Trata-se de Ação de Cobrança ajuizada por J.H.C.P. em face de Bradesco Vida e Previdência S/A.



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Transcrição:

Processo : 2010.01.1.153223-8 Ação : COBRANCA Requerente : J.H.C.P. Requerido : BRADESCO VIDA E PREVIDENCIA SA Sentença 1. Relatório Trata-se de Ação de Cobrança ajuizada por J.H.C.P. em face de Bradesco Vida e Previdência S/A. Em suas razões iniciais (fls. 02/07), aduz o autor, em síntese, que: a) em razão da incapacidade física definitiva para o serviço militar, quando ainda na ativa, contratou um seguro de vida em grupo de militares; b) na vigência da apólice o requerente veio a desenvolver doença grave e crônica, qual seja, transtornos nos discos interverterbrais; c) depois de obter sucessivas licenças para tratamento de saúde, foi julgado incapaz definitivamente para o serviço do Exército e reformado em 20/09/2009; d) moveu ação de cobrança contra a requerida pretendendo receber a indenização devida em razão de incapacidade por acidente, que tramitou em MG; d) contudo, tendo realizado perícia médica judicial, entendeu o expert que a incapacidade era decorrente de doença e, em razão disso, o pedido foi julgado improcedente, tendo o E. TJMG mantido a sentença; e) a apólice prevê a cobertura para invalidez por doença e, por fim, que f) é devida ao autor a indenização securitária, uma vez que o sinistro ocorreu na vigência da apólice. Ante o exposto, requer seja a ré condenada a pagar uma indenização no valor de R$ 52.427,40. Com a inicial vieram os documentos de fls. 08/56. Contestação às fls. 72/81, alegando, preliminarmente, a existência de coisa julgada, bem como a incidência da prescrição. No mérito, sustenta que a indenização securitária só deve ser paga quando o segurado não puder realizar qualquer atividade com autonomia, o que não se comprovou nos autos. Réplica do autor às fls. 160/178. Decisão proferida por este Juízo às fls. 196 deferindo a produção de prova pericial. Laudo pericial juntado às fls. 239/245. Às fls. 254/262 e 265/268, ambas as partes se manifestaram a respeito do laudo pericial. Em síntese é o relatório. 2. Fundamentação

2.1 - Preliminar - Coisa Julgada Em sede de contestação, a requerida suscita, preliminarmente, a existência de coisa julgada. Para tanto, afirma que a questão já foi decidida na ação interposta perante a Comarca de Uberaba/MG. Narra que, apesar do autor ter ajuizado a ação objetivando a cobertura por invalidez permanente por acidente, na apelação o autor formulou pedido referente à indenização por invalidez permanente total por doença, tendo o E. TJMG se manifestado a respeito, razão pela qual há que se reconhecer a ocorrência de coisa julgada. Contudo, após analisar com detença os autos, mais precisamente as principais peças do processo ajuizado anteriormente na comarca de Uberaba/MG (processo nº 701.07.201.601-0), ou seja, a petição inicial (fls. 14/24), sentença (fls. 32/35), apelação (fls. 116/154) e acórdão (fls. 36/43), constato que não há identidade em relação ao pedido e à causa de pedir entre as ações, razão pela qual não há como se reconhecer a existência de coisa julgada. Como é cediço, para a caracterização do instituto da coisa julgada deve haver a conjugação dos três elementos da ação, quais sejam, mesmas partes, mesmo pedido e mesma causa de pedir (art. 301, 1º e 2º, do CPC). In casu, verifico que o objeto da primeira demanda era o recebimento de indenização de valor de seguro decorrente de invalidez permanente em razão de acidente. De outra plana, no presente processo, o que se discute é o eventual direito do autor em receber a indenização de seguro decorrente de invalidez em razão de doença. Logo, tanto o pedido quanto a causa de pedir são diferentes se comparados ambos os processos, não havendo que se falar em incidência de coisa julgada. Ressalto, por fim, que o fato do autor ter suscitado, em sede de apelação, eventual direito à indenização decorrente da doença (fls. 141), por si só, não altera o entendimento supracitado, seja porque tal questão não foi sequer levantada na petição inicial, seja porque não houve manifestação do E. TJMG a respeito dessa matéria, inexistindo, portanto, qualquer manifestação jurisdicional nesse aspecto. Portanto, rejeito a preliminar suscitada. 2.2 - Prescrição Sustenta a requerida, ainda, a existência de prescrição. Para tanto, afirma que o autor teve ciência inequívoca de sua incapacidade em 30/01/2007 e que somente em 20/08/2010, ou seja, três anos depois de sua ciência inequívoca, ajuizou a presente ação, ultrapassando o prazo de um ano previsto no art. 206, 1º, II, do CC.

De fato, o prazo prescricional para pretensão de cobrança de cobertura securitária é de 01 (um) ano, de acordo com o artigo 206, 1º, inciso II, alínea 'b', do Código Civil, e o termo inicial do prazo deve ser computado a partir da ciência inequívoca da incapacidade laboral, nos termos da Súmula 278 do colendo STJ. Contudo, in casu, o que se pretende na presente ação é a indenização por invalide z permanente decorrente de doença que, segundo previsão expressa no contrato, somente pode ser exigida no momento de concessão da reforma. Logo, diferente da situação em que se pleiteia a indenização em decorrência de acidente, no caso vertente a causa é a doença que gera incapacidade total para a recondução de suas funções, que se dá somente com a reforma do segurado, ou seja, o segurado somente tem ciência inequívoca de sua incapacidade no momento de sua reforma. Esse é o entendimento do E. TJDFT, senão vejamos: "CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE COBRANÇA. SEGURO DE VIDA EM GRUPO. INCAPACIDADE PERMANENTE PARA O SERVIÇO MILITAR. PRESCRIÇÃO. INOCORRÊNCIA. INDENIZAÇÃO SECURITÁRIA DEVIDA. DANOS MORAIS. INOCORRÊNCIA. SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA. CARACTERIZAÇÃO. 1. O prazo prescricional, previsto no artigo 206, 1º, inciso II, alínea "b", do Código Civil, deve ser contado a partir da data da ciência inequívoca do segurado a respeito do fato gerador, que, no caso, se deu com a concessão da reforma por invalidez. 2. O requerimento administrativo de pagamento da indenização securitária configura causa interruptiva do prazo prescricional, que permanece suspenso até que o segurado tenha ciência do indeferimento do seu pleito pela seguradora. 3. A invalidez total e permanente, para fins de cobertura securitária, deve ter como parâmetro a atividade habitual desenvolvida pelo segurado. 4. Diante da inequívoca demonstração de incapacidade total do autor para o exercício de sua atividade laboral habitual no Exército, decorrente de acometimento de doença grave, mostra-se cabível a indenização securitária prevista em apólice coletiva de seguro de vida. 5. Consoante entendimento jurisprudencial, a mera inadimplência contratual não gera direito a indenização por danos morais. 6. Restando caracterizada a sucumbência recíproca é impositiva a observância da regra inserta no artigo 21, caput, do Código de Processo Civil. 7. Recursos conhecidos e não providos. (Acórdão n.645006, 20080111425942APC, Relator: NÍDIA CORRÊA LIMA, Revisor: GETÚLIO DE MORAES OLIVEIRA, 3ª Turma Cível, Data de Julgamento: 09/01/2013, Publicado no DJE: 14/01/2013. Pág.: 103)." Em assim sendo, constata-se que a pretensão deduzida na presente ação não está atingida pela prescrição, uma vez que a reforma do autor se deu no dia 20/08/2009 (cópia do Diário da União juntado às fls. 53) e a presente ação foi ajuizada em 20/08/2010, ou seja, no último dia do prazo. Por conseguinte, rejeito a prejudicial argüida. 2.3 - Mérito

Como relatado, trata-se de ação de cobrança de indenização de seguro em decorrência da incapacidade definitiva para o serviço militar. Alega o autor que aderiu ao Plano de Seguro "FAM MILITAR", tendo sido julgado incapaz definitivamente para o serviço militar e reformado, razão pela qual sustenta que faz jus à indenização por invalidez permanente decorrente de doença (fls. 04/05). Em resposta, a requerida sustenta, em síntese, que "a indenização securitária, nesse caso, só deve ser paga quando o segurado não puder realizar qualquer atividade com autonomia, ou seja, na hipótese de ele se encontrar em estado que não possa desempenhar tarefas de forma independente, e ainda, quando não há mais a possibilidade de reabilitação com recursos terapêuticos, o que não se comprovou no presente caso" (fls. 78). Após analisar com detença os autos, tenho que assiste razão ao autor. De plano, há que se salientar que incidem ao caso vertente as normas previstas no Código de Defesa do Consumidor, eis que os contratos de seguro estão sujeitos ao CDC. Nesse diapasão, deve-se interpretar o contrato de seguro firmado entre as partes de acordo com a orientação prevista no art. 47, do CDC, que aponta para a necessidade da interpretação das cláusulas contratuais, da forma mais favorável ao consumidor. Esse é o entendimento do E. TJDFT, senão vejamos: "CIVIL E PROCESSUAL. SEGURO DE VIDA E ACIDENTES PESSOAIS. PRESCRIÇÃO. PROPOSITURA DE AÇAO DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS. INTERRUPÇÃO DO LAPSO PRESCRICIONAL. LER/DORT. INVALIDEZ PERMANENTE. ACIDENTE DE TRABALHO. VALOR DA COBERTURA. (...) A relação entabulada entre seguradora e segurado configura autêntica relação de consumo, submetendo-se às regras protetivas do Código de Defesa do Consumidor, por expressa previsão do art. 3º, 2º daquele texto legal. Nesse mesmo diapasão, "as cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor" nos termos do art. 47 do CDC. (...). Apelo conhecido e não provido. (Acórdão n. 541075, 20070110051694APC, Relator ANA MARIA DUARTE AMARANTE BRITO, 6ª Turma Cível, julgado em 10/10/2011, DJ 20/10/2011 p. 182) (grifo nosso)." Partindo dessa premissa, passo a analisar o contrato em específico firmado entre as partes. Compulsando os autos, constata-se que o autor é beneficiário do seguro coletivo de pessoas, firmado entre a Fundação Habitacional do Exército e a seguradora ré, cujo contrato prevê a indenização no caso de inv alidez funcional permanente total por doença, conforme se extrai às fls. 82/92. Eis o teor da referida cláusula (fls. 86):

"Invalidez Funcional Permanente Total por Doença - Garante o pagamento de indenização em caso de invalidez funcional permanente total, conseqüente de doença, que cause a perda da existência independente do segurado. É considerada perda da existência independente do segurado a ocorrência de quadro clínico incapacitante que inviabilize de forma irreversível o pleno exercício das relações autônomas do segurado, comprovado na forma definida nas Cláusulas de cobertura de Invalidez Funcional Permanente Total por Doença, parte integrante desta proposta. O capital segurado desta cobertura corresponde a 100% (cem por cento) daquele previsto na cobertura de referência mencionada nesta proposta." Não obstante conste da cláusula que a indenização será devida apenas no case de "perda da existência independente do segurado", a interpretação sustentada pela requerida, no sentido de que a incapacidade se refere ao exercício de toda e qualquer atividade profissional, deve ser afastada, como forma de proteger o consumidor que aderiu o seguro de vida em grupo. Conclui-se que a cobertura avençada por meio do contrato de seguro coletivo de pessoas destinara-se a resguardar o autor de incapacidade para o exercício das atividades profissionais que exercitava no momento da contratação, e não de atividades aleatórias que eventualmente possa a vir a desempenhar. O E. TJDFT vem entendendo reiteradas vezes que a incapacidade permanente deve ser aferida em relação às atribuições da profissão exercida pelo segurado, ou seja, se o seguro de vida em grupo é oferecido a militares, deve-se, pois, ser considerada a sua incapacidade para o serviço militar. Por oportuno, transcrevo alguns julgados nesse sentido: "INOCORRÊNCIA. INDENIZAÇÃO SECURITÁRIA DEVIDA. DANOS MORAIS. INOCORRÊNCIA. SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA. CARACTERIZAÇÃO. (...) 3. A invalidez total e permanente, para fins de cobertura securitária, deve ter como parâmetro a atividade habitual desenvolvida pelo segurado. 4. Diante da inequívoca demonstração de incapacidade total do autor para o exercício de sua atividade laboral habitual no Exército, decorrente de acometimento de doença grave, mostra-se cabível a indenização securitária prevista em apólice coletiva de seguro de vida. 5. Consoante entendimento jurisprudencial, a mera inadimplência contratual não gera direito a indenização por danos morais. 6. Restando caracterizada a sucumbência recíproca é impositiva a observância da regra inserta no artigo 21, caput, do Código de Processo Civil. 7. Recursos conhecidos e não providos. (Acórdão n.645006, 20080111425942APC, Relator: NÍDIA CORRÊA LIMA, Revisor: GETÚLIO DE MORAES OLIVEIRA, 3ª Turma Cível, Data de Julgamento: 09/01/2013, Publicado no DJE: 14/01/2013. Pág.: 103) CIVIL E DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO DE COBRANÇA. SEGURO DE VIDA E ACIDENTES PESSOAIS. MILITAR DO EXÉRCITO. ACIDENTE. PERDA DA VISÃO DO OLHO DIREITO. DEFEITO FÍSICO CONSIDERADO INCURÁVEL E INCOMPATÍVEL COM A ATIVIDADE CASTRENSE. INVALIDEZ PERMANENTE PARA O DESEMPENHO DO SERVIÇO MILITAR. RECONHECIMENTO. REFORMA. INDENIZAÇÃO SECURITÁRIA. FATO GERADOR. APERFEIÇOAMENTO. CAPACIDADE LABORATIVA REMANESCENTE. ELISÃO DA COBERTURA. INSUBSISTÊNCIA. COBERTURA. PARÂMETRO. PREMISSA. INVALIDEZ TOTAL E PERMANENTE. PEDIDO.

ACOLHIMENTO. INDENIZAÇÃO. MENSURAÇÃO EM IMPORTE INFERIOR AO POSTULADO. SUCUMBÊNCIA DA RÉ. QUALIFICAÇÃO. (...) 2.As coberturas derivadas de contrato de seguro de vida que alcançam indenização proveniente de incapacidade permanente para o trabalho, moduladas pelos riscos acobertados, alcançam a incapacitação do segurado tãosó e exclusivamente para o exercício das atividades profissionais regulares que desenvolvia no momento da contratação, notadamente porque traduzem a habilitação que ostentava e a fonte de custeio de suas despesas cotidianas, ensejando que se resguarde da eventual impossibilidade de continuar desenvolvendo-as. 3.Apreendido que o segurado restara, em decorrência das seqüelas advindas do acidente de trabalho que o vitimara, definitivamente incapacitado para o exercício das atividades militares que desenvolvia no momento da contratação do seguro, restando os riscos inerentes à incapacitação acobertados, aperfeiçoa-se o fato gerador da cobertura securitária, determinando que a seguradora a resgate nos parâmetros avençados. 4.Aferido que o segurado restara incapacitado para o exercício de suas atividades profissionais, obviamente que se aperfeiçoara o fato jurídico - sinistro - gerador da indenização derivada de incapacidade permanente proveniente de acidente, não configurando fato apto a ilidir a cobertura a constatação de que ainda lhe remanesce aptidão física para o exercício de outras ocupações, pois o risco segurado cinge-se à incapacitação para o desempenho de suas ocupações regulares desempenhadas no momento da contratação. 5.Apreendido que o segurado re stara definitiva e integralmente incapacitado para o exercício da atividade militar que desenvolvia, culminando com sua reforma, o risco acobertado se transmudara em fato, determinando a germinação do fato gerador da cobertura convencionada, resultando que, ocorrido o evento danoso, ou seja, a hipótese de incapacidade permanente para o exercício da atividade desenvolvida, a cobertura devida deve ser mensurada com lastro nessa premissa, obstando a consideração de qualquer parâmetro estranho ao convencionado e ao havido. 6.Acolhido o pedido deduzido pelo segurado na parte mais substancial, pois assegurada a cobertura almejada com a modulação advinda do contratado, o fato de a indenização que lhe é devida ter sido mensurada em importe inferior ao que almejara resulta na certeza de que a seguradora sucumbira na parte mais expressiva, determinando que seja sujeitada aos encargos da sucumbência na exata tradução da regra inserta no artigo 21, parágrafo único, do estatuto processual. 7.Recurso de apelação do autor conhecido e parcialmente provido. Recurso adesivo da ré desprovido. Unânime. (Acórdão n.653739, 20120110295903APC, Relator: TEÓFILO CAETANO, Revisor: SIMONE LUCINDO, 1ª Turma Cível, Data de Julgamento: 06/02/2013, Publicado no DJE: 18/02/2013. Pág.: 80) SEGURO DE VIDA EM GRUPO - ACIDENTE DE TRABALHO - MILITAR - INVALIDEZ PERMANENTE - DEMONSTRADA - RECURSO DESPROVIDO. 1 - A verificação da invalidez se faz com relação ao desenvolvimento da atividade laborativa realizada pelo segurado e suas condições pessoais. 2 - Se o segurado comprovou que, em decorrência de acidente do trabalho, encontra-se com incapacidade permanente para o exercício de sua profissão habitual, é devido o valor relativo ao seguro contratado. 3 - Ônus da sucumbência adequadamente fixados na r. sentença, motivo pelo qual não merece reforma. 4 - Recurso desprovido. Unânime. (Acórdão n. 551942, 20070111363349APC, Relator ROMEU GONZAGA NEIVA, 5ª Turma Cível, julgado em 23/11/2011, DJ 01/12/2011 p. 139)."

Logo, o que se deve levar em consideração para fins de aferir se é devida ou não a indenização é a incapacidade permanente para o exercício da profissão habitual. O simples fato do autor ainda estar habilitado a exercitar outras atividades laborativas, por si só, não ilide a ocorrência do fato gerador da cobertura. In casu, conforme se extrai do laudo concluiu que o autor encontra-se incapacitada para o serviço do exército (fls. 243), senão vejamos: "Com base nos elementos e fatos expostos e analisados, conclui-se que o autor apresenta debilidade permanente na coluna vertebral que o incapacita para os trabalhos que exijam deambulação prolongada, elevar e transportar peso, debilidade esta que guarda relação causal com a evolução das doenças listadas. A doença ou doenças incapacitantes são condições equivalentes a acidente. Tendo sido julgado incapaz total e definitivamente para o serviço do Exército, não poderá retornar para a condição de militar da ativa, impossibilitado que está, por não haver, no momento, recursos terapêuticos disponíveis para sua total recuperação ou reabilitação, visto que o serviço militar é a sua atividade principal. Em assim sendo o percentual indenizatório será de 100% relacionada ao capital segurado, smj". Restando demonstrado nos autos que o autor efetivamente restara incapacitado para o exercício de suas atividades profissionais, seja pelo ato de reforma que o considerou "incapaz definitivamente para o serviço do Exército" (fls. 53), seja pela conclusão do perito no mesmo sentido, inexoravelmente se aperfeiçoara o evento apto a ensejar a cobertura convencionada para a hipótese de invalidez permanente derivada de doença, no importe de R$ 52.427,40 (fls. 13). 3. Dispositivo Pelo exposto, JULGO PROCEDENTE o pedido contido na inicial, extinguindo o processo, com resolução de mérito, na forma do art. 269, I, do CPC, para condenar a requerida a pagar ao autor o valor de R$ 52.427,40, a título de indenização por invalidez permanente decorrente de doença, corrigido monetariamente a contar da data em que o pagamento se fez devido e acrescido de juros de mora de 1% (um por cento) ao mês desde a citação. Condeno a ré, ainda, ao pagamento das custas e despesas processuais, além de honorários advocatícios que arbitro em 10% sobre o valor da condenação, na forma do art. 20, 3, do CPC. Oportunamente, transitada em julgado, não havendo outros requerimentos, intimando-se ao recolhimento das custas em aberto, dê-se baixa na Distribuição e arquivem-se os autos, com observância das normas do PGC. Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Brasília - DF, quarta-feira, 06/03/2013 às 15h20. Fernando Cardoso Freitas

Juiz de Direito Substituto