Palavras-chave : Leishmaniose, cães, neurologia, histopatologia

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1 1 HISTOPATOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL DE CÃES COM LEISHMANIOSE VISCERAL Histopathology of the central nervous system in dogs with visceral leishmaniasis Polliana Alves FRANCO 1 ; Eurípedes Batista GUIMARÃES 2 ; José Roberto ZORZATTO; Alda Izabel de SOUZA 4 1-Medica Veterinária Mestre em Ciência Animal da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. vetanalisa@gmail.com 2-Professor do Departamento de Medicina Veterinária da FAMEZ/UFMS 3-Professor do Departamento de Sistemas de Computação- FACOM/ UFMS 4-Professora do Departamento de Medicina Veterinária da FAMEZ/UFMS Resumo Neste trabalho foram utilizados 48 cães positivos para leishmaniose visceral pelos testes de reação de imunofluorescência indireta (RIF) e ensaio de adsorção enzimática (ELISA) e imunohistoquímica (IHQ) eutanasiados no Centro de Controle de Zoonoses de Campo Grande, MS. Os cães foram distribuídos em dois grupos. O grupo I controle consistiu-se de 24 assintomáticos. Os 24 animais com mais de três sinais da doença constituiu o grupo II. As principais alterações histopatológicas encontrada no SNC de cães com leishmaniose visceral foram degeneração neuronal, gliose difusa, leptomeningite e coroidite com infiltrado linfoplasmocitário, congestão vascular e áreas de hemorragia focal. A progressão da leishmaniose visceral canina intensificou as lesões no SNC. Palavras-chave : Leishmaniose, cães, neurologia, histopatologia Keywords: Leishmaniasis, dogs, neurology, histopathology Introdução A Leishmaniose visceral é uma zoonose cujos parasitos responsáveis estão agrupados no complexo donovani, no Brasil, o agente etiológico da Leishmaniose visceral canina (LVC) é a L. chagasi e seu vetor a Lutzomia (Lutzomyia) longipalpis, é a principal espécie transmissora, embora Mato Grosso do Sul a Lutzomia cruzi também tenha sido indicada como o vetor (NOLI, 1999; FEITOSA et al., 2000). O parasita é transmitido aos hospedeiros vertebrados como no caso de cão, gato, cavalo, roedores, raposa e gambá (BRASIL, 2006). Anais do 38º CBA, p.1395

2 2 O diagnóstico definitivo da doença baseia-se nos sinais clínicos associados à detecção de parasitas no interior de macrófagos através de aspirados de linfonodos, baço, medula óssea e, mais raramente, no sangue, no líquido sinovial e em líquidos cavitários (DANTAS-TORRES, F. 2006; VIEIRA et al., 2007; GOMES et al., 2008). A IHQ, a Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) e a sorologia são considerados métodos auxiliares de diagnóstico (IKEDA-GARCIA e FEITOSA, 2007; GOMES et al., 2008). Metodologia O presente estudo possui objetivo de avaliar as principais alterações no sistema nervoso central de cães portadores da Leishmaniose visceral canina, com esta finalidade foram utilizados 48 cães, de idades estimadas entre 2 e 7anos e ambos os sexos capturados e eutanasiados pelo Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), do município de Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Realizou-se uma triagem dos animais com os testes de imunofluorescência indireta (RIFI) e de ensaio de enzyme-linked immunosorbent assay (ELISA) e imunohistoquímica de pele, baço, linfonodos cervicais superficiais e linfonodos poplíteos para confirmação e identificação dos animais portadores de leishmaniose. Os animais foram divididos em dois grupos de 24 indivíduos cada. O grupo I foi formado com animais assintomáticos. O grupo II constituiu-se de animais com mais de três manifestações clínicas da doença, constituindo-se o grupo sintomático. Dos animais eutanasiados colheram-se fragmentos de cérebro, das regiões do córtex frontal, parietal e occipital; do tálamo e hipocampo; do cerebelo e tronco encefálico incluindo o plexo coróide do quarto ventrículo e a medula espinhal cervical. Depois de fixadas, em formol a 10% tamponado e posteriormente processadas pela técnica rotineira de inclusão em parafina (TOLOSA et al., 2003). Os achados histológicos do encéfalo foram detalhados de forma descritiva e dispostos em tabela de contingência (proporções). Compararam-se as freqüências das alterações histopatológicas no SNC dos grupos sintomáticos e assintomáticos pelos testes de Qui-Quadrado (X²) e Teste Exato de Fisher. As diferenças foram consideradas significativas quando a probabilidade de significância (valor P) foi menor que 0,05. Anais do 38º CBA, p.1396

3 3 Resultados e Discussão As principais alterações histopatológicas encontradas no SNC de cães, com e sem sinais clínicos foram degeneração neuronal, gliose difusa, leptomeningite e coroidite com infiltrado linfoplasmocitário, congestão vascular e áreas focais de hemorragia. O grupo I apresentou 11 (45,8%) animais com lesões no sistema nervoso enquanto no grupo II as lesões foram visualizadas em 22 (91,6%) animais. Nas amostras do sistema nervoso central de cães examinadas pode-se observar infiltrado inflamatório linfoplasmocitário semelhante ao descrito em diferentes tecidos, por Costa et al. (2000) e Soares et al. (2005). A frequência de cães com lesões no SNC foi significativamente maior no grupo II, de animais sintomáticos. Os animais desse grupo apresentaram coroidite, gliose difusa, leptomeningite, neurônios escuros, congestão vascular e hemorragias, com uma freqüência maior que os do grupo assintomático. Estes achados são semelhantes aos observadas por Ikeda et al. (2007), quando investigaram cães portadores de LVC com, e sem sinais neurológicos. De acordo com trabalho de Stamatovic et al. (2008), apesar do encéfalo ser dotado de privilégio imunológico por possuir a barreira hematoencefálica (BHE) e reatividade imune limitada, ele é susceptível à agressão por diferentes tipos de agentes. Existem poucos relatos que suportam tal hipótese na literatura sobre a patogenia da Leishmania no sistema nervoso central, mas estudos indicam que altos níveis de anticorpos anti-leishmania encontrados no líquido cérebro-espinhal possam ser advindos da circulação sanguínea, conforme Lima et al. (2003) é possível passagem destes anticorpos através de lesões na barreira hematoencefálica, uma vez que encontraram extensos depósitos de antígenos de Leishmania e proteínas de alto peso molecular, como as imunoglobulinas, nos espaços intersticiais e intravasculares do plexo coróide. A coroidite foi a alteração mais freqüente observada e trabalhos recentes indicam que ela ocorre devido a depósitos, no plexo coroide, de substâncias, tais como, antígenos de Leishmania, de proteína amilóide secundária a estímulo antigênico crônico e de imunoglobulinas. Conforme relatam Marques et al., 2007, o plexo coróide (PC) responsável pela produção do líquido cefalorraquidiano (LCR) é considerando como um mediador entre a periferia e o cérebro sendo possível a que Anais do 38º CBA, p.1397

4 permita a passagem de moléculas e células, por influência de estímulos inflamatórios sistêmicos. Além disso Melo e Machado, 2009, afirmam que as mudanças promovidas no plexo coróide favorecem o aumento da permeabilidade da barreira hematoencefálica tanto para anticorpos quanto para células e mediadores da inflamação, que além de ativarem o processo inflamatório fazem com que ele se perpetue. O infiltrado inflamatório nas leptomeningites observado nos animais estudados foi intenso e difuso, constituído predominantemente por linfócitos e plasmócitos. Outros autores tais como Ikeda et al. (2007) e Abreu-Silva et al. (2003) observaram elevada frequência da inflamação meningeal nos grupos experimentais. Trabalhos correlacionando as alterações histopatológicas do sistema nervoso, com as demais manifestações clínicas da LVC são escassos, mas com base no conhecimento atual da patogenia deste protozoário nos diversos sistemas, pode-se sugerir que os casos onde foram detectadas lesões histopatológicas no SNC possam ter ocorrido devido à progressão da lesão por estímulo inflamatório crônico ou associação com infecções oportunistas (VINUELLA et al., 2001; IKEDA et al., 2007 ). Conclusões Os resultados encontrados dão subsídios para inferir que o agravamento do quadro clínico dos animais portadores da LVC intensifica as lesões histopatológicas no SNC, observadas, sobretudo na pia-máter e no plexo coróide. Referências ABREU-SILVA, A.L.; CALABRESE, K.S.; TEDESCO, R.C.; MORTARA, R.A.; GONÇALVES DA COSTA, S.C. central nervous system involvement in experimental infection with Leishmania (Leishmania) amazonensis. American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, v. 68, n.6, p , BRASIL, Ministério da Saúde Secretaria de Vigilância em Saúde. Manual de vigilância e controle da leishmaniose visceral, Brasília, ed.2, p.120, COSTA, M. M. S.; LIMA, W. G.; FIGUEIREDO, M. M.; MICHALICK, M. S. M.; TAFURI, W. L.; TAFURI, W. L. Cervical, Mandibular, and Parotid Lymph Nodes of Dogs Naturally Infected with Leishmania infantum: A Histopathologic and Immunohistochemistry Study and Its Correlation with Facial Skin Lesions. Veterinary Pathology, v.45, p , Anais do 38º CBA, p.1398

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