Superior Tribunal de Justiça

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1 HABEAS CORPUS Nº MG (2014/ ) RELATOR IMPETRANTE ADVOGADO IMPETRADO PACIENTE : MINISTRO GURGEL DE FARIA : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS : ANDRÉ LUÍS ALVES DE MELO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS : GELÁSIO FERRAZ DE MELO EMENTA PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. DEFENSORIA PÚBLICA. ASSISTÊNCIA À ACUSAÇÃO. PROCURAÇÃO COM PODERES ESPECIAIS. DESNECESSIDADE. COMPROVAÇÃO DE CARÊNCIA ECONÔMICA. ANÁLISE REALIZADA PELA DEFENSORIA PÚBLICA. 1. É função institucional da Defensoria Pública patrocinar tanto a ação penal privada quanto a subsidiária da pública, não havendo incompatibilidade com a função acusatória, mais precisamente a de assistência da acusação. 2. Não encontra amparo legal o pedido de trancamento parcial do feito, tendo em vista que o defensor público deve juntar procuração judicial somente nas hipóteses em que a lei exigir poderes especiais (arts. 44, XI, 89, XI, e 128, XI, da Lei Complementar n. 80/1994), o que não se verifica na situação em apreço. 3. É atribuição da Defensoria Pública examinar o estado de carência de seus assistidos. 4. O art. 4º, 1º, da Lei n /1950 estabelece normas para concessão de assistência judiciária aos necessitados, apontando como necessária a simples afirmação de carência de recursos, sendo prescindível, portanto, colacionar outros documentos aos autos. 5. A via estreita do habeas corpus não é adequada para analisar afastamento de assistência judiciária gratuita, pois demandaria dilação probatória. 6. Habeas corpus não conhecido. Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 12/02/2015 Página 1 de 6

2 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, não conhecer do pedido. Os Srs. Ministros Newton Trisotto (Desembargador convocado do TJ/SC), Walter de Almeida Guilherme (Desembargador convocado do TJ/SP), Felix Fischer e Jorge Mussi votaram com o Sr. Ministro Relator. Brasília, 05 de fevereiro de 2015 (Data do julgamento). MINISTRO GURGEL DE FARIA Relator Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 12/02/2015 Página 2 de 6

3 HABEAS CORPUS Nº MG (2014/ ) RELATÓRIO O EXMO. SR. MINISTRO GURGEL DE FARIA (Relator): Cuida-se de habeas corpus, com pedido liminar, impetrado em favor de GELÁSIO FERRAZ DE MELO e JOSÉ EDUARDO RIBEIRO, apontando como autoridade coatora o Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais. O Ministério Público Estadual, na Ação Penal n , insurgiu-se contra decisão que indeferiu os pedidos de intimação: da genitora da vítima para comprovar carência econômica; da Defensoria Pública para juntar procuração com poderes especiais a fim de figurar como representante da assistente de acusação. No Tribunal a quo, o órgão ministerial impetrou mandado de segurança pleiteando a regularização da representação processual da assistência à acusação, bem como a comprovação da carência econômica da mãe da vítima. O TJ/MG denegou a segurança. No presente writ, o Parquet requer que seja declarada a ilegalidade da assistência da acusação representada pela Defensoria Pública, com o trancamento parcial da demanda em razão da ausência de comprovação da carência econômica e da procuração com poderes especiais. Indeferida liminar às fls. 56/57. O Subprocurador-Geral da República manifestou-se pelo não conhecimento do habeas corpus (fls. 74/82). É o relatório. Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 12/02/2015 Página 3 de 6

4 HABEAS CORPUS Nº MG (2014/ ) VOTO O EXMO. SR. MINISTRO GURGEL DE FARIA (Relator): A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, acompanhando a orientação da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, firmou-se no sentido de que o habeas corpus não pode ser utilizado como substituto de recurso próprio, sob pena de desvirtuar a finalidade dessa garantia constitucional, exceto quando a ilegalidade apontada for flagrante, hipótese em que se concede a ordem de ofício. Consta dos autos que José Eduardo Ribeiro e Gelásio Ferraz de Melo foram denunciados como incursos nas penas do art. 121, c/c o 18, II, do Código Penal, em virtude da morte da menor S. de M. S. Em 05/08/2009, o Ministério Público Estadual manifestou-se favoravelmente ao deferimento do pedido de assistência à acusação, realizado pela Defensoria Pública em prol da Sra. Lucimeire de Melo, mãe da vítima. Em 20/08/2009, a genitora da vítima foi aceita como assistente de acusação. Ocorre que, no dia 21/03/2013, o Ministério Público Estadual se insurgiu contra a referida decisão, sob o argumento de que não foram anexados aos autos o comprovante de hipossuficiência e a procuração com poderes especiais. Inconformado com o indeferimento de seu requerimento no Juízo de 1º grau, o Parquet impetrou mandado de segurança no Tribunal de origem, cuja ordem foi denegada, conforme se depreende da ementa a seguir: MANDADO DE SEGURANÇA- DEFENSORIA PÚBLICA-APRESENTAÇÃO DE PROCURAÇÃO E DECLARAÇÃO DE POBREZA- DESNECESSIDADE- ORDEM DENEGADA - Se a parte encontra-se representada pela Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais, não há necessidade de apresentação de procuração, conforme dispõe o art. 16, parágrafo único, da Lei n 1.060/50 e art.74, XI, da Lei Complementar Estadual nº 65/ Se a Defensoria Pública assumiu a representação da assistente de acusação é porque restou comprovado sua situação de hipossuficiência, não havendo que exigir em juízo a apresentação de documentos que atestem a carência econômica da parte. Examinando a ementa do julgado acima transcrita, verifico que não há que se falar em irregularidade na representação da assistência à acusação, muito menos em ocorrência de flagrante constrangimento ilegal. Com efeito, a Defensoria Pública tem por função institucional patrocinar tanto a ação penal privada quanto a subsidiária da pública, não havendo incompatibilidade com a função acusatória. Nada impede que possa prestar assistência Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 12/02/2015 Página 4 de 6

5 jurídica, atuando como assistente de acusação, nos termos dos arts. 268 e seguintes do Código de Processo Penal. Nesse sentido, colaciono precedente desta Corte: PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. DEFENSORIA PÚBLICA. ASSISTÊNCIA DE ACUSAÇÃO. PRAZO EM DOBRO. I - É função institucional da Defensoria Pública patrocinar tanto a ação penal privada quanto a subsidiária da pública, não havendo nenhuma incompatibilidade com a função acusatória, mais precisamente a de assistência da acusação. II - O disposto no 5º do artigo 5º da Lei nº 1.060/50, com a redação dada pela Lei nº 7.871/89, aplica-se a todo e qualquer processo em que atuar a Defensoria Pública. Writ denegado. (HC /PB, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 19/08/2003, DJ 29/09/2003, p. 288). Grifos acrescidos. Assim, não encontra amparo legal o pedido de trancamento parcial do feito formulado pelo MP, tendo em vista que o defensor público deve juntar procuração judicial somente nas hipóteses em que a lei exigir poderes especiais (arts. 44, XI, 89, XI, e 128, XI, da Lei Complementar n. 80/1994), o que não se verifica na situação em apreço. Quanto à alegação de ausência de provas a comprovar a carência material da genitora da vítima, verifica-se que compete à própria Defensoria Pública Estadual o direito de apurar o estado de carência de seus assistidos, consoante o art. 4º, 2º, da Lei Complementar Estadual de Minas Gerais n. 65/2003. Ademais, o art. 4º, 1º, da Lei n /1950, estabelece normas para concessão de assistência judiciária aos necessitados, apontando como necessária a simples afirmação de carência de recursos, sendo prescindível, portanto, colacionar outros documentos aos autos. Por fim, cumpre ressaltar que a via estreita do habeas corpus não é adequada para analisar afastamento de assistência judiciária gratuita, pois demandaria dilação probatória. Diante do exposto, NÃO CONHEÇO do habeas corpus. É como voto. Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 12/02/2015 Página 5 de 6

6 CERTIDÃO DE JULGAMENTO QUINTA TURMA Número Registro: 2014/ PROCESSO ELETRÔNICO HC / MG MATÉRIA CRIMINAL Números Origem: EM MESA JULGADO: 05/02/2015 Relator Exmo. Sr. Ministro GURGEL DE FARIA Presidente da Sessão Exmo. Sr. Ministro JORGE MUSSI Subprocurador-Geral da República Exmo. Sr. Dr. BRASILINO PEREIRA DOS SANTOS Secretário Bel. MARCELO PEREIRA CRUVINEL IMPETRANTE ADVOGADO IMPETRADO PACIENTE CORRÉU AUTUAÇÃO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS : ANDRÉ LUÍS ALVES DE MELO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS : GELÁSIO FERRAZ DE MELO : JOSÉ EDUARDO RIBEIRO ASSUNTO: DIREITO PROCESSUAL PENAL - Ação Penal - Trancamento CERTIDÃO Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: "A Turma, por unanimidade, não conheceu do pedido." Os Srs. Ministros Newton Trisotto (Desembargador convocado do TJ/SC), Walter de Almeida Guilherme (Desembargador convocado do TJ/SP), Felix Fischer e Jorge Mussi votaram com o Sr. Ministro Relator. Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 12/02/2015 Página 6 de 6