REDVET - Revista electrónica de Veterinaria - ISSN 1695-7504 Reações vacinais e/ou medicamentosas em carcaças bovinas na região da campanha do Rio Grande do Sul - / or drug reactions in cattle carcasses in the Rio Grande do Sul region campaign Araújo, Luciana Perez: Zootecnista, lu_zootecnia@hotmail.com Moreira, Sheilla Madruga: Doutoranda em Zootecnia FAEM/UFPel, sheillammoreira@gmail.com Moraes, Renata Espíndola: Graduanda em Zootecnia FAEM/UFPel, renatiinha_moraes@hotmail.com Zanusso, Jerri Teixeira: Professor do departamento de zootecnia FAEM/UFPel, jtzanusso@hotmail.com Silveira, Isabella Dias Barbosa: Professor do departamento de zootecnia FAEM/UFPel, barbosa-isabella@hotmail.com Resumo O objetivo deste trabalho foi quantificar reações vacinais e/ou medicamentosas em carcaças bovinas, assim como, apontar suas localizações nos cortes cárneos e quantidades totais de reações. O experimento foi realizado em um frigorifico apto a exportação, localizado na cidade de Bagé/RS, durante o período de 08 de março e 1º de abril de 2016. Avaliou-se a presença de reações vacinais e/ou medicamentosas em 541 animais, sem distinção de idade, raça e sexo, oriundos de munícipios localizados na região da campanha/rs e de diferentes sistemas de terminação. Houve uma incidência de 66% de lesões restringidas na região do dianteiro. Destaca-se que em algumas carcaças foram encontradas mais de uma lesão, ou seja, dos 357 animais contundidos foram identificadas 405 reações vacinais e/ou medicamentosas. O peso total de descarte foi de 414,1 Kg de carne proveniente de 405 partes desprezadas, que por sua vez, foram retiradas de 357 carcaças o que proporcionou uma média de 1,16Kg de lesão por animal. Há uma elevada ocorrência de lesões por reação vacinal e/ou medicamentosa nas carcaças, afetando diretamente a cadeia de produção de carne bovina. Embora o prejuízo financeiro gerado por animal passe despercebido, quando somado as perdas referentes a um número maior de animais, pode reduzir o lucro do pecuarista e da indústria consideravelmente. A constatação de elevadas perdas gera a necessidade de melhorias no manejo com os animais e de orientação técnica, afim de reduzir a frequência de lesões, e consequentemente, a depreciação da carcaça Palavras chaves: beef cattle injuries abscesses vaccine injury. 1
Abstract The aim of this study was to quantify vaccine and / or drug reactions in cattle carcasses, as well as point out their locations on meat cuts and total amounts of reactions. The experiment was conducted in a apt frigorific export, located in Bagé / RS during the period from 08 March to 1 April 2016. It was evaluated presence of vaccine and / or drug reactions in 541 animals, regardless of age, race and gender, coming from municipalities located in the area of campaign / RS and different finishing systems. There was a 66% incidence of restricted in the front region lesions. It is highlighted that in some carcasses were found over an injury, that is, of the 357 injured animals were identified 405 vaccine and / or drug reactions. The total weight despisedwas 414.1 kg of meat from 405 parts, which in turn were removed from carcasses 357 which gave an average of 1,16Kg per animal injury. There is a high incidence of injuries vaccine reaction and / or drug in the carcasses, directly affecting the beef production chain. Embora o prejuízo financeiro gerado por animal passe despercebido, quando somado as perdas referentes a um número maior de animais, pode reduzir o lucro do pecuarista e da indústria consideravelmente. The finding of high losses generates the need for improvements in the handling of animals and technical guidance in order to reduce the frequency of injuries, and consequently the carcase depreciation. Key words: beef cattle injuries abscesses vaccine injury. Introdução O Brasil encontra-se em segundo lugar no ranking mundial em produção cabeças de gado, com 212,3 milhões, tendo um acréscimo de 569 mil em relação a 2013, ficando atrás apenas da Índia (BRASIL, 2015). Ainda é o maior exportador mundial de carne bovina, quando em 2009 exportou um total de 1.245.139 toneladas de carne (ANUALPEC, 2010). De acordo com o IBGE (2012), o estado do Rio Grande do Sul em 2011 teve uma produção de 14.478.312 cabeças. Considerando a última década, pode-se afirmar que o Estado manteve estável o seu rebanho, no entanto, a participação gaúcha na produção nacional diminuiu de 8,1% em 2000 para 6,8% em 2011. Toda essa produtividade está garantida, em parte, por termos um clima favorável para produção animal, mas também a utilização de medicamentos e vacinas preventivas de doenças, que sem dúvida são essenciais, e podem provocar reações não desejáveis, uma das principais e esta relacionado a exportação é a febre aftosa, uma doença altamente contagiosa, que gera preocupação mundial, por ser de fácil transmissão (BEER, 1999). 2
As condenações parciais de carcaças devido a abcessos formados por vacinas e medicamentos, junto com hematomas, formados devido a um manejo incorreto pré-abate, ainda são uma das principais perdas econômicas das industrias frigorificas. De acordo com a legislação brasileira, áreas de carcaças que apresentam formação de abcessos devem ser condenadas. Se houver contato com pus em outras partes ou até mesmo de carcaças próximas àquela acometida, tais partes deverão ser descartadas, semelhantemente ao destino dado aos abcessos. Todas as áreas acometidas com hematomas também devem ser descartadas (BRASIL, 1952). Paranhos da Costa; Toledo; Schimidek (2006) afirmam que a principal causa das reações vacinais e/ou medicamentosas está no manejo incorreto durante a vacinação. Os erros mais comuns são: má refrigeração das vacinas, erros na aplicação e reutilização de seringas e agulhas descartáveis. Os mesmos autores afirmam ainda que os materiais não descartáveis devem ser desinfetados e esterilizados após o uso. Sem esses cuidados no manejo, uma das reações indesejáveis é o aparecimento de nódulos no local de aplicação, que posteriormente, estas lesões aparecem na carcaça, sendo um dos fatores que influenciam na qualidade do produto final, tendo grandes eliminação de porções de carne no frigorífico (MORO; JUNQUEIRA; UMEHARA, 2001). França Filho et al., (2006) comentam que a verificação de altas perdas econômicas decorrentes da presença de abcessos nas carcaças bovinas, impõe a necessidade de refletir e aprimorar o manejo dos animais a serem vacinados e/ou submetidos a utilização de medicamentos. Assim, o objetivo deste trabalho foi quantificar reações vacinais e/ou medicamentosas em carcaças bovinas, assim como, apontar suas localizações nos cortes cárneos e quantidades totais de reações. Materiais e Métodos O experimento foi realizado em frigorifico com inspeção federal, localizado na cidade de Bagé/RS, durante o período de 08 de março e 1º de abril de 2016, a escolha do estabelecimento sucedeu-se pela importância que este representa na cadeia produtiva de carne do estado do Rio Grande do Sul e pela capacidade de abate de 750 animais por dia. Avaliou-se a presença de reações vacinais e/ou medicamentosas em 541 animais, sem distinção de idade, raça e sexo, oriundos de munícipios localizados na região da campanha/rs e de diferentes sistemas de terminação. Foram realizadas coletas e pesagens de porções cárneas extraídas de 1082 meias-carcaças, de acordo com a legislação em vigor. O local de coleta na sala de abate foi na linha de inspeção, após a avaliação dos miúdos. As lesões encontradas foram excisadas por um funcionário do frigorífico, que destina as partes coletadas em esteira com destino a graxaria. Nos dias de 3
coleta, as partes retiradas foram alocadas em sacos plásticos devidamente marcados, mantendo o padrão da cor para seguir o mesmo destino e, pesadas em porções quando ocorria um grande acúmulo de lesões extraídas. A posteriori, as amostras foram pesadas em balança de precisão estabelecida no SIF (Serviço de Inspeção Federal). O peso total da porção retirada foi anotado descontando o peso da embalagem. Cabe ressaltar que, de acordo com a legislação do frigorífico, é proibida a permanência no SIF, os animais descritos como Inspeção, são carcaças que apresentam alguma irregularidade, assim apreendidas, e não coletadas para o trabalho. Desde já, se sabe que os prejuízos são ainda maiores do que os apresentados. O cálculo de perdas econômicas baseou-se nos valores do preço da carne (dianteiro pendurado - R$8,20/kg) e rendimento em torno de R$11,00, fornecido pelo frigorífico em questão. Resultados e Discussões Das 541 carcaças avaliadas houve uma incidência de 66% de lesões restringidas na região do dianteiro. Destaca-se que em algumas carcaças foram encontradas mais de uma lesão, ou seja, dos 357 animais contundidos foram identificadas 405 reações vacinais e/ou medicamentosas (Tabela 1). Tabela 1. Perda em quilos por reações e total de animais lesionados nos lotes avaliados Data Nº Total Com RV Inspeção TT de RV Média TT Abate Lote Animais (kg) Kg/anim. Reações 08/03/2016 3 46 24 1 30,8 1,28 37 08/03/2016 5 24 10 2 8,1 0,81 11 08/03/2016 15 25 14 0 12 0,85 14 09/03/2016 2 25 24 1 26,5 1,1 40 09/03/2016 10 24 21 2 17 0,8 24 09/03/2016 12 21 20 1 22 1,1 24 09/03/2016 14 30 24 0 19,5 0,81 29 10/03/2016 15 23 16 1 26 1,62 16 10/03/2016 16 30 23 1 10 0,43 25 10/03/2016 17 25 6 2 4,4 0,73 7 15/03/2016 8 33 10 1 8 0,8 10 15/03/2016 9 30 24 2 37,2 1,55 25 15/03/2016 17 17 9 3 12 1,3 9 23/03/2016 5 30 25 5 35,2 1,4 25 23/03/2016 7 70 50 11 28,5 0,57 52 29/03/2016 3 14 4 1 4,3 1,07 4 29/03/2016 10 11 6 1 5,2 0,86 6 01/04/2016 1 27 19 0 46,1 2,4 19 4
01/04/2016 4 36 28 3 61,3 2,1 28 TOTAL 541 357 38 414,1 405 TT- Total; RV- Reações Vacinais Em estudo semelhante, Ravanelli et al. (2010), encontrou na região do Centro Oeste Paulista, no período de agosto a setembro, uma percentagem superior a encontrada neste trabalho, com número de animais com lesões chegando a 81,91%. O peso total de descarte foi de 414,1 Kg de carne proveniente de 405 partes desprezadas, que por sua vez, foram retiradas de 357 carcaças o que proporcionou uma média de 1,16Kg de lesão por animal. Esse resultado apresenta média superior de lesões por animal do que descrevem alguns autores. França Filho et al. (2006) em frigorifico localizado no estado de Goiás encontraram uma média de lesão de 0,213 kg/animal de lesões extraídas. Resende, Amato e Marchi (2008) em região de Barretos/SP acharam uma média de 0,287 Kg/animal de lesões, já Ravanelli et al. (2010) registraram uma média de 0,380Kg/animal de lesão. O preço em reais (R$) cotado no período do experimento estava em torno de R$11,00/kg a rendimento de carcaça. Com isso, os produtores obtiveram um prejuízo em torno de R$4.555,10. O mercado da carne perde, com o preço do dianteiro pendurado, em torno de R$ 3.395,62 para este tipo de comércio, sendo que pode ocorrer alterações no preço quando separado em cortes conforme a linha de produção. Ressalta-se que o prejuízo uma perda de R$ 6,27 por animal foi estipulada para 541 animais, totalizando de R$ 3.395,62. Tendo em vista que foram sete dias de avaliação, encontramos um prejuízo anual para a cadeia da carne em torno de R$177.057.32. Vale ressaltar que os valores apresentados foram encontrados durante o período de experimento, e o número de animais avaliados foi menor que a capacidade de diária do frigorífico, consequentemente a perda em quilos de carne por reações vacinais e/ou medicamentosas tende a ser superior, gerando prejuízos financeiros para o pecuarista e indústria superiores aos encontrados neste trabalho. Os locais mais atingidos na parte dianteira das carcaças, foram: pescoço (80,25%), costela (7,41%), paleta (6,91%), cupim (5,43%) (Tabela 2). Estes valores podem esta no inicio dos resultados. Supõe-se que a maior incidência de lesões localizadas na região do pescoço, é devido ao fato de que a aplicação da maioria das vacinas intramuscular e subcutânea é realizada nesta região. Paranhos da Costa; Toledo; Schimidek (2006), descrevem que qualquer tipo de manejo com os bovinos deve-se enfatizar a relação homem com animal positiva. A vacinação é uma ação necessária na criação animal, quer seja pela obrigatoriedade de leis que visam a prevenção ou erradicação de algumas doenças, quer para assegurar boas condições de saúde aos animais. A vacina contra Febre Aftosa, que pode ser aplicada subcutânea, onde local ideal de aplicação é a região compreendida atrás ou à frente da paleta, ou intramuscular que é 5
melhor aplicada em músculos da região glútea (garupa), e no músculo da tábua do pescoço (MADUREIRA, 1998). Tabela 2. Total de lesões e suas determinadas regiões no dianteiro. Região Nº lesões % Pescoço 325 80,25% Paleta 28 6,91% Cupim 22 5,43% Costela 30 7,41% Total 405 100,00% Esses resultados estão de acordo com os obtidos por França Filho et a. (2006), em estudo realizado em julho de 2002 no Estado de Goiás, revela que as lesões encontradas acometeram também a parte dianteira, porém as áreas mais afetadas foram: Acém/paleta (48%) e Pescoço com 24%. Rezende-Lago; Amato; Marchi (2008), mostram que Barretos/SP, no período de Setembro a Outubro, coletaram lesões que se restringiram também ao dianteiro das carcaças, e os locais de maior incidência foram: Cupim (80,12%) e Acém (15,6%). Mesmo que tenham encontrado valores distintos, em regiões diferentes, os autores acima descritos afirmam que o prejuízo econômico e na qualidade das carcaças provocado por reações é elevado, isso leva uma menor remuneração ao pecuarista. Para a indústria, reflete quando descaracterizam os cortes e impossibilitam a venda no varejo. Dessa forma, é de grande importância uma evolução nos manejos de vacinação para reduzir estes prejuízos, tanto para varejo como para o produtor. Conclusão Há uma elevada ocorrência de lesões por reação vacinal e/ou medicamentosa nas carcaças, assim como prejuízos econômicos. A constatação de elevadas perdas gera a necessidade de melhorias no manejo com os animais e de orientação técnica, afim de reduzir a frequência de lesões, e consequentemente, a depreciação da carcaça. Bibliografia ANUARIO DA PECUÁRIA BRASILEIRA ANUALPEC Pecuária de Corte (estatísticas). São Paulo: AgraFNP, 2010. BEER, J.; Doenças infecciosas em animais domésticos. São Paulo: Roca, 1999. 2V. BRASIL. Rebanho bovino brasileiro cresce e chega a 212,3 milhões de cabeças de gado. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/economia-e-emprego/2015/10/rebanho- 6
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