LEISHMANIOSE EM GATOS (Felis catus) NO MUNICÍPIO DE SÃO LUÍS, MARANHÃO. LEISHMANIASIS IN CATS (Felis catus) IN THE CITY OF SÃO LUIS, MARANHÃO.

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1 LEISHMANIOSE EM GATOS (Felis catus) NO MUNICÍPIO DE SÃO LUÍS, MARANHÃO. LEISHMANIASIS IN CATS (Felis catus) IN THE CITY OF SÃO LUIS, MARANHÃO. Ana Eliza Reis de OLIVEIRA 1 ; Aleska Gabrielle Santos LIMA²; Carla Janaína Rebouças Marques do ROSÁRIO³; Renata Mondêgo de OLIVEIRA 4 ; Eslen Quezia Santos MIRANDA 5 ; Ferdinan ALMEIDA-MELO 6 ; Ana Lucia ABREU-SILVA 6 1Mestranda em Ciência Animal, Universidade Estadual do Maranhão, elizaoliveira.vet@gmail.com 2 Médica Veterinária, Universidade Estadual do Maranhão 3Doutoranda em Biotecnologia - BIONORTE, Universidade Federal do Maranhão 4Doutoranda em Biotecnologia - RENORBIO, Universidade Federal do Maranhão 5Graduanda em Medicina Veterinária, Universidade Estadual do Maranhão 6 Professores Adjuntos, Departamento de Patologia, Universidade Estadual do Maranhão Resumo: A leishmaniose é uma doença amplamente distribuída pelo mundo e por se tratar de uma zoonose tem grande importância para a saúde pública. Apesar da doença já ter sido relatada em gatos, até agora o seu papel na cadeia epidemiológica permanece desconhecido. O presente estudo teve como finalidade avaliar a ocorrência de leishmaniose em gatos (Feliscatus) no município de São Luís, Maranhão. Foram selecionados 73 animais, provenientes de Clinicas Veterinárias da cidade de São Luís, do Hospital Universitário da Universidade Estadual do Maranhão e de alguns abrigos para animais. Após coletas de sangue, as amostras foram centrifugadas para obtenção do soro, para realização do teste sorológico ELISA. Os resultados apontaram que 15,07% dos animais (11/73) apresentaram anticorposantileishmania, evidenciando que os gatos também podem funcionar como reservatórios domésticos do parasito. Palavras-chave:Felinos, imunodiagnóstico, soroprevalência. Keywords:Feline, immunodiagnosis, seroprevalence Introdução: A leishmaniose é uma zoonose amplamente distribuída por todo o mundo. Ocorre nas Américas, na Europa, Ásia, África e existem relatos sobre a doença desde a época colonial. No final do século 19, foram descobertos os agentes etiológicos e Anais do 38º CBA, p.0717

2 Cunningham no ano de 1885, na Índia, descreveu formas do protozoário (RATH et al., 2003). Embora os principais reservatórios mamíferos de Leishmania descritos nas Américas sejam roedores, gambás, endentados, eqüinos, caninos e primatas, temse discutido o papel do gato como hospedeiro deste parasito, em virtude do encontro de vários felinos infectados nos últimos anos. A leishmaniose cutânea é a forma mais frequentemente encontrada nestes animais e vem sendo descrita em vários países, inclusive no Brasil (SIMÕES-MATOS et al., 2004). O primeiro relato de leishmaniose felina no Brasil foi feito por Serrano et al. (2008), na cidade de Araçatuba, São Paulo; área endêmica para leishmaniose visceral. Até pouco tempo atrás, os felinos eram considerados apenas hospedeiros acidentais de Leishmania, entretanto estudos vêm comprovando que o gato apresenta um papel muito importante na cadeia epidemiológica na leishmaniose, sendo um potencial reservatório (MARTIN, 2013). Em decorrência dos sinais clínicos da leishmaniose em felinos serem inespecíficos e semelhantes aos de outras enfermidades, como esporotricose, criptococose, a imunodeficiência felina (FIV) e leucemia felina (FeLV); é necessário a realização de exames laboratoriais para o correto diagnóstico da doença. O diagnóstico pode ser baseado em métodos de pesquisa direta do parasito ou em testes sorológicos, estes últimos amplamente disseminados na rotina clínica veterinária (BRASIL,2007).Desta maneira, o presente trabalho teve como objetivo avaliar a soroprevelência da infecção por Leishmania em gatos na cidade de São Luís, Maranhão. Metodologia: Foram selecionados 73 animais, adultos, escolhidos aleatoriamente, independente de raça, sexo ou da presença de sinais clínicos; provenientes de clínicas particulares, do Hospital Veterinário Universitário e de abrigos de animais. Foi realizada a coleta de 3mL de sangue através de punção da veia cefálica ou jugular. Após coleta, as amostras foram centrifugadas a 3000 RPM por 5 minutos, para separação do soro e posteriormente acondicionadas em tubos cônicos do tipo eppendorf até a realização de teste sorológico através de ensaio imunoenzimático (ELISA indireto), para pesquisa de anticorpos anti-leishmania. Resultados e Discussão: Dos 73 animais estudados, 37 (50,68%) eram machos e 36 (49,32%) eram fêmeas. Em relaçãoàs manifestações clínicas, observou-se que 24 (32,88%) dos animais Anais do 38º CBA, p.0718

3 apresentavam algum sinal clínico compatível com a leishmaniosee 49 (67,12%) eram animais aparentemente saudáveis. Dos animais reagentes ao teste, 6 eram machos (54,56%) e 5 (45,45%) eram fêmeas. Dentre esses animais 6 (54,56%) apresentavam alguma sintomatologia e 5 (45,45%) eram animais que durante o exame físico não apresentavam sinal clínico relacionado a qualquer doença. O município de São Luís é considerado uma área endêmica para leishmaniose. De acordo com o Departamento de Informática do SUS (DATASUS), no ano de 2015 foram registrados 571 casos humanos da doença(datasus, 2016). Costa et al. (1995) explicam que o aumento do número de casos de leishmaniose no município está relacionado com o fato do Maranhão ser um dos estados mais pobres e com um dos menores IDH do país, onde grande parte da população não possui renda ou recebe menos que um salário mínimo. Devido essas condições socioeconômicas houve intenso êxodo rural para a Ilha de São Luís, o que contribuiu para a disseminação da doença tanto na capital como nos municípios que compõem a grande São Luís. Outro fato é que com o aumento da população há conseqüentemente um maior consumo de alimentos, o que gera um maior acúmulo de lixo e atrai animais sinantrópicos. Esse fato é bastante relatado pela população, principalmente da periferia dos municípios, o que contribui para a manutenção do ciclo epidemiológico das leishmanioses. Apesar do número de gatos positivos para Leishmania não ser elevado, quando comparados a cães, deve-se considerar a importância do papel epidemiológico do gato na transmissão da doença. A respeito do método diagnóstico utilizado, o ELISA é um dos métodos preconizado pelo Ministério da saúde. De acordo com o Ministério da Saúde brasileiro, a RIFI (reação de imunofluorescencia indireta) e o ELISA são boas ferramentas para o diagnóstico em Saúde Pública por expressarem os níveis de anticorpos circulantes (BRASIL, 2006). Porém, Martin (2013) em seus estudos afirma que a sorologia não é capaz de medir o grau de parasitismo ou se a doença tem potencial de transmissão para o vetor. Dessa forma, o autor afirma que pode ocorrer reação cruzada e podemos ter resultados falsos positivos e negativos, e que para a confirmação devemos realizar diagnósticos por testes moleculares. Em relação a análise clínica, observou-se que os principais sinais clínicos estavam relacionados a afecções dermatológicas tais como: alopecia nos membros, região do Anais do 38º CBA, p.0719

4 pescoço e dorso, lesões no focinho e na orelha. Além de lesões cutâneas, os animais apresentavam também um quadro moderado de desnutrição. O mesmo resultado foi encontrado por Vides (2010), que observou alterações dermatológicas em 14 animais dos 27 positivos para leishmaniose visceral. Segundo Pirajá (2013), o gato doméstico pode estar infectado por vários tipos de Leishmania e pode apresentar sinais clínicos ou não. Geralmente, além de alopecia, os animais exibem lesões cutâneas nodulares ou ulceradas e localizam-se no focinho, lábios, orelhas e pálpebras. Entretanto, esses sinais clínicos podem não estar relacionados com a presença do protozoário da leishmaniose, uma vez que não foi feito um diagnóstico para descartar outras enfermidades. Vides (2010) também descreve que os sinais clínicos apresentados por esses animais podem está relacionado com outras dermatopatias e patologias e, não, com a leishmaniose. Um fato que dever ser considerado é a coinfecção com enfermidades com FIV e FeLV, que causam imunossupressão e que podem induzir a manifestação da leishmaniose nesses animais. Sobrinhoet al. (2012) sugerem que os gatos desenvolvam uma imunidade celular contra o parasito e que essa imunidade é efetiva no controle da infecção conferindo um grau de resistência no animal. Isso explica o numero de casos assintomáticos encontrados no presente estudo. Conclusão: Diante dos resultados, pode-se afirmar que há a presença de anticorpos circulantes anti-leishmania em felinos domiciliados no município de São Luís, e que, por esta razão, estes animais podem ser considerados reservatórios do parasito.entretanto faz-se necessário a associação de outros métodos de diagnóstico em conjunto ao ELISA, para que se possa aumentar a acurácia do diagnóstico. Referências: BRASIL. Ministério da Saúde.Manual de vigilância e controle da leishmaniose visceral. 1. ed. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, p. BRASIL. Ministério da Saúde.Manual de Vigilância da Leishmaniose Tegumentar Americana. 2. ed.brasília: Editora do Ministério da Saúde, p. COSTA, J.M.L.; VIANA, G.M.C.; SALDANHA, A.C.R.; NASCIMENTO, M.D.S.B.; ALVIM, A.C.; BURATTINI, M.N.; SILVA, A.R.Leishmaniose visceral no estado do Maranhão, Brasil. A evolução de uma epidemia. Cadernos de Saúde Pública,Rio de Janeiro, v.2, n.11, p , Anais do 38º CBA, p.0720

5 DATASUS. Departamento de Informática do SUS. Disponível: ttp://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?sinannet/cnv/leishv. [Capturado em 19 jan. 2016]. MARTIN, M.F.A. Avaliação diagnóstica para Leishmania spp. etrypanosoma cruzi em gatos domésticos procedentes da associação protetora dos animais do município de Ilha Solteira, SP, Brasil f. Dissertação (Mestrado em Doenças Tropicais) - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Botucatu, PIRAJÁ, G.V.; SILVA, D.T.; PERUCA, L.C.B.; ALVES, M.F.; PAIXÃO, M.S.; LUCHEIS, S.B.; DOS SANTOS, W.J.; GUIRALDI, L.M.Leishmaniose felina: revisão de literatura. Veterinária e Zootecnia, São Paulo, v.2, n.2, p , RATH, S.; TRIVELIN, L.A.; IMBRUNITO, T.R.; TOMAZELA, D.M.; JESUS, M.N.; MARZAL, P.C.; ANDRADE JUNIOR, H.F.; TEMPONE, A.G.Antimoniais empregados no tratamento da leishmaniose: estado da arte. Química Nova, São Paulo, v.26, n.4, p , SERRANO, A.C.M.; NUNES, C.M.; SAVANI, E.S.M.; NICOLETII, S.R.; BONELLO, D.F.L.; VASCONCELOS, R.O.;LIMA, V.M.F.; BRESCIANI,K.D.S.Leishmaniose em felino na zona urbana de Araçatuba - SP - relato de caso. Clínica Veterinária, São Paulo,v. 13, n.76, p , SIMÕES-MATOS, L.; BEVILAQUA, C.M.L.; MATTOS, M.R.F.; POMPEU, M.M.L. Feline leishmaniasis: uncommonorunknown? Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias, Lisboa, v.99, n.550, p.79-87, SOBRINHO, L.S.; ROSSI, C.N.; VIDES, J.P.; BRAGA, E.T.; GOMES, A.A.; LIMA, V. M. F.; PERRI, S. H.; GENEROSO, D.; LANGONI, H.; LEUTENEGGER, C.; BIONDO, A.W.; LAURENTI, M.D.; MARCONDES, M. CoinfectionofLeishmania chagasiwithtoxoplasma gondii, FelineImmunodeficiencyVirus (FIV) andfelineleukemiavirus (FeLV) in catsfromanendemicareaofzoonotic visceral leishmaniasis. VeterinaryParasitology, Amsterdam, v.187, n.1-2, p , VIDES, J.P. Infecção por Leishmania chagasiem gatos com dermatopatias provenientes de áreaendêmica para leishmaniose visceral f. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal) - Universidade Estadual Paulista Júlio De Mesquita Filho, Araçatuba, Anais do 38º CBA, p.0721