UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE TECNOLOGIA ENGENHARIA CIVIL
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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE TECNOLOGIA ENGENHARIA CIVIL ANÁLISE DA ADEQUAÇÃO DE UM EDIFÍCIO COMERCIAL A ETIQUETA PROCEL EDIFICA DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA IVNA BAQUIT CAMPOS FORTALEZA 2010
2 ii IVNA BAQUIT CAMPOS ANÁLISE DA ADEQUAÇÃO DE UM EDIFÍCIO COMERCIAL A ETIQUETA PROCEL EDIFICA DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA Monografia apresentada à disciplina de Projeto de Graduação do curso de Engenharia Civil da Universidade Federal do Ceará, como parte dos requisitos para obtenção do título de Engenheiro Civil. Orientador: Prof. José de Paula Barros Neto, D.Sc. FORTALEZA 2010
3 iii C212a Campos, Ivna Baquit. Análise da adequação de um edifício comercial a etiqueta PROCEL Edifica de eficiência energética / Ivna Baquit Campos. Fortaleza, f. il.; color. enc. Orientador: Prof. Dr. José de Paula Barros Neto Monografia (graduação) - Universidade Federal do Ceará, Centro de de Tecnologia, Depto. de Engenharia Estrutural e Construção Civil, Fortaleza, Arquitetura e Conservação de Energia 2. Construção Aproveitamento Energético. I. Barros Neto, José de Paula. (Orient.) II. Universidade Federal do Ceará Graduação em Engenharia Civil. III. Título. CDD 620
4 iv IVNA BAQUIT CAMPOS ANÁLISE DA ADEQUAÇÃO DE UM EDIFÍCIO COMERCIAL A ETIQUETA PROCEL/EDIFICA DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA Monografia submetida à Coordenação do Curso de Engenharia Civil, da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Engenheiro Civil. Aprovada em / / BANCA EXAMINADORA Prof. Dr. José de Paula Barros Neto (Orientador) Universidade Federal do Ceará - UFC Prof. M.Sc. Tomaz Nunes Cavalcante Neto Universidade Federal do Ceará - UFC Eng. Geórgia Morais Jereissati Mestrando do PEC Universidade Federal do Ceará - UFC
5 v Aos meus pais, Henrique Câmara e Silvia Helena Baquit pelo apoio e amor incondicional
6 vi AGRADECIMENTOS Agradeço, inicialmente, ao meu orientador, Professor José de Paula Barros Neto, por ter me acatado como orientando e por toda a dedicação e atenção a mim dispensadas. À Universidade Federal do Ceará, ao Coordenador do Curso de Engenharia Civil Professor Francisco das Chagas Neto e a todos os professores do Curso de Engenharia Civil, por tantos aprendizados novos. Em especial agradeço à Professora Thais da Costa Lago Alves e ao Professor John Kenedy de Araújo pelo apoio a mim dispensado. Ao CNPq, na figura do Gercon, pela oportunidade de desenvolver um interessante trabalho de pesquisa, além da gratificação de estabelecer excelentes amizades. Não poderia deixar de destacar os amigos Sávio, Mário e Lili. Aos meus colegas do NEAB e ao professor Tomaz, que me incentivaram nesta jornada. Em especial às amigas Daniele e Karoline que foram tão importantes durante o desenvolvimento desta pesquisa. Aos colegas de graduação Victor, Daniela, André, Ana Cecília e Camila, que caminharam comigo ao longo de todos estes anos. Gostaria de expressar um agradecimento especial ao meu companheiro Ernesto Molinas, pelo carinho partilhado e pela importante contribuição na realização deste trabalho. Ao meu pai, Henrique Câmara, que sempre me incentivou, com amor e dedicação em minha formação profissional. À minha mãe, Silvia Helena pelo apoio nas horas de trabalho, que esteve sempre ao meu lado acompanhando-me não só na concretização deste trabalho, mas em todas as etapas de minha vida.
7 vii RESUMO O Brasil passa por uma transformação com relação à questão de eficiência energética na construção civil. Inserido no contexto da Lei de Eficiência Energética nº , de 2001 e no Programa Brasileiro de Etiquetagem, em 2009, foi publicado, o Regulamento Técnico da Qualidade do Nível de Eficiência Energética de Edifícios Comerciais, de Serviços e Públicos (RTQ-C) do programa PROCEL Edifica. Este se propõe a certificar projetos que prevêem redução de consumo e o uso de energias alternativas. Com isso, o objetivo geral desta pesquisa é propor diretrizes para a adequação de um empreendimento comercial existente ao nível máximo de eficiência energética da etiqueta PROCEL Edifica. A estratégia de pesquisa a ser adotada nessa monografia é o estudo de caso em um empreendimento comercial localizado na cidade de Fortaleza. O delineamento desta pesquisa compõe-se de três etapas: a primeira etapa de preparação do estudo de caso com elaboração de ferramentas computacionais para processo de avaliação; a segunda etapa de determinação do nível de eficiência energética do empreendimento comercial, e a terceira etapa de identificação das medidas necessárias à obtenção do nível máximo de eficiência energética da etiqueta PROCEL Edifica. O edifício foi avaliado pelo método prescritivo obedecendo ao processo metodológico descrito pelo RTQ-C. Com a avaliação, foram encontrados os seguintes níveis de eficiência: C para a envoltória, C para o sistema de iluminação e B para o sistema de condicionamento de ar, resultando no nível C para a classificação geral do edifício. Verificou-se que pequenas alterações no projeto podem levá-lo ao nível máximo de eficiência energética, como a redução do percentual de abertura das fachadas, redução da transmitância da coberta, implantação de controle de desligamento automático do sistema de iluminação, possibilidade de medição centralizada por uso final e adoção de equipamentos de condicionamento de ar mais eficientes. Palavras-chaves: construções sustentáveis, eficiência energética, PROCEL Edifica.
8 viii LISTA DE FIGURAS Figura Fluxograma do processo de avaliação da conformidade Figura zoneamento bioclimático brasileiro Figura Formato da Etiqueta Nacional de Conservação de Energia Figura Plantas baixa: (a) térreo (b) mezanino Figura Vista geral da obra estudada Figura Delineamento da Pesquisa Figura Fluxograma do processo de etiquetagem do programa PROCEL Edifica Figura Desenho ilustrativo alvenaria de tijolo cerâmico Figura 6.2 Tipos de condicionadores de ar: (a) split cassete (b) split Figura 6.3 ENCE do empreendimento avaliado... 81
9 ix LISTA DE QUADROS Quadro Categorias da certificação BREEAM Quadro Níveis de classificação da certificação BREEAM Quadro Pontuação requerida pela certificação LEED Quadro Famílias e categorias da Qualidade Ambiental de Edifícios Quadro Equivalentes numéricos da etiqueta PROCEL Edifica Quadro Classificação final para etiquetagem PROCEL Quadro Resumo de definições das certificações Quadro Equivalentes numéricos da etiqueta PROCEL Edifica Quadro Classificação final para etiquetagem PROCEL... 50
10 x LISTA DE TABELAS Tabela Critérios da certificação BREEAM Tabela Critérios da certificação LEED Tabela Critérios da certificação HQE Tabela Investimentos e resultados do PROCEL Tabela Determinação transmitância térmica da alvenaria Tabela Parâmetros para determinação da transmitância térmica Tabela Transmitância térmica dos materiais Tabela Cálculo da transmitância média da parede Tabela Cálculo da transmitância média da cobertura Tabela Cálculo da absortância média Tabela Resultado da avaliação dos pré-requisitos da envoltória Tabela Caracterização da envoltória a partir das variáveis determinantes do IC Tabela Resultado da classificação do índice de consumo da envoltória Tabela Resultado da avaliação dos pré-requisitos do sistema de iluminação Tabela Nível de eficiência do sistema de iluminação pelo método da área Tabela Resultado da avaliação dos pré-requisitos do sistema de condicionamento de ar Tabela Nível de eficiência do sistema de condicionamento de ar Tabela Determinação classificação geral do edifício Tabela Resultado da avaliação dos pré-requisitos gerais Tabela Nível geral de eficiência com implantação de diretrizes... 85
11 xi SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO Contextualização e justificativa da Pesquisa Problema de Pesquisa Objetivos Objetivo Geral Objetivos Específicos Limitação da pesquisa Estrutura do Trabalho SUSTENTABILIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL Considerações Iniciais Construções Sustentáveis Metodologias de Avaliação Ambiental Certificação BREEAM Certificação LEED Certificação HQE Programa PROCEL Edifica Considerações Finais EFICIÊNCIA ENERGÉTICA Considerações Iniciais Eficiência energética na construção civil Critérios de Eficiência Energética nas Certificações Certificação BREEAM Certificação LEED Certificação HQE Etiquetagem PROCEL Edifica Considerações Finais PROCEL EDIFICA Considerações Iniciais PROCEL PROCEL Edifica Método de determinação da eficiência Método prescritivo: envoltória Método prescritivo: sistema de iluminação Método prescritivo: sistema de condicionamento de ar Considerações Finais METODOLOGIA Considerações Iniciais Estratégia de Pesquisa Delineamento da Pesquisa Descrição da empresa e do empreendimento estudado Etapas da Pesquisa Considerações Finais RESULTADOS Considerações Iniciais Preparação do estudo de caso... 66
12 6.2.1 Planilhas computacionais Orientação para processo de etiquetagem Condução do estudo de caso Etapa de projeto Envoltória a) Análise dos Pré-requisitos da envoltória b) Determinação do Índice de Consumo da envoltória c) Resultado final da classificação da envoltória Sistema de Iluminação a) Pré-requisitos específicos do sistema de iluminação b) Determinação da Densidade de Potência de Iluminação c) Resultado final da Avaliação de Iluminação Sistema de condicionamento de Ar a) Pré-requisitos específicos do sistema de iluminação b) Avaliação do nível de eficiência dos aparelhos c) Resultado final da Avaliação do Sistema de Condicionamento de Ar Nível global de eficiência energética a) Nível de eficiência geral do edifício b) Pré-requisitos gerais c) Resultado do nível global de eficiência energética do edifício Etapa de inspeção Proposição de diretrizes Envoltória Sistema de Iluminação Sistema de Condicionamento de Ar Classificação Global Considerações Finais CONSIDERAÇÕES FINAIS Dificuldades observadas Sugestões para trabalhos futuros REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANEXO 01 Orientação para o processo de etiquetagem voluntária do nível de eficiência energética de edifícios comerciais, de serviços e públicos xii
13 1. INTRODUÇÃO 1.1 Contextualização e justificativa da Pesquisa Desenvolvimento sustentável é atualmente tema de destaque dos debates nas diversas esferas, econômica, política e social. O relatório Brundtland define desenvolvimento sustentável, como aquele que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as futuras gerações satisfazerem suas próprias necessidades (WCED, 1987). A preocupação com os impactos social e ambiental das empresas relativos à suas atividades vem sendo forçada pelas exigências cada vez mais presentes por parte da sociedade civil, de investidores, financiadores e consumidores. Estas práticas sustentáveis quando adotadas pelas empresas, nos dias de hoje, têm valorizado seus títulos em bolsas de ações, como: Dow Jones e Bovespa (PARDINI, 2009). A indústria da construção civil, por sua vez, é responsável por expressivos impactos ambientais, nas fases de construção, uso, demolição ou até desativação do ambiente construído. Por isso, o ambiente construído tem sido um dos focos das discussões sobre a busca por padrões mais sustentáveis de desenvolvimento. No âmbito internacional, a busca pelos padrões de sustentabilidade já se encontram em um estágio avançado. A prova disso é a crescente discussão acerca de edificações sustentáveis (PICOLI et al. 2008). Para Brandli (2007), a medição do desempenho ambiental de uma edificação é fundamental para o desenvolvimento sustentável, para administrar os impactos ambientais e os altos níveis de desperdício causados pela construção civil. As medições fornecem assim aos gestores as informações necessárias à tomada de decisões e ao desenvolvimento de ações de melhoria no desempenho sustentável do ambiente construído. Com isso, uma série de métodos surge em todo o mundo, com o objetivo de avaliar o nível de desempenho ambiental das edificações. Dentre eles podemos destacar o primeiro sistema de avaliação ambiental de edifícios desenvolvido: Building Research Establishment Environmental Assessment Method (BREEAM), que foi lançado no Reino Unido e serviu de embasamento para vários outros métodos; Além disso, temos: a certificação americana Leadership in Energy and Environmental Design (LEED), metodologia com maior potencial de crescimento, fruto de grandes investimentos realizados para sua divulgação; a certificação francesa Haute Qualité Environmentale (HQE) inovadora, pois, avalia o sistema de gestão do empreendimento além de suas características de desempenho; e a etiqueta de
14 14 eficiência energética desenvolvida pelo Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (PROCEL) (SILVA, 2007). Dentre os quatro métodos de avaliação ambiental citados anteriormente, este estudo tem como foco o PROCEL e mais especificamente o Programa Nacional de Conservação e Eficiência Energética em Edificações (PROCEL Edifica). Desenvolvido como mecanismo de avaliação da conformidade para classificação do nível de eficiência energética de edificações pelo Ministério de Minas e Energia em parceria com as Centrais Elétricas Brasileiras (Eletrobrás) e o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro), o programa PROCEL Edifica se propõe a certificar projetos que prevêem redução de consumo e o uso de energias alternativas, estimulando a adoção de ações nesse sentido (SANTOS; SILVEIRA, 2009). Desde 2009, a etiqueta se aplica a edifícios comerciais, de serviços e públicos, e em novembro de 2010 foi lançado também o regulamento para avaliação de edifícios residenciais. Atualmente, segundo Inmetro (2010), apenas doze empreendimentos em todo o país possuem a etiqueta de eficiência energética do programa PROCEL Edifica. porém acredita-se que a atuação do programa irá crescer consideravelmente com as perspectivas de obrigatoriedade da etiquetagem no Brasil, que atualmente possui caráter voluntário (TAMAKI, 2009). Segundo Casella (2010), a etiqueta ainda terá uma maior abrangência com o lançamento para edificações residenciais previsto para o final do ano de 2010 e com o grande números de construções nos próximos seis anos, consequência da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016, em que será disponibilizada uma linha de crédito pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para construção, reforma, ampliação e modernização de hotéis, através do programa BNDES ProCopa Turismo, que tem como exigência a obtenção da classificação do nível máximo de eficiência energética do PROCEL Edifica (BNDES, 2010). 1.2 Problema de Pesquisa Para formulação do problema de pesquisa foi realizada uma análise da produção científica sobre sustentabilidade na construção civil em dois importantes eventos científicos: Simpósio Brasileiro de Gestão da Economia da Construção (SIBRAGEC) nos anos de 2005, 2007 e 2009 e o Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído (ENTAC) nos anos de 2004, 2006 e Ao observar a amostra, que totaliza 252 artigos, pode-se observar
15 15 a pequena abordagem relativa à eficiência energética. Este tema é discutido em apenas 10 artigos publicados ao longo destes anos, o que corresponde a 4,0% da amostra. Durante este período, os artigos relacionados à eficiência energética abordavam o consumo de energia embutida nas edificações e os impactos ambientais gerados pela indústria da construção. Cruz e Ferreira, 2004; Tavares e Lamberts, 2006; Esteves e Gelardi, 2006; Tavares e Lamberts, 2008; Taborianski, Simoni e Prado, 2008 destacam o uso de recursos naturais e consumo de energia para fabricação dos materiais da construção, enquanto Maciel et al., 2006; Qualharini e Ducap, 2008; Niemeyer et al., 2008; Leão Junior e Bittencourt, 2008; Santos, Urbanetz Junior e Ruther, 2008 tratam da avaliação do desempenho das edificações, analisando e sugerindo ações sustentáveis, estratégias bioclimáticas e soluções inovadoras no projeto arquitetônico, a fim de minimizar o consumo energético. Em 2010, o cenário de publicações sofre grandes mudanças. O fato pode ser observado através das mais de cem publicações na área temática de conforto ambiental e eficiência energética, apresentadas no encontro ENTAC. Um forte sinalizador desta mudança é o lançamento, no final de 2009, do Regulamento Técnico da Qualidade para Edifícios Comerciais, de Serviços e Públicos (RTQ-C) do programa PROCEL Edifica. Nas publicações deste encontro são avaliados diversos conceitos para atingir o conforto ambiental e eficiência energética nas edificações, tais como: o conforto térmico do ambiente construído, com análise do desempenho dos materiais construtivos e possíveis técnicas que contribuam para melhorar o desempenho térmico das edificações (TUBELO; SATTLER, 2010; OLIVEIRA et al., 2010; GRAF; TAVARES; SCHMID, 2010; LUKIANTCHUKI; PRADO; CARAM, 2010; MENDOÇA et al., 2010); o conforto lumínico, no qual são avaliadas as condições de iluminação natural e artificial das edificações (FERNANDES et al., 2010; ROSSETI et al., 2010; MORELLO; KRUM; SATTLER, 2010); e a análise de estratégias bioclimáticas que poderão possibilitar o atendimento das condições de conforto e de economia de energia nas edificações ( POUEY; SILVA, 2010; RODRIGUES et al., 2010; CORREIA; BARBIRATO, 2010). Pode ser observado que as publicações que tratam acerca da aplicação do regulamento RTQ-C para avaliação do desempenho ambiental das edificações, muitas vezes, são aplicadas em edifícios educacionais, em campus universitários (PEDRINI et al., 2010; TEIXEIRA; CUNHA, 2010; LEDER; LIMA, 2010; CARVALHO et al., 2010; NOGUEIRA et al., 2010). Esta prática vem de encontro à idéia de aplicar o RTQ-C para instrumentalizar o
16 16 corpo técnico da universidade no que diz respeito à eficiência energética das edificações (TEIXEIRA; CUNHA, 2010). Alguns artigos avaliam edifícios já existentes nas universidades, enquanto outros elaboram projetos, com aplicação dos conceitos de eficiência energética, para construções futuras e analisam seus desempenhos ambientais pela metodologia de etiquetagem. De acordo com Souza et al. (2010) a implantação de um novo regulamento requer uma fase de adaptação dos profissionais e do mercado envolvido. Corroborando essa idéia há a constatação de que o mercado, atualmente, apresenta poucos profissionais que dominam o processo de certificação e que são capacitados na aplicação e consultoria do regulamento. Assim, o Núcleo de Engenharia e Arquitetura Bioclimática (NEAB), grupo de pesquisa vinculado a Universidade Federal do Ceará (UFC), cuja pesquisadora é membro participante, iniciou suas pesquisas na área de conforto ambiental e eficiência energética, e atualmente tem como foco de pesquisa o programa PROCEL Edifica. O objetivo principal do grupo é se tornar um organismo acreditado pelo INMETRO, capaz de etiquetar edificações comerciais, de serviços e públicos. Em uma pesquisa realizada por pesquisadores do referido grupo, nas principais construtoras da cidade de Fortaleza, por Andrade et al. (2009), acerca do nível de conhecimento sobre Certificação de Edifícios Verdes, os autores constataram que ainda não existem edifícios certificados na cidade e que o mercado da construção civil cearense encontra-se desatualizado e com ações tímidas em relação aos sistemas de certificação. Porém, várias das empresas entrevistadas demonstraram interesse no conhecimento e aplicação de sistemas de avaliação ambiental em seus empreendimentos. Assim, o grupo propõe-se a estabelecer diretrizes para encorajar o setor cearense da construção à inclusão no cenário nacional das certificações. Com isso, esta pesquisa serviu como ferramenta de capacitação à metodologia de avaliação do RTQ-C e também se propõe a servir de auxílio para empresas interessadas em conhecer e até implantar o sistema de etiquetagem do nível de eficiência energética em seus empreendimentos. Frente ao aspecto da obrigatoriedade iminente da etiquetagem e da importância da questão eficiência energética nas edificações, este trabalho se propõe fazer uma investigação em um edifício comercial buscando responder a pergunta que norteará este estudo: Como
17 17 adequar um empreendimento comercial já existente ao nível máximo de eficiência energética da etiqueta PROCEL Edifica. 1.3 Objetivos O estudo toma como objeto a etiquetagem nacional de conservação de energia do PROCEL Edifica, através do Plano de Ação para Eficiência Energética. Desta forma, com base no contexto inicial apresentado sobre o tema, propõem-se os seguintes objetivos: Objetivo Geral Propor diretrizes para a adequação de um empreendimento comercial existente ao nível máximo de eficiência energética da etiqueta PROCEL Edifica Objetivos Específicos Esse objetivo geral, por sua vez, provoca os seguintes objetivos específicos: Elaborar ferramentas para processo de avaliação da eficiência energética. Determinar o nível de eficiência energética do empreendimento comercial. Identificar medidas necessárias à obtenção do nível máximo de eficiência energética da etiqueta PROCEL Edifica para um edifício comercial. Em consonância com os objetivos a serem alcançados a pesquisa se caracteriza por ser qualitativa seguindo a estratégia de estudo de caso qualitativo. O estudo é do tipo exploratório e descritivo. 1.4 Limitação da pesquisa Este trabalho possui algumas limitações que merecem ser consideradas. A pesquisa foi realizada em uma empresa de pequeno porte que trabalha com sistema de construção por administração, terceirizando diversos serviços, entre eles as instalações elétricas e hidrosanitárias, fundamentais para o processo de etiquetagem. Por tratar-se de um estudo de caso com análise de uma única empresa, os resultados encontrados retratam a realidade da empresa em questão, desta forma, o estudo serve como uma indicação não podendo ter generalizado seus resultados.
18 Estrutura do Trabalho Esta monografia encontra-se estruturada ao longo de sete capítulos, os quais abordam o referencial teórico, a metodologia da pesquisa e os resultados alcançados, além deste capítulo de introdução e das considerações finais. O primeiro capítulo de introdução trata da contextualização e justificativa da pesquisa, objetivos, geral e específico, além do problema e limitações da pesquisa. O segundo capítulo apresenta as questões de sustentabilidade na construção civil, com apresentação das metodologias de avaliação ambiental. No terceiro capítulo apresentam-se as questões de eficiência energética nas edificações, bem como a análise dos critérios de eficiência em cada metodologia. No quarto capítulo apresenta-se o PROCEL com seus investimentos e áreas de atuação, além do detalhamento da metodologia de etiquetagem do programa PROCEL Edifica. No capítulo cinco, apresenta-se a metodologia utilizada para o desenvolvimento deste trabalho. Discorre-se acerca da estratégia de pesquisa, do delineamento da pesquisa composto por três etapas, além de uma breve apresentação da empresa e do empreendimento estudado. Seguindo, no capítulo seis serão apresentados e discutidos os resultados encontrados no estudo de caso e proposta diretrizes de adequação. O sétimo capítulo expõe as considerações finais acerca da pesquisa, as principais dificuldades encontradas para sua realização, além de sugestões para trabalhos futuros.
19 2 SUSTENTABILIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL 2.1 Considerações Iniciais Neste capítulo são discutidos o surgimento da preocupação e as primeiras atitudes tomadas quanto aos problemas ambientais causados pela indústria da construção civil. Em seguida, discorre-se sobre as metodologias de avaliação ambiental de edifícios mais abrangentes no país, BREEAM, LEED, HQE e o PROCEL Edifica, definindo todo processo metodológico de cada certificação: seu surgimento, as categorias abordadas, além dos níveis de certificação e tipos de edificação que podem ser aplicadas. 2.2 Construções Sustentáveis Dez anos após a virada do século, pode-se identificar o desenvolvimento sustentável como o grande tema para o século XXI, sendo tanto uma ideologia quanto objeto de políticas de governo. Segundo Souza (2002), apesar de não ser recente e de já ter sido tratada por muitos no passado como uma questão ideológica de grupos ecologistas que não aceitavam a sociedade de consumo moderna, com suas conseqüências ambientais trazidas pelo crescimento econômico, a preocupação com a preservação ambiental assume atualmente uma importância cada vez maior para as empresas e a sociedade, provocando atitudes estratégicas e medidas que buscam a preservação ambiental e social. As tentativas de atuar sobre problemas ambientais em escala internacional datam do início do século XX, mas, segundo Barbieri (2004), as questões ambientais apenas se consolidaram em escala internacional, começando a se tornar uma preocupação verdadeiramente global e integrada, na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo em Esta conferência provocou discussões na Organização das Nações Unidas (ONU) que levaram à criação da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD, ou WCED sua sigla em inglês), em 1983, que no desenvolver de seus trabalhos publicou, em 1987, o livro intitulado Nosso Futuro Comum (também conhecido como Relatório Brundtland, nome da presidenta da Comissão Gro Brundtland, primeira ministra da Noruega). Esta publicação teve o intuito de discutir e propor meios de harmonizar dois objetivos: o desenvolvimento econômico e a conservação ambiental. No relatório propõe-se o conceito de desenvolvimento sustentável, como aquele que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as futuras
20 20 gerações satisfazerem suas próprias necessidades (WCED, 1987). Desde então esse conceito tem se consolidado como um paradigma consensual de diferentes visões sobre a questão econômica e o meio ambiente. Dentro deste paradigma surge a necessidade das organizações de gerenciar questões sociais e ambientais ou repensar a organização frente ao que veio a se chamar de sustentabilidade empresarial (o equilíbrio de longo prazo das variáveis econômicas, sociais e ambientais). Nos dias atuais desenvolvimento sustentável é uma questão muito debatida em diversas áreas de conhecimento trazendo diferentes abordagens conceituais. Atitudes tomadas no ambiente construído refletem fortemente no desenvolvimento sustentável. Esta preocupação em buscar um modo de vida que não comprometa a sobrevivência de gerações futuras se deu em função das diversas catástrofes ambientais ocorridas no mundo nas últimas décadas, devido, em grande parte, ao aumento da temperatura global causada pela crescente emissão de gases poluentes na atmosfera (LEÃO JUNIOR, BITTENCOURT, 2008). Segundo Picolli et al (2008), as empresas estão sendo forçadas a se preocuparem com os impactos sociais e ambientais causados por suas atividades, por conta de exigências cada vez mais presentes por parte da sociedade civil, de investidores, financiadores e consumidores. O movimento para um desenvolvimento sustentável vem se destacando em todo o mundo há duas décadas, causando uma mudança significativa na construção em um período de tempo relativamente curto. A construção sustentável, uma das áreas do desenvolvimento sustentável, aborda o papel do ambiente construído, contribuindo, assim, para a visão global da sustentabilidade (KIBERT, 2007). No setor da construção civil, a sustentabilidade, o impacto ambiental e os altos níveis de desperdícios têm sido pauta de ampla discussão durante as últimas décadas, especialmente na esfera acadêmica (SALVETTI; CZAJKOWSKI; GÓMEZ, 2010; CARVALHO et al., 2010; FOSSATI; LAMBERTS, 2010; FONSECA et al., 2010). Isto vem ocorrendo porque a indústria da construção tem sido responsável por impactos significativos sobre o meio ambiente. A construção de edifícios, assim como de obras de infra estrutura, consome energia desde as fases de extração de materiais junto a jazidas até as de demolição (BRANDLI et al, 2007). Construção sustentável é um conceito que requer a consideração de objetivos sustentáveis no processo de decisão em todas as fases do ciclo de vida da edificação. Tendo
21 21 em vista a complexidade envolvida para a obtenção da sustentabilidade na construção, não há um modelo único para a construção sustentável, sendo que o desafio de medir sustentabilidade reside no fato de que sustentabilidade não é mensurável (BAE, KIM, 2007). A organização Conseil International Du Batiment (CIB) define construção sustentável como a criação e o desenvolvimento de um processo de construção saudável, baseado em recursos eficientes e design ecológico. O CIB estabeleceu sete princípios para a construção sustentável: Reduzir, reutilizar e reciclar os recursos, proteger a natureza, eliminar elementos tóxicos, aplicar o ciclo de vida de custeio e focar na qualidade. Estes princípios são aplicados em todos os recursos: solo, materiais, água, energia e ecossistema, durante todo o ciclo da construção (KIBERT, 2007). No entanto, sabe-se que os requisitos referentes à construção sustentável serão priorizados de acordo com as características de cada região, do local a ser aplicado, isto é, dependentes dos recursos naturais disponíveis, das tecnologias existentes, clima, leis e regulamentos já existentes, além da cultura e tradição de cada um. Tudo isso aliado ao nível de desenvolvimento de cada país em relação às três dimensões da sustentabilidade: social, ambiental e econômica. Onde a social está associada à educação da população e suas condições de trabalho e moradia; a dimensão ambiental referente às políticas e práticas locais de proteção ao meio ambiente e a econômica, relacionada ao nível do desenvolvimento industrial, de geração e distribuição de renda (PARDINI, 2009). Segundo Brandli et al (2007), a medição do desempenho de uma edificação é fundamental para o desenvolvimento sustentável. As medições fornecem aos engenheiros e arquitetos as informações necessárias à tomada de decisões e ao desenvolvimento de ações de melhoria no desempenho sustentável do ambiente construído. Para Triana e Lamberts (2007), o desenho das edificações pode ser um dos grandes aliados para a melhoria da situação atual no que se refere aos problemas ambientais. Desta forma, edificações projetadas com critérios de eficiência energética se apresentam como sendo algo imperativo neste momento. Na década de 70, com a crise do petróleo, foram desenvolvidas diversas iniciativas de avaliação de edificações, visando à maximização da eficiência energética dos edifícios. Resultante da propagação da conscientização ambiental, na década de 90 há o surgimento e a difusão do conceito de projeto ecológico (ou do inglês green design) (SILVA, 2007).
22 22 Com as discussões a respeito dos impactos da construção civil no meio ambiente, observou-se o surgimento de metodologias, assim como investimentos em certificação de edifícios baseada em critérios e indicadores de desempenho que expressam o consumo de energia ou o impacto ambiental e que tem como objetivo a avaliação da qualidade ambiental da edificação (SALGADO, 2008). Estas metodologias de avaliação ambiental de edifícios surgiram na década de 90 na Europa, nos Estados Unidos e no Canadá como parte das estratégias para o cumprimento de metas ambientais locais. Todos esses métodos tinham um objetivo comum: visavam encorajar a demanda do mercado por níveis superiores de desempenho ambiental (SILVA, 2007). Segundo Yudelson (2008), o termo green building, ou seja, edifício verde engloba todas as iniciativas dedicadas a construções com alto desempenho capazes de reduzir seus impactos sobre o meio ambiente e a saúde humana. Um edifício verde é projetado utilizando os recursos de forma mais eficiente, com economia de energia e água, permitindo a redução dos impactos ambientais através de reutilização ou reciclagem de materiais, aumentando a vida útil destes materiais utilizados. 2.3 Metodologias de Avaliação Ambiental A necessidade de avaliar o nível do desempenho ambiental das edificações surge, pois, mesmo nos países que já aplicavam conceitos ecológicos em seus projetos, mas não possuíam meios de verificar quão verdes eram os edifícios. Além disso, o considerável crescimento de interesse pela avaliação ambiental de edifícios feita pelas certificações, por conta dos pesquisadores e agências governamentais, ocorre por este sistema de certificações ser um dos métodos mais eficientes para elevar o nível de desempenho ambiental das edificações (SILVA, 2007). Os sistemas de avaliação e certificações possuem, ainda, caráter voluntário e deverá ser adotado por conscientização ambiental ou por questões estratégicas de competitividade. Vários países possuem ao menos um sistema de avaliação de edifícios. Dentre eles destaca-se: o Building Research Establishment Environmental Assessment Method (BREEAM), primeiro sistema de avaliação ambiental de edifícios desenvolvido, que serviu de embasamento para vários outros métodos, tendo sido lançado no Reino Unido; a certificação americana Leadership in Energy and Environmental Design (LEED), metodologia com maior
23 23 potencial de crescimento, fruto de grandes investimentos realizados para sua divulgação; a certificação francesa Haute Qualité Environmentale (HQE), inovadora, pois, avalia o sistema de gestão do empreendimento além de suas características de desempenho, e a etiqueta de eficiência energética desenvolvida pelo Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (PROCEL) (SILVA, 2007) Certificação BREEAM A certificação britânica Building Research Establishment Environmental Assessment Method, BREEAM é o primeiro e mais conhecido método de avaliação ambiental de edifícios, lançado no Reino Unido em 1990 por pesquisadores do Building Research Establishment (BRE) e do setor privado, em parceria com a indústria, visando à medição do desempenho das edificações (SILVA, 2007). Este sistema de avaliação possui como objetivos específicos: Distinguir edifícios de menor impacto ambiental no mercado; Encorajar práticas ambientais de excelência no projeto e execução, gestão e operação; Definir critérios e padrões indo além daqueles exigidos por lei, normas e regulamentações; Conscientizar proprietários, ocupantes, projetistas e operadores quanto aos benefícios de edifícios com menor impacto ambiental. O BREEAM fornece um processo formal de avaliação embasado em uma auditoria externa e os edifícios são avaliados independentemente por avaliadores treinados e indicados pelo BRE, que, por sua vez, são responsáveis por especificar os critérios e métodos de avaliação e pela garantia da qualidade do processo de avaliação utilizado. Esta metodologia é atualizada regularmente (a cada 3-5 anos) para apropriar-se de avanços em pesquisas, além de refletir mudanças ocorridas nas prioridades de regulamentações e do mercado. A popularidade da certificação BREEAM deve-se a sua abordagem de desempenho de referência (bechmark), sua abrangência em consideração aos aspectos relativos à energia, aos impactos ambientais e à saúde e produtividade, além de potenciais vantagens financeiras (SILVA, 2007).
24 24 Os critérios ambientais considerados no sistema BREEAM estão distribuídos em nove categorias e suas respectivas pontuações, somando um total de 1062 pontos, conforme o Quadro 2.1. Quadro Categorias da certificação BREEAM. CATEGORIAS DA CERTIFICAÇÃO BREEAM (% total de pontos) Gestão (14,1%) Aspectos globais de política e procedimentos ambientais Saúde/conforto (14,1%) Ambiente interno e externo ao edifício Uso de energia (19,6%) Energia operacional e emissão de CO 2 Transporte (11,3%) Localização do edifício e emissão de CO 2 relacionada a transporte Uso de água (4,5%) Consumo e vazamentos Uso de materiais (9,8%) Implicações ambientais da seleção de materiais Uso do solo (3%) Direcionamento de crescimento urbano (evitando greenfields e encorajando a recuperação de brownfields e uso de vazios urbanos) Ecologia local (9%) Valor ecológico do sítio Poluição (14,5%) Poluição de água e ar, excluindo CO 2 (tratado no item Energia) PONTOS Fonte: Adaptado de Silva, O conjunto básico de critérios de desempenho do edifício é avaliado em dois blocos: Projeto e Execução, e Gestão e Operação. O bloco de projeto e execução é utilizado quando feita a avaliação de edifícios novos e reabilitados, enquanto que o bloco de gestão e operação é considerado na avaliação de edifícios já existentes e em uso. De acordo com a pontuação obtida pela edificação, o Índice de Desempenho Ambiental é classificado em quatro níveis, como descrito no Quadro 2.2 abaixo:
25 Certificação LEED Quadro Níveis de classificação da certificação BREEAM. Fonte: Adaptado de Silva, A certificação americana LEED desenvolvida pelo United States Green Building Council (USGBC), em 1999, elaborou sua avaliação do nível de sustentabilidade das construções baseado em um checklist de requisitos. Segundo Patzlaff et al (2009), a certificação LEED possui, atualmente, maior potencial de expansão dentre as certificações existentes, ocasionado pelos altos investimentos realizados para sua difusão e aprimoramento. Esta certificação foi inspirada no sistema BREEAM e tem como base um sistema de critérios de indicadores. O sistema também passa regularmente por atualização, normalmente entre 3 e 5 anos. Os critérios de avaliação estão distribuídos em função da finalidade do imóvel, para isso foram lançadas as seguintes versões específicas do LEED: LEED-EB (Existing Buildings referente às edificações existentes, nas fases de operação e manutenção), LEED-CI (Comercial Interior para projetos de interiores comerciais), LEED-CS (Core & Shell para projetos de núcleo e casca como grandes edifícios comerciais de escritórios), LEED-H (Homes para residências), LEED-ND (Neighborhood Development para condomínios e loteamentos) e LEED-Schools (Schools para edifícios escolares) (HERNANDES; DUARTE, 2007). Nível de Classificação (BREEAM) Projeto e execução O critério mínimo de nivelamento exigido para avaliação de um edifício pelo LEED é o cumprimento de uma série de pré-requisitos. Satisfeitos todos estes pré-requisitos, o edifício torna-se elegível a passar para a etapa de análise e classificação de desempenho, dada pelo número de créditos obtidos. De acordo com o USGBC (2001), são exigidos sete pré-requisitos e os empreendimentos são avaliados segundo seis dimensões ou categorias de requisitos, resultando em um total de 69 pontos: Localizações sustentáveis (01 pré-requisito e 14 créditos); Eficiência no uso da água (05 créditos); Gestão e Operação Aprovado > 200 pts (25%) > 160 pts (21,1%) Bom > 300 pts (37,5%) > 280 pts (36,9%) Muito bom > 380 pts (47,5%) > 400 pts (52,8%) Excelente > 490 pts (61,3%) > 520 pts (68,6%)
26 26 Energia e atmosfera (03 pré-requisitos e 17 créditos); Materiais e recursos (01 pré-requisito e 13 créditos); Qualidade do ambiente interno (02 pré-requisitos e 15 créditos); Inovação e processo do projeto (05 créditos) De acordo com a pontuação do empreendimento, a certificação é dividida entre quatro categorias conforme descrito no Quadro 2.3 abaixo: Quadro Pontuação requerida pela certificação LEED. Fonte: Adaptado de Kibert, Em 2008 foi criado o Green Building Council Brasil (GBC Brasil) que possui a finalidade de disseminar o sistema LEED adaptando esta certificação à realidade brasileira (GBC Brasil, 2010) Certificação HQE Além do sistema LEED, que atualmente é o método de avaliação ambiental mais utilizado no Brasil, o sistema francês HQE também ganhou adaptação para o mercado nacional, tendo sido realizado um convênio entre o Departamento de Engenharia de Construção Civil da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo com a Fundação Vanzolini, resultando na certificação AQUA (Alta Qualidade Ambiental) (OLIVEIRA, GONÇALVES, 2008). Categorias da Certificação LEED Pontuação Requerida Platina Ouro Prata Certificado Sem classificação 25 ou menos Segundo o Referencial Técnico de Certificação (FUNDAÇÃO VANZOLINI, 2007), AQUA corresponde ao processo de gestão de projeto para obtenção da qualidade ambiental de empreendimentos novos ou até envolvendo reabilitação. A obtenção do desempenho ambiental de uma construção envolve dois fatores, sendo o primeiro a gestão ambiental e outro de natureza arquitetônica e técnica. Esta é a razão pela qual o referencial técnico desta certificação francesa estrutura-se em dois instrumentos permitindo avaliar os desempenhos alcançados com relação aos dois elementos que estruturam esta certificação:
27 27 O referencial do Sistema de Gestão do Empreendimento (SGE), para avaliar o sistema de gestão ambiental implementado pelo empreendedor; O referencial da Qualidade Ambiental do Edifício (QAE), para avaliar o desempenho arquitetônico e técnico da construção. A implantação deste sistema de gestão permite definir a Qualidade Ambiental do edifício e organizar o empreendimento para atingi-la, além de controlar o conjunto dos processos operacionais relacionados às fases de programa, concepção e realização da construção. QAE é definida em 14 categorias agrupadas em 4 famílias conforme representado na Quadro 2.4. Quadro Famílias e categorias da Qualidade Ambiental de Edifícios FAMÍLIAS Eco-construção Gestão Conforto Saúde CATEGORIAS DA CERTIFICAÇÃO HQE n 1: Relação do edifício com o seu entorno n 2: Escolha integrada de produtos, sistemas e processos construtivos n 3: Canteiro de obras com baixo impacto ambiental n 4: Gestão da energia n 5: Gestão da água n 6: Gestão dos resíduos de uso e operação do edifício n 7: Manutenção - Permanência do desempenho ambiental n 8: Conforto higrotérmico n 9: Conforto acústico n 10: Conforto visual n 11: Conforto olfativo n 12: Qualidade sanitária dos ambientes n 13: Qualidade sanitária do ar n 14: Qualidade sanitária da água Fonte: Adaptado do Referencial Técnico de Certificação (FUNDAÇÃO VANZOLINI, 2007). Com isso, o referencial técnico relativo à certificação HQE permite a avaliação de empreendimentos novos e com processo de reabilitação significativos, composto principalmente por edifícios destinados a escritórios e edifícios escolares. A certificação contempla as fases de programa, concepção e a realização. O desempenho obtido pelos empreendimentos é classificado em três níveis:
28 28 BOM: nível correspondendo ao desempenho mínimo aceitável para um empreendimento de Alta Qualidade Ambiental. Isso pode corresponder à regulamentação se esta é suficientemente exigente quanto aos desempenhos de um empreendimento, ou, na ausência desta, à prática corrente. SUPERIOR: nível correspondendo ao das boas práticas. EXCELENTE: nível calibrado em função dos desempenhos máximos constatados em empreendimentos de Alta Qualidade Ambiental, mas se assegurando que estes possam ser atingíveis Programa PROCEL Edifica Embora alguns destes modelos venham sendo utilizados no Brasil, Silva (2003) defende que a aplicação de ferramentas de outros países, mesmo as mais versáteis, podem levar a uma série de distorções. Com isso, faz-se necessário o desenvolvimento de um sistema de avaliação e certificação brasileiro, portanto, destacamos o programa de etiquetagem do PROCEL Edifica. O Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica, PROCEL Edifica, surgiu como mecanismo de avaliação da conformidade para classificação do nível de eficiência energética das edificações, a partir da Lei n , de 17 de outubro de 2001 que discorre sobre a Política Nacional de Conservação e Uso Racional de Energia visando à alocação eficiente de recursos energéticos e a preservação do meio ambiente (INMETRO, 2008). A Etiqueta Nacional de Conservação de Energia (ENCE) é obtida através da avaliação dos requisitos contidos no Regulamento Técnico da Qualidade do Nível de Eficiência Energética de Edifícios Comerciais, de Serviços e Públicos (RTQ-C), utilizando o método descrito no Regulamento de Avaliação da Conformidade do Nível de Eficiência Energética de Edifícios Comerciais, de Serviços e Públicos (RAC-C). O sistema de etiquetagem de edifícios possui caráter voluntário para edificações novas e para as já existentes, porém passará a ter caráter obrigatório para edificações novas em prazo a ser definido. O regulamento é aplicável a edifícios com área útil mínima de 500 m² e/ou com tensão de abastecimento superior ou igual a 2,3 kv, incluindo edificações condicionadas,
29 29 parcialmente condicionadas e não condicionadas. Pode ser fornecida uma etiqueta para o edifício completo ou parte do edifício, etiqueta parcial. A etiqueta deve atender aos requisitos relativos ao desempenho da envoltória, à eficiência e potência instalada do sistema de iluminação e à eficiência do sistema de condicionamento do ar. Todos os requisitos são avaliados separadamente, com níveis de eficiência variando de A (mais eficiente) a E (menos eficiente). Assim, os pesos, para classificação do nível de eficiência do edifício, estão distribuídos da seguinte forma (INMETRO, 2008): Envoltória = 30%; Sistema de Iluminação = 30%; Sistema de Condicionamento de Ar = 40%. O nível de classificação de cada requisito equivale a um número de pontos correspondentes, atribuídos conforme Quadro 2.5. Quadro Equivalentes numéricos da etiqueta PROCEL Edifica Fonte: Adaptado de INMETRO (2008) Iniciativas que aumentem a eficiência energética do edifício, tais como: sistemas para racionalização de água, fontes renováveis de energia ou inovações tecnológicas, poderão resultar em até um ponto de bonificação na classificação final do edifício. Através da aplicação da equação geral, descrita no RTQ-C, composta por a relação de pesos e seus respectivos equivalentes numéricos de cada sistema, descritos acima, determina-se a pontuação total e logo a classificação global do edifício, conforme descrito no Quadro 2.6 abaixo: NÍVEIS DE EFICIÊNCIA PROCEL EQUIVALENTE NUMÉRICO (EqNum) A 5 B 4 C 3 D 2 E 1
30 30 Quadro Classificação final para etiquetagem PROCEL PONTUAÇÃO DA ETIQUETA PROCEL Fonte: Adaptado de INMETRO Todas as partes interessadas no setor de construção civil necessitam de informações claras e ordenadas para avaliar o desempenho econômico, ambiental e social dos empreendimentos, seja um investidor utilizando informação ambiental para avaliar riscos, uma agência de financiamento procurando selecionar perfis de empreendimentos para dirigir apoio, um executivo procurando orientar a empresa para níveis superiores de eficiência e inovação ou um consumidor procurando fundamentar a sua opção por um determinado empreendimento. Portanto, destaca-se a importância dos indicadores de sustentabilidade de edifícios, pois os mesmos são capazes de estabelecer metas e medir o desempenho de edifícios e projetos; podendo ser utilizados para auxiliar na decisão de políticas públicas, avaliar estratégias economicamente viáveis, melhorar a qualidade de vida e ser utilizados por diferentes agentes no processo de construção como diretrizes e ferramentas para melhorar as práticas correntes e a qualidade da construção (SILVA, 2003). O Quadro 2.7, apresenta um resumo das certificações destacadas neste capítulo: CLASSIFICAÇÃO FINAL 4,5 a 5,0 A 3,5 a < 4,5 B 2,5 a < 3,5 C 1,5 a < 2,5 D < 1,5 E
31 31 Quadro Resumo de definições das certificações PAÍS CERTIFICAÇÃO DEFINIÇÕES Reino Unido Estados Unidos BREAAM (Building Research Establishment Environmental Assessment Method ) LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) Sistema de avaliação pioneiro, com base em critérios e benchmarks, utilizado para várias tipologias de edifícios. Os créditos são ponderados para gerar um índice de desempenho ambiental do edifício. O sistema é atualizado regularmente (a cada 3-5 anos). Inspirado no BREEAM, certificação com maior potencial de expansão, atualizado regularmente (a cada 3-5 anos), seus critérios de avaliação estão distribuídos em função do uso da edificação. Possui versões para edificações existentes, na fase de operação ou manutenção, edifícios comerciais, escolas, residenciais e para loteamentos. França Brasil HQE (Haute Qualité Environmentale) PROCEL (Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica) Inclui avaliação da gestão do desenvolvimento do empreendimento. Pode ser utilizado em várias tipologias de edifícios. O resultado é um perfil de desempenho global, detalhado pelas 14 preocupações ambientais. Ganhou adaptação para o mercado nacional, AQUA. Avaliação da conformidade para classificação do nível de eficiência energética das edificações. Regulamentação desenvolvida somente para edifícios comerciais, de serviços e públicos. Analisa envoltória, sistema de iluminação e sistema de condicionamento de ar. Fonte: Elaborado pela autora 2.4 Considerações Finais Neste capítulo foi abordada a importante parcela de responsabilidade da construção civil, a respeito dos impactos ambientais gerados. Hoje as iniciativas para promoção do desenvolvimento sustentável nas edificações procedem de exigências por parte da sociedade civil, de investidores, financiadores e consumidores. As discussões a respeito dos impactos da construção civil resultam no surgimento de metodologias, assim como investimentos em certificação de edifícios baseada em critérios e indicadores de desempenho, que expressam o consumo de energia ou o impacto ambiental, e que tem como objetivo a avaliação da qualidade ambiental da edificação. Foram apresentados ainda, as certificações mais aplicadas no país, BREEAM, LEED, HQE e PROCEL Edifica.
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