UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ - UECE DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA CURSO DE MESTRADO ACADÊMICO EM FILOSOFIA - CMAF

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1 0 UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ - UECE DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA CURSO DE MESTRADO ACADÊMICO EM FILOSOFIA - CMAF A AÇÃO NO ESTADO EM ÉRIC WEIL RENATO SILVA DO VALE FORTALEZA - CE 2012

2 1 UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ - UECE RENATO SILVA DO VALE A AÇÃO NO ESTADO EM ÉRIC WEIL Dissertação apresentada à Banca Examinadora do programa de Pós- Graduação em Filosofia do Departamento de Filosofia da Universidade Estadual do Ceará, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Filosofia, sob a orientação da Profª. Dra. Marly Carvalho Soares. FORTALEZA CE 2012

3 2 UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ UECE MESTRADO ACADÊMICO EM FILOSOFIA - CMAF Título da dissertação: A ação no Estado em Éric Weil Autor: Renato Silva do Vale Orientadora: Prof. Dra. Marly Carvalho Soares Defesa pública em: 20/06/2012 BANCA EXAMINADORA Profa. Dra. Marly Carvalho Soares Presidente da Banca Prof. Dr. Andrea Vestrucci (UFC) 1º Examinador Prof. Dr. Luís Carlos Silva de Sousa (FCF) 2º Examinador

4 3 À minha mãe, Aureci Inácio da Silva, pelo dom da vida e por ter, sempre, acreditado em mim qualquer que fosse o caminho trilhado. Ao meu amigo-irmão, Eleandro Fernandes de Azevedo, que durante meus dois anos de mestrado sempre me ajudou com palavras de apoio e coragem, acreditando no meu potencial.

5 4 O indivíduo não é nada sem o Estado, ou, mais exatamente, sem o Estado é apenas um animal ou uma máquina; mas o fim do Estado é o indivíduo livre e satisfeito na razão.. (Eric Weil)

6 5 AGRADECIMENTOS Não teria sido possível a realização deste trabalho sem a orientação da Profª. Drª. Marly Carvalho Soares, que, com atenção, paciência e disponibilidade acompanhou a minha pesquisa. Quero destacar seu empenho na orientação e agradeço-lhe ao me apresentar o pensamento tão rico de Eric Weil; Aos professores Evanildo Costeski e Luís Carlos Silva de Sousa, pela participação na Banca da Qualificação deste trabalho: sou grato pelas críticas, sugestões e pela disposição em ler, avaliar e sugerir; Ao Prof. Dr. Andrea Vestrucci por ter aceito participar da Banca de Defesa deste trabalho; Aos meus professores do Mestrado Acadêmico em Filosofia CMAF-UECE, especialmente José Expedito Passos Lima, Maria Teresa de Castro Callado, Fábio Maia Sobral a quem admiro e por terem me ensinado a amar ainda mais a filosofia; A Maria Lopes Jaguaribe pelo cuidado e apoio maternos durante esses longos anos; Ao Profº. Drº. André Haguette (UFC) e sua esposa Regina Lúcia Haguette pelas palavras de incentivo, pelas conversas restauradoras e pela amizade incondicional; À CAPES, de quem recebi fundamental apoio, pois sem a bolsa não seria possível a dedicação integral aos estudos durante os dois anos exigidos pelo mestrado; Aos meus alunos, professores e funcionários da EEFM Irapuan Cavalcante Pinheiro e da EEFM Luiz Gonzaga da Fonseca Mota onde encontrei acolhimento, amizade e, outrossim, a quem dedico minha prática filosófica.

7 6 RESUMO A presente dissertação reflete alguns aspectos do pensamento político de Eric Weil, especialmente A Ação no Estado. A fim de enveredar pelo pensamento weiliano tomamos como base para a nossa reflexão as seguintes obras: Filosofia Moral e Filosofia Política, bem como Hegel e o Estado. Iniciando pela moral, a questão que se apresenta é o indivíduo superar sua individualidade objetivando chegar ao universal. Esta superação da individualidade com vistas ao universal não pode ser forçada, mas sim consciente, por isso a importância da educação, ou seja, a possibilidade de levar os homens à razão sem recorrer à força e sim à consciência. Um dos objetivos que propõe a moral é que o indivíduo tenha consciência de que ele deve, em suas ações, ser universal e que suas ações, mesmo isoladamente, têm repercussões sobre o outro e sobre a sociedade como um todo. Agindo assim, a moral se torna coerente, verdadeira: sua origem está pautada na liberdade, presente como vontade de razão e universalidade. Vivendo para a universalidade, o homem se insere na política, uma vez que ele não pode viver isolado. Por isso, a política, se ela deseja, verdadeiramente, se tornar acessível a todo indivíduo, ela deve partir da moral, pois a política é ciência filosófica da ação razoável, referindo-se à ação universal. Daí a importância de começar a nossa reflexão partindo da Moral. A partir deste princípio de moral da universalidade, é possível propor um fim à ação política: um mundo no qual a razão seja a grande inspiradora de todos os seres humanos. A exigência moral última é a de uma realidade política (formada pela ação razoável e universal sobre todos os homens) tal que a vida dos indivíduos seja moral e que a moral, visando ao acordo do indivíduo consigo mesmo, torne-se uma força política. A moral mostra-se assim a-política, a política a- moral: é o homem que, pretendendo ser político, do ponto de vista da moral, deve ser moral; é o homem moral que, do ponto de vista político, deve pesar as consequências dos seus atos moralmente justificados. Em relação à política, ela é, essencialmente, histórica, ou seja, a ação política presente é histórica por apoiar-se nesse passado que constitui o seu ponto de partida e, consequentemente, as condições nas quais e sobre as quais se exerce. Uma ciência, uma obra de arte, um sistema filosófico não sobrevivem a não ser que tenham agido sobre os homens, modificando o seu modo de agir. Palavras chave: Ação. Moral. Política. Estado. Eric Weil.

8 7 ABSTRACT This dissertation reflects some aspects of the political thought of Eric Weil, especially Tthe Action in the State. In order to engage in Weil s thoughts we took as a basis for our consideration the following works: Moral Philosophy and Political Philosophy, as well as Hegel and the State. Starting with morals, the question that arises is the individual to overcome their individuality aiming to reach the universal. This overcoming of individuality with a view to universal can not be forced, but conscious, hence the importance of education, ie, the ability to lead men to reason without resorting to force but to consciousness. One goal of proposing the moral is that the individual is aware that he must, in their actions, be universal and that his actions, even alone, have an impact on others and on society as a whole. In doing so, the moral becomes consistent, true: its origin is based on freedom, as this will of reason and universality. Living for the universality, the man falls in politics, since he can not live alone. Therefore, the policy, if it wants to truly become accessible to every individual, it must start from the moral, because politics is philosophical science of reasonable action, referring to the universal action. Hence the importance of getting our breaking of moral reflection. From this moral principle of universality, it is possible to propose an end to political action: a world in which reason is the great inspirer of all human beings. The last moral requirement is the moral obligation of a political reality (formed by the action reasonable and universal to all men) such that the lives of individuals is moral and that morality, seeking the consent of the individual with himself, become a political force. The moral appears to be apolitical to the unmoral politics: the man who is intending to be political, from the moral s point of view, must be moral; is the moral man that from the political point of view, must weigh the consequences of his actions morally justified. In relation to politics, it is essentially historical, that is, political action, this is backed up by historical past that this is your starting point and, consequently, the conditions under which and on which it exerts. A science, a work of art, a philosophical system can not survive unless acted upon men, changing their ways of acting. Keywords: Action. Moral. Politic. State..Eric Weil.

9 8 V149a Vale, Renato Silva Do A Ação No Estado Em Éric Weil / Renato Silva Do Vale f. : enc. ; 30 cm. Dissertação (Mestrado) Universidade Estadual do Ceará, Centro de Humanidades, Curso de Mestrado Acadêmico em Filosofia, Fortaleza, Área de Concentração: Filosofia Social e Política. Orientação: Prof. Dra. Marly Carvalho Soares. 1. Ação. 2. Moral. 3. Política. 4. Estado. 5. Éric Weil. I. Título. CDD: 193

10 9 SUMÁRIO INTRODUÇÃO...10 CAPÍTULO I: O SENTIDO DA MORAL A intenção filosófica de Weil O conceito de Moral O conteúdo da Moral A tarefa da Filosofia...27 CAPÍTULO II: A RELAÇÃO ENTRE MORAL E POLÍTICA A categoria da Ação A categoria da Ação como categoria fundante da Política A Ação do homem é uma ação política...41 CAPÍTULO III: A AÇÃO NO ESTADO Sociedade civil A Ação no Estado Os tipos de Estados O Estado Mundial Weiliano...69 CONCLUSÃO...76 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...80

11 10 INTRODUÇÃO O objetivo da presente pesquisa é investigar A Ação no Estado segundo Eric Weil. Na verdade trata-se de uma tarefa extremamente ousada analisar a obra de Eric Weil nos limites de uma dissertação. Diante disso, escolhemos um enfoque que conduzirá nossa pesquisa, onde alguns conceitos e análises serão mais destacados e outros nem tanto. Assim sendo, Weil traz uma nova leitura questionando o discurso antigo e se colocando além de Kant e, posteriormente, para além de Hegel. Levando em conta que a filosofia, na visão de Weil, é a reflexão do homem real que age na realidade, compreendendo a ação do homem concreto, buscando o sentido da filosofia e o papel do filósofo diante do mundo atual, nossa pesquisa busca investigar a ação desse homem partindo da Moral, passando pela Política culminando até o Estado. Para Weil a filosofia não é compreensível senão diante de uma escolha: a escolha do ponto de vista do homem, ou seja, ele introduz em seu discurso humano, o que todos pensam, ou seja, aquilo que interessa a todos. A filosofia não se refere somente ao que é necessário, razoável, mas ao homem em sua totalidade, inclusive sua ação. Para Weil, a filosofia nasce de uma opção, e como tal o homem pode optar por ela, como pode recusá-la. Ao filósofo cabe a missão de compreender a sua opção, seja ela qual for: seja a razão (filosofia) ou sua recusa (violência). Cabe ao filósofo descrever a história, produzida por homens que optaram ou não pela filosofia (razão). O que nos motivou na escolha por Weil está no fato de pensar a política, a filosofia, a moral e a própria ação numa época em que o ser humano está cada vez mais desvalorizado e a violência, em suas mais variadas manifestações, ganha espaço. Assim sendo, este trabalho tem por objetivo analisar as principais concepções filosóficas de Weil, de forma a contribuir para as discussões de hoje que se fazem no campo da filosofia. No desenvolvimento da nossa pesquisa, iremos desenvolver a Ação no Estado, na seguinte forma, a saber: No primeiro capítulo intitulado O sentido da Moral abordaremos a Moral como pressuposto para que o ser humano possa chegar à política. Para que isso ocorra, o indivíduo tem que ser capaz de ser razoável consigo mesmo reconhecendo que é

12 11 condicionado e exercendo suas ações com consciência da finalidade de tais ações. A ação de um indivíduo que pretende ser moral é, necessariamente, ação sobre si mesmo. Nesse sentido, há uma relação entre a moral e a política, uma vez que a ação do homem que quer agir sobre a sua própria pessoa, venha a ser, inevitavelmente, ação no mundo e sobre o mundo 1. Trata-se de um processo bastante doloroso, pois muitas vezes há pessoas que não chegam à consciência de refletir sobre suas ações, vivendo vítima de sua própria ignorância. Assim, o homem pode, se quiser, até mesmo recusar a moral e abandonar-se à violência 2. Percebe-se que Weil dá uma total liberdade ao ser humano como um todo podendo decidir pela moral (bem como pela razão e pela filosofia), acaba sendo uma decisão totalmente livre. O desenvolvimento de um pensamento moral ganha uma importância tal pois sem a consciência moral, nem sequer se põe o problema filosófico da política 3. Para Weil, uma filosofia política não se concebe sem a moral e é a própria moral quem dá o sentido a toda ação que se julga universal. Portanto, o ser humano como protagonista da história é a razão de ser da moral, bem como da política, já que, segundo Weil, é o homem na história que é moral ou imoral, é e no universal concreto do Estado que ele age, e reflete sobre sua ação 4. É na moral onde há uma valorização da humanidade do homem, pois esse mesmo homem possui em si tudo o que constitui a humanidade do próprio homem. É a partir da moral que se dá a máxima: não devo nunca considerar um ser humano como objeto, como coisa manipulável e utilizável; devo respeitar nele a humanidade, tratá-lo como ser razoável 5. O homem que decide viver moralmente, e não apenas compreender a si mesmo e julgar segundo a moral, suas ações serão direcionadas em vista da realização do objetivo da moral. Um dos objetivos da moral busca responder à máxima: minhas ações contribuem, efetivamente, para a realização do bem no mundo? Assim, é partindo da moral e orientados por essa mesma moral que visamos chegar à política como nos afirma o próprio Weil: será, pois, a partir da moral, que nossa reflexão chegará à política 6. 1 Cf. WEIL,E. Filosofia Política. São Paulo: Loyola, 1990, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p. 31.

13 12 No segundo capítulo abordaremos a Relação entre Moral e Política, enquanto categoria fundante da política, tratando o problema da relação entre moral e política, quer se vejam aí duas disciplinas filosóficas, duas formas de ação histórica, ou duas atitudes fundamentais. Segundo Weil, a exigência moral última é a de uma realidade tal que a vida dos indivíduos seja moral e que a moral, visando ao acordo do indivíduo razoável consigo mesmo, torna-se uma força política, ou seja, um fator histórico com o qual o homem político deva contar, mesmo que ele pessoalmente não queira ser moral 7. O homem moral é aquele que compreende a realidade sensata-insensata em que vivemos, superando-a, e fazendo, pois, uma crítica realista sobre a sociedade. A reflexão moral deverá ocupar-se das relações reais dos homens entre si, expressas na forma universal pelo direito positivo. Sem renunciar a sua autonomia, a reflexão moral aprendeu que somente compreende-se, enquanto real, como crítica viva de uma moral viva, exercida em seu interior. Weil respeita o moralista puro que apenas pensa a moral, mas não age e vive de acordo com ela. A ação sobre si mesma se faz necessária, pois não basta não somente a moral, para que o indivíduo torne-se efetivamente moral. A moral é o caminho ascendente para o homem que quer se elevar ao universal e quer porque escolheu a não-violência e a universalidade e a política fornece as condições para a vida moral e para o discurso moral. A moral é verdadeira e sua origem se baseia unicamente na liberdade, presente como vontade de razão e universalidade. Assim sendo, para que a política seja acessível ao indivíduo, é preciso que ela parta da dimensão moral. A moral é, pois, parte integrante da vida política, o que pressupõe afirmar que nem a vida moral, nem a política podem ser consideradas separadamente. Estabelecendo tal relação, Weil quer retomar o sentido clássico da política: ela não pode ser separada da moral e vice-versa, bem como a sociedade não pode viver sem o Estado. Política e moral são, portanto, formas de ação histórica, de forma que nem sua diferença nem sua autonomia suprimem sua unidade radical. O homem razoável é aquele que desenvolve uma atitude em que o indivíduo moral reconhece o mundo como lugar sensato, embora também lugar do mal e da não razão. A vida moral só pode ser realizada na comunidade, à medida que é capaz de revelar essa moral concreta. Essa revelação é o ato político, por excelência. Por isso, não é exagero afirmar que a política, se ela se compreende e realiza seu conceito, é a moral em marcha, ou que a moral é 7 WEIL, E. Filosofia Política. São Paulo: Loyola, 1990, pp

14 13 essencialmente política. O ato moral visa sempre à universalidade em sua concretude e, por isso mesmo, torna-se um ato político. No terceiro capítulo apresentaremos A Ação no Estado. Analisando a problemática do mecanismo social e das relações que se estabelecem entre o indivíduo e a sociedade, surge a necessidade de se pensar tais relações num âmbito maior: o Estado. Ele é visto por Weil como um conjunto de instituições orgânicas das instituições de uma comunidade histórica 8. Ele é orgânico porque cada parte, cada instituição, depende e pressupõe a outra. Ele é a possibilidade de escolha, decisão, reflexão prática e ação consciente de um indivíduo particular numa comunidade. Assim, pois, ele não é um órgão; é a organização de uma comunidade 9. O Estado é, por excelência, o educador que é guiado pela prudência, justiça e eficácia a fim de proporcionar uma vida sensata para todos e compreendida por todos. O Estado é vivo, real e racional; é a comunidade consciente, possibilitando a ação desta comunidade. O Estado é o lugar onde a justiça e a eficácia podem se reconciliar, onde o racional e o histórico se reconciliam, que a liberdade se torna acessível a todo e qualquer indivíduo, transformando a violência do homem numa razão universal. Entendendo esses conceitos poderemos estabelecer como o indivíduo pode exercer, através de sua ação, o direito de pertencer ao Estado. Aqui estamos vislumbrando um dos aspectos mais fascinantes na filosofia weiliana: a política. Ela é, para Weil, o lugar do embate com a violência no mundo, nas condições concretas da história, é nela que os problemas capitais, com os quais a filosofia weiliana lida, fazem penetrar suas consequências mais flagrantes: a violência pura como recusa radical da razão, a diversidade e o conflito das filosofias, a relação entre liberdade do indivíduo e o discurso universal, a contestação radical da ideia de verdade, trata-se enfim, da possibilidade da realização de um discurso coerente no mundo ameaçado pela violência. Weil observa que um discurso particular só tem sentido quando contrastado com outro discurso, e sugere que a filosofia é animada, não pela singularidade vazia, mas pela concepção de universal. Tais questões precisam ser respondidas na sistematicidade do discurso filosófico, que só se completa se também incidir no concreto histórico, no plano das ações humanas (moral e política). 8 Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p. 175.

15 14 Weil entende que o homem é livre para orientar sua vida e até mesmo recusar a moral, abandonando-se à violência. A vida moral, bem como a vida política, constitui uma decisão livre, já que a ideia de uma justificação pressupõe a opção pela razão 10. A obra de Weil cumpre o papel de penetrar nas categorias próprias da filosofia, nos fornecendo os instrumentos conceituais adequados de interpretação nessa missão de tentar compreender o ser humano em sua complexidade. Corremos o risco de retratar o pensamento weiliano como um sistema acabado, quando sua marca central é exatamente o eterno recomeçar, a nos exigir uma constante vigilância filosófica. Nossa intenção primeira nesse trabalho não é apenas reproduzir o pensamento de Weil de forma mecânica e sem um compromisso, mas investigar a Ação no Estado e como essa ação pode atingir tanto o cidadão que opta pela não razão, como aqueles que se comprometeram viver segundo a razão. 10 Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p. 35.

16 15 CAPÍTULOI: O SENTIDO DA MORAL A moral afirma, pois, que todo homem tem em si tudo o que constitui a humanidade do homem. Na verdade, é assim que ela define o homem. O que ela deduz daí resume-se na afirmação de que não devo nunca considerar um ser humano como objeto, como coisa manipulável e utilizável; devo respeitar nele a humanidade, tratá-lo como ser razoável. Eric Weil 1.1 A intenção filosófica de Weil ÉricWeil 11 ao escrever uma de suas obras mais importantes intitulada Lógica da Filosofia 12 (1950), é motivado a desenvolver, quanto à sua estrutura dialética, uma 11 Eric Weil nasceu em Mecklenburg, Parchim em 8 de junho de Estudou filosofia em Berlin e em Hamburgo. Um profundo conhecimento da Alemanha e a leitura de Meinkampf fizeram com que deixasse seu país natal no ano de 1933 tão logo percebeu o que estava por acontecer. Nesse mesmo ano tinha recebido um convite para colaborar com o Ministério da Cultura e da Propaganda de Goebbels, a semelhança do que ocorreu com o cineasta Fritz Lang, Weil tomou o primeiro trem com destino a França. Partiu para o exílio três anos antes da ascensão do nazismo, quatro da escolha de Hitler como Fuhrer e cinco do que se chamaria Noite dos cristais. Sua vida nos primeiros anos de exílio é marcada por uma situação material muito precária, morando com Annelise Mendelsohn, a quem desposaria meses após a chegada em Paris, e sua irmã Catherine Mendelsohn lutavam contra as adversidades valendo-se de estratagemas como p. ex., ouvir o noticiário vindo da Alemanha e o traduzir para a Agência de notícias francesa. Todavia, do ponto de vista espiritual, conviveu com alguns dos círculos intelectuais mais brilhantes: os eminentes filósofos franceses como Raymond Aron de quem tinha se tornado amigo ainda em Berlin em 1932 juntamente com Alexandre Koyré e Alexandre Kojève. Este último reuniu outros grandes vultos em torno daquele seminário, do qual Weil também participou, que marcaria época: o seminário da École des Hautes Études sobre a Fenomenologia do Espírito de Hegel ( ), nomes como Georges Bataille, Jacques Lacan, Maurice Merleau-Ponty, entre outros figuravam entre os participantes. Era, pois, nessa atmosfera intelectual que vivia ÉricWeil. Entre colabora com a revista dirigida por Alexander Koyré, Recherches Philosophiques, publica nesta revista uma série de recensões e seu primeiro artigo em língua francesa, texto cujo germe de seu pensamento já pulsa, texto que Gilbert Kirscher qualifica de autobiográfico pelo esclarecimento que presta das escolhas filosóficas e históricas que Weil precisou fazer. Em 1938 é o ano da conquista de sua cidadania francesa e também da defesa de sua tese de doutorado dirigida por A. Koyré resultado de seu estudo sobre o Renascimento e astrologia cujo título é Pic de La Mirandole et la critique de l astrologie, estudos que tinha iniciado na Alemanha. É desse ano também as noticias sobre seus familiares (sua mãe Ida Weil, irmã Ruth Cohn, cunhado Siegfried Cohn e as pequenas sobrinhas) que ficaram na Alemanha e foram atingidos pelo recrudescimento do governo nazista. Em 1939 com ajuda de amigos consegue enviar determinada quantia para seu cunhado e sobrinhas exilados na Holanda Em 1940 Weil, sob o nome de Henri Debois, é incorporado às forças da Resistência, no front é capturado e passa cinco anos no cativeiro. Nesse período é designado como intérprete e se torna, segundo L. Sichirollo, um dos principais organizadores da resistência dos prisioneiros de guerra, da relação entre grupos nacionais e um dos editores do jornal clandestino. No campo de prisioneiros é ainda nomeado pianista. Em abril de 1945 os britânicos libertam

17 16 Lógica capaz de englobar os discursos filosóficos, através de ser, de compreender, de falar e de agir. Weil, certamente, constrói seu pensamento, diante de um grande desafio da Filosofia contemporânea: o de desenvolver todo o seu filosofar depois do último discurso imposto por Hegel 13 à Filosofia. Por isso, podemos afirmar que sua obra pode ser definida como uma nova leitura da Filosofia, considerando a tradição, questionando todo o discurso antigo, não no sentido de negá-lo, mas de contribuir numa tentativa de superação de Immanuel Kant 14 ( ) e, posteriormente, Georg Wilhelm Friedrich Hegel 15 ( ). o campo e Weil uma vez mais é designado o responsável por organizar prisioneiros, agora, para o regresso desses. De volta a França empreenderá uma sólida carreira de pesquisador no CNRS. Em 1946 fundará com Georges Bataille a revista Critique, onde publicará outro volumoso número de recensões, inclusive muitos sobre a Alemanha. Publica le cãs Heidegger em 1947 na revista Le temps modernes dirigida por J. P. Sartre. Colabora com pesquisas sobre a democracia para UNESCO entre Defende sua tese de doutorado de Estado Logique de La Philosophie como tese principal e Hegel et l État como tese secundária em 1950 para uma banca composta por Jean Wahl, Jean H. G. Hypolite, M. Merleau-Ponty e Edmond Vermeil na Sorbonne. De Paris passou a catedrático da Universidade de Lille permanecendo ali de 1958 até Data desse período a publicação de Philosophie Politique (1956), Philosophie Morale (1961) e Problèmes Kantiens (1963). Participa de uma série de debates com figuras como Etienne Borne, J. P. Vernant, D. Dreyfus, L. Guillermit, P. Ricoeur, Hannah Arendt. Posterior a estada em Lille muda-se para a cidade de Nice. Publica nesta cidade a segunda edição revisada e aumentada de Problémes Kantiens (1970, 1971) muito por insistência de seus alunos. Éric Weil ainda participou de dezenas de conferências presenciais radiofônicas ou televisivas pela Europa e nos EUA, ministrou outros cursos no CNRS, na École Pratique des Hautes Études, e outras universidades, colaborou com as revistas Confluence e Daedalus, recebeu muitos prêmios e homenagens entre as quais por ter feito frutificar os motivos hegelianos no presente. Se não bastasse Hegel et l État que encarna muito de sua polêmica e divergente interpretação em relação a Kojève, ambos considerados os responsáveis pela renovação dos estudos hegelianos na França, há ainda sua intensa participação nos congressos internacionais sobre Hegel. Não só sua filosofia denota grande engajamento, mas sua postura ao longo de sua vida aponta no mesmo sentido. Situações que servem para que se possa medir o engajamento de sua filosofia e dele próprio como filósofo ativo. Weil morreu em Nice (França) em 1 de fevereiro de 1977 vítima de aguda doença cardíaca. Seus últimos anos foram divididos entre as muitas viagens a trabalho com as sucessivas internações médicas e intervenções cirúrgicas. Após sua morte é criado o Centre ÉricWeil a fim de publicar e estudar o conjunto dos seus escritos. Cf. e 12 A Logique de la Philosophie, obra longa e técnica de 442 páginas, é um dos livros mais ricos e mais surpreendentes que apareceram no século XX. Ele foi um acontecimento, além de toda moda e de toda admiração. Se é verdade que seu autor goza hoje de um reconhecimento limitado, isso se deve, em grande parte, aos preconceitos de nosso tempo. Algumas leituras apressadas identificaram Eric Weil como um neo-hegeliano. Reconheçamos que o tempo do pensamento não esposa os contornos do tempo agitado e às vezes febricitante da atualidade, mesmo que ela seja do pensamento. Cf. ROBINET, J-F. O tempo do pensamento. São Paulo: Paulus, 2004, p Éric Weil aceitou seguir Hegel até o fim e, para ser-lhe fiel, foi conduzido a superá-lo. Neste sentido, definindo-se como pós hegeliano, Weil é autenticamente hegeliano posto que, como ele mesmo diz: Ninguém mais do que Hegel levou a sério a história, e quem renega cento e cinqüenta anos de história querendo ser fiel a Hegel, renega àquele que pensa venerar (EC I, 141). Eis por que pode-se dizer que compreender a filosofia de Weil é compreender a sua compreensão e a sua crítica a Hegel [...]. A sua fidelidade a Hegel o leva a repensá-lo; e isso, para Weil, segundo o espírito hegeliano, consiste em assumir a vontade hegeliana de constituir a filosofia em saber absoluto, para refutá-la em seguida se isso for necessário (DEC, 103). Cf. PERINE, M. Filosofia e Violência. Sentido e intenção da Filosofia de Éric Weil. São Paulo: Loyola, 1987, pp Em Kant podemos destacar a questão da centralidade antropológica, sobretudo a questão da moral e do dever. A moral das obrigações e o dever de ser feliz. Como já Platão com a sua alegoria da caverna,

18 17 A Lógica da Filosofia é uma obra extensa, com uma introdução de oitenta e seis páginas, onde Weil já apresenta o conteúdo de seu livro. Sua intenção é compreender a multiplicidade de filosofias, onde cada filosofia constitui uma determinada coerência, mas o conjunto das filosofias não forma um todo coerente. Neste sentido, através da Lógica da Filosofia é possível analisar as diversas formas de linguagem e de ação, enquanto expressão do comportamento e enquanto forma de expressão escolhida pelo filósofo. Para Weil, o filósofo é o indivíduo finito e razoável que objetiva compreender o infinito do discurso. O filósofo conta com a crença em sua definição - pois ele é considerado o homem que formula o que todo mundo pensa, o porta-voz do senso comum, e ocupa assim uma função elevada na sociedade. 16 A Lógica da Filosofia é o sistema de Weil, sistema total no qual e sobre o qual se fundam a Filosofia Moral e a Filosofia Política. Seus discursos são fundados sobre as categorias filosóficas da Consciência e da Ação, tematizadas no seio do sistema. Daí resulta que a Lógica da Filosofia é o sistema que reflete até os seus próprios fundamentos, ou seja, a escolha do discurso ou a recusa da violência, provando que ela não pode impedir a ninguém de fazer a sua própria escolha. A compreensão do homem, nesse sistema, se dá a partir da visão como um ser que é apenas razoável, que pode escolher a razão, que é liberdade em vista da razão ou da violência. Violência e filosofia são tão intimamente relacionadas que não se compreende uma senão pela outra, e elas estão de tal modo implicadas na existência humana que não se compreende sem elas. De fato, enquanto ser natural, o homem é violento, mas este ser violento se compreende e, por este mesmo fato, ele não é pura violência. 17 Segundo Soares, a filosofia quer ser uma interrogação sobre o sentido tanto na sua afirmação como na sua negação. Todo ato humano tem lugar na filosofia, mas nem todos são racionais, porém deve ser compreensíveis, já que todos são interessantes 18. Weil, ao inovar apresentando seu sistema, pretende realizar uma retomada de toda a assim também Kant afrontou a questão fundamental, a questão do fundamento. O homem como ser cognoscente não sai nunca do finito, mas enquanto vontade razoável, razão que quer, vontade que quer ser razão, alcança o infinito, aquilo que não conhece exterioridade nem limite; um infinito que ele pensa e que, por isso mesmo, ele não conhece como conhece o dado, o sensível, o finito. Esse ser finito no finito se pensa de verdade e, assim, no infinito, mas de uma infinitude que ele não pode preencher. Cf. PERINE, Marcelo. Filosofia e Violência. Sentido e intenção da Filosofia de Éric Weil, p Cf. SOARES, M. C. O filósofo e o Político. São Paulo: Loyola, 1998, p Cf. SOARES, M. C.O filósofo e o Político, p PERINE, M. Filosofia e Violência. Sentido e intenção da Filosofia de Éric Weil, p Cf. SOARES, M. C. A Lógica como Diálogo. Porto Alegre: Revista Veritas, v. 43, nº 4, dezembro 1998, p

19 18 história da filosofia, contribuindo para um melhor entendimento da contemporaneidade, visando fundamentar a construção de uma ação sensata, destacando que o homem não é somente ser racional, mas ser, também, violento e de paixões. É a partir do homem que acontece o embate entre Filosofia e Violência 19, explicitado pela relação entre categorias 20 e atitudes 21. A Filosofia Política e Filosofia Moral estão organicamente ligadas com a Lógica da Filosofia, o que não impede o estudo isolado de cada uma delas, desde que tenhamos uma compreensão do papel de cada parte perante o todo. Segundo Perine, a ideia de uma Lógica da Filosofia traduz aquela tarefa que Kant, segundo Weil, atribuiu essencialmente ao filósofo, posto que ela diz respeito ao que mais importa ao homem na vida: a busca do sentido, que não é e não pode ser senão a subida difícil, laboriosa, lenta na direção dos fundamentos do discurso do homem agente (PK 106). Essa tarefa incumbe essencialmente ao filósofo porque, tendo escolhido a compreensão, ele carrega a inquietação daquele que quer compreender até a 19 O que é a violência? Eric Weil nos dá uma nova maneira de explicar. A forma mais espetacular da violência, o enfrentamento que leva os homens a combates sangrentos, não é talvez a forma mais compreensiva e mais profunda. De modo mais geral, Eric Weil inscreve na atitude da violência todo homem que não procura justificar sua vida e seu falar diante do tribunal da razão, e que se contenta com a expressão imediata de seu sentimento ou com a afirmação racional de seu dogmatismo. A filosofia, por sua vontade de compreensão e de coerência, separa-se para sempre de uma matéria que a excede: a vida e sua violência praticada ou suportada. Se a filosofia se esquece desse enraizamento no mundo da vida, ela não se compreende mais, mas se interpreta como ciência do ser (de Platão a Hegel), pensando que assim pode impor-se a todos. Isso significa cometer dois erros. De um lado, a filosofia não pertence ao domínio da verdade objetiva. Do outro, a verdade objetiva da ciência não se impõe àquele que não se mantém na coerência; em outras palavras, a verdade objetiva repousa numa escolha livre. Weil define a filosofia como o empreendimento de todo homem que em seu mundo procura orientar-se, procura o sentido (mais que a verdade) que se opõe à violência. Cf. ROBINET, J-F. O tempo do pensamento, p Categoria deve ser entendida aqui como o conceito sob o qual se organiza e ganha sentido tudo aquilo que os homens fazem sob uma determinada atitude. Ela é, pois, a categoria de uma atitude pura e irredutível, cuja pureza e irredutibilidade lhe vêm do discurso que ela produz. Categoria deve ser, portanto, entendida aqui como categoria filosófica, categoria do discurso e não como categoria metafísica. É a categoria que determina a pureza e a irredutibilidade da atitude, mas é a atitude que produz a categoria. Historicamente posterior à atitude, a categoria tem a primazia para a filosofia, e é somente o conjunto das categorias que permite a compreensão do homem, que permite ao homem se compreender, isto é, que permite a idéia de uma lógica da filosofia como sucessão dos discursos coerentes do homem (LP 72), discursos nos quais ele compreendeu as suas realizações e se compreendeu nas suas realizações. Cf. PERINE, M. Filosofia e Violência. Sentido e intenção da Filosofia de ÉricWeil, pp A atitude é a vida mesma do homem: ele vive na sua atitude, ele vive a atitude. A atitude, ordinariamente, não se pensa porque tudo lhe é natural, mas ele pode ser pensada pelo homem que quer compreender o que ele vive: o homem pode captar a sua atitude no seu discurso. Isto fazendo, porém, ele realiza um ato revolucionário. [...] O homem pode se manter sempre numa atitude que lhe parece natural, sem querer compreender o que ele vive. Mas ele pode também se compreender no discurso, num discurso que capte aquilo que, para uma determinada atitude, é o seu essencial. Os discursos dos homens são compreendidos com relação ao que se pode chamar de atitudes puras ou irredutíveis, aquelas que captam o essencial do seu mundo como conceito (LP 71). Esse conceito recebe aqui o nome de categoria. Cf. PERINE, M. Filosofia e Violência. Sentido e intenção da Filosofia de Éric Weil, p. 137.

20 19 sua própria compreensão 22. Portanto, quando o homem, tomando consciência de sua atitude, embora estas atitudes não sejam necessariamente conscientes 23, pratica um ato revolucionário na medida em que agora a compreende e a domina. As atitudes humanas são compreensíveis, mesmo que nem todas tenham a mesma relevância para o discurso. O homem em todas as atitudes que vem a realizar, responsáveis ou irresponsáveis, apresenta sempre um lado compreensivo para aqueles que tem certa prédisposição para compreender. Na Lógica da Filosofia Weil, também, se pergunta pelo que é o homem; ele mesmo o responde: Ele não é o animal dotado de linguagem razoável, dotado no sentido em que é dotado de mãos ou da estação vertical; tampouco é artesão e fabricante, no sentido em que a abelha o é; se ele é ele próprio, ele é razão, não apenas razoável, mas razão encadeada num corpo de animal, corpo indigente, corpo que tem necessidade, tendências cegas, paixões. Seu trabalho verdadeiramente humano consiste na transformação desse ser composto, no intuito reduzir, tanto quanto possível, a parte que não é razoável, a fim de que, por inteiro, ele seja razão. 24 Portanto, a dualidade atitude-categoria nos faz compreender alguma coisa de essencial no que concerne à relação entre filosofia e existência, nos faz compreender de que modo a filosofia se torna presente na história. Elevando a vida irrefletida à sua reflexão, a filosofia transforma o mundo e abre para uma nova possibilidade de estar no mundo, porque o ser humano que a compreende não é mais o mesmo que aquele que vive sem refletir em sua compreensão. A filosofia, pois, elevando a atitude à compreensão, dá à negatividade um objeto disponível que ela pode, também, recusar. 25 A Lógica da Filosofia traz a seguinte sequência das categorias: Verdade, Nãosenso, Verdadeiro-e-falso, Certeza, Discussão, Objeto, Eu, Deus, Condição, Consciência, Inteligência, Personalidade, Absoluto, Obra, Finito, Ação, Sentido, Sabedoria. Esse conjunto de categorias não é senão o conjunto das atitudes irredutíveis 22 Cf. PERINE, M. Filosofia e Violência. Sentido e intenção da Filosofia de Éric Weil, p LP, p WEIL, E. Lógica da Filosofia. Trad. Lara Christina de Malimpensa. São Paulo: ÉRealizações, 2012, p Cf. ROBINET, J. F. O tempo do pensamento, p. 280.

21 20 do homem no mundo, que se expressaram em discursos coerentes nos quais ele compreendeu as suas realizações e se compreendeu nas suas realizações O conceito de moral Moral diz respeito ao mor, moris que traduz o grego tá ethika. O termo Moral designa, tanto em latim como em grego, aquilo que se refere aos costumes, ao caráter, às atitudes humanas em geral e, em particular, às regras de conduta. Moral pode ser definida também como um conjunto de regras que são seguidas no interior dos grupos humanos. Tais regras, verdadeiro sistema moral das comunidades, não vem a constituir problemas para os grupos humanos, porque, segundo Weil, o homem é capaz de observar regras morais, sendo ao mesmo tempo imoral, isto é, um ser que tem necessidade, que exprime a necessidade de uma regra se opõe a este como algo ao qual ele pode se submeter ou não. 27 O ponto de partida da reflexão weiliana é a moral concreta pois o homem possui a consciência de que é mau, mas sabe também, que é bom. Portanto, só um ser que tem consciência do bem pode possuir a consciência do mal. Nesse sentido, o homem é um ser moral porque é capaz de separar o lícito do ilícito, o que deve e o que não deve fazer, e se interdita e se prescreve certos atos, comportamentos, atitudes, ele julga, aprova e condena. 28 A vida moral só é possível ser realizada numa comunidade, à medida que é capaz de revelar essa moral concreta. O homem, enquanto ser moral se encontra provido de regras e não é possível viver num estado total de ausência de regras. Porém, o homem ao mesmo tempo que não vive sem as regras, é capaz de transgredi-las, pois só o homem segue regras, porque só o homem pode não segui-las e, de fato, muito frequentemente não as segue. É enquanto ser violento que ele é moral, enquanto transgressor que ele tem consciência das regras. 29 O ato moral visa sempre à universalidade em sua concretude procurando ser efetivado numa comunidade concreta 26 Cf. PERINE, M. Eric Weil e a compreensão do nosso tempo. Ética, Política, Filosofia. São Paulo: Loyola, 2004, pp Cf. WEIL, E. Filosofia Moral, p Cf. WEIL, E. Filosofia Moral, p Cf. WEIL, E. Filosofia Moral, p. 21.

22 21 e, por isso mesmo, torna-se um ato político. É a partir da moral que cada um tem consciência do seu lugar na comunidade na qual vive. Cada um é revestido de um papel porque todos são igualmente necessários para a vida da comunidade e cada um encontra aí sua dignidade. Uma filosofia moral nasce a partir da reflexão sobre as morais vigentes. E sua base está no homem que age (homem agente) com o intuito de que ela seja válida, apta para dirigir sua ação de modo não arbitrário para uma felicidade determinada não arbitrariamente que pretende ser universal 30. A moral é verdadeira e sua origem se baseia unicamente na liberdade, presente como vontade de razão e universalidade. A moral só existe e se realiza no plano da política, e a política torna-se problema somente para o ser moral. Contudo, o mais decisivo nessa relação é a questão do sentido, que em linguagem política seria o fim da ação, fim para a política, fim também para a moral. O ser humano é, por excelência, dotado de um sentido moral, afirmação decorrente da evidência da tese que sustenta que o ser humano é capaz de moralidade. A moral afirma, pois, que todo homem tem em si tudo o que constitui a humanidade do homem. Na verdade, é assim que ela define o homem. O que ela deduz daí resume-se na afirmação de que não devo nunca considerar um ser humano como objeto, como coisa manipulável e utilizável; devo respeitar nele a humanidade, tratá-lo como ser razoável. Mas a regra, na medida em que é negativa no mais alto grau, não indica nada sobre o que devo fazer positivamente; pois o positivo está totalmente do lado do empírico: eu não posso deduzir da regra o modo de agir para respeitar no outro sua liberdade. O homem moral é só, para si, e tudo que ele sabe de suas obrigações para com o outro é que ele não tem o direito de impedir o seu próximo de ser para si e igualmente só, um eu que deve submeter-se à liberdade pela liberdade nele. 31 Weil inicia a exposição política através da moral, justamente porque o questionamento da ação humana está aqui situado e, conseqüentemente, o sentido da ação. O lugar da moral na política é definido por Weil: é o campo da questão pelo sentido da ação, já que se impõe no plano da universalidade. O homem começou a agir antes de se pôr a refletir sobre suas ações, e aqui se dá a prioridade da política. Devemos ter consciência de que a política ocupa todo o centro dinâmico da nossa civilização, ultrapassando os limites da particularidade e alcançando a universalização. Eric Weil 30 Cf. WEIL, E. Filosofia Moral, p WEIL, E. Filosofia Política, p. 34

23 22 toma como pressuposto e orientação, primeiramente, a reflexão clássica e observa o distanciamento que existe entre razão técnica (instrumentalista) na pós-modernidade e razão ética. A moral do indivíduo, não é somente do indivíduo particularmente, mas é, ao mesmo tempo, uma moral histórica. Suas ações desencadeiam conseqüências sobre o outro e sobre o grupo. Para Weil, o indivíduo encontra-se dividido: De um lado, ele pertence à sua comunidade, e sabe que a vida humana só é possível no interior da comunidade. É ela que fornece o que lhe é necessário, não só para sua existência biológica, mas também para sua vida moral e intelectual; fora de toda comunidade, ser-lhe-ia possível, rigorosamente falando, sobreviver, mas não viver como homem: mesmo a pior das comunidades dá ao indivíduo a possibilidade (e a realidade) do discurso, da educação, da consciência de si e onde nada existe, nada pode ser melhorado. Porém, mesmo prestando-lhe este serviço essencial no sentido mais próprio do termo, mesmo sendo o que faz dele um ser humano, sua comunidade o descontenta e o torna insatisfeito, precisamente porque ela lhe transmite o ideal da satisfação, da vida sensata. 32 Assim sendo, o indivíduo, consciente de ser membro de uma comunidade, e sob a influência da moral que o formou opõe-se assim a si mesmo na medida em que duvida dessa moral. Ele busca a moral e a satisfação 33. Dividido entre o bem e o mal, fato que constitui para ele o problema moral, o indivíduo desamparado pela moral de sua comunidade sente necessidades, fato que constitui para ele o problema da moral. O ser humano, esse ser indigente cujos desejos ultrapassam suas possibilidades naturais, busca o contentamento porque, ao contrário dos animais, tem consciência das suas necessidades. Na medida em que quer mais do que a sua natureza empírica pode oferecer, o homem se descobre como liberdade, como vontade de universalidade. Para Weil, a filosofia moral nasce quando o homem, recusando a escolha, sempre possível, do absurdo e do silêncio, compreende a que ele se obriga por essa recusa e ela pode tornar-se incompreensível para si mesma, se ela esquecesse essa origem. 34 Portanto, na medida em que o homem se descobre capaz de ser moral, ele tem consciência de que precisa estar inserido numa comunidade e cumprir leis e regras que o levarão a uma vivência harmoniosa. O que o homem espera da moral é a unificação interior, a decisão do conflito entre o bem e o mal, a garantia de uma vida boa, numa 32 WEIL, E. Filosofia Moral, pp Cf. WEIL, E. Filosofia Moral, p Cf. WEIL, E. Filosofia Moral, p. 38.

24 23 palavra: o contentamento. O que busca o indivíduo moral (descobrir a moral que o torne verdadeiramente moral) é a satisfação, o apaziguamento da sua inquietude sobre o sentido da vida, a reconciliação interior que suprima o conflito e a divisão em uma palavra, a felicidade. 35 Para Weil, a moral supera a política, repensando-a e levantando problemáticas a seu respeito. Ele inicia a política pela moral e só por esse campo, uma vez que aqui está o questionamento sobre o sentido da ação e, por isso, uma exposição filosófica da política tem aqui seu ponto de partida. O lugar da moral na política já foi determinado: é o campo da questão pelo sentido da ação uma vez que inquire sobre o sentido no plano da universalidade. Seja como for, a moral, pelo direito natural e pela educação, enquanto ocupada pelas relações humanas e fruto da razão prática, põe o indivíduo no horizonte da universalidade e daí faz uma avaliação da política. O que marca o indivíduo moral é o acordo consigo mesmo. Esse acordo diz respeito à vontade e à razão. Para Weil a moral afirma, pois, que todo homem tem em si tudo o que constitui a humanidade do homem. Na verdade, é assim que ela define o homem. O que ela deduz daí resume-se na afirmação de que não devo nunca considerar um ser humano como objeto, como coisa manipulável e utilizável; devo respeitar nele a humanidade, tratá-lo como ser razoável 36. A origem da moral se encontra na liberdade, presente como vontade de razão e universalidade. Segundo Weil, o homem pode optar pela moral (assim como pode optar pela razão e pela filosofia) e essa opção é totalmente livre. Optando pela moral o princípio da vontade razoável está fundado. Outrossim, a moral dá origem à concepção de um direito universal, de um direito natural isto é, aquele direito que ao qual o filósofo se submete, mesmo que o direito positivo não o obrigue a isso. A reflexão moral deverá ocupar-se das relações reais dos homens entre si, expressas na forma universal pelo direito positivo. Sem renunciar a sua autonomia, a reflexão moral aprendeu que somente se compreende, enquanto real, como crítica viva de uma moral viva, exercida em seu interior. O homem que visa ser moral deve realizar o bem neste mundo, aceitando as condições da ação positiva. A ação sobre si mesma se faz necessária, pois basta não 35 Cf. WEIL, E. Filosofia Moral, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p. 34.

25 24 somente a moral para que o indivíduo torne-se efetivamente moral. A efetivação da moral se dá através da educação, educação sobre si mesmo para superar a violência. Não é a violência da natureza exterior nem a de outros indivíduos, mas a violência que seu eu empírico impõe a seu eu razoável. A educação inicial tem a função de libertar o homem da paixão que sofre por parte de si mesmo. Numa palavra, para Weil, é a moral que dá à consciência de que a ação humana deve ser uma ação sobre o outro e sobre o grupo, visando a felicidade do homem, ser finito e razoável, tornando essa ação universal, pois é essa vontade de universalidade do homem, contudo sempre finito e particular, que constitui a natureza do homem aos olhos do pensamento moral O conteúdo da moral Sabendo que a moral filosófica e a filosofia moral não podem ficar indiferentes à vida moral, nem em manter relações com ela, o indivíduo se descobre que é orientado pela moral existente em sua comunidade, moral essa que obedece ao princípio da universalidade, pois quando a filosofia se volta para a moral concreta, não é para buscar como determinada moral impõe regra a determinado problema [...], é para perguntar o que é um problema moral, como ele se põe e como ele é resolvido, qualquer que seja a moral 38. Para Weil, o dever constitui a única categoria fundamental da moral. 39 Para o homem moral, o dever existe sob a forma dos deveres. A consciência do dever se dá a partir da e nas relações com o outro e consigo mesmo, tratado e considerado como outro 40. O homem que quer ser moral e feliz, enquanto moral, não pode esperar que um estado de coisas morais como esse exista: é aqui e agora que se joga a sua sorte, não será no final desse período de decomposição moral e de dúvida que o lançou sobre si mesmo. 37 Cf. WEIL, E. Filosofia Moral, p Cf. WEIL, F. Filosofia Moral, p Cf. WEIL, E. Filosofia Moral, p Cf. WEIL, E. Filosofia Moral, p. 110.

26 25 O dever é apresentado como duplo dever: dever de fazer, dever de não fazer, deveres positivos e negativos 41. O homem que põe para si mesmo a questão da moral ou, como ele diz, da verdadeira moral, não pode não reconhecer, se quer permanecer coerente, que não pode pô-la para outro indivíduo concreto: ele a põe universalmente, mas não a impõe para os que não a põem para si mesmos. Ele deseja que todo homem seja moral, sabe que está obrigado a fazer todo o possível para que cada um o seja, pois a vida moral não constitui o todo da vida humana, mas sem ela não existe vida humana propriamente dita. 42 É certo que enquanto ser moral, isto é, universal, o homem não deve buscar a sua felicidade, e não tem necessidade disso, mas é igualmente certo que o ser razoável e finito, o composto de universal e individual, tem necessidades de um estímulo. O indivíduo tem a pretensão de ser razoável, pois o dever para consigo mesmo se determina como dever de ser feliz enquanto ser razoável. 43 O conteúdo da moral está no dever para consigo mesmo, se cumpre no ato da vontade que pretende ser razoável, isto é, livre (razoavelmente, na razão e pela razão) 44. O dever para com o outro repousa sobre o dever para consigo mesmo, de tal modo que este só se torna real naquele: a felicidade do ser razoável, consiste no legítimo de si mesmo, na consciência da vitória conseguida pela razão em mim sobre mim mesmo como ser determinado, vitória que só pode ocorrer no campo em que se dá o combate, o do conflito das necessidades dos desejos de seres finitos. A felicidade do ser razoável só se realiza, o dever para consigo mesmo só se torna concreto no cumprimento dos deveres do ser razoável para com outros seres humanos, igualmente finitos e razoáveis. 45 Os deveres para com o outro decorrem do dever fundamental de justiça, primeiro e fundamento de todos os deveres para com o outro. O indivíduo toma seu ponto de partida do finito, e é no finito que introduz essa exigência de universal, embora inconsciente. Como ser condicionado, age e pensa, mas esse agir é sempre atividade de um ser finito. Inserido numa comunidade, o indivíduo deve cumprir as regras que ela o exige. O dever exercido para comigo mesmo, que visa a minha felicidade consiste em fazer meu dever para com todos os homens, pois é só em contato com eles que a questão 41 Cf. WEIL, E. Filosofia Moral, p Cf. WEIL, E. Filosofia Moral, p Cf. WEIL, E. Filosofia Moral, p Cf. WEIL, E. Filosofia Moral, p Cf. WEIL, E. Filosofia Moral, p. 143.

27 26 do dever para comigo mesmo pode se pôr para mim, porque é só nesse contato que efetuo a separação primeira entre o arbitrário e o universal 46. Exercendo a justiça, primeiro de todos os deveres para com o outro, surge o dever da prudência moral, resumo de todos os deveres fundados na justiça e que determina a maneira de sua realização na comunidade. 47 Para Weil, a prudência é a virtude que é capaz de levar à perfeição todas as outras virtudes. É pela prudência que as implicações formais da exigência de universalidade são desenvolvidas, no mais elevado grau de concretude que possa esperar a reflexão moral. É nela que se subsumem todos os problemas concretos que se põem ao ser moral se ele recusa a negação do mundo e a pureza vazia, se ele quer agir moralmente e, no seio de uma moral concreta, quer ser moral. 48 Para Weil, a prudência é a sabedoria prática que é responsável pelo sucesso dos empreendimentos do indivíduo moral. Ela é, na verdade, um dever. O dever que a prudência define é o de se conhecer e de conhecer o mundo: é do modo como se é que se age no mundo tal como ele é 49. A moral é o caminho que eleva o homem que quer ser universal e a política é quem fornece as condições ao homem que quer ser moral, bem como para o discurso moral. Segundo Soares, a filosofia política é o movimento que tem como ponto de partida a moral, mas esta é superada pela comunidade histórica, ou seja, o Estado, e este é superado pela moral, enquanto ação sensata. Todavia, tal movimento não é visto pelo político, mas pelo filósofo, cuja tarefa é buscar o sentido das ações 50. A passagem da moral formal à universalidade concreta se fará, primeiramente, por duas mediações transitórias: a idéia de direito natural 51 e a educação, que constituem 46 Cf. WEIL, E. Filosofia Moral, p Cf. WEIL, E. Filosofia Moral, p Cf. WEIL, E. Filosofia Moral, p Cf. WEIL, E. Filosofia Moral, p Cf. SOARES, M. C. O filósofo e o político, p Chama-se de direito natural aquele ao qual o filósofo, submete-se, mesmo sem ser obrigado a isso pelo direito positivo: ele quer agir, a fim de contribuir para a realização do universal razoável, da razão universal. Ele tratará como seres razoáveis e, portanto, iguais todos com os quais se relaciona. Nesse sentido, aquele a quem o direito positivo qualifica de escravo é o igual do cidadão livre; o imperador espera da filosofia o mesmo socorro que o homem carente, sofredor e oprimido; o dever diante do fraco, incapaz de exigir o que lhe é devido, é o mesmo diante de quem possui a força para vingar-se da menor afronta: se uma diferença existe entre eles, é que o infeliz conhece sua situação melhor que o grande e, nesse sentido, é superior a ele. O filósofo moral, a partir do momento em que compreendeu que deve agir e que age, mesmo que tente abster-se de qualquer ação, se quer que a moral reine neste mundo, busca uma regra de conduta no mundo e para o mundo. Ele considera-se como igual a todos os homens, todos

28 27 os fundamentos da moral. A ideia de direito natural tem como fundamento o princípio da igualdade, seja a igualdade dos seres razoáveis, seja a igualdade diante da lei: o direito positivo. A educação 52, por sua vez, diz respeito diretamente à comunidade concreta. Enquanto a moral age condenando as paixões, os vícios, a educação corrigeos, orientando-os para um bem maior. O filósofo deve inserir o direito natural não mais apenas numa lei civil, mas nos costumes concretos da comunidade. O filósofo é um homem razoável que deve respeitar as leis que a comunidade impõe. Seu objetivo será sempre o de favorecer a progressiva efetivação do reino dos fins no mundo. O filósofo, enquanto pensador moral, pode desviar-se do mundo e da ação. 1.4 A tarefa da filosofia A tarefa essencial do filósofo no nível da educação pode ser resumida na máxima: vencer a paixão dos homens e conduzi-los à universalidade da razão. Nesse sentido, a tarefa que é confiada ao homem moral está em educar os homens para que se submetam espontaneamente à lei universal 53. Porém, nessa tarefa o homem se depara com um obstáculo: ele próprio e se servirá dos meios que o mundo empírico lhe proporciona, pois trata-se de vencer a paixão dos homens no plano da paixão, com os meios que são próprios da paixão 54, já que o mundo da moral é, pois, o mundo dos homens, seres finitos, necessitados, passionais, razoáveis porque exposto à violência exterior da natureza e da necessidade, à violência interior do caráter, do temperamento, do arbítrio individual. 55 A tarefa da filosofia é bem clara: é entender o mundo em vista da realização da liberdade razoável 56. Para isso, o homem tem na educação uma forte aliada. os homens como iguais a si e entre si. A lei da comunidade é moralmente válida porquanto não entra em contradição com este princípio. Cf. WEIL, E. Filosofia Política, pp A tarefa da educação consiste em desenvolver no indivíduo a capacidade de compreender o que lhe diz respeito enquanto membro de uma comunidade humana (enquanto objetivamente universalizado ), capacidade não só de fazer e dizer o que dele se exige, mas de compreender porque isto é exigido e, se for o caso, porque aquilo que efetivamente se exige, não é exigível, seja por não se justificar tecnicamente, seja, por mostrar-se injusto, sendo dirigido ao indivíduo isolado, não a todo homem que desempenhe o mesmo papel no universal concreto da comunidade (sendo, portanto, exigência violenta). Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, pp Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Moral, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p. 76.

29 28 O indivíduo deve, pois, ser educado para o interesse universal concreto. Se, em todas as suas ações e discursos, buscar desempenhar seu papel social da melhor maneira possível, a educação será a vitória do homem sobre os instintos. O animal, por sua vez, não tem opção, já que é um ser acabado e determinado. Por outro lado, a educação do indivíduo é uma domesticação cujo fim último é fazer do educando um educador 57. O filósofo, educador por excelência, conta com a educação que pretende libertar o homem da violência, isto é, busca levar o indivíduo a considerar a universalidade, de maneira a viver na sociedade harmoniosamente. A tarefa do filósofo-educador será desvelar as estruturas do mundo em vista da realização da liberdade razoável. A educação forma, integralmente, o cidadão e o ajuda na luta contra a violência. A questão da educação levanta um problema: o governo 58, sendo educador, é obrigado a julgar a moral da comunidade. Educar não se trata de que o Estado seja possuidor de um saber que viria a ser imposto ao cidadão. Mas exatamente o contrário: educar é, unicamente, conduzir o sentimento da relatividade dos sentidos concretos à vontade de compreender e de se compreender. O objetivo da educação é dar ao indivíduo uma atitude correta em suas relações com os outros membros da comunidade. É a retidão no modo de agir e na atitude prática que decide o valor do indivíduo e da educação que recebeu. Na verdade, são os nossos atos, nossos discursos, nossas palavras que contam na história dos homens. Nesse sentido, podemos dizer que nossos atos, nossas palavras muitas veze refletem nossas intenções, mas os atos é que são verdadeiros ou falsos, o que independe de nossa 57 Só o educador que não esquece que a educação está fundada na moral da reflexão é capaz de ver o seu próprio lugar no mundo dos homens. Contudo, nada é mais facilmente esquecido. Encontra-se por toda parte o educador inconsciente, o pedante que transmite um saber morto, ou o instrutor que inculca aptidões e atitudes parciais e particulares. São homens dessa espécie que deram má fé à educação e à tarefa de educador. Existe, com efeito, uma maneira cômoda de domesticar o animal no homem: basta fixá-lo na sua animalidade (formada, vale dizer, deformada, pois trata-se de animalidade). É igualmente cômodo fazer jorrar para a cabeça das crianças e adultos uma massa de saber inerte, renunciando a leválos ao pensamento e a pensar. Isso não quer dizer que a domesticação e a instrução sejam sem valor. Mas elas são, no máximo, condições da verdadeira educação, extremamente difícil de ser praticada, essa educação que quer conduzir a humanidade animal, pela animalidade no homem, à razão e à liberdade razoável (pleonasmo, mas que não parece supérfluo), educação, portanto, que pretende formar homens capazes de decidir agir razoavelmente no seu lugar no mundo, vale dizer, segundo as exigências do universal na situação concreta, sabendo o que fazem e porque o fazem. O seu ideal não consistirá em serem originais a qualquer preço, pois isso significa, na maioria dos casos, ser falso, e dizer que dois mais dois são quatro não é nada original. Cf. WEIL, E. Filosofia Política, pp A tarefa do governo é manter a unidade e a coesão internas (sem as quais a independência seria impossível). Sendo, através da administração, o organizador da sociedade, ele realizará uma das suas condições necessárias satisfazendo os desejos sociais (materiais, econômicos) de todos os cidadãos e fazendo com que todos sejam cidadãos, não por estar convencido de que assim tudo está feito, mas por compreender que sem isso nada é factível. Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p. 243.

30 29 intenção. Só podemos julgar o homem enquanto ação. A educação quer conduzir o indivíduo a uma reflexão moral pessoal sob a autoridade exclusiva da razão. Se o indivíduo é educado, a ação não será um problema moral a ser resolvido para sua reflexão. A instrução, por sua vez, está a serviço da educação, mas é englobada pela educação, já que esta concerne a uma articulação das várias dimensões do ser humano. A instrução, enquanto operação cognitiva é apenas uma dimensão. A instrução tem seu valor, é uma necessidade, e não constitui um problema. Para Weil, a instrução é algo positivo e ele diferencia a educação da instrução, já que esta última está ligada à técnica, à racionalidade, à transmissão de conhecimento, ou seja, a instrução fornece conhecimentos úteis ao homem, para que ele possa participar do trabalho social, para que ele possa adquirir um lugar dentro da estrutura da sociedade em que ele vive 59, ou seja, a instrução é de suma importância para todo aquele que participa do social. Para Weil, é importante distinguirmos entre educação e instrução: a instrução enquanto tal possui um notável valor educativo. É pela instrução que o indivíduo aprende, facilmente, como suas paixões, seus desejos, suas preferências são transitórias, quando o que está em jogo é o que é verdadeiro. O valor da instrução não consiste na posse de conhecimentos úteis, mas em submeter o caráter à objetividade e à universalidade do juízo. Assim, a instrução está a serviço da educação e esta não pode nunca ser a serva daquela 60. A educação, por sua vez visa à aptidão do indivíduo para agir, eticamente, na comunidade histórica. A tarefa da educação consiste em desenvolver no indivíduo a capacidade de compreender o que lhe diz respeito enquanto membro de uma comunidade humana, capacidade não só de fazer e dizer o que dele se exige, mas de compreender porque isto é exigido e, se for o caso, porque aquilo que efetivamente se exige, não é exigível, seja por não se justificar tecnicamente, seja por mostrar-se injusto, sendo dirigido ao indivíduo isolado, mas não a todo homem que desempenhe o mesmo papel no universal concreto da comunidade 61. Para Weil, o fato é que o homem moral tem um interesse no mundo porque ele decidiu viver e agir no mundo. Entretanto, o ser moral não poderia reconhecer o valor e a validez de um interesse simplesmente dado pela simples razão de que é o seu. Seu interesse, enquanto ser moral deve ser interesse de todo homem enquanto ser razoável. 59 Cf. SOARES, M. C. O Filósofo e o Político, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p. 71.

31 30 Segundo Weil, é do interesse da moral pura que todo mundo viva segundo a moral concreta 62. Essa sociedade governada pela categoria da Condição, segundo a linguagem de Weil, e conforme descrita pelas ciências sociais teóricas fundadas no mesmo princípio da sociedade moderna. Essa sociedade moderna torna-se importante para o indivíduo e o primeiro princípio dessa sociedade é que ela constitui uma sociedade mundial unificada pelo método de trabalho e diferenciada por seus conteúdos históricos; o segundo princípio é que o indivíduo tem sucesso à medida que se qualifica e, assim, estabelece seu direito a uma parte significativa do produto social. Na sociedade atual, que Weil chama também de mecanismo social, a marcha para a racionalidade e para a mundialização que caracteriza as sociedades modernas graças à organização moderna do trabalho, impera a determinação de uma lógica cujos valores centrais são da ordem do cálculo racional e da eficácia, do avanço do progresso técnico e científico. Os sujeitos não são para si mesmos, mas valem pela utilidade que conferem à luta contra a natureza exterior, ou seja, pelo saber, conhecimento ou força de trabalho que disponibilizam para que a organização do trabalho seja mais eficiente. Weil distingue entre comunidade e sociedade: comunidade é tudo aquilo que é vivido numa experiência direta de compreensão humana. Toda comunidade humana é caracterizada por sua moral concreta, ou seja, por suas tradições históricas. É com a categoria da Discussão que se pode falar em comunidade, pois é nela onde todos os seres são reconhecidos indivíduos capazes de se comunicar. A busca do bem comum e o estabelecimento do acordo entre todos e cada um será o objetivo da Discussão, pois é na Discussão que é possível o discurso político. Esse discurso político surge como possibilidade da solução dos conflitos sem precisar recorrer à violência no interesse do bem da comunidade. Nesse sentido, a violência deverá ser excluída como solução dos possíveis conflitos que poderão emergir no seio da comunidade, mas ela não desaparece com a adoção do discurso. Isso não significa o abandono definitivo da violência, mas apenas um primeiro acordo na direção do que pode significar seu fim. Assim sendo, o centro da comunidade é a sua moral, aquilo que unifica os valores de justiça, coragem, honestidade. Tais valores informam o sujeito concreto sobre suas virtudes, bem como informam as relações entre os diversos grupos. A 62 Cf. WEIL, E. Filosofia Moral, p. 176.

32 31 sociedade, por sua vez, é a comunidade organizada para a luta contra a natureza externa, contra as necessidades humanas e agressões naturais. Na Filosofia Política Weil define a organização da sociedade na modernidade em calculista, materialista e mecanicista. Em princípio, dado que subsistem fatores psicológicos, a sociedade moderna mostra-se calculista: toda decisão, toda transformação dos processos de trabalho e de organização, todo emprego das forças disponíveis (humanas e naturais) deve ser justificado demonstrando que o domínio do homem sobre a matéria é reforçado, dito de outro modo, que o mesmo resultado mensurável é obtido com menor dispêndio de energia humana, ou que uma quantidade maior de forças naturais é posta à disposição da humanidade (ou da comunidade particular), coisa que não seria possível com os métodos anteriores. A sociedade moderna é materialista porque nas suas decisões só os fatores materiais são levados em consideração. Ela é mecanicista porque todo problema deve ser transformado em problema de método de trabalho e de organização, e só deve referir-se ao mecanismo do trabalho social: todo problema que não pode ser formulado assim é, por definição, um falso problema. 63 A estrutura da sociedade moderna elabora um mecanismo próprio, uma espécie de sistema de leis. O indivíduo, nessa situação, se encontra diante da natureza exterior. O indivíduo é visto como uma peça de uma grande engrenagem. A moral da sociedade moderna é voltada somente para o homem econômico na satisfação de suas necessidades, alheia aos problemas da moral tradicional, como os do prestigio, do premio e da glória. É a satisfação do indivíduo que só é livre na situação concreta da história, só poderá sê-lo verdadeiramente tendo o Estado como instrumento da moral viva sobre a sociedade. Esse Estado moderno particular, que exigirá racionalmente a sua plena universalização garantindo a satisfação de todos e de cada um. Sem dúvidas, podemos afirmar que a grande crise política da sociedade moderna pode ser vista na tensão entre a comunidade e a preservação de seus valores e a sociedade marcada pelo trabalho e pela eficácia. A sociedade atual pelo princípio da racionalidade chega a atingir sua primeira forma de universalidade, embora sendo uma universalidade formal, pois está baseada em necessidades e não em liberdade. A liberdade, por sua vez, conduz o indivíduo a viver universalmente e a se compreender diante dessa racionalidade universal. Na sociedade atual ninguém é verdadeiramente livre e sem ela sequer se poderia postular a liberdade. Eis o paradoxo que divide e provoca insatisfação no indivíduo: como segunda natureza do homem, na sociedade, 63 WEIL, E. Filosofia Política, p. 92.

33 32 sobretudo na moderna, a liberdade está suplantada pela possibilidade da pura existência social, pois o mundo da produção e do consumo tornou os homens não sujeitos, mas objetos. Eles são reduzidos à função que exercem no seio do mecanismo social. O que o homem opõe à natureza social é sua vontade de liberdade. Ele já não se contenta com a pura forma da universalidade razoável. Ele é consciente de sua condição de insatisfeito no mundo e sabe que não basta a prescrição de agir em conformidade com a lei universal. Ademais, é ciente de que a lei não pode dar, em nenhum momento histórico, orientação ao homem nas situações concretas de sua existência. Novamente, se deduz que a individualidade insatisfeita com a sociedade se opõe a ela e a julga. Tal julgamento quer ser universal e razoável: visa à liberdade positiva da individualidade, e, ao mesmo tempo, sua universalidade e sua situação histórica. A liberdade do indivíduo é total quando o mesmo se entrega ao cumprimento de leis sob o qual se apóia para ocupar o seu lugar na sociedade. Essa mesma sociedade lhe confere uma nova identidade: a de exercer a força bruta, ou de inteligência a ser posta à natureza não-humana. Segundo Weil, o que realiza a liberdade é ação razoável, que nascida na e contra a violência (ou nas condições objetivas do mundo humano), é filosofia que age enquanto política que se pensa. De outra maneira, é filosofia que se sabe política e política que é e se quer realização na filosofia. Numa palavra, a reflexão moral deverá ocupar-se das relações reais dos homens entre si Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p. 53.

34 33 CAPÍTULO II: A RELAÇÃO ENTRE MORAL E POLÍTICA 2.1 A categoria da Ação Eric Weil ao desenvolver a categoria da ação, nos permite vê-la a partir de duas perspectivas: 1) a categoria da Ação na Lógica da Filosofia que se configura como fundamentação, parte do sistema do núcleo da filosofia de Weil; 2) a ação desenvolvida na Filosofia Política, como parte do sistema 65. O problema da ação é não somente um problema da filosofia política, mas é seu ponto de partida, já que o desenvolvimento e a compreensão da dimensão política tem seu núcleo na ação. Entendendo que o homem é um ser de discurso que se compreende como ser agente, o que se coloca para nós é o próprio homem no mundo através de sua ação. Tal ação não trata da ação enquanto abertura do homem ao mundo de forma mecânica, mas da ação como dimensão constitutiva e expressiva do ser do homem enquanto político 66. É através da ação que o discurso se realiza fazendo que a ação não permanece como atitude que se compreende como atitude que se compreende na categoria, mas como categoria que se quer atitude e se faz atitude. A ação traz como contribuição o saber que se volta para o mundo não só para compreendê-lo ou interpretá-lo, mas, sobretudo, para transformá-lo. A ação se depara, pois, com um problema de ordem prática: a violência, como também com um problema de ordem teórica: desenvolver um discurso que seja coerente. Diante desse duplo problema, a ação tenta resolver quando é tomada como fim da filosofia, ou seja, nela a filosofia se compreende de modo diferente, compreende-se como se decidindo a se realizar. 65 Pensar a categoria-atitude da Ação é situá-la na estrutura global da Lógica da Filosofia, na tentativa de perceber o lugar que ocupa em relação ao todo do sistema, como também em relação às partes do mesmo sistema. O sistema apresenta-se estruturado de maneira contínua e descontínua, com seqüências, rupturas e saltos qualitativos, o que possibilita a escolha de vários pontos de partida e, conseqüentemente, de diversas interpretações de acordo com o interesse de cada um. Cf. SOARES, M. C. O filósofo e o político, pp SOARES, M. C. O filósofo e o político, p. 107.

35 34 Para Perine, estamos diante do problema de sempre do homem: o da luta com a natureza e da busca do contentamento. Porém, estamos diante do problema de sempre na sua versão moderna, pois o problema da ação consiste em abandonar os discursos dos homens que, tendo dominado parcialmente a natureza, encontraram-se parcialmente insatisfeitos 67. Na filosofia de Weil, a questão do homem da ação é de suma importância já que toda a sua filosofia é perpassada pela dimensão antropológica, isto quer dizer que a opção da filosofia tem uma repercussão na vida concreta do homem. A mesma reflexão sobre o homem e sobre a relação entre obra e discurso se acentua na Idade Moderna, sobretudo com Immanuel Kant 68, ao instituir a questão antropológica como síntese de toda a sua filosofia. 67 Cf. PERINE, M. Filosofia e violência, p Considerada do ponto de vista da evolução das ideias no século XVIII, na obra de Kant, aparece como um estuário das grandes correntes da Ilustração; mas, considerada do ponto de vista da evolução posterior da cultura ocidental, nela já se descobrem os prenúncios de uma nova época que será dominada pelo Romantismo, do qual o Idealismo alemão será a vertente filosófica. Assim, conquanto se mostre profundamente sensível ao espírito da Ilustração, a obra de Kant recebe igualmente os ecos daquele que G. Gusdorf denominou o outro século XVIII. Esse fato se revela particularmente na sua concepção de homem, onde a tradição racionalista e ilustrada deve compor-se com a herança pietista e com a poderosa atração do pensamento de J. J. Rousseau. Se levarmos em conta essas duas influências, podemos traçar duas linhas de desenvolvimento da concepção kantiana do homem: 1) uma linha propriamente antropológica, cuja origem deve ser buscada no curso de Metafísica professado por Kant e para o qual utiliza o compêndio de Baumgartner. Aqui Kant introduz a partir de 1972 uma alteração decisiva no melhor estilo da Ilustração, colocando no início o estudo empírico do homem ao qual dá o título de Antropologia; 2) uma linha crítica que segue o desenvolvimento da reflexão crítica a partir da Dissertação de 1770; na verdade, essa tarefa crítica que abrange as três atividades superiores do homem, a razão teórica, a razão prática e a faculdade de julgar, traz consigo uma profunda remodelação da imagem do homem transmitida pelo racionalismo clássico. A relação entre essas duas linhas postula a subordinação da Antropologia, cuja base é empírica, à Metafísica dos Costumes, que procede a priori e que permite definir a essência verdadeira do homem. Desta sorte, são dois os planos epistemológicos sobre os quais se edifica a concepção kantiana do homem: o plano de uma ciência de observação que utiliza o procedimento analítico para unificar os dados da observação por meio de uma teoria das faculdades (Vermögen), cujo núcleo conceptual é a representação do Eu exprimindo-se em consciência-de-si; e o plano de uma ciência a priori que situa no campo da Ética ou da Metafísica dos Costumes a possibilidade de determinação da essência do homem. A Antropologia desde o ponto de vista pragmático (1798), último texto antropológico de Kant, representa, pois, o termo de uma evolução ao longo da qual se define pouco a pouco a idéia kantiana para o conhecimento do mundo (isto é, do mundo humano). Aqui, pois, o conhecimento do homem se funda no senso comum e tem em vista as relações que se estabelecem entre os homens. Logo, a Antropologia se situa no âmbito da filosofia popular no sentido dado a essa expressão nos fins do século XVIII alemão: ela é destinada ao uso das pessoas no mundo. Sua característica fundamental é ser pragmática: sob esse termo Kant designa um tipo de consideração especulativa ou escolar. No entanto, o conceito de pragmático sofre em Kant uma certa evolução: inicialmente designa um conhecimento capaz de tornar o homem prudente nas questões da vida em sociedade. Na obra de 1798, o pragmático é o conhecimento do que o homem faz, pode ou deve fazer de si mesmo, em oposição ao conhecimento fisiológico que tem por objetivo o que a natureza faz do homem. Na verdade, o conceito de Antropologia recebe aqui uma grande amplitude e ela tende a ocupar o centro do sistema filosófico. Mas a Kant não foi dada a oportunidade de realizar o projeto de uma Anthropologia transcendentalis: essa tarefa ficará reservada à filosofia pós-kantiana. A Antropologia

36 35 A reflexão proposta por Weil pode ser destacada por interrogar sobre o homem, ou seja, interrogar pelo seu agir e pelo discurso que o compreende, já que ele entende o homem como ser agente e ser de discurso. Assim, pois, a ação e o discurso presente no homem, bem como sua busca de sentido para a vida, constituem o ponto fundamental para a escolha que o próprio homem pode fazer entre a razão e a violência. A categoria da ação toma consciência de que ela só é realizada no plano do discurso agente, o que significa o fim da filosofia somente enquanto discurso. A ação é ação, é filosofia enquanto ação razoável, isto é, enquanto política. Portanto, o fim da ação será essa reconciliação teórico-prático, o ponto máximo a que o homem pode chegar, o que faz com que essa categoria seja considerada a mais alta a ser atingida e a última categoria concreta, que não pode ser ultrapassada. O discurso força o aparecimento de seu outro, a saber, sua efetivação, o que faz com que a filosofia se torne o discurso na realidade. Sem dúvidas, a ação visa à satisfação do homem revoltado. Porém, para que a violência deixe de existir é preciso que a ação se dirija totalmente para a realidade que provocou essa violência. A violência, que vem a ser outra possibilidade que o homem tem presente diante de si, lança um duplo problema para o homem que quer atingir o sentido em sua vida: um desafio teórico onde é preciso dar um sentido à realidade e só um ser de linguagem razoável é capaz de galgar esse caminho; um desafio prático como resolver a situação de revolta instaurada com a violência, situação em que o reconhecimento é partido, onde a razoabilidade tem o centro de referência? É por meio da ação, como conciliação dessas duas dimensões (teórica e prática) do homem, que o sentido e a eliminação da violência são instaurados. Eric Weil não busca em nenhuma instancia superior, não instaura uma fundamentação utilizando uma regra, uma intuição ou uma tradição determinada, mas na humanidade mesma, nos critérios de vida em comum, isto é, compreendendo-se como ser de discurso e de ação e mais do que compreendendo-se, agindo como tal, pensando a realidade, o homem pode instaurar um sentido humano, razoável, moral 69. desde o ponto de vista pragmático corresponde, assim, a uma intenção típica da Ilustração alemã, a de tornar a filosofia útil para a vida, e ela constitui, sem dúvida um dos aspectos fundamentais da concepção kantiana do homem. Cf. VAZ, H. C. de L Antropologia Filosófica I. São Paulo: Loyola, 1991, pp O discurso transforma a realidade quando a percebe e, percebendo-a, ele se transforma, assim como a teoria transforma a realidade e esta transforma a teoria. Essa dialética entre a teoria e a realidade constitui o conteúdo da ação. Contudo, tal dialética passa por diferentes modos de perceber a realidade, muitas

37 36 É por meio da vida da ação que o filósofo e o homem tem seu lugar reconhecido no mundo. A vida na ação ainda não é uma vida plena, porém já é possível agir de forma razoável. Isso permite que este homem seja visto, no plano da história, como o herdeiro da filosofia. Esse homem passa do pensamento à ação, já que se trata de transformar o mundo. Dado, porém, que ele é o herdeiro do discurso coerente, e dado que passou pela revolta, ele não se opõe ao saber absoluto, mas à atitude do homem que se satisfaz nesse saber. A categoria da ação é a última à qual o homem chegou 70. De certa maneira, a categoria já é pensada desde Platão 71, a ponto de se poder dizer que a ação é a mais antiga categoria da filosofia, o fundamento de toda grande filosofia, como o fundamento de todo grande pensamento político 72. Segundo Soares, todo trabalho dessa categoria é unir o discurso à realidade, baseado, por um lado, no fato de que o discurso coerente não diz nada ao homem da Obra nem ao do Finito. A Obra e o Finito mostram e demonstram que o homem não é essencialmente saber (teoria) e que a satisfação do e no discurso é apenas uma possibilidade, que o homem pode recusar ou aceitar. O homem é discurso-agente: fala e age, e o contentamento só será razoável na medida em que satisfaça essas duas dimensões do indivíduo. Eis o desafio de um novo problema: o da exigência de união vezes confundindo-a com visões parciais que não podem ser denominadas de ação razoável. As categorias são os modos diversos e fundamentais de perceber a situação, a qual pode tanto aparecer como se ocultar, dependendo do ato de liberdade do discurso. Na categoria da ação, a realidade desnuda-se completamente. Cf. SOARES, M. C. O filósofo e o político, p Cf. WEIL, Eric, LP, p. 409, IN: PERINE, M. Filosofia e violência, p A influência do platonismo é, provavelmente, a mais poderosa que se exerceu sobre a concepção clássica do homem, e até hoje a imagem do homem na nossa civilização mostram indeléveis traços platônicos. A antropologia platônica pode ser considerada uma síntese na qual se fundem a tradição présocrática da relação do homem com o kósmos, a tradição sofística do homem como ser de cultura (paidéia) destinado à vida política, e a herança dominante de Sócrates do homem interior e da alma (psyché). [...] Na verdade, a antropologia platônica apresenta uma unidade que resulta da síntese dinâmica de temas, cuja oposição se concilia do ponto de vista de uma realidade transcendente à qual o homem se ordena pelo movimento profundo e essencial de todo o seu ser: a realidade das Ideias. É essa ordenação transcendente que explica, no homem, a polaridade constitutiva da vida da alma (psyché) na sua condição terrena. Essa polaridade encontra uma expressão admirável nos diálogos que anunciam a maturidade do pensamento de Platão. De um lado, a ideia do homem aparece dominada, nos diálogos do ciclo da morte de Sócrates (Apologia, Criton, Menon, Fédon), pelo tema do logos. [...] O lugar-comum que faz de Platão um dualista típico na sua concepção do homem não parece respeitar a complexidade de motivos do pensamento antropológico platônico. Na verdade, esses motivos se entrelaçam numa visão do homem, em cujo contexto nascem e se desenvolvem os grandes Diálogos, provocam o aparecimento dos temas que sucessivamente dominam a visão platônica do homem: o tema do logos verdadeiro, da imortalidade e do destino nos diálogos do ciclo da morte de Sócrates; o tema da educação do indivíduo para a justiça em si mesmo e na cidade, na República; o tema do desejo amoroso ou eros e do movimento imanente à alma no Banquete e no Fedro; o tema do homem na ordem do universo no Timeu e no X livro das Leis; enfim, o tema da relação do homem com o divino (tòtheion) que se sobrepõe a todos os outros e permanece, do Fedon às Leis, como o motivo fundamental da antropologia platônica. Cf. VAZ, H. C. de L. Antropologia Filosófica I, pp Cf. WEIL, E. LP, p. 410, IN: PERINE, M. Filosofia e violência, p. 183.

38 37 entre o discurso e a realidade, a razão e a vida - o problema se apresenta neste momento do discurso sistemático. Trata-se, agora, do contentamento real do indivíduo 73. A tarefa que se apresenta nesse momento não é o pensamento que se pensa ou a revolta contra a coerência, o escândalo da razão. Nesse sentido, o problema para a ação é desenvolver um discurso que seja coerente sem se fechar 74. Ademais, a ação, com esse problema fundamental, visa a conciliação; seu traço essencial é a síntese entre a teoria e a prática. É possível, pois, dizer qual a posição da categoria-atitude da Ação. Podemos especificar quatro tipos de relação: em relação à totalidade do sistema, ela se apresenta como a última categoria-atitude concreta, pois é nela que se dá a passagem do discurso à sua realização, ou seja, a unidade da filosofia e da política. Nesse sentido, a categoria da ação é posta pelo discurso da filosofia que quer se compreender a si mesma. Essa compreensão não é uma volta sobre si, mas engloba o seu outro, a violência, a própria recusa da compreensão e da coerência. 2.2 A categoria da Ação como categoria fundante da Política A categoria da ação é entendida como categoria fundante da política. Nesse sentido, a moral se torna importante pois a moral, em qualquer circunstância, considera o homem como ser agente (ser de ação). A moral antecede a política, já que somente o homem moral é capaz de pensar sobre a ação política. Este homem moral age sobre si mesmo, buscando eliminar em si a violência. Agindo assim, sua ação é ação no mundo e sobre o mundo. Portanto, uma ação individual pode ter implicações sobre os outros e sobre o mundo. Em sua obra Hegel e o Estado, Weil afirma: O homem privado age, mas sua ação não visa ao universal que, no entanto, ele realiza: o membro da sociedade trabalha, e, trabalhando para si mesmo, trabalha para todo o mundo; mas ele ignora que seu trabalho é o universal, e, por conseguinte o mundo do trabalho que se faz sem querer se fazer. No Estado, a razão está presente; pois o cidadão é a consciência particular elevada à universalidade, e o Estado é a vontade do homem enquanto ele quer racionalmente, enquanto ele quer a vontade livre Cf. SOARES, M. C. O filósofo e o político, p Cf. KIRSCHER, G. La Philosophie d Eric Weil. Systematicité et Ouverture. Paris: PUF, 1989, p WEIL, E. Hegel e o Estado. Cinco conferências seguidas de Marx e a Filosofia do Direito. Trad. de Carlos Nougué. São Paulo: ÉRealizações, 2011, pp

39 38 Weil faz uma relação entre moral e política, distinguindo-as: a política, visando à ação razoável e universal sobre o gênero humano, distingue-se da moral, que é ação razoável e universal do indivíduo sobre si mesmo 76. A atitude ligada à categoria da Ação capaz de satisfazer esta nova exigência do indivíduo é a política, levando em conta que o político age e somente na Ação que a unidade de filosofia e política é atingida. A categoria da ação toma consciência de que ela só se realiza no plano do discurso agente, o que significa o fim da filosofia somente enquanto discurso. A ação é ação da filosofia enquanto ação razoável, isto é, enquanto política: o que o homem procura agora e ele sabe que o procura é a categoria que se sabe atitude. É a partir da reflexão moral que o homem se descobre e descobre o que ele é. A filosofia moral, por sua vez, conduz à filosofia. A moral abre à consciência o acesso ao real, que, diante da realidade, ao mesmo tempo ele faz parte dessa realidade, que ele é o senhor da natureza e que, nos limites que ele pode sempre faz recuar, mas nunca abolir, é dominado por ela 77. Para Weil, a moral filosófica, Oferece a felicidade buscada por quem reflete sobre a moral; mas essa felicidade só é felicidade do ser razoável aos olhos de quem a busca pela via da reflexão e que é a única a ser capaz de reconhecê-la como virtude, porque a põe em relação com sua reflexão: ele aspirará a isso, mas ela só será perfeição da vida moral para ele na condição de que ela seja tomada como resposta à questão da pesquisa moral. 78 A tomada da consciência da ação faz com que ela compreenda que ela não se resolve no plano do discurso teórico apenas, mas, outrossim, no plano do discurso agente. A ação terá como objetivo unir o discurso com a condição, numa obra satisfatória para o ser finito, no risco de sua finitude, que procura excluir a violência pela força da razão sobre o plano mesmo da violência. Dá-se, pois, a unidade da filosofia e da política. A filosofia se quer agora política, desde que o problema da política se põe na categoria da ação. A ação é quem, por sua vez, funda a política. A categoria da ação marcaria o fim da filosofia: nela a filosofia se compreende decidindose a se realizar. É no plano do Estado que a Filosofia que se quer agora política irá agir, 76 Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Moral, p Cf. WEIL, E. Filosofia Moral, p. 278.

40 39 uma vez que para Weil o Estado é a razão realizada; enquanto razão realizada, ele é a liberdade positiva acima da qual nenhuma liberdade concreta é possível; contra o Estado não há senão a opinião, o desejo individual, as platitudes de entendimento 79. A filosofia política é quem fornece o fundamento para o discurso moral, pois conduz o indivíduo à tomada de consciência do universal, consciência desse universal como ele é em si mesmo, não só enquanto é para o indivíduo como seu outro, puro dado, condição, segunda natureza exterior 80. A política é o pensamento da ação razoável, fazendo parte da filosofia, sem ser o todo da filosofia. A política é ciência filosófica da ação razoável, referindo-se à ação universal. A ação egoísta, aquela que visa somente a sobrevivência de um indivíduo ou de uma comunidade particular, tem em vista a dominação de todos que possam ameaçar esta sobrevivência individual, mas constituindo uma ação universal. Do mesmo modo, uma ação política não-egoísta visa que todos os homens alcancem a felicidade, a satisfação, e a obtenção de seu lugar num mundo organizado sendo, uma ação universal. O Estado é livre se o cidadão racional pode encontrar nele a satisfação de seus desejos e de seus interesses racionais, dos interesses que enquanto ser pensante ele pode justificar diante de si mesmo, se o cidadão reconhece nas leis do Estado a expressão dos sentimentos e da tradição que o guiaram (ainda quando ele não o tivesse sabido), se essas leis não são justas tão somente do ponto de vista de um tirano esclarecido, mas se elas podem e devem ser reconhecidas como tais por todos os que querem a justiça, pelos que buscam sua libertação de todo dado imediato, incluído seu próprio caráter empírico, natural, dado, pelos que compreenderam que o homem natural não é livre, que só o ser racional, universal, pode sê-lo. 81 Para que a política seja acessível ao indivíduo, é preciso que ela mesma parta da moral. A moral é verdadeira, sua origem vem da liberdade, presente como vontade de razão e universalidade. Levando em conta o princípio de moral da universalidade, é conveniente propor um fim à ação política: o advento de um mundo no qual a razão seja a grande inspiradora de todos os seres humanos. O objetivo da ação é a satisfação do homem revoltado, tornando a ação uma ação razoável com vistas ao universal. 79 WEIL, E. Hegel e o Estado..., p Cf. WEIL, E. Filosofia Moral, p WEIL, E. Hegel e o Estado..., p. 63.

41 40 Para Weil, a ação visa a transformação da realidade violenta, ou seja, a nãoviolência é o ponto de partida como o objetivo final da filosofia. É por isso que Weil insere o discurso da categoria da ação. Nesse sentido, a principal aproximação será de dizer que o homem da ação busca um fim na realidade. O fim não é a transformação da realidade, mas a transformação dos homens, pela compreensão que fazem da história. O mundo do homem da ação é um mundo marcado pelo trabalho técnico, especializado, orientado pelo progresso, mas um progresso que não visa o favorecimento da população, mas de uma pequena minoria. Portanto, o homem é sempre levado, inconscientemente, a não pensar a sua condição de ser razoável, nem muito menos superar sua individualidade em direção ao universal. Weil chega à constatação de que os homens não são razoáveis, pois se o fossem, não seria necessário colocar como objetivo da ação política o advento de um mundo onde a razão seja capaz de inspirar a todos os seres humanos. Assim sendo, o que prevalece no mundo é a violência (recusa da razão, da filosofia), e propor através do discurso aos homens orientarem-se pela razão, não é suficiente, nem convincente. Para que a política atinja o indivíduo faz-se mister que ela parta da moral. Para Weil, uma filosofia política não se concebe sem a moral [...] e o sentido de toda ação universal é e continua sendo fixado pelo fim que essa moral lhe propõe. Mas é o homem na história que é moral ou imoral, e é no universo concreto do Estado que ele age e reflete sobre sua própria ação 82 A consciência subjetiva deve ser conduzida a superar-se, compreendendo a realidade da ação histórica. É, pois, a partir da moral formal que Weil chega à política. Segundo Weil, a categoria da ação, herdeira do discurso da ação, é a última à qual o homem chegou 83. O discurso permite ao sujeito participar na comunidade de modo ativo. Essa participação comunitária contribui para a formação da consciência moral e, através dessa consciência, expor seu valor e sua dignidade formada no reconhecimento com os outros, respeitando a liberdade do outro. É por meio da ação que o homem encontra tanto a unidade da vida, quanto o discurso. Tal unidade não se dá apenas no discurso, pois o homem não é só razão, mas unidade que se expressa através do pensamento e da ação. É na ação que o discurso se 82 Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. LP, p. 409 IN: PERINE, M. Filosofia e Violência, p. 183.

42 41 realiza e o homem compreende que pode passar razoavelmente à ação. Na relação entre moral e política é possível falar em discurso já que, segundo Weil, o discurso caracteriza a moral na medida em que ela é exigência do homem que ainda quer a moral; ele é supérfluo quando cada um sabe o que quer fazer e o que quer evitar, concretamente, numa adesão completa à moral de sua comunidade. 84 O discurso, como uma das características do político, encontra a categoria da Obra que introduz a violência radical como forma de um ativismo irracional. O homem da Obra se interessa apenas pela pura violência e pelo puro sentimento. Tal homem cria as coisas sem considerar os valores, a liberdade, os discursos. O homem da Obra é, em sua essência, violento e recusa totalmente o outro, dispensando todo laço de amizade ou de comunidade. Ele vive envolvido num ativismo instrumentalizado, preocupado apenas consigo mesmo. O homem da Obra, apesar de não ter linguagem, porém se serve da linguagem, usando-a a serviço da Obra, como simples instrumento, como meio para induzir a um efeito em vista da obra e não mais um lugar de revelação da obra. Ele sabe que as palavras não dizem nada e não importa procurar o sentido ou não da obra; esta é uma questão sem sentido para ele A Ação do homem moral é uma Ação política O homem da Ação é o político, uma vez que a Ação funda a política. A Ação é uma Ação razoável, numa linguagem aristotélica, é a práxis (teoria e prática), é política e filosofia ao mesmo tempo, tendo como objetivo único o bem comum. Como afirma o 84 Cf. WEIL, E. Filosofia Moral, pp Tomar consciência, reflexivamente, da presença como condição da reflexão, ou, o que é o mesmo, captar a presença no discurso como condição do discurso é captar o sentido como condição da questão do sentido. Essa exigência nos conduz à linguagem na qual o discurso se compreende como possibilidade humana, e na qual a sede da presença se sacia. A linguagem nos revela um fato de fundamental importância. Mais vasta e mais profunda que o discurso, mais antiga do que tudo o que o discurso produz, a linguagem é aquilo no qual se constitui o sentido: a linguagem não é, ela se cria, ela não é o meu ou o teu, nem mesmo o nosso: eu, tu e nós, tudo isso é posterior (logicamente) à linguagem; a linguagem não é o durante da realidade: a realidade e o discurso que lhe correspondem separam-se somente nela (LP, 420). A linguagem é espontaneidade fundamental, criação continuada de sentido. A linguagem é fato último, a tal ponto que se pode dizer que não existe linguagem: tudo o que existe para o homem da linguagem (LP, 420). A linguagem é o ser mesmo do homem, e esse fato, que é pura espontaneidade, não é nenhuma atitude. Ele é importante para a filosofia porque revela à filosofia a sua própria categoria, a categoria do sentido. A linguagem, com efeito, não é categoria, posto que ela não determina nenhuma linguagem concreta, mas se determina e se torna concreta nas linguagens concretas: a determinação formal da linguagem é o sentido, e é sob a categoria do sentido que a filosofia se compreende. Cf. PERINE, M. Filosofia e violência, p. 187.

43 42 próprio Weil, o termo política será tomado em sua acepção antiga, aristotélica, de politiké pragmateía, consideração da vida em comum dos homens segundo as estruturas essenciais dessa vida 86. A moral pensa e problematiza a política e, assim sendo, a supera, sendo a moral a condição sine qua non para a política, já que, segundo Weil, a ação do homem que quer agir sobre si mesmo segundo a razão-liberdade e, ao mesmo tempo, ação sobre o mundo 87. O homem da ação pensa e deseja ver o mundo organizado levando em conta a presença do outro. Esse homem ocupa seu espaço na sociedade. Iniciando na moral, Weil pretende que o pensamento político deva partir de uma perspectiva de valores universais, de costumes que possam garantir a vida e o progresso da vida comum, de hábitos próprios das comunidades. A exigência moral última é a de uma realidade política (formada pela ação razoável e universal sobre todos os homens) tal que a vida dos indivíduos seja moral e que a moral, visando ao acordo do indivíduo razoável consigo mesmo, torne-se uma força política, isto é, um fator histórico com o qual o homem político deva contar, mesmo que ele pessoalmente não queira ser moral. 88 É no indivíduo que, agindo sobre si mesmo, deve-se fazer prevalecer a razão sobre os instintos, o universal sobre o particular. É a subjetividade do homem que visa a universalidade, que se torna, pois, responsável pelas suas ações. Para Weil, o indivíduo moral, com relação a si mesmo, voltará sua atenção para suas intenções: devo ser e me sentir responsável, não só pelas minhas máximas, mas também pelos resultados de minhas ações. 89 Porém, nenhum homem é obrigado a agir moralmente, já que ele pode optar, livremente, pela violência. Para Weil, a moral concreta liga o indivíduo moral: é imoral destruir para si mesmo a possibilidade concreta de toda moral e desencadear assim, quer se queira quer não, a violência 90. A origem da moral está na liberdade, presente como vontade de razão e universalidade. Nas suas relações com o mundo, o indivíduo moral encontra-se diante da necessidade de escolher entre dois males de igual grandeza. Por um lado ele poderá declarar que toda ação é desprovida de valor enquanto ação, e contentar-se com a busca e a apreciação do valor da máxima que inspirou tal ação. Nesse caso, ele impede-se de colaborar para a realização daquele reino dos fins que, contudo, é o único que lhe 86 Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Moral, p Cf. WEIL, E. Filosofia Moral, p. 241.

44 43 poderia satisfazer, pois ele é, ao mesmo tempo, ser razoável e indivíduo vivente que não pode deixar de agir só o reino dos fins poderia garantir-lhe as condições de eficácia à ação inspirada por máximas morais, eficácia à qual ele pode e deve inspirar. Por outro lado, ele poderá decidir-se pela ação em vista do bem caso ele não poderia guiar-se pela moralidade do bem, e nesse caso ele poderá guiar-se pela moralidade das máximas morais, eficácia è qual ele pode e deve aspirar. 91 Com a categoria da ação se dá uma revolução: a revolução da consciência, da humanização. Essa ação ganha lugar na vida do moral, pois agora ele é capaz de entender sua razão de ser na ação. Tal ação se junta com o discurso, pensada como ação, ou seja, do ponto de vista da ação e não do discurso. É por meio da categoria da ação que é possível entender o problema no campo político: o indivíduo insatisfeito na sociedade moderna. Tal insatisfação se dá porque essa sociedade não optou pelo próprio principio de universalização e sim a racionalização e o cálculo relegando o indivíduo, transformado em mero objeto. A ação quer transformar essa situação. Essa transformação deve ser resultado de uma ação comunitária, política, universal, sendo a ação a fundadora da política, respeitando, pois, a ética. Ao falar de política remetemos ao problema da filosofia, ou seja, à categoria da ação que resolve o problema da filosofia, compreendendo que ela não é apenas teórica, mas prática, mesmo diante da possibilidade do discurso e da violência. O discurso é concretizado por meio da ação, constituindo, pois, o plano político. Segundo Weil, o discurso nasce da incerteza de um sentimento cuja intenção é sair dela; ele busca um critério válido. Ora, esse válido só pode oferecer sua legitimação no plano do discurso: é válido o que o discurso, recorrendo ao que o constitui como discurso coerente, revela como válido 92. Enquanto a categoria da ação se apresenta como ação política, ela é posta pelo discurso da filosofia que quer realizar a compreensão de si mesmo. Segundo Weil, O que nós chamamos política é, portanto, uma ciência filosófica que explicita o que está contido na sua categoria filosófica, com a ajuda de conceitos que lhe são próprios, aos quais pode-se atribuir o nome de 91 Cf. WEIL, E. Filosofia Política, pp Cf. WEIL, E. Filosofia Moral, pp

45 44 categorias políticas, entendendo com isso os conceitos fundamentais desse domínio particular. 93 Tal compreensão não é um voltar sobre si mesmo, mas envolve o seu outro, a violência, a própria recusa de compreensão e a própria coerência. A reflexão da categoria-atitude da ação permite-nos estabelecer concretamente o sentido do político e da política, ou seja, a questão da realização da liberdade na vida comum de todos os homens. Em suma, a política é efetivada pela Ação que é filosofia. Segundo Perine, Levar a sério o fim da filosofia na ação significa afirmar que o homem não teria outra escolha senão realizar a filosofia, ou seja, viver na atitude-categoria da ação. Razoavelmente, o homem não tem outra escolha senão agir razoavelmente. Todavia, a própria ação afirma e supõe que nem todos os homens agem razoavelmente, afirma e supõe que muitos homens, talvez a maioria da humanidade, vivem em atitudes ultrapassadas, o que significa que nem todos os homens são filósofos. 94 O homem que busca ser moral agirá sobre agir bem no mundo. Para que isso aconteça, o homem moral deve aceitar a realidade como sensata, realidade sobre a qual ele exerce sua reflexão, uma vez que ele não e pura consciência, possuindo um caráter condicionado e determinado. É a partir da violência presente no mundo que o homem empírico vive e poderá optar por refletir sobre esta violência, presente no mundo e em si mesmo. Segundo Weil, A moral concerne a um ser violento e capaz de razão, de discurso, de recusa da violência (e do medo da violência sofrida): se isso é assim, não surpreende que não só o discurso permaneça ligado a essa violência, mas que seja também ele que a informa, no qual ela se informa e se supera para se compreender. 95 O homem da Ação vem a ser o pensador insatisfeito com a não valorização do ser humano, ou seja, o homem moral percebe que a realidade social proposta pela razoabilidade não atinge os homens em geral. Nesse sentido, seria uma utopia esperar que a filosofia seja efetivada no mundo. Por sua vez, a filosofia tem o dever, a partir de si mesma, de se realizar. Para Weil, a filosofia revela o que existe e, ao torná-lo 93 Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. PERINE, M. Filosofia e violência, p Cf. WEIL, E. Filosofia Moral, p. 230.

46 45 consciente, o transforma ao transformar o homem que se eleva a essa consciência: são a loucura e a violência que, por desconhecer a universalidade e ignorar até mesmo o conceito de verdade, inventaram para si ideais arbitrários 96. Essa dialética em que está situada a insatisfação do indivíduo é o do rompimento, característica peculiar da sociedade moderna, onde é instaurada como princípio um conteúdo material e calculista, orientado pela eficácia. Na sociedade moderna é exigida pelo seu modo de ser que o indivíduo volte para si mesmo, encontrando no seu sagrado material o sentido de sua volta, sentido imanente e material, e que se valorize para alcançar um posto diante do mecanismo social, possibilitando usufruir da realização das necessidades que a própria sociedade assim cria e o exige. Dentro dessa perspectiva de uma abertura da ação do indivíduo não apenas no âmbito privado, mas no âmbito social, ou seja, na sua relação com o exterior, o indivíduo se depara com um obstáculo: a insatisfação. Na sociedade moderna o ser humano é insatisfeito. Levando em conta que a sociedade moderna pode ser definida pelo conceito de eficácia, a questão do sentido da vida torna-se privada, uma vez que a sociedade obriga o sujeito a voltar-se sobre sua própria subjetividade. A individualidade insatisfeita, entende-se como insatisfeita, pois a moral proporciona o conceito de igualdade, e com esse apoio pode julgar a sociedade moderna. A sociedade moderna é a única que se coloca na luta contra a natureza do seu sagrado, bem como a única que define o indivíduo a partir do seu lugar no mecanismo social. Estando confrontado com outras realidades sociais o indivíduo consegue refletir sobre sua própria ação, bem como o fim dessa mesma ação. Sendo moral, ele toma uma postura diferente daqueles que não optaram por viver uma vida regrada pela razoabilidade. O Estado moderno tem pois de particular o fato de os cidadãos não serem submissos, de a razão e a organização não se apresentarem a eles como uma vontade estranha e incompreensível, mas serem eles mesmo quem, sem abandonar sua individualidade ou seus interesses concretos, reconhece no universal objetivo o remate desta individualidade e desses interesses, assim como o Estado não é real somente na vontade do senhor (ou dos senhores): em suma, o Estado moderno difere por sua essência do Império Romano, onde o cidadão é reconhecido pelo Estado como indivíduo livre ( pessoa privada ), mas onde o indivíduo não toma parte do Estado, que é real e presente apenas na pessoa do Imperador (sem falar da existência dos escravos, 96 Cf. WEIL, E. Filosofia Moral, p. 267.

47 46 seres humanos que não são homens diante da lei). O Estado moderno não é uma organização que inclua os cidadãos, ele é sua organização 97 O homem moral, o filósofo, não busca ser compreendido, mas, antes compreender. Na ação, duas dimensões fundamentais do homem são possíveis: o pensamento e a ação. Assim, toda ação pensada é pensada como ação: ação moral (o indivíduo consigo mesmo), ação universal (o indivíduo perante a comunidade) e ação social (o indivíduo perante o Estado). Para Weil, o Estado é racional porque ele fala universalmente, por todos e por cada um, em suas leis, e porque todos e cada um encontram reconhecido por suas leis o que constitui o sentido, o valor, a honra de sua existência 98. Segundo Weil: É preciso que de alguma maneira o indivíduo encontre no cumprimento do seu dever ao mesmo tempo seu próprio interesse, sua satisfação ou seu proveito, e de sua posição no Estado deve nascer para ele um direito pelo qual a coisa comum se torne sua coisa particular. O interesse particular não deve, certamente, ser negligenciado, nem, muito menos, suprimido, mas deve ser posto em acordo com o universal: é assim que ele é conservado tanto quanto o universal. O indivíduo, que é sujeito quanto a seus deveres, encontra no cumprimento desses deveres enquanto cidadão (Bürger) a proteção de sua pessoa e de sua propriedade, as considerações devidas a seu bem particular e a satisfação de seu ser substancial, a consciência e o sentimento de si (que é) ser membro desse todo; e (por outro lado) é no cumprimento desses deveres como prestações e negócios empreendidos (pelo cidadão) para o Estado que este encontra sua conservação e sua duração (Bestehen) WEIL, E. Hegel e o Estado..., pp WEIL, E. Hegel e o Estado..., pp WEIL, E. Hegel e o Estado..., p. 79.

48 47 CAPÍTULO III: A AÇÃO NO ESTADO 3.1 A Sociedade Civil A segunda parte da Filosofia Política, Weil dedica à análise da sociedade e do seu mecanismo social. A compreensão da estrutura social e da estrutura estatal de Weil tem como base a distinção que o autor faz entre o universo do trabalho, pois toda sociedade constitui uma comunidade de trabalho 100 e o universo da moral existente. Weil é muito claro ao propor essa análise social quando diz: A análise quer formular um discurso coerente sobre a sociedade na sua totalidade, ao passo que a sociedade não se interessa por tal discurso e contenta-se com discursos coerentes parciais sobre os objetos da sua atividade. A sociedade pressupõe o todo do discurso, a filosofia quer desenvolver esse discurso; a primeira age no domínio que ela considera como um dado, a segunda quer compreender a estrutura e os limites desse domínio para poder agir sobre esta mesma estrutura. 101 A sociedade está organizada diante da luta contínua com a natureza exterior. Na medida em que desenvolve a luta contra a natureza, em que vai se organizando em sociedade, a comunidade vai tomando consciência de si mesma, independente de suas condições materiais e históricas. Essa luta com a natureza exterior é que podemos chamar de trabalho social. Certamente que a sociedade humana é superior à animal, no sentido de que o ser humano tem consciência de organização. O animal pode até ter a capacidade de transformar algo, porém só o ser humano é capaz de modificar utilizando a fala e a ação. Porém, não significa afirmar que os homens estiveram desde sempre em constante luta com a natureza, apesar do homem fazer parte dessa natureza. Weil afirma: A natureza exterior, considerada independentemente do homem é, no mundo moderno, a violência primeira, e qualquer outra concepção da violência (paixão, tentações, violência do homem contra o homem etc) tem aí o seu fundamento. A luta contra a violência primeira não é, pois, a luta do indivíduo. O indivíduo sabe que é incapaz de resistir à 100 Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p. 77.

49 48 natureza e, mais ainda, empreender a luta contra ela. A luta do grupo organizado, e essa organização é a sociedade. 102 A sociedade exige que o homem participe do trabalho social se quiser colher os benefícios desse trabalho social. O indivíduo se acha na mesma situação que diante da natureza exterior. Sua única arma é a luta e está sob o julgo de um sistema de leis sob o qual está apoiado a fim de ocupar uma posição no seio da sociedade. Diante disso, o homem deve ser útil, não basta que ele seja bom; ser bom ou virtuoso não é importante para a sociedade moderna, mas o indivíduo deve ser competitivo e eficaz. A sociedade exige que o indivíduo se torne útil, que ele desenvolva a racionalidade, a técnica a fim de fazer parte da organização da sociedade do trabalho, pois essa comunidade de trabalho (de luta com a natureza exterior) tornou-se, pelo princípio de sua técnica de trabalho e organização, englobando toda a humanidade 103. Por sua vez, os métodos de trabalho social são unificados em todas as sociedades, formando uma sociedade mundial, pois só uma organização mundial seria adequada à técnica de que dispõe a humanidade no presente, segundo os critérios dessa mesma técnica 104. Porém, por causa da irracionalidade que ainda existe nas comunidades particulares essa sociedade mundial só existe em princípio. A comunidade visa o progresso a fim de se tornar mais eficiente, ou seja, para conseguir os maiores resultados possíveis com o menor esforço possível. Toda e qualquer comunidade precisa ter eficácia se quiser sobreviver, eficácia contra a natureza exterior. Para uma melhor compreensão, Weil distingue entre comunidade e sociedade reservando o primeiro termo ao que é vivido numa experiência direta da compreensão humana, no quadro de instituições que não foram criadas nem re-organizadas por um organizador racionalista e calculista que remontam às origens 105. Os valores históricos e sagrados de uma comunidade são de suma importância na medida em que se baseiam no trabalho: os valores progressistas estão ligados à sociedade moderna, orientada pela eficácia; e valores conservadores ligados à comunidade histórica, regida pela tradição. O indivíduo, diante da sociedade moderna, 102 Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p. 90.

50 49 se depara com a natureza exterior, pois, a sociedade moderna surge como uma segunda natureza, conhecida pelo seu sistema de leis, já que na sociedade moderna, o indivíduo encontra-se diante de um mecanismo (um sistema de leis) ao qual ele está submetido e sobre o qual, ao mesmo tempo, ele se apóia para adquirir um lugar na sociedade 106. Nessa sociedade o indivíduo está submisso ao mecanismo social, pois o mecanismo social age sobre ele, e ele colabora para o bom funcionamento desse mecanismo 107. Os cidadãos agem obedecendo aos costumes próprios da comunidade e levando em conta suas experiências pessoais, guiados pela liberdade. No interior de uma sociedade, a distribuição dos bens produzidos por essa sociedade é desigual, ou seja, alguns recebem mais que outros, mesmo trabalhando menos. Sendo a distribuição dos bens produzidos pela sociedade distribuído de forma desigual, a competição será a regra de conduta dentro da sociedade moderna e sua participação nos bens dependerá do seu lugar na organização social 108, que guiará cada indivíduo diante do seio dessa mesma sociedade. Os cidadãos lutam a fim de conseguirem uma maior participação efetiva no produto social. A sociedade é responsável pela desnaturalização do homem, forçando-o a tornar-se algo com utilidade, tornando-se precioso para os outros. O homem que é desnaturalizado é o mesmo homem que se liberta da violência natural, onde o indivíduo começa a sacrificar o desejo e a paixão, a controlar seus instintos em virtude de se adequar à utilidade que a sociedade o exige, pois é no plano da sociedade que a universalidade revela-se ao indivíduo, na forma de necessidade 109. Diante disso, Weil afirma que a coisificação na sociedade moderna, é o preço da personificação 110, isto é, para que o indivíduo tenha tempo livre para viver para si é preciso que ele se torne um membro útil. Coisificando-se, o homem torna-se objeto, já que esse é o meio imposto pela sociedade a fim de que ele se torne sujeito, senhor de si mesmo. Nessa estrutura política que a sociedade moderna impõe, o direito tem um aspecto positivo, pois é ele quem limita a violência do homem natural, visando a eficácia da sociedade, como Weil afirma: o que define o direito da sociedade moderna é o fato de ser concebido em função da eficácia do trabalho e da organização, em vista 106 Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p. 104.

51 50 do aumento dessa eficácia 111. Nesse sentido, o direito assume um papel importante no sistema político weiliano, já que é condição para o aumento da eficácia da sociedade e pressuposto para a realização da justiça histórica da comunidade. Uma sociedade mais organizada será mais eficiente a partir do trabalho social: Os indivíduos na sociedade, lutando por seus postos, lutam por obter a maior participação possível no produto social e nas outras vantagens da luta com a natureza exterior. Uma sociedade particular será bemorganizada se a luta estiver a serviço do fim que a sociedade pretende, a saber, a máxima produção com o mínimo de dispêndio de trabalho humano. 112 Em suma, Weil destaca que nenhuma sociedade particular é perfeitamente organizada, já que é determinada por fatores não-racionais, fatores compreensíveis apenas no plano da história. Essa imperfeição, própria da sociedade particular, é revelada aos membros dessa sociedade como injustiça social, ou seja, a falta de organização racional, que faz com que a sociedade apareça aos indivíduos como força exterior e hostil, como segunda natureza, agressiva, como sistema de forças coercitivas e opressoras de leis mecânicas que tomaram o lugar das leis justas 113. Portanto, a eficácia, a competição e a injustiça social são características da sociedade moderna. O Estado permanece o Estado, a sociedade permanece a sociedade: o cidadão trabalha e organiza seu trabalho, o funcionário administra o conjunto da sociedade em sua unidade. Para que este possa administrar efetivamente, é preciso, de um lado, que aquele veja na administração o defensor de seus interesses, e, de outro, é preciso que a administração seja informada sobre a natureza desses interesses; o essencial é, pois, que a administração defenda o interesse comum de forma competente, com conhecimento de causa e de posse da formação profissional requerida para isso, a fim de que o cidadão possa trabalhar em paz. Se, portanto, a sociedade é a base, a matéria, absolutamente informe, do Estado, a razão consciente de si está totalmente do lado do Estado: fora dele, pode haver moral concreta, tradição, trabalho, direito abstrato, sentimento, virtude, mas não pode haver razão. Só o Estado pensa, só o Estado pode ser pensado totalmente Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p WEIL, E. Hegel e o Estado..., p. 80.

52 A ação no Estado A vida na ação é um meio termo entre a vida reconciliada entre o contentamento do homem moral, bem como do homem que tem consciência do seu lugar na sociedade, no Estado e no mundo. Essa ação exercida pelo homem tem conseqüências sobre o outro, inclusive sobre o Estado. Na Filosofia Moral Weil nos proporciona um esclarecimento sobre isso quando afirma: É a filosofia política, dir-se-á, que fornece seu fundamento ao discurso moral: ela conduz o indivíduo à tomada de consciência do universal concreto no qual está situado e com relação ao qual se situa consciência desse universal como ele é em si mesmo, não só enquanto é para o indivíduo como seu outro, puro dado, condição, segunda natureza exterior. Com efeito, a moral do indivíduo, embora seja sempre para o indivíduo, não é só do indivíduo; ela pressupõe e exige, junto com uma moral histórica, uma comunidade na qual o indivíduo possa ser ele mesmo positivamente, não pelo vazio e pela recusa de todo conteúdo: o homem moral descobre que cada uma de suas ações é ação sobre o outro e sobre a totalidade do grupo ao qual ele pertence, que cada uma de suas máximas implica a existência de um mundo histórico, que ele pode e, se for o caso, deve criticar e empenhar-se em transformar, mas que forma sempre o horizonte de sua vida moral. 115 Tendo consciência de que suas ações implicam em ações sobre o outro, o indivíduo está apto a viver segundo as regras impostas por um Estado. Segundo Weil, o Estado é a organização de uma comunidade histórica. Organizada em Estado, a comunidade é capaz de tomar decisões 116. Esse Estado é entendido como orgânico no sentido de que cada instituição apesar de ser autônoma, pressupõe e sustenta o funcionamento das outras, objetivando o seu próprio funcionamento. Porém, o Estado não é um órgão; é a organização de uma comunidade. Ele é, com efeito, aparelho de coerção para o indivíduo e para todo o grupo na medida em que recusam submeter-se à razão 117. A ação do indivíduo diante do Estado pode ser uma ação visando a universalidade ou pode ser uma recusa da razão. Quem fundar uma moral mais pura, mais universal, será justificado; quem tiver trabalhado pela decomposição da moral existente sem substituí-la, quem tiver desencadeado o mecanismo cego da violência, 115 Cf. WEIL, E. Filosofia Moral, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p. 175.

53 52 terá sido imoral e, sem dúvida, seu nome desaparecerá dos anais da moral. 118 Quando isso acontece, o Estado surge como detentor da violência, não no sentido de uma violência sangrenta, mas uma violência que forçará os indivíduos que se recusaram a agir de acordo com a razão, a agirem conforme as leis e regras determinadas pelo acordo comum entre os homens e, portanto, que visam o bem comum. O Estado é a organização da comunidade e só no Estado as discussões, oposições, conflitos de interesses são levados a exprimirem-se em linguagem, senão racional e razoável, pelo menos pretendendo ser tal: o Estado é o plano da decisão racional e razoável, embora um determinado Estado possa tomar más decisões, ou ser incapaz de tomá-las. Muitos Estados, e provavelmente todo Estado em certos momentos, transformaram-se em instrumento de opressão. 119 Uma das características do Estado moderno é que o Estado é o único que pode coagir, detendo o monopólio da força, diferente dos estados mais antigos, onde particulares detinham o uso da força. Weil afirma que ao lado da definição do monopólio da violência encontra-se o que faz do Estado moderno o Estado de Direito, isto é, o importante não é deter o monopólio da violência, mas que a ação do Estado, bem como as ações de todos os cidadãos, sejam regidas por leis, protegendo os direitos desses cidadãos. Segundo Weil, A tarefa do Estado é proteger a comunidade contra os perigos que a ameaçam, seja do interior (decomposição), seja do exterior (opressão ou supressão por outro Estado). A política prática de cada Estado apresenta, por consequência, dois aspectos fundamentais tradicionalmente designados como política externa e política interna. 120 No Estado de Direito o essencial é a soberania da lei, e ele surge como meio para a sociedade, e como dado para o indivíduo. Na dimensão política, a lei é a forma na qual o Estado existe e pensa, ou seja, nesse plano político compete às leis proporcionar a forma da consciência aos objetivos da comunidade e nela se exprime a vida consciente 118 Cf. WEIL, E. Filosofia Moral, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p. 186.

54 53 dessa comunidade. Para Weil, o Estado moderno realiza-se na lei e pela lei formal e universal 121. Ao lado da definição pelo monopólio da violência, encontra-se a que faz do Estado moderno o Estado de direito, e vê o essencial não no monopólio da violência, mas no fato de a ação do Estado, assim como todo cidadão, ser regida por leis. Ela contém a primeira pois o uso da violência é reservado ao Estado, que cria, fixa e executa as leis, e através dela, regula o uso da violência. Contudo, ele só emprega a violência em circunstâncias que só ele pode definir pela lei, e fora das quais ele interdita de servir-se dela. Essa lei é formulada e formal, e nenhum direito não-escrito pode ser invocado contra ela: o conteúdo da lei pode ser influenciado, até mesmo fornecido, por tais direitos tradicionais ( imprescritíveis, naturais ), mas o reconhecimento de tais direitos pelo Estado é exigido absolutamente, e só é dado na forma da lei. 122 A lei é o meio para a sociedade, pois ela permite o desenvolvimento do trabalho, da racionalidade. Para o indivíduo, a lei será um dado sobre o qual ele pode se apoiar a fim de ocupar seu lugar na sociedade e na compreensão dos mecanismos dessa mesma sociedade. Uma das características da lei é a sua universalidade formal, e não o seu conteúdo justo ou injusto, pois a justiça, apesar de ser universal, é entendida levando em consideração os valores de cada comunidade. O essencial na lei é que ela é aplicada a todos os cidadãos, pois todos são iguais perante a lei, pois o caráter essencial da lei é dado pela sua universalidade formal: ela é lei para todos os cidadãos, e todos os cidadãos são iguais diante dela 123. Outrossim, essa lei é soberana, como afirma o próprio Weil a soberania da lei caracteriza o Estado moderno enquanto tal e não permite absolutamente distinguir entre o bom e o mau Estado: um Estado no qual a lei não fosse soberana não seria moderno porque não seria o Estado de uma sociedade racional 124. Diante do Estado, a ação deve ser pensada universalmente e é nisso que consiste a humanização do mundo. A ação é a tentativa de universalização de um discurso que pretende ser coerente. O homem da ação é o político, uma vez que a ação funda a política e só na ação a política pode ser entendida no seu agir intersubjetivo, efetivada no mundo. A ação do homem coerente busca efetivar um mundo diferente e seu 121 Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p. 191.

55 54 objetivo é mostrar por meio da ação e do discurso, a insuficiência deste mundo em que reina a necessidade e a violência. Ela não quer criar um mundo novo, mas compreender o mundo atual com suas implicações. A moral que eleva à consciência o fato irredutível da finitude do indivíduo, do seu caráter necessitado; é ela que ensina que o indivíduo não poderia ser feliz sozinho, que, num mundo da violência e da injustiça, o homem mais consciente será também o que mais claramente quer que o mundo mude. Ela sabe que o indivíduo pode sempre fracassar, que a felicidade é dever, que ela não é presente e pode faltar. E se ela acrescenta que o indivíduo pode sempre se contentar em si mesmo, ela não ignora que essa possibilidade só é dada aos que tiveram a chance, de modo algum assegurada a todos, de se formar. 125 Nesse contexto, a filosofia tem um papel importante: ela deve esperar um mundo onde o homem não viva mais em necessidades, nem se preocupe mais com o fim da ação. Segundo Weil, A opção pela violência é tão originária quanto a opção pelo discurso e pela filosofia. Contudo, pode ser que a questão não seja séria nesse sentido e que queira simplesmente exprimir que o homem não está nunca seguro de alcançar a felicidade completa, que a felicidade do ser razoável no homem não é a do homem, mas um mal menor, a resignação a um mal ao qual se sabe, não poder remediar a eterna lamentação da humanidade sofredora. 126 Um dos problemas que constituem o Estado e com o qual o homem se depara é a tentativa de conciliação entre o justo e o eficaz, ou seja, a moral viva com a racionalidade, e conciliá-los com a razão, enquanto possibilidade de uma vida sensata para todos, que seja compreendida como tal para todos 127. A unidade e a independência da nação constituem problemas práticos, sobre os quais se apóiam as atividades e ações do governo. Unidade da ação é unidade de contradições, pois toda nação é sociedade e comunidade histórica, buscando a eficácia, mas busca também ser fiel aos seus valores. A função do governo é manter a unidade interna, tendo que resolver as forças desagregadoras que agem na sociedade. Na sociedade é o interesse particular que move os indivíduos à ação e o Estado deve acomodar os interesses particulares para elevá-los 125 Cf. WEIL, E. Filosofia Moral, pp Cf. WEIL, E. Filosofia Moral, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p. 238.

56 55 ao universal com o qual devem colaborar 128. Portanto, o que se apresenta é um Estado educador que eduque seus cidadãos à universalidade. O governo deve buscar a reconciliação entre o universal da razão (que exige a possibilidade de uma vida sensata para todo indivíduo, sob a única condição de que ele reconheça a legitimidade universal desta exigência), o universal (racional e técnico) do entendimento, e o universal concreto e histórico da moral da comunidade. 129 A ação no Estado revela uma tensão existente entre cidadãos e governos, já que todo governo deve adquirir e conservar a confiança que funda a sua autoridade, pois o cidadão o confia agir em seu nome. O cidadão não é capaz de formar uma opinião pessoal sobre todos os problemas, nem todos os problemas interessam-lhe com a mesma intensidade e, por estas razoes, ele confiará no governo, confiando-lhe a condução dos negócios, sob a única condição de poder fazer-se ouvir por ele quando estiverem em jogo seus interesses, o que ele considera seus verdadeiros interesses. 130 O papel do governo e de um Estado não é apenas, segundo Weil, fazer cumprir as leis em si mesmas e tomar decisões em nome dos cidadãos, mas, sobretudo, efetivar os desejos dos cidadãos e dos grupos - na medida do possível -, a fim de que estes possam viver de maneira feliz. Para isso o governo usará a autoridade política, que será usada levando em conta as necessidades dos cidadãos. A fim de solucionar essas necessidades os cidadãos usam a reflexão. Weil considera que é na e pela discussão sobre as necessidades, sobre o que é necessário que a educação dos cidadãos está baseada, inclusive dos governantes 131. Essa reflexão é efetivada sob a forma de discussão. A discussão é o fundamento ideal do sistema constitucional: todo cidadão nele é considerado capaz de partilhar as responsabilidades do governo e governante em potência. [...] A autoridade do governo repousa, em última análise, na capacidade de instaurar e guiar esta 128 Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p. 272.

57 56 discussão. É certo que o governo não é onisciente, ele participa da discussão, busca saber, como todos os cidadãos e junto com eles. 132 A discussão constitui, pois, um acesso à decisão razoável, tirando do inconsciente o essencial e mostra seu conflito com o necessário, educando o cidadão passivo que vive à margem das decisões políticas. Segundo Weil, é o governo que detém a responsabilidade de instaurar e conduzir a discussão, tendo em vista a sobrevivência da comunidade e sua independência. Portanto, a discussão faz parte da política e da ação efetivada no âmbito do Estado. O Estado reconhece a importância da discussão como base para o seu sistema, uma vez que o cidadão exerce, através de sua ação no Estado, seu direito de ser politicamente ativo. Ao governo cabe a primazia política, já que é ele quem guia e decide a discussão. Tal ação é própria do governo: É ele quem inicia a discussão, seja deliberadamente, seja pelo simples fato de agir e do parlamento reagir; é ele quem guia discussão, quem a conclui pela decisão. Talvez mais importante que tudo é o fato de a representação da nação, assim como a nação que ela representa, receber do governo o objeto da discussão. É aí que o governo desempenha o papel mais decisivo, o papel de quem, determinando o problema, delimita o campo das decisões possíveis. 133 A discussão é guiada pela lei, onde o Estado reconhece a discussão como forma de exercer os direitos, como diz o próprio Weil, o Estado constitucional reconhece, na sua própria estrutura, o papel da discussão, nele regrada pela lei (no que concerne aos direitos e às obrigações dos participantes), aberta e contínua 134. Essa discussão envolve tanto os partidos políticos, quanto o governo tendo o seu papel reconhecido pelo Estado constitucional na sua própria estrutura na própria lei. Nesse sentido, os partidos políticos, segundo Weil, tem função positiva, pois tornam conhecidos os interesses e exigências dos diversos grupos e estratos de uma comunidade. Num Estado que deseja funcionar de forma coerente e sadia, a discussão fica sob a responsabilidade do governo, ao qual cabe, outrossim, a responsabilidade. Nesse sentido, a representação tem um papel fundamental, que sem ele a política no Estado moderno seria praticamente impossível. Para Weil a discussão entre o governo e 132 Cf. WEIL, E. Filosofia Política, pp Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p, Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p. 285.

58 57 a nação representada é extremamente positiva, pois dessa forma é possível saber os anseios dessa nação; graças a essa discussão o governo pode tomar decisões que levem em conta o estado da nação e, por outro, pode torná-las acessíveis e aceitáveis para a nação 135. É no Estado onde o homem pode agir livremente exercendo seu direito de ser cidadão. Nesse sentido, discussão e Estado são dois aspectos que não se separam e cada um tem seu papel bem definido: é o Estado quem determina o que é acessível e aceitável e é a discussão, vista como necessária, que leva o governo a modificar esse Estado. É por meio da discussão que o Estado adota medidas a tomar, pois é nessa ocasião que deve explicar e explicitar o que à primeira vista aparece aos cidadãos como arbitrário, iníquo, injusto, imoral ou ineficaz, e poderá fazê-lo a partir de argumentos, mais sentidos que refletidos, da representação da nação 136. Weil entende que não só a discussão, mas o debate é importante. Na verdade ele não serve tanto para descobrir o melhor método ou a melhor solução, mas o debate serve para revelar como bom e útil o que é racional e razoável, uma vez que a própria discussão revelou o que é tecnicamente necessário e moralmente desejável 137. Para Weil, a melhor forma de governo é a aristocracia, isto é, o governo dos melhores em uma comunidade. A democracia favorece a aristocracia, pois ela conduz os melhores de uma comunidade ao governo dessa mesma comunidade (sociedade). Na democracia o povo, Delibera, e delibera tal como está constituído na sociedade, ou seja, pelos estados: estado do trabalho imediato à natureza que, representado pelos grandes proprietários, forma uma Câmara Alta composta de homens que chegam a ela em virtude de seu nascimento ou de sua propriedade da terra; e o estado da sociedade móvel, representado pelos delegados que agem sob sua responsabilidade pessoal, sem mandato imperativo, apoiados na confiança de seus mandantes; eles são deputados, não necessariamente eleitos, porque não representam indivíduos, mas interesses objetivos, corporações, comunas Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p WEIL, E. Hegel e o Estado..., p. 76.

59 58 Weil define a democracia através da efetiva discussão racional e razoável e não pela existência de instituições legais, pois somente a discussão racional e a educação para a discussão é possível fazer com que o particular se submeta ao universal. A democracia é o sistema político que, numa comunidade sadia, tem mais chances de levar os melhores aos postos dirigentes. A restrição é de importância decisiva: numa comunidade em decomposição, violenta, passional, dominada pela luta dos interesses particulares, o reino dos medíocres (mais do que dos malvados e dos maus) será a regra, e esta levará ao domínio autocrático dos que só consideram a eficácia, excluindo todo valor. Numa comunidade sadia, isto é, na qual a discussão racional e razoavel é uma realidade, pelo menos entre os cidadãos que participam da direção e do controle dos negócios públicos, a democracia conduzirá os melhores do governo, e fará com que estes sejam reconhecidos como tais pelos seus concidadãos. 139 Portanto, a discussão racional conduz ao universal, pois o homem exerce sua capacidade de pensar, agindo de acordo com a razão. Portanto, um Estado que pretende ser bom e quer zelar pelo bem estar de seus cidadãos, deve ter como missão educar para a liberdade, sendo firme ao se tratar da preservação da unidade da nação, bem como de sua independência. 3.3 Os tipos de Estados Na terceira parte da Filosofia Política encontramos as reflexões de Weil sobre o Estado, determinando quais são os tipos de estados existentes. A fim de uma melhor compreensão desses tipos de estados é importante ressaltar que no Estado particular um governo bom é aquele governo que é educador para a liberdade e pela liberdade, sendo firme quando se tratar da preservação da unidade da nação e de sua independência e não tendo nenhuma convicção quanto ao sentido definitivo da existência humana. Para Weil, as diferentes formas constitucionais do Estado são a expressão dos diferentes métodos pelos quais nele se determinam os problemas de governo e as suas soluções 140. Esses métodos que os governos adotam a fim de determinar e resolver os problemas estatais são essenciais, pois eles ajudam a, por exemplo, saber como o 139 Cf. WEIL, E. Filosofia Política, pp Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p. 207.

60 59 governo pode decidir alguma questão ou pendência, localizar onde se situam os problemas em geral e apontar-lhes soluções satisfatórias. Para Weil, os governos são classificados como autocráticos ou constitucionais. O governo autocrático é aquele que ele mesmo é o responsável pela deliberação, decisão e ações, sem intervenção alguma de outras instâncias, intervenção obrigatória: nenhum governo faz tudo sozinho, todos têm necessidade de órgãos de execução, de equipes de informações, numa palavra, de uma administração 141. Diante de uma possível falta de outro termo o governo constitucional é: Quando o governo considera-se, e é considerado pelos cidadãos, obrigado a observar certas regras legais que limitam sua liberdade de ação, pela intervenção obrigatória de outras instituições que definem as condições de validez dos atos governamentais condições inexistentes em regime autocrático, no qual basta que a vontade do governo faça-se conhecida para ser legalmente aceitável e válida. 142 O governo autocrático foi o primeiro a surgir historicamente, já que todos os estados modernos nasceram a partir da violência e, sendo assim, conservam suas marcas até os dias atuais. O Estado moderno é, na visão de Weil, criação dos unificadores de terras, não de chefes naturais que se teriam limitado a dar uma constituição a comunidade imemoriais 143. Não se trata aqui de querer destacar qual das formas de governo é superior ou à outra ou mesmo mais justa. O importante é conhecer a estrutura do Estado e dos estados enquanto tal, o que pressupõe o conhecimento do funcionamento dos diversos sistemas, independente de qualquer juízo de valor. O Estado moderno foi instituído contra aqueles que foram forçados a nele entrar, ele não foi fruto de um pacto entre os indivíduos. O início do Estado moderno foi instituído contra a vontade da maioria dos que foram forçados a entrar nele; mesmo aqueles dentre os Estados modernos que passaram da forma seja a uma revolução, seja a uma luta vitoriosa pela independência, empreendida contra algum antigo poder estatal considerado estranho e hostil à comunidade. Historicamente o governo autocrático foi a normal do 141 Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p. 210.

61 60 Estado moderno: não se trata, portanto, de compreender este sistema normal, mas o sistema oposto. 144 No que se refere ao sistema oposto, Weil nos explica que o Estado constitucional é o resultado de uma revolução contra o Estado autocrático, já que é fundado na violência ou herdeiro dela. Esse sistema constitucional é o resultado de uma luta, de uma revolução contra o Estado autocrático. Num Estado autocrático o cidadão não dispõe de nenhum recurso legal no que se refere à administração. Portanto, Weil define um Estado como enfermo, qualquer governo que, desobedecendo às leis, desvia-se no sentido da autocracia ou da anarquia. Levando em conta que não é possível um Estado sem o poder governamental, um novo governo se instala submetido ao controle do povo, que não só terá sua efetiva confiança, mas está submetido ao seu controle absoluto. Seja qual for a forma de governo, seja autocrática ou constitucional, segundo Weil, sempre haverá a mistura dos dois tipos de governos, ou seja, um Estado será mais ou menos constitucional, mais ou menos autocrático 145. Os tipos (de governo) são contudo, conceitos claros e compreensíveis, necessários para a captação da realidade e capazes de fazê-lo, embora, tomados na sua pureza, não cubram toda a realidade. Melhor dizendo: são capazes de fazê-lo exatamente porque não coincidem com a realidade histórica, sem o que não seriam o pensamento que capta esta realidade 146 No que se refere ao povo, este não aparece como um dado objetivamente captável. Este povo detém a capacidade de aniquilar (inclusive a si mesmo), mas para manter um controle sobre algo, ele necessita ter uma existência como parte orgânica e bem organizada de um todo, que vem a ser o Estado. Segundo Weil o povo, pois, tem voz. Mas, á primeira vista, não se pode evitar o sentimento de que neste Estado tudo é arranjado de tal modo, que esta voz não possa fazer-se ouvir 147. Por sua vez, o povo é criação do próprio Estado, se opondo ao próprio Estado, ou seja, o povo vem a ser uma instituição legal e amparada constitucionalmente. 144 Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p WEIL, E. Hegel e o Estado..., p. 76.

62 61 O povo, que assim, se opõe ao governo, não existe como dado anterior à lei e não se encontra em parte alguma, mais exatamente, não se encontra nunca quando seria importante poder dizer onde se encontra, isto é, nos momentos em que existe uma tensão entre o governo e uma parte dos cidadãos (nunca a totalidade, dado que os governantes e seus seguidores fazem parte do povo). 148 Como foi dito mais acima, o povo é uma instituição legal, e como tal, constitui uma realidade de cunho negativo para o próprio Estado. Na verdade, trata-se de uma dialética: o povo nasce do Estado, mas constitui um perigo, uma ameaça ao próprio Estado, ou seja, o povo nasce do e para o Estado, mas é capaz de destruir o Estado e de se autodestruir. Enquanto realidade política, o povo deve visar à ação política. Seja como for, o povo é uma parte de um todo orgânico e minuciosamente organizado que é o Estado. Portanto, o povo tendo a possibilidade e a capacidade de formular seus desejos e juízos, pensar e falar racional e razoavelmente. 149 A representação do povo, na qual se exprimem, elevando-se à consciência, os desejos e até mesmo as paixões da nação, não devem impor ao governo uma conduta que, embora satisfazendo as aspirações populares fosse contrária às necessidade técnicas ao mesmo tempo que ao espírito da lei formal, assim como não deve admitir, no outro extremo, que se sacrifique à eficácia da administração o que constitui a personalidade moral da nação. 150 Observadas essas considerações sobre a importância do povo para o Estado, podemos dizer que o governo é aquele único capaz de mover o Estado. Aqui o papel das leis é irrelevante se elas não forem utilizadas em favor dos direitos dos cidadãos sejam respeitados e legitimados frente aos governantes. Por isso, faz-se mister o surgimento dos tribunais, locais nos quais ocorreram esses embates. Sobre isso Weil afirma que o tipo constitucional de governo é caracterizado pela independência dos tribunais e pela participação, exigida por lei, dos cidadãos na legislação e na tomada de decisões políticas 151. Enquanto que no Estado autocrático o cidadão não tem a seu favor nenhum recurso legal que possa ser utilizado a seu favor contra os atos arbitrários da 148 Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p. 213.

63 62 administração, no sistema constitucional a lei regra e impõe limites à liberdade de ação do governo. No Estado autocrático, o cidadão não dispõe de nenhum recurso legal contra os atos da administração. De fato, todo governo tem interesse em ouvir as reclamações dos cidadãos: elas oferecem um meio excelente e, na verdade, insubstituível para vigiar a eficiência, a aptidão e a obediência de sua administração; mas a reclamação, mesmo quando leva a corrigir os erros cometidos (definidos pelas leis existentes, tecnicamente necessárias num Estado autocrático moderno), não equivale a um recurso de direito: entre o cidadão e o governo, é este último quem decide. 152 Porém, para o cidadão comum, a lei não teria serventia alguma se ele não pudesse fazer valer seus direitos no tocante às represálias do governo. Sendo assim, os tribunais ganham uma força essencial: são eles que têm a missão de proteger os direitos dos cidadãos mesmo que entre em conflito com o Estado. Não pretendemos, com isso, afirmar que a autoridade dos tribunais é superior à própria lei, mas que a lei não passaria de um pedaço de papel se os tribunais dependessem do governo, da administração, dos grupos privados 153. Na verdade os tribunais são totalmente independentes, influenciando a organização da vida do Estado constitucional, como nos diz o próprio Weil: A independência dos tribunais é uma condição indispensável para a vida do Estado constitucional. Na sua ausência, o espírito dessa vida, espírito de obediência voluntária e livremente consentida às leis, não se sustenta. Sem este espírito o sistema torna-se uma simples peça decorativa escondendo uma realidade que, de fato, corresponde à do sistema autocrático (em decomposição ou a ponto de nascer). A maior honra de todas as instituições e órgãos do Estado constitucional consiste em trabalhar para esta independência, honra tanto maior quanto mais forte é o freio que ela impõe aos desejos perfeitamente racionais, embora não razoáveis, que o funcionário e o governo alimentam em vista da maior eficácia técnica dos seus serviços. Entretanto, por importante que seja, a independência dos tribunais e dos juízes não é mais que a interpretação e a aplicação de uma lei que os tribunais e os juízes não criam e não podem modificar. Nada impede que a lei, a mais conscienciosamente aplicada e mais fielmente obedecida, seja má, racionalmente inadequada, nociva, contrária à moral vida da comunidade Cf. WEIL, E. Filosofia Política, pp Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, pp

64 63 Num Estado constitucional, o cidadão deve ter a certeza jurídica de que pode ser defendido contra o arbítrio de quem quer que seja, inclusive do próprio Estado para com ele. No Estado constitucional a lei deve estar a favor da justiça a fim de libertar o cidadão das injustiças e arbitrariedades. No Estado constitucional, o recurso existe regularmente, seja a tribunais ordinários, seja a cortes especiais (tribunais administrativos). O cidadão pode invocar o direito diante de autoridades independentes do governo e da administração, e obter delas que uma medida ilegal seja invalidade ou um erro corrigido (prejuízos, restituições etc). O governo, assim como a administração, está submetido ao juiz, e os órgãos do governo são obrigados a executar as decisões judiciais, normalmente sob ordem real ou suposta do governo. 155 A lei é a grande soberana, pois a vida do indivíduo é uma vida inserida na sociedade e como tal precisamos de leis e regras a fim de regulamentar a vida social. Nesse sentido, as leis constitucionais devem produzir consequências práticas da vida cotidiana dos homens. O Estado constitucional não é definido pela separação dos poderes entre si, mas pelo fato de a lei existir e ter que ser respeitada e executada pelo governo, pela própria administração, pelo judiciário e pelo legislativo: O que separa os Estados constitucionais dos autocráticos não é, pois a existência de leis formalmente universais (que caracteriza a sociedade moderna); é o fato de as leis existentes não poderem ser modificadas sem o consentimento dos cidadãos, dado nas formas prescritas pela lei constitucional, que é lei fundamental por regrar a modificação de toda outra lei e sua própria. O controle dos atos governamentais resulta daí; a lei fundamental de todo Estado constitucional, para assegurar sua própria eficácia, limita os direitos do governo e exige o consentimento dos cidadãos não só para qualquer modificação das leis, mas também para certos atos que, se fossem da competência exclusiva do governo, de fato o livrariam de qualquer controle. 156 Este controle constitui uma garantia legal material da observância das leis pelo próprio governo, já que a lei fundamental é a regra da vida do Estado, sendo, porém, formal, abstrata, não tendo força em si mesma. Assim, a lei se torna insuficiente, pois não é a constituição que cria o Estado, mas o Estado (autocrático) que se torna constitucional. A lei de forma alguma é criada, mas modificada conforme as exigências. 155 Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, pp

65 64 Seja qual for o tipo de governo constitucional ou autocrático existem leis universais que regulam as ações do governo; mas no Estado constitucional as leis que existem não podem ser modificadas sem um consentimento prévio dos cidadãos, onde são impostos os limites do governo e a exigência do consentimento dos cidadãos. Os direitos dos cidadãos envolvem o controle da questão financeira, de impostos e de orçamentária. Nesse sentido, tudo o que se refere ao orçamento é considerado como direito essencial, com uma lei que deve ser respeitada, sobretudo, pelo governo. Os cidadãos devem ter seus orçamentos (pois são considerados como uma lei) e seus direitos preservados e protegidos pelo governo e nisto consiste a essência do Estado: A essência do Estado está no direito dos cidadãos (do parlamento) de recusar ao governo a autorização para elevar impostos e para gastá-los como quiser. Do ponto de vista histórico, a observação é exata: as lutas em torno do Estado constitucional normalmente concentram-se em questões financeiras. Dissemos que, materialmente, o sistema constitucional coincide com este direito dos cidadãos ao controle das finanças públicas. Mas este direito não basta para definir o sistema constitucional moderno: uma oligarquia pode dispor deste direito, comunidades que praticam a escravidão não o ignoram necessariamente, e ele pode ser encontrado onde a lei moderna é desconhecida, assim como a moderna forma do trabalho. O fato de ser considerado como um direito essencial exprime-se, paradoxalmente, em que o orçamento é considerado com uma lei, embora, não tendo nada de universal, ele seja simplesmente um decreto. 157 A lei que fundamenta o Estado constitucional vem a limitar os direitos do governo, exigindo que os cidadãos se manifestem por meio do consentimento na modificação das leis. A lei fundamental é a regra da vida do Estado. Ela é regra formal e, por isso mesmo, respeitável como tudo o que é pensado no universal, mesmo que de modo insuficiente porque apenas formal. Porém, sendo formal, ela não tem força por si mesma. Como toda lei, ela evolui com a realidade que ela regra, e só regra porque a exprime sob a forma da lei universal [...]. Como qualquer outra, a lei fundamental não poderia ser inventada ou criada; ela formula o que existe no modo de trabalhar da sociedade, na organização que esta se deu, na moral viva da comunidade, que engendrou esta sociedade particular Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p. 222.

66 65 Daí a importância do parlamento num Estado constitucional, pois é o parlamento que exprimindo os desejos e a moral viva da sociedade-comunidade particular, permite e controla a ação racional do governo e lhe proporciona a possibilidade de educar o povo 159. O parlamento é a instituição, por excelência, que caracteriza o Estado constitucional, onde são expressos os desejos e a moral viva da sociedade. É por meio do parlamento que é possível controlar as ações governamentais e de educar o povo para a consciência universal. Na verdade, uma das funções do parlamento, no Estado constitucional, é exercer a representatividade do povo, pois ele é encontrado como representação do povo, em todos os Estados constitucionais modernos, até mesmo nos Estados autocráticos que preferem, por razões psicológicas, dá-se a aparência de Estado constitucional 160. Levando em conta que o parlamento expressa os conflitos de uma determinada comunidade e não de uma unidade da ação, compreendemos que ele dificulta a ação do governo, da administração como um todo e busca fazer a conciliação entre a justiça e a utilidade. Todas as atividades do parlamento estão ligadas ao governo. A função do parlamento só se compreende com relação ao governo, diante do qual ele representa a nação. Esta é uma verdade evidente, mas frequentemente esquecida, porque ainda é muito viva a lembrança da época em que a instituição adquiriu sua importância lutando contra governos arbitrários. Ora, tal esquecimento acarreta as mais graves consequências. Um órgão que só existe para controlar e colaborar, isto é, aprovar ou recusar, e para exprimir, por seus consentimentos, estas recusas e desejos, as opiniões, necessidades e desejos dos que representa, não é feito para agir, e todo regime de assembleia acaba na tirania de uma minoria agente ou da administração, pois nenhuma assembleia representativa possui as qualidades necessárias para tomar decisões racionais no momento desejado, nem a faculdade de formular os problemas a resolver. 161 Assim sendo, podemos perceber a importância do parlamento, pois este representa a expressão dos conflitos entre os membros de uma comunidade. O parlamento é o local onde as necessidades da vida moral entram em contato com as necessidades da racionalidade e onde ocorrem as discussões públicas. É no parlamento onde ocorrem as discussões que permitem que os cidadãos conheçam o rumo das ações governamentais, ou seja, é por meio das discussões, que se dão no parlamento, que os 159 Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p. 226.

67 66 indivíduos são conscientizados sobre a importância de reivindicar seus direitos de cidadãos. É a discussão pública no parlamento que permite a explicação e a explicitação da ação governamental, e se o governo e a administração chocam-se com o que preferem chamar de estupidez do parlamento (e que pode muito bem merecer este nome), é contra um fato que se chocam, um fato pelo qual são os principais responsáveis. Nenhum governo deve fazer mais pelo esclarecimento e educação de seus cidadãos que o governo constitucional, e ele não pode empreender esta tarefa se não aprende, numa experiência quase cotidiana, os pontos aos quais deve dirigir essa educação. Num mundo onde todos participam do trabalho, todos devem ter o sentimento de participar nas decisões que dizem respeito ao destino da comunidade. 162 Assim, pois, uma das funções do parlamento é conciliar a justiça e a utilidade, ou seja, elevar à consciência a razão inconsciente da sua moral e ser uma sociedade do trabalho racional. Nesse sentido, a justiça e a utilidade não devem estar em contradição, pois, uma sociedade que pretende exercer essas duas características só subsiste se conseguir que seus membros entendam que o necessário é orientado para a razão e para a liberdade. Numa palavra, o parlamento é o lugar onde o desejo tradicional, mais exatamente, a necessidade, as preferências, os gostos, toda a vida moral entram em contato com as necessidades da racionalidade, para submetê-las a si 163. Para Weil dado que o parlamento surge num Estado constitucional, podem ocorrer perigos inerentes a esse mesmo sistema, que por sinal são reais e grandes, porém menores que os que ocorrem no governo autocrático, onde não há correções para as decisões, sendo sempre ameaçado pela não aceitação dos cidadãos, levado a pôr a eficácia acima de tudo e confundir a subsistência do sistema com a da comunidade, até o momento em que se precipita no marasmo interior e na derrota diante de um adversário externo mais unido e mais eficiente 164. No Estado autocrático faltam duas características constitucionais básicas: a submissão do governo e da administração à lei, e a representação da nação no que se refere à modificação da lei e de decisões políticas. Justamente por não se submeter às leis, há uma tendência em comparar os governos 162 Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p. 229.

68 67 autocráticos com ditaduras. Porém, há diferenças evidentes entre a ditadura e o sistema autocrático: Essas diferenças são decorrentes do fato de a autocracia não conhecer constituição como lei fundamental regrando sua ação e sua atividade. A duração do exercício da autoridade não é fixada e as medidas governamentais não estão submetidas a restrições precisas nem à aprovação de um parlamento. A autocracia não constitui, pois, um regime excepcional, mas o regime normal de uma determinada comunidade. 165 O governo moderno autocrático tem como objetivo principal se perpetuar no poder ou, para a educação dos seus cidadãos para a racionalidade (trabalho) e para a razão (filosofia). Assim, o Estado é supérfluo pela sua própria ação, já que a educação será a destruição das condições e circunstâncias materiais e morais que justificam a própria existência imediata do governo autocrático. Sem esses elementos materiais: a necessidade imediata de deixar de dominar a vida da maioria, que o modo de trabalhar da comunidade seja socializado, e que a regra moral universal se torne acessível e aceitável o conceito de presença real da lei, a violência e o desespero suplantam a razão e o entendimento. Para que o Estado constitucional exista é preciso que se tenha uma comunidade educada e uma sociedade bem organizada, pois no regime constitucional se exige que a comunidade seja razoável, e que tenha, ao menos, acesso à razão. Nesse sentido, o Estado constitucional moderno não pode subsistir onde a sociedade moderna não existe, e é pouco provável que esta sociedade surja espontaneamente, na ausência de qualquer coerção à racionalidade 166. O regime constitucional pressupõe como condições mínimas, da parte dos cidadãos, a racionalidade do comportamento e a submissão por consentimento à lei formalmente universal, e, da parte do governo, a vontade de razão, senão a razão. O cidadão que aceita fazer-se representar aceita também não ser representado se o seu candidato não vence: neste caso, ele não deve recorrer à violência. O governo compromete-se a respeitar a liberdade razoável dos cidadãos: ele não deve nunca, por exemplo, apoiado numa maioria parlamentar pressionada, agir de modo a não deixar aos seus adversários os meios de fazer prevalecer por argumentos não-violentos o seu ponto de vista, que pode ser o do bom senso e da razão Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p. 232.

69 68 A universalidade formal da organização racional nasceu da transformação do trabalho e da organização, por uma transformação imposta aos homens; e antes de ser livremente aceita por todos, a lei fora, outrora, a de um rei, a de um grupo. A única questão é saber se um governo autocrático moderno (que não deve ser confundido com o governo centralizado e centralizador, característica do Estado moderno enquanto tal) visa simplesmente a se perpetuar ou à educação dos cidadãos para a racionalidade e para a razão, portanto, se visa à conservação ou à destruição das circunstâncias, materiais e morais, que justificam sua própria existência imediata. 168 Nesse sentido, a filosofia não apresenta necessariamente conselhos aos políticos, mas ela mostra os problemas e as dimensões das soluções possíveis. Ela é, outrossim, necessária na criação e na manutenção do Estado constitucional, mostrando os problemas e as indicações de possíveis soluções. A filosofia pensa a ação razoável, e sabe que esta realiza-se do domínio do racional e nas condições empíricas de uma determinada situação que se revela no próprio desenvolvimento da ação: sem nunca ser totalmente revelada, ela é captada pelo homem político, numa visão que não é necessária nem normalmente consciente de si mesma. 169 O objetivo que se apresenta ao filósofo educador é tornar a justiça, o direito a igualdade e a fraternidade visíveis aos que não são filósofos e que, vivendo e sentindo os efeitos das paixões, possam compreender que signifiquem algo importante para os que não são filósofos. Isso é importante para evitar o risco de se tornar uma ameaça para a vida sensata. Não basta lutar pela justiça, pelo direito, pela igualdade, é preciso vencer; e a primeira condição para a vitória é que a justiça, a igualdade, a fraternidade sejam explicitadas de modo que os que devem arriscar a vida por elas possam captar a sua significação, de modo que tenham uma significação para eles que não são filósofos, mas homens vivendo no mundo dos desejos, das paixões e dos interesses e, portanto, que devem ser levados a não ver na justiça, na 168 Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p. 237.

70 69 igualdade, na fraternidade, na liberdade, o contrário de tudo o que consideram importantes O Estado Mundial Weiliano No item anterior podemos entender que o Estado moderno que pretende manter seu caráter de Estado particular e individual deve orientar a educação de seus cidadãos para a liberdade. Vale ressaltar que ser livre não é fazer o que quer, quando quer e onde quiser sem respeitar a liberdade alheia. A fim de assegurar a liberdade individual, bem como a preservação da unidade e a independência da nação: A unidade e a independência da nação, da comunidade consciente e agente, constituem os problemas em torno dos quais gira toda a atividade do governo e aos quais referem-se todas as suas ações. A razão disso é que nem uma nem outra estão definitivamente asseguradas. A independência da nação é ameaçada, de uma parte, por outras nações-estados, de outra, pela forma do trabalho moderno, uma e idêntica em princípio, tendente a estabelecer uma direção mundial da luta contra a natureza interior. A situação presente explica-se pelos acontecimentos que a produziram: criado pelos unificadores de terras, todo Estado moderno ou bem deseja crescer às custas dos outros, ou bem vive no temor de que seus vizinhos adotem uma política imperialista de conquistas. 171 Dentre os problemas que o Estado moderno enfrenta um se destaca como fundamental: o governo moderno tem como missão fazer a conciliação do justo com o eficaz, conciliando-os com a razão, a fim de que se transforme em possibilidade de uma vida sensata para todos. Esses dois polos é que, de certa forma, movimenta o governo, como o próprio Weil afirma: 170 Cf. WEIL, E. Filosofia Política, pp Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p O conflito entre a justiça e a eficácia apresenta-se sob inumeráveis formas: ordem contra liberdade, realismo contra idealismo, razão de Estado contra moral, rendimento social contra igualdade de condições, interesse contra fraternidade [...]. O esforço verdadeiro e necessário do pensamento irá noutra direção: será precisamente o esforço de compreender (e fazer compreender) que os dois membros daquelas dicotomias, em vez de serem alternativos, só se realizam juntos, o

71 70 esforço de compreender que a justiça não é nada sem a eficácia e a eficácia nada sem a justiça, que um sistema injusto se desfaz pela vontade de sua divindade tutelar a eficácia e que todos os sermões, por nobres e verdadeiros que sejam na abstração, jamais contribuíram para a criação de um sistema mais justo, enquanto não decidiram levar em consideração as exigências da realidade, do interesse, da organização, do cálculo racional. Um governo que busca a justiça sem querer levar em conta os interesses é injusto, pois o interesse é a mola da sociedade. 172 Weil entende que o Estado vem a ser um indivíduo histórico, levando em conta que cada Estado é soberano, ou seja, deve tomar suas decisões com vistas de manter a unidade e independência. Esse Estado tem a missão de combinar a eficácia com a justiça, sem esquecer nenhuma. Segundo Weil, Um governo que visa à eficácia com desprezo pela justiça engana-se, contradiz-se e não realiza nada de duradouro, pois não terá aquela colaboração dos cidadãos sem a qual não pode agir com eficácia. No mundo da realidade e da ação, a justiça é justiça para os interesses, como a eficácia é a organização dos interesses. O homem na sociedade moderna age por interesse. 173 Sabendo da existência da soberania estatal, os problemas internacionais (que se dão na relação entre os Estados) são tratados pelos governos dos Estados individualmente em função das decisões soberanas tomadas em nome desses mesmos Estados. Como o próprio Weil já afirmou que o Estado individual age por interesse, o Estado soberano também age por interesse. O verdadeiro problema é saber de que maneira esse homem determina seus interesses e em que medida eles podem ser conhecidos pela sociedade 174. A relação imediata e soberana que se dá entre os homens de um Estado é violenta, uma vez que cada Estado tem como objetivo a coesão interna e independência externa. A sua unidade e coesão não resistirão por muito tempo a um regime de injustiça flagrante (aos olhos dos seus membros), a diferença de renda muito acentuadas, a uma defasagem exagerada entre os níveis de vida dos diferentes grupos ou à permanência de vantagens puramente históricas ou tradicionais. A desigualdade de oportunidades 172 Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, pp Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p. 245.

72 71 de acesso à direção dos interesses sociais, a opressão pesando sobre certos grupos levarão as partes prejudicadas da população, seja à revolta, seja à resistência passiva do desespero. 175 As relações que se estabelecem entre os Estados particulares só eram levadas em conta na medida em que, de certa forma, influenciavam na vida interna do Estado individual. Levando em conta as considerações sobre o Estado particular, onde o governo tem como tarefa a manutenção da unidade e a independência do Estado, levando em conta sua moral viva, Weil dedica a IV parte do III capítulo da Filosofia Política sobre a organização mundial. O Estado particular deve se empenhar na realização de uma organização mundial que engloba outros Estados particulares, com o objetivo de preservar a particularidade moral que cada um deles assume. É por meio da organização mundial que a competição entre os Estados é diminuída. É do interesse do Estado particular trabalhar para a realização de uma organização mundial, em vista de preservar a particularidade moral (ou as particularidades morais) que ele encarna 176. Weil entende que para todo governo moderno existe um problema: as relações internacionais, ou seja, o Estado moderno, justamente por ser intitulado de moderno, superpõe-se ao problema tradicional das suas relações com seus vizinhos, amigos ou inimigos 177. O Estado moderno é um indivíduo, e se as relações internacionais constituem um problema para ele, é porque o inquietam, e ele compreende como perigo para a sua própria vida a possibilidade de ser arrastado, involuntariamente, em conflitos dos quais só lhe resultariam perdas, senão a sua destruição, e dos quais, contudo, ele não pode se desinteressar sem sacrificar sua independência. Nesse ponto ele se comporta como o cidadão membro da sociedade, que preferiria usar da violência para alcançar seus objetivos naturais e passionais e que renuncia a isto, não por negócio: a violência, mesmo quando ele não a sofre diretamente, destrói, e o que ele pode esperar de uma sociedade trabalhando pacificamente é superior à expectativa que poderia ter de conservar o que adquiriu violentamente numa sociedade desordenada, para não falar da ameaça que constitui para ele a reação inevitável da sociedade a toda ação violenta Cf. WEIL, E. Filosofia Política, pp Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, pp

73 72 Contra a violência do cidadão, o Estado exerce a coerção, a fim de que seja mantida uma ordem na sociedade. Essa coerção é justificada pois não há governo nem juízes acima dos indivíduos históricos, os Estados. Daí surge a necessidade de se trabalhar para a realização de uma organização mundial que diminua a competição e a violência entre os Estados, diminuindo, pois, a possibilidade de guerra. Segundo Weil, o Estado age em relação aos cidadãos violentos com menos coerção ao qual o cidadão individual não pode impor resistência. Nessa forma governamental, o criminoso é visto ou como um doente, ou como aquele que busca a punição que o reconheça na sua individualidade. Para Weil, a guerra é a forma concreta da violência entre os indivíduos históricos que são os Estados. O progresso para a não-violência define, para a política, o sentido da história. A oposição entre a guerra e a paz é um problema para a ação, pois a guerra não é nunca impossível: A guerra, portanto, não é nunca impossível, mas é sempre menos provável, na medida em que as motivações puramente históricas e tradicionais perdem sua influência junto aos governantes dos Estados modernos, e os pequenos Estados atrasados diminuem em número, peso e crédito: o cálculo dos indivíduos históricos leva-os à concepção de um interesse social comum, de uma organização mundial. 179 A intenção de Weil não é conciliar num mundo a violência com a moral histórica. Ele busca conciliar a moral com a não violência. Onde a não-violência não seja apenas o desaparecimento da violência e de todo sentido positivo da vida dos homens, mas onde ela possa se conciliar e existir com a moral, seja no plano do indivíduo, seja no plano da sociedade ou do Estado. A não violência, na história e pela história, tornou-se o fim da história e é concebida como seu fim; mas nada garante que este fim possa ser alcançado sem o emprego da violência: é, ao contrário, provável que ele não seja nunca alcançado se for esquecida para sempre a possibilidade da violência, ou que ela possa ser nobre e justa em certos momentos. Não se evitarão estes momentos é a negação de todo sentido, o absurdo em estado puro; mas entra-se nos mais violentos (e mais evitáveis) conflitos externos e internos se convence de que basta falar de não-violência e de vida boa na sociedade; cai-se na violência mais nua se se priva a existência humana de todo sentido, limitando-a 179 Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p. 307.

74 73 ao que a sociedade pode lhe oferecer de meios sem fim. O progresso para a não-violência define para a política o sentido da história. 180 Na verdade, a violência surge como uma espécie de mal para todo Estado moderno. Todo Estado possui sua unidade fundada na moral da comunidade, que é expressa, sobremaneira, nas suas leis, instituições, constituições. Por isso, uma moral internacional, se existe, só existe sob a forma de um dever formal, um princípio sem força coercitiva, sem administração 181. Por isso, se faz mister de uma organização mundial, que seja organizada em prol de estar a serviço de todos os Estados, cada um com seu sentido moral particular. O Estado mundial, chamado de organização mundial, viria a ser uma organização responsável pela coordenação do trabalho racional de sociedade, onde cada uma teria como objetivo desenvolver o seu próprio sentido na comunidade. Podemos afirmar que o Estado mundial se opõe ao Estado particular. Enquanto o Estado mundial diz respeito à organização da racionalidade, da sociedade de trabalho, o Estado particular se refere à moral, à comunidade particular. A organização mundial tem como objetivo maior a satisfação dos indivíduos razoáveis no interior de Estados particulares tidos como livres. A organização que é assim apresentada como objetivo da ação política do Estado moderno é correntemente chamada Estado mundial. Termo apropriado na medida em que o seu emprego faz pensar na parte da atividade do Estado que concerne à administração e à organização do trabalho social. Termo, ao contrário, extremamente perigoso se se pensa no aparelho construído para a ação externa do Estado, essencialmente a-moral e fundado na possibilidade da violência: a organização que chamamos Estado mundial se caracterizaria precisamente pelo fato de não conhecer política externa, dado que todo exterior teria desaparecido. No sentido comum da palavra Estado, decorrente da história, ele seria, ao contrário de um Estado, uma organização coordenando o trabalho de comunidades que teriam por finalidade e sentido o desenvolvimento da sua moral, do seu universal particular concreto: toda moral viva (e vivida) seria particularidade razoável no interior de uma moral social formal e racional Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p. 321.

75 74 Quando falamos em Estado mundial devemos ter o cuidado para não cairmos num equívoco: o Estado mundial não é um Estado que teria um governo só, centralizado, absoluto, imperialista. Seria um Estado que se refere à racionalidade e ao fim da competição técnica e na instrumentalização do ser humano, o que permitiria cada Estado particular desenvolver a sua moral e o seu sentido de existir. Segundo Weil, o governo mundial administraria, exerceria sua ação no plano de uma educação para a racionalidade, compreendida como a possibilidade da moral. 183 Weil entende que num Estado mundial a riqueza social seja, de fato e de direito, real e igualmente distribuída, isto é, num Estado mundial seja possível o trabalho social sem diminuir a renda global. Nesse Estado mundial weiliano o membro da sociedade será, portanto: Imediato à administração dos interesses comuns da sociedade mundial; ser-lhe-á possível, na prática, recorrer a tribunais (verdadeiros, vale dizer, cujos juízos serão executados por uma administração central contra qualquer resistência possível das autoridades inferiores) e obter assim o respeito dos seus direitos de membro da sociedade, esses direitos chamados do homem e do cidadão e fundados na própria estrutura da sociedade do trabalho: direito de igualdade de oportunidades sociais (a desigualdade de oportunidades naturais pode ser reduzida, mas não eliminada), direito à igualdade de participação na tomada das decisões (direito de livre participação na discussão), direito à satisfação dos desejos que, no momento histórico dado, são universalmente considerados naturais. O limite desses direitos do indivíduo será fixado pelas necessidades do trabalho social; mas todo indivíduo terá o direito de exigir que essas necessidades lhe sejam expostas de modo que ele possa convencer-se delas (o que implica que o violento, o que recusa deixar-se convencer por um discurso racional, perde todo direito). Ademais, é provável que o direito de participação das decisões concernentes à atividade e à ação sociais será, em tal Estado, o que menos interessa aos membros da sociedade: a suposição, necessária, de uma riqueza social ao mesmo tempo real e bem distribuída, e com ela aquela outra segundo a qual os homens só discutem o que os inquieta, torna verossímil que os problemas técnicos serão, por assim dizer, neutralizados e abandonados aos técnicos da organização do trabalho, sob a única condição de que reduzam na maior medida possível a utilização dos homens como fatores naturais, noutros termos, reduzam o tempo consagrado ao trabalho social, sem diminuir a renda global Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p.324.

76 75 Weil nos indica essa possibilidade para os Estados como forma de diminuir a competição vivendo de forma cada vez mais equitativamente. Somente depois da concretização de uma sociedade mundial é que as morais concretas poderão, livremente, se desenvolver e a educação dos cidadãos poderá ser o maior objetivo dos governos e dos cidadãos de maneira geral. O homem do Estado tem como preocupação maior com a Lei e o Direito, com a ação, com os interesses e necessidades da comunidade. Ele tem o dever de permitir e favorecer o cidadão na busca pelo sentido privado, no seio de um mundo ameaçado pela possibilidade da negação da racionalidade. Esse Estado utiliza os aspectos de que dispõe a fim de que o cidadão se sinta bem acomodado e possa conviver. Segundo Weil: O Estado é o órgão no qual a comunidade pensa: ela só pode se pensar sob a condição de não viver no temor da sua destruição. A sociedade mundial pode satisfazer esta condição, mas não poderia ser o Estado verdadeiro: ela não estabelece um fim último aos Estados, não sendo mais que o meio necessário (e não suficiente) para a realização desse fim; ela é condição necessária para que eles possam mostrar-se no seu ser positivo. 185 O Estado mundial é um meio pelo qual o cidadão pode encontrar o sentido da sua vida moral, já que diminui a competição entre os Estados particulares e possibilita reduzir o tempo dedicado ao trabalho social sem diminuir o produto social. O cidadão pode participar deste produto social dedicando menos tempo ao trabalho técnico, manual. Fazendo isso, terá mais tempo para viver seu sentido, sua moral e sua vida sensata. 185 Cf. WEIL, E. Filosofia Política, p. 329.

77 76 CONCLUSÃO A abordagem desenvolvida ao longo desta pesquisa pretendeu mostrar o percurso que a Ação desenvolver ao ser desenvolvido no Estado, daí o título A Ação no Estado. Como ponto de partida quisemos mostrar que tanto a Moral como Política têm como ponto de partida o pressuposto de que o ser humano não é pura violência. Ele se compreende, vale dizer, põe a questão do fim da sua ação, a questão do bem, justamente porque é capaz de distinguir o lícito do ilícito. Moral e Política caminham lado a lado e Weil inicia sua exposição política através da Moral, justamente porque o questionamento da ação humana está situado. O lugar da Moral na Política é definido por Weil: é o campo da questão pelo sentido da ação, já que se impõe no plano da universalidade. O homem começou a agir antes de se pôr a refletir sobre suas ações e aqui se dá a prioridade da política. Devemos ter consciência de que a política ocupa todo o centro dinâmico da nossa civilização, ultrapassando os limites da particularidade e alcançando a universalização. Nesse sentido, a Lógica da Filosofia pretende ser a organização dos discursos filosóficos, apresentando as categorias filosóficas, a organização conceitual das atitudes puras. O início de todo filosofar não se dá numa ideia como a Verdade, o Ser, Deus, o Mal ou o Bem. A possibilidade de pensar tais conceitos já implica uma opção pela razão, implica a filosofia. A Lógica da Filosofia vem a ser uma análise das diversas formas de linguagem e de ação, enquanto expressão do comportamento e enquanto forma de expressão livremente escolhida pelo filósofo. O filósofo é o indivíduo finito e razoável que objetiva compreender o infinito do discurso. Evidentemente que a Filosofia Política e a Filosofia Moral estão organicamente ligadas com a Lógica da Filosofia, o que não impede o estudo isolado de cada uma delas, desde que tenhamos uma compreensão sobre a função de cada parte perante o todo. Entendendo a Moral, se estabelece a relação entre Moral e Política. Esta é uma inquirição especulativa sobre as premissas das práticas políticas. A Política é o pensamento da ação razoável, fazendo parte da filosofia, sem ser o todo da filosofia. A Política é ciência filosófica da ação razoável, referindo-se à ação universal. Tal ação não visa o indivíduo ou o grupo enquanto tal, mas à totalidade do gênero humano, mesmo sendo a ação de um só homem ou de um só grupo. A ação individual, egoísta, aquela

78 77 que visa somente a sobrevivência de um indivíduo ou de uma comunidade particular, tem em vista a dominação de todos que possam ameaçar tal sobrevivência individual ou da comunidade especificamente constituindo, assim, uma ação universal. Por sua vez, a ação política não egoísta visa que todos os homens alcancem a felicidade, a satisfação e a obtenção de seu lugar no mundo. Para Weil, ao falar de política, trata-se da Filosofia Política como explicitação das estruturas da vida em comum, explicitação filosófica. Os traços essências são: o homem como ser de linguagem e de ação, social e histórico, livre e finito, capaz de razão, não tomado por ela ou dela possuidor. Outrossim, Weil faz uma reflexão sobre a relação entre a Política e a Moral, distinguindo-a. A Política visando à ação razoável e universal sobre o gênero humano, distingue-se da Moral, já que a Moral é a ação razoável e universal do indivíduo sobre si mesmo. Quando se pretende falar da moral do indivíduo e de sua ligação com a política é preciso pensar que não há isolamento desse indivíduo, que sua situação é sempre relacional e que esta acontece numa comunidade que é histórica em que os homens vivem concretamente. Para Weil, o problema política é especifico, apesar de muitos se sentirem autorizados a julgar a política alegando, tão somente, que são detentores de princípios morais. É verdade que não se pode impor silêncio a ninguém quanto a isso, pois é natural que se admita que consciência moral e política no domínio da política, deve buscar sempre a adoção do ponto de vista do todo e só a ele deve prestar contas das decisões tomadas. Para Weil, a Filosofia Moral situa-se a meio caminho entre a certeza sem reflexão da moral concreta tradicional, que não sofreu a prova do contato com outras morais nem a dúvida que nasce dali. A Filosofia Moral nasce, para Weil, quando o homem, recusando a escolha, sempre possível, do absurdo e do silêncio, compreende a que ele se obriga por essa recusa e ela pode tornar-se incompreensível para si mesma, se ela esquecesse essa origem. Assim sendo, uma Filosofia Política não se concebe sem a moral e o sentido de toda ação universal é e continua sendo fixado pelo fim que essa moral lhe propõe. Porém, é o homem na história que é moral ou imoral, e é no universal concreto do Estado que ele age e reflete sobre sua ação. Na dimensão moral da política devemos observar que o problema da política só pode ser posto por aquele que já se instalou no domínio da moral. Política e Vida Moral não podem ser consideradas separadamente, salvo no entendimento, uma vez que perde qualquer significado na perspectiva dialética.

79 78 Weil é categórico quando diz que não devemos separar a Política da Moral, assim como não devemos separar a sociedade do Estado. Pelo contrário: um deve ser pressuposto para o outro. Pois vistos separadamente se tornam falsos e abstratos. O homem é o agente na origem, pois executa como agente a ação histórica e na história. Ele começou a agir nesse quadro muito tempo antes de pôr-se a refletir, na perspectiva do universal, sobre sua ação, sobre suas máximas, e isso vale tanto para cada indivíduo como para cada grupo humano, bem como para toda a humanidade. A vida moral só pode ser realizada na comunidade, à medida que é capaz de revelar essa moral concreta. O ato moral visa sempre à universalidade em sua concretude e, por isso, torna-se um ato político. esse sentido, o que os seres humanos buscam e esperam da moral de suas comunidades é a unificação interior, a decisão do conflito entre o bem e o mal, a garantia de uma vida boa, ou seja, o contentamento. Para Weil, o político prudente será aquele que, guiado pela visão do todo da vida política, agirá em benefício da comunidade, mas agirá no plano do empírico, das paixões, da violência, da competição, da organização do poder e da riqueza. A prudência, essa sabedoria prática que anima suas decisões, será a capacidade de discernir o que se mostrará essencial para essa comunidade, antecipando o que uma crise pode revelar a todos já num ambiente em que o guia da ação já não seja mais o sentido, mas a sobrevivência. Ademais, a Moral supera a Política ao se apresentar como fim desta e precedê-la na consciência; a Política supera a Moral porque é em seu plano que surge e deve ser solucionado o problema da Moral. A Política não se compreende senão do ponto de vista de quem age, do ponto de vista do governo, já que sua ação é uma ação universal histórica e não a ação de um indivíduo empírico. A Moral é o caminho ascendente para o homem que quer se elevar ao universal; e quer porque escolheu a não-violência e a universalidade, e a Política fornece as condições para a vida moral e para o discurso Moral. Por outro lado, a dimensão moral, além de fundamento da Política, se apresenta, como seu objetivo. Weil parte da Moral, passa pelas categorias políticas e retorna à moral. Nesse sentido, a Filosofia Política é o movimento que tem como ponto de partida a Moral, mas esta é superada pela comunidade histórica, ou seja, o Estado, e este é superado pela Moral, enquanto ação sensata.

80 79 A passagem da Moral formal à universalidade concreta se fará por duas dimensões: a ideia do direito natural e a educação. A ideia de direito natural tem como fundamento o princípio da igualdade, seja a igualdade dos seres razoáveis, seja a igualdade diante da lei: o direito positivo. A educação diz respeito diretamente à comunidade concreta. A educação pretende trabalhar não sobre o plano das intenções, mas sobre o plano das ações. Enquanto a moral condena as paixões, os vício, a educação corrige-os, orientando-os para um bem maior, a partir do que é e não do que deveria ser. O filósofo deve inserir o direito natural não mais apenas numa lei civil, mas nos costumes concretos da comunidade. Partindo do campo da Moral, a ação política centrase na educação, que tem como objetivo levar o indivíduo que, nas suas ações, leve em conta o interesse universal concreto, o que a comunidade, por suas regras e leis, define como o seu interesse. Pretende formar um indivíduo que, em cada uma de suas decisões e de seus empreendimentos, busque desempenhar o seu papel social superando o caráter individualista que desencadeia a satisfação de seus desejos egoístas. A humanidade precisa ser educada nesse processo de experiências comunitárias, a fim de que sua individualidade não venha a constituir-se na negação da dimensão social do homem, mas sim o artífice da vida política. A conciliação entre o indivíduo e o comunitário foi sempre o horizonte perseguido por todos aqueles que levaram a sério a pessoa humana em seu longo processo de realização. O fim positivo da educação é dar ao indivíduo uma atitude correta em suas relações com os outros membros da comunidade. É a retidão no modo de agir e na atitude prática que decide o valor do indivíduo e da educação que recebeu. A educação quer conduzir o indivíduo a uma reflexão moral pessoal sob a autoridade exclusiva da razão. Se o indivíduo é educado, a ação não será um problema moral a ser resolvido para sua reflexão.

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