TUBERCULOSE HEPÁTICA EM CÃO HEPATIC TUBERCULOSIS IN DOG
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- Thomas Vieira Olivares
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1 1 TUBERCULOSE HEPÁTICA EM CÃO HEPATIC TUBERCULOSIS IN DOG Amanda Batista da CUNHA¹; Nayara da Paixão MONTEIRO ¹; Ana Celi Santos COSTA ² ; Gabriela Melo Alves dos SANTOS¹; Mário José Costa CARNEIRO¹; Maria Jeane da Silva CAVALCANTE ² ; Carolina Franchi JOÃO 3 1Estudante de graduação em medicina veterinária, Universidade Federal do Pará gabrielameloas29@gmail.com 2Residente em clínica médica e cirúrgica de pequenos animais, Universidade Federal do Pará, 3Professora Dra em Clinca Médica de Pequenos Animais; Instituto de Medicina Veterinária, Universidade Federal do Pará Resumo: A tuberculose é uma doença infecciosa que pode acometer diversas espécies de mamíferos e até seres humanos, caracterizando-se como uma zoonose em potencial. Os agentes causadores dessa enfermidade são bactérias do gênero Mycobacterium. Apesar de não ser frequente a ocorrência da tuberculose em cães, estes podem ser acometidos quando expostos por tempo prolongado ao patógeno, que pode ser transmitido pelo ar ou ainda através da ingestão de alimentos contaminados. As espécies de Mycobacterium mais relatados em cães são o M. bovis, o M. tuberculosis e o M. avium, onde os sintomas da doença não são específicos e normalmente estão relacionados com o órgão acometido. O presente trabalho possui objetivo de relatar o caso de um canino de 5 anos de idade, macho, da raça pitbull, o qual foi atendido no Hospital Veterinário de Pequenos Animais da Universidade Federal do Pará. O paciente apresentava vômito, diarreia enegrecida, inapetência e icterícia. Na necropsia do cão foi constatada a presença de diversas lesões granulomatosas no fígado e demais órgãos, as quais se tratavam de tuberculose hepática, ocasionada pela infecção por M. tuberculosis. O compartilhamento de casos clínicos como o relatado neste trabalho tem como papel fundamental alertar aos médicos veterinários de todas as áreas de atuação e não somente da clínica de pequenos animais, que casos de tuberculose em cães não se apresentam, necessariamente, com sinais clínicos característicos da doença. O caso reforça, também, a importância de lançar mão de todos os possíveis métodos para chegar ao diagnóstico correto, a fim de instituir o tratamento adequado. Palavras-chave: Tuberculose, Mycobacterium tuberculosis, cão. Keywords: Tuberculosis, Mycobacterium tuberculosis, dog. Anais do 38º CBA, p.1644
2 2 Revisão de Literatura: A micobacteriose canina é uma infecção de grande importância em Saúde Pública podendo apresentar-se de forma generalizada levando o animal ao óbito rapidamente (OLIVEIRA,2012). O primeiro relato de infecção micobacteriana foi descrita em 1993 por Blaine Beaman (KIM et al., 1994). Infecções por micobactérias são raras em cães. Contudo, eles são mais suscetíveis às infecções por Mycobacterium tuberculosis e M. bovis, sendo também relatadas infecções por M. avium (EGGERS,1997). Cães possuem uma maior prevalência à infecção por M. tuberculosis do que os gatos. Eles são infectados da mesma maneira que os seres humanos, ou seja, por inalação de microrganismos patogênicos através de aerossóis, sendo esta forma a principal fonte de contaminação (POSTHAUS et al., 2011) ou ainda através da ingestão de alimentos contaminados, a exemplo do leite cru contaminado, como relata Snider et al. (1971). A tuberculose em animais domésticos pode ocorrer naturalmente como uma doença subclínica. Quando há desenvolvimento de sinais clínicos os locais primários da infecção são os pulmões e o trato linfático pulmonar, sendo que também pode haver manifestações relacionadas ao trato digestivo, fígado e rins (MARTINHO et al. 2013). A proximidade entre cães e humanos implica na transmissão entre as espécies, onde o homem pode atuar como possível fonte de infecção para os cães tanto para o M. bovis, como relata Shrikrishna et al. (2009) quanto para o M. tuberculosis segundo Erwin et al. (2004) e Parsons et al. (2012). O M. tuberculosis é um patógeno de humanos, a infecção de um cão ocorre quando há um humano doente convivendo com o animal, porém o contrário nunca foi relatado, por isso, esse tipo de infecção é caracterizada como uma zoonose inversa ou antropozoonose (GREENE, 1997; GREENE e GUNN-MOORE, 2006). As infecções micobacterianas tuberculosas em cães são frequentemente assintomáticas ou se confundem com outros diagnósticos (GREENE, 1997). O M.tuberculosis e o M. bovis são micobactérias altamente patogênicas e parasitas intracelulares obrigatórios ou facultativos, sendo que o M. tuberculosis é espécieespecífico, e seus relatos ocorrem desde o início da civilização (GREENE e GUNN- MOORE, 2006). Anais do 38º CBA, p.1645
3 3 O objetivo desse estudo é descrever os sinais clínicos, alterações hematológicas e bioquímicas de um cão com tuberculose atípica causada por M. tuberculosis. Descrição do Caso: Foi atendido no Hospital Veterinário da Universidade Federal do Pará um cão, macho, da raça Pit Bull, 5 anos de idade, apresentando vômito, diarreia enegrecida e fétida e inapetência. No exame clínico o animal apresentava-se prostrado, caquético, mucosas ictéricas e desidratação de 8%, notou-se a presença de petéquias nas mucosas e pele. Foi coletado sangue para hemograma e dosagem de alanina aminotransferase (ALT), aspartato aminotransferase (AST), fosfatase alcalina (FA), gamaglutamiltransferase (GGT), proteína total, albumina, colesterol, triglicérides e creatinina. O hemograma revelou uma discreta anemia (hematócrito 30%) e leucopenia (700/mm 3 ), linfocitose (42%) e acentuada trombocitopenia (43.000/mm 3 ). A concentração de ALT foi de 92 UI/L, de AST foi de 6,0 UI/L, de FA foi 364 UI/L, de GGT foi de 29 UI/L, de proteína total foi de 7,3 g/dl, de albumina foi de 1,5 g/dl, de uréia foi de 48 mg/dl, de colesterol foi de 289 mg/dl, de triglicérides foi de 225 mg/dl e de creatinina foi de 1,5 mg/dl. O animal foi internado para tratamento, porém horas depois veio a óbito após parada cardíaca. A necropsia foi realizada no laboratório de Patologia Veterinária da UFPA. Na necropsia foram observadas lesões granulomatosas, que rangiam ao corte, em todo o parênquima hepático, essas lesões também estavam presentes em outros órgãos como o baço, porém com um maior acometimento no fígado. Baseado nas características das lesões, suspeitou-se de tuberculose, sendo enviado material ao Instituto Evandro Chagas para realização de cultivo de Mycobacterium spp. Os resultados confirmaram a presença da bactéria M. tuberculosis. Discussão: O paciente deste relato apresentou uma anemia discreta, semelhante ao relatado por Martinho et al. (2013), que pode estar relacionada a doenças generalizadas. Apresentou também valores elevados de FA, ALT, GGT e uréia que podem indicar lesão hepática e renal. Porém, ao contrário do que foi encontrado por Anais do 38º CBA, p.1646
4 4 Martinho, o cão do presente relato apresentou leucopenia, o que pode estar ligado a infecções bacterianas severas (GONZÁLEZ, et al., 2008). A forma digestiva da tuberculose não é a forma mais comum de sua ocorrência. Ellis et al.(2006) relataram outro caso de um cão com a forma digestiva da doença, onde o fígado também era o órgão mais afetado, e este animal apresentava sintomas semelhantes ao do presente relato, como vômito, diarreia e perda de peso. Este animal também apresentava aumento de bilirrubina e fosfatase alcalina, além de discreta anemia. A diminuição da prevalência de M. bovis em bovinos, como consequência da implementação de campanhas de erradicação, junto com a parteurização do leire, diminuiu os casos em cães. Porém, infecções por M. bovis ainda são notificadas em países que não são livres da tuberculose como o Reino Unido (Ellis et al., 2006; Shrikrishna et al., 2009). Apesar do agente etiológico do caso relatado por Ellis et al. (2006) ser M. bovis e do presente relato ser o M. tuberculosis, ambos os animais apresentaram quadros clínicos bastante semelhantes. Conclusão: O compartilhamento de casos clínicos como o relatado neste trabalho tem como papel fundamental alertar aos médicos veterinários de todas as áreas de atuação e não somente da clínica de pequenos animais, que casos de tuberculose em cães não se apresentam, necessariamente, com sinais clínicos característicos da doença. O caso reforça, também, a importância de lançar mão de todos os possíveis métodos para chegar ao diagnóstico correto, a fim de instituir o tratamento adequado. No presente relato, a procura de intervenção médica veterinária se deu tardiamente, quando os sinais clínicos já estavam bastante avançados e não foi possível chegar a um diagnóstico antes que ele viesse a óbito. Além disso, nota-se que pela infecção do cão, como animal de companhia e que se mantém em contato constante com seu tutor, é importante que seja feito um estudo epidemiológico afim de averiguar a origem da infecção, visto que o animal pode servir de infecção para o ser humano e o humano para o seu animal. Referências: BENTUBO, H. D. L. et al. Expectativa de vida e causas de morte em cães na área metropolitana de São Paulo (Brasil). Ciência Rural, v. 37, n. 4, p , apr Anais do 38º CBA, p.1647
5 5 EGGERS J. S. et al. Disseminated Mycobacterium avium infection in three miniature schnauzer litter maltes. J Vet Diagn Invest. 1997;9: ELLIS M. D. et al., Mycobacterium bovis infectation in a dog. The Veterinary Record 159, GONZÁLEZ, F. H. D.; SILVA, S. C. Patologia clínica veterinária: texto introdutório Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, GREENE, C.E.; GUNN-MOORE, D.A. Mycobacterial infections. In: GREENE, C.E. Infectious Diseases of the Dog and Cat. 3. ed. Philadelphia: Saunders, p , GREENE, C. E. Moléstias bacterianas. In: ETTINGER, S. J.; FELDMAN, E. C. Tratado de medicina interna veterinária: moléstias do cão e do gato. 4. ed. São Paulo : Editora Manole, v. 1, p KIM, D. Y. et al. Granulomatous myelitis due to Mycobacterium avium in a dog. Veterinary Pathology, n. 31, p , MARTINHO, A.P. et al., Disseminated Mycobacterium tuberculosis infection in a dog. The American Journal of Tropical Medicine and Hygiene 88, OLIVEIRA, G. F. et al. "MICOBACTERIOSE GENERALIZADA EM CÃO-RELATO DE CASO." Veterinária e Zootecnia 19.1-S. 1 (2012): POSTHAUS, H. et al. Accidental infection of veterinary personnel with Mycobacterium tuberculosis at necropsy: A case study. Veterinary Microbiology. n. 149, p , RIBEIRO, M. G. et al. Disseminated Mycobacterium tuberculosis Infection in a Dog. The American journal of tropical medicine and hygiene SHRIKRISHNA, D. et al., Human and canine pulmonary Mycobacterium bovis infection in the same household: re-emergence of an old zoonotic threat? Thorax 64, SNIDER, W.R. et al., Tuberculosis in canine and feline populations. Study of high risk populations in Pennsylvania, The American Review of Respiratory Disease 104, Anais do 38º CBA, p.1648
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