O INÍCIO DA COBERTURA NO SEGURO DESPORTWO. 1. Introdução



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Transcrição:

O INÍCIO DA COBERTURA NO SEGURO DESPORTWO MARGARIDA LIMA REGO Professor d Fculdde de Direito d Universidde Nov de Lisbo Sumário: L Introduçdo; Ii Os seguros de grupo e o seguro desportivo obrigtório; III. Segu ros de cidentes de trblho «prémio fixo» e «prémio vridvel»; IV O problem d inclusdo dos segurdos no seguro desportivo; V Incumprimento do dever de segurr?; VI. Not flnl 1. Introdução A Lei de Bses d Atividde Físic e do Desporto grnte «institucion lizção de um sistem de seguro obrigtório dos gentes desportivos inscritos ns federções desportivs» destindo «cobrir os prticulres riscos que estão sujeitos» (319) O seguro desportivo obrigtório «cobre os riscos de cidentes pessois inerentes à respetiv tividde çlesportiv» (320) Ê, pois, um seguro de cidentes pessois (321) (319) Artigo 42., n. 1, d Lei n. 5/2007, de 16 de jneiro. Anteriormente à su entrd em vigor, cfr o rtigo 70. d Lei n. 30/2004, de 21 de julho (Lei de Bses do Des porto). O preceito determin ind que o sistem deverá «protege[r] em termos especiis o prticnte desportivo de lto rendimento». Pr os efeitos deste estudo, não relevm s espe ciliddes do seguro desportivo dos prticntes brngidos pelo regime de lto rendimento (que, de or em dinte, se desconsiderm). (320) Artigo 5, n. 1, do Decreto-Lei n. 1012009, de 12 de jneiro (Lei do Seguro Desportivo Obrigtório, dinte «LSD»). Este diplom veio substituir o Decreto-Lei ri. 0 146/93, de 26 de bril, que, por su vez, substitufr o Decreto-Lei n. 162/87, de 8 de bril (diplom que instituiu o seguro desportivo obrigtório). Sobre este diplom, cfr P F. ALvEs, Decreto-Lei n. 10/2009, de 12 de Jneiro, que estbelece o regime jurfdico do seguro desportivo obrigtório, em AA.VV, A nov legislçdo do desporto comentd, Coimbr 2010, Coimbr Edilor)1

212 II Ar Questões Civis O Instituto de Seguros de Portugl, entidde regdor d tividde segu rdor, não provou nenhum norm regulmentr fixr um clusuldo uniforme pr o seguro desportivo obrigtório. No entnto, lei fixou s sus coberturs mínims (322) Ests permitem-nos qulificá-lo como um figur híbrid, com um vertente de seguros de cpitis porque proporcion o pgmento de um cpitl por morte ou invlidez permnente, totl ou prcil, em cuj fixção não se plic o chmdo princípio indemniztório, que limi tri prestção do segurdor o vlor do dno decorrente do sinistro (323); e um vertente de seguro de dnos já que cobre s despess de trtmento e de reptrimento, plicndo-se esss coberturs o princípio indemniztó rio (324) O seguro desportivo obrigtório prece corresponder um seguro de grupo em sentido estrito, porque celebrção de um único contrto entre o segur dor e um federção desportiv, que ocup, enqunto prte no contrto, posição de tomdor do seguro, prece proporcionr cobertur um mul tiplicidde de segurdos (325) N medid em que ssim sej, este seguro poderá pp. 153-186; e A. BRILHA, O novo regime do seguro desportivo (2009), VI, n. 17, DeJrD, pp. 293-299. (321) É um clssificção comum o direito contrtul dos seguros verddeir inovção?, cfr definição de seguro de cidentes pessois constnte do rtigo 210.0 d Lei do Contrto de Seguro provd pelo Decreto-Lei n. 7212008, de 16 de bril (dinte «LCS»); e o direito institucionl dos seguros cfr clssificção deste contrto no rmo de «cidentes» e modlidde de «ciden tes pessois», que integrm o elenco de rmos «não vid constnte do rtigo 123. do Regime Gerl ds Empress Segurdors e Ressegtirdors (Decreto-Lei n. 94-B/98, de 17 de bril, com s lterções introduzids té à Lei n. 46/2011, de 24 de junho) (dinte «RGES»). Os contrtos de seguro de cidentes pessois são especilmente reguldos, enqunto tis, pelo disposto nos rtigos 210. 212. LCS, sendo-lhes ind plicáveis os preceitos reltivos os seguros de vid pr os quis remete o n. 1 do rtigo 211.0 LCS e generlidde dos pre ceitos constntes do Título 1 d LCS (Regime Comum) e ind do Cpítulo 1 do Título III (Disposiçóes Comuns os Seguros de Pessos). Em tudo o que não se encontre especilmente reguldo, os contrtos de seguro regem-se ind, nturlmente, pelo disposto n lei comercil e n lei civil (rtigo 4. LCS). (322) Cfr. os rtigos 5 0, 16. e 18. LSD. (3231 Cfr. o rtigo 128. LCS. (324) Além do rtigo 128., cfr ind o rtigo 175., n. 2, mbos d LCS. (325) É ssim expressmente designdo nos rtigos 8. 10. LSD. O regime dos segu ros (coletivos e) de grupo const dos rtigos 76. 90. LCS. Sobre estes, cfr M. LIMA REGO, Contrto de seguro e terceiros. Estudo de direito civil, Coimbr 2010, pp. 777 ss. (cp. 8) e Os Coimbr Editor

O Inicio d Cobertur no Seguro Desportivo 213 ind qulificr-se como um seguro por cont de outrem, ddo que os sujeitos pssivos do dever de segurr s federções desportivs não coincidem com pesso dos segurdos, titulres d cobertur os gentes desporti vos (326) Neste texto, nliso o regime do seguro desportivo e o seu trtmento jurisprudencil, com vist verificr se corresponde, efetivmente, um ver ddeiro seguro de grupo. Dou especil tenção o problem do início de cobertur num perspetiv gerl, comum os vários seguros de grupo, con cluindo com identificção ds especificiddes de que o problem se reveste no contexto do seguro desportivo. II. Os seguros de grupo e o seguro desportivo obrigtório Um seguro de grupo em sentido estrito deve reunir s seguintes crcte rístics: deve ser (i) um contrto; (ii) um contrto de seguro; (iii) celebrdo por um único tomdor; (iv) por cont de vários segurdos; (v) ligdos o tomdor por um vínculo distinto do de segurr; (vi) cobrindo cumultivmente (vii) riscos homogéneos de todos os segurdos; (viii) com perfeit seprbili chde; e (ix) sem um correlção positiv forte entre os riscos dos vários segu rdos (327) A grnde miori dests crcterístics está presente, sem dúvid lgum, no seguro desportivo obrigtório. As dúvids que poss hver qunto à qu lificção deste seguro como um verddeiro e próprio seguro de grupo pren dem-se, essencilmente, com questo de sber se este deve qulificr-se, rigorosmente, como um único contrto de seguro ou, distintmente, se não será ntes um contrto-qudro, preprtório d celebrção de contrtos seguros coletivos e de grupo, kms de direito dos seguros. A propósito d nov lei do contrto de seguro, coord. M. Lllvi REGo, Almedin 2012, pp. 299-328. A principl obr de referên ci nest mtéri ind é monogrfi de H. MILLAUER, Rechtsgrundsdtze der Gruppenversi cherung, 2. cd., Krlsruhe, 1966. Cfr o rtigo 2. LSD. De cordo com o rtigo 7. LSD, são gentes desportivos, nomedmente, os prticntes desportivos federdos, os árbitros, juizes e cronometrists, os treindores de desporto e os dirigentes desportivos (rtigo 7 0 LSD). Sobre s federções desportivs, cfr., por todos, J. M. MEIrJM, A fiderção desportiv como sujeito pzblico do sistem desportivo, Coimbr 2002. (327) Cfr. M. LIMA REGO, obrs cit. supr not 325. Coimbr Editors

214 II As Questões Civis de seguro, como é o cso de tod um série de figurs que indústri segur dor e lgum jurisprudênci e doutrin qulfficm hbitulmente como seguros de grupo, ms que será conveniente distinguir dos seguros de grupo em sentido estrito, muito embor enqudrndo-os sob égide, mis mpl, dos seguros coletivos. Est questão coloc-se sempre que os segurdos prticipem, de lgum modo, no processo contrtul. Com efeito, ess prticipção dificult, muits vezes, n prátic, respost à questão de sber se os segurdos deverão quli ficr-se como terceiros ou ntes como prtes em relção o contrto, ind que não de molde configurrem verddeiros tomdores do seguro. Crcterísti cos dests modliddes híbrids são, precismente, queles seguros em que os prticipntes se pede que preenchm e entreguem um declrção individul, sendo duvidoso se est se reduz um mero consentimento, e/ou à prestção de informção relevnte, ou se corresponde um propost de desão o con trto, n qulidde de prtes dicionis, ou mesmo n qulidde de prtes de um contrto individul que se complet sob égide do contrto celebrdo pels federções desportivs. Antes de verigur em que termos ess intervenção contece no seguro em preço, import notr que lei só exige que s pessos segurs consintm n celebrção de um contrto de seguro de cidentes pessois, sob pen de nulidde, qundo o beneficiário do seguro for o próprio tomdor (328) Nesses csos, lei exige emissão, pel pesso segur, de um declrção unilterl que utorize celebrção, pelo tomdor, de um contrto de seguro. O perigo de crição, com celebrção de um ontrto de seguro, de um potencil incentivo à violção d integridde físic d pesso segur só existe nos csos em que est sej pesso distint do beneficiário. Trt-se, pelo menos em prte, indiscutivelmente, de um respost do sistem à preocupção de eliminr incentivos excessivos tis prátics (329) Os obstáculos cridos pel lei tum em dois momentos distintos: (i) num primeiro momento, dificultndo, pre (32k) Cfr o rtigo 212., n. 2, LCS. (329) A explicção trdicionl d rzão de ser d exigênci legl do consentimento d pesso segur encontr-se, por exemplo, em N. DREws, «Die Zustimmung des Versicherten in der Lebensversicherun» (1987) 38 VersR 634-642, pp. 634 e 637. O seu propósito é o de impedir celebrção de seguros que possm constituir um incentivo à provocção do sinistro, exigindo-se o consentimento pr ssegurr: (i) que o visdo tom conhecimento do seguro; e (ii) que pode ele próprio ferir d oportunidde de um tl seguro. Coimbr Editor

O Início d Cobertur no Seguro Desportivo 215 ventivmente, celebrção de seguros que constitum um incentivo demsido forte à violção d integridde físic d pesso segur; (ii) num segundo momento, postummente, negndo o direito à prestção quem, ind ssim, cometeu ou de lgum modo prticipou n violção d integridde físic d pesso segur (330) Contudo, mis do que de qulquer outr explicção, exigênci do consentimento d pesso segur prece dever explicr-se como decorrênci d dignidde d pesso humn: impõe-se como reconhecimento de um direito de personlidde, ter um plvr dr n questão de sber quem ficrá gnhr com noss morte. Afinl, o contrário seri um exem plo cbdo de instrumentlizção de um ser humno por outro um tdo o impertivo kntino de trtmento de cd ser humno como um fim em si mesmo e não como um meio pr o uso rbitrário dest ou dquel vontde (331) No seguro em preço, não tem plicção exigênci legl de consenti mento ds pessos segurs, porque, embor lei não o dig de form clr, result d su interpretção conclusão de que os beneficiários do seguro desportivo de grupo serão os próprios gentes desportivos ou, em cso de morte, ou os beneficiários contrtulmente designdos ou, n flt de desig nção contrtul válid e eficz, os que resultem d plicção do regime legl supletivo (332), A necessidde d intervenção dos gentes desportivos é o resul tdo de um outr exigênci legl: d su «desão» o seguro ). Pronunciei-me, noutr sede, sobre o significdo que este termo ssume em direito contrtul dos seguros (334), Não vou deter-me gor nesse tem, ten (330) Cfr o disposto no rtigo 192. LCS, que se plic os seguros de cidentes pessois ex vi o rtigo 21 1., n. 1, LCS. Em sentido convergente, cfr. regr gerl do rtigo 46., n. 2, LCS (o beneficiário cusdor do dno não tem direito à prestção). Cfr 1. KAN r, Fundmentção d metfisic dos costumes, orig. 1785, trd. E Quin tel, Lisbo 1995, p. 69. Cfr. o rtigo 1. d Constituição d Repúblic Portugues. Este direito de personlidde goz d proteção genericmente conferid todos os bens de perso nlidde pelo rtigo 70., n. 1 e 2, do Código Civil. (332) Cfr o rtigo 198., n. 2, plicável ex vi o rtigo 211., n. 1, LCS. Qunto à interpretção do diplom legl institutivo deste seguro obrigtório, vej-se em especil o rtigo 2. LSD (»Os gentes desportivos (...) devem, obrigtorimente, beneficir de um contrto de seguro desportivo».). Cfr. os rtigos 8. e 9,0 LSD. Cfr M. Li»i R&o, 1. obr cit. supr not 325, pp. 824-845; e 2. obr cit. supr not 325, pp. 325-328. > (1 Coimbr Editorx

216 II As Questões Civis ntes cingindo minh nálise o lcnce d supost «obrigção de desão» dos gentes desportivos o seguro desportivo obrigtório. No entnto, pe ns pr me situr, julgo importnte ssinlr, brevemente, s váris mod liddes de seguros de grupo existentes no mercdo, num clssificção bsed nos modos de inclusão dos segurdos nos verddeiros seguros de grupo (ii) A cobertur de cd um dos segurdos pode ser: crecer de prticipção ticipção pode nem chegr (336) (i) utomátic; ou Nos seguros de cobertur utomátic, existir, ou corresponder estes tomdor com efeito mermente declrtivo. São os pr.. um obrigção do csos em que segurdos descrito no contrto como grupo seguro. Os que não pertencerem o grupo se encontrm cobertos pelo simples fcto de pertencerem o grupo no momento d contrtção, tornr-se-ão segurdos, utomticmente, com su entrd no grupo tes cso se Nos seguros cuj cobertur não trte de seguros bertos tomdor tem efeito constitutivo, estendendo-se sej utomátic, cobertur os novos prticipn prticipção do cd um dos Est clssificção é diferente d que sepr os seguros coletivos entre os seguros contributivos e os não contributivos, que respeit o rtigo 77 0 LCS. Neste sentido, tmbém R. MAGNUSSON, «Gruppenversicherung, insbesondere in der Lebensversicherung» em Mterilen des Zweiten Weltkongresses fir Versicherungsrecht IX, Hmburgo 1966, pp. 1-28, pp. 4-5; e A. WIE5ER, Gruppenversicherungen, Vien 2006, pp. 131-141, que distinguem o seguro de «forçdo» (Zwngsgruppenversicherung), em que é utomátic entrd e síd do seguro, n decorrênci d entrd e síd do grupo, e o seguro de grupo ((com prticipção» (Gruppenversicherung mitanmeldung), em que entrd no seguro crece d prticipção do subscritor, sendo prticipção constitutiv est tingue-se d prticipção mermente declrtiv existente nlguns seguros utomáticos. No primeiro, um vez definido o grupo, cobrem-se durnte tod vigênci do contrto os riscos d totlidde dos seus membros presentes ou futuros. A prtir d celebrção do contrto, s prtes não têm mis nd dizer sobre quem benefici ou não d cobertur do seguro, não ser por vi de um lterção contrtul. A relção de seguro encontr-se totlmente dependente d pertenç o grupo: n entrd como n síd. A últim utor mencion possibilidde de se segurr um grupo fechdo desde o início, cso em que definição do grupo cb por pssr pr um segundo plno, n medid em que o objeto do seguro se encontr, à prtid, totlmente definido. H. BUcHNER / P Curz / K. FIsCRER / H. E. MILLAUER, «Gruppenversicherung» em Flndworterbuch des Vèrsicherungswesens, E. Finke (cd.), Drmstdt 1958, cc. 881-892, distinguem ind, nestes seguros, entre os seguros de grupo com e sem entrd de novos prticipntes. grtpo Coimbr Editor3 dis

O Início thz Cobertur no Seguro Desportivo 217 segurdos somente pós su prticipção o segurdor. Neste cso, prti cipção pode () corresponder um obrigção do tomdor pernte o segur dor; ou (b) estr n discricionriedde do tomdor prticá-l ou não reltiv mente cd um dos membros do grupo Em qulquer dos csos, prticipção pode ser (1) suficiente; ou (2) crecer ind d ceitção do segurdor. Est pode corresponder (cc) um dever do segurdor; ou (R) um seu to discricionário Esss s modliddes de seguros de grupo no ver ddeiro sentido d expressão, ds quis há que distinguir os seguros coletivos que dão zo relções contrtuis complexs composts por um contrto-qu dro e por um sucessão de contrtos individuis de seguro celebrdos pelos próprios segurdos ou pelo tomdor em nome dos segurdos (340) Só nestes últimos entrd dos segurdos pr o grupo seguro pssrá por um verddeiro to de «desão» dos segurdos. Só determinção do modo de inclusão dos segurdos no seguro despor tivo obrigtório, ou sej, d form como cd um dos gentes desportivos se torn segurdo, pssndo estr coberto pelo seguro, permite retirr lgum conclusão qunto à integrção do seguro em nálise num dests modliddes de seguro de grupo ou, o invés, qunto à su qulificção como um seguro coletivo pens em sentido mpio. Est mtéri foi bundntemente trtd pel noss jurisprudênci propósito do chmdo «seguro por folh de féris» (modlidde de seguro de cidentes de trblho). (338) Outr possibilidde é de sujeitr produção de efeitos do contrto à entrd de um número mínimo de prticipntes. Exemplo de semelhnte condição é-nos ddo pelo ACSTJ, de 10 de Mio de 2007, Processo n. 07B 1277, reltdo por Slvdor d Cost e disponível, n íntegr, em www.dgsi.pt/jstj. Cfr A. WIF.sER, cit. supr not 336, pp. 136-141, n send de E. H. MIuÀUER (cit. supr not 325). Tmbém H. MÓLLER, «Rechtsgrundsãtze der Gefolgschftsversicherung» (1939) 62 NeumZ 73 0-734, p. 731, distingui os seguros de grupo em função d fcult tividde ou obrigtoriedde de inclusão, do ldo, quer do segurdor, quer do subscritor. Note-se que est distinção nd tem que ver com distinção trçd pel doutrin de expres são frnces entre os «seguros de desão obrigtóri» e os «seguros de desão fculttiv». Sobre est distinção, cfr M. LIMA REGO, l obr cit. supr not 325, pp. 832-834 e 2. obr cit. supr not 325, pp. 313-314. (340) Um ctegori importnte dentro dos seguros coletivos é dos seguros contribu tivos, reguldos nos rtigos 86. 90. LCS. Sobre estes, cfr M. LIMA REGo, 1 obr cit. supr not 325, pp. 817-824 e 2. obr cit. supr not 325, pp. 322-328. Coimbr Editor

218 II As Questões Civis III. Seguros de cidentes de trbffio «prémio fixo» e «prémio vriável» Existem seguros de cidentes de trblho «prémio fixo» e «prémio vriável» (34o) Entre os primeiros contm-se o seguro de um ou mis trb lhdores identificdos pelo nome e o seguro de um número determindo de trblhdores identificdos pel função, com um montnte de retribuições ntecipdmente conhecido. Os segundos, de cordo com definição regu lmentr, correspondem o chmdo seguro «por folh de féris». Sobre este, pronunciou-se neste sentido o Supremo Tribunl de Justiç: <(N verdde, nest modlidde de seguro, entidde ptronl trns fere su responsbilidde infortunístic pelos dnos sofridos por um número vriável de pessos. Por conseguinte, tl vribilidde de pessol, que implic necessrimente um vrição de mss slril, terá que repercutir-se no montnte dos prémios cobrr. O objecto do seguro de prémio vriável depende, pois, d declrção periódic do tomdor de seguro que, pr não celebrr diversos contrtos consonte s flutuções do pessol que empreg, firm um único contrto com conteúdo vriável, sendo consequentemente vriável respectiv obrigção de seguro. Com preende-se, ssim, obrigção d empregdor de incluir o trblhdor ns folhs de féris envir à segurdor té o di quinze do mês seguinte o início ds respectivs funções.» 2) Est figur cusv lgum perplexidde os nossos tribunis, originndo jurisprudênci discordnte, que dotr «siuções, não só diverss, como té Cfr. Cláusul 5. e Condição Especil 01 d Apólice de Seguro obrigtório de Acidentes de Trblho pr Trblhdores por Cont de Outrem provd pel Norm Regul mentr do Instituto de Seguros de Portugl n. 1/2009-R, de 8 de jneiro ( «Apólice Uniforme»). Há ind possibilidde de celebrção do chmdo «seguro por áre», em que o prémio é cl culdo, não em íiznção do número de trblhdores, ms em função d áre áre de cons trução civil de edifícios ou áre cultivd. Cfr. s Condições Especiis 02 e 03. (342) Acórdão de Uniformizção de Jurisprudênci n. 10/2001, de 21 de novembro, reltdo por José Mesquit, publicdo no Diário d Repzb1ic, 1 série, de 27 de dezembro de 2001, p. 8494. A obrigção do tomdor de envir menslmente o segurdor, té o di quinze de cd mês, s folhs de retribuições pgs no mês nterior todo o seu pessol const d Cláusul 24. /IIc) d tul Apólice Uniforme. Cfr ind Condição Especil 01 (seguros de prémio vriável). Coimbr Editor

O Início d Cobertur no Seguro Desportivo 219 contrditóris» (343), ms tmbém qunto rel e o não pens qunto o seu correto enqudrmento jurídico às declrdo. Com efeito, erm consequêncis d verificção de discrepâncis entre ind ocorrem cidentes com trblhdores cuj existênci prticipr o segurdor. (e são) frequentes o os csos o em que tomdor (ind) não Um primeir corrente jurisprudencil vi neste seguro de grupo um contrto prcilmente inválido, n prte respeitnte folhs de no domínio dos cidentes de trblho. ds féris (344) os trblhdores omitidos Est posição já vinh perdendo terreno, pelo menos Um segund corrente jurisprudencil, mis protetor do trblhdor, sustentv que o er um contrto ciário, do que resultri que féris, seguro por folh de fvor de terceiro, sendo féris, em relção o o podendo relevr no domínio ds relções entre do seguro, não er circunstânci que obstsse lhdor fosse cidentdo estivesse inextidões frudulents gerrim Por fim, trblhdor sinistrdo, trblhdor um terceiro benefi omissão do nome do sinistrdo ns folhs de que o o segurdor e o sinistro de que coberto do seguro. Apens su nulbilidde corrente jurisprudencil que vinh (345) s tomdor o trb omissões que sufrgd pelo tribunl no resto uniformizdor de jurisprudênci, obser foi vv, e bem, que tornr-se mjoritári, omissão do nome do trblhdor ns folhs de féris reme tids o segurdor tem por únic consequênci su não cobertur pelo contrto de seguro, por flt de prticipção, não dndo medid em que não configur um problem de formção do contrto ms zo e e invlidde, n (343) Acórdão de Uniformizção de Jurisprudênci n. 10/200 1, p. 8492. Cfr, neste sentido, embor propósito de um contrto de seguro obrigtório de cidentes pessois de bombeiros voluntários, o ACSTJ, de 16 de novembro de 1993, reltdo por Cur Mrino, sumário publicdo no Boletim do Ministério d Justiç, n. 431, pp. 467-471. (345) Neste sentido, vejm-se, designdmente, os ACSTJ de 16 de jneiro de 1991, reltdo por Sous Mcedo, publicdo no Boletim do Ministério djustiç, n. 403, pp. 436-440; ACSTJ, de 5 de junho de 1991, reltdo por Jime de Oliveir, publicdo no Boletim do Ministério d Justiç, n. 408, pp. 588-596; ACSTJ, de 3 de julho de 1996 reltdo por Almeid Devez, publicdo nos Acórdãos Doutrinis do Supremo Tribunl Administrtivo, n. 419, pp. 1348-1359 e ACSTJ, de 2 de outubro de 1996, reltdo por Almeid Devez, publicdo nos Acórdãos Doutrinis do Supremo 7ibunlAdministrtivo, n. 422, pp. 265-275. O tribunl não explic o fstmento do disposto no rtigo 449. do Código Civil. Coimbr Editor

220 II As Questões Civis ntes um problem n su execuçdo. conclusões do tribunl: Subscrevi, noutr sede, s seguintes «O incumprimento, por prte do tomdor de seguro, d obrigção consubstncid n inclusão do(s) trblhdor(s) o seu serviço n folh de féris envir à segurdor té o di 15 do mês seguinte o do início ds funções do(s) respectivo(s) trblhdor(es), determin, consequente mente, não ssunção de responsbilidde, por prte d segurdor, pelos dnos sofridos pelo trblhdor omitido, pois verific-se um situção de não cobertur, decorrente do não preenchimento ds condições necessáris estbelecids pels prtes, pr ssunção d responsbilidde, tendo entidde ptronl de suportr o pgmento do que for devido o trb lhdor.» (347) Ests conclusões pressupõem um prévi tomd de posição sobre mod lidde de seguro de grupo correspondente o seguro obrigtório de cidentes de trblho pr trblhdores por cont de outrem subscritos n modlidde de seguro «prémio vriável». Ess posição é, necessrimente, de que est se reconduz um verddeiro seguro de grupo, e de que cobertur de cd um dos segurdos não é utomátic, ntes crecendo de prticipção. Assim, prticipção do tomdor qunto à inclusão de determindo trblhdor tem efeito constitutivo, estendendo-se cobertur cd um dos segurdos somente pós su prticipção o segurdor. Est corresponde o cumprimento de um obrigção legl do tomdor. Julgo conveniente tomr ests conclusões do Supremo Tribunl de Justiç como ponto de referênci d minh nálise, pois precem-me certeirs n Vej-se, por todos, o Acórdão de Uniformizção de Jurisprudênci n. 10)2001. Já o deíndi R PIRES, Seguro de cidentes de trblho, Lisbo 1999, pp. 76-79. Pr exemplos jurisprudenciis nteriores, cfr. oacstj de 14 de bril de 1999, reltdo por Almeid Devez, 1999, CJ-STf 7-2, pp. 258-260 e disponível, n íntegr, em http:ilwww.dgsi.ptljstj; oacstj 9 de dezembro de 1999, reltdo por Sous Lms, 1999, publicdo no Boletim do Ministério dz Justiç, n. 492, pp. 306-3 13 e disponível, n íntegr, em http:llwww.dgsi.ptljstj; o ACSTJ de 31 de outubro de 2000, reltdo por José Mesquit, 2000, CJ-STJ, 8-3, pp. 274-276; e o ACSTJ de 25 de jneiro de 2001, reltdo por Diniz Nunes, Acdrdãos Doutrinis do Supremo 7ibunlAdministrtivo, n. 478, pp. 1392-1399. Acórdão de Uniformizção de Jurisprudênci n. 10/2001, p. 8494. Coimbr Editorz

O Inicio d Cobertur no Seguro Desportivo 221 determinção dquele que será o regime regr no direito contrtul dos segu ros. O mesmo é dizer que, slvo disposição legl em sentido distinto, em todos os seguros obrigtórios que possm ou devm celebrr-se n modlidde de seguro de grupo em sentido estrito e em que não se exij identificção de todos os membros do grupo seguro no momento d celebrção, cobertur de cd um deles não deverá ter-se por utomátic, tendo prticipção do tomdor efeito constitutivo, ou sej, estendendo-se cobertur cd um dos segurdos somente pós su prticipção o segurdor. W O problem d inclusão dos segurdos no seguro desportivo O regime nterior não se plic o seguro desportivo obrigtório, por forç do disposto no rtigo 10.0 LSD: (348) «Reltivmente cd gente desportivo, cobertur do seguro des portivo de grupo produz efeitos desde o momento d inscrição n fede rção e mntém-se enqunto est vigorr.» Como não poderi deixr de ser, o precir o problem d inclusão dos segurdos no seguro desportivo, o Supremo Tribunl de Justiç chegou um conclusão distint d que chegr em mtéri de seguro obrigtório de -ciden tes de trblho pr trblhdores por cont de outrem, subscritos n mod lidde de seguro «prémio vriável». Atente-se no seguinte trecho do ACSTJ de 6 de mio de 2004: (349) «Estbelecendo [ lei] que o seguro colectivo de ctividdes despor tivs produz efeitos, em relção cd gente desportivo, desde o momento em que este se inscreve n respectiv federção, flt dest últim, não comunicndo à segurdor tl inscrição, situ-se no plno ds relções entre els, não podendo fectr grnti legl de cobertur do beneficiá rio do seguro.» (34 Disposição que tem trnsitdo, sucessivmente, dos diploms nteriores (cfr. supr not 320). (349) ACSTJ, de 6 de mio de 2004, Processo n. 03B2984, reltdo por Bettencourt de Fri e disponível, n íntegr, em http://www.dgsi.ptljstj. Coimbr Editor

222 11 As Questões Civis O tribunl deix implícito o cminho seguir n resolução deste problem, observndo que flt se situ no plno ds relções entre o segurdor e federção (350) Com efeito, tendendo o teor do preceito legl cim trnscrito, neces sário será concluir que, prtir do momento em que exist um contrto de seguro, eventuis flhs n inclusão de cd um dos gentes desportivos no seguro não lhes serão oponíveis pelo segurdor, o que signific que, no plno ds relções entre o segurdor e cd um dos segurdos, cobertur será eficz Só ssim desde o momento em que cd um deles se inscreve n federção. não será qunto os gentes desportivos que, no to de inscrição n federção, fçm prov de que estão brngidos por outro seguro que grnt coberturs equivlentes ou superiores o mínimo leglmente exigido pr o seguro des portivo. (351) No entnto, se s eventuis flhs n inclusão forem imputáveis à feder ção, ou sej, se consistirem n omissão ou no cumprimento defeituoso do seu dever de prticipr o segurdor inscrição de um ou mis gentes desportivos, no plno ds relções entre o segurdor e federção não hverá motivo pr proteger est últim em detrimento do primeiro, que, efetivmente, desconhe ci o risco que cobri. Ns relções entre mbos, tudo deverá pssr-se, tnto qunto possível, como se não existisse seguro, plicndo-se-lhes o disposto no rtigo 20. LSD: «As entiddes que incumprem obrigção de celebrr e mnter vigen tes os contrtos de seguro despohivo previstos no presente decreto-lei respondem, em cso de cidente decorrente d tividde desportiv, nos mesmos termos em que responderi o segurdor, cso o seguro tivesse sido contrtdo.» ) A conclusão prece não se desvir dquel que me referi como segund corrente jurisprudencil reltiv o seguro obrigtório de cidentes de trblho. Cfr. supr o texto junto à not 345. Artigo 8, n. 3, LSD. Se prov for feit em momento subsequente, os gentes deixrão então de estr cobertos pelo seguro, ms ess prov não oper retrotivmente, não eliminndo su nterior inclusão no seguro contrtdo pel federção. De notr que celebrção, por gente desportivo profissionl, do seguro obrigtório de cidentes de trblho dispens respetiv cobertur pelo seguro desportivo, conforme dispóe o rtigo 90 d Lei n. 27/2011, de 16 de junho. Coimbr EditorX

O Inicio d Cobertur no Seguro Desportivo 223 Assim, o segurdor que sej chmdo indemnizr um gente desportivo de cuj inscrição não tivesse ind conhecimento à dt do sinistro por flh de comunicção imputável à federção tem direito de regresso contr fede rção pel totlidde do que houver pgo o gente desportivo ou terceiro, em cso de morte do próprio (352) Com efeito, lei impõe solidriedde ds sus obrigções de indemnizr os gentes desportivos sinistrdos, ms pens pr proteção destes últimos Ns relções entre o segurdor e federção, tende-se que est não trnsferiu pr quele o correspondente risco, não tendo pgo o respetivo prémio, pelo que s consequêncis d verificção do sinistro deverão recir, n totlidde, sobre su esfer. (354) (355) v Incumprimento do dever de segurr? A ltere, dir-se-á que est prece ser um ds poucs circunstâncis em que o rtigo 20. LSD se plic sem dificulddes prátics de mont. Com efeito, nos csos em que federção simplesmente incumpre o seu dever de segurr, não celebrndo nenhum contrto de seguro desportivo, dificilmente serão demonstráveis os «termos em que responderi o segurdor, cso o seguro tivesse sido contrtdo)). O preceito já prece não dever plicr-se, sem mis, os csos em que o seguro é celebrdo com um cobertur inferior à leglmente exigid, design dmente por consgrção, no respetivo clusuldo, de um exclusão que não respeite s coberturs mínims leglmente fixds, porque est é um flh imputável o segurdor, utor ds dáuuls contrtuis geris plicáveis. (352) (354) Nos termos do disposto nos rtigos. 51 6. e 524. do Código Civil. É ess, figur-se, únic conclusão retirr do disposto no rtigo 10.0 LSD. Qunto o pgmento do prémio, note-se que, o contrário do que sucede n lrg miori dos verddeiros seguros de grupo, o seguro desportivo é um seguro contributivo, pois os segurdos suportm, no todo ou em prte, o pgmento do prémio (rtigo 77.0, n. 2, LCS). É o que result do rtigo 9., n. 2 e 3, LSD. A comprticipção devid pelos gen definid por deliberção dos órgãos competentes d federção, dmitindo-se, prentemente, que est poss ser dispensd. Não o sendo, o seguro será um seguro contri tes desportivos é butivo. No entnto, pernte o segurdor responsbilidde pelo seu pgmento reci intei rmente n federção, conforme dispõe o rtigo 8., n. 2, LSD. Em poio dest conclusão, tente-se ind nos formentos est regr gerl sobre o direito de regresso do segurdor contr o tomdor do seguro constntes dos rtigos 101.0, n. 4, e 144. LCS. Coimbr Editor

224 II As Que#ões Civis Os tribunis superiores chegrm dois resultdos distintos n nálise de dois csos dest nturez. No cso que deu origem o ACSTJ de 3 de mrço de 2009 (356), Federção Portugues de Futebol celebrr o seguro desportivo com exclusão d cobertur de incpciddes permnentes iguis ou inferiores 10%. O tribunl concluiu que o seguro não contemplv s coberturs mínims fixds n lei 7) Entendeu o tribunl que, o contrtr um seguro que não tingi, neste ponto, s coberturs mínims, federção violr o seu dever de segurr, por conseguinte, deveri responder pernte o gente despor tivo em cus nos mesmos termos em que responderi o segurdor. (358) Distint foi decisão no ACTRC de 8 de setembro de 2009 O cso er semelhnte: dest feit, protgonist er Federção Portugues de Bs quetebol, ms exclusão em nálise er, prentemente, mesm: exclusão d cobertur de incpciddes permnentes iguis ou inferiores 10%. Enten deu o tribunl que cláusul que continh exdusão er nul, por contrrir norm impertiv (360) O tribunl plicou est situção regr gerl do rtigo 294. do Código Civil. Entendeu o tribunl que os problems suscit dos por est nulidde se resolvim «com projecção direct no contrto d norm impertiv viold (...) que mnd indemnizr tods s incpciddes permnentes geris, qul pss clintegrr o contrto, em substituição do trecho violdor dess disposição legl, proveitndo-se o restnte d cláusul e do contrto». Ou sej, o contrto não subsiste como se cláusul nul não existisse: est consider-se ntes substituíd pel disposição legl viold (efi cáci imedit ds norms impertivs). De cordo com primeir soluçãô, o segurdor é bsolvido do pedido, devendo federção pgr o gente desportivo coberto pelo seguro corres pondente indemnizção. Em conformidde com segund solução, o segu rdor é condendo no pedido. Julgo que est últim solução é de preferir. Processo n. 08A4004, reltdo por Slzr Csnov e disponível, n íntegr, em http://www.dgsi.pt/jstj. Cfr, tulmente, o disposto no rtigo 6. LSD. Por plicção do rtigo 1 O. do Decreto-Lei n. 146/93, de 26 de bril. A dispo sição correspondente tulmente vigente é o citdo rtigo 20. LSD.» Processo n. 165/06.8TBGVA.C1, reltdo por Teles Pereir e disponível, n íntegr, em ww.dgsi.pt/jtrc. O rtigo 4, n. 1, líne ), do Decreto-Lei n. 146/93, de 26 de bril, corres pondente, tulmente, o rtigo 5.0, n. 2, líne ), LSD. coimbr Editor

O Início d Cobertur no Seguro Desportivo 225 Antes de mis, e pensndo pens n justiç do cso concreto, trtndo-se este de um problem reltivo à redção ds condições geris ou especiis do seguro, que são cláusuls contrtuis geris previmente elbords pelo segurdor, dir-se-i que solução não deve penlizr o tomdor. Dejure condito, só poderá concluir-se que o tomdor violou o seu dever de segurr se, previmente, se tiver concluído pel vlidde e eficáci d exclusão em preço. Or, ess vli dde e eficáci form, e bem, posts em cus pelo Tribunl d Relção de Coimbr. N verdde, se s prtes tivessem celebrdo um seguro de cidentes pes sois qulquer, federção só cumpriri o seu dever de segurr n medid em que esse seguro proporcionsse os segurdos coberturs iguis ou superiores às coberturs mínims fixds n lei pr o seguro desportivo 1) No entnto, embor o relto dos fctos constnte dos dois córdãos em preço não nos permit concluir que ssim é, será rzoável supor que s prtes não terão cele brdo um seguro qulquer: o seguro celebrdo pel federção ter-lhe-á sido presentdo, pelo segurdor ou por um medidor, como «o» seguro de ciden tes pessois dos gentes desportivos, ou sej, como o seguro que federção estri obrigd celebrr e mnter em vigor. Tmbém seri rzoável supor que, ind ntes d contrtção deste seguro, o segurdor teri registdo s sus condições geris e especiis junto do Instituto de Seguros de Portugl, como sucede em relção todos os seguros obrigtórios, e que o Instituto de Seguros de Portugl verificr su conformidde com lei (362) Se descon formidde em preço escpou o crivo pertdo do próprio Instituto de Segu ros de Portugl, seri excessivo exigir às federções desportivs su deteção, qundo d contrtção do seguro. Em todo o cso, o presentr um ddo clusuldo como «o» seguro desportivo, o segurdor remete pr lei que o regul, devendo entender-se, como fez o Tribunl d Relção de Coimbr, que, em cso de contrriedde de lgum estipulção com s. coberturs mínims leglmente fixds, quel será nul, devendo o intérprete, sempre que os termos d lei ssim o permitm, (361) Ess conclusão result do disposto no rtigo 146., n. 5, LCS. É um preceito sistemticmente inserido entre s disposições especiis plicáveis os seguros obrigtórios de responsbilidde civil, ms própri lei estende su plicção os seguros de cidentes de trblho (rtigo 138., n. 3, LCS), não se vendo motivo pr não o plicr de igul modo os seguros obrigtórios de cidentes pessois. (362) Cfr o disposto no rtigo 129. RGES. Coimbr Edi1or

226 II As Questões Civis substituí-l diretmente pel norm legl viold, pr qul remete, de resto, o clusuldo que se rrogue corresponder «o» seguro desportivo. VI. Not finl Em conclusão, o modo de inclusão dos segurdos num seguro de grupo foi questão bundntemente trtd pel jurisprudênci portugues propósito do chmdo «seguro por folh de féris» (modlidde de seguro de cidentes de trblho) e gerou decisões díspres. A corrente jurisprudencil que se tornou mjoritári, e que foi sufrgd num resto uniformizdor de jurisprudênci, defendi que omissão do nome do trblhdor ns folhs de féris remetids o segurdor tem por únic con sequênci su não cobertur pelo contrto de seguro, por flt de prticip ção, não dndo zo invlidde, n medid em que não configur um problem de formção do contrto ms ntes um problem n su execução. Não obstnte, pernte questão d inclusão dos segurdos no seguro desportivo, o Supremo Tribunl de Justiç chegou, e bem, um conclusão distint dquel que chegr em mtéri de seguro obrigtório de cidentes de trblho, por forç de disposição legl injuntiv que determin produção de efeitos do seguro, em relção cd gente desportivo, desde o momento d su inscrição n federção. O tribunl observ que, nestes csos, flt se situ no plno ds relções entre o segurdor e federção, o que drá zo um direito de regresso do segurdor contr federção pel totlidde do que houver pgo o gente desportivo ou terceiro. Coimbr Editor