Palavras-chave: Leishmaniose, canino, sistema nervoso central.
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- Moisés Alcaide Igrejas
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1 MENINGOENCEFALITE GRANULOMATOSA POR Leishmania ssp. EM CÃO: RELATO DE CASO Helen Cristina Gomes de LIMA 1* ; Kalinne Stephanie BEZERRA 1 ; Luciana Curtio SOARES 1 ; Gabriela Morais MADRUGA 1 ;.Aline de Jesus da SILVA 2 ; Caroline Argenta PESCADOR 1 1 Laboratório de Patologia Veterinária, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá-MT. 2 L aboratório de Microbiologia Veterinária, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá-MT. *Autor para correspondência: helencglima@hotmail.com. Resumo Leishmaniose visceral canina (LVC) é uma zoonose de evolução crônica, causada por protozoários do gênero Leishmania ssp. Nos mamíferos, os protozoários localizam-se, na forma amastigota, no interior de células do sistema mononuclear fagocitário (SMF) e disseminam-se via linfática e hematógena por diversos órgãos, sobretudo, para os de origem linfóide e, eventualmente, atingem o sistema nervoso. Esse trabalho tem como objetivo relatar um caso de meningoencefalite granulomatosa por Leishmania ssp. em cão. Um canino, macho, American Pit Bull Terrier, 5 anos de idade, foi submetido à necropsia no Laboratório de Patologia Veterinária da Universidade Federal de Mato grosso (LPV-UFMT). Fragmentos de baço, fígado, linfonodo, rim e SNC foram coletados e fixados em solução de formalina a 10%. As amostras foram rotineiramente processadas de acordo com os métodos convencionais para exames histopatológicos, coradas em hematoxilina e eosina, e observadas em microscópio óptico. Adicionalmente, amostras em parafina de SNC foram submetidas à PCR. No exame histopatológico, macrófagos com citoplasma preenchido por estruturas puntiformes basofílicas morfologicamente semelhantes a formas de amastigotas de Leishmania ssp. foram observadas em linfonodos e sistema nervoso central (SNC). As amostras de SNC submetidas à PCR, foram positivas para Leishmanis ssp. A interpretação dos métodos diagnosticados utilizados em associação com os dados clínicos e epidemiológicos contribuem para determinação do diagnóstico, vigilância e controle da disseminação da doença. Dessa forma, com base nos achados clínicos, epidemiológicos, morfológicos e moleculares, conclui-se que o caso relatado trata-se de meningoencefalite granulomatosa por Leishmania ssp. em cão. Palavras-chave: Leishmaniose, canino, sistema nervoso central. ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0024
2 Keywords: Leishmaniasis, canine, central nervous system. Revisão de literatura Leishmaniose visceral canina (LVC) é uma zoonose de evolução crônica, e distribuição mundial, causada por protozoários do gênero Leishmania ssp. (SCHWARDT, et al., 2012). Os principais vetores da enfermidade são os dípteros flebotomíneos da espécie Lutzomia longipalpis (BARROS, 2011). Na cadeia de transmissão da leishmaniose, o cão constitui-se como o principal reservatório epidemiológico (CARDINOT, 2013). Nos mamíferos, os protozoários localizam-se, na forma amastigota, no interior de células do sistema mononuclear fagocitário (SMF) e disseminam-se via linfática e hematógena por diversos órgãos, sobretudo, para os de origem linfóides como o fígado, baço, linfonodos e medula óssea e, eventualmente, atingem o sistema nervoso (CARDINOT, 2013). O diagnóstico de LVC pode ser realizado por meio de testes imunológicos, citológicos, histopatológicos e moleculares, no entanto, devido a ausência de um teste 100% eficaz, recomenda-se a associação de mais de uma técnica diagnóstica (OLIVEIRA, 2010). Esse trabalho tem como objetivo relatar um caso de meningoencefalite granulomatosa por Leishmania ssp. em cão. Descrição do caso Um canino, macho, American Pit Bull Terrier, 5 anos de idade, foi submetido à necropsia no Laboratório de Patologia Veterinária da Universidade Federal de Mato grosso (LPV-UFMT). Fragmentos de baço, fígado, linfonodo, rim e SNC foram coletados e fixados em solução de formalina a 10%. As amostras foram rotineiramente processadas de acordo com os métodos convencionais para exames histopatológicos, coradas em hematoxilina e eosina, e observadas em microscópio óptico. Adicionalmente, amostras em parafina de SNC foram submetidas à PCR. A extração de DNA de Leishmania spp. foi realizada de acordo com método de fenolclorofórmio descrito por Almeida et al. (2009). Os oligonucleotídeos empregados foram o 150 (sense) 5 -GGG(G/T)AGGGGCGTTCT(C/G) CGAA-3 e o 152 (antisense) 5 (C/G)(C/G)(C/G) (A/T)CTAT(A/T)TTACACCAACCCC-3 que amplifica uma fragmento de DNA de 120pb de todas as espécies de Leishmania ssp. Os produtos da PCR foram visualizados por eletroforese em gel de agarose 1,5%. Segundo o veterinário responsável, o canino chegou para atendimento clínico com ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0025
3 histórico de andar cambaleante, paresia de membros posteriores e meningite bacteriana, constatada por análise citológica de liquor. Durante anamnese, proprietário alegou morar em região de garimpo e já ter perdido cinco animais ao longo de 10 anos, com os mesmos sinais clínicos. Na necropsia, observou-se secreção bilateral, purulenta e amarelada na região ocular com edema de conjuntiva e pequena quantidade de crostas na superfície do focinho. Na região abdominal, linfadenomegalia de linfonodos mesentéricos e área focalmente extensa de coloração enegrecida no baço foram observados. No SNC, constatou-se discretas áreas multifocais amareladas e amolecidas. No exame histopatológico, nos linfonodos, foram observados folículos linfóides hiperplásicos e moderado infiltrado histiocitário em seios medulares. No baço, havia congestão difusa severa e no fígado, degeneração vacuolar hepatocelular e infiltrado linfoplasmocitário periportal discreto. Os rins apresentavam moderado infiltrado linfoplasmocitário em interstício e espessamento do tufo glomerular e cápsula de Bowman. No SNC, havia manguito perivascular mononuclear, multifocal, acentuado e infiltrado inflamatório linfoplasmocitário acentuado com presença de células gigantes multinucleadas. Macrófagos com citoplasma preenchido por estruturas puntiformes basofílicas morfologicamente semelhantes a formas de amastigotas de Leishmania ssp. foram observadas em linfonodos, meninge, substância branca e cinzenta. As amostras de SNC submetidas à PCR, foram positivas para Leishmanis ssp. Discussão O diagnóstico definitivo foi fundamentado nos achados morfológicos observados e confirmados por meio da prática de PCR. Na LVC, os protozoários podem ser encontrados em diversos órgãos do hospedeiro, produzindo reações inflamatórias crônicas que resultam em desequilíbrio imunológico (MARQUEZ et al., 2013). O sistema nervoso central (SNC) caracteriza-se pela presença de barreiras encefálicas e adaptações funcionais que os tornam menos susceptível a infecção. Contudo, eventualmente, a Leishmania ssp. é capaz de superar os mecanismos de defesa e causar alterações nervosas em cães (OLIVEIRA, 2010). Segundo Cardinot (2013), um dos mecanismos de entrada de protozoários no sistema nervoso é via migração de leucócitos, em que patógenos aproveitam-se do tráfego de células de defesa e ultrapassam os capilares fenestrados do plexo coróide. No presente relato, a observação de formas amastigotas de Leishmania ssp. no interior de macrófagos ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0026
4 em meninge, substância branca e cinzenta constitui-se como forte evidência de que o parasita tenha utilizado a entrada facilitada de leucócitos para penetrar no SNC. Nesse contexto, os sinais clínicos de andar cambaleante e paresia de membros posteriores associado ao quadro de meningite observados no cão relatado são descritos como frequentes em animais cronicamente infectados por Leishmania ssp. e estão relacionados às alterações histopatológicas de meningoencefalite e congestão vascular (SCHWARDT, et al., 2012). Dessa forma, sugere-se que as manifestações neurológicas e achados microscópicos observados sejam decorrentes de uma resposta humoral e da deposição de imunocomplexos provocados pela presença do protozoário em sistema nervoso (BARROS, 2011). As alterações dermatológicas de focinho e as lesões morfológicas observadas em baço, fígado, rim e linfonodos mesentéricos do cão relatado são descritas como frequentes em animais infectados por Leishmania ssp. e resultam da disseminação linfática e hematógena do parasita (CARDINOT, 2013). A convivência de cães em locais abertos ou próximos a rios, matas nativas e regiões com más condições de higiene são fatores que favorecem a exposição dos hospedeiros aos vetores, como é o caso de cães de guarda noturnos e cães de áreas rurais (BARROS, 2011). No presente relato, o proprietário informou que canino morava em região de garimpo e que havia perdido outros animais com mesma sintomatologia clínica. Dessa forma, é possível concluir que o canino em questão constituía-se como paciente de risco à infecção devido ao local em que habitava e que, talvez, a área de moradia seja uma região endêmica para a doença. Conclusão A compreensão das lesões da Leishmania ssp. nos diferentes órgãos, bem como interpretação dos métodos diagnosticados utilizados em associação com os dados clínicos e epidemiológicos são de grande importância para determinação do diagnóstico e também contribui para a vigilância e controle da disseminação da doença. Dessa forma, com base nos achados clínicos, epidemiológicos, morfológicos e moleculares, conclui-se que o caso relatado trata-se de meningoencefalite granulomatosa por Leishmania ssp. em cão. Referências Bibliográficas ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0027
5 ALMEIDA, A. B. P. F. Inquérito soroepidemiológico e caracterização da leishmaniose canina por PCR-RFLP em Cuiabá, Mato Grosso. Cuiabá, [Dissertação Mestrado em Ciências Veterinárias UFMT]. BARROS, R.M. Caracterização histopatológica da leishmaniose visceral canina no Distrito Federal. Brasília, p. [Tese/Dissertação programa de mestrado em saúde animal- UNB]. CARDINOT, C.B. Identificação de DNA de Leishmania ssp. no encéfalo de cães com leishmaniose visceral. Araçatuba, p. [Tese/Dissertação programa de mestrado em ciência animal- UESP]. MÁRQUEZ, M.; PEDREGOSA, J. R.; LÓPEZ, J.; MARCO-SALAZAR, P.; FONDEVILA, D.; PUMAROLA, M. Leishmania amastigotes in the central nervous system of a naturally infected dog. Journal of Veterinary Diagnostic Investigation. 25(1): , OLIVEIRA, D.M. Avaliação de modelos de infecção visceral causada por Leishmania chagasi em camundongos balb/c: detecção do parasita no parênquima cerebral dos animais. Belo Horizonte, p. [Tese/Dissertação programa de mestrado em neurociências- UFMG]. SCHWARDT, T. F.; VIDES, J.P.; BRAGA, E.T., PACHECO, A.D.; LANGONI, H.; GENEROSO, D.; MACHADO, G.F.; LAURENTI, M.D.; MARCONDES, M. Estudo da imunopatogenia das lesões no sistema nervoso central de cães naturalmente acometidos por leishmaniose visceral. Braz. J. Vet. Res. Anim. Sci. 49 ( 6): , ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0028
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