Anais do 38º CBA, p Doutoranda no Programa de Pós-graduação em Medicina Veterinária, Universidade Federal de

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1 PERFIL CLÍNICO E HEMATOLÓGICO DE CÃES NATURALMENTE INFECTADOS COM HEPATOZOON CANIS ATENDIDOS NO HOSPITAL VETERINÁRIO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE Clinical and hematological profile of dogs naturally infected with Hepatozoon canis attended at the Veterinary Hospital of the Federal University of Campina Grande Maria das Graças da Silva BERNARDINO 1, Laura Honório de OLIVEIRA 2, Vinícius Mendes GONÇALVES 3, Leiliane Silva BEZERRA 3, Carolina Barbosa CARVALHO 3, Antônio Fernando de Melo VAZ 4 e Almir Pereira de SOUZA 4 1 Doutoranda no Programa de Pós-graduação em Medicina Veterinária, Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Patos/PB. bernardino.mgs@outlook.com. 2 Residente no Laboratório de Patologia Clínica Veterinária, Hospital Veterinário, UFCG, Patos/PB. 3 Residente na Clínica Médica de Pequenos Animais, Hospital Veterinário, UFCG, Patos/PB. 4 Docente do Departamento de Medicina Veterinária, UFCG, Patos/PB. Resumo: No Brasil, a Hepatozoonose canina é causada pelo protozoário Hepatozoon canis. Esse parasito promove lesão tecidual em diversos órgãos, gerando uma grande variedade de sinais clínicos e tornando a doença de difícil diagnóstico clínico. Diante disso, objetivou-se com esse estudo relatar os achados clínicos e hematológicos de cães naturalmente infectados com H. canis. Onze cães foram diagnosticados para Hepatozoonose canina através da visualização direta de gamontes de H. canis parasitando neutrófilos. Foram avaliadas as fichas de exame clínico e parâmetros hematológicos dos animais. Os cães mais acometidos foram filhotes e sem raça definida. A anemia e trombocitopenia foram as principais alterações hematológicas. Os animais apresentaram sinais clínicos inespecíficos, que incluíram mucosas hipocoradas, apatia, inapetência, vômito, presença de linfonodos reativos, diarreia, desidratação, hematoquezia, hipertermia e anorexia. Quanto à avaliação dos fatores predisponentes, quatro animais já tiveram ou tinham acesso à rua e oito tiveram ou tinham carrapatos no momento do exame clínico. Os resultados mostraram que a Hepatozoonose canina está presente na região e espera-se que estes dados contribuam para a construção de um perfil clínico de cães infectados com H. canis. Palavras-chave: Hepatozoonose canina, hemoparasitas, anemia, trombocitopenia. Keywords: Canine hepatozoonosis, hemoparasites, anemia, thrombocytopenia. Anais do 38º CBA, p.0404

2 Introdução: A hepatozoonose canina é uma enfermidade causada por protozoários do gênero Hepatozoon. No Brasil, os cães são acometidos pelo Hepatozoon canis (RUBINI et al., 2005). Nos últimos anos têm-se intensificado as pesquisas sobre esse parasito, sendo mais relatado em áreas rurais. A principal via de transmissão da doença é a ingestão de carrapatos infectados, mas também pode ocorrer por via vertical (MURATA et al., 1993). Clinicamente, é uma doença de difícil diagnóstico, porque o H. canis causa lesão tecidual em vários órgãos (BANETH e WEIGLER, 1997), resultando em uma grande variedade de sinais clínicos. Diante disso, o estudo teve como objetivo relatar os achados clínicos e hematológicos de cães naturalmente infectados com H. canis. Material e Métodos: Os 11 cães estudados foram atendidos no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Campina Grande localizado no município de Patos, estado da Paraíba, região Nordeste do Brasil. Desses, dez animais residiam no município de Patos e um no município de São Bento. Todos os animais foram diagnosticados com Hepatozoonose canina a partir da visualização de gamontes na pesquisa direta em esfregaços sanguíneos. De todos os animais foram colhidas amostras de sangue circulante com EDTA a 10% para a realização do hemograma e confeccionadas extensões de sangue que foram coradas com Panótico rápido. Os resultados do hemograma foram obtidos utilizando o Analisador Hematológico Veterinário Sysmex poch- 100iV Diff. A leucometria diferencial e avaliação morfológica das células foi realizada no esfregaço sanguíneo, em objetiva de imersão. As amostras sanguíneas foram processadas no Laboratório de Patologia Clínica do Hospital Veterinário da Universidade Federal de Campina Grande. Para a caracterização do perfil clínico, foram avaliados as fichas de exame clínico e os resultados do hemograma dos animais. Os resultados hematológicos foram interpretados de acordo com os valores de referência para cães (TILLEY e SMITH JR., 2008). Para a avaliação da faixa etária mais acometida, cães com idade Anais do 38º CBA, p.0405

3 igual ou inferior a seis meses foram considerados filhotes, entre seis meses a um ano (jovem) e a partir de um ano de idade (adulto). Resultados: Os gamontes de H. canis foram visualizados exclusivamente no interior de neutrófilos. As principais alterações hematológicas observadas foram a anemia (81,9%) e trombocitopenia (72,7%). A anemia normocítica normocrômica foi observada em quatro animais, normocítica hipocrômica em três animais e macrocítica hipocrômica em dois animais. Quatro desses animais (36,4%) apresentaram trombocitopenia severa, com contagens de plaquetas inferiores a 30 X10 9 /L. Outros achados incluíram leucocitose com neutrofilia (18,2%), leucopenia com neutropenia (9,1%) e linfopenia (36,4%). Os principais sinais clínicos observados foram mucosas hipocoradas (63,6%), apatia e inapetência (45,5%), vômito e presença de linfonodos reativos (36,4%), diarreia e desidratação (27,3%), hematoquezia, hipertermia e anorexia (18,2%). Dos onze cães diagnosticados com H. canis, seis (54,5%) eram fêmeas e cinco machos (45,5%). Quanto à idade, oito cães eram filhotes (72,7%), um jovem (9,1%) e dois adultos (18,2%). A idade dos cães filhotes variou entre um a três meses de idade: dois tinham até um mês de idade, cinco tinham entre um mês a dois meses de idade e um tinha três meses de idade. Em relação a raça dos animais, oito (72,7%) eram sem raça definida, um da raça Poodle, um Pinscher e um Dachshund. Quanto à avaliação dos fatores predisponentes, quatro cães tinham ou já tiveram acesso à rua (36,4%). Além disso, oito animais (72,7%) tiveram ou tinham carrapatos no momento do exame clínico e desses, dois cães apresentavam-se com uma alta infestação. Discussão: A anemia e a trombocitopenia foram as principais alterações hematológicas observadas, sendo a anemia já relatada em outros estudos (AGUIAR et al., 2004; BERNARDINO et al., 2016). De uma forma geral, a anemia e a trombocitopenia são alterações hematológicas inespecíficas, pois pode ser observada em diversas doenças devido a estimulação antigênica e aderência de imunocomplexos que Anais do 38º CBA, p.0406

4 estimulam a fagocitose de célula sadias e consequentemente diminuição desses tipos celulares na corrente circulatória (TIZARD, 2014). Todos os sinais clínicos observados se correlacionam com a patogenia do parasito, uma vez que este protozoário promove lesão em diversos tecidos (BANETH e WEIGLER, 1997), possuindo caráter debilitante. A inespecificidade e variabilidade dos sinais clínicos apresentados pelos cães amostrados nesse estudo mostram que a doença é difícil diagnóstico clínico. Diante disso, ressaltamos a necessidade da solicitação da pesquisa direta por hemoparasitos em esfregaços sanguíneos, uma vez que se trata de uma técnica de fácil execução e baixo custo na rotina laboratorial. O principal achado desse estudo foi a faixa etária mais acometida, que compreendeu filhotes, principalmente entre um a dois meses de idade. Esse resultado sugere uma infecção vertical, pois geralmente cães nessa idade ainda não desenvolveram hábitos de auto-higiene eficazes, diminuindo as chances de ingestão de carrapatos infectados que é a principal via de transmissão dessa doença. Ressaltamos também que a detecção de gamontes em neutrófilos no sangue periférico de cães que ingeriram carrapatos infectados só é observado cerca de dias pós-infecção (BANETH et al., 1998), enquanto que em filhotes infectados verticalmente, os gamontes podem ser visualizados cerca de 16 a 60 dias após o nascimento (MURATA et al., 1993). Diante disso e levando em consideração o ciclo de vida do protozoário, é improvável que neonatos com poucos dias de vida tivessem ingerido o carrapato infectado, para que desse tempo realizar o diagnóstico através de pesquisa direta em animais com um mês de idade. A hepatozoonose em cães é dada como uma enfermidade de baixa patogenicidade e com caráter subclínico (BANETH et al., 2003), todavia em filhotes devido ao fato da imunidade não estar totalmente desenvolvida, esta pode-se apresentar de uma forma acentuada, produzindo sinais clínicos mais severos. A infestação por carrapatos foi o principal fator predisponente para a doença, dessa forma destaca-se a importância do controle de carrapatos nos animais de estimação. Conclusão: Anais do 38º CBA, p.0407

5 Os cães infectados naturalmente com Hepatozoon canis apresentaram sinais clínicos inespecíficos e as principais alterações do hemograma foram a anemia e trombocitopenia. Referências: AGUIAR, D.M.; RIBEIRO, M.G.; SILVA, W.B.; DIAS JR, J.G.; MEGID, J.; PAES, A.C. Hepatozoonose canina: achados clínico-epidemiológicos em três casos. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, Belo Horizonte, v. 56, n. 3, p , BANETH, G.; MATHEW, J.S.; SHKAP, V.; MACINTIRE, D.K.; BARTA, J.R.; EWING, S.A. Canine hepatozoonosis: two disease syndromes caused by separate Hepatozoon spp. Trends in Parasitology, Cambridge, v. 19, n. 1, p , BANETH, G.; SHKAP, V.; SAMISH, M.; PIPANO, E.; SAVITSKY, I. Antibody response to Hepatozoon canis in experimentally infected dogs. Veterinary Parasitology, Amsterdam, v. 74, n. 2 4, p , BANETH, G.; WEIGLER, B. Retrospective case-control study of hepatozoonosis in dogs in Israel. Journal of Veterinary Internal Medicine, Lakewood, v. 11, n. 6, p , BERNARDINO, M.G.S.; MEIRELES, M.V.N.; SILVA, E.G.; XAVIER, F.J.R.; SATAKE, F. Prevalência de hepatozoonose canina no município de Areia, Paraíba, Brasil. Biotemas, Florianópolis, v. 29, n. 1, p , MURATA, T.; INOUE, M.; TATEYAMA, S.; NAKAMA, L.S. Vertical Transmission of Hepatozoon canis in Dogs. Journal of Veterinary Medical Science/The Japanese Society of Veterinary Science, v. 55, n. 5, p , RUBINI, A.S.; PADUAN, K.S.; CAVALCANTE, G.G.; RIBOLLA, P.E.M.; O DWYER, L.H. Molecular identification and characterization of canine Hepatozoon species from Brazil. Parasitology Research, Heidelberg, v. 97, n. 2, p. 91-3, TILLEY, L.P.; SMITH JR., F.W.K. Consulta veterinária em 5 minutos: espécie canina e felina. 3 ed. São Paulo: Manole, 2008, 1550p. TIZARD, I. Imunologia Veterinária. 9 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014, 568p. Anais do 38º CBA, p.0408