser evitado. Frise-se, ainda, que os denunciados possuem residência fixa no distrito da culpa e, a princípio, não ostentam antecedentes criminais. Ainda, verifica-se que, por ora, não há nos autos qualquer indício de que tentarão colocar obstáculos à instrução criminal ou que poderão influir de qualquer forma no ânimo das testemunhas. Ante o exposto, INDEFIRO, por ora, o pedido de prisão preventiva. Em resumo, entendo que não está configurada hipótese excepcional de flagrante ilegalidade que justifique a superação da Súmula n. 691 do Supremo Tribunal Federal, resultando incabível a presente impetração. De todo modo, as questões suscitadas pela defesa serão tratadas oportunamente pela instância de origem, por ocasião do julgamento de mérito do mandamus, sem o qual esta Corte fica impedida de apreciar o alegado constrangimento ilegal, sob pena de incorrer em indevida supressão de instância e incidir em patente desprestígio às instâncias ordinárias. Ante o exposto, com base no art. 210 do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça, indefiro liminarmente a petição inicial do presente habeas corpus. Documento: Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 27/06/2018 Página 4 de 5

5 Publique-se. Intime-se. Cientifique-se o Ministério Público Federal. Brasília (DF), 25 de junho de Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA Relator Documento: Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 27/06/2018 Página 5 de 5