Anais do 38º CBA, p.0823

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1 HEPATOZOONOSE E ERLIQUIOSE EM CÃO: RELATO DE CASO HEPATOZOONOSIS AND EHRLICHIOSIS IN A DOG: REPORT CASE Jhennifer Dandara Cerqueira CASSIANO¹; Maria de Fátima Pereira de JESUS²; Giulia Rodrigues SUEDDE³; Dinah Becerra 2 ; Stella Barrouin MELO 4 e Daniela Farias LARANGEIRA 4 1Estudante de graduação de medicina veterinária, Universidade Federal da Bahia, jhennifercassiano@hotmail.com 2 Residente da clínica médica de carnívoros domésticos do Hospital Veterinário UFBA 3 Estudante de graduação de medicina veterinária, Universidade Federal da Bahia 4 Professor de clínica de carnívoros domésticos, EMEVZ- UFBA Resumo: O Hepatozoon canis é transmitido principalmente pelo carrapato Rhipicephalus sanguineus, sendo que este vetor pode transmitir concomitantemente outros parasitas como a Babesia spp. e Erlichia sp. Os sinais clínicos são muito inespecíficos, sendo que alguns casos o animal pode apresentar se assintomático. Neste trabalho foi relatado um caso de cão infectado por Hepatozoon spp. e de Ehrlichia sp. apresentando sinais clínicos de apatia, caquexia e desidratação; com alterações no exame hematológico; anemia normocítica hipocrômica, leucocitose com neutrofília e desvio à esquerda e trombocitopenia; bioquímicos; globulinas e FA aumentadas e albumina baixa e foi visualizado o Hepatozoon spp. e a Ehrlichia spp. na citologia dos linfonodos. Após esses resultados foi indicada transfusão sanguínea e prescrito tratamento com analgésicos, vitaminas, antibiótico e protetor gástrico, porém o proprietário não retornou para continuação do caso. Palavras-chave: Hepatozoon sp.; Cão, Ehrlichia sp. Keywords: Hepatozoon sp.; Dog, Ehrlichia sp. Introdução: O protozoário Hepatozoon spp., filo Protozoa, do subfilo Apicomplexa e família Hepatozoidae. Em cães foram descritas duas espécies: Hepatozoon canis e Hepatozoon americanum (MATHEW et al., 2000). Seu ciclo de vida ocorre em dois hospedeiros; no hospedeiro intermediário vertebrado acontece o desenvolvimento assexuado e no hospedeiro definitivo invertebrado ocorre o desenvolvimento sexuado; dentre estes são; carrapatos, ácaros, mosquitos e piolhos (BANETH et al., 2003). No Brasil o principal vetor do Hepatozoon canis e o carrapato Rhipicephalus sanguineus (O DWYER et al., 2001). Anais do 38º CBA, p.0823

2 Enquanto que o Hepatozoon americanum o principal vetor é o carrapato Amblyomma maculatum (MATHEW et al., 1998). A doença causada pelo Hepatozoon canis geralmente apresenta-se de forma leve ou subclínica (BANETH, 2003). A transmissão acontece pela ingestão do carrapato infectado, estes protozoários migram pelo epitélio do tubo digestivo até o sistema porta, parasitando o fígado, pulmões, baço, rins, linfonodos e medula óssea; nesses órgãos eles vão se multiplicar, podendo ocasionar hepatite, pneumonia e glomerulonefrite. Estes protozoários parasitam os leucócitos e o parênquima de tecidos. (BANETH et al., 2003). Os cães infectados se tornam portadores durante anos. (NELSON E COUTO, 2015). Os animais tendem a manifestar sinais clínicos em condições de imunodeficiência e em casos de infecções mistas com outros protozoários como; o Toxoplasma gondii, Babesia spp. e Erlichia spp. (HARMELIN et al., 1992;). Estes sinais clínicos são inespecíficos e se confundem com os sinais de outras enfermidades concomitantes (GAVAZZA et al., 2003; BANETH et al., 2015). Segundo Gondim et al., (1998) os sinais clínicos apresentados são; febre, anorexia, perda de peso, anemia fraqueza dos membros posteriores, descarga ocular e linfoadenomegalia. Os achados laboratoriais em hepatozoon canis costumam variar muito podendo ser anemia normocítica normocrômica, com trombocitopenia e leucocitose neutrofílica (INOKUMA et al., 2002; GONDIM et al., 1998; GAVAZZA et al., 2003) em outros relatos anemia discreta e leucócitos totais normais (PALUDO et al., 2005). Porém alguns animais não apresentaram nenhuma alteração hematológica (EIRAS et al., 2007). O diagnóstico é através da identificação do protozoário nos neutrófilos e monócitos em esfregaços sanguíneos (GONDIM et al., 1998; AGUIAR et al., 2004) e pode ser feito o diagnóstico também por capa leucocitária (KARAGENC et al., 2006). Descrição do caso: Em agosto de 2016 foi atendido no Hospital Veterinário Renato de Medeiros Neto, na cidade de Salvador/Ba, um cão de oito anos de idade, macho, raça labrador, não castrado, pesando 29 Kg, oriundo de São Sebastião do Passé/Ba. Na queixa principal proprietário relatou emagrecimento há 2 meses, leões na pele com presença de larvas de mosca há 1 semana. Durante a anamnese relatou que animal fugiu por alguns dias e foi encontrado apresentando: secreção purulenta bilateral, dificuldade de locomoção e com intensa infestações por pulgas e carrapatos. Anais do 38º CBA, p.0824

3 Ao exame físico, o animal apesentou-se apático, mucosas pálidas, desidratação de 7%, caquético, linfonodos reativos, com infestação de pulgas e carrapatos, presença de miíase nos membros anterior esquerdo, posterior esquerdo e na região coxofemoral, apresentava espasmos musculares nesses membros. Diante dos achados da avalição clínica foi solicitado hemograma, bioquímicos: Uréia, creatinina, ALT, FA, PT e frações, citologia aspirativa dos linfonodos. Prescrito ranitidina, doxiciclina, capstar, analgésicos, carprofeno e vitamina C. Revisão três dias após a consulta; proprietária relata melhora, que animal está bem. Normorexia, normodipsia, normoquesia e urina normal. O hemograma apresentou anemia normocítica hipocrômica, leucocitose com neutrofilia e desvio à esquerda e trombocitopenia; bioquímicos: globulinas e FA aumentadas e albumina baixa. Citologia aspirativa dos linfonodos: foram observados gamontes de Hepatozoon sp. e mórulas de Ehrlichia sp. intracitoplasmáticas. Durante a revisão quatro dias após a consulta; foi verificado melhora do quadro clínico apresentado por: normorexia, normodipsia e normoquesia. Ao final do tratamento foi solicitado exames laboratoriais de controle que apresentaram os seguintes resultados: anemia normocítica normocrômica, com produção de reticulócitos normais, albuminemia, aumento sérico de AST (625), GGT e FA; relação proteína/creatinina urinária e urinalíse normal. Após estes resultados e a ausência de sinais clínicos e queixas adicionais do proprietário, o animal recebeu alta. Discussão: O carrapato R. Sanguíneos podem transmitir ao mesmo tempo o Hepatozoon canis e a Erliquiose canina. O Hepatozoon canis leva ao aumento da susceptibilidade do animal em desenvolver os sinais clínicos da erliquiose (O DWYER et al., 2001). Isso corrobora o que foi encontrado neste relato de caso, a infecção por esses dois protozoários pode ter causado a gravidade do quadro. O diagnóstico deste caso foi observado na citologia de linfonodos divergindo com Gondim et al., (1998) e Aguiar et al., (2004) em que relata o diagnóstico através de esfregaço sanguíneo. Eiras et al., (2007) relatou casos de animais infectados assintomáticos e sem alterações nos exames divergindo com este estudo em que o animal apresentou sinais clínicos e alterações nos exames laboratoriais. Anais do 38º CBA, p.0825

4 Conclusão: Conclui-se que o protozoário Hepatozoon sp é uma doença ocorrente, porém não diagnosticada, devido os sinais clínicos inespecíficos e a ocorrência em conjunto com outras infecções. Ressaltando a necessidade de investigação da hepatozoonose em cães que tiveram carrapato, pois muitas das vezes o animal pode ser assintomático. Referências: AGUIAR, D.M.; RIBEIRO, M.G.; SILVA, W. B.; DIAS Jr, J.G.; MEGID, J.; PAES, A.C. Hepatozoonose canina: achados clínico-epidemiológicos em três casos. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.56, n.3, p , 2004 BANETH, G.; MATHEW, J.; SHKAP, V.; MACINTIRE, D.K.; BARTA, J.R.; EWING, S.A. Canine hepatozoonosis: two disease syndromes caused by separate Hepatozoon spp. TRENDS in Parasitology Vol.19 No.1 January 2003 EIRAS, D.F.; BASABE, J.; SCODELLARO, C.F.; BANACH, D.B.; MATOS, M.L.; KRIMER, A.; BANETH, G. First molecular characterization of canine hepatozoonosis in Argentina: evaluation of asymptomatic Hepatozoon canis infection in dogs from Buenos Aires. Veterinary Parasitology Vol.149 p , GAVAZZA, A.; BIZZETI, M.; PAPINI, R. Observations on dogs found naturally infected with Hepatozoon canisin Italy. Revue Médicine Vétérinaire Vol. 154, n. 8-9, p , GONDIM, L.F.P.; KOHAYAGAWA, A.; ALENCAR, N.X.; BIONDO, A.W.; TAKAHIRA, R.K.; FRANCO, S.R.V. Canine hepatozoonosis in Brazil: description of eight naturally occurring case. Veterinary Parasitology Vol. 74, p , HARMELIN, A.; DUBEY, B.; YOKOBSON, B.; NYSKA, A.; ORGAD, U. Concurrent Hepatozoon canis and Toxoplasma gondii infections in a dog. Veterinary Parasitology Vol. 43, p , INOKUMA, H.; OKUDA, M.; OHNOB, K. SHIMODAC, K.; ONISHIA, T. Analysis of the 18S rrna gene sequence of a Hepatozoon detected in two Japanese dogs. Veterinary Parasitology Vol. 106, p , KARAGENC, T.I.; PASA, S.; KIRLI, G.; HOSGOR, M.; BILGIC, H.B.; OZON, Y.H.; ATASOY, A.; EREN, H. A parasitological, molecular and serological survey of Hepatozoon canis infection in dogs around the Aegean coast of Turkey. Veterinary Parasitology Vol. 135, p , Anais do 38º CBA, p.0826

5 MATHEW, J.S.; EWINGA, S.A.; PANCIERAB, R.J.; WOODSC, J. P. Experimental transmission of Hepatozoon americanum Vincent-Johnson et al., 1997 to dogs by the Gulf Coast tick, Amblyomma maculatum Koch. Veterinary Parasitology Vol. 80, p.1-14, MATHEW, J.S.; VAN DEN BUSSCHE, R.A.; EWINGA, S. A.; MALAYER, J.R.; LATHA, B.R.; PANCIERAB, R.J. Phylogenetic relationships of hepatozoon (apicomplexa: adeleorina) based on molecular, morphologic, and life-cycle characters. The journal of parasitology, vol. 86, n. 2, NELSON, R.W.; COUTO, C.G. Medicina interna de pequenos animais. 5ed. Rio de Janeiro: Elsevier, p O DWYERA, L.H.; MASSARD, C.L.; SOUZA, J.C.P. Hepatozoon canis infection associated with dog ticks of rural areas of Rio de Janeiro State, Brazil. Veterinary Parasitology Vol. 94, p , PALUDO, G.R.; FRIEDMANN, H.; DELL PORTO, A.; MACINTIRE, D.K.; WHITLEY, E.M.; BOUDREAUX, M.K.; Hepatozoon spp.: pathological and partial 18S rrna sequence analysis from three Brazilian dogs. Research Parasitology vol.97, p , Anais do 38º CBA, p.0827