DETERMINANTES DO DESMATAMENTO EM PEQUENAS PROPRIEDADES NA AMAZÔNIA: UM ESTUDO DE CASO EM URUARÁ PA 1



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Transcrição:

Rtaumara de J. Perera, Wlson da Cruz Vera, João Eustáquo de Lma & Marcellus Marques Caldas DETERMINANTES DO DESMATAMENTO EM PEQUENAS PROPRIEDADES NA AMAZÔNIA: UM ESTUDO DE CASO EM URUARÁ PA 1 Rtaumara de J. Perera 2 Wlson da Cruz Vera 3 João Eustáquo de Lma 4 Marcellus Marques Caldas 5 Resumo - Este trabalho analsou os determnantes do desmatamento em pequenas propredades na Amazôna, em uma área de colonzação localzada ao longo da rodova Transamazônca, no muncípo de Uruará - PA. Foram aplcados 138 questonáros na área de estudo, durante os meses de julho e agosto de 2002. Estmou-se um modelo Tobt com seletvdade amostral, utlzando o método de Heckman, em dos estágos, vsando corrgr possíves problemas de vés e nconsstênca exstentes nas estmatvas por MQO. Os resultados encontrados sugerem que os prncpas determnantes do desmatamento possam ser a dstânca da estrada prncpal e o número de dáras pagas no período de um ano, os quas foram sgnfcatvos a 1% e 5%, respectvamente. A presença da pecuára fo também mportante para determnar as chances de ocorrer desmatamento na regão estudada. Palavras-chave: Amazôna, desmatamento, colonzação, modelo Tobt 1 Recebdo em 10/05/2004. Aceto em 16/08/2004. Este trabalho basea-se na dssertação de mestrado da prmera autora. 2 Engenhera-Agrônoma, M.S. em Economa Aplcada, Departamento de Economa Rural,Unversdade Federal de Vçosa. E-mal: rthau@yahoo.com.br. 3 Professor Adjunto do Departamento de Economa Rural, Unversdade Federal de Vçosa. CEP 36570-000. Vçosa MG. E-mal: wvera@ufv.br. 4 Professor Ttular do Departamento de Economa Rural, Unversdade Federal de Vçosa. CEP 36570-000. Vçosa MG. E-mal: jelma@ufv.br. 5 Pesqusador vnculado à Mchgan State Unversty. E-mal: caldasma@msu.edu. 6 Para mas detalhes, ver, por exemplo, Andrade (2003). 409

REVISTA DE ECONOMIA E AGRONEGÓCIO, VOL.2, Nº 3 1. Introdução Não obstante sua mportânca no suporte à bodversdade e no cclo da água, a Amazôna braslera apresenta a taxa absoluta mundal mas alta de destrução de floresta, calculada atualmente em uma méda de quase dos mlhões de hectares por ano (Laurance et al., 2001). Esse processo de destrução da floresta natva acelerou-se a partr da segunda metade da década de 1960, quando o governo mltar braslero, com o objetvo de desenvolver e ntegrar a regão ao resto do país, estabeleceu uma sére de atos e decretos legslatvos, alados a um ambcoso projeto de construção de estradas, planos para colonzação e ncentvos fscas que vsavam favorecer a cração de novas atvdades agrícolas e ndustras nessa regão (Mahar, 1989). Após esse período e com o processo de povoamento em andamento, verfcou-se que vastas áreas de floresta foram desmatadas para dar lugar a pastos ou culturas agrícolas. De acordo com Cattaneo (2002), a expansão geográfca da frontera agrícola braslera tem tdo papel mportante no processo de desmatamento na Amazôna, e o uso das terras para agrcultura e pecuára tem sdo uma das prncpas causas desse desmatamento, vsto que os assentamentos locas estmulados por essas atvdades têm assumdo papel crucal nesse processo. Após a decsão do governo braslero de ncentvar o povoamento da Amazôna, houve ncremento na população local de cerca de 80%, fato que desencadeou a transformação de mlhões de hectares de floresta densa em terras agrcultáves, no período de 1970 a 1985 (Andersen e Res, 1997). Preva-se, ncalmente, que ocorresse forte mgração nter-regonal a partr de assentamentos permanentes e auto-sufcentes na frontera agrícola (Mahar, 1978). Entretanto, o que houve fo a mplantação de sstemas de produção caracterzados pelo uso ntensvo do trabalho famlar e por tecnologa agrícola smples, segudos por forte tendênca à cração 410

Rtaumara de J. Perera, Wlson da Cruz Vera, João Eustáquo de Lma & Marcellus Marques Caldas de gado e à ncorporação contínua de novas áreas à agrcultura, com pequeno reconhecmento pela preservação dos recursos naturas. A ncorporação contínua de novas áreas de floresta para produção agrícola resultou do baxo nível tecnológco dos produtores atraídos à regão e dos baxos índces de fertldade dos solos amazôncos. O produtor atraído à regão levou consgo prátcas agrícolas de sua regão de orgem, na maora das vezes não adaptáves às condções locas. Esse processo resultou na chamada agrcultura mgratóra, em que, após quatro ou cnco cclos de produção, a área é abandonada e novas áreas de floresta são ncorporadas para produção agrícola (Homma et al., 1998). Não obstante os estudos já exstentes, esse processo de desmatamento e ncorporação de áreas para atvdades agropecuáras anda é pouco conhecdo. Há necessdade de nvestgar melhor as característcas do desmatamento e de seus atores em locas, dentfcando as razões que levam os propretáros a desmatarem áreas cada vez maores que as estabelecdas pela legslação e ntroduzrem novas atvdades sem se preocuparem com a sustentabldade da exploração. Dessa forma, com vstas em analsar os prncpas determnantes do desmatamento em pequenas propredades na Amazôna, seleconou-se o muncípo de Uruará-PA para um estudo de caso, pelo fato de essa regão consttur uma área de frontera agrícola com baxa densdade populaconal e mercados emergentes, a qual se formou a partr da construção da rodova Transamazônca, envolvendo assentamentos e desencadeando, desde então, consderável hstórco de desmatamento. O objetvo geral deste trabalho fo analsar a área destnada à agropecuára, o uso de técncas agrícolas e seus efetos sobre o desmatamento em uma área de colonzação em Uruará - PA. Especfcamente, buscou-se: a) Identfcar e caracterzar os prncpas fatores nfluencadores do desmatamento por parte dos pequenos produtores; b) Relaconar as varáves explcatvas do desmatamento em Uruará - PA; e 411

REVISTA DE ECONOMIA E AGRONEGÓCIO, VOL.2, Nº 3 c) Avalar os efetos dos prncpas fatores que afetam o desmatamento na regão. 2. Referencal teórco Um modelo econômco aplcado à stuação amazônca, apresentado por Homma et al. (1998), de derrubada e quemada pelos pequenos produtores assentados ao longo da rodova Transamazônca, fo utlzado como referencal teórco neste trabalho. Por este modelo, analsaram-se sstemas agrícolas dversfcados na regão, com pecuára e culturas anuas e perenes. De acordo com Homma et al. (1998), a derrubada e a quemada de floresta densa ou de capoera (vegetação secundára provenente de desmatamentos de floresta densa, anos anterores) dependem de uma sére de varáves econômcas e tecnológcas, dentre as quas se destacam a dade da capoera, a dsponbldade e preço da terra e da mão-deobra, o custo da derrubada e o preço do produto. Na Fgura 1 apresenta-se uma stuação de área de frontera agrícola, em que o recurso terra é consderado abundante e o custo da utlzação da terra está relaconado com a mão-de-obra necessára para seu cultvo. O custo de uso da terra é consderado fxo, ou seja, é dado por wl, em que w representa o saláro e L, mão-de-obra por undade de área [ representa o tpo de cobertura vegetal (c), com = 0 (floresta densa ou capoerão) e = 1 (capoera nova ou juqura)]. 412

Rtaumara de J. Perera, Wlson da Cruz Vera, João Eustáquo de Lma & Marcellus Marques Caldas Fonte: Adaptado de Homma et al. (1998). Fgura 1 Relação entre produtvdade físca margnal, preço do produto e custo na utlzação da terra na Amazôna, em dferentes estádos de cobertura vegetal. Nesse modelo, para dferentes tpos de cobertura vegetal, os valores do produto físco margnal (VPF), a determnado preço do produto, devem gualar-se ao custo à margem, sendo a área utlzada (A) representada pelo exo horzontal. Dessa forma, as dsponbldades de terra e de mãode-obra e os preços dos produtos condconam a utlzação dos dferentes tpos de cobertura vegetal. Por um lado, uma queda nos níves de preços do produto, por exemplo, desloca a curva do valor do produto físco margnal para baxo, desestmulando o uso de solos que apresentam baxa produtvdade, ou seja, aqueles com cobertura vegetal recente (juqura). Por outro, nas áreas de ocupação recente, os baxos preços dos produtos, decorrentes da dstânca ao mercado prncpal, por exemplo, são compensados pela maor produtvdade agrícola. Preços dos produtos favoráves aos produtores, portanto, tendem a reduzr as pressões por desmatamentos e quemadas de áreas de floresta densa, em detrmento de áreas com vegetação secundára (capoeras). 413

REVISTA DE ECONOMIA E AGRONEGÓCIO, VOL.2, Nº 3 No caso de haver lmtações de mão-de-obra e o fator terra não for restrtvo, tanto a derrubada de novas áreas de floresta densa quanto a utlzação de copoeras com longo tempo de pouso tornam-se mas atraentes aos pequenos produtores. Nesse caso, a maor produtvdade das lavouras compensara o custo mas elevado da mão-de-obra. Na Fgura 1 podem-se vsualzar as escolhas dos pequenos produtores, consderando as áreas com dferentes tpos de cobertura vegetal. Os lucros são representados pelas áreas hachuradas entre as curvas de produtos físcos margnas e as lnhas de horzonte de custos (Fgura 1). Com esta estrutura de produção e custos, o produtor tera maores vantagens com a utlzação de floresta densa ou vegetação secundára mas antga, quando comparado com capoera nova ou juqura. Os ganhos do produtor com capoerão ou floresta densa seram dados pela área XSD e, com capoera nova, pela área VRC. Outra stuação mportante e dstnta da apresentada na Fgura 1, que pode ser consderada, é a que surge quando há valorzação da terra e que ocorre com o crescmento populaconal e a proxmdade de áreas urbanas. Nesse caso, a terra passa a ser fator lmtante e tende a haver expansão captalsta no campo, provocando a agregação das propredades e a entrada de atvdades como pecuára e culturas perenes. Com sso, há redução da área dsponível às atvdades dos pequenos produtores, que passam a utlzar mas ntensvamente a terra ou mgram para novas áreas. Além das decsões de produção, os pequenos produtores têm que comercalzar seus produtos. As condções de mercado nas áreas de colonzação na Amazôna estão dretamente lgadas à proxmdade do pequeno produtor às estradas prncpas e também às suas condções de tráfego. De acordo com Mahar (1989), quanto mas longe das estradas, mas altos são os custos com nsumos e transportes, o que dfculta o acesso do pequeno produtor às tecnologas modernas. 414

Rtaumara de J. Perera, Wlson da Cruz Vera, João Eustáquo de Lma & Marcellus Marques Caldas 3. Metodologa Dadas as característcas do processo de desmatamento na Amazôna e das nformações levantadas na área de estudo, utlzou-se, neste trabalho, o modelo Tobt com seletvdade amostral, estmado pelo método proposto por Heckman (1974). Neste trabalho, as estmatvas da área total desmatada baseam-se em uma amostra censurada, a qual está sujeta a um vés de seletvdade, fato que torna as estmatvas por Mínmos Quadrados Ordnáros (MQO) vesadas e nconsstentes, uma vez que tende a consderar resultados somente das propredades onde houve desmatamento. Com a fnaldade de corrgr esse problema, adotou-se, dessa forma, o procedmento em dos estágos. No prmero estágo, o modelo proposto compreende uma modelagem de decsão. Neste estudo, observou-se a probabldade de desmatar, ou não, pela regressão de um modelo Logt, no qual a varável dependente terá valores de 0 (se não houver desmatamento) a 1 (se houver desmatamento), em que a probabldade de desmatar é dada pela segunte equação: P = f 1 ( X ' β ) = Z, (1) 1+ e em que P é a probabldade de o agrcultor desmatar, função de dstrbução de probabldade (acumulada) logístca; Z = ' β ; f, X X, vetor de varáves explcatvas; e β, vetor de parâmetros a serem estmados. A varável P não é observada; tem-se 415 y = 1 se houver desmatamento e y = 0, se não houver. Como varável explcatva consderou-se apenas a exstênca de pecuára, medda em número de cabeças de gado.

REVISTA DE ECONOMIA E AGRONEGÓCIO, VOL.2, Nº 3 Esta escolha se deu pelo fato de a atvdade pecuára estar se expandndo atualmente, requerendo-se, dessa forma, novas áreas para formação de pastos. Após a estmação do modelo Logt, pelo qual se avala a probabldade de desmatar ou não, o segundo estágo compreende a estmação de uma função para a área total desmatada, como varável dependente, elmnando-se o vés de seletvdade amostral por meo da ntrodução de uma varável lambda ( λ ), conhecda como nverso da razão de Mlls, como uma varável explcatva adconal, conforme sugerdo por Heckman (1974). A varável lambda (λ ) é dada pela segunte expressão: σz φ σ u λ =, = 1,2,3, Κ, n, (2) σz Φ σ u em que φ e Φ representam, respectvamente, as funções de densdade de probabldade e de dstrbução cumulatva normal padrão (Greene, 1997). σ u é o desvo-padrão do erro aleatóro da regressão da varável dependente não-dretamente observada (1º estágo) e σ é o desvo-padrão relatvo à amostra censurada (2º estágo). 6 A varável lambda (λ ) passa a fazer parte da equação utlzada no segundo estágo, como varável explcatva e sgnfcatva, mostrando, assm, a mportânca de se consderarem os dos estágos no processo de estmação. Neste segundo estágo, estmou-se a segunte equação: 6 Para mas detalhes, ver, por exemplo, Andrade (2003). 416

Atd = β + β Rtaumara de J. Perera, Wlson da Cruz Vera, João Eustáquo de Lma & Marcellus Marques Caldas o 1Esc 2Ntpf 3Dep 4DP2001 β Adq + β Pest + αλ + ε 8 9 + β + β + β + β Gado + β Astec + β Agsub+ 5 6 7 (3) em que Atd é a área total desmatada, em hectares; Esc, nível de escolardade, representado em anos em que o propretáro freqüentou a escola; Ntpf, número total de pessoas que trabalham fora e que moram no lote; Dep, dstânca da propredade em relação à estrada prncpal (Transamazônca), em Km; DP 2001, número de dáras pagas por trabalho realzado dentro do lote, no período de um ano; Gado, número total de cabeças de gado na propredade, sendo do propretáro e, ou, de terceros que alugam o pasto; Astec gual a 1, se o produtor receber vsta de algum órgão de assstênca técnca; caso contráro, gual a 0; Agsub gual a 1, se o produtor utlzou aração, gradagem e, ou, subsolagem; caso contráro, gual a 0; Adq gual a 1, se o produtor utlzar adubo químco em sua propredade; caso contráro, gual a 0; Pest gual a 1, se o produtor fzer uso de fungcda, nsetcda e, ou, 417

REVISTA DE ECONOMIA E AGRONEGÓCIO, VOL.2, Nº 3 herbcda; caso contráro, gual a 0; λ, nverso da razão de Mlls; e ε, erro aleatóro. A defnção e o snal esperado para o coefcente de cada varável estão contdos na Tabela 1. Tabela 1 Varáves componentes do modelo empírco e snas esperados Varável Snal esperado Descrção Atd* dependente Área total desmatada, em ha Esc + Nível de escolardade, em anos de freqüênca à escola Ntpf + Número total de pessoas que trabalham fora e moram no lote Dep - Dstânca da estrada prncpal, rodova Transamazônca, em km DP2001 + Número de dáras pagas no período de um ano Gado + Número de cabeças de gado na propredade λ? Inverso da razão de Mlls Dummes Astec + Igual a 1, se recebeu vsta de algum órgão de assstênca técnca, caso contráro, gual a 0 Agsub - Igual a 1, se o produtor utlzar aração, gradagem e, ou, subsolagem, caso contráro, gual a 0 Adq - Igual a 1, se o produtor utlzar adubo químco, caso contráro, gual a 0 Pest + Igual a 1, se o produtor fzer uso de fungcda, nsetcda e, ou, herbcda, caso contráro, gual a 0 * O valor da área total desmatada (Atd) fo calculado pela soma das áreas totas com culturas perenes, anuas, pasto e capoera, conforme nformado pelos produtores, em seus respectvos lotes de 100 hectares. Os dados utlzados foram obtdos por meo de entrevsta dreta com os propretáros ruras utlzando questonáro prevamente testado. Foram aplcados 138 questonáros a produtores em Uruará, PA, os quas agregaram 224 lotes nas estradas prncpal e vcnas, entre julho e agosto de 2002. Foram seleconados 137 lotes, cuja formação era de 100 ha, representando, dessa forma, o tamanho orgnal do lote durante a formação 418

Rtaumara de J. Perera, Wlson da Cruz Vera, João Eustáquo de Lma & Marcellus Marques Caldas das áreas de colonzação. Os demas foram excluídos do modelo proposto, pelo fato de alguns colonos terem acumulado partes de outros lotes ou então, terem desfeto de parte de seu lote, por motvos dversos. 4. Resultados e dscussão 4.1. Caraterístcas da área estudada Em Uruará, PA, a utlzação das áreas de colonzação está voltada para culturas anuas, culturas perenes e pastagem. Mutas áreas apresentam formação de florestas secundáras (capoeras) com dades dversas e são utlzadas somente após determnado tempo de pouso. Quanto maor esse período, maor a produtvdade, sendo melhor, então, desmatar áreas com formações mas antgas, uma vez que se entende que, nestas, o lucro será maor. Em relação ao nível de educação dos colonos estabelecdos na regão, na área em estudo, 67% dos entrevstados nunca freqüentaram a escola. Um nível mas elevado de escolardade permte ao pequeno produtor rural maor efcênca na produção, podendo ele, dessa forma, ter maor acesso aos novos nsumos, às técncas agrícolas e ao mercado consumdor e, consequentemente, ncrementar os níves de desmatamento. O número de pessoas que trabalham no lote defne a quantdade de mãode-obra dsponível e determnará o quanto rão trocar entre trabalho e lazer. Quanto mas voltadas para a atvdade de subsstênca, menor será o ncremento de cada undade de trabalho, de acordo com o grau de satsfação da famíla. Se houver produção para obtenção de lucro, maor será o ncremento do desmatamento, dadas as característcas do produtor em relação ao mercado consumdor e à dsponbldade de mão-deobra. 419

REVISTA DE ECONOMIA E AGRONEGÓCIO, VOL.2, Nº 3 No estabelecmento de culturas perenes, maor quantdade de mão-deobra empregada se faz necessára na época do preparo do solo e da colheta. Para planto de culturas anuas, comumente é empregada mãode-obra famlar. A formação de pastos requer apenas contratação de mão-de-obra no período do estabelecmento da área. O trabalho fora da propredade consttu fonte de renda, que, além de servr para a satsfação das necessdades báscas, serve para nvestmentos na produção mecanzada ou, anda, para acúmulo de rqueza, para que sejam fetos nvestmentos futuros, substtundo, dessa forma, o captal por trabalho (Baraclough e Ghmre, 1990). As condções de acesso ao mercado dependem dretamente da dstânca méda dos produtores à estrada prncpal. As estradas secundáras, onde está dstrbuída a maora dos lotes nas áreas de colonzação, apresentam condções de tráfego precáras, o que mpossblta os pequenos produtores a escoarem a produção para o mercado mas próxmo. Os colonos que se estabelecem próxmos às rodovas prncpas conseguem se ajustar melhor ao mercado, uma vez que possuem maor acesso a ele e, por estarem mas próxmos aos mercados, contrbuem, de forma consstente, para o aumento dos índces de desmatamento. Apesar da ntensfcação da agrcultura moderna nos últmos anos, o cenáro encontrado na área em estudo mostra que o produtor estabelecdo na regão não tende a acompanhar as modfcações tecnológcas e que é muto ncpente, anda, o acesso a pestcdas, fertlzantes e máqunas agrícolas. Esse resultado relacona-se dretamente com as dfculdades que o produtor encontra em custear os gastos com transporte, fato que também onera o custo dos nsumos e também dos produtos agrícolas. Percebeu-se, dessa forma, que as dfculdades de acesso não permtram o uso ntensvo de nsumos, uma vez que se observou que em apenas 20,44% das propredades fo feto uso de adubo químco e em apenas 10,22% das propredades vstadas houve uso de máqunas agrícolas. O uso de pestcdas fo observado em 42,33% das propredades avaladas. 420

Rtaumara de J. Perera, Wlson da Cruz Vera, João Eustáquo de Lma & Marcellus Marques Caldas 4.2. Correlação entre as varáves analsadas Pela análse de correlação, buscou-se verfcar o grau de relaconamento entre a área total desmatada e as demas varáves destacadas como nfluencadoras do desmatamento em Uruará-PA, 2002 (Tabela 2). Tabela 2 Coefcente de correlação da Área Total Desmatada e das varáves explcatvas do desmatamento em Uruará-PA, 2002 Nível de escolardade, em anos de freqüênca à escola (Esc) 0,3375 *** Número de pessoas que moram no lote e trabalham fora (Ntpf) 0,1598 * Dstânca da estrada prncpal, em km (Dep) -0,3375 *** Número de dáras pagas durante 2001 (DP2001) 0,3565 *** Número de cabeças de gado na propredade (Gado) 0,3171 *** Recebmento(1) ou não(0) de assstênca técnca (Astec) -0,1109 NS Uso (1) ou não (0) de aração, gradagem e subsolagem (Agsub) *** Sgnfcatvo a 1% de probabldade; * sgnfcatvo a 10% de probabldade; NS, não sgnfcatvo. Fonte: Dados da pesqusa. De modo geral, as correlações entre área desmatada e as varáves seleconadas mostraram-se relatvamente fracas, porém, estatstcamente sgnfcatvas. Não houve correlação sgnfcatva somente com assstênca técnca e uso de aração, gradagem e subsolagem. A correlação entre área desmatada e número de pessoas que moram no lote e trabalham fora fo postva, mas sgnfcatva somente a 10% de probabldade. As outras correlações foram sgnfcatvas a 1% de probabldade. Observou-se correlação postva entre área desmatada e escolardade, número de dáras pagas em 2001, número de cabeças de gado na propredade, uso de adubo químco e uso de pestcdas. O ncremento dessas varáves, ndvdualmente, tende a aumentar a área desmatada. 421 0,1376 NS Uso (1) ou não (0) de adubo químco (Adq) 0,2741* Uso (1) ou não (0) de pestcdas (Pest) 0,3136***

REVISTA DE ECONOMIA E AGRONEGÓCIO, VOL.2, Nº 3 A área desmatada se relacona negatvamente com a dstânca da estrada prncpal ndcando que propredades mas dstantes tendem a desmatar menos. Pode-se nferr, também, que o desmatamento será mas ntenso ao longo das estradas prncpas uma vez que estas possbltaram maor escoamento da produção. 4.3. Determnantes do desmatamento A Tabela 3 apresenta os resultados das estmatvas da equação que explca a probabldade de desmatamento (prmero estágo) e da equação para área desmatada (segundo estágo) para a regão de Uruará PA, 2002. 422

Rtaumara de J. Perera, Wlson da Cruz Vera, João Eustáquo de Lma & Marcellus Marques Caldas Tabela 3 Coefcentes estmados do modelo Tobt, Uruará, PA, 2002 Constante Gado Prmero estágo Varável dependente =1 se desmatou; 0 caso contráro Varável Coefcente (erro-padrão) P- valor Obs. com DESMAT = 0 25 Obs. Com DESMAT = 1 112 Total 137 1,0336 (0,1440) 0,0013 (0,0013) 0,0000**** 0,0642** Segundo estágo Varável dependente = Área total desmatada Constante 190,6332 (93,87868) Nível de escolardade, em anos de 0,481751 freqüênca à escola (Esc) (0,786963) Número de cabeças de gado na propredade 0,633506 (Gado) (0,363421) Dstânca da estrada prncpal, em km -0,359619 (Dep) (0,154839) Número de dáras pagas no período de um ano (DP2001) Recebmento (1) ou não (0) de assstênca técnca (Astec) 0,042801 (0,014536) 1,397979 (5,280255) Uso (1) ou não (0) de adubo químco (Adq) -1,385245 (5,547899) Uso (1) ou não (0) de pestcda (Pest) 7,067017 (4,459400) Uso (1) ou não (0) de aração, gradagem e -1,494609 subsolagem (Agsub) (8,588767) Número total de pessoas que moram no 2,672830 lote e trabalham fora (Ntpf) (1,426028) Inverso da razão de Mlls (λ ) -559,2350 (345,4696) 0,0449*** 0,5418 NS 0,0843** 0,0222*** 0,0040**** 0,7917 NS 0,8033 NS 0,1162* 0,8622 NS 0,0638** 0,1086* R 2 = 0,2952 F = 4,2308 Prob F = 0,0000 Nota: ****, ***, ** e *, sgnfcatvos a 1, 5, 10 e 15%, respectvamente. NS nãosgnfcatvo. Fonte: Dados da pesqusa. 423

REVISTA DE ECONOMIA E AGRONEGÓCIO, VOL.2, Nº 3 Os resultados apresentados na Tabela 3 ndcam que todos os coefcentes obtveram os snas esperados, exceto os relaconados com o recebmento ou não de assstênca técnca (Astec), uso de máqunas agrícolas (Agsub) e adubo químco (Adq), no segundo estágo do modelo. No prmero estágo, a varável representatva do número de cabeças de gado na propredade (Gado) explcou a probabldade de desmatar e fo sgnfcatva a 10% de probabldade. O ncremento da pecuára na regão tende a aumentar as chances de desmatamento. A estmação, para o segundo estágo do modelo, mostrou coefcente de determnação (R 2 ) abaxo de 30%. No entanto, a combnação dos resultados do teste F e R 2 ndca que os resultados foram sgnfcatvos a 1% de probabldade, o que revela que houve bom ajustamento do modelo aos dados. Trabalhos desenvolvdos por Wood et al. (2001) e Perz (2003), também no muncípo de Uruará, PA, revelaram valores do R 2 próxmos ao encontrado trabalho. Esses valores nexpressvos podem ser explcados por tratar-se de um modelo que usa dados de seção cruzada, os quas, de acordo com Gujarat (2000), tendem a apresentar essa característca. No modelo proposto, a varável relaconada com o número de dáras pagas no período de um ano (DP2001) mostrou-se mas representatva da área total desmatada, apresentando-se sgnfcatva a 1%. A varável relaconada à dstânca da estrada prncpal (Dep) fo sgnfcatva a 5%, enquanto as relaconadas com número total de pessoas que moravam no lote e trabalhavam fora (Ntpf) e com número de cabeças de gado na propredade (Gado) foram sgnfcatvas a 10%. O parâmetro relaconado com uso ou não de pestcdas (Pest), apresentou sgnfcânca somente de 15%, dferentemente das outras varáves representatvas do uso de tecnologas, como uso de máqunas agrícolas (Agsub) e adubo químco (Adq), as quas foram não-sgnfcatvas. Esse fato pode estar relaconado com o maor uso de pestcdas em relação às 424

Rtaumara de J. Perera, Wlson da Cruz Vera, João Eustáquo de Lma & Marcellus Marques Caldas outras varáves proxes de tecnologa. A varável Dummy, representatva do recebmento ou não de assstênca técnca (Astec), também fo não-sgnfcatva, o que também pode ser explcado pelo seu baxo índce na regão. Dferentemente da análse de correlação smples, a varável representatva do nível de escolardade, quando analsada em conjunto com outras varáves, se mostrou não-sgnfcatva, quando apresentados os resultados do segundo estágo do modelo; entretanto, o snal postvo, representado pelo seu coefcente, confrma que os níves de desmatamento aumentam de acordo com o maor nível educaconal. A dfculdade ctada na utlzação das chamadas proxes de tecnologa é o seu alto custo, gerado pela dfculdade de acesso às áreas de colonzação e também pela falta de conhecmento, uma vez que, como mostrado anterormente, em poucas propredades analsadas houve vsta de algum órgão de assstênca técnca. Então, para que se aumentem os nvestmentos na utlzação de máqunas e fertlzantes, deve haver garanta de que esses nvestmentos tenham retorno, uma vez que as dfculdades enfrentada no transporte da produção gerada na propredade são anda muto grandes e envolvem custos muto altos, devdo ao pequeno período anual em que a Transamazônca, prncpal rodova de acesso à regão, é transtável. 5. Conclusões Pelo modelo utlzado neste trabalho, constatou-se que as varáves mas representatvas das áreas totas desmatadas foram a dstânca da estrada prncpal e o número de dáras pagas no período de um ano. Dessa forma, observou-se que é mportante compreender que exstem dos tpos de colonos estabelecdos na área os que se estabeleceram dstante do mercado, razão da dfculdade de vender seus produtos e de acesso às tecnologas modernas, os quas contnuam pratcando a agrcultura 425

REVISTA DE ECONOMIA E AGRONEGÓCIO, VOL.2, Nº 3 tnerante de subsstênca; e aqueles que se estabeleceram próxmos ao mercado consumdor e desenvolveram atvdades mas voltadas ao mercado, como cração de gado. Entende-se, então, que se houver uma polítca de ncentvo que proporcone aumentos dos níves educaconas por meo de conscentzação e de assstênca técnca adequada, a utlzação das áreas agrícolas pode ser feta de forma mas conscente, evtando, dessa forma, a agrcultura mgratóra, reduzndo a utlzação de novas áreas de floresta e aprovetando, de forma otmzada, as áreas que já se encontram desmatadas atualmente. Porém, é mportante consderar, nesse contexto, o uso do solo nas áreas de floresta tropcal, de modo a não contnuar nos rtmos atuas de desmatamento. Nesse contexto, percebe-se que a mplantação de novas polítcas regonas é necessára, entretanto, deve ser seguda de um planejamento que observe os locas e a capacdade produtva da regão. Devdo aos dversos fatores que servem como ndcatvos de desmatamento, é dfícl estabelecer somente as varáves estudadas neste trabalho como causadoras do desmatamento na regão. Sugere-se que sejam fetos estudos futuros na regão, observando a nteração entre os madereros e os colonos em Uruará, PA, e também a nfluênca dos grandes pecuarstas no desmatamento, uma vez que estes estão adqurndo lotes a expandndo suas áreas de forma aleatóra e sem nenhuma fscalzação que estabeleça os lmtes do desmatamento. Outro aspecto observado é que o estado devera exercer papel mportante na fscalzação do desmatamento na Amazôna, oferecendo, por meo de órgãos competentes, assstênca técnca e gerando tecnologas produtvas e sustentáves para a regão, como formas alternatvas de exploração da área, com a fnaldade de dmnur os atuas níves de desmatamento. 426

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