Suponhamos que f é uma função que pode ser representada por uma série trigonométrica da forma. ) + B nsen( 2nπx )]. (2)

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Transcrição:

Séries de Fourier Os fenómenos periódicos aparecem nas mais variadas situações: ondas de som, movimento da erra, batimento cardíaco,... Frequentemente uma função periódica pode ser representada por meio de funções periódicas simples, nomeadamente, cosseno e seno, sob a forma de uma série chamada série de Fourier da função. Suponhamos que f é uma função que pode ser representada por uma série trigonométrica da forma A + [A n cos( 2nπx ) + B nsen( 2nπx )]. (1) A série (1) tem período. Assim sempre que a série (1) representa uma função, representa uma função periódica com período, isto é, a função deve satisfazer f(x + ) = f(x). Precisemos a definição de função periódica. Se existe uma constante positiva tal que então f diz-se periódica, com período. f(x + ) = f(x), x IR Exemplo 1: A função senx é periódica com período 2π uma vez que sen(x + 2π) = senx, x IR. Exemplo 2: A função sen(nπx/), n IN, > é periódica com período 2/n, pois sen( nπ (x + 2 n )) = sen(nπx + nπ2 n ) = sen(nπx + 2π) = sen(nπx ). Note que se f é periódica com período, então é também periódica com período 2, 3, 4,.... Por exemplo, f(x + 2 ) = f((x + ) + ) = f(x + ) = f(x), x IR O menor real positivo que torna verdadeira a igualdade anterior é chamado período fundamental. Vamos determinar agora os coeficentes A n, B n em (1). Suponhamos que a série (1) representa uma dada função f(x), x IR, periódica, de período. emos então que A + [A n cos( 2nπx ) + B nsen( 2nπx )]. (2) 1

Seja uma constante. Integrando ambos os termos de (2) entre e + e admitindo que comuta com +, obtém-se xo + ( xo + xo + f(x)dx = A dx+ A n cos( 2nπx xo )dx + B + n sen( 2nπx ) )dx, ou ainda uma vez que De (3) vem xo + xo+ f(x)dx = A, (3) cos( 2nπx xo+ )dx = sen( 2nπx )dx = A = 1 xo + f(x)dx. (4) Seja m um inteiro positivo. Multiplicando ambos os membros de (2) por cos( 2mπx ), integrando em seguida entre e + e supondo uma vez mais que comuta com + xo +, vem f(x) cos( 2mπx xo )dx = A + Atendendo a que xo + e xo + a igualdade (5) reduz-se a sen( 2nπx +B n xo + cos( 2mπx ( )dx + xo + A n ) sen( 2nπx ) cos(2mπx )dx ) cos(2mπx )dx =, n = 1, 2, 3,... cos( 2nπx {, se n m ) cos(2mπx )dx = /2, se n = m, cos( 2nπx ) cos(2mπx )dx. (5) De (6), obtém-se xo + f(x) cos( mπx )dx = A m(/2). (6) A m = 2 xo+ f(x) cos( 2mπx )dx, m = 1, 2, 3,... (7) Por meio de um raciocínio análogo, mas multiplicando por sen( 2mπx ) ambos os membros de (2) e integrando em seguida, obtém-se B m = 2 xo + f(x)sen( 2mπx )dx, m = 1, 2, 3,... (8) A série (1) diz-se a série de Fourier de f e os coeficientes A, A n, B n, n = 1, 2,..., dados por (4), (7) e (8) dizem-se coeficientes de Fourier de f. 2

Exemplo 3: Determinar a série de Fourier da função definida no intervalo [-1,1] por, {, x < 1, x 1. Esta função pode ser encarada como uma restrição de uma função periódica, definida em todo o IR, de período 2. Os coeficientes de Fourier são dados por A n = 2 2 B n = 2 2 A = f(x)dx = f(x) cos(nπx)dx = f(x)sen(nπx)dx = ()dx + (1)dx = + 1 =, ( cos(nπx))dx+ ( sen(nπx))dx + cos(nπx)dx =, n = 1, 2, 3,... sen(nπx)dx = 1 nπ [cos(nπx)] 1 nπ [cos(nπx)]1 = 2 (1 cos(nπ)), n = 1, 2, 3,.... nπ emos então que a série de Fourier da função f é dada por 2 (1 cos(nπ))sen(nπx). nπ Em (2) suposemos que uma dada função era representada por uma série de Fourier. Sob quais circunstâncias uma função é igual à sua série de Fourier? Para dar resposta a esta questão, vamos precisar da definição de função seccionalmente contínua. Uma função f(x) diz-se seccionalmente contínua no intervalo ], [, se f(x) está definida em ], [ excepto possivelmente num número finito de pontos x 1, x 2, x 3,..., x n com < x 1 < x 2 <... < x n <, f(x) é contínua em cada sub-intervalo ], x 1 [, ]x 1, x 2 [,..., ]x n, x n [, ]x n, [, existem os limites de f(x) à esquerda e à direita em cada ponto x j, j = 1,..., n e também os limites de f(x) à esquerda de e à direita de. Os limites à direita e à esquerda de um ponto x são definidos respectivamente por f(x +) = lim f(x + h) e f(x ) = lim f(x + h) h + h Exemplo 4: Considere a função x, x < 1, 1 x 2 1, 2 < x < 3, x = 3 Apesar de f ser descontínua nos pontos x = 1 e x = 2 no intervalo < x < 3, ela é seccionalmente contínua nesse intervalo. Isto acontece porque os limites à esquerda 3

e à direita existem em cada um dos pontos extremos dos três sub-intervalos abertos onde f é contínua. Por exemplo f(1 ) = 1 e f(1+) =. Exemplo 5: A função 1 x, no intervalo < x < 1 é contínua mas não é seccionalmente contínua porque f(+) não existe. eorema: Seja f(x) uma função periódica e que em cada intervalo limitado é seccionalmente contínua e tem apenas um número finito de extremos locais. Então a série de Fourier de f converge, em cada ponto x, para a média dos limites laterais no ponto x. Note que se f(x) é contínua em x, tem-se f(x +) = f(x ) = f(x ) e portanto, f(x ) = f(x ) + f(x+ ). 2 Seja F uma extensão de f a todo o IR tal que F é periódica de período 2, isto é, a função F coincide com a função f no intervalo ], [ e o seu gráfico é repetido cada 2 unidades ao longo do eixo dos xx. A função F é dita uma extensão periódica de f, com período 2. Assim, dizer que a série de Fourier converge para f(x) no intervalo < x < significa também que a série de Fourier converge para uma extensão periódica de f, com período 2. Do teorema anterior obtemos então de imediato que: Seja f(x) uma função seccionalmente contínua num intervalo ], [, onde tem apenas um número finito de extremos locais. Então a série de Fourier de f, dada por A + [A n cos( nπx ) + B nsen( nπx )], (9) onde A = 1 2 f(x)dx A n = 1 B n = 1 nπx f(x) cos( )dx, n = 1, 2, 3,... nπx f(x)sen( )dx, n = 1, 2, 3,..., converge em cada ponto x ], [ para 1 2 [f(x ) + f(x +)]. A série de Fourier de f(x) no intervalo [, ] converge, nos pontos e, para o mesmo valor. Com efeito, fazendo x = ou x = em (2), obtém-se o mesmo resultado a 2 + a n cos(nπ). Exemplo 6: Estude a convergência da série de Fourier da função f(x) no intervalo 4

[ 3, 3], 1, 3 x < x, x x 2, < x 2 x + 6, 2 < x 3 Devido à continuidade de f, em cada intervalo aberto, para cada x pertencente a esses intervalos a série converge para f(x ). Nos extremos temos respectivamente o seguinte: x = 3 converge para 5 x = converge para 1 x = converge para x = 2 converge para 6 x = 3 converge para 5 Exemplo 7: Consideremos a série de Fourier da função f(x) definida no intervalo fundamental π < x < π, {, π < x x, x < π O gráfico da função f é o indicado na figura da esquerda. f(x) F (x) π π x 3π 2π π Figure 1: Representações gráficas de f e F π 2π 3π x A série de Fourier converge para f(x) no intervalo fundamental, assim como a extensão periódica F (x), indicada na figura da direita. A série deve convergir para o valor médio dos extremos dos intervalos da extensão periódica em cada uma das extremidades x = ±π, ±3π, ±5π,.... Aqui o valor médio é π/2, como está assinalado na figura. Observemos que se g(x) é uma função par em [, ], isto é, g( x) = g(x), x [, ], então g(x)dx = 2 g(x)dx Se g(x) é uma função ímpar em [, ], isto é, g( x) = g(x), x [, ], então g(x)dx =. O produto de duas funções pares ou de duas funcões ímpares é uma função par, enquanto que o produto de uma função par por uma ímpar é uma função ímpar. 5

Se uma função f(x) é impar em [, ] então A n = B n = 2 Justifique. Se uma função f(x) é par em [, ] então f(x)sen( nπx )dx Justifique. B n = A n = 2 f(x) cos( nπx )dx Se f(x) é uma função par então a sua série de Fourier é dada por com A + A n cos( nπx ), (1) A = 1 f(x)dx A n = 2 nπx f(x) cos( )dx (11) A série (1) é chamada a série de Fourier de cossenos. Se f(x) é uma função ímpar então a sua série de Fourier é dada por com B n = 2 A série (12) é chamada a série de Fourier de senos. B n sen( nπx ), (12) nπx f(x)sen( )dx (13) Seja agora uma função real f(t), t [, ] (14) limitada e com um número finito de extremos locais e de descontinuidades (todas de primeira espécie). Considerando a sua extensão par ao intervalo [, ], obtemos o desenvolvimento em série de cossenos da função (14) como dado por (1) e (11). Analogamente, considerando a extensão ímpar da funcão (14) a [, ], obtemos o desenvolvimento em série de senos como em (12) e (13). (Qual será o valor dessa série no ponto t =? Em que pontos t do intervalo [, ] é que a soma da série é dada por f(t)?) 6