HEPATOZOONOSE CANINA
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- João Pedro Sabrosa Ferreira
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1 HEPATOZOONOSE CANINA Sílvia Letícia Monteiro JUNQUEIRA 1, Tales Dias do PRADO 2, Helton Freires OLIVEIRA³, Thays Nascimento COSTA 4, Luiz Antonio Franco da SILVA Médica Veterinária Residente de Patologia Clínica do Hospital Veterinário da Escola de Veterinária, UFG. 2. Médico Veterinário Residente de Clínica e Cirúrgia de Pequenos Animais da Escola de Veterinária da UFG. 3. Técnico de Patologia Clínica do Hospital Veterinário da Escola de Medicina Veterinária, UFG 4. Aluna da Graduação de Medicina Veterinária, UFG. 5. Professor Associado do Departamento de Medicina Veterinária, Escola de Veterinária, UFG, Goiânia-GO. Rua 18 A, n. 591, apto 502, Ed. Acauã, Setor Aeroporto, CEP , Goiânia GO. lafranco@vet.ufg.br Palavras-chave: hemoparasitose, esfregaço sanguineo, Hepatozoon sp INTRODUÇÃO A hepatozoonose é uma doença descrita em vários países, ocasionada pelo protozoário Hepatozoon spp, que parasita leucócitos e tecidos parenquimatosos, sendo raramente encontrados na musculatura, (BANETH et al., 1997; HARMELIN et al., 1992) principalmente nos carnívoros domésticos (O DWYER et al., 2004). Além da transmissão após a ingestão de carrapatos contendo oocistos maduros de Hepatozoon canis, ficou confirmado por MURATA et al., em 1993, que a transmissão congênita de Hepatozoon canis, da mãe para a ninhada, também é possível, sendo Rhipicephalus sanguineos, que é a espécie de carrapato mais distribuída em todo o mundo, sendo capaz de se adaptar bem a várias condições climáticas, é encontrado em regiões quentes e temperadas, tornando amplo o potencial de distribuição da hepatozoonose; e o Amblyomma ssp. são os principais vetores da doença em cães na América do Sul (BANETH et al., 2000). Os protozoários podem acometer os cães e são intercorrentes a outras enfermidades imunossupressoras (O Dwyer e Massard, 2001). Assim como ocorre em outras doenças transmitidas por carrapatos, tais como ehrlichiose, babesiose e doença de lyme, a porcentagem de animais expostos à doença em áreas endêmicas é muito maior do que a prevalência de doença clínica. A grande parte dos cães infectados por Hepatozoon canis provavelmente apresenta uma doença sub-clínica (BANETH, 2006), mas ocasionalmente são evidenciados sinais clínicos graves como a anorexia, palidez de mucosas, emagrecimento e dores musculares, levando o animal acometido até mesmo à óbito (BANETH & WEIGLER,1997). No Brasil, os relatos de Hepatozoon canis vêm sendo feitos esporadicamente, principalmente como achados casuais em exames de 372
2 laboratório (O DWYER & MASSARD, 2001). Por serem protozoários intracitoplasmáticos grandes, o Hepatozoon canis tem como característica ocupar o centro da célula, comprimindo o núcleo celular (BANETH et al., 2000; BANETH et al., 2002), assim o diagnóstico de rotina da enfermidade em cães baseia-se na identificação de células leucocitárias parasitadas em esfregaços sanguíneos, mas também são utilizadas técnicas como a imunifluorescência indireta (IFI), ELISA e a reação em cadeia de polimerase (PCR) (ALMOSNY,1998). Apesar da importância da enfermidade para a Medicina Veterinária e do problema envolver a Saúde Pública, pelo pequeno número de trabalhos científicos encontrados na literatura consultada, verifica-se que muitos questionamentos sobre a doença ainda não foram respondidos. O objetivo deste estudo é relatar um caso de hepatozoonose.em uma cadela. MATERIAIS E METÓDOS O animal do presente caso foi atendido, no Hospital Veterinário da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Goiás (HV/EV/UFG). Uma cadela, sem raça definida, oito anos de idade, pesando 15 Kg com histórico de emese, anorexia e emagrecimento. Como a suspeita clínica inicial foi de hemoparasitose foram solicitados o hemograma completo, onde a coleta de sangue foi feita por meio de punção da veia jugular, sendo 2ml de sangue destinados ao hemograma, coletado em tubo contendo anticoagulante (EDTA) e 2ml para bioquímica sangüínea, coletado em tubo sem anticoagulante. RESULTADOS E DISCUSSÃO A sintomatologia variada e até inespecífica da doença limitou a conclusão do diagnóstico, especialmente pela semelhança entre sinais clínicos como emese, anorexia, mucosas hipocoradas, apatia e emaciação, evidenciados no presente relato apresentam com outras hemparasitoses. BANETH & WEIGLER (1997), acrescentaram que tais alterações clínicas parecem estar relacionadas à presença de doenças concomitantes, imunossupressão e o grau de parasitismo, reforçando a dificuldade aqui encontrada para se concluir o diagnóstico clínico. Segundo GODIN et al (1997) no Brasil, cães infectados pelo Hepatozoon canis apresentam anorexia, palidez de mucosas, perda de peso, diarréia, dor muscular, vômito, febre, poliúria e polidpsia, concordando, em parte com os achados do presente caso. De acordo com BANETH e WEIGLER (1997), existem diferenças nas alterações clínicas quando comparados cães positivos e negativos para Hepatozoon canis e cães positivos, com baixa e alta parasitemia. Ao exame clínico foram notadas mucosas hipocoradas, apatia e emaciação, que corresponde em parte com os achados clínicos de GONDIM et al., 1998;e PALUDO et al., 2003 que observaram: anorexia, mucosas pálidas, perda de peso, dor, diarréia, vômito, andar cambaleante, febre, poliúria e polidipsia. Freqüência 373
3 cardíaca (Fc), respiratória (Fr) e temperatura (Tr), encontravam-se dentro dos padrões de normalidade. Na pesquisa de hematozoários, realizada em esfregaço sanguíneo, foram encontrados gametócitos de Hepatozoon sp. Já na análise bioquímica, a alaninaaminotransferase (ALT), fosfatase alcalina (FA), uréia (UR) e creatinina (CR) encontraram-se dentro da normalidade. A anemia regenerativa aqui evidenciada, segundo BANETH & WEIGLER (1997), é freqüente nesse tipo de enfermidade. PEREIRA (2008) afirmou que o processo pode apresentar leucopenia, que também é um indicativo de alta parasitemia em casos de Hepatozoon canis. Todavia, apesar da existência de novas técnicas como a imunofluorescência indireta e a biópsia tecidual, no presente caso considerou-se que o melhor meio de diagnóstico da hepatozoonose foi a visualização dos gametócitos em leucócitos por meio de esfregaços sanguíneos, conforme recomendado por O DWYER & MASSARD (2001). Porém, estas estruturas não são sempre detectáveis, pois, em algumas vezes, a parasitemia é intermitente ou o número de gamontes circulantes pode ser bem pequeno (O DWYER et al., 2001). Macintire et al. (1997) observaram que a ocorrência da hepatozoonose não foi influenciada pelo sexo, raça e faixa etária dos animais. Já Baneth e Weigler (1997) citam que a maior ocorrência da doença se dá em jovens com até seis meses e adultos entre 5 e 10 anos, essa prevalência é confirmada no caso, já que o animal descrito tem 8 anos de idade. Apesar de que todas as idades podem ser acometidas. Várias drogas são usadas no tratamento da hepatozoonose canina, embora com resultados controversos. O dipropionato de imidocarb tem apresentado resultados inconsistentes quando prescrito isoladamente. Entretanto, quando associado à tetraciclina ou à doxiciclina tem mostrado resultados satisfatórios (O Dwyer e Massard, 2001), como foi instituído no presente relato, empregando 5mg/SID/IM/dose única de dipripionato de imidocarb (Imizol, Shering-Ploug; Cotia, SP) e 10mg/BID/por 21 dias de Doxiciclina (Neo Doxiciclint, Neo Química). Transcorridos 30 dias após o inicio do tratamento foi realizado novo hemograma e pesquisa de hematozoários, mas, o resultado foi negativo. Acrescente-se que, apesar de enfermidades concomitantes esconderem a importância clínica dessa infecção e o tratamento nem sempre surtir o efeito esperado, alguns relatos demonstram que a prevalência da doença é alta em determinados locais como na Turquia (36,8%) segundo KARAGENC et al (2005) e nas zonas rurais do Rio de Janeiro (39,2%) conforme apontado por O DWYER et al (2001). CONCLUSÃO Os veterinários devem estar atentos para a possibilidade de ocorrência da doença e devem incluí-la na rotina, pois o erro no diagnóstico pode levar a tratamentos inadequados, podendo levar o animal a óbito. Os sinais clínicos da hepatozoonose observadas no presente relato podem não ser suficientes para confirmação do diagnostico, mostrando que o diagnostico laboratorial é o mais confiável. A prevenção desta hemoparasitose deve consistir em um controle efetivo dos vetores (carrapatos) nos cães e no ambiente, com o uso de 374
4 antiparasiticidas externos. Até que se tenha certeza de que não ocorre a transmissão por predação, devem-se impedir os cães de áreas endêmicas de predar outros animais (BANETH, 2006). Assim que a doença for diagnosticada, os clínicos veterinários devem saber que é necessário um tratamento longo para que haja a completa eliminação dos gamontes no sangue circulante (Baneth et al., 2003). Concluiu-se também que o tratamento recomendado foi suficiente para recuperar o animal. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ALMOSNY, N.R.P Erlichia canis (Donatien e Lesquard,1935): Avaliação Parasitológica, Hematológica e Bioquímica Sérica da Fase Aguda de cães e gatos experimentalmente infectados. Tese (Doutorado Em Parasitologia Veterinária), curso de Pós graduação em Ciências Veterinárias, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ. 224p. 2. BANETH, G. & WEIGLER, B Retrospective case-control study of hepatozoonosis in dogs in Israel. J. Vet. Intern. Med. v.11, p BANETH, G.; MATHEW, J. S.; SHKAP, V.; MANCITIRE, D. K.; BARTA, J. R.; EWING, A. Canine Hepatozoonosis: two disease syndromes caused by separate Hepatozoon spp. Journal Parasitology, v.19, p.27-31, BANETH, G. Hepatozoon canis Infection. In: GREENE, C. E. Infectious diseases of The Dog and Cat, Hepatozoonosis. Canada: Saunders, Cap. 74, p GONDIN,L.F.; KOHAYAGAWA,A.;ALENCAR,N.X.; BIONDO,A.W.; TAKAHIRA,R.K.; FRANCO,S.R. Canine hepatozoonosis in Brazil: description of eight naturally ocorring cases. Veterinary Parasitology. v. 74, n.2-4,p , HARMELIN, A.; DUBEY, J. P.; YAKOBSON, B.; NYSKA, A.; ORGAD, U. Concurrent Hepatozoon canis and Toxoplasma gondii infections in a dog. Veterinary Parasitology, v.43, n.1-2, p.131-6, KARAGENC,T.I.; PASA,S.; KIRI,G.; HOSGOR,M.; BILGIC,H.B.; OZON,Y.H.; ATASOY,A.; EREN,H. A parasitological molecular and serological survey of Hepatozoon canis infections in dogs around the Agean coast of Turkey. Veterinary Parasitology, Aticle in press, MACINTIRE, D.K.; VICENT-JOHNSON, N.; DILLON, A.R. et al Hepatozoonosis in dogs : 22 cases ( ). J. Am. Vet. Med. Assoc., v.210, p ,
5 9. MURATA, T.; INOUE, M.; TATEYAMA, S.; TAURA, Y.; NAKAMA, S. Vertical transmission of Hepatozoon canis in dogs. Journal of Veterinay Medical Science, v.55, n.5, p.867-8, PALUDO, G.R.; DELL PORTO, A.; CASTRO e TRINDADE, A.R.; MCMANUS, C.; FRIESMAN, H. Hepatozoon spp.: report of some cases in dogs in Brasília, Brazil. Clin. Microbiol. Rev., v.118, n.3-4, p , O DWYER,L.H.; MASSARD,C.L. Aspectos gerais da hepatozoonoses canina. Clin, Vet. v.31, p.34-40, O DWYER,L.H.; MASSARD,C.L.; PEREIRA,J.C. Hepatozoon canis infection associated with dog ticks of rural áreas of Rio de Janeiro state, Brazil. Veterinary Parasitology. v.94,p , O DWYER,L.H.; SOARES, C.O.; MASSARD,C.L.; SOUZA,J.C.P.; FLAUSINO,W.; FONSECA,A.H Soroprevalência de Borrelia burgdorfori latu sensu associaa à presença de carrapatos em cães de áreas rurais do Estado do Rio de Janeiro, Brasil. Ciência Rural. v. 34,n.1, p PEREIRA,A.M Hepatozoonose canina: aspectos gerais da infecção por Hepatozoon canis em cães( canis familiaris) no Brasil e no mundo. Tese de especialização em Patologia Clínica da Universidade Castelo Branco, Rio de Janeiro, R.J. 43p. 376
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