Projecto SER MAIS Educação para a Sexualidade Online INTRODUÇÃO. Arménio Martins Fernandes 1
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- Luiz Gustavo Rodrigues Nobre
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1 INTRODUÇÃO Arménio Martins Fernandes 1
2 Ainda que os teus passos pareçam inúteis, vai abrindo caminhos, como a água que desce cantando da montanha. Outros te seguirão... Saint-Exupéry As questões relacionadas com a educação para a sexualidade e para a saúde são hoje preocupações presentes na sociedade portuguesa e nas políticas educativas e de saúde. Portugal tem registado nos últimos anos significativas melhorias neste campo. Veja-se, por exemplo, na área educativa, toda a legislação saída desde 1984 sobre o assunto, os protocolos estabelecidos entre o Ministério da Educação e algumas Organizações Não Governamentais e as experiências pontuais que se têm feito em várias escolas. Contudo, apesar de todos estes esforços e de se poder afirmar que o conhecimento sobre comportamentos de risco está relativamente generalizado continuamos com um amargo de boca. As estatísticas são claras. Portugal apresenta, actualmente, 22 casos de gravidez na adolescência em cada mil jovens entre os 10 e os 19 anos, valores que se encontram muito longe de países como Espanha, Bélgica, Itália ou Suiça com 10 casos por cada mil adolescentes. Por outro lado, enquanto que no resto da Europa a incidência de doenças sexualmente transmissíveis diminuiu, em Portugal continua a subir. São casos de infecção pelo HIV acumulados desde Só no primeiro semestre de 2005 foram registados novos casos. Vários estudos, no nosso país e no estrangeiro, têm vindo a provar que os adolescentes iniciam a sua vida sexual activa cada vez mais cedo. Estes dados permitem-nos afirmar que a abordagem da Educação para a Sexualidade na escola não deve apenas transmitir conhecimentos sobre os riscos associados à sexualidade, mas incutir nos adolescentes e jovens uma atitude preventiva. O conhecimento é fundamental, mas não chega (Américo Baptista, DD, 2006). Como temos ainda muito para fazer neste campo, julgamos ser necessário aliar as novas tecnologias a este esforço de sensibilização, (in)formação e educação dos Arménio Martins Fernandes 2
3 nossos alunos. Sobretudo em matéria de educação a distância, parece-nos que, menos do que o desejável, tem sido feito em Portugal. Assim sendo, propusemo-nos desenvolver esta experiência com o nome de Projecto SER MAIS Educação para a Sexualidade Online, utilizando as novas tecnologias de informação e comunicação na vertente de ensino a distância para os alunos dos 8º 9º anos de escolaridade da Escola EB 2,3 de S. Lourenço Ermesinde. Quando falamos das novas tecnologias, não podemos deixar de lado a importância, cada vez mais crescente, do ensino a distância. Estamos, efectivamente, a referir-nos a uma vertente importante das novas tecnologias que pode contribuir para a formação individual da pessoa, quer inicial quer contínua. Esta forma de transmissão de saberes, embora ainda desconhecida por muitos em Portugal, começa a ganhar espaço e a afirmar-se, sobretudo na formação contínua de muitos quadros. Escolhemos, para esta experiência, a plataforma LiveLearn, desenvolvida pela Netliz, Sistemas de Informação, Lda. Este software possui boas ferramentas, nomeadamente a sala de aula virtual a que mais nos fascinou. A qualquer momento os professores e os alunos podem fazer conferências (áudio e vídeo) em tempo real, gravar e ver aulas, partilhar discussões interactivas de uma forma síncrona, etc. Para facilitar ainda mais a comunicação entre os diversos intervenientes existe um quadro virtual partilhado por todos, onde o professor coloca, também em tempo real, os conteúdos programáticos da aula, podendo desta forma colocar problemas e responder no momento às questões colocadas pelos alunos. Importa salientar que, somos adeptos de uma formação a distância no sistema b- learning (blended learning), isto é, mista: presencial e online. É de extrema importância que este tipo de formação tenha esta vertente presencial. O estabelecer de um contacto entre o professor e os alunos para se conhecerem e saberem quem é a pessoa que estará do outro lado da linha, irá permitir o estabelecimento de empatias necessárias para o sucesso da formação. E isto é tanto mais verdade quanto mais baixa for a faixa etária dos destinatários. É nossa convicção que no processo ensino-aprendizagem não se pode colocar à margem, ou até mesmo eliminar, o contexto das relações interpessoais. As relações professor/aluno, aluno/aluno são fundamentais para se criar um ambiente humanizante dentro da sala de aula. Quando estas interacções faltam ou, simplesmente não existem, que tipo de homem estamos a formar? É no encontro e confronto com os outros que eu me encontro e descubro, encontrando e descobrindo os outros. Arménio Martins Fernandes 3
4 O b-learning é, assim, o sistema que configura um bom casamento entre os métodos da escola actual/tradicional com os sistemas de ensino a distância. Pretendemos, com esta experiência de Educação para a Sexualidade a distância, que os constrangimentos que se colocam aos alunos, sejam minimizados ou mesmo dissipados pelo facto das abordagens das temáticas relacionadas com a sexualidade humana serem mais naturais e sem preconceitos, condições nem sempre conseguidas dentro da sala de aula. A metodologia usada neste Projecto foi a metodologia da Investigação-acção. Esta metodologia destina-se à melhoria das práticas mediante a mudança e a aprendizagem a partir das consequências dessas mudanças. Permite ainda a participação de todos os implicados. Desenvolve-se numa espiral de ciclos de planificação, acção, observação e reflexão. É, portanto, um processo sistemático de aprendizagem orientado para a praxis, exigindo que esta seja submetida à prova, permitindo dar uma justificação a partir do trabalho, mediante uma argumentação desenvolvida, comprovada e cientificamente examinada (Jaume Trilla, 1998). O grande objectivo desta metodologia é, pois, a reflexão sobre a acção a partir da mesma. Por outras palavras: a sua finalidade consiste na acção transformadora da realidade, ou, como afirma Cembranos (1995) na superação da realidade actual. Antes da preparação e desenho das cinco sessões síncronas deste Projecto, foram analisadas as narrativas dos alunos nos fóruns que, de certa forma, denotaram a apropriação de discursos sociais relacionados, nomeadamente, com papéis de género, normalidade das relações afectivas, com os sentires, comportamentos e atitudes no âmbito das relações entre pares, entre outras. Assim, e a partir destas problemáticas emergentes, foram organizadas as sessões que englobaram cinco temas: Sexualidade, Relações interpessoais, Namoro, Comunicação e relação e Gravidez na adolescência e DSTs. As metodologias usadas foram interactivas centradas nos interesses dos participantes e englobaram a chuva de ideias, os dilemas, as histórias valorativas, o barómetro de atitudes, entre outras. Durante as sessões síncronas tentou-se criar um espaço informal de reflexão e debate, em que o moderador/facilitador funcionou mais como um participante e não tanto como um transmissor de informação. Desta forma, todas as sessões previamente desenhadas, foram sendo reestruturadas de acordo com as necessidades que foram Arménio Martins Fernandes 4
5 emergindo ao longo dos diferentes momentos. Para tal, no final de cada sessão foi criado um fórum onde os participantes deixavam os seus comentários e/ou sugestões. Temos consciência que este Projecto permite uma mudança na forma de abordar a Educação para a Sexualidade. Mudar implica alterar, além das infra-estruturas tecnológicas as estruturas mentais (talvez principalmente). Mas, a mudança só será possível se começar por nós próprios. Um professor não é bom professor se não for um agente de mudança. É necessário e urgente mudar mentalidades, mudar as formas de ver o mundo que nos rodeia. Mudar, mudando Este trabalho encontra-se estruturado da seguinte forma: Na primeira parte é feito o enquadramento teórico centrado em três aspectos fundamentais: O ensino a distância. Neste ponto é feito o enquadramento e a respectiva evolução do ensino a distância. Apresenta-se seguidamente os dois tipos de ensino a distância mais utilizados actualmente: o e-learning e o b-learning. A Educação Para a Sexualidade. Neste ponto é feito um enquadramento histórico da sexualidade, o enquadramento legal em Portugal e o ponto da situação actualmente. Faz-se, seguidamente, uma abordagem da sexualidade na adolescência, fazendo, para isso, uma breve abordagem desta fase do crescimento humano. Apresenta-se depois a abordagem da sexualidade no contexto familiar e posteriormente na escola. Neste último ponto são referidos os programas de Educação para a Sexualidade e a necessidade ou não de existir uma disciplina específica de Educação para a Sexualidade. São, também, referidas as motivações e a preparação profissional dos professores para a abordagem da sexualidade na escola e ainda relatadas algumas experiências pontuais efectuadas nas escolas portuguesas. A Investigação-acção como metodologia. Apresenta-se neste ponto o conceito, as características e as fases deste tipo de metodologia. Faz-se o seu enquadramento na intervenção educativa e contextualiza-se a problemática que está na base deste Projecto. Na segunda parte é apresentado o trabalho de campo. Começa-se por fazer o enquadramento do Projecto SER MAIS. Caracteriza-se o público-alvo e faz-se a planificação do Projecto. Seguidamente apresenta-se as diversas etapas do seu desenvolvimento e a respectiva avaliação. Arménio Martins Fernandes 5
6 Este trabalho termina com algumas considerações finais, a jeito de autocrítica, e são apontadas sugestões para o futuro. É importante que o ensino a distância se faça, não de forma pontual, mas que se estruture de maneira mais sistemática e se aplique nas nossas escolas, nomeadamente, e em primeiro lugar, para os professores. Era bom que as instituições que têm competências para tal criassem condições favoráveis à implementação deste tipo de ferramentas e suportes que permitem uma melhor e maior abordagem dos assuntos relacionados com a Educação para a Sexualidade, para a Cidadania e para os Valores Humanos. Muito importante é a mudança de mentalidade dos agentes educativos (pais, professores, etc). Estamos em querer que as tecnologias podem ajudar. É urgente que os nossos jovens adquiram estratégias de auto-conhecimento e um conjunto de competências e valores no domínio da sexualidade, para que a sociedade de amanhã seja mais justa, humana e fraterna. Arménio Martins Fernandes 6
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