CÁLCULO DE UMA VARIÁVEL COMPLEXA. M. P. Matos & S. M. Santos e Souza

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Transcrição:

CÁLCULO DE UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. Matos & S. M. Santos e Soua

Sumário 1. O Plano Complexo 1 1.1 Números Complexos...................................... 1 1.1.1 Propriedades Algébricas................................ 2 1.1.2 Desigualdades & Identidades............................. 5 Exercícios 1.1.......................................... 8 1.2 Forma Exponencial (Polar).................................. 10 1.2.1 Fórmula de De Moivre................................. 13 Exercícios 1.2.......................................... 14 1.3 Potências & Raíes....................................... 15 1.3.1 Raíes da Unidade................................... 16 Exercícios 1.3.......................................... 20 1.4 Topologia do Plano C..................................... 22 1.4.1 Convergência Topologia............................... 25 Exercícios 1.4.......................................... 26 Respostas & Sugestões........................................ 28 Respostas 1.1............................................. 28 Respostas 1.2............................................. 32 Respostas 1.3............................................. 35 Respostas 1.4............................................. 38 2. Funções Analíticas 43 2.1 Exemplos de Funções Complexas............................... 43 ii

Exercícios & Complementos 2.1................................ 46 2.2 Limite e Continuidade..................................... 48 2.2.1 Lemas Técnicos e Propriedades do Limite...................... 50 2.2.2 Continuidade...................................... 53 Exercícios & Complementos 2.2................................ 55 2.3 Derivação no Plano C..................................... 57 2.3.1 Equações de Cauchy-Riemann............................. 61 2.3.2 Equações de Cauchy-Riemann na Forma Polar................... 67 Exercícios & Complementos 2.3................................ 68 2.4 Funções Harmônicas...................................... 71 Exercícios & Complementos 2.4................................ 73 Respostas & Sugestões........................................ 74 Respostas 2.1............................................. 74 Respostas 2.2............................................. 75 Respostas 2.3............................................. 79 Respostas 2.4.......................................... 84 3. Funções Elementares 87 3.1 A Função w = exp()..................................... 87 Exercícios & Complementos 3.1................................ 89 3.2 As Funções Trigonométricas Complexas........................... 90 3.2.1 As Funções cos e sen................................ 90 3.2.2 Algumas Identidades Trigonométricas........................ 91 3.2.3 Outras Funções Trigonométricas........................... 93 Exercícios & Complementos 3.2................................ 93 3.3 Logarítmos & Expoentes.................................... 95 3.3.1 Ramos de w = log (propriedades analíticas de Log)............... 96 3.3.2 Propriedades & Consequências............................ 98 3.3.3 Expoentes Complexos................................. 101 Exercícios & Complementos 3.3................................ 104 Respostas & Sugestões........................................ 107

Exercícios 3.1............................................. 107 Exercícios 3.2............................................. 108 Exercícios 3.3............................................. 112 3.4 Transformação de Möbius................................... 115 4. Integração Complexa 119 4.1 Função Complexa de uma Variável Real........................... 119 Exercícios & Complementos 4.1................................ 120 4.2 Função Complexa de uma Variável Complexa........................ 121 4.2.1 Contornos e Integrais................................. 121 4.2.2 A integral........................................ 124 Exercícios & Complementos 4.2................................ 126 4.3 Teoremas Clássicos & Consequências............................. 129 4.3.1 Existência de Primitivas................................ 130 4.3.2 Fórmula Integral de Cauchy.............................. 132 Exercícios & Complementos 4.3................................ 138 Respostas & Sugestões........................................ 140 Respostas 4.1............................................. 140 Respostas 4.2............................................. 141 Respostas 4.3............................................. 143 4. Integração Complexa 13 5.4 Séries de Números Complexos................................. 13 5.4.1 Propriedades Básicas.................................. 13

Na construção do conjunto dos números reais, nos deparamos com algumas imperfeições de alguns conjuntos numéricos, que serviram de ponto de partida para tal construção. Por exemplo, o conjunto N dos números naturais não contém os simétricos (inversos aditivos) de seus elementos; já o conjunto, dos números inteiros, não contém os inversos multiplicativos de seus membros. O conjunto Q, constituído das frações p=q, p; q 2 ; q 6= 0, não contém, por exemplo, o número real p 2: A necessidade de se estudar números complexos ocorre no momento que desejamos resolver a equação polinomial, x 2 + 1 = 0; que não possui solução real. No século XVI, equação desse tipo, despertou os estudiosos, pois todos sabiam que não existiam números como p 1, cujo quadrado é negativo. Estes números existiam apenas na imaginação das pessoas. O conceito de número ao longo dos séculos, evoluiu de maneira progressiva: o conjunto dos números deixou de conter apenas os inteiros positivos e incluiu os números negativos, racionais, e irracionais. Já no século XVIII, o conceito de número deu um passo maior quando o matemático alemão Carl Friedrich Gauss estendeu o conjunto de números reais, dando a denominação dos elementos de números imaginários ou números complexos. Introduiremos um estudo básico sobre os números complexos e as funções complexas. A de nição de números complexos pode ser apresentada de maneira geométrica, através de pontos no plano, ou diretamente de forma algébrica. 1.1 Números Complexos O conjunto dos pares ordenados (x; y) de números reais, equipado das operações: Igualdade: (x; y) = (x 0 ; y 0 ) se, e somente se, x = x 0 e y = y 0 ; Adição: (x; y) + (x 0 ; y 0 ) = (x + x 0 ; y + y 0 ) ; Produto: (x; y) (x 0 ; y 0 ) = (xx 0 yy 0 ; xy 0 + x 0 y) : será indicado por C: Do ponto de vista algébrico, o conjunto C se identi ca com o plano cartesiano R 2 e as seguintes relações básicas são facilmente estabelecidas:

2 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA (a) (x; y) = (x; 0) + (0; y) : (b) (0; y) = (0; 1) (y; 0) : (c) (x; y) = (x; 0) + (0; 1) (y; 0) : O par = (x; y) ; do conjunto C; recebe o nome de número complexo e o número complexo (0; y) denomina-se imaginário puro. Com o propósito de mergulhar o conjunto R dos números reais no conjunto C dos números complexos, identi camos, de forma biunívoca, o número real x com o número complexo (x; 0) e, neste contexto, temos R C: Consequentemente, y (0; 1) = (y; 0) (0; 1) = (0; y) e, se representarmos o imaginário puro (0; 1) por i, teremos: i 2 = (0; 1) (0; 1) = ( 1; 0) = 1; onde identi camos o número complexo ( 1; 0) com o número real 1. Além disso, (x; y) = (x; 0) + (0; y) = (x; 0) + (0; 1) (y; 0) e o número complexo = (x; y) anotar-se-á = x + iy, onde identi camos os números reais x e y com os números complexos (x; 0) e (y; 0), respectivamente. Com esta notação, as operações em C tornam-se: Igualdade: x + iy = x 0 + iy 0 se, e somente se, x = x 0 e y = y 0 ; Adição: (x + iy) + (x 0 + iy 0 ) = x + x 0 + i(y + y 0 ) Produto: (x + iy) (x 0 + y 0 ) = xx 0 yy 0 + i(xy 0 + x 0 y): 1.1.1 Propriedades Algébricas As operações algébricas de nidas em C goam das seguintes propriedades: + w = w + : (comutativa) + 0 = e 1 = : (elemento neutro) + (w + u) = ( + w) + u e (wu) = (w) u: (associativa) (w + u) = w + u: (distributiva) + ( ) = 0: (existência do simétrico) se 6= 0; existe w 6= 0 tal que w = 1: (existência do inverso multiplicativo)

CAPÍTULO 1 - O PLANO COMPLEXO 3 Figura 1.1: O plano complexo C: Na Figura 1.1, ilustramos o plano complexo C: Para construir o inverso multiplicativo do número complexo não nulo = x + iy; seja w = a + ib, tal que w = 1. Então, w = 1, (x + iy) (a + ib) = 1 + 0 i, xa yb + i (xb + ya) = 1 + 0 i e daí resulta, xa yb = 1 xb + ya = 0, x 2 a xyb = x xyb + y 2 a = 0: Consequentemente, a = x x 2 + y 2 e b = y x 2 + y 2 : O número complexo w ; inverso multiplicativo de ; será representado por 1 1 x y = x 2 + y 2 i x 2 + y 2 = x iy x 2 + y 2 : e, sendo assim, teremos Várias propriedades do conjunto R dos números reais continuam válidas no conjunto C dos números complexos, mas, existem algumas diferenças. Por exemplo, não podemos comparar dois números complexos, através de desigualdades. A existência do inverso multiplicatvo já fa do plano C um conjunto especial. Além desse, outro fato que fa de C um conjunto interessante, di respeito à equação e x = 1

4 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA que, embora não tenha solução real, ela será resolvida em C. Mesmo os conjuntos C e R 2 sendo isomorfos, como espaços vetoriais reais, o fato de podermos inverter qualquer número complexo não nulo, torna o conjunto C um corpo algébrico, o que não ocorre com o espaço euclideano R 2 : Aí está uma boa raão para se estudar números complexos. Associados ao número complexo = x + iy; destacamos: jj = p x 2 + y 2 : Re() = x: (módulo de ) (parte real de ) Im() = y: (parte imaginária de ) = x iy: (conjugado de ) As seguintes relações são consequências diretas das de nições e o leitor pode comprová-las, como parte do processo de treinamento. (a) jj = jj (b) jj 2 = (c) + w = + w (d) w = w (e) = (f) Re() = 1 2 ( + ) (g) Im() = 1 2i ( ) (h) 1 = e, usando o processo de Indução Finita, obtemos as seguintes relações mais gerais: jj 2 ; 6= 0 (i) 1 + 2 + n = 1 + 2 + 3 + + n (j) 1 2 3 : : : n = 1 2 3 : : : n : Na Figura 1.2 ilustramos um número complexo ; o conjugado ; o simétrico complexo i: ; o inverso 1= e o Figura 1.2: Visão geométrica de ; ; i; 1= e :

CAPÍTULO 1 - O PLANO COMPLEXO 5 1.1.2 Desigualdades & Identidades No conjunto dos números complexos não podemos de nir uma relação de ordem, porém, como jj ; 2 C; é um número real, podemos comparar o módulo de dois números complexos. A desigualdade triangular, que é uma generaliação da mesma desigualdade conhecida no conjunto dos números reais, é bastante utiliada na análise de funções complexas. LEMA 1.1.1 (Desigualdade Triangular) Dados dois números complexos e w, então j + wj jj + jwj : DEMONSTRAÇÃO Da relação jj 2 = [Re()] 2 + [Im()] 2 ; segue que Re() jre()j jj e, portanto: j + wj 2 = ( + w) ( + w) = jj 2 + jwj 2 + w + w = jj 2 + jwj 2 + w + w = jj 2 + jwj 2 + 2 Re( w) jj 2 + jwj 2 + 2 jj jwj = (jj + jwj) 2 ; de onde resulta que j + wj jj + jwj : (1.1) A seguinte generaliação da Desigualdade Triangular pode ser demonstrada pelo Método de Indução Finita: dados 1 ; 2 ; : : : ; n 2 C, então nx j 1 + 2 + 3 + + n j j k j : (1.2) LEMA 1.1.2 (Produtos Notáveis) Se e w são números complexos, então: ( w) 2 = 2 2 w + w 2 e j wj 2 = jj 2 2 Re ( w) + jwj 2 (1.3) k=1 DEMONSTRAÇÃO Usando as operações de soma e produto de números complexos, temos ( w) 2 = ( w) ( w) = w w + w 2 = 2 2 w + w 2 : Para a segunda parte, recordemos que jj 2 = e 2 Re () = + e, sendo assim, j wj 2 = ( w) ( w) = jj 2 w w + jwj 2 = jj 2 w w + jwj 2 = jj 2 2 Re ( w) + jwj 2 :

6 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA LEMA 1.1.3 (Fatoração Polinomial I) Dado um número complexo 6= 1, então 1 + + 2 + 3 + + n 1 = 1 n ; n = 1; 2; 3; : : : : (1.4) 1 DEMONSTRAÇÃO Se representarmos por S a soma do lado esquerdo de (1.4), teremos S S = 1 n, (1 ) S = 1 n, S = 1 n 1 : LEMA 1.1.4 (Fatoração Polinomial II) Se e 0 são números complexos e n é um número natural, então ( 0 ) n 1 + n 2 0 + n 3 0 2 + + 0 n 2 + 0 n 1 = n n 0 : (1.5) DEMONSTRAÇÃO Segue diretamente das operações em C: CONSEQUÊNCIAS :::::::::::::::::::::: A seguir apresentamos algumas consequências das propriedades e resultados estabelecidos. 1. Usando as operações em C é fácil deduir que j wj = jj jwj e que = jj ; w 6= 0: De fato, w jwj se = x + iy e w = a + ib, então w = ax by + i (ay + bx) e, portanto: j wj 2 = a 2 + b 2 x 2 + y 2 = jj 2 jwj 2 : Por outro lado, se w 6= 0, temos: = w w jwj 2 = j wj jwj 2 = jj jwj jwj 2 = jj jwj : Usando o processo indutivo, chegamos a: j 1 2 3 : : : n j = j 1 j j 2 j j 3 j : : : j n j : 2. Dado um número complexo, então j 1j < j + 1j, Re () > 0: De fato, considerando = x + iy, temos: j 1j < j + 1j, j 1j 2 < j + 1j 2, (x 1) 2 < (x + 1) 2, 2x < 2x, 0 < x, Re () > 0:

CAPÍTULO 1 - O PLANO COMPLEXO 7 3. Se a e b são números reais, temos que p a 2 + b 2 jaj + jbj e, consequentemente: jj 2 = Re() 2 + Im () 2 ) jj = q Re() 2 + Im () 2 jre()j + jim ()j : (1.6) Por outro lado, usando a desigualdade 2ab a 2 + b 2, com a = jre ()j e b = jim ()j, encontramos (jre ()j + jim ()j) 2 = jre ()j 2 + 2 jre ()j jim ()j + jim ()j 2 2 jre ()j 2 + jim ()j 2 = 2 jj 2 : e daí resulta Combinando (1.6) e (1.7), chegamos às desigualdades jre ()j + jim ()j p 2 jj : (1.7) jj jre()j + jim ()j p 2 jj : (1.8) 4. Se e w são números complexos, então jjj jwjj j wj : (1.9) De fato, da Desigualdade Triangular, segue que jj = j w + wj j wj + jwj ) jj jwj j wj jwj = jw + j j wj + jj ) jwj jj j wj e combinando essas desigualdades, encontramos j wj jj jwj j wj, jjj jwjj j wj : 5. Dados os números complexos 1 ; 2 e 3, com j 2 j 6= j 3 j, temos que 1 2 + 3 j 1 j jj 2 j j 3 jj : (1.10) De fato, da desigualdade (1.9), segue que jj 2 j j 3 jj j 2 + 3 j e, portanto, 1 jj 2 j j 3 jj = 1 jj 2 j j 3 jj 1 j 2 + 3 j ) j 1 j jj 2 j j 3 jj j 1j j 2 + 3 j :

8 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA 6. Sejam e w números complexos, com jj 1 e jwj 1: Temos que j + wj j1 + w j (1.11) e ocorre a igualdade se, e somente se, jwj = 1: De fato, sendo jj 1 e jwj 1, então jwj 2 1 jj 2 1 jj 2 e, consequentemente, jj 2 + jwj 2 1 + jj 2 jwj 2. Agora, j + wj 2 = jj 2 + jwj 2 + w + w 1 + jj 2 jwj 2 + w + w = j1 + wj 2 e daí resulta j + wj j1 + wj : Por m, observamos que j + wj 2 = j1 + wj 2, jj 2 + jwj 2 = 1 + jj 2 jwj 2, jj 2 1 jwj 2 = 1 jwj 2, jwj = 1: ESCREVENDO ::::::::::::::: ::::::: PARA ::::::::::::: APRENDER (Exercícios 1.1) 1. Em cada caso, redua a expressão à forma a + ib; a; b 2 R: (a) (2 i) + (3 + 4i) (b) (2 + i) i (3 + 4i) (c) (1 + i) (2 + 2i) (d) (1 i) 12 p (e) (1 i) 3 + i (f) (2 i) (2 + i) (g) (1 2i) (3 + 2i) 1 (h) i 45 2. Repita o exercício precedente com as expressões: (a) 2 2 3i (b) 2 + i 2 3i (c) 1 (1 i) 2 (d) 3i30 i 19 2i 1 (e) 5 + 5i 3 4i + 20 4 + 3i : 3. Encontre números reais x e y, tais que 3x + 2iy ix + 5y = 7 + 5i: 4. Em cada caso, calcule o valor da expressão. 1 (a) Re 2 + i 2 + i (b) Im 3 + 4i (c) Im(1= 2 ) (d) 1 + 4i 4 + i (e) jcos + i sen j : 5. Se e w são números complexos e w 6= 0, comprove as seguintes propriedades: (a) + w = + w (b) = (c) w = w (d) (=w) = =w: 6. Qual número real fa com que o número complexo 2 + i 1 i seja:

CAPÍTULO 1 - O PLANO COMPLEXO 9 (a) Um número real (b) Um imaginário puro, isto é, com parte real nula. 7. Por substituição direta, veri que que = 1 i satisfaem à equação 2 2 + 2 = 0: 8. Se P () é um polinômio com coe cientes reais, mostre que P () = P (). Conclua a partir daí que se é uma rai de P (), o conjugado também o é. 9. Se P () é um polinômio com coe cientes reais e P (3 + 2i) = 1 2i, qual o valor de jp (3 2i)j? 10. Mostre que um número complexo é real se, e somente se, = : 11. Se 2 = () 2, mostre que o número complexo ou é real ou é imaginário puro. 12. Dado 2 C, mostre que j1 j 2 + j1 + j 2 = 2 + 2 jj 2 : 13. Use o Lema 1.1.3 e expresse o número complexo 1 + i + i 2 + + i 179 na forma a + ib; a; b 2 R: 14. Se jj = jwj e Re = Re w, mostre que = w ou = w: 15. Dados os números complexos e w, mostre que h i j wj 2 = jj 2 1 + jwj 2 2 Re (w) : 16. Dado um número inteiro n, quantos valores distintos a expressão i n + i n assume? 17. Dado um número complexo, com j ij 6= 0, mostre que w = i i é um número real. 18. Se N é um inteiro 4, mostre que os possíveis valores de 1 + i + i 2 + + i N são 1; 1 + i; i ou 0, conforme o resto da divisão de N por 4 seja 3; 2; 1 ou 0: 19. Dado um número real, mostre que 3 i 3 = ( + i) 2 i 2 : 20. Usando o Método de Indução Finita, estabeleça a Fórmula Binomial: (1 + ) n = 1 + n + n (n 1) 2 n (n 1) : : : (n k + 1) + + + + n ; n = 1; 2; 3; : : : : 2! k! 21. Ainda com o Método de Indução, estabeleça a Desigualdade Triangular: j 1 + 2 + + n j j 1 j + j 2 j + + j n j :

10 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA 1.2 Forma Exponencial (Polar) Em Geometria Analítica, um ponto P no plano, de coordenadas retangulares (x; y), pode ser representado por suas coordenadas polares. Dado = x + iy um número complexo não nulo, sejam r e as coordenadas polares do ponto P (x; y), isto é, Então r = p x 2 + y 2 = jj e = arctan(y=x): = r cos + ir sen ; (1.12) que é a forma polar do número complexo : Para representar o número complexo (1.12) sob a forma exponencial, procedemos formalmente e escrevemos 1X e i (i) n = = 1 + i + i2 2 + i3 3 + i4 4 + + in n + n! 2! 3! 4! n! n=0 = 1 + i = cos + i sen : 2 2! + 4 4! + + ( 1)n 2n + (2n)! Assim, e i = cos + i sen e a forma polar de é, portanto: 3 3! + 5 5! + + ( 1)n 2n+1 + (2n + 1)! = re i = r (cos + i sen ) ; onde r = jj e = arctan(y=x): O ângulo, tal que tan = y=x denomina-se um argumento de e anota-se 2 arg (). É claro que se 0 é um argumento de ; então, os ângulos 0 + 2k, k 2 ; também serão argumentos de, tendo em vista que cos e sen são funções períódicas, de período fundamental 2. O argumento principal de ; denotado por Arg (), é o argumento ; tal que < : É claro que se 2 R, então Arg () = 0 e arg () = f : = 2k; k 2 g : EXEMPLO 1.2.1 Das relações e i = cos + i sen e e i = cos cos = 1 2 e i + e i e sen = 1 2i e i e i : i sen, deduimos que EXEMPLO 1.2.2 Vamos expressar o número complexo 1 = 1 i na forma polar. SOLUÇÃO Neste caso, x = 1 e y = 1; temos r = p 2 e como y=x = 1; temos que arctan(y=x) = =4: Entretanto, o ponto 1 i está no terceiro quadrante, e, para a solução de tan = 1; temos = 5=4 ou = 3=4: Notamos que Arg ( 1 ) = 3=4 e 5=4 2 arg ( 1 ), com 5=4 = 3=4 + 2:

CAPÍTULO 1 - O PLANO COMPLEXO 11 Da equação (1.12), a forma polar do número complexo 1 é 1 = p 2(cos 5=4 + i sen 5=4) ou p 2(cos ( 3=4) + i sen ( 3=4)) = p 2e 3i=4 : EXEMPLO 1.2.3 Se 2 = 3 + 3i; então y=x = 1 e teremos arctan(y=x) = =4: Como 2 encontrase no segundo quadrante, segue que = =4 + = 3=4 e, desta forma, 2 = 3 p 2(cos 3=4 + i sen 3=4): LEMA 1.2.4 Dados = re i e w = e i' dois numéros complexos não nulos, então: = re i ; w = re i(+') ; 1 w = 1 e i' e w = r ei( ') : Além disso, = w se, e somente se, r = e = ' + 2k; k 2. DEMONSTRAÇÃO Considerando que = r (cos + i sen ) e w = (cos ' + i sen '), temos: = r (cos i sen ) = r [cos ( ) + i sen ( )] = re i e w = r [cos cos ' sen sen ' + i (cos sen ' + sen cos ')] = r [cos ( + ') + i sen ( + ')] = (r) e i(+') : Finalmente, w = w jwj 2 = rei( ') 2 = (r=) e i( ') : O Lema 1.2.4 mostra a improtância da representação na forma polar em algumas operações com números complexos. EXEMPLO 1.2.5 (Rotação) Qual a ação geométrica da multiplicação pelo número complexo e i'? Dado um número complexo = re i, temos que e i' = e i' re i = re i(+') : Assim, o número complexo w = e i' é tal que jwj = jj e Arg (w) = ' + Arg (). Geometricamente, o número w é determinado a partir do número por uma rotação anti-horária de um ângulo ', como sugere a Figura 1.3.

12 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA Figura 1.3: Rotação LEMA 1.2.6 Se e w são dois números complexos não nulos, então: 2 arg ( w), = + ; com 2 arg () e 2 arg (w) : Em outras palavras: arg ( w) = arg () + arg (w) : DEMONSTRAÇÃO Sejam = re i e w = e i', com = Arg () e ' = Arg (w). Então, w = re i(+') e dado qualquer argumento 2 arg ( w), temos que = +'+2k, isto é, é a soma do argumento do conjunto arg () com o argumento ' + 2k do conjunto arg (w). Por outro lado, qualquer argumento do conjunto arg () + arg (w) é da forma = ( + 2n) + (' + 2k), isto é, = ( + ') + 2 (n + k) é um argumento de w. EXEMPLO 1.2.7 Dos exemplos precedentes, vemos que 1 = 5=4 e 2 = 3=4 são argumentos de 1 = 1 i e 2 = 3 + 3i; respectivamente, de modo que, 1 + 2 = 2: Por outro lado, 1 2 = ( 1 i)( 3 + 3i) = 6 e, portanto, Arg( 1 2 ) = 0 6= 1 + 2 : Este exemplo não viola o que estabelece o Lema 2.2.7, tendo em vista que naquele Lema a igualdade arg ( w) = arg () + arg (w) deve ser entendida como uma igualdade entre conjuntos.

CAPÍTULO 1 - O PLANO COMPLEXO 13 COROLÁRIO 1.2.8 Se 6= 0, então Arg (i ) = 2 + Arg () e Arg (1=) = Arg () : DEMONSTRAÇÃO Considerando que =2 = Arg (i) e que Arg () = Arg (), resulta: Arg (i) = Arg (i) + Arg () = =2 + Arg () e Arg (1=) = Arg = jj 2 = Arg () : 1.2.1 Fórmula de De Moivre Para generaliar o Lema 1.2.4, deixe-nos considerar n números complexos k = r k (cos k + i sen k ) ; k = 1; 2; 3; : : : ; n e comprovemos por indução a seguinte relação: ny k = (r 1 r 2 : : : r n ) [cos ( 1 + 2 + : : : + n ) + i sen ( 1 + 2 + : : : + n )] : (1.13) k=1 No caso n = 2, a relação (1.13) é precisamente o Lema 1.2.4. Supondo a fórmula válida para n > 2, temos pelo Lema 1.2.4 ny k = k=1 ny 1 k=1 k! n = h i (r 1 r 2 : : : r n 1 ) e i( 1+ 2 +:::+ n 1 ) r n e in = (r 1 r 2 : : : r n 1 r n ) e i( 1+ 2 +:::+ n 1 + n) : Com isso comprovamos a relação (1.13) e considerando k = e i chegamos à Fórmula de De Moivre: (cos + i sen ) n = cos (n) + i sen (n) ; n = 1; 2; 3; : : : : (1.14) EXEMPLO 1.2.9 Calculemos o valor de (1 + i) 8. Temos que Arg (1 + i) = =4 e, portanto: hp i 8 (1 + i) 8 = 2 (cos =4 + i sen =4) = 16 (cos 2 + i sen 2) = 16: EXEMPLO 1.2.10 Ainda com a Fórmula de De Moivre, vamos calcular o valor de (1 i) 6 : Temos: (1 i) 6 = 8 [cos ( =4) + i sen ( =4)] 6 = 8 [cos ( 3=2) + i sen ( 3=2)] = 8i:

14 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA ESCREVENDO ::::::::::::::: ::::::: PARA ::::::::::::: APRENDER (Exercícios 1.2) 1. A partir do resultado da operação (2 + i) (3 + i), dedua a identidade: 4 = arctan (1=2) + arctan (1=3) : 2. Repita o exercício precedente com a expressão (5 i) 4 (1 + i) para chegar à identidade: 4 = 4 arctan (1=5) arctan (1=239) : 3. Calcule o valor da expressão Arg () + Arg (w), sendo = 2 2i e w = p 3 i 6 : 4. Determine o argumento principal dos seguintes números complexos: (a) = 3 (b) = 2 2i (c) = 1 i p 3 (d) = 4i (e) = 2 1 + i p 3 (f) = ( p 3 i) 6 : 5. Se = 2i e w = 3e i=3 ; represente no plano C os números complexos ; + w; w e w. 6. Usando a forma polar, dedua que: (a) i(1 i p 3)( p 3 + i) = 2 + 2i p 3 (b) 7. Use a Fórmula de De Moivre 5i 2 + i = 1 + 2i (c) ( 1 + i)7 = 8 (1 + i) (cos + i sen ) n = cos (n) + i sen (n) e comprove as seguintes relações trigonométricas: (a) cos (2) = cos 2 sen 2 e sen (2) = 2 sen cos : (b) cos (3) = cos 3 3 cos sen 2 e sen (3) = 3 cos 2 sen sen 3 : 8. Calcule o valor de 1 + p! 10 3i p : 1 3i 9. Em cada caso, redua os números e w à forma polar e encontre as formas polares de w e =w: (a) = p 3 + 3i; w = 1 2 3 ip 3 (b) = 1 + i; w = p 3 + i (c) = 1 + 2i; w = 2 + i: 10. Usando a forma polar, mostre que = p 2 i p 2 é rai da equação 4 (1 + 4i) 2 + 4i = 0:

CAPÍTULO 1 - O PLANO COMPLEXO 15 11. Se w 6= 0, mostre que Re ( w) = jj jwj se, e somente se, arg arg w = 2n; n 2 : Neste caso, tem-se j + wj = jj + jwj. 12. Demonstre a identidade 1 + i tan 1 i tan = e2i : 1.3 Potências & Raíes Dados os números complexos = re i e w = e i' ; vimos que w = re i(+') ; e, considerando w =, obtemos indutivamente: n = r n e in ; n 2 N [ f0g: Se de nirmos n = (1=) n, teremos: n = ( 1 ) n = h (1=r)e i( )i n = (1=r) n e in( ) = r n e i( n) : Assim, n = r n e in ; 8n 2 e, em particular, (e i ) n = e in ; isto é, (cos + i sen ) n = cos(n) + i sen(n); 8n 2 : As potências racionais de um número complexo são estabelecidas de forma natural: p=q = 1=q p ; p; q 2 ; q 6= 0; e seguem as propriedades: Produto r s = r+s ; r; s 2 Q: r r Quociente = ; r 2 Q; w 6= 0: w wr

16 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA 1.3.1 Raíes da Unidade Uma rai n ésima (ou de ordem n) da unidade é qualquer número complexo, tal que n = 1. Se considerarmos = re i, teremos n = 1, r n e in = 1, r n [cos(n) + i sen(n)] = 1 e daí resulta que r n = 1 e n = 2k; k 2 : Logo, 2k n = 1, = cos + i sen n e as n raíes distintas da equação n = 1 são, portanto, 2k n ; k 2 ; 2k 2k k = cos + i sen = e i(2k=n) ; k = 0; 1; 2; : : : ; n 1: (1.15) n n Se considerarmos w n = cos (2=n) + i sen (2=n) ; teremos w n n = 1 e as n raíes da equação n = 1 são precisamente 1; w n ; w 2 n; : : : ; w n 1 n. EXEMPLO 1.3.1 As raíes da equação 2 = 1 são 1. No caso n = 3, resulta de (1:15) que as raíes da equação 3 = 1 são: 0 = e 0 = 1; 1 = e i(2=3) = 1 2 + i p 3 2 e 2 = e i(4=3) = 1 2 i p 3 2 : EXEMPLO 1.3.2 Vamos encontrar as quatro raíes da equação 4 = 1. SOLUÇÃO Neste caso, n = 4 e temos 2k 4 = 1, = cos + i sen 4 2k 4 ; k = 0; 1; 2; 3: (1.16) Considerando sucessivamente k = 0; 1; 2; 3 em (1.16), encontramos as raíes 0 = 1; 1 = i; 2 = 1; e 3 = i: Na Figura 1.4 ilustramos gra camente as raíes de 2 = 1; 3 = 1 e 4 = 1. Para n 3, as n raíes da equação n = 1 são vértices de um polígono regular de n lados inscrito na circunferência de raio 1.

CAPÍTULO 1 - O PLANO COMPLEXO 17 Figura 1.4: Raíes da unidade. Em uma situação mais geral, dado um número complexo não nulo w = (cos ' + i sen ') temos que n = w, r n (cos n + i sen n) = (cos ' + i sen '), r = np e = ' + 2k ; k = 0; : : : ; n 1; n e as n raíes distintas da equação n = 1 são precisamente k = np ' + 2k ' + 2k cos + i sen ; n n k = 0; : : : ; n 1: (1.17) Se w n = cos (2k=n) + i sen (2k=n), as n raíes complexas da equação n = w são dadas por: 0 ; 0 w n ; 0 w 2 n; : : : ; 0 w n 1 n : OBSERVAÇÃO 1.3.3 Embora o cálculo de raíes utiliando a forma polar tenha caráter geral, o cálculo também pode ser feito utiliando a forma cartesiana. Por exemplo, para resolver a equação 2 = 2i, escrevemos = x + iy; x; y 2 R; e obtemos 2 = 2i, x 2 y 2 + 2xyi = 2i = 7 24i, x2 y 2 = 0 2xy = 2 e daí resulta y = 1=x e x 4 = 1, isto é, x = 1 e y = 1. Logo, = (1 + i) : EXEMPLO 1.3.4 Vamos encontrar as raíes da equação 2 = 7 24i: SOLUÇÃO Considerando = x + iy, temos 2 = 7 24i, x 2 y 2 + 2xyi, x2 y 2 = 7 2xy = 24: (1.18) Resolvendo o sistema (1.18), encontramos x = 3 e y = 12=x. Assim, as raíes são = (3 4i) :

18 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA EXEMPLO 1.3.5 Neste exemplo vamos calcular o valor de rai da equação 3 = 7 + i p 15: 3p 7 + i p 15, sendo 3p 7 + i p 15 qualquer SOLUÇÃO Seja w = 7 + i p 15, com arg (w) = '. Temos que jwj = p 49 + 15 = 8 e de (1.17) resulta = 3 q7 + i p 15, 3 = 7 + i p 15, = 3p 8e i('+2k)=3 ; k = 0; 1; 2: Logo, jj = 3p 8 = 2: EXEMPLO 1.3.6 Encontrar as cinco raíes da equação 5 = 32: SOLUÇÃO Na forma polar, 32 = 32e i e de (1.17), encontramos as raíes isto é, k = 5p 32 cos + 2k 5 + i sen + 2k 5 ; k = 0; 1; 2; 3; 4; 0 = 2e i=5 ; 1 = 2e i3=5 ; 2 = 2e i = 2; 3 = 2e i7=5 e 4 = 2e i9=5 : Os valores dessas raíes, indicados na Figura 1.5, estão igualmente espaçados ao longo da circunferência de centro na origem e raio R = 2 e constituem os vértices de um pentágono regular. Figura 1.5: Raíes da equação 5 = 32. EXEMPLO 1.3.7 Resolver a equação 2 = 15 8i.

CAPÍTULO 1 - O PLANO COMPLEXO 19 SOLUÇÃO Temos que x + iy = p 15 8i, (x + iy) 2 = 15 8i, x 2 y 2 + 2xyi = 15 8i, x 2 y 2 = 15 e 2xy = 8: Resolvendo o sistema, encontramos x = 1 e y = 4. Assim, os valores de p 15 8i = (1 4i) : EXEMPLO 1.3.8 Resolver a equação quadrática a 2 + b + c = 0; sendo a 6= 0: SOLUÇÃO Transpondo c para o 2 o membro e dividindo a equação por a, encontramos: 2 + b a = c a : (1.19) Para completar o quadrado, adicionanmos (b=2a) 2 aos dois lados da equação (1.19) e obtemos: 2 + b a + b2 4a 2 = e, extraindo a rai quadrada, resulta + b p b 2a = 2 c a + b2 4a 2, + b 2 = b2 4ac 2a 4a 2 4ac 2a, isto é, = b p b 2 4ac : 2a EXEMPLO 1.3.9 Resolver a equação quadrática 2 + (2i 3) + 5 i = 0: SOLUÇÃO Considerando a = 1; b = 2i 3 e c = 5 i, temos, do Exemplo 1.3.8, que as raíes são: = 3 q 2i (2i 3) 2 4 (5 i) 2 = 3 2i p 15 8i : 2 Ora, p 15 8i = (1 4i) (veja o Exemplo 1.3.7) e, portanto, as raíes são 1 = 2 3i ou 2 = 1 + i: EXEMPLO 1.3.10 Resolver a equação biquadrada 4 (1 + 4i) 2 + 4i = 0: SOLUÇÃO Efetuando o completamento do quadrado, vemos que a equação é equivalente a 2 1 2 (1 + 4i) 2 = 1 4 ( 15 8i) e daí resulta 2 = 1 2 (1 + 4i) 1 2p 15 8i:

20 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA No Exemplo 1.3.7), encontramos p 15 8i = (1 4i) e, sendo assim, 2 = 1 2 (1 + 4i) 1 2 (1 4i) ; isto é, = 1 ou = 2 p i. Para concluir, observamos que p i = 1 2 p 2 + i p 2 e obtemos as raíes = 1 e = p 2 + i p 2 : EXEMPLO 1.3.11 Vamos decompor o polinômio 4 + 1 em fatores quadráticos com coe cientes reais. SOLUÇÃO Iniciamos com a fatoração 4 + 1 = 2 i 2 + i, que não atende ao que se pede, tendo em vista que os coe cientes não são todos reais. Se w 2 = i, então w 2 = i e obtemos: 4 + 1 = 2 i 2 + i = 2 w 2 2 w 2 = ( w) ( + w) ( w) ( + w) = [( + w) ( + w)] [( w) ( w)] h = 2 + (w + w) + jwj 2i h 2 (w + w) + jwj 2i h = 2 + 2 Re (w) + jwj 2i h 2 2 Re (w) + jwj 2i : Para concluir, consideramos w = p 2 2 + i p 2 2 e encontramos: 4 + 1 = 2 + p 2 + 1 2 p 2 + 1 : ESCREVENDO ::::::::::::::: ::::::: PARA ::::::::::::: APRENDER (Exercícios 1.3) 1. Encontre todos os números complexos, tais que 3 = : 2. Encontre todos os valores inteiros de n para os quais 1 p 3i n é um número real. 3. Determine os valores principais de: (a) (2i) 1=2 (b) ( i) 1=3 (c) 8 1=6 (d) p 3 + i 3=2 (e) ( 1) 3=4 4. Se w é uma rai n-ésima da unidade, w 6= 1, use a identidade (1.4) e mostre que 1 + w + w 2 + w 3 + + w n 1 = 0: Agora, calcule o valor da soma: S = 1 + 2w + 3w 2 + 3w 3 + + nw n 1 : 5. Demonstre a identidade: p q q = 1 2 (jj + Re ()) + i sgn (Im ) 1 2 (jj Re ()) :

CAPÍTULO 1 - O PLANO COMPLEXO 21 Use esta identidade e resolva as equações: (a) 2 + + 1 = i (b) 2 3 + 3 = i (c) 2 (5 + i) + 8 + i = 0: 6. Se N é um inteiro 4, mostre que os possíveis valores de 1 + i + i 2 + + i N são 1; 1 + i; i ou 0, conforme o resto da divisão de N por 4 seja 3; 2; 1 ou 0: 7. Se, use a identidade (1.4) e estabeleça as relações: (a) 1 + cos + cos (2) + + cos (n) = 1 2 sen [(n + 1=2) ] + : 2 sen (=2) (b) sen + sen (2) + + sen (n) = 1 2 cotg (=2) cos [(n + 1=2) ] : 2 sen (=2) 8. Resolva em C as seguintes equações: (a) 2 = 1 i p 3 (b) 4 = 16 (c) 4 (1 2i) 2 1 i = 0 (d) 7 = 1 i (e) () 3 = i (f) 4 (1 i) 2 = i 9. Mostre que as raíes n-ésimas do número complexo formam um polígono regular de n lados, inscrito em uma circunferência de raio R = np jj: 10. Se 1 ; 2 e 3 são as raíes complexas da equação a 3 3 + a 2 2 + a 1 + a 0 = 0, com a 3 6= 0, mostre que 1 + 2 + 3 = a 2 =a 3 e 1 2 3 = a 0 =a 3 : Generaliando, prova-se que a soma e o produto das n raíes 1 ; 2 ; : : : ; n da equação polinomial são, respectivamente: a n n + a n 1 n 1 + + a 1 + a 0 = 0; a n 6= 0; 1 + 2 + + n = a n 1 a n e 1 2 n = ( 1)n a 0 a n : 11. Se w é uma rai da equação w 2 = i, onde é um número real não nulo, imitando o que foi feito no Exemplo 1.3.11, obtemos a fatoração 4 + 2 = 2 + 2 Re (w) + jwj 2 2 2 Re (w) + jwj 2 : Decomponha 4 + 9 em fatores quadráticos, com coe cientes reais.

22 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA 1.4 Topologia do Plano C Nos próximos capítulos apresentaremos os conceitos de limite, derivada e integral para funções de uma variável complexa = x + iy; e é necessário apresentarmos os conceitos topológicos e terminologias com relação a determinados subconjuntos do plano complexo. Fixemos um ponto 0 = x 0 + iy 0 no plano C e consideremos > 0: A -viinhança de centro 0 e raio é, por de nição, o subconjunto V ( 0 ) = f 2 C; j 0 j < g: Considerando que a distância de um ponto = x + iy ao ponto 0 é dada por j 0 j = p (x x 0 ) 2 + (y y 0 ) 2 ; vemos que os pontos que satisfaem à desigualdade j 0 j < ; são internos ao círculo de centro em 0 e raio : Geometricamente, V ( 0 ) é um disco de centro 0 e raio ; como indica a Figura 1.6. A linha pontilhada indica que os pontos da circunferência não faem parte da viinhança. Figura 1.6: Viinhança de raio. Dado um subconjunto S C; a posição relativa do ponto 0 em relação a S é caracteriada por: (a) Existe uma -viinhança de 0 totalmente contida em S, isto é, existe um > 0; tal que V ( 0 ) S. Neste caso, diremos que 0 é ponto interior ao conjunto S. (b) Existe uma -viinhança de 0 inteiramente contida no complementar 1 de S, isto é, existe > 0; tal que V ( 0 ) CnS. Neste caso, 0 é denominado ponto exterior ao conjunto S: 1 O complementar de S, representado por CnS, é o conjunto dos números complexos que não pertencem a S:

CAPÍTULO 1 - O PLANO COMPLEXO 23 (c) Qualquer -viinhança de 0 contém algum ponto de S e algum ponto do complementar de S, isto é, V ( 0 ) \ S 6=? e V ( 0 ) \ (CnS) 6=?; 8 > 0. Este é o caso em que o ponto 0 é dito ponto de fronteira do conjunto S: NOTAÇÃO O conjunto constituído de todos os pontos interiores ao conjunto S ; será representado por int(s) enquanto, ext(s) indicará o conjunto de todos os pontos exteriores ao conjunto S: O conjunto dos pontos de fronteira de S será indicado por @S. É claro que int(s) S e que os subconjuntos ; @S e ext(s) são dois a dois disjuntos (sem ponto em comum), isto é, int(s) \ @S =?; ext(s) \ @S =? e int(s) \ ext(s) =?: DEFINIÇÃO 1.4.1 Um subconjunto S C denomina-se aberto quando S \ @S =?; isto é, todos os seus pontos são pontos interiores. Neste caso, se 0 é um ponto de S; existe uma -viinhança de 0 inteiramente contida em S: DEFINIÇÃO 1.4.2 Um subconjunto S C denomina-se fechado quando @S S; ou seja, quando S contém todos os seus pontos de fronteira. EXEMPLO 1.4.3 Uma viinhança V em C é um conjunto aberto e conexo 2. Um conjunto aberto e conexo recebe a denominação de domínio. SOLUÇÃO Seja S = V ( 0 ) e mostremos que todo ponto de S é um ponto interior. Se considerarmos = j 0 j, então dado w 2 V () ; temos pela Desigualdade Triangular jw 0 j jw j + j 0 j < + j 0 j = ; e, portanto, w 2 S: Logo, V () S, mostrando que 2 int (S) : EXEMPLO 1.4.4 O conjunto S = f 2 C; Im() < 1g é um domínio. SOLUÇÃO Dado = a + ib 2 S; temos que b < 1; e para construir uma -viinhança de contida em S consideramos = minfjbj ; 1 jbjg: Se w = x + iy 2 V (); então jy bj p (x a) 2 + (y b) 2 = jw j < ; 2 Um conjunto aberto A é conexo se quaisquer dois pontos em A podem ser ligados por uma poligonal inteiramente contida em A:

24 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA e, consequentemente, y jyj jy bj + jbj < + jbj < 1 ) w 2 S: O seguinte resultado relaciona os conceitos de aberto e fechado e sua demonstração será apresentada de forma breve e merece re exão. LEMA 1.4.5 Um subconjunto S é aberto se, e somente se, seu complementar CnS é fechado. DEMONSTRAÇÃO Suponhamos que S seja fechado e seja 0 um ponto de CnS. Como @S S, segue que 0 =2 @S e, sendo assim, 0 2 int (CnS). Reciprocamente, se CnS é aberto e 0 2 @S, então 0 =2 CnS, tendo em vista que @S \ (CnS) = @S \ int (CnS) =?: Logo, 0 2 S e, portanto, @S S, mostrando que S é fechado. EXEMPLO 1.4.6 O conjunto S = f 2 C; Im() 1g é fechado. Ressaltamos que sua fronteira @S é a reta Im () = 1 e está inteiramente contida no conjunto S: DEFINIÇÃO 1.4.7 Um subconjunto S C denomina-se limitado quando existir um raio R > 0; tal que S f 2 C : jj Rg, isto é, jj R; 8 2 S: EXEMPLO 1.4.8 Qualquer disco D R = f 2 C : jj Rg é um subconjunto fechado e limitado. A fronteira do disco D R é a circunferência R = f 2 C : jj = Rg : Um subconjunto do plano C que é, ao mesmo tempo, limitado e fechado, recebe a denominação de "conjunto compacto". DEFINIÇÃO 1.4.9 Um ponto 0 2 C é um ponto de acumulação de S quando toda viinhança de 0 contiver um ponto de S; distinto de 0 : O conjunto dos pontos de acumulação de S será indicado por S 0 : Em símbolos 0 2 S 0, 8 > 0; V ( 0 ) \ (Snf 0 g) 6=?:

CAPÍTULO 1 - O PLANO COMPLEXO 25 EXEMPLO 1.4.10 Para deduir que origem = 0 é o único ponto de acumulação do conjunto S = fi; i=2; i=3; : : :g observamos que 0 =2 S, mas, dado um raio " > 0, se considerarmos n su cientemente grande teremos ji=nj < " e, portanto, i=n 2 V " \ S. Por outro lado, dado 0 = x 0 + iy 0 6= 0; 0 =2 S; se considerarmos = jx 0j 2, teremos V ( 0 ) \ S =?. Finalmente, se 0 = 1=n 0 e considerarmos < 1=n 0 (n 0 + 1), teremos V ( 0 ) \ S = f 0 g. Assim, S 0 = f0g: EXEMPLO 1.4.11 Observemos os subconjuntos S 1 = f 2 C : 0 < jj < 1g e S 2 = f 2 C : 0 arg() =2 e jj > 1g; ilustrados gra camente na Figura 1.7. Figura 1.7: Conjuntos S 1 e S 2. Temos S 0 1 = f 2 C : jj 1g e S0 2 = f 2 C : 0 arg() =2 e jj 1g: 1.4.1 Convergência Topologia Por sequência de números complexos entendemos uma função : N! C que associa a cada número natural n um número complexo (n) = n, denominado n-ésimo termo ou termo geral da sequência. Faremos referência ao termo geral n como sendo a sequência : n 7! n :

26 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA A cada sequência complexa ( n ) corresponde um par de sequências reais (x n ; y n ), sendo x n = Re ( n ) e y n = Im ( n ), de modo que as propriedades básicas estabelecidas para sequências reais são herdadas pelas sequências complexas. DEFINIÇÃO 1.4.12 (Conceito de Limite) A sequência ( n ) tem limite ou converge para, e anota-se = lim n ou n!, quando a cada raio " > 0 corresponder um índice N 2 N, tal que: n 2 V " () ; 8 n N: Dito de outra forma, temos: = lim n, 8" > 0; 9N 2 N : j n j < "; 8 n N: PROPOSIÇÃO 1.4.13 Com respeito a um subconjunto F C, as seguintes a rmações são equivalentes: (a) F é fechado. (b) Se ( n ) é uma sequência de pontos de F; convergindo para, então 2 F: DEMONSTRAÇÃO Para mostrar que (a) ) (b), suponhamos que F seja fechado e consideremos uma sequência ( n ) em F, com lim n =. Se não fosse um ponto de F, então estaria no complementar CnF, que é aberto, e, portanto, existiria um raio " > 0, tal que V " () CnF. Desde que n!, a partir de certa ordem N temos que n 2 V " () e isto contradi o fato de n 2 F; 8n: Por outro lado, se F não fosse fechado, então CnF não seria aberto e existiria um ponto =2 F, tal que V 1=n () \ F 6=?; 8n = 1; 2; 3; : : : e, escolhendo para cada n um número complexo n na interseção V 1=n \ F, a sequência ( n ) assim construida estaria em F e convergiria para, contradiendo a hipótese (b). No Exercício 8, veremos que: lim n =, lim [Re ( n )] = Re () e lim [Im ( n )] = Im () : e a convergência da sequência complexa ( n ) se redu à convergência de duas sequências reais. ESCREVENDO ::::::::::::::: ::::::: PARA ::::::::::::: APRENDER (Exercícios 1.4)

CAPÍTULO 1 - O PLANO COMPLEXO 27 1. Esboce e classi que em Aberto (A) ou Fechado (F) os subconjuntos do plano complexo caracteriados por: (a) jre j < 2 (b) jim j > 1 (c) j 4j > jj (d) 0 < arg () < 3=4; jj > 2 (e) Re > 0 e 1 < j 2ij < 2 (f) 0 arg () =4; 6= 0 (g) Re (1=) < 1=2: (h) Im (1=) 1=2 (i) Re 2 0: (j) Im 3 < 0: 2. Identi que as curvas do plano complexo descritas por: (a) j 2j = j 3ij (b) j 1 + ij = j3 + i j (c) j ij + j + 2j = 3 (d) j + 1j = 2 j ij (e) Re (1 ) = jj (f) = 0 + re i, 0 < 2 3. Dado um número real, identi que o conjunto S = f 2 C : jj = j 1jg : 4. Sejam R uma constante positiva e 0 um número complexo xado. Identi que o subconjunto do plano complexo descrito pela equação jj 2 + 2 Re ( 0 ) + j 0 j 2 = R 2 : 5. Por que o conjunto vaio? é aberto? Por que ele é um conjunto fechado? 6. Mostre que a união e a interseção de dois conjuntos abertos é um conjunto aberto. O que se pode dier sobre a união e a interseção de dois conjuntos fechados? 7. Dê exemplo de uma família in nita fa n ; n 2 Ng de conjuntos abertos do plano C, cuja interseção 1\ A n não é um conjunto aberto. n=1 8. Mostre que lim n = se, e somente se, lim [Re ( n )] = Re () e lim [Im ( n )] = Im () : 9. Com base no Exercício precedente, calcule os limites: n + 1 + in (a) lim n + 1 1 + i ln n (b) lim : n 10. Mostre que lim j n j = 0 se, e somente se, lim n = 0: Dê exemplo de uma sequência divergente ( n ), com (j n j) convergente. 11. Se jj < 1, mostre que lim ( n ) = 0:

28 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA RESPOSTAS & SUGESTÕES 1.1. NÚMEROS COMPLEXOS ::::::::::::::::::::::::: 1. Das operações com números complexos, resulta: (a) (2 i) + (3 + 4i) = 5 + 3i: (b) (2 + i) i (3 + 4i) = 2 + i 3i + 4 = 6 2i: (c) (1 + i) (2 + 2i) = 0 + 4i = 4i: h (d) (1 i) 12 = (1 i) 2i 6 = ( 2i) 6 = 64i. (e) (1 i) ( p 3 + i) = 1 + p 3 + (1 p 3)i: (f) (2 i) (2 + i) = 2 2 i 2 = 5: (g) (1 2i) (3 + 2i) 1 = 1 2i (1 2i) (3 2i) = = 1 3 + 2i 13 13 (h) i 45 = i 44 i 1 = 1 i = i: 8 13 i: 2. Usando a relação encontrammos: w = w jwj 2 ; (a) 2 2 3i = 4 13 + 6 13 i: (b) 2 + i 2 3i = 1 13 + 8 13 i: (c) 1 (1 i) 2 = i 2 : (d) Considerando que i 30 = 1 e i 19 = i, obtemos: 3 3i 30 i 19 2i 1 = 1 + i: (e) 5 + 5i 3 4i + 20 3 + 4i = 3 i. 3 De forma geral, temos: i n = ( 1) k, se n = 2k, e i n = ( 1) k i, se n = 2k + 1:

CAPÍTULO 1 - O PLANO COMPLEXO 29 3. Os números x e y formam a solução do sistema 3x + 5y = 7 x + 2y = 5 ; isto é, x = 1 e y = 2: 4. Dado um número compexo = x + iy, recordemos que Re () = x; Im () = y; jj = p x 2 + y 2 e re i = r: (a) = 1 2 + i = 2 i ) Re () = 2=5: 5 (b) = 2 + i (2 + i) (3 4i) = = 3 + 4i 25 (c) Se = x + iy, então: 10 5i 25 ) Im () = 1=5: 1 2 = x2 y 2 2xyi (x 2 + y 2 ) 2 = x2 y 2 j 4 j 2xyi j 4 j ) Im 1= 2 = 2 Re () Im () jj 4 : (d) 1 + 4i 4 + i = j1 + 4ij j4 + ij = p 17 p 17 = 1: (e) jcos + i sen j = p cos 2 + sen 2 = 1: 5. Como ilustração, faremos os ítens (c) e (d). Se = a + ib e w = c + id, então: (c) w = (ac bd) i (ad + bc) e w = (a ib) (c id) = (ac bd) i (ad + bc) : (d) Primeiro, mostremos que 1=w = (1=w). De fato, notando que 1=w = w= jwj 2 e 1=w = w= jwj 2, temos: Agora, temos: 1=w = w jwj 2 = = w w w jwj 2 = jwj 2 = (1=w): 1 1 = = 1 w w w = w : 6. Se = 2 + i 2, então Re () = 1 i 2 imaginário puro quando = 2: e Im () = 2 +. Sendo assim, é real se = 2 e será 2 7. A comprovação pode ser feita por substituição direta de na equação.

30 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA 8. Use as propriedades da conjugação dadas no Exercício 5 da Seção 1.1. 9. Se = 3 + 2i, então P (3 2i) = P () = P () = 1 + 2i. Logo, jp (3 2i)j = j1 + 2ij = p 5: 10. Primeiro observamos que = a + ib é um número real se, e somente se, Im () = 0, isto é, b = 0. Ora, =, a + ib = a ib, 2ib = 0, b = 0: 11. Considerando = x + iy, temos que 2 = x 2 y 2 + 2xyi e 2 = x 2 y 2 2xyi. Assim, 2 = 2, x 2 y 2 + 2xyi = x 2 y 2 2xyi, 2xy = 0: Ora, 2xy = 0 se, e somente se, x = 0 (neste caso é imaginário puro) ou y = 0 (neste caso é real). 12. Das propriedades algébricas em C e lembrando que = jj 2, temos: j1 j 2 + j1 + j 2 = (1 ) (1 ) + (1 + ) (1 + ) = 1 + + 1 + + + = 2 + 2 jj 2 : 13. Considerando n = 179 e = i, temos: 1 + i + i 2 + i 3 + + i 179 = 1 i180 1 i = 1 i2 90 1 i = 1 1 1 i = 0: 14. Se = a + ib e w = c + id, as igualdades jj = jwj e Re () = Re (w) nos condu ao sistema: x 2 + y 2 = a 2 + b 2 x = a de onde deduimos que y = b: Logo, = a ib: 15. Utiliando os Produtos Notáveis (Lema 1.1.2), obtemos: j w j 2 = jj 2 2 Re ( w) + jwj 2 = jj 2 2 Re jj 2 w + jj 2 jwj 2 = jj 2 2 jj 2 Re (w) + jj 2 jwj 2 = jj 2 h 1 2 Re (w) + jwj 2i :

CAPÍTULO 1 - O PLANO COMPLEXO 31 16. Um cálculo direto nos condu a: i n + i n = i2n + 1 i n = ( 1)n + 1 i n = 0, se n é ímpar 2= ( 1) k, se n = 2k, k 2 : Logo, os possíveis valores assumidos por i n + i n são: 0 e 2: 17. Sabemos do Exercício 10 da Seção 1.1 que w é real se, e somente se, w = w: Temos: w = i i = + i + i = i ( i + ) i ( i + ) = w: 18. Tendo em vista que jj < 1, então jj 2 1 jj 2 1 jj 2 e, sendo assim, obtemos: j + j 1 +, j + j 2 1 + 2, jj 2 + jj 2 + + 1 + jj 2 jj 2 + +, jj 2 1 jj 2 1 jj 2 : Por m, observamos que j + j = 1 +, j + j 2 = 1 + 2, jj 2 + jj 2 + + = 1 + jj 2 jj 2 + +, jj 2 1 jj 2 1 jj 2, jj = 1: 19. Efetue a operação do lado direito para concluir. 20. Os possíveis valores de N são 4k; 4k + 1; 4k + 2 e 4k + 3 k 2 N; conforme o resto da divisão de N por 4 seja 0; 1; 2 ou 3. Use o Exercicio 1.3.4 da Seção 1.1 para concluir. Por exemplo, se o resto da divisão é 2, então N = 4k + 2 e encontramos: 1 + i + i 2 + + i N = 1 in+1 1 i 21. Com a notação binomial, devemos mostrar que: = = 1 i4k+2 1 i = 1 i2 2k+1 1 i 2 1 i = 2 (1 + i) 2 (1 + i) = = 1 + i: (1 i) (1 + i) 2 n+1 X (1 + ) n+1 n + 1 = n k+1 : k k=0

32 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA Admitindo a sentença válida pra n 1, temos: nx (1 + ) n+1 = (1 + ) (1 + ) n n = (1 + ) n k k=0 nx n nx n = n k + n k+1 : k k Por outro lado, k=0 k=1 k=0 n+1 X n + 1 nx n n n k+1 = 1 + n+1 + + k k 1 k k=0 k=1 " nx # " n = 1 + n k+1 + n+1 + k 1 = nx j=0 n j n j + 22. Admitindo a sentença válida para n 1, temos: nx k=0 n k+1 nx k=1 n n k+1 = (1 + ) n+1 : k j 1 + 2 + + n + n+1 j j 1 + 2 + + n j + j n+1 j j 1 j + j 2 j + + j n j + j n+1 j : k # n n k+1 k 1.2. FORMA POLAR :::::::::::::::: 1. Se 1 = Arg (2 + i) e 2 = Arg (3 + i), então 1 = arctan (1=2) e 2 = arctan (1=3) e teremos: arg [(2 + i) (3 + i)] = 1 + 2 : Por outro lado, (2 + i) (3 + i) = 5 + 5i e, portanto, =4 = arg [(2 + i) (3 + i)] = 1 + 2 : 2. Se = Arg (5 i), então 4 = Arg (5 i) 4 e arctan = 1=5 e teremos: h i arg (5 i) 4 (1 + i) = 4 arctan ( 1=5) + =4: Para concluir, use (5 i) 4 (1 + i) = 956 4i e, portanto: h i arg (5 i) 4 (1 + i) = arctan ( 4=956) = arctan (1=239) :

CAPÍTULO 1 - O PLANO COMPLEXO 33 3. Temos p 6 p Arg (2 2i) = =4 e Arg 3 i = 6 Arg 3 i = : Logo, Arg (2 2i) + Arg p 3 i 6 = 5=4: 4. Expresse o número complexo sob a forma = re i, para descobrir o argumento. (a) 0 (b) =4 (c) =3 (d) =2 (e) 5=6 (f) : 5. Veja a ilustração na Figura 1.8. Figura 1.8: 6. Como ilustração faremos os ítens (b) e (c). (b) Se ' = Arg (2 + i), então 2 + i = p 5e i' e, portanto: 5i 2 + i = p 5 e i( 2 ') = p 5 sen ' + i p 5 cos ': Como tg ' = 1=2, segue que sen ' = 1= p 5 e cos ' = 2= p 5 e obtemos o resultado. (c) Temos que = 1 + i = p 2 e 3 4 i ) 7 = p 2 7 e 21 4 i = 8 p 2 e (6 3 4 )i = 8 p 2 e 3 4 i = 8 p 2 (cos (3=4) i sen (3=4)) = 8 (1 + i) :

34 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA 7. Considere na Fórmula de De Moivre n = 2 e n = 3 para chegar aos resultados. (a) No caso n = 2, temos: (cos + i sen ) 2 = cos (2) + i sen (2), cos 2 sen 2 + 2i sen cos = cos (2) + i sen (2), cos (2) = cos 2 sen 2 e sen (2) = 2 sen cos : (b) No caso n = 3; proceda de forma similar! 8. Considerando que 1 p 3i = 2e i=3, encontramos = 1 2 ( 1 + ip 3): 9. (a) Na forma exponencial, temos = 2 p 3e i=3 e w = p 3e i=3, de modo que: w = 6e 2ki e =w = 2e (2=3+2k)i : 10. Temos que = 2e i3=4 e substituindo na equação, encontramos: 4 (1 + 4i) 2 + 4i = 16 e i3 (1 + 4i) 4e i3=2 + 4i = 16 (1 + 4i) ( 4i) + 4i = 0: 11. Se ermos = re i e w = = e i', teremos: w = re i( ') = r [cos ( ') + i sen ( ')] e, consequentemente, Da última relação, resulta: Re (w) = r cos ( ') = jj jwj cos ( ') : Re ( w) = jj jwj, cos ( ') = 1, ' = 2k: Neste caso, temos: j + wj = re i + e i(+2n) = (r + ) = jj + jwj : 12. Usando identidades trigonométricas, obtemos: 1 + i tan 1 i tan = 1 tan2 + 2i tan sec 2 = cos (2) + i sen (2) = e 2i : = cos 2 sen 2 + 2i sen cos

CAPÍTULO 1 - O PLANO COMPLEXO 35 1.3. POTÊNCIAS & RAÍES :::::::::::::::::::::::: 1. Considerando = x + iy, x; y 2 R, temos: 3 =, x 3 y 3 3xy 2 = x 3x 2 y = y (1.20) Considerando que o sistema do lado direito de (1.20) não tem solução (real), no caso em que x 6= 0 e y 6= 0, obtemos: Assim, as solções de 3 = são: x = 0 ) y = 0 ou y = 1 y = 0 ) x = 0 ou x = 1: = 0; = 1 e = i: 2. Temos que 1 i p n 3 = 2 e i=3 n = 2 n [cos (n=3) i sen (n=3)] e 1 i p 3 n será um número real quando sen (n=3) = 0, isto é, n for múltiplo inteiro de 3. 3. Recordemos que w = p=q se, e somente se, p = w q : (a) 2 = 2i, = p 2 cos k + 4 + i sen k + 4 = (1 + i) : 2k =2 2k =2 (b) 3 = i, = cos + i sen, = i ou = 1 3 3 2 p 3 i : (c) 6 = 8, = p k k 2 cos + i sen ; k = 0; 1; 2; 3; 4; 5: Logo: 3 3 = p 2 ou = p 1 2 1 i p 3 ou = 1 2 1 i p 3 : (d) = p 3 + i 3=2, 2 = p 3 + i 3 = 2e i5=6 3 = 8e i=2. As raíes são: = 2 (1 + i) : (e) A equação = ( 1) 3=4 é equivalente a 4 p = 1, cujas raíes são: = 2 2 (1 i) : 4. Considerando que w n = 1, por ser w uma rai da unidade, e w 6= 1, obtemos 1 + w + w 2 + w 3 + + w n 1 = 1 wn 1 w = 0: Para calclular o valor da soma S = 1 + 2w + 3w 2 + 4w 3 + + nw n e daí resulta S = n 1 w : S ws = 1 + w + w 2 + w 3 + + w n 1 nw n = n 1, observamos que:

36 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA 5. Mostrar que p w = é equivalente a mostar que w = 2. Se ermos q q 1 = 2 (jwj + Re (w)) + i sgn (Im ) 1 2 (jwj Re (w)) teremos q 2 = 1 2 (jwj + Re (w)) 1 2 (jwj Re (w)) i sgn (Im (w)) jwj 2 Re (w) 2 q = Re (w) i sgn (Im (w)) Im (w) 2 = Re (w) + i Im (w) = w: (a) Temos Logo, 2 + + 1 = i, + 1 2 2 = 3 4 + i, + 1 2 = p w; w = 3 4 + i: q q + 1 2 = 1 2 (jwj + Re (w)) + i sgn (Im ) 1 2 (jwj Re (w)) = 1 2 + i Assim, as raíes da equação 2 + + 1 = i são precisamente = 1 2 1 2 + i, isto é, = i ou = 1 i: 6. Os possíveis valores de N são 4k; 4k + 1; 4k + 2 e 4k + 3 k 2 N; conforme o resto da divisão de N por 4 seja 0; 1; 2 ou 3. Use o Exemplo 1.3.4 da Seção 1.1 para concluir. Por exemplo, se o resto da divisão é 2, então N = 4k + 2 e encontramos: 1 + i + i 2 + + i N = 1 in+1 1 i = 1 i4k+2 1 i 7. Como ilustração, faremos a parte (a). Usando a identidade = = 1 i2 2k+1 1 i 2 1 i = 2 (1 + i) 2 (1 + i) = = 1 + i: (1 i) (1 + i) 2 1 + + 2 + 3 + + n = 1 n+1 ; 6= 1; 1 com = e i ; < ; 6= 0; encontramos de onde resulta: 1 + e i + e i2 + e i3 + + e in = 1 cos (n + 1) i sen (n + 1) ; (1 cos ) i sen 1 + cos + cos 2 + + cos n = 1 2 = 1 2 + cos (n + 1) cos + sen (n + 1) sen cos (n + 1) 2 (1 cos ) + cos n cos (n + 1) 2 (1 cos ) = 1 2 sen (n + 1=2) sen (=2) + : 1 cos

CAPÍTULO 1 - O PLANO COMPLEXO 37 x + y y x onde usamos a identidade cos x cos y = 2 sen sen. Para concluir a parte (a), 2 2 use a identidade 1 cos = 2 sen 2 (=2). A identidade (b) é deduida de forma similar, igualando as partes imaginárias. 8. No caso das equações biquadradas, podemos proceder como no Exemplo 1.3.10. (a) Considerando = re i temos: 2 = 1 i p 3, = p 2 cos =3 + 2k + i sen 2 =3 + 2k ; k = 0; 1; 2 p 2 p isto é, = 3 i : 2 p p p p (b) As raíes são: 2 i 2 e 2 i 2: (c) Efetuando o completamento do quadrado, chegamos a: 2 1 2 2 + i = 1 4, 2 = 1 i ou 2 = i: As raíes são, portanto: p p 2 2 i 2 2 e 4p 2 [ cos (=8) sen (=8)] : (d) Considerando que j 1 ij = p 2 e Arg ( 1 i) = 3=4, temos: 7 = 1 i, 7 = p 2 e i3=4 e as raíes são dadas por: k = 2 cos 1=14 3=4 + 2k + i sen 7 3=4 + 2k ; k = 0; 1; 2; : : : ; 6: 7 (e) Temos que 3 = i se, e somente se, 3 = i e as raíes desta última equação são: k = [cos (=6 + 2k) + i sen (=6 + 2k)] ; k = 0; 1; 2: (f) A equação é equivalente a 2 1 2 + i = 0 e as 4 raíes são: = 1 ou = 1 2 p 2 i p 2 : 9. As n raíes complexas de = re i são k = np + 2k + 2k r cos + i sen ; n n k = 0; 1; 2; : : : n 1; e como j k j = np r, segue que as n raíes k estão igualmente espaçadas ao longo da circunferência de centro na origem e raio np r. Ressaltamos que arg ( k ) arg ( k 1 ) = 2=n e o comprimento do arco entre essas raíes é s = 2 np r=n:

38 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA 10. Temos que a 3 ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) = 0 e efetuando diretamente o cálculo, chegamos a: 0 = a 3 ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) = a 3 3 ( 1 + 2 + 3 ) 2 + ( 1 2 + 1 3 + 2 3 ) 1 2 3 = 0: Daí resulta que: a 3 ( 1 + 2 + 3 ) = a 2 e a 3 ( 1 2 3 ) = a 0 : 11. 4 + 9 = 2 + p 6 + 3 2 p 6 + 3 : 1.4. TOPOLOGIA DO PLANO C :::::::::::::::::::::::::::: 1. Podemos olhar a descrição do conjunto em coordenadas cartesiana, considerando = x + iy: jre ()j < 2, jxj < 2 (A) jim ()j > 1, jyj > 1 (A) j 4j, jxj 2 (F) 0 < arg () < 3=4; jj > 2 (A)

CAPÍTULO 1 - O PLANO COMPLEXO 39 Re () > 0; 1 < j 2ij < 2 (A) 0 arg () =4; 6= 0 j 1j < 1 (A) j ij 1 (F) Re 2 0, x 2 y 2 (F) Im 3 < 0, 3x 2 y y 3 < 0 (A) 2. Em alguns casos, podemos considerar = x + iy e olhar a equação na forma cartesiana. (a) j 2j = j 3ij, 4x 6y + 5 = 0: (Reta) (b) j 1 + ij = j3 + i j, 4x + 4y + 5 = 0: (Reta) (c) j ij + j + 2j = 3: (Elipse com Focos: 1 = i e 2 = 2)

40 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA (d) j + 1j = 2 j ij : (Circunferência de centro 0 = 1 + 2i e raio R = p 7) (e) Re (1 ) = jj, 1 2x = y 2 : (Parábola com Foco: 0 = i=2) (f) = 0 + re i, j 0 j = r: (Circunferência de centro 0 e raio r) 3. Se = x + iy, a equação se redu a: 2 1 x 2 + y 2 + 2x = 1: Se = 0, o conjunto se redu ao ponto = 1: Se = 1, o conjunto se redu ao ponto = 1=2: Se = 1, o conjunto é vaio. Nos demais casos, o conjunto é a circunferência (x a) 2 + y 2 = 1 + a 2 ; a = 2 1 1 : 4. Considerando = x + iy; 0 = x 0 + iy 0 e passando a equação jj 2 + 2 Re ( 0 ) + j 0 j 2 = R 2 para coordenadas cartesianas, encontramos (x + x 0 ) 2 + (y + y 0 ) 2 = R 2 ; que representa uma circunferência de centro 0 e raio R: 5. O plano C é o complementar do conjunto vaio. Considerando que o plano C é, ao mesmo tempo, um conjunto aberto e também fechado, deduimos que o conjunto vaio? é aberto e fechado! 6. Sejam S 1 e S 2 dois subconjuntos do plano C e sejam A = S 1 \ S 2 e B = S 1 [ S 2 : (i) Se S 1 e S 2 são abertos, entãoa e B são abertos. De fato, dado 0 em A, então 0 2 S 1 \ S 2 e, portanto, existem 1 e 2 posiitivos, tais que V 1 ( 0 ) S 1 e V 2 ( 0 ) S 2 : Se considerarmos = min f 1 ; 2 g, teremos V ( 0 ) S 1 \ S 2, isto é, V ( 0 ) A: Por outro lado, dado 1 em B, então 1 2 S 1 ou 1 2 S 2 e, portanto, V ( 0 ) B:

CAPÍTULO 1 - O PLANO COMPLEXO 41 (ii) Se S 1 e S 2 são fechados, então A e B são fechados. Passando aos complementares, temos: CnA = Cn (S 1 \ S 2 ) = (CnS 1 ) [ (CnS 2 ) é aberto (união de dois abertos) CnB = Cn (S 1 [ S 2 ) = (CnS 1 ) \ (CnS 2 ) é aberto (interseção de dois abertos) 7. Para cada n 2 N, considere os conjuntos (discos) abertos A n = f 2 R : jj < 1=ng. Não é difícil deduir que não é um conjunto aberto. 1T n=1 A n = f0g 8. Consequência da de nição de limite e do fato: j n j jre ( n )j + jim ( n )j 2 j n j. 9. Do exercício 9, segue que lim n = lim Re ( n ) + i lim Im n. Assim, temos: (a) lim 1 + in n + 1 1 + i ln n (b) lim n = 1 + i lim n n + 1 = 1 + i: = lim 1 n + i lim ln n n = 0:

2.1 Exemplos de Funções Complexas Como no caso de variável real, o conceito de função complexa de uma variável complexa é uma regra f que associa a cada número complexo, de um subconjunto D C; um único complexo w = f (). Em símbolos, escrevemos f : D C! C Neste caso, D = D (f) é denominado domínio da função f e w = f () é a imagem do complexo 2 D: A Figura 2.2 ilustra o conceito de função de uma variável complexa. Figura 2.2: Função Complexa f : D C! C: Cada função f : D (f) C! C é determinada por um par de funções reais de duas variáveis u (x; y) e v (x; y), de nidas por u (x; y) = Re (f ()) e v (x; y) = Im (f ()) ; = x + iy 2 D: EXEMPLO 2.1.1 Não há restrições para a função f() = 2, o domínio de f é todo o plano complexo C. Neste caso, temos f () = x 2 y 2 + 2xyi

44 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA e, assim, u (x; y) = Re (f ()) = x 2 y 2 e v (x; y) = Im (f ()) = 2xy: EXEMPLO 2.1.2 A função de nida por f() = 1= tem para domínio o subconjunto D (f) = f 2 C : 6= 0g e, neste caso, temos u (x; y) = Re (f ()) = x x 2 + y 2 e v (x; y) = Im (f ()) = y x 2 + y 2 : EXEMPLO 2.1.3 O domínio da função f() = jj 2 é todo o plano complexo. A parte real e a parte imaginária de f () são, neste caso, EXEMPLO 2.1.4 A função g() = u (x; y) = x 2 + y 2 e v 0: 1 0 e xt dt + i! 1X y n tem para domínio o conjunto n=0 D (g) = f 2 C : Re () > 0 e jim ()j < 1g ; no qual a integral imprópria e a série numérica são convergentes. EXEMPLO 2.1.5 O domínio da função racional f() = P (), onde P () e Q () são polinômios Q() complexos, é o conjunto D (f) = f 2 C : Q () 6= 0g : EXEMPLO 2.1.6 O domínio da função g() = p x 2 + y 2 iy é o plano C e ela transforma circunferências em segmentos de reta. De fato, se R : jj = R é a circunferência de centro na origem e raio R 0; temos que = x + iy 2 R, x 2 + y 2 = R 2 e jyj R e, portanto, a imagem g () = u + iv é tal que u = p x 2 + y 2 = R e jvj = jyj R: Assim, g ( R ) é o segmento de reta L R = fu + iv 2 C : u = R e jvj Rg : EXEMPLO 2.1.7 Vamos identi car a imagem do disco D : jj < p 2 pela função w = 2 : SOLUÇÃO Um ponto do disco D é da forma = re i, com 0 r < p 2 e 0 < 2; e sendo w = 2, segue que Arg (w) = 2 e jwj = r 2 < 2. Assim, a imagem w (D) é o disco jwj < 2, como ilustra a Figura

CAPÍTULO 2 - FUNÇÕES ANALÍTICAS 45 2.3. A imagem pode ser identi cada, também, usando coordenadas cartesianas. Se = x + iy, então o disco D é descrito por x 2 + y 2 < 2 e designando w = u + iv, temos w = 2 = x 2 y 2 u = x + 2xyi ) 2 y 2 v = 2xy e, portanto, jwj = u 2 + v 2 = x 2 + y 2 2 < 4. Vemos, então, que a imagem é o disco aberto u 2 + v 2 < 4; do plano uv, de centro na origem e raio 2: Figura 2.3: Função Complexa w = 2 : EXEMPLO 2.1.8 Identi car e esboçar o grá co da imagem do disco S = f 2 C : j função w = 1=: 1j < 1g pela SOLUÇÃO Um ponto = re i do disco D é tal que 0 < r < 2 cos ; =2 < < =2, de modo que a imagem w = (1=r) e i é descrita por: 1=r = 1= (2 cos ) > 1=2, temos: =2 < Arg (w) < =2 e jwj = 1=r: Considerando que w (S) = fw 2 C : =2 < Arg () < =2 e jwj > 1=2g = fw 2 C : Re (w) > 1=2g Em coordenadas cartesianas, o disco S é descrito por x 2 + y 2 < 2x e se designarmos w = u + iv, teremos w = u + iv = x x 2 + y 2 iy x 2 + y 2

46 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA de onde resulta que u (x; y) > 1 2 e lim v (x; x) = 1: x!0 Veja na Figura 2.4 a ilustração grá ca do disco S e da imagem w (S) : Figura 2.4: Imagem de j 1j < 1 pela função w = 1=: EXEMPLO 2.1.9 Vejamos a imagem do conjunto S = f 2 C : 0 < jj 1g pela função w = 1=. Faendo = re i, 0 < r 1 e <, temos que w = 1 r e i ; < ; e jwj = 1 r 1 e vemos que a imagem w (S) é o exterior do disco de raio 1 e centro na origem. Veja a ilustração grá ca na Figura 2:5. EXEMPLO 2.1.10 A imagem do conjunto S = f 2 C : 0 Arg () =4g pela função w = é o conjunto w (S) = f 2 C : =4 Arg () 0g. Isto decorre do fato que Arg () = Arg () : Veja a ilustração ne Figura 2:6. EXERCÍCIOS & COMPLEMENTOS 2.1 1. Calcule o valor de f () = 3 2 + em = 2 + i e = 3i:

CAPÍTULO 2 - FUNÇÕES ANALÍTICAS 47 Figura 2.5: Função Complexa w = 1=: Figura 2.6: Função Complexa w = : 2. Se = x + iy, como se expressa a função f () = x 2 y 2 2y + i (2x 2xy) em termos de? 3. Considerando = x + iy, determine o domínio máximo das seguintes funções: (a) f () = ( i) sen y (b) f () = 2 + ( i) 3 (e iy 1) cos y (c) f () = y x + i 1 y : 4. Determine a parte real e a parte imaginária de w = f (). (a) w = 2 2 3 (b) w = jj + Re () (c) w = 1 1 (d) w = Im () 2 i : 5. Em cada caso, esboce o domínio D da função w = f ().

48 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA (a) w = 2 + 1; D : jj 2 (b) w = 3; D : jarg ()j < =2 (c) w = 2 ; D : jj > 3 (d) w = 1 ; D : Re () 1 (e) w = 1 2 ; D : jj > 1 (f) w = jj iy 2 ; D : Im () > 1: Im () 6. Em cada caso, identi que a imagem do conjunto S pela função w = f () : (a) w = 3; S : jarg ()j < =2 (b) w = 2 ; S : jj > 3 (c) w = 1 2 ; S : jj > 1 e jarg j =4 (d) w = 1 ; S : Re () > 0: 7. Qual a imagem da faixa horiontal S = f 2 C : 0 Im () g pela função w (x + iy) = e x e iy? Se R é o retângulo R = f 2 C : 1 Re () 2 e 0 Im () g qual a imagem w (R)? 8. Identi que a imagem do conjunto S = f 2 C : 0 < jj 1; 0 Arg () g pela função w = + 1=: 2.2 Limite e Continuidade Vamos considerar a função complexa f() = de nida em todo o plano complexo. Quando se aproxima do número complexo 2 2i; indicamos isto escrevendo! (2 3i); é fácil observar que os números complexos f() se aproximam do número 2 + 3i: Em símbolos excrevemos lim f() = 2 + 3i:!2 3i CONCEITO DE LIMITE Seja f : D C! C uma função complexa e xemos 0 um ponto de acumulação de D. Anotamos lim!0 f() = w 0 ; para indicar que dado " > 0, existe > 0 tal que jf() w 0 j < ", sempre que 2 D e 0 < j 0 j < : É oportuno ressaltar que esse encontrado a partir do " dado não é único; uma ve encontrado um tal, qualquer outro menor do este também atenderá à de nição de limite.

CAPÍTULO 2 - FUNÇÕES ANALÍTICAS 49 Em termos de viinhanças, escrever lim!0 f() = w 0 signi ca que a cada raio " > 0 dado, existe, em correspondência um raio > 0, tal que: f () 2 V " (w 0 ), sempre que 2 D \ V ( 0 ) ; 6= 0 : (2.21) É claro que a sentença (2.21) é equivalente a f [D \ (V ( 0 ) f 0 g)] V " (w 0 ) e que lim f() = w 0, lim jf () w 0j = 0: (2.22)! 0 j 0 j!0 EXEMPLO 2.2.1 Como primeira ilustração, vamos encontrar um raio > 0, tal que: 2 + 1 < 0:03, sempre que j ij < : SOLUÇÃO Temos que: 2 + 1 < 0:03, j + ij j ij < 0:03 (2.23) e como o procurado deve ser tal que j ij <, sendo essa a única informação que temos, o termo j + ij que gura em (2.23) deve ser substituido por uma constante. Temos j + ij = j i + 2ij j ij + j2ij = j ij + 2 e se supusermos < 1, teremos j + ij < 3, sempre que j ij < : Assim, 2 + 1 = j ij j + ij < 3 j ij < 3, sempre que j ij < ; e para chegarmos a 2 + 1 < 0:03, basta escolher de modo que 3 = 0:03, isto é, = 0:01: EXEMPLO 2.2.2 Ainda para ilustrar o conceito, provemos que lim!i ( + 2i) = 3i. SOLUÇÃO Neste caso, f() = + 2i; 0 = i e w 0 = 3i e dado " > 0, devemos encontrar > 0 tal que 0 < j ij < ) jf() 3ij < ": Ora, jf() 3ij = j + 2i 3ij = j ij se j ij <, então jf () 3ij < e para chegarmos a jf() 3ij < ", basta escolher = ":

50 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA EXEMPLO 2.2.3 Mostremos que lim!2i (2x + iy 2 ) = 4i, sendo = x + iy: De fato, se considerarmos na de nição de limite f() = 2x + iy 2, 0 = 2i e w 0 = 4i; teremos: jf() w 0 j = 2x + iy 2 4i 2 jxj + jij y 2 4 = 2 jxj + jy + 2j jy 2j ; e, considerando que, j 2ij <, jx + i(y 2)j < ; resulta: jy 2j jx + i(y 2)j < e jxj jx + i(y 2)j < : Se escolhermos < 1, teremos jy + 2j jy 2 + 4j < jy 2j + 4 < 5 e, portanto, jf() w 0 j < 2 + 5 = 7; com < minf1; "=7g: OBSERVAÇÃO 2.2.4 Decorre da de nição de limite que: (a) (b) lim!0 f () = w 0, lim!0 jf () w 0 j = 0: lim!0 f () = w 0 ) lim!0 jf ()j = jw 0 j : De fato, basta notar que jjf ()j jw 0 jj jf () w 0 j : (b) Se f () é limitada 4 em uma viinhança de 0 e lim g () = 0, então lim [f () g ()] = 0, mesmo!0!0 que f () não tenha limite no ponto 0 : De fato, basta notar que nessa viinhança tem-se: jf () g ()j C jg ()j! 0, com! 0 : 2.2.1 Lemas Técnicos e Propriedades do Limite Dada uma função complexa w = f () ; 2 D, deixe 0 ser um ponto de acumulação do conjunto D. Se em (1.8) usarmos f () w 0 no lugar do, veremos que: lim f () = w 0, lim [Re (f ())] = Re (w 0 ) e lim [Im (f ())] = Im (w 0 ) (2.24)! 0!0!0 e como consequência temos o seguinte resultado: LEMA 2.2.5 (Redução ao Caso Real) No caso em que f () = u (x; y) + iv (x; y) e considerando 0 = x 0 + iy 0 e w 0 = u 0 + iv 0, então: lim f() = w 0,! 0 lim (x;y)!(x 0 ;y 0 ) u(x; y) = u 0 lim v(x; y) = v 0: (x;y)!(x 0 ;y 0 ) e 4 f () é limitada em D quando existir uma constante C, tal que jf ()j C; 8 2 D:

CAPÍTULO 2 - FUNÇÕES ANALÍTICAS 51 LEMA 2.2.6 (Unicidade do Limite) Se lim!0 f() = w 1 e lim!0 f() = w 2 ; então w 1 = w 2 : DEMONSTRAÇÃO Seja " > 0 dado e suponhamos que jf () w j j < "; j = 1; 2, com em uma viinhança de 0 : Então, jw 1 w 2 j = jf () w 2 (f () w 1 )j jf () w 2 j + jf () w 1 j < " e, faendo "! 0, resulta jw 1 w 2 j 0, isto é, w 1 = w 2 : LEMA 2.2.7 (Limitação Local) Se lim!0 f () = w, então existem uma constante positiva C e um raio > 0, tais que jf ()j C; 8 2 D (f) \ V ( 0 ) : (2.25) Além disso, se w 6= 0 podemos escolher a constante C e o raio, de modo que 1 jf ()j C; 8 2 D (f) \ V ( 0 ) : (2.26) DEMONSTRAÇÃO Considerando " = 1 na de nição de limite, encontramos um raio 1 > 0, tal que jf () wj 1; 8 2 D (f) \ V 1 ( 0 ) e daí resulta que jf ()j jf () wj + jwj 1 + jwj ; 8 2 D (f) \ V ( 0 ) : Por outro lado, supondo w 6= 0 e considerando " = jwj =2, encontramos um raio 2 > 0, tal que jf () wj jwj 2 ; 8 2 D (f) \ V 2 ( 0 ) : e, portanto, se 2 D (f) \ V ( 0 ), então jwj jf ()j jf () wj jwj 2 ) jf ()j jwj 2 ) 1 jf ()j 2 jwj : Se considerarmos = min f 1 ; 2 g e C = max fc 1 ; C 2 g, onde C 1 = 1 + jwj e C 2 = 2= jwj, teremos: jf ()j C e 1 jf ()j C; 8 2 D (f) \ V ( 0 ) : TEOREMA 2.2.8 (Propriedades Algébricas) Sejam f; g : D! C duas funções complexas e seja 0 um ponto de acumulação de D. Se w 1 = lim!0 f() e w 2 = lim!0 g() então:

52 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA (a) (b) (c) (d) lim!0 [f() + g()] = w 1 + w 2 ; 2 C: (Linearidade) lim [f() g()] = w 1 w 2 : (Produto)!0 f() lim = w 1 ; w 2 6= 0; g () 6= 0: (Quociente)!0 g() w 2 lim!0 n = n 0 ; 8 n 2 N: Se 0 6= 0; então a propriedade vale 8 n 2 : (Potência) (e) Se P () e Q () são polinômios e Q ( 0 ) 6= 0, então lim!0 P () Q () = P ( 0) Q ( 0 ) : (Função Racional) DEMONSTRAÇÃO As demonstrações são semelhantes ao caso real, de modo que as apresentaremos de forma breve, deixando alguns detalhes a cargo do leitor, que deverá faê-los. Nas conclusões usaremos a equivalência (2.22). (a) Temos 0 jf() + g() w 1 w 2 j jf () w 1 j + jj jg () w 2 j! 0, com! 0 : (b) Inicialmente, observamos que:jf()j jf() w 1 + w 1 j jf() w 1 j + jw 1 j 1 + jw 1 j ; com variando em certa viinhaça de 0. Assim: jf() g() w 1 w 2 j = jf() (g() w 2 ) + f()w 2 w 1 w 2 j jf()j jg() w 2 j + jw 2 j jf() w 1 j (1 + jw 1 j) jg() w 2 j + jw 2 j jf() w 1 j! 0, com! 0 : (c) Usando as limitações locais de f () e de 1=g () determinadas no Lema 2.2.7, deduimos que: f() g() w 1 w 2 = f()w 2 w 1 g () w 2 g() = f() (w 2 g ()) (w 1 f ()) g () jw 2 j jg()j jf ()j 1 jw 2 g ()j + jw jw 2 j jg()j { } 1 f ()j! 0, com! jw 2 j { } 0 : { } #0 { } #0 limitada constante (d) Basta observar que lim!0 = 0 e usar a propriedade do produto. (e) Consequência das propriedades anteriores.

CAPÍTULO 2 - FUNÇÕES ANALÍTICAS 53 EXEMPLO 2.2.9 Das propriedades algébricas, resulta que EXEMPLO 2.2.10 Vamos calcular SOLUÇÃO 2 6 + 13 lim!3 2i 3 + 2i. lim ( 3 + 2i) = 3:! 2i Primeiro observamos que a propriedade algébrica (c) não pode ser aplicada. Porém, decompondo o polinômio 2 6 + 13 = ( 3 + 2i)( 3 2i); obtemos, lim!3 2i 2 6 + 13 3 + 2i ( 3 + 2i)( 3 2i) = lim!3 2i 3 + 2i = lim ( 3 2i) = 4i:!3 2i EXEMPLO 2.2.11 Com argumento análogo ao exemplo anterior, vamos calcular 3 lim! 2i 8i + 2i : SOLUÇÃO Considerando a decomposição do polinômio 3 8i = ( + 2i)( 2 2i 4); temos 3 lim! 2i 8i + 2i = lim ( 2 2i 4)( + 2i) = lim! 2i + 2i! 2i (2 2i 4) = 12: LEMA 2.2.12 (Da Função Composta) Sejam f : D! C e g : D! C duas funções complexas, com f (D) D ; e suponhamos que Então, lim!0 g [f ()] = 0 : lim! 0 f () = w 0 e lim w!w 0 g () = 0 : DEMONSTRAÇÃO Dado " > 0; existem e positivos, tais que: jf () w 0 j < ; 8 2 D \ V ( 0 ) ; com 6= 0 : jg (w) 0 j < "; 8 w 2 D \ V (w 0 ) ; com 6= 0 : Ora, se 2 D \ V ( 0 ) e 6= 0, então w = f () 2 D \ V (w 0 ) e, consequentemente, jg (f ()) 0 j < "; 8 2 D \ V ( 0 ) ; com 6= 0 : 2.2.2 Continuidade Vimos que o limite de uma função f () em um ponto 0 pode existir, sem que a função f esteja de nida no ponto 0 : No conceito de limite exige-se apenas que 0 seja um ponto de acumulação do domínio da função f () : A seguir, apresentaremos uma classe importante de funções complexas: a

54 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA classe C 0 das Funções Contínuas. Uma função desta classe tem limite em qualquer ponto 0 de seu domínio e o valor do limite é f ( 0 ) : Mais precisamente, temos a seguinte de nição: DEFINIÇÃO 2.2.13 Uma função f : D! C é contínua no ponto 0, se: (i) A função f está de nida no ponto 0, isto é, 0 2 D: (ii) A função f tem limite nito no ponto 0. (iii) O valor do limite de f em 0 é igual a f ( 0 ) : EXEMPLO 2.2.14 A função f() = jj é contínua em qualquer 2 C: De fato: lim f () = lim jj = j 0 j = f ( 0 ) :! 0!0 EXEMPLO 2.2.15 As funções f () = Re () e g () = Im () são contínuas em todo plano C. De fato, basta observar que jre () Re ( 0 )j j 0 j e jim () Im ( 0 )j j 0 j e considerar na de nição de limite = ": EXEMPLO 2.2.16 Uma função polinomial P () é contínua em todo ponto 0 do plano C. Isto resulta do fato que lim P () = P ( 0 ) : Já uma função racional f () = P ()!0 Q () é contínua no ponto 0 se, e somente se, Q ( 0 ) 6= 0: EXEMPLO 2.2.17 Segue diretamente do Lema 2:2:12 que se f () é contínua em 0 e g (w) é contínua em w 0 = f ( 0 ), então a função composta g (f ()) é contínua em 0 : EXEMPLO 2.2.18 Decorre das propriedades do limite que a função f() = u(x; y)+iv(x; y) é contínua em 0 = x 0 + iy 0 se, e somente se, as funções reais u (x; y) = Re (f ()) e v (x; y) = Im (f ()) forem contínuas em (x 0 ; y 0 ): EXEMPLO 2.2.19 A função f() = xy x 2 + y 2 + iy; 6= 0; e f(0) = 0; não é contínua em 0 = 0: De fato, a função componente u(x; y) = xy x 2, se (x; y) 6= (0; 0) ; e u (0; 0) = 0 não é contínua em (0; 0); + y2

CAPÍTULO 2 - FUNÇÕES ANALÍTICAS 55 porque não tem limite em (0; 0). Ao longo das trajetórias 1 : Im () = 0 e 2 : Re () = Im () os limites são, respectivamente: lim u(x; y) = lim (x;y)!(0;0) lim u(x; y) = lim (x;y)!(0;0) (x;y)!(0;0) y=0 (x;y)!(0;0) y=x xy x 2 + y 2 = lim x!0 xy x 2 + y 2 = lim x!0 0 x 2 = 0 e x 2 2x 2 = 1 2 : EXEMPLO 2.2.20 Vamos estudar a continuidade da função f() = i Re() ; se 6= 0; e f(0) = 0, em jj x que as componentes são u (x; y) 0 e v (x; y) = p, se (x; y) 6= (0; 0), e v (0; 0) = 0: Ao longo x 2 + y2 da trajetória 1 : Re () = Im (), temos: x lim v (x; y) = lim p = p 1 (x;y)!(0;0) x!0 2x 2 2 e isto indica que não existe lim!0 f() e, portanto, f não é contínua em = 0: EXEMPLO 2.2.21 Consideremos a função f() = (Re())2 se 6= 0, e f(0) = 0: Para calcular jj lim f(); Considerando =!0 ei e expressando f () na forma polar, temos: r 2 cos 2 limf() = lim!0 r!0 r = lim r!0 r cos 2 = 0; e o último limite independe do ângulo : Logo, lim!0 f() = 0 = f(0); de onde concluimos a continuidade de f em 0 = 0: EXEMPLO 2.2.22 Como consequência do Lema 2:2:12, temos que se f : D! D é contínua em 0 e g : D! C é contínua em w 0 = f ( 0 ), então g f : D! C é contínua em 0 : LEMA 2.2.23 Se w = f () é uma função contínua em 0 e f ( 0 ) 6= 0, existe > 0, tal que f () 6= 0; 8 2 V ( 0 ) \ D (f) : DEMONSTRAÇÃO Tomando " = 1 2 jf ( 0)j na de nição de continuidade, encontramos > 0, tal que jf () f ( 0 )j < 1 2 jf ( 0)j ; 8 2 D (f) \ V ( 0 ) ; (2.27) e de (2.27) resulta jf ()j > 1 2 jf ( 0)j > 0; 8 2 D (f) \ V ( 0 ) : EXERCÍCIOS & COMPLEMENTOS 2.2

56 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA 1. Se lim!0 f () = w 0, mostre que lim!0 jf ()j = jw 0 j : 2. Usando a de nição, prove que a função f () = 2 é contínua. 3. Usando a de nição de limite, prove que: (a) lim!i 3 i = 2i: (b) lim!i 2 + 1 = 0: (c) (d) (e) lim (Re () + jj) = Re ( 0 ) + j 0 j :!0 lim [x + i (2x + y)] = 1 + i:!1 i p p lim = 0 :!0 4. Usando as propriedades básicas do limite, veri que que: (a) lim = 1 (b) lim 2!i!i 1 i 3 1 i = 0 (c) lim! 2i 3 8i + 2i = 12: 5. Se f () = 1=; 6= 0, calcule o limite f () f ( 0 ) lim ; 0 6= 0:! 0 0 E se fosse f () = n ; n 2 N ; qual seria o valor do limite? 6. Veri que se a função f () = 0 0, de nida para 6= 0, tem limite quando! 0 : 7. Calcule, caso exista, o limite 8. Veri que se a função tem limite quando! 2i: lim!0 (1 + ) 1=4 1 : f () = 2 + 4 2i 9. Estude a continuidade, no ponto = 0; da função w = f (), sendo f (0) = 0 e, para 6= 0: (a) f () = Re () jj (b) f () = Im () 1 + jj (c) f () = [Re ()]2 jj (d) f () = Re 2 jj 2 :

CAPÍTULO 2 - FUNÇÕES ANALÍTICAS 57 10. Mostre que lim f () = w 0 se, e somente se, lim f ( n ) = w 0 ; seja qual for a sequência ( n )!0!0 no domínio de f (), com n! 0 : Como consequência dedua que f () é contínua em 0 se, e somente se, lim f ( n ) = f ( 0 ), seja qual for a sequência ( n ) convergindo para 0 : 11. Considere a função f : C! C, de nida por: 1 + jj, se jj p 2 f () = 0, se jj > p 2: Mostre que a função f () não é contínua no ponto 0 = 1 + i: E no ponto = i; a função é contínua? 12. Construa uma função f : C! C descontínua em todos os pontos do conjunto S : jj = 1: 13. Dado = x + iy, de na a função w = f () por: x 3 y (y ix) f () = (x 6 + y 2 ; ) (x + iy) 0; se = 0: se 6= 0 Se : (t) = x (t) + iy (t) é qualquer reta do plano C; tal que lim (t) = 0, mostre que t!0 f ( (t)) = 0 e, contudo, a função f () não tem limite quando! 0: lim t!0 2.3 Derivação no Plano C A função complexa f () = jj 2 ; com domínio D = C; é contínua e tem componentes u (x; y) = x 2 +y 2 e v 0 in nitamente diferenciáveis 5, ou de classe C 1, no plano C. A pergunta natural é: a função f () é derivável e o que seria a derivada f 0 ()? Imitando o caso real, em que se tem uma função de R! R, vamos eleger para derivada de f () ; no ponto 0 ; o valor, caso exista, do limite: lim!0 f( 0 + ) f( 0 ) ; 5 Uma função ' (x; y) di-se in nitamente diferenciável, ou de Classe C 1, quando possuir derivadas parciais, de todas as ordens, contínuas.

58 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA É claro que o valor do limite, caso exista, não deve depender da direção sobre a qual se aproxima de ero. Mostremos que para a função f () = jj 2 esse limite existe apenas se 0 = 0: De fato: f = f ( 0 + ) f ( 0 ) = j 0 + j 2 j 0 j 2 = ( 0 + )( 0 + ) j 0 j 2 = 0 + 0 + e, consequentemente, temos: (i) No ponto 0 = 0, temos lim (ii) Se 0 6= 0, então f lim!0 2R = lim!0!0 f e sendo 0 6= 0, segue que 0 + 0 6= f não é derivável em 0, se 0 6= 0: Como consequência temos: f = lim = 0 e, portanto, f 0 (0) = 0:!0 = 0 + 0 e lim!0 2iR f 0 + 0 e, portanto, f = lim 0!0 2iR (a) Uma função complexa pode ser derivável em um único ponto 0 do plano C: + 0 = 0 + 0 ; não tem limite, com! 0. Logo, (b) As partes real u(x; y) e imaginária v(x; y) de uma função complexa f () podem ser in nitamente diferenciáveis em V ( 0 ); sem que f () seja derivável em ponto algum dessa viinhança. (c) Uma função complexa pode ser contínua em um ponto 0 sem ser derivável nesse ponto. DEFINIÇÃO 2.3.1 Uma função f : D C ao conjunto D; quando existir o limite:! C é derivável (ou diferenciável) no ponto 0, interior f() f( 0 ) f( 0 + ) f( 0 ) lim = lim :! 0 0!0 Este limite, caso exista, é a derivada da função f (), no ponto 0 ; e é indicado por df d ( 0) ou f 0 ( 0 ) : EXEMPLO 2.3.2 Seja f() = 2 ; temos f = ( + )2 2 = 2 +! 2; quando! 0: Logo, f é derivável em e f 0 () = 2: EXEMPLO 2.3.3 Mostremos que a função f() = 2x + 8yi não é diferenciável em ponto algum do plano complexo. De fato, temos que f( + ) f() = 2(x + x) + 8(y + y)i 2x 8yi = 2 (x) + 8 (y) i;

CAPÍTULO 2 - FUNÇÕES ANALÍTICAS 59 de onde resulta: lim!0 f( + ) f() 2 (x) + 8 (y) i = lim :!0 x + (y) i Ao longo das trajetórias 1 : = x e 2 : = iy; obtemos, respectivamente: lim!0 y=0 f( + ) Portanto, não existe f() lim!0 2 (x) = lim x!0 x = 2 e lim f( + )!0 x=0 f( + ) f() f() ; seja qual for o número complexo : 8i (y) = lim y!0 i (y) = 8: TEOREMA 2.3.4 Se f : D! C é derivável no ponto 0 2 int (D), então f é contínua em 0 : DEMONSTRAÇÃO lim [f ()! 0 Basta observar que f ( 0 )] = lim!0 f () f (0 ) 0 ( 0 ) = f 0 ( 0 ) lim!0 ( 0 ) = 0: TEOREMA 2.3.5 (Regras Básicas de Derivação) Sejam f; g : D! C duas funções complexas deriváveis em um ponto 0 ; interior ao conjunto D e seja uma constante (complexa). (a) (f + g) 0 ( 0 ) = f 0 ( 0 ) + g 0 ( 0 ) : (Linearidade) (b) (f g) 0 ( 0 ) = f 0 ( 0 ) g ( 0 ) + f ( 0 ) g 0 ( 0 ) : (Produto) (c) (f=g) 0 ( 0 ) = f 0 ( 0 ) g ( 0 ) f ( 0 ) g 0 ( 0 ) g ( 0 ) 2 ; g ( 0 ) 6= 0: (Quociente) (d) Se f () = n ; n 2, então f 0 () = n n 1 ; 8 2 C: (Potência) DEMONSTRAÇÃO De forma geral, as Regras de Derivação decorrem das propriedades do limite. (a) Temos f() + g() (f( 0 ) + g( 0 )) f() f( 0 ) + g() g( 0 ) lim = lim! 0 0!0 0 f() f( 0 ) g() g( 0 ) = lim + lim!0 0!0 0 = f 0 ( 0 ) + g 0 ( 0 ) : (b) Sendo g () contínua em 0, então lim!0 g () = g ( 0 ) e, sendo assim, f()g() f( 0 )g( 0 ) lim = lim! 0 0 [f() f( 0 )] g () + f ( 0 ) [g() g( 0 )]!0 0 f() f(0 ) g() g( 0 ) g () + f ( 0 ) lim 0!0 0 = lim!0 = f 0 ( 0 ) g ( 0 ) + f ( 0 ) g 0 ( 0 ) :

60 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA (c) Este caso é similar ao anterior. Temos f()=g() f( 0 )=g( 0 ) lim = lim! 0 0 [f() f( 0 )] g ( 0 ) f ( 0 ) [g() g( 0 )]!0 ( 0 ) g () g ( 0 ) 1 = lim!0 g () g ( 0 ) = f 0 ( 0 ) g ( 0 ) + f ( 0 ) g 0 ( 0 ) [g ( 0 )] 2 : (d) Se n é um número inteiro positivo, usando a identidade (1.5), chegamos a e tomando o limite, com! 0, obtemos n 0 n = n 1 + n 2 0 + + 0 n 2 + 0 n 1 0 n 0 n lim =! 0 n 1 + 0 n 2 0 + + 0 0 n 2 + 0 n 1 0 0 { } n parcelas No caso em que n é um inteiro negativo e 6= 0, temos da Regra do Produto 0 = d d n n = d d (n ) n + n f() f(0 ) 0 g ( 0 ) f ( 0 ) g() g( 0) 0 d d n = n n 1 0 : = d d (n ) n + n n n 1 = d d (n ) n n 1 e daí resulta que d d (n ) n n 1 = 0, d d (n ) = n n 1 : TEOREMA 2.3.6 (Regra da Cadeia) Se f () é derivável em 0 e g (w) é derivável em w 0 = f ( 0 ), então a função composta g (f ()) é derivável em 0 e d d [g (f ())] ( 0) = g 0 (w 0 ) f 0 ( 0 ) : (Regra da Cadeia) DEMONSTRAÇÃO Se F (w) é a função de nida por g(w) g(w 0 ) g 0 (w 0 ); w 6= w 0 F (w) = w w 0 0; w = w 0 ; então lim F (w) = g 0 (w 0 ) w!w 0 g 0 (w 0 ) = 0 e temos que g(f()) g(f( 0 )) 0 = g(f()) g(f( 0)) f() f( 0 ) f() f( 0) 0 = F (f()) + g 0 (f( 0 )) f() f( 0) 0 :

CAPÍTULO 2 - FUNÇÕES ANALÍTICAS 61 Faendo! 0 na última igualdade e observando que lim!0 F (f()) = F (w 0 ) = 0, encontramos d d [g (f ())] ( 0) = lim!0 g(f()) g(f( 0 )) 0 = g 0 (f( 0 ))f 0 ( 0 ): DEFINIÇÃO 2.3.7 Uma função w = f() é analítica, ou holomorfa, em 0 ; quando sua derivada existir em todos os pontos de alguma viinhança de 0 : Quando f for analítica em todo ponto 0 de C ela é denominada Função Inteira. EXEMPLO 2.3.8 Todo polinômio P () é uma função inteira. EXEMPLO 2.3.9 Uma função racional f () = P () Q() é analítica em todo ponto 0 onde Q( 0 ) 6= 0. De fato, se Q ( 0 ) 6= 0, existe, de acordo com o Lema 2:2:23, uma viinhança V ( 0 ), na qual Q () 6= 0. Nesta viinhança, a função racional f () é derivável. EXEMPLO 2.3.10 No início desta seção, veri camos que a função f () = jj 2 é derivável apenas em = 0. Daí concluímos que ela não é analítica em ponto algum do plano C, embora as componentes u (x; y) e v (x; y) sejam de classe C 1 em todo plano R 2 : EXEMPLO 2.3.11 Resulta das Regras de Derivação que a soma, o produto, o quociente e a composição de funções analiticas é uma função analítica. OBSERVAÇÃO 2.3.12 Não é óbvio, embora seja verdadeiro, que uma função analítica em um ponto 0 é in nitamente derivável no ponto 0 e que suas componentes u (x; y) e v (x; y) são classe C 1 em uma viinhança de 0. Este fato, que será demonstrado depois, nos autoria derivar f () e suas componentes u (x; y) e v (x; y) tantas vees quantas forem necessárias, como também usar a igualdade entre as derivadas parciais mistas das funções u (x; y) e v (x; y) : 2.3.1 Equações de Cauchy-Riemann Conforme cou estabelecido nas seções anteriores, o limite (e a continuidade como consequência) de uma funçaõ f() = u(x; y) + iv(x; y) no ponto 0 = x 0 + iy 0 é determinado pelo limite das componentes u (x; y) e v (x; y) no ponto (x 0 ; y 0 ). Uma questão crucial que se apresenta no momento é: se uma função

62 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA complexa f() = u(x; y)+iv(x; y) é derivável no ponto 0 = x 0 +iy 0, há alguma relação entre a derivada f 0 ( 0 ) e as derivadas parciais de u (x; y) e v (x; y), no ponto (x 0 ; y 0 )? Suponhamos que a função f() = u(x; y) + iv(x; y) seja derivável em 0 = x 0 + iy 0 e designemos = x + i (y) ; u = u (x 0 + x) u (x 0 ; y 0 ) e v = v (x 0 + x) v (x 0 ; y 0 ). Temos f 0 f( 0 + ) f( 0 ) ( 0 ) = lim!0 u + iv = lim!0 x + iy u(x 0 + x; y 0 + y) u(x 0 ; y 0 ) + i [v(x 0 + x; y 0 + y) v(x 0 ; y 0 )] = lim x!0 x + i (y) y!0 e se considerarmos a trajetória y = 0; isto é, = x; obteremos f 0 ( 0 ) = u(x 0 + x; y 0 ) u(x 0 ; y 0 ) lim x!0 x y=0 = u x (x 0 ; y 0 ) + iv x (x 0 ; y 0 ) : v(x 0 + x; y 0 ) v(x 0 ; y 0 ) + i lim x!0 x y=0 Procedendo de forma similar, agora considerando a trajetória x = 0; isto é, = iy; encontramos: f 0 ( 0 ) = u(x 0 ; y 0 + y) u(x 0 ; y 0 ) lim x=0 i (y) y!0 = v y (x 0 ; y 0 ) iu y (x 0 ; y 0 ): v(x 0 ; y 0 + y) v(x 0 ; y 0 )] + i lim x=0 i (y) y!0 Das expressões encontradas para a derivada f 0 ( 0 ), decorrem as equações u x (x 0 ; y 0 ) = v y (x 0 ; y 0 ) u y (x 0 ; y 0 ) = v x (x 0 ; y 0 ) (2.28) que são denominadas Equações de Cauchy-Riemann. Em resumo, se f () é derivável em 0 = x 0 + iy 0, então as equações de Cauchy-Riemann (2.28) são satisfeitas no ponto (x 0 ; y 0 ) : EXEMPLO 2.3.13 A função f() = não é derivável em ponto algum do plano C. De fato, temos f() = x iy; u(x; y) = x; v(x; y) = y; de modo que u x 6= v y ; em qualquer ponto = x + iy do plano C: EXEMPLO 2.3.14 Com auxílio das equações de Cauhy-Riemann, torna-se mais fácil veri car que a função f() = jj 2 = x 2 + y 2 não é derivável nos pontos 6= 0:

CAPÍTULO 2 - FUNÇÕES ANALÍTICAS 63 SOLUÇÃO Neste caso, temos u(x; y) = x 2 + y 2 e v(x; y) = 0 e, portanto, u x = v y u y = v x, 2x = 0 2y = 0, (x; y) = (0; 0): Como as equações de Cauchy-Riemann não são válidas nos pontos 6= 0, concluímos que f só é derivável, possivelmente, em = 0: Os teoremas dados a seguir fornecem condições necessárias e su cientes para uma dada função complexa w = f () ser derivável em ponto 0 ; interior ao seu domínio. TEOREMA 2.3.15 (condição necessária) Se a função f() = u(x; y) + iv(x; y) é derivável no ponto 0 = x 0 +iy 0 ; então as derivadas parciais u x ; u y ; v x e v y existem em (x 0 ; y 0 ) e, nesse ponto, são válidas as equações de Cauchy-Riemann @u @x = @v @y e @u @y = @v @x : OBSERVAÇÃO 2.3.16 A validade das equações de Cauchy-Riemann em certo ponto (x 0 ; y 0 ) do domínio da função f () não assegura a derivabilidade de f () no ponto 0 = x 0 + iy 0. Como exemplo, consideremos a função w = f(), de nida por f () = 2 =, se 6= 0 0, se = 0: (a) As equações de Cauchy-Riemann são satisfeitas em 0 = 0: Se u (x; y) = Re (f ()) e v (x; y) = Im (f ()), um cálculo direto nos dá: x 3 3xy 2 u (x; y) = x 2, se (x; y) 6= (0; 0) 3x 2 y y 3 + y2 e v (x; y) = x 2, se (x; y) 6= (0; 0) + y2 0, se (x; y) = (0; 0) : 0, se (x; y) = (0; 0) e, consequentemente, u(x; 0) u x (0; 0) = lim = lim x!0 x x!0 v(0; y) v y (0; 0) = lim = lim y!0 y y!0 (x) 3 (x) 3 = 1 e u u(0; y) y(0; 0) = lim y!0 y (y) 3 (y) 3 = 1 e v v(x; 0) x(0; 0) = lim x!0 x e vemos que as equações de Cauchy-Riemann são válidas em (0; 0) : = 0 = 0

64 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA (b) A função f não é derivável em (0; 0) : De fato, ao longo do eixo real (y = 0), temos f(0 + ) f(0) = f(x) x = (x)2 (x) 2 = 1 e, ao longo da reta x = y, isto é, = x + ix, temos f(0 + ) f(0) = f(x + ix) x + ix (x ix)2 (1 i)2 = = (x + ix) 2 (1 + i) 2 = 1: Isto mostra que f () não é derivável em = 0: TEOREMA 2.3.17 (condição su ciente) Suponha que f() = u + iv esteja de nida em uma viinhança de 0 = x 0 +iy 0 e que u e v tenham derivadas parciais de 1 a ordem contínuas em uma viinhança de (x 0 ; y 0 ). Se as equações de Cauchy-Riemann são válidas em (x 0 ; y 0 ), então f () é derivável em 0 e a derivada f 0 ( 0 ) pode ser calculada por: f 0 ( 0 ) = u x (x 0 ; y 0 ) + iv x (x 0 ; y 0 ) ou f 0 ( 0 ) = v y (x 0 ; y 0 ) iu y (x 0 ; y 0 ) : (2.29) DEMONSTRAÇÃO Por simplicidade, em algumas passagens da demonstração omitiremos o ponto P 0 (x 0 ; y 0 ). Sendo as funções u (x; y) e v (x; y) diferenciáveis no ponto P 0, temos: u = u x (P 0 ) x + u y (P 0 ) y + E 1 e v = v x (P 0 ) x + v y (P 0 ) y + E 2 onde os restos E 1 e E 2 ; que dependem de x e y, são tais que: E 1! 0 e q(x) 2 + (y) 2 E 2! 0; com (x; y)! (0; 0) : q(x) 2 + (y) 2 Usando as equações de Cauchy-Riemann, u x = v y e v x = u y ; obtemos: f = u + iv = u xx + u y y + E 1 + i(v x x + v y y + E 2 ) = u x (x + iy) + iv x (x + iy) = u x (x 0 ; y 0 ) + iv x (x 0 ; y 0 ) + E 1 + ie 2 + E 1 + ie 2 e faendo! 0; o que equivale a (x; y)! (0; 0), encontramos f E1 + ie 2 lim = u x (x 0 ; y 0 ) + iv x (x 0 ; y 0 ) + lim!0!0 = u x (x 0 ; y 0 ) + iv x (x 0 ; y 0 ):

CAPÍTULO 2 - FUNÇÕES ANALÍTICAS 65 COROLÁRIO 2.3.18 Uma função w = f (), analítica em um domínio D, será constante em qualquer das situações abaixo: (a) f 0 () = 0, para todo no domínio D: (b) jf ()j constante em D: (c) f () assume apenas valores reais. DEMONSTRAÇÃO Uma função analítica f () = u + iv é constante em D se, e somente se, as componentes u (x; y) e v (x; y) têm derivadas parciais de primeira ordem nulas em D. (a) Se f 0 () = 0 no domínio D, então u x + iv x = 0 em D e daí resulta que u x e v x são nulas em D: Das equaçãoes de Cauchy-Riemann deduimos que u y e v y também se anulam em D: (b) Se jf ()j é constante, digamos jf ()j = k, obtemos por derivação implícita: u 2 + v 2 = k 2 u u ) x + v v x = 0 u u y + v v y = 0 e usando as equações de Cauchy-Riemann, chegamos: u 2 + v 2 u 2 x + vx 2 = 0, em D u 2 + v 2 u 2 y + vy 2 (2.30) = 0; em D: Das equações (2.30) segue que ou u 2 + v 2 = 0, e isto acarreta f 0, ou as derivadas u x ; u y ; v x e v y são todas nulas em D o que nos dá u e v constantes e, portanto, f () constante. (c) Se f () assume apenas valores reais, então v 0 em D, de onde resulta que v x 0 e v y 0. Das equações de Cauchy-Riemann concluímos que u x 0 e u y 0 e, portanto, f é constante. EXEMPLO 2.3.19 A função f () = 2 é inteira. De fato, as componentes u (x; y) = x 2 y 2 e v (x; y) = 2xy têm derivadas parciais contínuas e satisfaem ao sistema de Cauchy-Riemann em todo do plano C: EXEMPLO 2.3.20 Seria a função f (x + iy) = e iy derivável em algum ponto do plano C?

66 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA SOLUÇÃO Temos f () = e iy = cos y + i sen y e, portanto, u (x; y) = Re f () = cos y e v (x; y) = Im f () = sen y: Se f fosse derivável em algum ponto as equações de Cauchy-Riemann seriam válidas nesse ponto e teríamos u x = v y e u y = v x, cos y = 0 e sen y = 0: Ocorre que, não existe um número real y que satisfaça, ao mesmo tempo, às equações sen y = 0 e cos y = 0. Com isto concluímos que a função f () não é derivável em ponto algum do plano C: EXEMPLO 2.3.21 A função f () = jj 2, do Exemplo 2.3.14 é derivável em = 0, porque suas componentes u (x; y) = x 2 y 2 e v (x; y) = 0 têm derivadas parciais de primeira ordem contínuas e satisfaem ao sistema de Cauchy-Riemann na origem. Temos que f 0 (0) = u x (0; 0) + iv x (0; 0) = 0: EXEMPLO 2.3.22 (a função exp ()) A função f() = e x e iy = e x cos y + ie x sen y será indicada por exp () ou e ; com partes real e imaginária dadas por Re [f ()] = u (x; y) = e x cos y e Im [f ()] = v (x; y) = e x sen y: É claro que u e v são de classe C 1 em todo plano complexo C e, além dissso, as equações de Cauchy- Riemann são válidas. Sendo assim, f é derivável em todo ponto do plano complexo e f 0 () = u x + iv x = e x cos y + ie x sen y = e x e iy = f(): EXEMPLO 2.3.23 (derivada de 2 a ordem) Se em certa viinhança do ponto 0 = x 0 + iy 0 ; as funções u (x; y) e v (x; y) possuem derivadas parciais contínuas até a 2 a ordem e satisfaem às equações de Cauchy-Riemann, então a função f = u + iv é duas vees derivável em 0 e temos f 00 ( 0 ) = u xx (x 0 ; y 0 ) + iv xx (x 0 ; y 0 ) : De fato, a função g () = u x + iv x atende às condições do Teorema 2.3.17 e, portanto, g () é derivável em 0 ; com g 0 ( 0 ) = u xx (x 0 ; y 0 ) + iv xx (x 0 ; y 0 ) : Para concluir, notamos que f 00 ( 0 ) = g 0 ( 0 ) :

CAPÍTULO 2 - FUNÇÕES ANALÍTICAS 67 2.3.2 Equações de Cauchy-Riemann na Forma Polar Se (r; ) são as coordenadas polares de um ponto P (x; y), então x = r cos y = r sen ; e temos as seguintes fórmulas de derivação da transformação inversa r x = 1 r @y @ = cos ; r y = 1 @x r @ = sen ; x = 1 @y r @r = 1 r sen e y = 1 @x r @r = 1 cos : (2.31) r Agora, usando a Regra da Cadeia e (2.31), encontramos: u x = u r r x + u x = u r cos 1 r u sen u y = u r r y + u y = u r sen + 1 r u cos v x = v r r x + v x = v r cos 1 r v sen v y = v r r y + v y = v r sen + 1 r v cos : Supondo f () = u + iv derivável, usaremos as derivadas acima para passar as equações de Cauchy- Riemann (2.28) para a forma polar. Temos u x = v y, u r cos 1 r u sen = v r sen + 1 r v cos (2.32) e, de modo similar, temos u y = v x, u r sen + 1 r u cos = v r cos + 1 r v sen : (2.33) Multiplicando a equação (2.32) por cos e a equação (2.33) por sen ; e, em seguida, somando os resultados, obtemos: u r cos 2 + u r sen 2 = 1 r v (cos 2 + sen 2 ); isto é, u r = 1 r v : Procedendo de forma análoga, multiplicando a equação (2.32) por sen e a equação 1 (2.33) por cos ; e, em seguida, somando os resultados, obtemos r u = v r : Combinando esses resultados, chegamos ao sistema de Cauchy-Riemann na forma polar: u = rv r (2.34) v = ru r :

68 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA A derivada f 0 ( 0 ) vem dada por: f 0 ( 0 ) = u x + iv x = u r cos e daí resulta a fórmula de derivação 1 r u sen + i(v r cos 1 r v sen ) = u r cos + v r sen + i(v r cos u r sen ) = (u r + iv r )(cos i sen ) f 0 ( 0 ) = e i (u r + iv r ): (2.35) Usando as equações (2.34), obtemos a fórmula de derivação equivalente f 0 ( 0 ) = 1 r e i (v iu ): (2.36) EXEMPLO 2.3.24 Dado = re i ; com r > 0 e 0 < < 2, a função F () de nida por F () = p re i=2 é derivável em todo fora do semi-eixo f(x; 0) : x 0g e F 0 1 () = 2 p : De fato, temos: F () u (r; ) = p r cos (=2) ) u r = v (r; ) = p r sen (=2) ) v r = cos (=2) 2 p r sen (=2) 2 p r p r sen (=2) e u = 2 p r cos (=2) e v = 2 onde vemos que as componentes u (r; ) e v (r; ) são de classe C 1 ; no domínio considerado, e as equações de Cauchy-Riemann (2:34) são facilmente comprovadas. A derivada é dada por: F 0 () = e i (u r + iv r ) = e i 2 p r [cos (=2) + i sen (=2)] = 1 2 p r e i=2 = 1 2F () : EXERCÍCIOS & COMPLEMENTOS 2.3 1. Seja f : C! C a função de nida por f () = j + ij 2 : (a) Qual o conjunto imagem da função f? (b) Usando a de nição de derivada, calcule f 0 ( i). (c) A função f () é derivável em algum outro ponto 6= i? 2. Em cada caso, mostre que a função w = f () não é derivável em ponto algum do plano C. (a) f () = Im () (b) f () = e x (cos y i sen y) (c) f () = (d) f () = exp (jj) :

CAPÍTULO 2 - FUNÇÕES ANALÍTICAS 69 3. Em cada caso, calcule f 00 (), sendo: (a) f () = i + 2 (b) f () = e x (cos y i sen y) (c) f () = 3 4. Determine, onde existir, a derivada da função f () : (a) f () = 1 (b) f () = x 2 + iy 2 (c) f () = Im () (d) f () = 2 + 1 (e) f () = 1 : 5. Para a função f () = x 3 i (y 1) 3, mostre que u x +iv x = 3x 2. Por que 3x 2 representa a derivada dessa função apenas em = i? 6. Mostre que a função f () = Re () é derivável apenas na origem e calcule f 0 (0) : 7. Mostre que as funções f () = 3x + y + i (3y x) e g () = 2 e x e iy são inteiras. 8. As funções f (x + iy) = e y e ix e g (x + iy) = xy + iy são analíticas em algum ponto? 9. Se uma função complexa w = f () é analítica em uma viinhança de um ponto 0, exceto em 0 ; o ponto 0 recebe o nome de singularidade ou ponto singular da função f: (i) Um polinômio P () não tem ponto singular, por ser uma função inteira. (ii) As singularidades de uma função racional f () = P () Q () são as raíes do polinômio Q () : (iii) A função f () = não tem singularidade, porque não é analítica em ponto algum. O mesmo ocorre com a função f () = Re () : Determine, caso exista alguma, as singularidades das seguintes funções: (a) f () = 2 + 1 ( 2 + 1) (b) g () = 3 + i 2 3 + 2 (c) h () = Re () jj i Im () : 10. Calcule a derivada e as singularidades da função f () = 1 ( i) ( 2 + i) : 11. Dado = re i ; r > 0; =2 < < =2, designe F () = ln r + i. Mostre que a função F assim de nida é analítica no domínio indicado e F 0 () = 1=: 12. Se f () = 2 e k é uma constante real, veri que que as curvas u (x; y) = k e v (x; y) = k, onde u = Re [f ()] e v = Im [f ()], são ortogonais. Idem para a função g () = 1=:

70 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA 13. Se f () = u (r; ) + iv (r; ) é uma função analítica em um domínio D; que não contém a origem, use o sistema de Cauchy-Riemann e prove que as funções u e v satisfaem à equação de Laplace: r 2 rr + r r + = 0: 14. Se as funções f () e f () são analíticas em um domínio D, mostre que f é constante. 15. O Corolário 2.3.18 sugere algumas situações em que uma função analítica f () torna-se constante em um domínio D: Se Re [f ()] for constante em D é correto a rmar que f () é constante em D? 16. Determine onde a função w = f () é analítica: (a) f () = 3 + (b) f () = (1 ) 1 (c) f () = 2 (d) f () = Arg () : 17. Veri que que a função f (x + iy) = x 3 3xy 2 + i 3x 2 y y 3 é inteira e calcule f 0 (a + ib) : 18. Se uma função w = f () é holomorfa em um domínio D e f 0 () = 0; 8 2 D; mostre que f é constante em D: 19. Seja f () uma função inteira. Mostre que g () = f () também é uma função inteira. 20. Se f () é analítica em = 0 e h () = f (); mostre que h () é derivável em = 0 se, e só se, f 0 (0) = 0: 21. Mostre que a função f () = p jxyj satisfa às equações de Cauchy-Riemann em = 0, mas, não é derivável, e muito menos analítica, em = 0: 22. Se f = u + iv é uma função holomorfa em 0 e representa o ângulo de uma direção ~ com o eixo positivo dos x, mostre que: @u f 0 ( 0 ) = e i @~ + i@v : @~ 23. Se f e g são funções deriváveis em 0, com f ( 0 ) = g ( 0 ) = 0 e g 0 ( 0 ) 6= 0; mostre que: f () lim! 0 g () = f 0 ( 0 ) g 0 ( 0 ) :! j ij 2 Use o resultado e calcule lim!i 3 + 2 : + i + 1

CAPÍTULO 2 - FUNÇÕES ANALÍTICAS 71 2.4 Funções Harmônicas Nesta seção usaremos a teoria de funções harmônicas para construir, a partir de uma função real u (x; y) ; uma função analítica f () = u (x; y) + iv (x; y) : Na construção usaremos o seguinte resultado, admitido, por enquanto, sem demonstração. TEOREMA 2.4.1 Se f é analítica em 0, então f possui derivada de todas as ordens em 0 : Recordemos que uma função real de duas variáveis reais '(x; y); com derivadas parciais até a ordem k, contínuas em um domínio D; denomina-se de classe C k ; ou k-vees diferenciável em D: No caso em que k = 1, a função ' denominar-se-á in nitamente diferenciável, ou de classe C 1 ; no domínio D. DEFINIÇÃO 2.4.2 Uma função ' : D R 2! R, duas vees diferenciável, ou de classe C 2 ; que satisfa à equação de Laplace ' xx + ' yy = 0; em D: é denominada função harmônica em D. Se u e v são harmônicas e satisfaem as equações de Cauchy- Riemann (2:28) em D; diremos que u e v são harmônicas conjugadas. TEOREMA 2.4.3 Para que uma função complexa f () = u + iv seja analítica em D é necessário e su ciente que v seja harmônica conjugada de u; no domínio D: DEMONSTRAÇÃO Se f () é analítica, são válidas as equações de Cauchy-Riemann u x = v y u y = v x ; (2.37) e do Teorema 2.4.1 segue que as funções u (x; y) e v (x; y) são de classe C 1 e por derivação das equações (2.37), chegamos a: u xx + u yy = v yx v xy = 0 v xx + v yy = u yx + u xy = 0; de onde resulta que u (x; y) e v (x; y) são harmônicas conjugadas. Reciprocamente, se v é harmônica conjugada de u; então u e v são de classe C 2, satisfaem às equações de Cauchy-Riemann e do Teorema 2.3.17 segue que f = u + iv é analítica. EXEMPLO 2.4.4 (construindo uma harmônica conjugada) Construir, a partir das equaçãoes de Cauchy-Riemann, uma harmônica conjugada de u = x 2 y 2 :

72 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA SOLUÇÃO Em primeiro lugar, observamos que u (x; y) = x 2 y 2 é harmônica em todo plano C e usando a primeira equação do sistema de Cauchy-Riemann, temos v x = u y = 2y ) v (x; y) = 2xy + C (y) (2.38) e derivando (2.38) com relação a y e usando a relação v y = u x, encontramos 2x + C 0 (y) = v y = u x = 2x resultando, dessa forma, C(y) = k: Assim, v(x; y) = 2xy + k; e, considerando, por exemplo, k = 0, encontramos a função inteira f = u + iv = x 2 y 2 + 2xyi: EXEMPLO 2.4.5 Se f() é analítica e jf()j é constante em D, então f() é constante em D. SOLUÇÃO Dado que f uma função analítica, segue do Teorema 2.4.3 que u e v são harmônicas conjugadas, isto é, Ora, sendo jf()j = C; temos que u = v = 0 e u x = v y u y = v x em D: u 2 + v 2 = jf ()j 2 = C 2 ; (2.39) e, derivando implicitamente a equação (2.39) com relação a x e depois em relação a y; chegamos, respectivamente, a uu x + vv x = 0 uu y + vv y = 0: e (2.40) Agora, derivamos (2.40) 1 em relação a x e (2.40) 2 em relação a y e somamos membro a membro os resultados, para chegarmos a isto é, u 2 x + uu xx + v 2 x + vv xx + u 2 y + uu yy + v 2 y + vv yy = 0; u 2 x + u 2 y + uu + vv + v 2 x + v 2 y = 0: Como u = v = 0, segue, da última igualdade que u x = u y = v x = v y = 0 e, portanto, u e v são constantes. Logo, f () = u + iv é constante.

CAPÍTULO 2 - FUNÇÕES ANALÍTICAS 73 EXEMPLO 2.4.6 Seja u (x; y) um polinômio do segundo grau, homogêneo e harmônico, digamos u (x; y) = Ax 2 + By 2 + Cxy: Da relação u xx + u yy = 0, resulta A = B e, portanto, u (x; y) é da forma A função complexa conjugada v (x; y) é dada por u (x; y) = a x 2 y 2 + bxy; a; b 2 R: v (x; y) = 2axy b 2 x2 y 2 + k; sendo k constante, e a função inteira f () = u + iv correspondente é f () = a x 2 y 2 + bxy + i 2axy b 2 x2 y 2 + k = a x 2 y 2 + 2xyi i b 2 x2 y 2 + 2xyi + ik = a b 2 i 2 + ik: EXERCÍCIOS & COMPLEMENTOS 2.4 1. Mostre que u = x 5xy é harmônica em todo plano, determine sua conjugada v (x; y) e expresse f = u + iv em termos de = x + iy: 2. Repita o exercício precedente com a função u (x; y) = e x cos y: 3. Mostre que a função v (x; y) = sen x senh y é harmônica e construa uma função analítica f (), com v (x; y) = Im [f ()] : 4. Repita o exercício precedente com a função v (x; y) = x 3 3xy 2 : 5. Mostre que a forma mais geral dos polinômios do terceiro grau, homogêneos e harmônicos é u (x; y) = ax 3 3bx 2 y 3axy 2 + by 3 : Determine a harmônica conjugada v (x; y) e a função inteira correspondente f () = u + iv: 6. Se f () é uma função de classe C 2 em um domínio D, mostre que jf ()j 2 = 4 f 0 () 2, nos pontos de D:

74 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA RESPOSTAS ::::::::::::::: ::: & ::::::::::::::: SUGESTÕES 2.1. EXEMPLOS DE FUNÇÕES COMPLEXAS ::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: 1. f (2 + i) = 11 + 13i e f (3i) = 27 + 3i: 2. Um cálculo direto nos dá: f () = x 2 y 2 2y + i (2x 2xy) = x 2 y 2 2ixy + 2ix 2xy = (x iy) 2 + 2i (x + iy) = 2 + 2i: 3. Sendo = x + iy, temos: (a) D (f) = f 2 R : 6= i e 6= kig : (b) D (f) = f 2 R : Im () 6= k + =2 e Im () 6= 2kg : (c) D (f) = f 2 R : Re () 6= 0 e Im () 6= 1g : 4. Considerando u (x; y) = Re [f ()] e v (x; y) = Im [f ()], com = x + iy, temos: (a) u (x; y) = 2x 2 2y 2 3x e v (x; y) = 2xy 3y: (b) u (x; y) = p x 2 + y 2 + x 2 e v (x; y) = xy: (c) u (x; y) = (d) u (x; y) = 5. Figuras em Construção 1 x (1 x) 2 + y 2 e v (x; y) = x 2 y y 3 x 4 + y 4 + 6x 2 y 2 4xy + 1 y (1 x) 2 + y 2 : e v (x; y) = 1 2xy x 4 + y 4 + 6x 2 y 2 4xy + 1 : 6. Figuras em Construção 7. As partes real e imaginária da função w = f (x + iy) = e x e iy são, respectivamente: u (x; y) = e x cos y e v (x; y) = e x sen y; de modo que u 2 + v 2 = e 2x (circunferência de centro 0 = 0 e raio r = e x ). É oportuno ressaltar que y é, ao mesmo tempo, a parte imaginária de e o argumento de w: No caso da faixa horiontal S, vemos que: jwj = e x! +1; com x! 1; e 0 Arg (w) :

CAPÍTULO 2 - FUNÇÕES ANALÍTICAS 75 e a imagem w (S) é o subconjunto fw = u + iv; v 0; w 6= 0g : No caso do retângulo R, a imagem está ilustrada na gura abaixo. 8. Olhando as componentes u (x; y) = Re (w) e v (x; y) = Im (w) ao longo do eixo real e imaginário, respectivamente, vemos que: u (x; 0) = x 1 + 1x 2 e v (0; y) = Im (w) = y 1 1 y 2 de onde resulta lim u (x; 0) = 1 e v (x; y) 0, com lim v (0; y) = 1: A imagem w (S) é o x!0 y!0 + semiplano inferior v 0: 2.2. LIMITE & CONTINUIDADE :::::::::::::::::::::::::::: 1. Use a de nição de limite e a desigualdade jjf ()j jw 0 jj jf () w 0 j :

76 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA 2. É su ciente provar que lim!0 2 = 2 0, seja qual for o ponto 0 do plano C: Seja, então, " > 0 dado e determinemos > 0, tal que: j 0 j < ) 2 0 2 < ": O raio procurado pode depender do " dado e do ponto 0 e, considerando < 1, teremos: j 0 j < ) j + 0 j j 0 j + j 0 j < + j 0 j < 1 + j 0 j : Assim, se j 0 j <, então: 2 0 2 = j + 0 j j 0 j < (1 + j 0 j) j 0 j < (1 + j 0 j) Para concluir, basta escolher o raio de modo que: < min f1; "= (1 + j 0 j)g : 3. Comprovar limite pela de nição torna-se uma caçada ao. Para que se tenha lim!0 f () = w 0 ; procuramos, a partir de um " > 0 dado, um > 0, tal que: jf () w 0 j < "; sempre que 2 D (f) e 0 < j 0 j < : (a) Se f () = 3 i, então: jf () + 2ij = 3 + i = ( i) 2 + i 1 j ij jj j + ij + j ij : (2.41) Considerando < 1, então j ij < acarreta: jj < j ij + 1 < 2 e j + ij < j ij + 2 < 3 e de (2.41) chegamos a: jf () + 2ij < 7 j ij < 7 e para concluir, basta escolher < min f1; 7="g : (b) Se < 1, temos: 2 + 1 = j ij j + ij < 3, se j ij < e dado " > 0, escolhamos < min f1; "=3g para concluir que j ij < ) 2 + 1 < ":

CAPÍTULO 2 - FUNÇÕES ANALÍTICAS 77 (c) Supondo j 0 j < e considerando < 1, temos jre () + jjj = jre ( 0 ) + Re ( 0 ) + j 0 + 0 jj jre ( 0 )j + jre ( 0 )j + j 0 j + j 0 j j 0 j + 2 j 0 j < 1 + 2 j 0 j : Escolha < min f1; "= (1 + 2 j 0 j)g : (d) Se 0 = 1 i; w 0 = 1 + i e f () = x + i (2x + y), então: jf () w 0 j = j 0 + 2i Re ( = 0 )j j 0 j + 2 jre ( 0 )j 3 j 0 j e para concluir, seja = "=3: (e) Temos () 2 ( 0 ) 2 = j 0 j j + 0 j e considerando < min f1; "= (1 + 2 j 0 j)g comprovamos a de nição. 4. Em alguns casos, o resultado é obtido por substituição direta; em outros é necessário fatoração. 1 (a) lim!i 2 = 1 i 2 = 1: i 3 1 i ( i) 2 + i 1 (b) lim = lim!i i!i i = lim!i i 2 + i 1 = 3: (c) Usando a fatoração do Exercício 19 do Capítulo 1, temos: 3 8i lim! 2i + 2i = lim ( + 2i) 2 2i 4 = lim! 2i + 2i! 2i 5. Um cálculo direto nos dá: f () f ( 0 ) 1 lim = lim = 1! 0 0!0 0 0 2: No caso em que f () = n, usamos a identidade (1.5) e chegamos a: 6. O limite não existe, tendo em vista que: f () f ( 0 ) n 0 n lim = lim = n! 0 0!0 0 n 1 : 0 2 2i 4 = 12: (i) sobre a trajetória 1 : Re () = x 0 o valor do limite é 1:

78 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA (ii) sobre a trajetória 2 : Im () = y 0 o valor do limite é 1: 7. Se w = (1 + ) 1=4 então = w 4 1 e, portanto: (1 + ) 1=4 1 w 1 lim = lim!0 w!1 w 4 1 = lim 1 w!1 (w i) (w + i) (w + 1) = 1 4 : 8. Considere as trajetórias 1 : Re () = 0 e 2 : Im () = 2, ao longo das quais o limite tem valores 4i e 4i, respectivamente. Daí conclui-se que o limite não existe. 9. A função f () será contínua em = 0 quando lim!0 f () = 0. Sejam u (x; y) = Re [f ()] e v (x; y) = Im [f ()] ; sendo = x + iy: (a) u (x; y) = x p não tem limite em (0; 0) e f () é descontínua em = 0: x 2 + y2 (b) Neste caso, u (x; y) 0 e, na forma polar, v (x; y) = r sen! 0, com r! 0: A função é 1 + r contínua em = 0: x 2 (c) Temos u (x; y) = p! 0, com! 0; e v (x; y) 0. Assim, lim f () = 0 e a função x 2 + y2!0 é contínua em = 0. (d) A componente u (x; y) = x2 y 2 x 2 não tem limite em (0; 0) e a função é descontínua em = 0: + y2 10. Suponha que lim!0 f () = w 0 e seja ( n ) uma sequência no domínio de, convergindo para 0. Dado " > 0, existem > 0 e um número natural n 0, tais que: (i) jf () w 0 j < "; se 2 D (f) e 0 < j 0 j < (i) j n 0 j < ; se n 2 N e n n 0 : e daí resulta que jf ( n ) w 0 j < "; se n 2 N e n n 0 ; e isto nos di que lim f ( n ) = w 0 : Para provar a recíproca, raciocinamos por contradição supondo que f () não tem limite w 0, com! 0 : Assim, existe um raio " 0 > 0 e podemos escolher para cada índice n um número complexo n no domínio de f, tal que: j n 0 j < 1=n e jf ( n ) w 0 j " 0 : Dessa forma, construímos uma sequência ( n ) no domínio de f, convergindo para 0, sem que f ( n ) convirja para w 0, contradiendo a hipótese.

CAPÍTULO 2 - FUNÇÕES ANALÍTICAS 79 11. A sequência n = (1 + 1=n) + i (1 + 1=n) converge para 0 = 1 + i e, contudo, a sequência imagem (f ( n )) não converge para f ( 0 ), já que f ( n )! 0 e f ( 0 ) = 2: Esse mesmo argumento pode ser usado para mostrar que a função é descontínua em qualquer ponto da circunferência jj = p 2: Nos pontos interiores ou exteriores à circunferência jj = p 2 a função é contínua. 12. Considere, por exemplo, a função w = f (), de nida por: se jj 1 f () = 2 se jj > 1: Dado 0 = a + ib, com a 2 + b 2 = 1, a sequência n = (a + 1=n) + i (b + 1=n) converge para 0 e, ainda assim, (f ( n )) não converge para f ( 0 ) = a + ib, porque f ( n ) = 2, 8n; e jf ( 0 )j = 1: ix 3 y 13. Primeiro, notamos que para 6= 0 temos f () = x 6, de modo que o limite ao longo da + y2 trajetória x 3 = y é igual a i=2. Por outro lado, ao longo da família de retas y = mx, temos: mx 2 lim f () = i lim!0 x!0 (x 4 + m 2 ) = 0: 2.3. DERIVAÇÃO NO PLANO C ::::::::::::::::::::::::::: 1. Temos f (x + iy) = x 2 + (y + 1) 2 e as componentes de f () são: u (x; y) = x 2 + (y + 1) 2 e v (x; y) 0: (a) O conjunto imagem de w = f () é: I (f) = f 2 C : Im () = 0 e Re () 0g : (b) No ponto 0 = f 0 ( i, temos: f ( i + ) f ( i) jj 2 i) = lim = lim!0!0 = lim () = 0:!0 2. Basta comprovar que o sistema de Cauchy-Riemann não é satisfeito em ponto algum do plano C: (a) Temos u (x; y) = y, v (x; y) = 0 e, portanto, u y 6= v x em todo ponto :

80 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA (b) Temos u (x; y) = e x cos y e v (x; y) = e x cos y = e x cos y, e x sen y = e x sen y e x sen y e o sistema é, neste caso: cos y = cos y, cos y = 0 e sen y = 0: sen y = sen y um tal y não existe! (c) Neste caso, u (x; y) 0 e v (x; y) = 2y. A equação u x = v y não é satisfeita em ponto algum. 3. O cálculo pode ser feito via regras de derivação ou com a fórmula (2.29). (a) f () = i + 2 ) f 00 () = 0: (b) f () = exp ( ) ) f 00 () = exp ( ) : Para usar a fórmula (2.29), notamos que: f 0 () = u x + iv x = U + iv ) f 00 () = U x + iv x = u xx + iv xx ou f 00 () = V y iu y = v xy iu xy : (c) f () = 3 ) f 00 () = 6: 4. Usando regras de derivação ou a fórmula (2.29), temos: (a) Se 6= 0, então f 0 () = 1 2 : (b) A derivada existe nos pontos da reta S : Re () = Im () e é dada por: f 0 () = 2x + 2iy: (c) As componentes de f () são as funções u = xy e v = y 2, de classe C 1 ; e o sistema de Cauchy-Riemann é atendido apenas em = 0. Temos f 0 (0) = 0: (d) f 0 () = 2; 2 C: (função inteira) (e) Se 6= 1, então f 0 () = 1 ( 1) 2 : 5. As componentes u = x 3 e v = (y 1) 3 são de classe C 1 em todo plano C, mas, as equações de Cauchy-Riemann são satisfeitas apenas em = i e neste ponto temos f 0 (i) = 0: 6. Temos f () = x 2 + ixy e as equações de Cauchy-Riemann são satisfeitas apenas em = 0. A derivada é f 0 (0) = u x (0; 0) + iv x (0; 0) = 0:

CAPÍTULO 2 - FUNÇÕES ANALÍTICAS 81 7. Veri que que o sistema de Cauchy-Riemann é satisfeito em cada ponto (x; y) do plano C: Note que a função g () é o produto da função inteira 2 pela função e, também inteira. 8. As componentes da função f () são u = e y cos x e v = e y sen x, que não satisfaem ao sistema de Cauchy-Riemann em ponto algum, já que as funções cos x e sen x não se anulam simultaneamente. A funçao f () não é derivável, e muito menos analítica, em ponto algum. Já a função g () é derivável apenas em = i, mas, não é analítica em ponto algum. 9. A simples inexistência da derivada em um ponto não indica singularidade nesse ponto. Recorde-se que 0 é uma singularidade de f () quando f for analítica em alguma viinhança de 0, exceto no ponto 0 : (a) = 0 e = i são as singularidades de f () : (b) = 0 e = 2 são as singularidades de g () : (c) A função h () não é analítica em ponto algum e, portanto, não tem singularidade. 10. A derivada pode ser calculada por meio de regras de derivação. As singularidades são: = 0; = i e = 1 2 p 2 + i p 2 : 11. Sendo F () = ln r + i, então as componentes u (r; ) = ln r e v (r; ) = são de classe C 1 e facilmente comprovam-se as equações de Cauchy-Riemann: u r = 1 r v e v r = 1 r u : A derivada é dada por: F 0 () = e i (u r + iv r ) = e i 1 r = 1 r e i = 1 : 12. No caso de f () = 2, temos u (x; y) = x 2 y 2 e v (x; y) = 2xy. As curvas u (x; y) = k e v (x; y) = k são ortogonais se, e só se, ru (x; y) rv (x; y) = 0: Temos: ru (x; y) = (2x) ~i (2y) ~j rv (x; y) = (2y) ~i + (2x) ~j Repita o processo com a função g () = 1=, nos pontos 6= 0: ) ru (x; y) rv (x; y) = 4xy 4xy = 0:

82 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA 13. Partindo das equações de Cauchy-Riemann, encontramos: u r = 1 r v ) u rr = 1 r 2 v + 1 r v r ) r 2 u rr = v + rv r u = rv r ) u = rv r e daí resulta: r 2 u rr + ru r + u = ( v + rv r ) + v + ( rv r ) = 0: Procedimento similar se adota para a função v (r; ) : 14. Como f () = u + iv e g () = u iv são analíticas no domínio D, resulta das equações de Cauchy-Riemann que: u x = v y e v x = u y u x = v y e v x = u y e daí segue que as derivadas primeiras de u e v são nulas em D. Logo, u e v (e portanto f ()) são constantes em D: 15. Se u (x; y) = Re [f ()] for constante, digamos u = k, teremos u x = u y = 0 e, consequentemente, v x = u y = 0 e v y = u x = 0. Logo, f () é constante. 16. Se A representa o conjunto onde f () é analítica, então: (a) A = C, isto é, f () é uma função inteira. (b) A = f 2 C : 6= 1g : (c) A = f 2 C : 6= 0g : (d) A =?, isto é, f () não é analítica em ponto algum. 17. As componentes u (x; y) = x 3 3xy 2 e v (x; y) = 3x 2 y y 3 são funções polinomiais e, portanto, de classe C 1 em R 2 : Além disso, as equações de Cauchy-Riemann são satisfeitas em todo plano. Logo, f () é uma função inteira. A derivada no ponto = a + ib é igual a: f 0 (a + ib) = 3 a 2 b 2 + (6ab) i: 18. Sendo f 0 () = 0 em D, então u x + iv x = 0, em D u y iv y = 0; em D: Daí resulta u e v constantes. Logo, f () é constante.

CAPÍTULO 2 - FUNÇÕES ANALÍTICAS 83 19. Basta observar que se f () = u (x; y) + iv (x; y), então g () = f () = U (x; y) + iv (x; y), onde U (x; y) = u (x; y) e V (x; y) = v (x; y). Agora, comprovemos as equações de Cauchy- Riemann. U x (x; y) = u x (x; y) = v y (x; y) = V y (x; y) V x (x; y) = v x (x; y) = u y (x; y) = U y (x; y) : 20. Se f = u + iv, então h = u iv e supondo que h () seja derivável em = 0, teremos: u x (0; 0) = v y (0; 0) u y (0; 0) = v x (0; 0) : Mas, sendo f () analítica em = 0, temos: u x (0; 0) = v y (0; 0) u y (0; 0) = v x (0; 0) : (2.42) (2.43) Comparando (2:42) e (2:43) deduimos que u x ; u y ; v x e v y f 0 (0) = 0: Reciprocamente, se f 0 (0) = 0, então: h () h (0) f () f (0) lim = lim = lim!0 0!0!0 Logo, h () é derivável em = 0 e h 0 (0) = 0: 21. Temos que u (x; y) = p jxyj e v (x; y) 0, de modo que: f (x; 0) u x (0; 0) = lim x!0 x u y (0; 0) = lim y!0 Por outro lado, no ponto = 0, temos f (0; y) y f () f (0) são nulas em (0; 0) e, portanto, = 0 = v y (0; 0) f lim!0 x = lim f (x; y)!0 x + iy = lim!0 = 0 = v x (0; 0) : p jx yj x + iy = 0: e para comprovar que o último limite não existe, considere a trajetória : x = y, ao longo da qual o limite pode ser 1 2 (1 i), conforme x > 0 ou x < 0: 22. A partir das equações de Cauchy-Riemann e notando que ~ = (cos )~i + (sen )~j, obtemos: @u @~ @v @~ = ru ~ = u x cos + u y sen = u x cos v x sen = rv ~ = v x cos + v y sen = v x cos + u x sen

84 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA e daí resulta: @u h i e i @~ + i@v = e i e i (u x + iv x ) = u x + iv x = f 0 ( 0 ) : @~ 23. Considerando que f ( 0 ) = g ( 0 ) = 0, temos: f () f () f ( 0 ) lim = lim! 0 g ()!0 g () g ( 0 ) = lim f () f ( 0 ) 0 lim! 0 0!0 g () g ( 0 ) = f 0 ( 0 ) g 0 ( 0 ) : No cálculo do limite consideramos f () = j lim!i j ij 2 3 + 2 + i + 1 ij 2 e g () = 3 + 2 + i + 1 para encontrar lim!i j ij 2 3 + 2 + i + 1 = f 0 ( 0 ) g 0 ( 0 ) = 0 3 + 2i = 0: 2.4. FUNÇÕES HARMÔNICAS :::::::::::::::::::::::::: 1. As harmônicas conjugadas são v (x; y) = 5 2 x2 y 2 + y + k: Considerando k = 0, temos a função analítica correspondente f () = x 5xy + i 5 2 x2 y 2 + y = x + iy + i 5 2 x2 y 2 + 2xyi = + 5 2 i2 : 2. Harmônica conjugada v (x; y) = e x sen y e a função analítica é f () = exp () : 3. A harmônica conjugada u (x; y) = cos x cosh y e a função analítica é f () = cos x cosh y i sen x senh y: 4. v (x; y) = 3x 2 y 3 e f () = x 3 3xy 2 + i 3x 2 y y 3 : 5. Considerando o polinômio do terceiro grau homogêneo e harmônico: u (x; y) = ax 3 + by 3 + cx 2 y + dxy 2 e usando a equação de Laplace u = 0, obtemos: (6a + 2d) x + (6b + 2c) y = 0 (2.44) e de (2:44) chegamos a d = 3a e c = 3b: O polinômio é u (x; y) = ax 3 + by 3 3bx 2 y 3axy 2 ; com harmônica conjugada v (x; y) = bx 3 + 3ax 2 y 3bxy 2 ay 3 ; e a função inteira correspondente é f () = (a + ib) 3 :

CAPÍTULO 2 - FUNÇÕES ANALÍTICAS 85 6. Se f () = u + iv é analítica em D; então u e v são harmônicas conjugadas e jf ()j 2 = u 2 + v 2. logo: jf ()j 2 = u 2 + v 2 = 2 u 2 x + u 2 y + 2 u 2 x + u 2 y = 2 u 2 x + v 2 x + 2 u 2 y + v 2 y = 4 f 0 () 2 :

Além dos polinômios P () = a 0 + a 1 + a 2 2 + + a n n e das funções racionais (quocientes de polinômios), já tratadas nos capítulos anteriores, outras funções w = f () ; de uma variável complexa, merecem destaques. Neste capítulo abordaremos funções do tipo: (a) Exponencial: w = exp () : (b) Trigonométricas: w = cos ; w = sen ; w = tan, etc. (c) Logarítmica: w = Log : (d) Expoentes Complexos: w = e w =, 2 C xo. Estas funções, combinadas com polinômios e funções racionais, são denominadas funções elementares. 3.1 A Função w = exp() Dado um número complexo = x + iy, a exponencial de, indicada por exp () ou e ; é de nida pela relação: Dessa forma, obtemos a função complexa exp () = e x e iy = e x (cos y + i sen y): exp : C! C 7! exp () ; onde identi camos as partes real e imaginária u (x; y) = e x cos y e v (x; y) = e x sen y como funções de classe C 1 e que satisfaem às equações de Cauchy-Riemann em todo ponto do plano complexo. Em outras palavras, a função f () = exp () é uma função inteira (veja o Exemplo 2.3.22). A derivada de exp () é dada por d d (e ) = u x + iv x = e x cos y + ie x sen y = e ; 8 2 C: Como consequência direta da de nição, temos as seguintes propriedades: (a) Dado = x + iy, temos je j = e x > 0 e Arg(e ) = y:

88 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA (b) Se k 2, então exp () = exp ( + 2ki) : (c) Dado um número complexo, então exp () = exp () : EXEMPLO 3.1.1 É claro que a equação exp () = 0 não tem solução, já que je j = e x > 0. Por outro lado, ao contrário do que ocorre no caso real, a equação exp () = 1 tem solução. Temos: exp () = 1, e x e iy = e i e, x = 1; isto é, x = 0 y = (2k + 1) ; k 2 : Assim, exp () = 1 tem uma in nidade de soluções, dadas por = (2k + 1) i; k 2 : EXEMPLO 3.1.2 Dado um número complexo não nulo w, a equação exp () = w tem uma in nidade de soluções. De fato, considerando = x + iy e w = i, temos: exp () = w, e x e iy = e i e, x = ; isto é, x = ln y = + 2k; k 2 : Daí resulta que as soluções da equação e = w são dadas por k = ln + ( + 2k) i: OBSERVAÇÃO 3.1.3 Levando em conta que Im () = Arg (e ), segue dos Exemplos 3:1:1 e 3:1:2 que a função w = exp () é uma bijeção do conjunto S = f 2 C : com inversa determinada por: < Im () g sobre a imagem Cn f0g, w = e, = ln jwj + i Arg (w) ; w 6= 0: LEMA 3.1.4 (Propriedades operacionais de exp ()) Dados os números complexos e w, então: (a) exp () exp (w) = exp ( + w) : Por indução, prova-se que (exp ) n = exp (n) ; n 2 N: (b) (c) 1 = exp ( ) : exp () exp () = exp ( w) : exp (w) DEMONSTRAÇÃO 1:2:4, deduimos que: Considerando = a + ib e w = c + id, então + w = a + c + i (b + d) e do Lema (a) exp () exp (w) = e a e ib e c e id = e a+c e i(b+d) = exp ( + w) :

CAPÍTULO 3 - FUNÇÕES COMPLEXAS ELEMENTARES 89 (b) (c) 1 exp () = 1 e a e ib = e a e ib = exp ( ) : exp () exp (w) = exp () 1 = exp () exp ( w) = exp ( w) : exp (w) EXERCÍCIOS & COMPLEMENTOS 3.1 1. Escreva as funções abaixo sob a forma u (x; y) + iv (x; y) : (a) w = exp (2) (b) w = exp 2 (c) w = exp (i) : 2. Em cada caso, determine as soluções da equação: (a) exp (2) = 1 (b) exp () = i (c) exp () = 2 (d) exp 2 = 1 (e) exp (2 1) = 1: 3. Repita o exercício precedente com as equações: (a) Re (e ) = 0 (b) e + 6e = 5 (c) exp (3 4) = 1 (d) exp () = 1 + p 3i: 4. Determine os valores de para os quais se tem exp (i) = exp (i): 5. Mostre que jexp ( 2)j < 1, Re () > 0: 6. Esboce gra camente o conjunto S = f 2 C : jexp (i)j < 1g e identi que sua fronteira. O conjunto S é aberto? 7. Simpli que a expressão exp (2 + i) + exp i 2 para deduir que exp (2 + i) + exp i 2 exp (2 Re ) + exp[ 2 Re () Im ()]: 8. Se exp () é real, mostre que Im () = k: 9. Determine onde as funções f () = exp () e g () = e + i e 1 são analíticas. 10. Se f () é analítica em um domínio D, mostre que F () = exp [f ()] também o é. Como consequência, dedua que as funções f () = exp 2 e g () = exp (i) são inteiras. 11. Mostre que a função ' (x; y) = Re e 1= é harmônica em Cn f0g :

90 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA 12. Suponha que f () = u + iv seja analítica em D. Explique a raão das funções U (x; y) = e u(x;y) cos v (x; y) e V (x; y) = e u(x;y) sen v (x; y) serem harmônicas em D e V (x; y) ser harmônica conjugada de U (x; y) : 1 13. Determine as singularidades da função w = exp : + 1 14. Mostre que a tranformação f () = ei ( 0 ) 0 1 ; 2 R e j 0j < 1; transforma o disco jj 1 no disco jwj 1. Descreva, geometricamente, a transformação no caso em que 0 = 0: 15. Se Im ( 0 ) < 0; qual a imagem do semiplano [y 0] pela transformação w = ei ( 0 ) 0 1? 3.2 As Funções Trigonométricas Complexas 3.2.1 As Funções cos e sen Para de nir as funções trigonométricas cos e sen, recordemos que de onde deduimos que exp(ix) = cos x + i sen x e exp( ix) = cos x i sen x; sen x = 1 2i [exp(ix) exp( ix)] e cos x = 1 [exp(ix) + exp( ix)]; 8x 2 R: (3.1) 2 Motivados pelas relações (3.1), de nimos as primeiras funções trigonométricas: sen = 1 2i [exp(i) exp( i)] e cos = 1 [exp(i) + exp( i)]: (3.2) 2 O leitor pode comprovar diretamente da de nição que: cos = cos () e sen = sen () : LEMA 3.2.1 As funções sen e cos de nidas em (3:2) são inteiras, com derivadas dadas por: (sen ) 0 = cos e (cos ) 0 = sen :

CAPÍTULO 3 - FUNÇÕES COMPLEXAS ELEMENTARES 91 DEMONSTRAÇÃO As funções 7! exp(i) e 7! exp( i) são inteiras, de modo que sen e cos também o são. Além disso, (a) d d (sen ) = 1 2i [i exp(i) + i exp( i)] = 1 [exp(i) + exp( i)] = cos : 2 (b) d d (cos ) = 1 2 [i exp(i) i exp(i)] = 1 [exp(i) exp( i)] = sen : 2i 3.2.2 Algumas Identidades Trigonométricas Algumas identidades trigonométricas envolvendo as funções sen e cos são estabelecidas com auxílio das funções hiperbólicas reais: senh y = 1 2 ey e y e cosh y = 1 2 ey + e y ; y 2 R. (3.3) As seguintes propriedades decorrem diretamente da de nição (3.3) e as demonstrações são deixadas para o leitor, como parte do processo de treinamento. (i) cosh 2 y senh 2 y = 1: (ii) senh y = 0, y = 0: (iii) d dy (senh y) = cosh y e d (cosh y) = senh y: dy (iv) A função y 7! cosh y; além de ser uma função par, é crescente no intervalo (0; +1) e decrescente no intervalo ( 1; 0). A função y 7! senh y é ímpar e crescente em ( 1; +1) : (v) A equação cosh y = 0 não tem solução real e dado um número real a, as soluções da equação cosh y = cosh a são y = a: Assim como ocorre no caso real, as funções sen e cos também são 2-periódicas e temos a relação fundamental: sen 2 + cos 2 = 1; 8 2 C: (3.4) De fato, a periodicidade decorre diretamente da propriedade: exp () = exp ( + 2ki) ; 8, e para comprovar a Identidade Fundamental (3.4), notamos que sen 2 + cos 2 = 1 2i e i e i 2 + 1 2i e i + e i 2 e 2i = 1 4 2 + e 2i + 1 4 e 2i + 2 + e 2i = 1:

92 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA LEMA 3.2.2 Dado um número complexo, temos: (a) sen = sen x cosh y + i (cos x senh y) : (b) cos = cos x cosh y i (sen x senh y) : DEMONSTRAÇÃO As demonstrações de (a) e (b) são similares e para ilustrar faremos a parte (a). Considerando = x + iy, temos que i = y + ix e, portanto sen = 1 e y+ix e y+ix = 1 e y (cos x + i sen x) e y (cos x i sen x) 2i 2i = 1 i sen x e y + e y cos x e y + e y e y + e y e y = sen x + i cos x 2i 2 = sen x cosh y + i cos x senh y: COROLÁRIO 3.2.3 Se é um número complexo, então: (a) jsen j 2 = sen 2 x + senh 2 y: (b) jcos j 2 = cos 2 x + senh 2 y: e y 2 DEMONSTRAÇÃO Considerando = x + iy, resulta da parte (a) do Lema 3.2.2 que jsen j 2 = sen 2 x cosh 2 y + cos 2 x senh 2 y = sen 2 x cosh 2 y + senh 2 y sen 2 x senh 2 y = sen 2 x(cosh 2 y senh 2 y) + senh 2 y = sen 2 x + senh 2 y: Usando a parte (b) do Lema demonstra-se a outra relação. EXEMPLO 3.2.4 (os eros de sen e cos ) Usando o Corolário 3.2.3, vamos encontrar os eros das funções sen e cos. SOLUÇÃO Se = x + iy, temos que sen = 0, jsen j 2 = 0 e do Corolário 3.2.3, resulta: sen jsen j = 0, 2 x = 0, x = k senh 2 y = 0, y = 0; e a partir daí, deduimos que sen = 0, = k; k 2 : De modo similar, deduimos que cos = 0, = n + =2; n 2 :

CAPÍTULO 3 - FUNÇÕES COMPLEXAS ELEMENTARES 93 3.2.3 Outras Funções Trigonométricas real. As outras funções trigonométricas são de nidas de modo natural, como no caso de uma variável (a) TANGENTE: (b) COTANGENTE: tan = sen cos cotg = cos sen (c) SECANTE: sec = 1 cos (d) COSSECANTE: cosec = 1 sen As identidades básicas e as fórmulas de derivação são obtidas com as regras já estabelecidas para as funções sen e cos. Vejamos dois exemplos para ilustrar. EXEMPLO 3.2.5 Provar a identidade 1 + tan 2 = sec 2 : SOLUÇÃO Temos que 1 + tan 2 = 1 + sen2 cos 2 = cos2 + sen 2 cos 2 EXEMPLO 3.2.6 Vamos estabelecer a regra de derivação = 1 cos 2 = sec2 : (cotg ) 0 = cosec 2 : SOLUÇÃO Usando a regra do quociente, temos: d d (cotg ) = d d cos = sen sen sen cos cos sen 2 = 1 sen 2 = cosec2 : Outras identidades e regras de derivação envolvendo essas funções são deixadas como exercícios. EXERCÍCIOS & COMPLEMENTOS 3.2 1. Encontre as soluções das seguintes equações: (a) sen = 2 (b) cos = 2 (c) cos = p 2 (d) cos = 1=2.

94 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA 2. Veri que que as funções Re (cos ) e Im (sen ) são harmônicas no plano C: 3. Estabeleça as seguintes identidades trigonométricas: (a) sen (i) = i senh : (b) cos (i) = cosh : (c) 1 + cotg 2 = cosec 2 : (d) jcos j 2 sen 2 = cos (2 Re ) : (e) cos ( + w) = cos cos w sen sen w: (f) sen ( + w) = sen cos w + sen w cos : (g) 2 sen ( + w) sen ( w) = cos (2w) cos (2) : (h) 2 cos ( + w) sen ( w) = sen (2) sen (2w) : 4. Determine os valores de para os quais cos é real. 5. Determine onde a função f () = e + i (e 1) cos é analítica. 6. Dado = x + iy, comprove as seguintes desigualdades: (a) jsenh yj jsen j cosh y (b) jsen xj jsen j (c) jcos xj jcos j : 7. Determine os valores de para os quais: (a) cos (i ) = cos (i) (b) sen (i ) = sen (i): 8. Determine todas as raíes da equação sen = cosh 4: 9. FUNÇÕES HIPERBÓLICAS As funções hiperbólicas senh e cosh são de nidas por: senh = 1 2 e e e cosh = 1 2 e + e : (3.5) Com base na de nição (3:5), vemos que senh e cosh são funções inteiras. Agora, mostre que: (a) d d (senh ) = cosh e d (cosh ) = senh : d (b) cosh 2 senh 2 = 1:

CAPÍTULO 3 - FUNÇÕES COMPLEXAS ELEMENTARES 95 (c) senh = senh x cos y + i cosh x sen y: (d) cosh = cosh x cos y senh x sen y: (e) senh ( + i) = senh e cosh ( + i) = cosh : 10. Em cada caso, determine as raíes da equação. (a) 2 cosh = 1 (b) senh = i (c) cosh = 2: 11. Mostre que jcos j 2 + jsen j 2 = 1 se, e somente se, é real. 3.3 Logarítmos & Expoentes O Exemplo 3:1:2 é a motivação para se de nir o logarítmo complexo. Dado um número complexo não nulo = re i ; <, o logarítmo de, indicado por log, é de nido por: log = ln r + i( + 2k); k 2 ; o que torna a função 7! log ; 6= 0; plurívoca ou multivalente. Em outras palavras, se é um número complexo não nulo, então log representa um conjunto in nito de números complexos e, quando k = 0; obtemos o valor principal de log ; denotado por Log ; isto é: Log = ln r + i; r > 0; < : É claro que se = re i ; com r > 0 e <, então w = Log, = exp (w). Além disso, xado k; a aplicação = exp w de ne uma bijeção da faixa (2k 1) < Im(w) (2k + 1); sobre Cnf0g; cuja inversa é dada por: w = ln r + i( + 2k); r > 0; < : EXEMPLO 3.3.1 Temos que Log i = i=2 e Log ( 1) = i. Por outro lado: log i = f(2k + 1=2) i; k = 0; 1; 2; 3; : : :g e log ( 1) = f(2k + 1) i; k = 0; 1; 2; 3; : : :g :

96 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA EXEMPLO 3.3.2 Do exemplo precedente, vemos que Log i 2 = Log ( 1) = 2 Log i que se assemelha ao caso real: ln x 2 = 2 ln x; x > 0: Em se tratando de log, que representa um conjunto de valores, temos log i 2 6= 2 log i. De fato: 2 log i = f(4k + 1) i; k 2 g log i 2 = log ( 1) = f(2k + 1) i; k 2 g e esses conjuntos são distintos, isto é, log i 2 6= 2 log i. Notamos que 3i 2 log i 2 e 3i =2 2 log i: EXEMPLO 3.3.3 Se = w = 1; então log( w) = log 1 = ln 1 + (0 + 2ki) = 2ki; k 2 ; e log + log w = log ( 1) + log ( 1) = (2k + 1) i + (2n + 1) i = 2 (k + n + 1) i; k; n 2 : e, portanto, log ( w) = log + log w:essa igualdade deve ser interpretada da seguinte forma: qualquer valor de log ( w) se expressa como soma de um valor de log com um valor de log w: EXEMPLO 3.3.4 A propriedade ln (xy) = ln x + ln y, válida no caso real, com x > 0 e y > 0, seria válida no caso complexo? Se considerarmos = w = 1, obteremos: Log( w) = 0 e Log() = Log(w) = i; de modo que a propriedade não é válida, em geral, para a função Log. EXEMPLO 3.3.5 Um fato que nos parece óbvio é que exp (log ) =, para 6= 0. Entretanto, a relação log (e ) = não ocorre para todo, já que log (e ) = + 2ki; k 2 : Na verdade, é apenas um dos valores assumidos por log (exp ) : 3.3.1 Ramos de w = log (propriedades analíticas de Log) A função w = Log = ln r + i; r > 0; < ; tem componentes u(r; ) = ln r e v(r; ) = para parte real e imaginária, respectivamente. No domínio D : r > 0; < <, onde as funções u

CAPÍTULO 3 - FUNÇÕES COMPLEXAS ELEMENTARES 97 e v são contínuas, temos a continuidade de Log. Para comprovarmos que D é o domínio máximo no qual Log é contínua, basta observamos que u não está de nida na origem e, por outro lado, Log é descontínua em qualquer ponto = re i ; r > 0; do eixo negativo dos x: De fato, em um tal ponto Log tem valor ln r + i e considerando n = re i( Log, já que +1=n) ; temos que n! e Log ( n ) não converge para Log ( n ) = ln r + i ( + 1=n)! ln r i: No domínio D; as funções u(r; ) e v(r; ) são de classe C 2 e as equações de Cauchy-Riemann são facilmente comprovadas: v = ru r = 1=r e u = rv r = 0: Portanto, w = Log é analítica em D, com derivada dada por d d (Log ) = e i (u r + iv r ) = 1 re i = 1 ; em D: A notação Log é usada para denotar o valor principal de log e, também, a função analítica obtida por restrição de Log ao domínio D : r > 0; o valor de ao intervalo < < + 2; xado, a função < < : Se na de nição Log = ln r +i restringirmos log = ln r + i; r > 0; < < + 2 é unívoca, ou univalente, na faixa horiontal < Im (w) < + 2: Por ramo de uma função plurívoca f () entendemos qualquer função unívoca F; analítica em algum domínio D; no qual F () é um dos valores de f(): EXEMPLO 3.3.6 Log = ln r + i; r > 0; < < ; é um ramo de log = ln r + i( + 2k); k 2. Este é o ramo principal de Log : EXEMPLO 3.3.7 (as singularidades de Log ) Recordemos que 0 é um ponto singular isolado ou singularidade isolada de uma função w = f() quando f () for analítica em alguma viinhança de 0 ; exceto em 0. A função w = Log não tem singularidade isolada, mas, a origem e cada ponto do eixo real = (eixo negativo dos x) são singuralidades 6 de Log : 6 Por singularidade de f () entendemos um ponto 0 onde f () não é analítica, mas, em qualquer viinhança de 0 existe, ao menos, um ponto no qual f () é analítica.

98 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA EXEMPLO 3.3.8 Considerando o ramo principal de Log, vamos identi car a região de analiticidade da função f () = Log ( + ), sendo um número real positivo. SOLUÇÃO Se = x + iy, então f () = Log (x + + iy) e a função será analítica nos pontos = x + iy fora da semireta f(x; y) : x + 0 e y = 0g : Logo, a função f () é analítica fora da semireta: L = f(x; 0) : x g : EXEMPLO 3.3.9 O domínio de analiticidade da função f () = Log 2 + 2 é determinado de forma similar ao Exemplo (3:3:8); excluímos os pontos para os quais 2 +2 estão no corte L = f(x; 0) : x 0g : Temos f () = Log 2 + x 2 y 2 + 2xyi e f () será analítica nos pontos fora da semireta (x; y) : 2 + x 2 y 2 0 e xy = 0 : A opção y = 0 é descartada e com x = 0 chegamos a jyj p 2: O domínio de analiticidade de f () é constituído dos pontos fora das semiretas L = n (0; y) : jyj p o 2 : Figura 3.1: Domínio de Log 2 + 2 : 3.3.2 Propriedades & Consequências Algumas propriedades do logarítmo complexo são válidas para log e outras para Log e é necessário separar os casos. Por exemplo, a propriedade clássica ln (xy) = ln x + ln y, válidas no caso real para

CAPÍTULO 3 - FUNÇÕES COMPLEXAS ELEMENTARES 99 x > 0 e y > 0, não permanece válida no caso complxo, como ilustra o Exemplo (3:3:2). Vejamos alguns casos. (a) Se 6= 0, então exp(log ) = e, de acordo com o que vimos no Exemplo 3:3:5, não é verdade, em geral, que log (exp ) = : (b) Se 6= 0, então w = Log(), exp (w) : De fato, considerando = x + iy, temos Log (exp ) = Log e x e iy = ln (e x ) + iy = x + iy = : Por outro lado, dado w = e i' ; > 0; < ', então: exp (Log w) = exp (ln + i') = e i' = w: (c) Se e w são números complexos não nulos, então log( w) = log() + log(w). Esta igualdade deve ser interpretada como uma igualdade entre conjuntos, isto é, qualquer valor de log( w) pode ser escrito como soma de um valor de log() com um valor de log(w): Para comprová-la, sejam = re i e w = e i' e observemos que log + log w = log(r e i ) + log( e i' ) = ln r + i ( + 2k) + ln + i (' + 2n) h = ln (r) + i [ + ' + 2 (k + n) ] = log (r) e i(+')i = log( w): No Exemplo 3.3.4 enfatiamos que a relação Log ( w) = Log + Log w não é válida, em geral, para a função Log. Vale ressaltar, ainda, que o conjunto de valores log +log pode ser diferente do conjunto 2 log : Considere = 1 e veri que que os conjuntos log +log e 2 log são distintos. (d) Se w 6= 0, então log (1=w) = log w. De fato, considerando w = e i' ; > 0 e k = n, temos: log (1=w) = log( 1 e i' ) = ln 1 + i ( ' + 2n) = ln () i [' + 2k] = log(w): (e) Decorre de (c) e (d) que se e w são números complexos não nulos, então log(=w) = log() log(w): LEMA 3.3.10 (propriedade da potência) Seja = re i ; <, um número complexo não nulo. Então log( 1=n ) = 1 n log(); n = 1; 2; 3; : : : :

100 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA DEMONSTRAÇÃO Considerando que 1=n = np r exp +2k n i ; k = 0; 1; 2; ; n 1; temos: log 1=n = ln np r + 2k + i + 2m = 1 + 2k 0 n n ln r + i n (3.6) onde k 0 = k + nm. Por outro lado, 1 n log = 1 n ln r + i( + 2m 0 ) = 1 + 2m 0 n ln r + i ; m 0 2 (3.7) n Os conjuntos de valores log 1=n e 1 n log dados, respectivamente, por (3.6) e (3.7) são iguais. EXEMPLO 3.3.11 Se considerarmos = w = 1, teremos: (i) log ( w) = log 1 = 2ki; k 2 : (ii) Log ( w) = Log 1 = 0: (iii) log + log w = log ( 1) + log ( 1) = (2k + 1) i + (2n + 1) i; k; n 2 : (iv) Log + Log w = Log ( 1) + Log ( 1) = i + i = 2i: Vemos que, neste caso, Log ( w) 6= Log + Log w e para comprovar diretamente que log ( w) = log + log w; notamos que 2ki = (2k + 1) i + ( 1) i ) log ( w) log + log w e (2k + 1) i + (2n + 1) i = 2 (k + n + 1) i ) log + log w log ( w) e daí resulta a igualdade entre os conjuntos log ( w) e log + log w: Finaliamos esta seção ressaltando que, ao contrário do caso real, a propriedade log ( n ) = n log ; n = 1; 2; 3; : : :, não é válida, em geral, no caso complexo. <, temos: log ( n ) = log r n e in = n ln r + i (n + 2k) ; n log () = n log re i = n ln r + in + 2k 0 ; De fato, dado = re i, com r > 0 e k 2 k 0 2

CAPÍTULO 3 - FUNÇÕES COMPLEXAS ELEMENTARES 101 e para que n ln r + i (n + 2k) = n ln r + in ( + 2k 0 ), devemos ter k = nk 0, isto é, k dever ser um múltiplo inteiro de n: É claro que n log é um subconjunto de log ( n ) e para que log ( n ) n log é necessário que n ln r + i ( + 2k) = n ln r + in + 2k 0 ; isto é, k = nk 0, ou seja, k dever ser um múltiplo inteiro de n: 3.3.3 Expoentes Complexos Da relação deduimos que log( 1=n ) = 1 log ; n = 1; 2; 3; : : : ; (3.8) n exp[log( 1=n )] = exp 1 n log (3.9) e, para cada 6= 0 xo, o lado direito da equação (3:9) assume n valores distintos. De fato: e, assim, 1 n log = 1 n [ln r + i( + 2k)] = ln np r + i 1 exp[ n log = np r cos + 2k Considerando que a expressão cos n + 2k n ; k 2 + i sen + 2k + 2k + i sen : n n + 2k assume n valores distintos, correspon- n dentes aos valores k = 0; 1; : : : ; n 1, deduimos que o mesmo ocorre com exp 1 n log : Por outro lado, temos que n = exp(n log ); n = 0; 1; 2; 3; : : : ; 6= 0; e, também, n = ( 1 ) n = Temos, portanto, as seguintes relações: 1 n = exp n log 1 = exp( n log ): k = exp(k log ); 8k 2 ; (3.10) 1 1=n = exp n log ; n = 1; 2; 3; : : : (3.11)

102 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA As relações (3:10) e (3:11) motivam o conceito de potência com expoente complexo que, em geral, de nem funções multivalentes. DEFINIÇÃO 3.3.12 Dados 6= 0 e 2 C; a potência complexa é de nida pela expressão: = exp( log ): (3.12) Por ramo principal de entendemos a função univalente () = exp( Log ); de nida no domínio D : r > 0; < : EXEMPLO 3.3.13 Determinemos a potência de i 2i. Temos i 2i = exp( 2i log i) = exp[ 2i (2k + =2) i]; k 2 ; e daí resulta i 2i = exp[(4k + 1)]; k 2 : O exemplo a seguir, mostra, através de igualdade entre conjuntos, uma propriedade da potência complexa de : EXEMPLO 3.3.14 Assim como ocorre com os expoentes inteiros, se 6= 0 e é um número complexo dado, então = 1 : De fato, de (3:12) temos que: = exp( log ) = Os valores de e de 1 são, respectivamente, 1 exp( log ) = 1 : exp[ (ln r + i( + 2k))] e fexp[(ln r + i( + 2k))]g 1 ; k 2 ; e esses conjuntos de valores são iguais. LEMA 3.3.15 O ramo principal () = exp( Log ); r > 0; dada por < < ; é analítico e a derivada é 0 () = d d ( ) = 1 :

CAPÍTULO 3 - FUNÇÕES COMPLEXAS ELEMENTARES 103 DEMONSTRAÇÃO O ramo principal () = exp( Log ) é a composição das funções analíticas 7! Log e w 7! e w sendo, portanto, analítico no domínio considerado. A partir da Regra da Cadeia, obtemos 0 () = d d ( ) = d d [exp( Log )] = [exp( Log )] exp( Log ) = = exp[( 1) Log ] = 1 : exp(log ) EXEMPLO 3.3.16 Vejamos o ramo principal de p : Temos que p = exp 1 2 Log = exp 1 2 ln r + 1 2 i = exp ln p r + i=2 = p r exp (i=2) = p r[cos(=2) + i sen(=2)]: A analiticidade decorre do Lema (3:3:15) ; mas, pode ser investigada diretamente a partir das componentes u(r; ) = p r cos(=2) e v(r; ) = p r sen(=2); que são de classe C 2 e as Equações de Cauchy-Riemann são facilmente comprovadas, notando que: u r = u = p 1 r 2 p r cos(=2) e v = 2 cos(=2) p r 2 sen(=2) e v r = 1 2 p r sen(=2) e, portanto, u r = 1 r v e u = 1 r v r: A derivada pode ser obtida diretamente do Lema (3:3:15) ; com = 1=2, ou pela fórmula (2:35) do Capítulo 2 d d (p ) = e i (u r + iv r ) = e i 2 p r = 1 2 p re i=2 = 1 2 p : EXEMPLO 3.3.17 No ramo principal 0 Arg < 2, temos p [1 cos(=2) + i sen(=2)] 1 = i. De fato: p 1 = exp 1 2 Log ( 1) = exp 1 2 (ln 1 + i) = e i=2 = i: Por outro lado, se considerarmos para p o ramo 2 Arg < 4, teremos p 1 = i, pois, neste caso, Arg ( 1) = 3 e, portanto: p 1 = exp 1 2 log ( 1) = exp 1 2 (ln 1 + 3i) = e 3i=2 = i:

104 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA EXEMPLO 3.3.18 Em qual ramo devemos considerar p, para que se tenha p 4 = =2 < < 5=2, temos que Arg (4) = 2, de modo que: 2? No ramo p 4 = exp 1 2 (ln 4 + 2i) = 2e i = 2: EXEMPLO 3.3.19 Consideremos a função f () = p 2 + 4, determinada pela condição f (0) = 2, isto é, p 4 = 2, e identi quemos sua região de analiticidade. No ramo principal de Log, a função f () é analítica fora dos cortes [x 0; y = 2]. A condição p 4 = 2 exige uma mudança no ramo de Log. No domínio =2 < Arg ( 2i) < 5=2 e =2 < Arg ( + 2i) < 3=2 temos que f () < 0, para todo real, e as funções p 2i são analíticas. Gra camente, este domínio consiste dos pontos do plano C, fora dos cortes [(0; y) ; y > 2] e [x = 0; y < 3:2 2], como ilustra a Figura Figura 3.2: Domínio de p 2 + 4: EXEMPLO 3.3.20 Fixado 2 C; 6= 0; a exponencial de base, indicada por, é de nida pela relação = exp( log ): O valor principal de é a função f () = VP ( ) = exp( Log ), a qual é analítica e a derivada é dada por f 0 () = Log : EXERCÍCIOS & COMPLEMENTOS 3.3

CAPÍTULO 3 - FUNÇÕES COMPLEXAS ELEMENTARES 105 1. Em cada caso, determine as soluções da equação (a) log = i=2 (b) log = 1 + i: 2. Determine todos os valores e o valor principal de: (a) log ( 1) (b) log i (c) log 2 (d) log( p i): 3. Dado = re i ; 6= 1, < <, mostre que: Re[log ( 1)] = 1 2 ln 1 + r2 2r cos : Por que a função w = Re[Log ( [x 1; y = 0]? 1)] deve atender à equação de Laplace fora do semieixo 4. Determine as singularidades da função w = Log ( + 4) 2 : + i 5. Determine o valor principal de: (a) i i (b) (1 i) 4i (c) p 2i (d) (1 i) 1+i (e) ( 1 i p 3) 3i : 6. Dados 2 C; 6= 0; e 2 R, mostre que j j = jj : 7. Mostre que a função w = Log ( i) é analítica fora do eixo E = f : Re () 0 e Im () = 1g : 8. Usando o ramo principal de log, obtenha uma expressão para p 1: 9. Investigue a existência ou não do limite A função Log é contínua no ponto = 1? 10. Calcule o limite das seguintes sequências ( n ): lim Log :! 1 (a) n = Log (in) in (b) n = (in) 1=in (c) n = n n ; jj < 1 (d) n = n 1=in. 11. SOBRE O PARADOXO DE BERNOULLI Identi que onde está o erro na sentença abaixo: ( ) 2 = 2 ) 2 log ( ) = 2 log ) log ( ) = log :

106 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA 12. FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS INVERSAS A função inversa de = sen w, representada por w = arcsen, é de nida pela relação w = arcsen, = 1 2i e iw e iw : (3.13) Considerando = e iw, a equação do lado direito de (3.13) nos dá: 2 2i 1 = 0 e, efetuando o completamento do quadrado, obtemos ( i) 2 = 1 2, i = 1 2 1=2, exp (iw) = i + p 1 2 : Da última igualdade, resulta: w = arcsen = i log(i + p 1 2 ): Agora, de na as funções arccos e arctg e estabeleça as seguintes relações: (a) arccos = i log( + p i + 2 1) (b) arctan = 1 2 log : i 13. Estabeleça as seguintes regras de derivação: (a) d d (arcsen ) = 1 p 1 2 (b) d d (arccos ) = 1 p 1 2 (c) d d (arctan ) = 1 1 + 2 : 14. FUNÇÕES HIPERBÓLICAS INVERSAS Demonstre as relações: (a) arccosh = log( + p 2 1): (b) arcsenh = log( + p 2 + 1) 1 + (c) arctgh = 1 2 log 1

CAPÍTULO 3 - FUNÇÕES COMPLEXAS ELEMENTARES 107 RESPOSTAS & SUGESTÕES 3.1. FUNÇÃO EXPONENCIAL :::::::::::::::::::::::::: 1. Considerando = x + iy, encontramos: (a) exp (2) = e 2x cos (2y) + ie 2x sen (2y) : (b) exp 2 = e x2 y 2 cos (2xy) + ie x2 y 2 sen (2xy) : (c) exp (i) = e y cos x + ie y sen x: 2. Para resolver a equação e = e i' designamos = x + iy para obter e x = e y = ' + 2k; k 2 : (a) exp (2) = 1, e 2x = 0 e 2y = + 2k. As raíes são = (k + =2) i; k 2 : (b) exp () = i, e x = 0 e y = =2 + 2k. As raíes são = (2k + =2) i; k 2 : (c) = ln 2 + (2k + 1) i: (d) = p k i p k; k = 0; 1; 2; 3; : : : : (e) = 1 2 + ki; k 2 : 3. Considerando = x + iy, temos: (a) Re (e ) = 0, e x cos y = 0, y = k + =2. Assim, as soluções da equação são = x + (k + =2) i; k 2 : (b) Se = e, a equação e + 6e = 5 é equivalente a: ( 5=2) 2 = 1=4; isto é, = 3 0u = 2. Logo, = ln 3 + 2ki ou = ln 2 + 2ni; k; n 2 : 4. A igualdade exp i = exp (i) é válida seja qual for o número complexo : 5. Se = x + iy, então jexp ( 2)j < 1, e 2x < 1, 2x < 0. Logo, x > 0, isto é, Re () > 0: 6. O conjunto aberto S é o semiplano superior (x; y) 2 R 2 : y > 0 :

108 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA 7. Considerando = x+iy, temos que jexp (2 + i)j = exp (2x) e exp i 2 = exp ( 2xy) e, usando a desigualdade triangular, resulta: exp (2 + i) + exp i 2 jexp (2 + i)j + exp i 2 = exp (2x) + exp ( 2xy) : 8. Para = x + iy, temos que exp () 2 R, e x sen y = 0 e daí resulta y = k: 9. A função f () não é analítica em ponto algum, enquanto g () é analítica nos pontos 6= 2ki: 10. Temos uma consequência da Regra da Cadeia. A função F () é a composição das funções analíticas f () e w 7! exp (w) : As funções 7! 2 e 7! i são inteiras e o mesmo ocorre com as composições 7! exp 2 e 7! exp (i) : 11. Nos pontos 6= 0 a função f () = exp (1=) é analítica e suas componentes Re [f ()] e Im [f ()] são, portanto, harmônicas conjugadas. 12. As funções U (x; y) e V (x; y) são, respectivamente, a parte real e a parte imaginária da função analítica F () = exp [f ()] sendo, portanto, harmônicas conjugadas.. 13. A única singularidade é o ponto = 1: 14. Da desigualdade (1:11), com w = 0 ; vemos que jf ()j 1, sempre que jj 1; No caso em que 0 = 0; temos f () = e i ; que corresponde a uma rotação do ponto de um ângulo : 3.2. FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS ::::::::::::::::::::::::::::::::: 1. Em cada caso, consideramos = x + iy e = e i : (a) Temos sen = 2, 2 4i 1 = 0 Retornando à variável, encontramos: e i =, ( 2i) 2 = i p 3, = 2 p 3 i, e y e ix = 2 p 3 e i=2, 2 p 3 i: y = ln 2 p 3 x = 2k + =2; k 2 :

CAPÍTULO 3 - FUNÇÕES COMPLEXAS ELEMENTARES 109 Assim, as soluções da equação sen = 2 são = 2k + =2 i ln 2 p 3 ; k 2 : (b) Se ermos = e i, a equação cos = 2 torna-se equivalente a ( 2) 2 = 3. Logo, cos = 2, e i = Log 2 p 3 = ln 2 p 3, i = ln 2 p 3 + 2ki, = 2n i ln ln 2 p 3 ; n 2 : 2. Do Lema (3.2.2) resulta que u (x; y) = Re (cos ) = cos x cosh y e v (x; y) = Im (senh ) = cos x senh y; as quais são funções de classe C 2 e temos: u = xx +u yy = ( cos x cosh y) + (cos x cosh y) = 0; em C: De forma similar, mostra-se que v = 0, em C: 3. Primeiro, veja os conceitos das funções trigonométricas e hiperbólicas. (a) Temos sen (i) = 1 2i h e i(i) e i(i)i = 1 2i e e = i 2 e e = i senh : (b) Similar ao anterior. (c) Partindo de cotg = cos sen, temos: (d) Do Corolário 3.2.3, temos 1 + cotg 2 = 1 + cos2 sen 2 = sen2 + cos sen 2 = 1 sen 2 = cosec2 : jcos j 2 jsen j 2 = cos 2 x + senh 2 y sen 2 x + senh 2 y = cos 2 x senh 2 = cos (2x) : (e) Temos: cos cos w = 1 4 sen sen w = 1 4 he i(+w) + e i(+w) + e i( w) i(w + e )i he i(+w) e i(+w) + e i( w) i(w e )i

110 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA e, portanto, cos cos w sen sen w = 1 2 h e i(+w) + e i(+w)i = cos ( + w) : (f) Proceda como no caso precedente. (g) De acordo com a de nição, temos: 2 sen ( + w) sen ( w) = 2 1 e i+iw e i iw 1 e i iw e i+iw 2i 2i 1 = 2 e2i + e 2i e 2iw e 2iw = cos (2) + cos (2w) : (h) Proceda como no caso precedente. 4. Temos que cos 2 R, Im (cos ) = 0, sen x e y e y = 0, x = k ou y = 0: Assim, cos é real se, e só se, é real ou = k + iy; y 2 R. 5. A função f () é analítica em qualquer ponto, tal que (e 1) cos 6= 0, isto é, nos pontos 6= 2ki ou 6= k + =2: 6. As desigualdades decorrem do Corolário 3.2.3 7. A igualdade cos (i ) = cos (i) ocorre para qualquer : Por outro lado, sen (i ) = sen (i), 1 2i [exp ( ) exp ()] = 1 2i, 1 2i [exp ( ) exp ()] = 1 [exp ( ) exp ()] 2i, exp ( ) exp () = 0, = ki; k 2 : h i exp ( ) exp () 8. Temos que sen = cosh 4, sen x cosh y + i cos x senh y = cosh 4 e, portanto: sen x cosh y = cosh 4 cos x senh y = 0: (I) (II)

CAPÍTULO 3 - FUNÇÕES COMPLEXAS ELEMENTARES 111 De (II) resulta que y = 0 ou x = k + =2, com k 2 ; e a opção y = 0 nos condu ao absurdo sen x = cosh 4, já que cosh 4 > 1: Assim, x = k + =2 e usando a equação (I), considerando que ( 1) k = 1 e cosh 4 > 0, encontramos: sen (k + =2) cosh y = cosh 4, ( 1) k cosh y = cosh 4, cosh y = cosh 4, y = 4: Assim, as raíes são = 2n + =2 4i; n 2 : 9. Consequência direta da de nição. Como ilustração, vejamos a parte (e). (e) Temos: senh ( + i) = 1 2 e+i e i = 1 2 e e i e e i = 1 2 e + e = senh : 10. Em cada caso, vamos considerar = e. (a) A equação 2 cosh = 1 é equivalente a 2 + 1 = 0, com raíes = e i=3 : Logo: e = 1 2 ip 3 2, = i (2k =3) ; k 2 : (b) A equação senh = i é equivalente a 2 2i 1 = 0, com rai = i = e i=2 ; de onde resulta = i (2k + =2) ; k 2 : (c) Neste caso, temos: cosh = 2, 2 + 4 + 1 = 0, = 2 e as raíes são = ln 2 p 2=2 + (2k + 1) i; k 2 : p 2 2 = 2 p 2=2 e i 11. Se = x é um número real, é sabido que cos 2 x + sen 2 x = 1. Reciprocamente, se = x + iy é tal que jcos j 2 + jsen j 2 = 1, segue do Corolário 3.2.3 que senh 2 y = 0 e, portanto, y = 0 e temos que é real.

112 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA 3.3. LOGARÍTMOS & EXPOENTES ::::::::::::::::::::::::::::::: 1. Recordemos que se = re i é não nulo, então log = ln r + i ( + 2k) ; k 2, e temos a seguinte propriedade: exp (log ) = : (a) Temos: (b) log = 1 + i ) = exp (1 + i) ) = e: log = i=2 ) = exp (i=2) ) = i: 2. Dado = re i 6= 0, o valor principal de log é Log = ln r + i: (a) log ( 1) = log e i = (2k + 1) i e Log ( 1) = i: (b) log i = log e i=2 = (2k + 1=2) i e Log i = i=2: (c) log 2 = log 2e i0 = ln 2 + 2ki e Log 2 = ln 2: (d) log i 1=2 = log exp 1 2 log i = k + 1 p 4 i = e Log i = i=4: 3. Se = x + iy, ao calcular log ( 1), encontramos: log ( 1) = ln j 1j + i (' + 2k) ; k 2 ; ' = Arg ( 1) ; e, portanto, Re (log ( 1)) = ln j 1j = ln q(x 1) 2 + y 2 = 1 2 ln x2 + y 2 + 1 2x = 1 2 ln 1 + r2 2r cos : A função w = Re [Log ( 1)] ; 6= 1; é a parte real da função analítica 7! Log ( 1) e, portanto, é uma função harmônica. 4. A função Log ( + 4) é analítica fora da semireta S : Re () 4; Im () = 0, enquanto 2 + i se anula nos pontos 6= p 1 Log ( + 4) 2 (1 i). Assim, a função w = 2 é analítica na região: + i n o R = 2 C : 6= p 1 2 (1 i) e =2 S :

CAPÍTULO 3 - FUNÇÕES COMPLEXAS ELEMENTARES 113 5. O valor principal de é dado por: = exp ( Log ) ; 6= 0: (a) i i = exp ( =2) : (b) (1 i) 4i = exp ( + i ln 4) : (c) (2i) 1=2 = exp 1 2 Log (2i) = exp 1 2 (ln 2 + i=4) = 1 + i: (d) (1 i) 1+i = 2 exp (=4) exp [i (ln 2 =4)] : (e) 1 i p 3 3i = exp 2 2 + (3 ln 2) i : 6. Se = re i, e considerando que é real, temos: j j = jexp ( Log )j = jexp ( ln jj + i)j = = e lnjj = e lnjj = jj : e lnjj e i 7. Recorde-se que Log é analítica fora do eixo L = f(x; 0) : x 0g : 8. Considerando = x + iy, temos: p 1 = ( 1) 1=2 = exp 1 2 Log ( 1) q = exp ln (x 1) 2 + y 2 + i y 2 arctan x 1 q = (x 1) 2 i y + y 2 exp 2 arctan ; x 6= 1: x 1 9. A função f () = Log não é contínua em ponto algum do eixo L = f(x; 0) : x 0g : 10. (a) 0 (b) 1 (c) 0 (d) 1: 11. Se = re i ; r > 0; <, então 2 = r 2 e 2i, de modo que: log 2 = 2 ln r + i (2 + 2k) ; k 2 2 log = 2 [ln r + i ( + 2n)] = 2 ln r + i (2 + 4n) ; n 2 : Os conjuntos f2 + 2k : k 2 g e f2 + 4n : n 2 g são distintos! propriedade log 2 = 2 log, a qual não é válida em geral. O erro ocorre ao usar a

114 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA Determine as soluções da equação: /x /2 /x (x + /2) 3.26 Mostre que a função w = i + i transforma o semiplano [x > 0] no semiplano [v > 0]: 3.27 Determine a imagem do semiplano [y > 0] pela transformação w = (1 + i). Primeiro usando coordenadas polares e, depois, coordenadas cartesianas. 3.28 Determine a imagem da faixa x > 0; 0 < y < 2 pela transformação w = i + 1: 3.29 Se a e b são constantes complexas, dê uma descrição geométrica da transformação w = a ( + b) : 3.30 Em cada caso determine a imagem do conjunto D indicado, pela transformação w = 2 : (a) D : r 0; 0 (b) D : r r 0 ; 0 (c) D : xy = c; x 2 y 2 = c (d) D : y = c (e) D : x > 0; y > 0; xy < 1 (f) D : jxj + jyj 1 3.31 Descreva a imagem do setor circular 0 < < =4; 0 r < 1, pelas transformações w = 2 ; w = 3 ; w = 4 : 3.32 Descreva a região do plano C (a pré-imagem) que é transformada pela a aplicação w = 2 no retângulo R : 1 u 2; 1 v 2 3.33 Descreva, geometricamente, a aplicação w = ( 1) 1 : 3.34 Repita o Exercício 3.30, com a transformação w = 1= e o conjunto D descrito por: (a) D : 0 < y < 1=2c (b) D : y > c > 0 (c) D : x > 1; y > 0 (d) D : x 2 y 2 = 1: 3.35 Determine a imagem da faixa x 0; 0 y 1 pela transformação w = 1=: 3.36 Suponha que o círculo = 0 + re i ; r > 0; 0 < 2, seja transformado pela aplicação w = 1= em um círculo de centro w 0. Mostre que w 0 não pode ser imagem de 0 : 3.38 Determine os pontos xos da transformação w = 1 + 1 : 3.45 Determine a imagem da região R : [0; 1] [0; 2] pela transformação T () = (1 + i) + 2 i: 3.46 A transformação w = 1= estabelece uma correspondência entre Cn f0g e C e pode ser escrita na forma w =, sendo = jj 2 : (a) Note que jj = 1 e arg = arg e mostre que é uma inversão com respeito ao círculo jj = 1; jj (b) Mostre que a função w transforma um círculo do plano que não passa pela origem em um círculo no plano w que não passa pela origem;

CAPÍTULO 3 - FUNÇÕES COMPLEXAS ELEMENTARES 115 (c) Determine as imagens das retas x = 1 e y = 2 pela transformação w: 3.4 Transformação de Möbius Fixado um número complexo = a + ib; a translação w = + leva o ponto (x; y) do plano no ponto (x + a; y + b) do plano w e uma dada região R do plano é transformada em uma região congruente R do plano w: Em particular, w transforma retas em retas e círculos em círculos. Por exemplo, o círculo = re i ; r > 0; 0 < 2, é transformado no círculo w = + re i de centro e raio r: Dado um número = a + ib; a transformação w = consiste de uma rotação de um ângulo ' = Arg (), seguida de uma contração, se jj < 1, ou uma expansão, no caso em que jj > 1: Essa transformação também leva retas em retas e círculos em círculos. Note que se = re i e = e i', então w = re i(+'). Combinando a rotação e a translação, obtemos a transformção linear w = +, sendo e números reais xados. Se é o círculo = re i ; r > 0; 0 < 2, então a imagem de é o círculo w = + re i(+') ; de centro e raio r. EXEMPLO 3.4.1 A transformação w = (1 + i) +2 i é do tipo w = +, onde = 1+i e = 2 i. Ela consiste de uma rotação de =4 seguida de uma translação por meio de = 2 i EXEMPLO 3.4.2 A transformação w = = jj 2 é uma inversão no círculo jj = 1, porque jwj = 1= jj e arg (w) = arg () : Se a; b; c e d são números reais, a equação a x 2 + y 2 + bx + cy + d = 0 (3.14) pode representar um círculo, no caso em que a 6= 0, ou ma reta se a = 0: Se u + iv = 1 x + iy a equação (3.14) torna-se: de onde concluímos que: d u 2 + v 2 + bu cv + a = 0; 1. Um círculo no plano que não passa pela origem (d 6= 0) é transformado pela função w = 1= em um círculo no plano w; que não passa pela origem.

116 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA 2. Um círculo no plano que passa na origem (d = 0) é transformado em uma reta no plano w que não passa pela origem. 3. Uma reta no plano que não passa pela origem é transformada em um círculo no plano w que passa na origem. 4. uma reta no plano pela origem é transformada em uma reta no plano w pela origem. Como casos particulares, ressaltamos: (a) A imagem da reta vertical Re () = x 0 6= 0 do plano é o círculo u 2 + v 2 u x 0 = 0 do plano w; (b) A imagem da reta horiontal Im () = y 0 6= 0 do plano é o círculo u 2 + v 2 + v y 0 = 0 do plano w; (c) O semiplano Re () x 0 > 0 é transformado no disco u 1 2 + v 2 1 2x 0 4x 2 : 0 u u 2 + v 2 x 0, isto é: A função w = 1= é útil no estudo das propriedades de uma função f () ; onde se envolve o ponto no in nito. Quando lim!0 f (1=) = w 0, diremos que f (1) = w 0 e, nesse sentido, teremos: lim! 0 f (1=) = w 0, lim!1 f () = w 0: Por exemplo, para tornar a função f () = 42 2 contínua no in nito, colocamos f (1) = 4. De fato, (1 ) basta observarmos que: 4 lim f (1=) = lim!0!0 ( 1) 2 = 4: Por m, observamos que lim!1 1=f () = 0 e ao de nirmos f (1) = 1, tornamos f contínua em = 1: Suponhamos que Temos que: e a condição 6= 0 fa com que a transformação não seja constante. Resolvendo (3.15) encontramos: 6= 0 e consideremos a Transformação de Möebius w = + ; 6= 0: + w = + 1 + (3.15) = w + w

CAPÍTULO 3 - FUNÇÕES COMPLEXAS ELEMENTARES 117 e cada ponto do plano w é imagem de um único ponto do plano, exceto quando w = =: Se w = T é a Transformação de Möbius e de nirmos T (1) = 1, se = 0, T ( =) = 1 e, caso 6= 0, colocarmos T (1) = =, obteremos uma bijeção T : C [ f1g! C [ f1g. Expressando a Transformação de Möebius na forma: w = + W; com W = 1= e = +, deduimos que ela transforma círculos em círculos (retas são consideradas circulos de raio 1): EXEMPLO 3.4.3 Dados os números complexos k e w k ; k = 1; 2; 3, a Transformação de Möbius (w w 1 ) (w 2 w 3 ) (w w 3 ) (w 2 w 1 ) = ( 1) ( 2 3 ) ( 3 ) ( 2 1 ) leva k em w k ; k = 1; 2; 3: Primeiro observamos que (3.16) pode ser escrita sob a forma: (3.16) ( 3 ) ( 2 1 ) (w w 1 ) (w 2 w 3 ) = ( 1 ) ( 2 3 ) (w w 3 ) (w 2 w 1 ) (3.17) e, expandindo os produtos, vemos que (3.17) é do tipo Aw + B + Cw + D = 0, isto é, (3:16) é, de fato, uma transformação de Möbius. Claramente de (3:17) segue que w = w j ; quando = j, para j = 1 e j = 3: No caso em que = 2 ; obtemos de (3:16): que possui solução única w = w 2 : (w w 1 ) (w 2 w 3 ) = (w w 3 ) (w 2 w 1 ) ; OBSERVAÇÃO 3.4.4 Se, por exemplo, w 2 = 1, substituimos em (3:16) w 2 por 1=w 2 e obteremos, com w 2 = 0, a seguinte expressão: (w w 1 ) (w w 3 ) = ( 1) ( 2 3 ) ( 3 ) ( 2 1 ) que é a Transformação de Möbius que leva 1 ; 2 e 3 em w 1 ; 1 e w 3, respectivamente. EXEMPLO 3.4.5 Vamos determinar a transformação de Möebius que aplica o semiespaço [Im 0] sobre o disco jj 1, de maneira biunívoca. Mostre que a transformação leva o disco jj 1 no disco jwj 1. Descreva geometricamente a transformação no caso em que 0 = 0: A imagem do disco jj 1 pela transformação w = e i 0 0 1 ; 2 R e j 0j < 1: A imagem do semiplano [Im 0] pela transformação w = e i 0 0 1, sendo Im ( 0) < 0:

4.1 Função Complexa de uma Variável Real Seja F (t) = x (t) + iy (t) ; a t b; uma função complexa de uma variável real t; e suponhamos que as funções reais x (t) e y (t) sejam contínuas no intervalo [a; b], exceto, possivelmente, em uma quantidade nita de pontos de [a; b], onde elas têm limites nitos. Uma tal função F (t) é conhecida pela denominação de contínua por partes em [a; b] e a integral de F (t) no intervalo [a; b], indicada por b a F (t) dt; é o número complexo de nido por: b a F (t) dt = b a Re [F (t)] dt + i b a Im [F (t)] dt = b a x (t) dt + i EXEMPLO 4.1.1 Se F (t) = e it ; 0 t =2; temos, de acordo com a de nição, que: =2 0 F (t) dt = =2 0 e it dt = =2 0 cos tdt + i =2 0 b a sen tdt = 1 i: y (t) dt: (4.1) PROPOSIÇÃO 4.1.2 (Propriedades Básicas) Se F (t) e G (t) são funções contínuas por partes em [a; b] e é qualquer constante complexa, então: (P1) (P2) b a b a [ F (t) + G (t)] dt = b F (t) dt jf (t)j dt: a b a F (t) dt + b a G (t) dt: (P3) Se (t) = (t) + i (t) é uma primitiva de F (t) em [a; b], isto é, as componentes (t) e (t) são deriváveis em [a; b] e 0 (t) = 0 (t) + i 0 (t) = F (t) ; a t b; então b a F (t) dt = (b) (a) : Em particular, se F (t) é de classe C 1 em [a; b], temos: b a F 0 (t) dt = F (b) F (a) :

120 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA DEMONSTRAÇÃO (P1) Considerando F (t) = x (t) + iy (t) ; G (t) = (t) + i (t) e = a + ib, um cálculo direto nos dá: b (P2) Representando a b [ F (t) + G (t)] dt = [ x (t) + (t)] dt + i [ y (t) + (t)] dt a a b b b = x (t) dt + i y (t) dt + (t) dt + i b real e de (P1) resulta: a = a b a F (t) dt + b a a G (t) dt: b F (t) dt sob a forma polar re i ; temos que b r = e i F (t) dt = a b a e i F (t) dt = b a b a a b a (t) dt e i F (t) dt = r é um número h i Re e i F (t) dt: Logo, b a b F (t) dt = r = a h i Re e i F (t) dt b a e i F (t) dt = b a jf (t)j dt: (P3) Consequência direta do Teorema Fundamental do Cálculo de variável real. De fato: b b b t=b t=b F (t) dt = x (t) dt + i y (t) dt = (t) + i (t) a a a = (b) (a) + i [ (b) (a)] = (b) + i (b) [ (a) + i (a)] = (b) (a) : t=a t=a EXERCÍCIOS & COMPLEMENTOS 4.1 1. Calcule as seguintes integrais: (a) =4 0 e it dt (b) 1 0 e t dt; Re () > 0 (c) 2 0 e imt e int dt; m; n 2. 2. Calcule as integrais trigonométricas: (a) p 0 t exp it 2 dt (b) 0 e it + i sen t dt (c) cos (it) dt: 0

CAPÍTULO 4 - INTEGRAÇÃO COMPLEXA 121 4.2 Função Complexa de uma Variável Complexa Nesta seção apresentaremos o cálculo integral para funções w = f () ; de uma variável complexa, de nida e contínua em uma região do plano C contendo um arco : (t) = x (t) + iy (t) ; a t b: Inicialmente faremos um breve comentário sobre contornos regulares ; no plano C; para em seguida tratarmos das integrais de f () sobre o contorno : 4.2.1 Contornos e Integrais Por arco no plano C entendemos a imagem de uma função contninua : [a; b]! C, isto é, o conjunto dos pontos (t) = x (t) + iy (t) ; a t b; onde x (t) e y (t) são funções reais contínuas no intervalo [a; b] : A orientação positiva do arco é aquela correspondente ao sentido crescente de valores de t: O ponto A = (a) e B = (b) denominam-se, respectivamente, ponto inicial e ponto nal do arco. Por simplicidade, faremos referência ao arco como sendo a função t 7! (t). Veja a ilustração grá ca na Figura 4.1. Figura 4.1: Um arco no plano C: Em um arco : (t) = x (t) + iy (t), um ponto P = (t) ; proveniente de dois valores distintos de t; internos ao intervalo [a; b] ; denomina-se ponto múltiplo; os demais pontos são pontos simples. Um arco = (t) constituído apenas de pontos simples denomina-se arco simples. Neste caso, temos: t 6= s ) (t) 6= (s) ; a < t; s < b: No arco simples pode ocorrer que (a) = (b) e, neste caso, o arco simples denomina-se fechado; um

122 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA arco simples fechado também é denominado arco de Jordan. O comprimento do arco é o número real L () dado por: L () = b a 0 (t) dt (4.2) e, com a notação d = dx + idy, vemos que o comprimento do arco se expressa sob a forma L () = b a jdj : Se a função f () é contínua sobre o arco regular e jf ()j M; em, então: De fato, segue da propriedade (P3) da Seção 4.1 que: f () d = b M a b f () d M L () : (4.3) f ( (t)) 0 b (t) dt f ( (t)) 0 (t) dt a 0 (t) dt = M L () : DEFINIÇÃO 4.2.1 Um arco de equação (t) = x (t) + iy (t) ; a t b, é denominado arco regular ou suave quando as funções x (t) e y (t) forem de classe C 1 em [a; b] e a velocidade 0 (t) = x 0 (t)+iy 0 (t) é não nula em cada t do intervalo [a; b:] : a Em um arco regular, se x 0 (t) = 0, então o vetor 0 (t) = iy 0 (t) é vertical e no caso em que x 0 (t) 6= 0, então y 0 (t) =x 0 (t) é a declividade da reta tangente ao arco, no ponto (t) : EXEMPLO 4.2.2 O arco de nido por (t) = t + it; 0 t 1 t + i; 1 t 2 é simples e consiste do segmento de reta de = 0 até = 1 + i, seguido do segmento de = 1 + i até = 2 + i, como ilustra a Figura 4:2. EXEMPLO 4.2.3 A circunferência jj = 1, de centro na origem e raio 1, é descrita na forma paramétrica por (t) = e it ; 0 t 2. Trata-se de um arco simples, fechado e regular.

CAPÍTULO 4 - INTEGRAÇÃO COMPLEXA 123 Figura 4.2: Grá co para o Exemplo 4.2.2 EXEMPLO 4.2.4 (Arcos Justapostos) Se 1 : = (t) ; a t b e 2 : w = w (s) ; b s ; c são dois contornos justapostos, como ilustra Figura 4:3, o contorno 1 + 2 ; denominado justaposição dos arcos 1 e 2 ; é de nido por = (t), sendo: (t), se a t b (t) = w (t), se b t c: Figura 4.3: Arcos Justapostos DEFINIÇÃO 4.2.5 Um número nito de arcos regulares e justapostos recebe o nome de contorno. EXEMPLO 4.2.6 O arco de nido no Exemplo 4:2:2 é um contorno simples. Ele é constituído pelos arcos regulares 1 e 2. EXEMPLO 4.2.7 A fronteira da região D = f = x + iy : jxj + jyj 1g é um contorno simples e fechado, o qual coincide com o quadrado de vértices = 1 e = i:

124 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA 4.2.2 A integral A integral de uma função contínua w = f () sobre um contorno : (t) = x (t) + iy (t) ; a t b, é, por de nição, o número complexo f () d, dado por: f () d = b a f ( (t)) 0 (t) dt: (4.4) De froma mais geral, podemos considerar funções complexas f () = u + iv, com componentes u (x (t) ; y (t)) e v (x (t) ; y (t)) contínuas por partes em [a; b], isto é, sobre a curva, e a integral (4.4) está bem de nida: f () d = b a [u (x (t) ; y (t)) + iv (x (t) ; y (t))] x 0 (t) + iy 0 (t) dt: EXEMPLO 4.2.8 Para ilustrar o conceito, vamos calcular a integral da função f () = 2, ao longo do segmento que liga a origem ao ponto 1 + 2i: SOLUÇÃO temos: O segmento é descrito por (t) = t + 2it; 0 t 1; de modo que d = (1 + 2i) dt e 2 d = 1 0 (t + 2it) 2 (1 + 2i) dt = (1 + 2i) = (1 + 2i) ( 3 + 4i) 1 0 1 0 ( 3 + 4i) t 2 dt t 2 dt = 1 3 (1 + 2i) ( 3 + 4i) = 1 3 (11 + 2i) : EXEMPLO 4.2.9 Se é o arco jj = 1, orientado de = 1 até = 1, temos: 0 d = e it e it dt = i: LEMA 4.2.10 (Teorema Fundamental do Cálculo) Se, sobre o contorno : = (t) ; a t b; a função F () é uma primitiva analítica de f (), então f () d = F ( (b)) F ( (a)) : DEMONSTRAÇÃO Usando o conceito de integral e a Regra da Cadeia, encontramos: b b f () d = f ( (t)) 0 (t) dt = F 0 ( (t)) 0 (t) dt = a b a a d dt [F ( (t))] dt = F ( (b)) F ( (a)) :

CAPÍTULO 4 - INTEGRAÇÃO COMPLEXA 125 EXEMPLO 4.2.11 Se é um arco regular ligando os pontos 1 = 1 ao ponto 2 = i, então 2 d = 3 i 3 = 1 3 i3 1 = 1 3 (1 + i) : 1 EXEMPLO 4.2.12 Se é o segmento de reta de = 1 até = 1 + i, usamos Log como primitiva de 1= e obtemos: d = Log (1 + i) Log 1 = ln p 2 + i=4: PROPOSIÇÃO 4.2.13 (Propriedades Básicas) Sejam f () e g () funções complexas, contínuas nos pontos de um contorno : = (t) ; a t b: (P1) Usando a Integral de Linha: Se f () = u + iv, então: f () d = udx vdy + i vdx + udy: (4.5) (P2) Invertendo a orientação: Se representa o contorno, com a orientação invertida, então: f () d = f () d: (4.6) (P3) Linearidade: Se é qualquer número complexo, então: [f () + g ()] d = f () d + g () d: (4.7) (P4) Justaposição: Se 1 : = (t) ; a t b e 2 : w = w (s) ; b s c são dois arcos justapostos, então: f () d = f () d + f () d: (4.8) 1 + 2 1 2 DEMONSTRAÇÃO (P1) Por simplicidade, omitiremos a variável t na demonstração. Considerando : (t) = x (t)+iy (t), a t b; temos que: f () d = = = b a b a f ( (t)) 0 (t) dt = ux 0 udx b a b (u + iv) x 0 + iy 0 dt vy 0 dt + i uy 0 + vx 0 dt a vdy + i vdx + udy:

126 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA (P2) O contorno pode ser parametriado da seguinte forma: : w (s) = x ( s) + iy ( s) ; b s a; e, considerando t = s; resulta: f () d = = a b a b f (w (s)) w 0 (s) ds = f ( (t)) 0 (t) ( dt) = b a f ( ( s)) 0 ( s) ds f () d: (P3) A partir do conceito, temos: [f () + g ()] d = = b a b a [f ( (t)) + g ( (t))] 0 (t) dt f ( (t)) 0 (t) dt + (P4) Usando a parametriação dada no Exemplo 4.2.4, temos: 1 + 2 f () d = = c a f ( (t)) 0 (t) dt = b a b f () d + f () d: 1 2 a g ( (t)) 0 (t) dt = f ( (t)) 0 (t) dt + c b f () d + g () d: f (w (t)) w 0 (t) dt EXERCÍCIOS & COMPLEMENTOS 4.2 1. Represente as seguintes curvas na forma (t) = x (t) + iy (t) ; a t b: (a) o segmento de reta de = 0 a = 1 + 2i: (b) o segmento de reta de = 2 + i a = 2 + 4i: (c) a circunferência j 2ij = 4: (d) a circunferência de raio 5 e centro na origem. (e) o arco da parábola y = x 2 de (0; 0) a (3; 9) : (f) a elipse x 2 + 9y 2 = 9: 2. Em cada caso, identi que e esboce o grá co do contorno, descrito por:

CAPÍTULO 4 - INTEGRAÇÃO COMPLEXA 127 (a) : (t) = 3i + 3e it ; 0 t : (b) : (t) = t + 3it 2 ; 1 t 2: (c) : (t) = 1 + (2 i) t; 0 t 1: (d) : (t) = t + i p 1 t 2 ; 1 t 1: (e) : (t) = 1 + 2i=t; 1 t < 0: (f) : (t) = p 1 t 2 + it; 1 t 1: 3. Seja : (t) = x (t)+iy (t) ; a t b, um arco suave contido no domínio de uma função analítica w = F (). Nos pontos (t) do arco, mostre que: 4. Em cada caso, calcule a integral 3 2 d. (a) é o segmento de i até i: (b) é o arco jj = 1; Re 0: d dt [F ( (t))] = F 0 ( (t)) 0 (t) : (c) é o arco da parábola y = x 2 de (0; 0) a (3; 9) : 5. Calcule jj d, onde é o arco jj = 1; Re 0. E se fosse o segmento de o valor da integral? p 6. Calcule d, onde é o arco = exp (i), nos seguintes casos: i até i, qual seria (a) =2 =2 (b) 0 2 (c) 3: 7. Calcule as seguintes integrais de linha: (a) [x 2 y 2 + i x 2 y 2 ]d, é o segmento de 3 + 2i até a origem. (b) (c) (d) 2+i 0 jj=r 1 1 y x 2 d, ao longo da poligonal constituída do eixo y e da reta y = 1: Log d: d p, ao longo do arco de circunferência jj = 1; Im 0:

128 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA (e) (f) (g) (h) (i) + 2 d, ao longo do arco = 2 exp (i) ; 2: jj=1 2i i i 0 m () n d: exp () d, ao longo da poligonal de i até 1, sobre os eixos coordenados. cos d: cos 2 d: 8. Seja o arco ao longo da curva y = x 3, de = 1 i a = 1 + i e seja f () = 4y, se y > 0 e f () = 1, se y < 0. Calcule f () d: 9. Sem calcular a integral, mostre que: (a) (b) d 1, sendo o segmento de = 1 até = 1 + i d 1 + 2, sendo o arco do círculo jj = 2 de = 2 até = 2i: 3 10. Se a função w = f () é contínua em = 0, mostre que lim r!0 2 0 f re i d = 2f (0) : 11. Se é o triângulo de vértices = 0; = 3i e = 4, com orientação positiva, mostre que: (e ) d 60: 12. Se R é o círculo jj = R; R > 1, orientado no sentido positivo, mostre que: (a) Log R 2 d 2 ( + ln R) R Log (b) lim R!1 R 2 d = 0: 13. Se f () é contínua no círculo R : j 0 j = R, mostre que f () d = ir R Com o resultado, dedua que: (a) r d = 2i (b) ( 0 ) n 1 d = 0; n = 1; 2; 3; : : : 0 r 2 0 f 0 + R e i e i d.

CAPÍTULO 4 - INTEGRAÇÃO COMPLEXA 129 4.3 Teoremas Clássicos & Consequências Iniciamos esta seção recordando o Teorema de Green no plano xy, do qual se originou o resultado fundamental da teoria das funções analíticas: o Teorema de Cauchy-Goursat. TEOREMA 4.3.1 (Teorema de Green) Sejam P (x; y) e Q (x; y) duas funções de classe C 1 em uma região R; do plano xy, cuja fronteira é um contorno simples, fechado e parcialmente regular, com orientação positiva. Então: P dx + Qdy = R @Q @x @P dxdy: @y Agora, se f () = u + iv é uma função analítica, com derivada f 0 () contínua, na região R, usamos o Teorema de Green e as equações de Cauchy-Riemann para deduir que as integrais de linha vdx + udy e udx vdy são nulas. De fato, considerando que na região R temos u x = v y e v x = u y, deduimos que vdx + udy = R (u x v y ) dxdy = 0 e udx vdy = R ( v x u y ) dxdy = 0: Logo, tendo em vista (4:5), encontramos: f () d = udx vdy + i vdx + udy = 0: (4.9) EXEMPLO 4.3.2 Como consequência do que acabamos de estabelecer, concluímos que: jj=1 3 + cos d = 0 e j ij=1 exp 2 d = 0: + 4 Ao usar o Teorema de Green para concluir (4.9), a hipótese de ser f 0 () contínua é necessária. Contudo, esta hipótese pode ser removida e E. Goursat foi o primeiro a provar tal fato. O resultado de Cauchy, agora sem a hipótese de continuidade de f 0 (), leva o nome de Teorema de Cauchy-Goursat. OBSERVAÇÃO 4.3.3 Uma região R do plano C sem buracos denomina-se simplesmente conexa. De forma precisa, uma região do plano C é simplesmente conexa quando qualquer contorno simples, fechado e suave, contido em R; contiver no seu interior apenas pontos da região. Uma região que não é simplesmente conexa denomina-se multiplamente conexa.

130 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA TEOREMA 4.3.4 (Cauchy-Goursat) Se f () é uma função analítica em um domínio simplesmente conexo D, então f () d = 0; seja qual for o contorno simples, fechado e regular por partes contido em D: COROLÁRIO 4.3.5 (Independência do caminho) Nas condições do Teorema de Cauchy-Goursat, a integral de f () ao longo de um contorno ligando os pontos 1 e 2 só depende dos pontos 1 e 2 e nunca do contorno em D ligando esses pontos. DEMONSTRAÇÃO Na Figura 4.4 ilustramos dois contornos suaves 1 e 2, ligando os pontos 1 e 2. Figura 4.4: Independência do caminho. Do Teorema de Cauchy-Goursat resulta: 0 = 1 f () d = 2 f () d 1 2 f () d: 4.3.1 Existência de Primitivas No que se segue, D representa um domínio simplesmente conexo e f () uma função analítica em D. Dados um ponto 0 ; no domínio D; e um número complexo, a função complexa F : D! C; de nida pela relação F () = + 0 f () d;

CAPÍTULO 4 - INTEGRAÇÃO COMPLEXA 131 é uma primitiva de f (), isto é, F () é derivável e F 0 () = f (), em qualquer do domínio D: De fato, temos: Daí resulta que: F = F ( + ) F () = 1 + F Quando! 0, os valores jf () = 1 + 0 f () d = f () + 1 f () 1 jj (independente de ), de ero, de modo que: + f () d + f () d 0 [f () f ()] d: jf () f ()j jdj : (4.10) f ()j, com entre e + ; aproximar-se-ão, uniformemente + lim!0 jf () f ()j jdj = 0: (4.11) De (4.11) concluímos que F! f (), com! 0, isto é, F 0 () = f () : Se G () é outra primitiva de f (), temos que d G () d f () d 0 = G 0 () e, sendo assim, existe uma constante complexa, tal que G () = + d f () d d 0 = f () f () = 0 0 f () d: COROLÁRIO 4.3.6 Se, no domínio D, a função F () é qualquer primitiva de f (), e 1 e 2 são dois pontos em D, então 2 1 f () d = F ( 2 ) F ( 1 ) : EXEMPLO 4.3.7 Usando F () = 1 3 3 como primitiva de f () = 2, temos: 1+i i 2 d = 1 3 h (1 + i) 3 i 3i = 2 3 + i: EXEMPLO 4.3.8 Se representa o círculo (t) = 0 +e it ; 0 t 2, percorrido no sentido positivo, então: De fato, temos: d 2 = 0 0 d = 2i: 0 ie it dt = 2i: eit

132 CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL COMPLEXA M. P. MATOS & S. M. S. e SOUA EXEMPLO 4.3.9 Agora, deixe ser um contorno simples, fechado e parcialmente regular, envolvendo o ponto 0 : Então, dependendo da orientação escolhida para o contorno, teremos: d = 2i: 0 Na Figura 4:5 abaixo ilustramos a situação geométrica, onde D é a região entre os contornos e, sendo su cientemente pequeno, de modo que o círculo esteja envolvido pelo contorno : Do Teorema de Cauchy-Goursat, segue que: e a conclusão segue do Exemplo 4:3:8. d 0 = = +L L+ 0 d + 0 d 0 ; Figura 4.5: Figura para o Exemplo 4.3.9. OBSERVAÇÃO 4.3.10 O Teorema de Cauchy-Goursat admite uma versão para regiões multiplamente conexas, formulada da seguinte maneira: seja 0 um contorno simples, fechado e regular, interno ao contorno, também simples, fechado e regular, e seja R a região entre os contronos 0 e, com fronteira @R orientada no sentido positivo. Se f () é analítica na região R [ @R, então: f () d = 0: @R 4.3.2 Fórmula Integral de Cauchy A Fórmula Integral de Cauchy é o instrumento básico para estabeler as propriedades, algumas surpreendentes, das funções analíticas.