REAÇÕES INFLAMATÓRIAS EM CARCAÇAS BOVINAS E SUAS CONSEQUENTES PERDAS ECONÔMICAS

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1 PIBIC-UFU, CNPq & FAPEMIG Universidade Federal de Uberlândia Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação DIRETORIA DE PESQUISA REAÇÕES INFLAMATÓRIAS EM CARCAÇAS BOVINAS E SUAS CONSEQUENTES PERDAS ECONÔMICAS Luana Ribeiro Alves 1 Universidade Federal de Uberlândia, Av. Pará, 1720, CEP , Uberlândia MG. luana_ubr@hotmail.com Débora Natário Rodrigues 2 Frigorífico Real LTDA, Rodovia BR-050, Km 81, s/n, Zona Rural, CEP , Uberlândia-MG - debora_natario@yahoo.com.br Renata Barbosa Andrade 3 Universidade Federal de Uberlândia, Av. Pará, 1720, CEP , Uberlândia MG. renatavetbarbosa@yahoo.com.br Serly Lourenço Borges Reis 4 Universidade Federal de Uberlândia, Av. Pará, 1720, CEP , Uberlândia MG. serlybreis@uol.com.br Claudesina Rodrigues Leite 5 Universidade Federal de Uberlândia, Av. Pará, 1720, CEP , Uberlândia MG. claudesinarodrigues@uol.com.br Marcos Dias Moreira 6 Universidade Federal de Uberlândia, Av. Pará, 1720, CEP , Uberlândia MG. marcosdmlogos@yahoo.com.br Resumo: Com as exigências do mercado comprador de carnes, fez-se necessária a melhoria na qualidade dos insumos envolvidos na produção, destacando-se entre eles vacinas e medicamentos. Contudo, as reações inflamatórias oriundas da utilização desses produtos são causas de preocupação em decorrência das significativas perdas econômicas devido às condenações de tecido muscular das carcaças. Com bases nesses fatos se planejou realizar esta pesquisa que teve como objetivo fazer uma avaliação de reações inflamatórias surgidas a partir dos métodos de vacinação, quanto à localização, tipo de lesão e conseqüentes perdas econômicas em carcaças de bovinos do Triângulo Mineiro. Foram apresentados os dados coletados e as análises da pesquisa de campo. O estudo aponta a necessidade de cuidados na forma de aplicação desses insumos com o intuito de diminuir a ocorrência de lesões e a inevitável depreciação estética e econômica da carcaça. Palavra-chave: Bovinos, reações inflamatórias, conseqüências. 1. INTRODUÇÃO O controle sanitário é possível a partir da adoção de medidas preventivas para se evitar uma 1, 4 e 5 - Acadêmica do Programa de Pós Graduação em Ciências Veterinárias da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). 2- Médica Veterinária de um Matadouro-Frigorífico da cidade de Uberlândia. 3- Acadêmica do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). 6-Docente do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). 1

2 série de enfermidades que acometem os animais, e neste caso específico, os ruminantes. Entre essas medidas, a imunoprofilaxia a partir da vacinação dos animais permite o controle eficiente de muitas enfermidades. Em muitas situações algumas doenças são prevenidas pela transferência de imunoglobulinas pelo colostro, pois nos ruminantes não há passagem de anticorpos pela placenta. (MADUREIRA, 1998). Todavia, a prática de vacinação em massa, principalmente de bovinos, tem levado ao aparecimento de abscessos nos locais de aplicação, devido ao fato de que a troca de agulhas e a antissepsia do local de aplicação representam, muitas vezes, um transtorno no rendimento do processo. Isso ocorre com maior freqüência em rebanhos de gado de corte. De acordo com Luchiari Filho (2001) são várias as práticas incorretas na utilização de medicamentos ou vacinas impróprias, aplicação dos mesmos em local inadequado, quebra da agulha dentro do músculo, marcas à fogo em local indevido, contusões durante o manejo dos animais. Um problema que tem aumentado muito e ocasionado grandes prejuízos econômicos e à imagem do produto é a presença de reações à vacinas e medicamentos. Desenvolvidos para garantir a saúde dos animais e indiretamente do ser humano, vacinas e medicamentos, se utilizados de forma adequada, são uma garantia para o pecuarista de que está enviando para consumo um produto dentro dos padrões. Quando utilizados de forma inadequada, podem representar um problema a mais. As vacinas, com tecnologia mais eficiente para a prevenção e controle de determinadas doenças, são antígenos de várias categorias, capazes de estimular, no organismo que os recebe, um estado de resistência parcial ou total contra uma determinada infecção. As lesões causadas pela aplicação indevida de vacinas e medicamentos, além de acarretar um sério problema de qualidade na carne bovina, também representam custos de mão-de-obra, necessária para realizar as aparas da região afetada e o custo da perda de tecidos (carne). (LUCHIARI FILHO, 2001). Alguns fatores devem ser observados para que a eficiência de imunização das vacinas não seja prejudicada. Esses fatores estão diretamente relacionados com o transporte, conservação, manuseio das vacinas e execução da vacinação, após a aquisição das mesmas no comércio especializado. Segundo Madureira (1998) algumas práticas devem ser adotadas e obedecidas para viabilizar a proteção ideal do rebanho: Ao adquirir a vacina deve-se verificar os frascos, cujos rótulos devem conter o número de partida, data de fabricação e prazo de validade; Transportar e manter a vacina de acordo com as exigências do laboratório fabricante; Para a conservação da vacina em geladeira, a temperatura ideal está entre 2ºC e 8ºC. Não se pode congelar as vacinas; As seringas e agulhas devem ser esterilizadas (fervidas). O uso de desinfetantes para esterilizar as agulhas é proibido, porque os resíduos podem inativar a vacina; As vias de administração e doses devem ser obedecidas conforme recomendação do laboratório fabricante; O frasco deve ser agitado sempre que a seringa for reabastecida; Diferentes produtos nunca devem ser combinados, a não ser que as vacinas sejam embaladas para serem misturadas subseqüentemente; Não vacinar animais debilitados ou submetidos a atividades desgastantes: viagens prolongadas, trabalho de parto, etc.; isopor; esterilizada (fervida); Não utilizar vacinas de frascos já abertos e com sobra de produto; Após abastecer a seringa, recoloque o frasco da vacina no gelo e tampe a caixa de Após vacinar cada grupo de dez animais, substituir a agulha por outra limpa e 2

3 Não vacinar nas horas muito quentes do dia e, após a vacinação, evitar movimentar os animais pelo menos durante uma ou duas horas; Para facilitar o manejo, pode-se utilizar mais de uma vacina na mesma ocasião; A vacina contra brucelose é perigosa para quem a aplica. Portanto, deve ser administrada com a assistência de um médico veterinário ou com os devidos cuidados na sua manipulação; Obedecer o prazo de carência estabelecido para as vacinas, conforme laboratório fabricante, evitando consumo da carne e leite; O controle escrito da vacinação executada deve ser feito, registrando-se os animais vacinados, a data de vacinação, o número de partida, o laboratório e a validade da vacina; Os frascos vazios devem ser incinerados. Essas medidas, cuja natureza visa o padrão de qualidade higiênico-sanitária e boas práticas de manejo, são imprescindíveis para a prevenção de diversas enfermidades. Torna-se evidente a importância, cada vez maior, dos programas de controle de qualidade executados pelos próprios estabelecimentos de carnes e derivados, elaborados com base em rigorosas normas de qualidade inerentes ao processo produtivo. (FRANÇA FILHO, et al, 2006). A vacinação é uma ação necessária na criação animal, quer seja pela obrigatoriedade das leis que visem à erradicação de doenças ou para assegurar boas condições de saúde aos animais (Paranhos da Costa et al, 2006). Todavia, o procedimento de vacinação deve ser realizado de forma racional, de modo que o impacto negativo do manejo não seja tão acentuado para os animais. Sendo assim, a adoção do manejo racional na vacinação proporciona benefícios econômicos diretos, com aumento na produtividade e redução das perdas econômicas. Segundo Aires et al., com as exigências do mercado comprador, fez-se necessária a melhoria na qualidade dos insumos envolvidos na produção, destacando-se entre eles as vacinas e medicamentos, associado a um severo rigor na produção e manipulação destes insumos. Contudo, ainda hoje, as reações inflamatórias oriundas da utilização desses produtos são causas de preocupação em decorrência das significativas perdas econômicas devido às condenações de tecido muscular das carcaças. Com base nas explanações realizadas acima, este estudo tem como tema as reações inflamatórias em carcaças de bovinos. Para tanto, o objetivo geral foi analisar as referidas reações inflamatórias em carcaças de bovinos abatidos em um frigorífico do Triângulo Mineiro. Os objetivos específicos foram identificar a localização das lesões, discorrer sobre o tipo de lesão e as perdas econômicas que podem surgir. METODOLOGIA A pesquisa foi realizada em 251 carcaças bovinas de novilhas azebuadas, procedentes de propriedades rurais da região do Triângulo Mineiro e abatidas em frigorífico sob inspeção oficial no município de Uberlândia-MG. As avaliações ocorreram durante o mês de setembro de As coletas das lesões provocadas pelas vacinas e/ou medicamentos foram nas linhas de inspeção H e I (inspeção caudal, interna e externa da carcaça; inspeção cranial, interna e externa da carcaça, respectivamente). As lesões extraídas foram acondicionadas em sacos plásticos, identificados e pesados em balança industrial, com capacidade de 0,05 gramas a 15 quilogramas e o valor da arroba estava em R$ 74,90 em 03/11/2008. Para coleta e armazenamento dos dados elaborou-se uma planilha própria contendo os pesos, localização e tipo das lesões; pesos das carcaças com ou sem reação e a origem dos lotes de animais. A análise foi estatística descritiva com base no cálculo da média, desvio padrão e coeficiente de variação. Aplicou-se o teste T de Student, com significância de 5%, para a comparação do peso médio das carcaças com e sem reação. A análise de variância em delineamento inteiramente 3

4 casualizado verificou as diferenças entre locais e tipos de lesões. Aplicou-se o teste de Scotch-Knott para mostrar as diferenças detectadas na análise de variância. Para todos os casos utilizou-se a significância de 5%. Realizou-se as estatísticas no programa SISVAR (FERREIRA, 2000). RESULTADOS E DISCUSSÃO O trabalho foi realizado no mês de setembro/2008, sendo observadas 251 carcaças que apresentaram os resultados a seguir: Tabela 1: Comparação do peso médio/carcaça, desvio padrão, coeficiente de variação, média de perda /lesão, perda econômica/animal em carcaças de bovinos da região do Triângulo Mineiro, Reações Média Peso/Carcaça (kg) Desvio Padrão Coeficiente de variação Média Peso/Lesão (kg) Perda Econômica (Animal) Sem 188,31 46,12 24, Com 179,54 30,28 16,82 0,516 R$ 2,57 Fonte: Pesquisa de campo (2008) Os locais com maior freqüência de lesões foram o pescoço (62,5%), paleta (14,0%) e contrafilé (5,7%). Outros locais somaram juntos 17,8% (costela, cupim, entrecorte e ponta de agulha). Tabela 2 - Localização das lesões e perda relativa por carcaça bovina. LOCALIZAÇÃO CONTRAFILÉ COSTELA CUPIM ENTRECORTE PALETA PALETA/CONTRAFILÉ PALETA/COSTELA PESCOÇO PESCOÇO/COSTELA PESCOÇO/CUPIM PESCOÇO/ENTRECORTE PESCOÇO/PALETA PESCOÇO/PALETA/CONTRAFILÉ PESCOÇO/PALETA/COSTELA/CUPIM PESCOÇO/PONTA DE AGULHA PONTA DE AGULHA PESCOÇO/PREGAANOCAUDAL PERDAS MÉDIAS RELATIVAS (Kg) 0, a 0, a 0, a 0, a 0, a 0, a 0, a 0, a 0, a 0, a 0, a 0, a 0, a 0, a 0, a 0, a 0, b Fonte: Pesquisa de campo (2008) *a; b; letras diferentes na mesma coluna representam médias estatisticamente diferentes, com p>0,05. 4

5 Tabela 3: Tipos de processos inflamatórios e médias de perda peso/carcaça bovina e perda relativa/carcaça. TIPO MÉDIAS PERDA/CARCAÇA (Kg) PERDA RELATIVA (Kg) GRANULOMA 0,389 a 0,0021 a ABSCESSO b 0,0038 b GRANULOMA/ABSCESSO 0,697 b 0,0040 b Fonte: Pesquisa de campo (2008) *a; b; letras diferentes na mesma coluna significam médias estatisticamente diferentes, com p>0,05. Das 251 carcaças, 59 (23,50%) não apresentaram reações vacinais e as carcaças tinham peso médio de 188,31Kg. Já 192 (76,50%) apresentaram reações e o peso médio das carcaças foi de 179,54Kg, conforme mostrado na Tabela 1. Verifica-se que a média de perda das porções musculares lesionadas e coletadas nas linhas de inspeção foi de 0,516Kg, com custo de R$ 2,57 por animal (Tabela 1). Os achados de lesões limitaram-se à região do pescoço (62,50%), paleta (14,0%) e contrafilé (5,70%) e a perda média de peso relativa a cada carcaça foi de 0,0029Kg (Tabela 2). De acordo com a Tabela 3, os abscessos e o conjunto granuloma/abscesso representaram as maiores perdas (retiradas) por tipo de processo inflamatório, com 0,697Kg de perda por carcaça. CONCLUSÃO A identificação de número elevado de reações à vacinas decorrentes da presença de abscesso na musculatura dos bovinos pesquisados, aponta a profunda necessidade de se refletir sobre o manejo dos animais a serem submetidos a tratamentos à base de medicamentos químicos, bem como a forma de aplicação desses insumos visando a diminuição da ocorrência de lesões e a inevitável depreciação estética e econômica da carcaça. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AIRES, G. S. B.; LILLI, F. P. O.; PRIETO NETO, A. Levantamento das perdas econômicas por abscesso vacinais e/ou medicamentosos em carcaças de bovinos abatidos no matadouro municipal de Espírito Santo do Pinhal SP. Disponível em < VETERIN%C3%81RIA/60-%20Reacoes%20vacinais%20-%20georgiana.pdf> Acesso em 03 set FERREIRA, D. F. Análises estatísticas por meio do Sisvar para Windows versão 4.0. In... 45ª Reunião Anual da Região Brasileira da Sociedade Internacional de Biometria. UFSCar, São Carlos, Anais..., p , FRANÇA FILHO, ALBERTO TEIXEIRA, et al. Perdas econômicas por abcessos vacinais e/ou medicamentosos em carcaças de bovinos abatidos no estado de Goiás. Ciência Animal Brasileira. Goiânia, v. 7, n. 1, p , jan./mar LUCHIARI FILHO, A. A hora veterinária. Problemas advindos do uso incorreto de tecnologias de produção Disponível em:< Acesso em 15, março, MADUREIRA, L. D. Vacine corretamente e garanta a saúde do seu rebanho. Embrapa Gado de Corte. Campo Grande, MS, jul. nº 30, PARANHOS DA COSTA, M. J. R.; TOLEDO, L. M. de.; SCHMIDEK, A.Boas Práticas de Manejo, Vacinação. Jaboticabal: Funep,

6 INFLAMMATORY REACTIONS IN BOVINE CARCASSES AND CONSEQUENTIAL ECONOMIC DAMAGE Luana Ribeiro Alves Federal University of Uberlandia, Av Pará 1720, CEP , Uberlandia - MG. luana_ubr@hotmail.com Debora Natario Rodrigues Real Refrigerator LTDA, Righway BR-050, Km 81, s/n, Rural Area, CEP , Uberlândia-MG - debora_natario@yahoo.com.br Renata Barbosa Andrade Federal University of Uberlandia, Av Para 1720, CEP , Uberlandia - MG. renatavetbarbosa@yahoo.com.br Serly Lourenço Borges Reis Federal University of Uberlandia, Av Para 1720, CEP , Uberlandia - MG. serlybreis@uol.com.br Claudesina Rodrigues Leite Federal University of Uberlandia, Av Para 1720, CEP , Uberlandia - MG. claudesinarodrigues@uol.com.br Marcos Dias Moreira Federal University of Uberlandia, Av Para 1720, CEP , Uberlandia - MG. marcosdmlogos@yahoo.com.br Summary: With the demands of the market buyer of meat, it was necessary to improve the quality of inputs involved in production, especially including vaccines and medicines. However, inflammatory reactions arising from use of these products are causes for concern due to the significant economic losses due to convictions of flesh of carcasses. With bases in these facts is planned that this research aimed to evaluate inflammatory reactions arising from the methods of vaccination on the location, type of injury and consequent economic losses in cattle carcasses Triangulo Mineiro. Were presented the data collected and the analysis of field research. The study indicates the need for care in the form of application of these inputs in order to reduce the occurrence of injuries and the inevitable depreciation of aesthetic and economic housing. Keyword: Cattle, inflammatory reactions, consequences. 6