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1 1 ALTERAÇÕES CLÍNICAS, HEMOSTÁTICAS E TEMPO DE HOSPITALIZAÇÃO DE CÃES COM PANCREATITE AGUDA: 71 CASOS ( ) Fabio Navarro BALTAZAR 1 ; Eric Vieira JANUÁRIO 2 ; Rafael TREVIZAN 3 ; Carla Alice BERL 4 ; Felipe Russo NOGUEIRA 5 ; Ricardo DUARTE 6 1- Médico Veterinário Coordenador Científico, Departamento de Infectologia, Hospital Veterinário Pet Care, São Paulo, SP. fabionavarro@petcare.com.br 2- Médico Veterinário, Departamento de Endocrinologia, Hospital Veterinário Pet Care, São Paulo, SP. 3- Médico Veterinário, Departamento de Terapia Intensiva, Hospital Veterinário Pet Care, São Paulo, SP. 4- Médica Veterinária, Diretoria Clínica, Hospital Veterinário Pet Care, São Paulo, SP. 5- Médico Veterinário, Residente em Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais, Hospital Veterinário das Faculdades Metropolitanas Unidas, São Paulo, SP. 6- Médico Veterinário, All Care Vet; Professor Assistente de Clínica Médica de Animais de Pequeno Porte, Faculdades Metropolitanas Unidas, São Paulo, SP. Resumo A pancreatite canina é uma doença potencialmente fatal, com sintomatologia inespecífica e alta morbidade e mortalidade. O objetivo desse estudo foi descrever as principais características clínico-epidemiológicas, alterações hemostáticas e tempo de hospitalização de 71 casos de pancreatite canina. Observou-se maior ocorrência da doença em indivíduos com mais de 6 anos, fêmeas e das raças Poodle, Yorkshire Terrier e Schnauzer Miniatura. A manifestação clínica mais encontrada foi êmese (76,05%), e comorbidades sistêmicas estavam associadas em 36% dos casos, das quais destacaram-se as endocrinopatias. Os tempos de coagulação encontraram-se alterados em 60% dos pacientes, e o período médio de hospitalização foi 3 dias. Palavras-chave: Pâncreas; Cães; Hemostasia. Keywords: Pancreas; Dogs; Hemostasis Introdução A pancreatite aguda em cães é a inflamação do pâncreas exócrino, com acometimento variável de órgãos adjacentes e remotos. Diferentes fatores são considerados predisponentes para pancreatite canina, tais como obesidade, hiperlipidemia, endocrinopatias, hipercalcemia, consequências iatrogênicas, infecções sistêmicas, refluxo duodenal e pancreático, obstrução de ducto pancreático, doenças hepatobiliares, isquemia e neoplasia pancreáticas (PLUNKETT, 2006; WILLIAMS e STEINER, 2005; MANSFIELD, 2012). ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0067

2 2 Devido à inespecificidade das manifestações clínicas, o diagnóstico complementar deve ser realizado por provas hematológicas, bioquímicas e diagnóstico por imagem concomitantes, levando-se em conta a sensibilidade de cada análise e sua compilação para estabelecimento do diagnóstico definitivo (MANSFIELD, 2012). O objetivo desse estudo foi descrever o perfil clínico-epidemiológico, distúrbios hemostáticos e tempo total de hospitalização de cães com pancreatite aguda. Material e Métodos Foram revisados todos os casos de pancreatite aguda em cães atendidos no período entre 2013 e 2015 no Hospital Veterinário Pet Care (unidade Morumbi). O diagnóstico de pancreatite aguda foi baseado em achados clínicos compatíveis com abdômen agudo associados a alterações ultrassonográficas compatíveis com a doença ou valores de lipase pancreática específica canina >400µg/L. Dos 71 prontuários de cães com diagnóstico de pancreatite atendidos, extraímos informações acerca do perfil, como idade, sexo, raça, peso, manifestações clínicas e comorbidades, além dos tempos de protrombina e tromboplastina parcial ativada, e período total de hospitalização.. Resultados e Discussão Por meio do exame ultrassonográfico abdominal 60/71 animais (aproximadamente 84%) apresentaram alterações compatíveis com pancreatite aguda. A dosagem de lipase pancreática específica foi realizada em 32 pacientes e resultados alterados em ambas as modalidades diagnósticas foram observados em 24/32 destes pacientes (75%). A dosagem de lipase pancreática específica é atualmente considerada o teste de maior sensibilidade e especificidade, para o diagnóstico da pancreatite aguda (XENOULIS e STEINER, 2012; XENOULIS e STAINER, 2013). Dos 71 pacientes incluídos nesse estudo, as raças mais prevalentes foram Poodle e SRD, cada uma com 10 pacientes (14,08%), seguidas de Yorkshire Terrier (n=9 / 12,67%), Schnauzer (n=7 / 9,85%), Maltês (n=6 / 8,45%), Dachshund (n=5 / 7,04%), Cocker Spaniel (n=4 / 5,63%), Pinscher (n=3 / 4,22%), Shih Tzu (n=3 / 4,22%), Labrador (n=2 / 2,81%), Akita (n=1 / 1,40%), Chow Chow (n=1 / 1,40%), Fox ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0068

3 3 Paulistinha (n=1 / 1,40%), Golden Retriever (n=1 / 1,40%), Jack Russel (n=1 / 1,40%), Lhasa Apso (n=1 / 1,40%), Pastor de Shetland (n=1 / 1,40%), Pug (n=1 / 1,40%), Rottweiller (n=1 / 1,40%), Scottish Terrier (n=1 1,40%), Spitz Alemão (n=1 / 1,40%) e West Highland Terrier (n=1 / 1,40%), com média de peso em 10,39 Kg. As fêmeas foram encontradas com maior frequência (n=48 / 67,60%). Ambos os resultados, relacionados a prevalência racial e sexual, confirmam a literatura (WILLARD, 2013). As principais manifestações clínicas foram caracterizaram êmese (n=54 76,05%), disorexia ou anorexia (n=34 / 47,88%), prostração (n=31 / 43,73%), diarreia (n=29 / 40,84%) e dor abdominal (n=18 / 25,35%), muitas vezes observadas simultaneamente no mesmo paciente. Tais achados assemelham-se àqueles encontrados por Haworth e colaboradores (2014), os quais descreveram êmese em 74% dos casos estudados. A média de idade dos pacientes estudados foi de 10 anos e cães com mais de 6 anos corresponderam à grande maioria (n=64 / 90,14%). Apenas 07 pacientes tinham entre 1 a 5 anos. Os achados são semelhantes a outros estudos, nos quais a doença possui maior ocorrência em indivíduos com idade superior a 07 anos (WILLARD, 2013). Comorbidades estavam presentes em 26/71 animais (36,61%), sendo que 19/26 (73%) possuíam endocrinopatias, como diabetes mellitus, hiperadrenocorticismo e hipotireoidismo. Outras doenças associadas foram epilepsia (2/26 7,69%), doença cardiovascular degenerativa (2/26 7,69%), trombocitopenia imunomediada (1/26 3,84%), meningoencefalite granulomatosa (1/26 3,84%) e colecistite (1/26 3,84%). Neste contexto, vale ressaltar a predisposição dos animais com endocrinopatias ao desenvolvimento de pancreatite, especialmente pela hiperlipidemia comumente observada, como em aproximadamente 50% dos pacientes (XENOULIS e STEINER, 2010). Acredita-se que as endocrinopatias possar predispor à pancreatite em decorrência da hiperlipidemia, que é frequente nessas doenças. Além disso, dos 7 animais que apresentavam outras comorbidades não relacionadas a endocrinopatias, 5 recebiam fármacos que podem predispor à pancreatite, como corticoides e anticonvulsivantes (XENOULIS e STEINER, 2010). Os tempos protrombina (TP) e tromboplastina parcial ativada (TTPA) foram realizados em 27 casos, e estavam elevados em 16 (~ 60%). Entre os 27 animais ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0069

4 4 incluídos para este estudo, 14 apresentaram aumento no TTPA, 4 revelaram aumento no TP, e apenas 4 tiveram elevações em ambos os tempos de coagulação. A contagem de plaquetas variou entre e /mm 3 e 5 animais apresentaram trombocitose, enquanto os demais tinham contagem de plaquetas dentro dos valores de referencia. Apenas um cão apresentou trombocitopenia e esse paciente também tinha tempos de coagulação aumentados: TP >99 e TTPA >399, sugestivo de coagulação intravascular disseminada. Os distúrbios da coagulação nos casos de pancreatite aguda muitas vezes estão associados à hemostasia primária envolvendo o consumo de plaquetas, à hemostasia secundária gerando consequências negativas à cascata de coagulação, e à hemostasia terciária ocasionando alterações do sistema fibrinolítico, antitrombóticos e anticoagulantes (TAKAHIRA, 2015). Dos 16 cães que apresentavam alterações nos tempos de coagulação, 7 foram submetidos a transfusão de plasma. Os tempos de coagulação foram mensurados após a transfusão em 3 animais. Apenas um cão apresentou melhora nos tempos de coagulação, enquanto nos outros dois, mantiveram-se alterados. O tempo de hospitalização médio foi de 3 dias: 61/71 pacientes permaneceram internados entre 24 horas e 4 dias (~86%). Desses pacientes, 6/10 foram submetidos à avaliação dos tempos de coagulação e 3 deles os tinham tempos elevados em um ou ambos testes. Conclusão Os achados desse estudo são semelhantes aos descritos por aqueles realizados em outros países. Cães das raças Yorkshire e Schnauzer, fêmeas, com idade superior a 7anos e acometidos por endocrinopatias, são observados com maior frequência. O vômito foi a principal manifestação clínica. Em decorrência do delineamento retrospectivo desse estudo não foi possível relacionar alterações laboratoriais com o tempo de hospitalização. Na maior parte dos casos observou-se um distúrbio na via intrínseca ou comum na cascata de coagulação, evidenciado pela alteração no TTPA. Embora comuns, os distúrbios hemostáticos em cães com pancreatite aguda, não puderam ser associados ao tempo de hospitalização. Referências Bibliográficas ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0070

5 5 HAWORTH, M. D. ; HOSGOOD, G. ; SWINDELLS, K. L. ; MANSFIELD, C. Diagnostic accuracy of the SNAP and Spec canine pancreatic lipase tests for pancreatitis in dogs presenting with clinical signs of acute abdominal disease. Journal of Veterinary Emergency and Critical Care, San Antonio, v.24, p , MANSFIELD, C. Acute Pancreatitis in Dogs: Advances in Understanding, Diagnosis, and Treatment. Topics in Companion Animal Medicine, Amsterdan, v. 27, p , PLUNKETT, S.J. Pancreatite. In: Procedimentos de Emergência em Pequenos Animais. Rio de Janeiro: Revinter, 2006, p TAKAHIRA, R. K. Abordagem ao Paciente Hemorrágico. In: JERICÓ, M. M.; NETO, J. P. A.; KOGIKA, M. M. Tratado de Medicina Interna de Cães e Gatos. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, p VADEN, S. L.; KNOLL, J.S.; SMITH, F.W.K.; TILLEY, L.P.; Blackwell s Five-Minute Veterinary Consult: Laboratory Tests and Diagnostic Procedures. Iowa: Wiley- Blackwell, p WILLARD, M. Pancreatite. In: MAZAFERRO, E.M. Emergências e Cuidados Críticos. São Paulo: Roca, p WILLIAMS, D.A; STEINER, J.M. Canine Exocrine Pancreatic Disease. In: ETTINGER, S.J., FELDMAN, E.C. Textbook of Veterinary Internal Medicine, 6th ed, Saunders Elsevier, St Louis, Missouri, cap. 232, 2005 XENOULIS, P.G.; STEINER, J.M. Lipid Metabolism and Hyperlipidemia in dogs. The Veterinary Journal, Londres, v. 183, p , XENOULIS, P.G.; STEINER, J.M. Canine and feline pancreatic lipase immunoreactivity. Veterinary Clinical Pathology, Massachusetts, v. 41, n. 03, p , XENOULIS, P.G.; STEINER, J.M. Diagnostic evaluation of the pancreas. In: WASHABAU, R.J.; DAY, M.J. Canine and Feline Gastroenterology. St Louis: Elsevier, p ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0071