42º Congresso Bras. de Medicina Veterinária e 1º Congresso Sul-Brasileiro da ANCLIVEPA - 31/10 a 02/11 de Curitiba - PR

Transcrição

1 INFEÇÃO POR Babesia bovis EM TOURO DA RAÇA SENEPOL - RELATO DE CASO FERNANDA GATTI DE OLIVEIRA NASCIMENTO 1, MAISA PASCHOAL RIOS 1, ERICKY AKIO DE OLIVEIRA TONGU 1, FERNANDO CRISTINO BARBOSA 2, ANTONO VICENTE MUNDIM 2, DIEGO JOSÉ ZANZARINI DELFIOL 2 1 Médicos veterinários residentes no Hospital Veterinário da UFU 2 Faculdade de Medicina Veterinária (FAMEV-UFU) 1 Descrição do Relato Foi encaminhado ao Hospital Veterinário, em março de 2015, um touro da raça Senepol, 5 anos, pesando aproximadamente uma tonelada, vermifugado e vacinado, mantido em pastejo semi-intensivo, devido a um ferimento no membro posterior esquerdo e dificuldade respiratória. O proprietário relatou que há um mês, o animal foi conduzido a uma central de reprodução para coleta de sêmen e retornou a fazenda de origem com uma grande quantidade de carrapatos, porém não foi realizado nenhum procedimento para combate aos ectoparasitas. Ao exame clínico, o animal apresentou bom estado nutricional, prostração, mucosas ocular e oral hipocoradas, taquicardia (90 bpm), dispneia e taquipneia (70mpm), hipertermia (40,2ºC), secreção nasal serosanguinolenta, equimoses na bolsa escrotal e presença de ectoparasitas (Figura 1). Na auscultação constatou-se hipofonese cardíaca, crepitação pulmonar e ausência de movimentos ruminais. O animal não apresentou sinais neurológicos. Foram realizados hemograma completo, pesquisa de hemoparasitas, urinálise, análises bioquímicas e PCR (Reação em Cadeia Polimerase) para Babesia bovis. Durante a avaliação clínica o animal entrou em decúbito lateral 1560

2 vindo a óbito uma hora após a chegada ao hospital veterinário e foi encaminhado para a necropsia. 2 Figura 1. Touro da raça Senepol atendido no Hospital Veterinário apresentando prostração, secreção nasal serosanguinolenta (A), equimoses na bolsa escrotal e presença de carrapatos Rhipicephalus (Boophilus) microplus (B). Discussão O eritrograma revelou volume globular de 8,8% e anemia macrocítica normocrômica, já o leucograma e plaquetograma não apresentaram alterações. Durante a realização da pesquisa de hemoparasitas constatou-se a presença de inúmeras estruturas intraeritrocitárias de formato piriforme, arredondado e anular condizentes com Babesia bovis (Figura 2), o que foi confirmado pela técnica de PCR (Figura 3). 1561

3 3 Figura 2. Presença de estruturas intraeritrocitárias condizentes com Babesia bovis. Figura 3. Análise de PCR para detecção do gene de Babesia bovis em sangue de touro da raça Senepol. Canaleta 1 marcador do tamanho molecular de 100 pb. Canaleta 2 amostra de campo positiva. Canaleta 3 controle negativo. Canaleta 4 controle positivo Na urinálise, observou-se intensa hemoglobinúria, proteinúria com cilindrúria e bilirrubinúria. As analises bioquímicas revelaram valores 1562

4 aumentados para proteínas totais, globulinas, creatinina, ureia, creatina quinase (CK), alanina aminotransferase (ALT), aspartato aminotransferase (AST), fosfatase alcalina (FA), gama-glutamil transferase (GGT), colesterol e triglicérides, enquanto que os valores de cálcio, fosforo e albumina apresentaram-se diminuídos de acordo com os limites fisiológicos para a espécie citados por Kaneko et al. (2008). No exame post mortem macroscópico observou-se bom estado nutricional e de conservação, mucosas óculo-palpebrais, oral e peniana hipocoradas. A análise detalhada dos órgãos revelou grande quantidade de liquido espumoso branco-avermelhado em toda extensão da traqueia (Figura 4) e ao corte do parênquima pulmonar, pulmões hipocreptantes e avermelhados com extensas áreas de atelectasia e coração com múltiplas hemorragias petequeais no epicárdio. Linfonodos mandibulares, pré-escapulares e baço aumentados de volume e congestos. Fígado pálido, ligeiramente amarelado. O sistema nervoso central apresentou congestão dos vasos meningeais (Figura 4). Observou-se que todos os órgãos torácicos e abdominais apresentavam coloração avermelhada. 4 Figura 4. Presença de grande quantidade de liquido espumoso brancoavermelhado em toda extensão da traqueia (A) e cérebro congesto (B) de touro da raça Senepol com infecção por Babesia bovis submetido a necropsia no Hospital Veterinário. 1563

5 5 Os sinais clínicos, resultados laboratoriais e achados de necropsia são condizentes com o quadro clínico de Babesia bovis e semelhantes aos descritos por outros autores (Almeida et al., 2006; Santarosa et al., 2013). Conclusão Os sinais clínicos observados, as alterações laboratoriais, a presença de estruturas intraeritrocitárias e a técnica de PCR confirmaram a infecção por Babesia bovis. Sendo assim, o controle de carrapatos e o diagnóstico precoce da doença são de fundamental importância para diminuir custos e obter sucesso no tratamento. REFERÊNCIAS ALMEIDA, M.B.; TORTELLI, F.P.; RIET-CORREA, B.; FERREIRA, J.L.M.; SOARES, M.P.; FARIAS, N.A.R.; RIET-CORREA, F.; SCHILD, A.L. Tristeza parasitária bovina na região sul do Rio Grande do Sul: estudo retrospectivo de Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 26, n.4, p , KANEKO, J.J.; HARVEY, J.W.; BRUSS, M.L. Clinical Biochemistry of Domestic Animals. 6 ed. London: Academic Press, p , SANTAROSA, B.P.; DANTAS, G.N.; FERREIRA, D.O.L.; ROCHA, N.S.; GONÇALVES, R.C.; AMORIM, R.M.; CHIACCHIO, S.B. Infecção neurológica por Babesia bovis em bovino neonato Relato de caso. Veterinária e Zootecnia, v. 20, n.3, p. 9-14,