CORPO ESTRANHO EM CONDUTO AUDITIVO E VIAS AÉREAS SUPERIORES
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1 CORPO ESTRANHO EM CONDUTO AUDITIVO E VIAS AÉREAS SUPERIORES Andréa da Silva Portela Carolina Tauil Pereira Eduardo Gatti Pianca João Vicente Costaguta Matas Solés Sérgio Kalil Moussalle UNITERMOS CORPOS ESTRANHOS/diagnóstico; CORPOS ESTRANHOS/remoção; CORPOS ESTRANHOS/complicações; CORPOS ESTRANHOS/terapia. KEYWORDS FOREIGN BODIES/diagnosis; FOREIGN BODIES/removal; FOREIGN BODIES/complications; FOREIGN BODIES/therapy. SUMÁRIO Os autores fazem uma revisão bibliográfica sobre os principais corpos estranhos em conduto auditivo e via aérea superior, sua sintomatologia, complicações relacionadas e condutas a serem adotadas na prática médica. SUMMARY The authors make a bibliografic review about the most important foreign bodies of the ear and upper airway, its symtomatology, related complications and management in clinical practice. Corpo Estranho (CE) de Conduto Auditivo Externo Partes de brinquedos, esponjas, grãos de pipoca, feijões, pedras, insetos. Sensação de ouvido entupido, otalgia, perda auditiva. 1 Em pacientes assintomáticos, o relato dos pais pode indicar a existência do CE. 2
2 Definir CE Animado X CE Inanimado e Melhor Técnica Para Remoção CE animado: Insetos devem ser mortos antes da remoção utilizando-se álcool, lidocaína 1%, éter ou óleo mineral. A remoção deve ser realizada com irrigação, aspiração ou através de uma pinça apropriada. 3 A irrigação é feita com solução aquecida direcionada para a margem superior do canal auditivo externo através de uma seringa acoplada a um cateter flexível. Em casos de perfuração da membrana timpânica (MT), não deve ser usada! 2 CE inanimado: Definir superfície Superfícies irregulares ou lisas e arredondadas podem ser removidas com pinças jacaré ou Hartmann ou com o auxílio de uma cureta. 3 Se CE liso e arredondado firmemente aderido, pode-se tentar aspiração ou aplicação de cola adesiva ( supercola ) em um cotonete. Neste último é preciso aguardar 1 minuto, por isso, usado apenas em adultos. 2 Quando encaminhar ao especialista? Necessidade de anestesia Trauma no canal ou MT CE não visualizado, fortemente aderido ou tocando a MT Falha na remoção. Considerações Manipulação excessiva pode gerar edema, hematoma ou deslocar o CE em direção à MT. 2 Em casos de infecção por demora na retirada ou trauma no canal auditivo, pode ser necessário o uso de antibióticos. CE de Fossa Nasal Pedras, botões, partes de brinquedos, esponjas, comida, baterias. Locais mais comuns: Entre o assoalho nasal e o corneto inferior ou anterior ao corneto médio (ver figura abaixo). 1
3 Figura 1 - Rinorreia unilateral purulenta, podendo ser fétida e sanguinolenta, espirros, coriza e obstrução nasal. 3 História relatada pelos pais ou pela criança (casos precoces e assintomáticos). 1 Como remover? A primeira conduta em crianças maiores é fazer o paciente assoar enquanto a saída de ar na narina contralateral é ocluída. 1 Em casos de falha: Conter a cabeça, visualizar o CE, aplicar vasoconstritor local e removê-lo com estilete apropriado com movimentos de cima para baixo até o assoalho nasal trazendo-o para fora. 3 CE de superfície lisa e arredondados podem ser removidos com cateter Foley nº 5 ou 6 lubrificados com lidocaína 2% gel, passando-se pelo objeto, inflando-se o balonete com 2 a 3 ml de ar e tracionando-se o cateter. Aspiração direta também pode ser utilizada. 1 Em caso de pilhas/baterias, a remoção deve ser imediata devido ao risco de necrose por liquefação causando perfuração do septo nasal, queimadura da mucosa ou estenose da narina afetada. Nesses casos, pode-se tentar pressão positiva nasal através da aplicação de O2 (10-15L/min.) por óculos nasal na narina contralateral, ou por pressão positiva oral, ocluindo-se a narina contralateral e aplicando-se uma vez a ventilação com ambu de forma suave. 2 CE magnéticos (piercings magnéticos) devem ser rapidamente removidos, pois podem deslocar-se e aderir firmemente ao septo nasal causando dor e
4 necrose por pressão. Remover com instrumentos metálicos, como a pinça de Tilley. 4 No CE nasal, evitar irrigação devido ao risco de propulsão até a nasofaringe e sedação pela diminuição do reflexo da tosse, com risco de aspiração pulmonar. 2 Quando encaminhar ao especialista? Presença de tumor ou massa suspeita História de CE nasal não facilmente visualizado. Falha na remoção CE crônico com presença de edema, destruição óssea e tecido de granulação. CE de Orofaringe e Hipofaringe Espinhas de peixe, ossos de galinha, fecho de segurança, sementes, moedas, botões, próteses dentárias. Locais mais comuns: Tonsilas e orofaringe. Como remover? Anestesia tópica com 2 jatos de xilocaína 10% spray, visualização do CE utilizando um abaixador de língua para orofaringoscopia e, após, tracionar a língua envolta em gaze colocando espelho laríngeo para hipofaringoscopia. 3 Em CE muito baixos, deitar o paciente em decúbito dorsal e realizar laringoscopia direta. 3 Videolaringoscopia, se disponível. 3 Quando encaminhar ao especialista? Em casos onde a visualização direta não é possível ou houver sinais de comprometimento da via aérea, pode ser necessário laringoscopia indireta ou endoscopia rígida ou flexível sob sedação ou anestesia. 2
5 Considerações Se houver manipulação excessiva, está indicado o uso de antiinflamatórios. 3 Radiografia não costuma ser útil, pois a maioria dos CE são radiolucentes.(2) CE de Esôfago Ossos e carnes, espículas de peixe, caroços de frutas, próteses dentária, moedas, pontas de caneta. Local mais comum: Terço superior do esôfago (estreito cricofaríngeo). História de ingestão de CE (50% são assintomáticos) Tosse, disfagia/odinofagia, sensação de CE, dor, estridor, vômitos, taquipneia/dispneia, irritabilidade, salivação. Solicitar radiografia da região cervical, tórax e abdome (AP +P). Realizar diagnóstico diferencial entre moedas (contorno simples) e baterias (duplo contorno), pois as últimas devem ser removidas imediatamente devido ao risco de lesão e perfuração da mucosa.(5) Quando remover? -Remoção sempre realizada por especialista através de endoscopia. -Sempre remover se: objetos pontiagudos, pilhas/baterias ou objetos > 2-3 cm em < 1 ano ou > 3-5 cm em > 1 ano.(6) - Outros objetos devem ser observados por 24 horas. Se decorrido esse tempo não houver progresso para o estômago, realiza-se a remoção endoscópica.(6) CE de Traqueia e Brônquios Grãos, sementes, pérolas, tampas de caneta, moedas.
6 Locais mais comuns: Brônquio fonte direito (60%), brônquio fonte esquerdo (23%), traqueia/carina (13%) e laringe (4%).(2) - Tosse, sibilos unilaterais, diminuição do murmúrio ventilatório. - Dispneia, tiragem com choro ou voz alterada indicam urgência. - Radiografia de tórax (AP +P) mostra atelectasia como alteração mais frequente. Exame normal ou com hiperinsuflação unilateral são achados comuns. (5) Como tratar? REFERÊNCIAS O tratamento é sempre realizado pelo especialista! Mesmo com radiografia de tórax normal, a broncoscopia está indicada se história e alterações no exame físico sugestivos de aspiração. (6) A broncoscopia é feita sob anestesia geral.(3) Em crianças, a broncoscopia rígida deve ser a primeira escolha e em adultos e adolescentes maiores de 12 anos, pode-se optar pela broncoscopia flexível (fibrobroncoscopia) sob anestesia local se não houver sinais de asfixia.(2) Após a remoção, o paciente deve permanecer hospitalizado como profilaxia de um possível edema de glote, pneumonia ou enfisema com pneumotórax. Utilizam-se corticoides a fim de reduzir o edema após o procedimento.(3) 1. Heim SW, Maughan KL. Foreign bodies in the ear, nose and throat. Am Fam Physician. 2007;76: Ojo A. Foreign bodies: ear and nose. UpToDate. Online 20.8; 2012 jul [updated 2012 abr 19]. [acesso 2012 mar 12]. 3. Ruiz FE. Airway foreign bodies in children. UpToDate. Online 20.8; 2012 jul [updated 2012 jul 6]. [acesso 2012 mar 12]. 4. Marquette C. Airway foreign bodies in adults. UpToDate. Online 20.8; 2012 jul [updated 2010 set 15]. [acesso 2012 mar 12]. 5. Moussale SK. Rotina de urgencias em otorrinolaringologia. In: Koehler NR, Barcellos CMA, editores. Manual de urgências: Hospital São Lucas (PUCRS). 2ª ed. Porto Alegre: PUCRS, p Karkos PD, Karagama YG, Manivasagam A, et al. Magnetic nasal foreign bodies: a result of fashion mania. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2003;67: Rodríguez H, Passali GC, Gregori D, et al. Management of foreign bodies in the airway and oesophagus. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2012;76:S Epub 2012 Feb Uyemura MC. Foreign body ingestion in children. Am Fam Physician. 2005;72:
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