Silício na produção hidropônica de alface.

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1 Silício na produção hidropônica de alface. José Magno Queiroz Luz 1 ; Silése T M Rosa Guimarães 1 ; Gaspar Henrique Korndörfer 1 ; Carlos Eduardo Peres de Oliveira 1 1 UFU-Instituto de Ciências Agrárias, C.Postal 593, Cep Uberlândia MG, jmagno@umuarama.ufu.br RESUMO Avaliou-se nove variedades de alface cultivadas em solução nutritiva com ou sem silício (Sílica Gel) no sistema hidropônico NFT. O experimento foi conduzido na Universidade Federal de Uberlândia, durante os meses de março a maio de O delineamento experimental foi o de blocos casualizados em esquema fatorial 9 x 2 com 3 repetições sendo os fatores: A variedades de alface (I Vera, II Verônica, III Elisa, IV Regina, V Aurélia, VI Tainá, VII Lucy Brown, VIII Uberlândia-10000, IX Mimosa Salad Bowl) e B (solução nutritiva e solução nutritiva contendo silício - 1,5 mmol.l -1 ou 0,09 g.l -1 ). Os parâmetros analisados foram: diâmetro da cabeça, peso seco e fresco de parte aérea e de raiz e análise de silício nas folhas e raízes. As plantas de alface que receberam silício apresentaram um menor tamanho quando comparadas às plantas cultivadas em solução sem silício apesar de ambas terem alcançado tamanho comercial. As alfaces tratadas com silício apresentaram menor problema com doenças e anomalias fisiológicas como queima dos bordos. Dessa forma o silício pode ser uma alternativa viável para produção hidropônica de alface principalmente quando se leva em consideração as novas tendências de mercado por produtos menores, saudáveis e com maior durabilidade. Palavras-chaves: Lactuca sativa, sílica gel, nutrição, hidroponia. ABSTRACT Silicon in hydroponic production of lettuce. It was analyzed nine cultivars of lettuce cultivated in nutritive solution with or without silicon (gel silica) in hydroponics system NFT. The experiment was conducted at Universidade Federal de Uberlândia, during the period between March to May of The experimental delineation was the casualized blocks in 9 x 2 factorial with 3 replication being the factors: A lettuce variety (I- Vera, II- Veronica, III- Elisa, IV- Regina, V- Aurelia, VI- Taina, VII- Lucy Brown, VIII- Uberlandia-1000, IX- Mimosa Salad Bowl); and B (nutritive solution and nutritive solution + silicon 1,5 mmol.l -1 or 0,09 g.l -1 ). The parameters analyzed were: read diameter, dry weight and fresh weight of aerial part and root and analyses of 1

2 silicon in leaves and roots. The plants of lettuce that were treated with silicon were smaller than the ones cultivated in solution without silicon, although both had reached commercial size. The lettuces treated with silicon had fewer problems with diseases and physiologic anomalies like edge burn. This way the silicon can be a viable alternative for hydroponics production of lettuce, mainly when take in consideration the new market tendencies for smaller products, healthy and more durability. Key-words: Lactuca sativa, gel silica, nutrition, hydroponics. Um aspecto fundamental para o cultivo hidropônico é a escolha da solução nutritiva, que deve ser formulada de acordo com o requerimento nutricional da espécie que se deseja produzir, ou seja, em proporções adequadas, todos os nutrientes essenciais para o seu crescimento. No entanto são poucas as informações sobre qual seja a melhor solução. Além disso, fatores como idade das plantas, época do ano e condições climáticas locais, influenciam a eficiência da solução nutritiva (Faquin, 1996). Devido a essa falta de conhecimento a respeito da melhor solução nutritiva estão sendo estudadas inúmeras alternativas de formulações e as fontes solúveis de silício podem ser uma alternativa para melhoria de tais soluções. O silício não é considerado parte do grupo de elementos essenciais para as plantas, pois, sua função ainda não foi bem esclarecida. Entretanto mesmo não sendo essencial na nutrição das plantas sua absorção traz inúmeros benefícios. São reconhecidas as suas influências na resistência das plantas aos ataques de insetos, nematóides, bactérias e fungos na melhoria do estado nutricional, na redução da transpiração e possivelmente também em alguns aspectos da eficiência fotossintética (Korndorfr, 2002). A sua função estrutural na parede celular pode elevar os conteúdos de hemicelulose e lignina, aumentando a rigidez da célula (Barbosa Filho et al., 2001). O sucesso do cultivo hidropônico está diretamente relacionado à solução nutritiva, pois é esta que determina o crescimento das plantas e a qualidade do produto final. Com base nesta afirmação o objetivo deste trabalho foi avaliar o desempenho de nove variedades de alface (Lactuca sativa) cultivadas em solução nutritiva com ou sem silício (Sílica Gel) no sistema hidropônico NFT. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido na Universidade Federal de Uberlândia, durante os meses de março a maio de 2003, em estufa tipo túnel alto. O sistema hidropônico adotado 2

3 foi o NFT (técnica do fluxo laminar de nutrientes). A fonte de silício utilizada foi a sílica gel de origem japonesa com SiO 2 = 20%; H 2 O = 80%. A solução nutritiva utilizada foi proposta por Furlani et al. (1999). O delineamento experimental foi o de blocos casualizados em esquema fatorial 9 x 2 com 3 repetições sendo os fatores: A variedades de alface (I Vera, II Verônica, III Elisa, IV Regina, V Aurélia, VI Tainá, VII Lucy Brown, VIII Uberlândia-10000, IX Mimosa Salad Bowl) e B (solução nutritiva e solução nutritiva contendo silício - 1,5 mmol.l - 1 ou 0,09 g.l -1 ). A solução nutritiva foi preparada a partir da água da rede urbana utilizando um kit para hidroponia fornecido pela empresa Gioplanta Comercio e Representação Agrícola Ltda., denominado kit básico. Foram ajustados a condutividade elétrica e o ph das soluções de acordo com a recomendação da cultura. O manejo da solução nutritiva foi realizado diariamente através da reposição da água consumida e do acompanhamento da condutividade elétrica (C.E.) e ph. A correção do ph foi realizada com uma solução de NaOH 1mol L -1, mantendo-o entre 5,5 a 6,5. Quando todas as plantas da bancada atingiram o ponto de colheita (tamanho comercial) foram avaliadas as características: diâmetro da cabeça, peso fresco de parte aérea e raiz de duas plantas centrais da parcela. As plantas de cada parcela foram submetidas a uma pré-secagem dentro da casa de vegetação e a uma secagem em estufa para avaliação de peso seco de raiz e parte aérea. Após essa avaliação essas amostras foram moídas para a realização da análise de silício nas folhas e raízes, utilizando-se a metodologia de Elliot e Snyder (1991) adaptada. A determinação do silício foi realizada em um colorímetro com comprimento de onda de 410 nm. Os resultados foram analisados estatisticamente com auxílio do programa SANEST (Zonta & Machado, 1984). RESULTADOS E DISCUSSÃO As plantas de alface cultivadas em solução nutritiva com silício apresentaram um menor diâmetro de cabeça, uma menor massa fresca e seca de parte aérea e de raiz não diferindo, no entanto, da solução sem silício para a porcentagem de silício na raiz (Tabela 1). Provavelmente o silício interfira na absorção de algum dos nutrientes essenciais para a alface. TABELA 1. Diâmetro de parte aérea, massa fresca de parte aérea e raiz (MFPA, MFRA), massa seca de parte aérea e raiz (MSPA, MSRA) e porcentagem de Silício na raiz (Si RA) 3

4 de plantas de alface cultivadas em sistema hidropônico em solução nutritiva com e sem silício. UFU, Uberlândia MG, Tratamentos Variáveis Analisadas sem Si com Si Diam. MFPA MFRA MSPA MSRA Si RA (cm)... (g)... % 28,02 a 287,81 a 44,84 a 11,95 a 1,57 a 0,66 a 26,55 b 226,52 b 36,66 b 9,91 b 1,37 b 0,66 a C.V. 3,71 7,67 5,70 7,53 5,75 15,48 DMS 0,11 0,70 0,20 0,14 0,04 0,05 Medias seguidas por letras iguais na coluna não diferem entre si ao nível de 5% de significância pelo teste de Tukey. Com relação a variável diâmetro de parte aérea a cultivar que apresentou maior diâmetro foi a Mimosa não diferindo estatisticamente, no entanto dos demais grupos de alface de folhas soltas. Já as cultivares do grupo americana (Lucy Brown e Tainá) apresentaram diâmetro de parte aérea menor. Esses resultados já eram esperados, pois o espaçamento entre canais e entre plantas foi inferior ao recomendado a essas cultivares (Tabela 2). As cultivares que apresentaram maior massa fresca e seca de parte aérea foram as do grupo americana (Lucy Brown e Tainá) não diferindo da cultivar Aurélia. Essa superioridade pode ser explicada pelas características agronômicas destas cultivares (Tabela 2). Todas as cultivares tiveram um bom desempenho em relação à massa fresca de raiz não havendo nenhuma diferença estatística entre elas. Já para massa seca de raiz foi observada diferença estatística sendo a cultivar Aurélia superior às demais, apesar de não ter diferido das cultivares: Lucy Brown, Tainá, Vera, Verônica, UDI e Mimosa (Tabela 2). As cultivares Tainá e Elisa apresentaram as maiores porcentagens de silício nas raízes com 0,77 e 0,75% de silício respectivamente. Essas cultivares só diferiram estatisticamente da cultivar Aurélia que apresentou uma porcentagem de silício de 0,46% sendo no entanto inferior às demais (Tabela 2). TABELA 2. Diâmetro de cabeça, massa fresca de parte aérea e raiz (MFPA, MFRA), massa seca de parte aérea e raiz (MSPA, MSRA) e porcentagem de Silício na parte aérea e raiz (Si PA, Si RA) de plantas de alface cultivadas em sistema hidropônico, média dos tratamentos com e sem Si. UFU, Uberlândia MG, Cultivares Variáveis Analisadas Diâm MFPA MFRA MSPA MSRA SiRA cm (g)... % 4

5 LucyBrown 23,14 c 452,33 a 38,10 a 14,63 ab 1,42 ab 0,63 ab Tainá 22,98 c 410,69 a 35,61 a 13,88 ab 1,32 ab 0,77 a Elisa 24,91 bc 163,82 c 34,44 a 7,78 c 1,14 b 0,75 a Regina 25,53 abc 176,66 c 37,71 a 7,65 c 1,20 b 0,68 ab Vera 28,13 abc 238,40 bc 37,89 a 10,62 bc 1,33 ab 0,70 ab Verônica 30,09 ab 214,81 c 40,21 a 9,63 bc 1,31 ab 0,68 ab Aurélia 29,53 abc 341,49 ab 58,53 a 16,95 a 2,50 a 0,46 b UDI ,12 ab 223,35 bc 42,40 a 10,79 bc 1,65 ab 0,53 ab Mimosa 31,92 a 166,96 c 43,17 a 8,05 c 1,45 ab 0,51 ab C.V. (%) 4,23 7,69 6,41 8,09 9,84 14,59 DMS 0,64 3,57 2,08 0,79 0,40 0,27 Medias seguidas por letras distintas na coluna diferem entre si ao nível de 5% de significância pelo teste de Tukey. Houve interação significativa entre o fator cultivar e silício. Na solução nutritiva com silício a cultivar que apresentou maior acúmulo deste elemento na parte aérea foi a UDI com 0,33%, não diferindo estatisticamente da cultivar Mimosa com 0,24% de silício. A cultivar UDI também apresentou maior acúmulo deste elemento com 0,30% quando em solução nutritiva sem silício não diferindo apenas da Verônica com 0,22% de silício (Tabela 3). As plantas cultivadas em solução sem silício, apesar de conter esse elemento em sua composição, apresentaram valores muito menores. Esse fato pode ser explicado pelo silício ser um elemento muito abundante na natureza estando assim presente em toda parte inclusive na água, só que em menor quantidade quando comparado ao tratamento acrescido de silício. As variedades de alface Tainá, Lucy Brown, Uberlândia e Aurélia apresentaram sintomas de queima dos bordos Tip burn, sendo estes em maior proporção nas plantas cultivadas em solução nutritiva sem acréscimo de silício. Essas cultivares são susceptíveis a esse distúrbio fisiológico que está relacionado à desestruturação da parede celular, a altas temperaturas do ar, a deficiência de Ca e a altas concentrações salinas do meio (Fontes, 2003). TABELA 3. Interação entre cultivar e solução nutritiva em plantas de alface cultivadas em sistema hidropônico. UFU, Uberlândia-MG, Cultivares Solução nutritiva Com silício Sem silício UDI ,33 Aa 0,30 Aa Mimosa 0,24 Aab 0,13 Bbc Lucy Brown 0,18 Abc 0,03 Bd Aurélia 0,18 Abc 0,13 Abc Elisa 0,13 Abc 0,06 Bcd Verônica 0,13 Bbc 0,22 Aab Regina 0,13 Abc 0,12 Abc 5

6 Vera 0,10 A c 0,08 Acd Tainá 0,10 Ac 0,03 Bd Medias seguidas por letras distintas na coluna diferem entre si ao nível de 5% de significância pelo teste de Tukey. O silício tem um importante papel na estruturação das plantas. Sua presença na parede celular pode elevar os conteúdos de hemicelulose e lignina, aumentando a rigidez da célula, atuando no aumento da produção de grãos em arroz (Barbosa Filho et al., 2001). O silício pode ser uma alternativa viável para produção hidropônica de alface principalmente quando se leva em consideração as novas tendências de mercado por produtos menores, saudáveis e com maior durabilidade. LITERATURA CITADA BARBOSA FILHO, M.P.; SNYDER, G.H.; FAGERIA, N.K.; DATNOFF, L & SILVA, O.F.Silicato de cálcio como fonte de silício para arroz de sequeiro. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v. 25, n. 2, p , abr/jun ELLIOTT, C.T., SNYDER, G.H. Autoclave-induced digeston for colorimetric determination of silicon in rice straw. Journal Agronomic Food Chem. v. 39, n.6, p FAQUIN, V.; FURTINI NETO, A.E.; VILELA, L.A. Produção de alface em hidroponia. Lavras: UFLA, p. FONTES, P.C.R. Podridão apical do tomate, queima dos bordos das folhas de alface e depressão amarga dos frutos em maçã: deficiência de Ca?. Horticultura Brasileira, v.21, n. 2, p. 144, abril/junho FURLANI, P.R.; SILVEIRA, L.C.P.; BOLONHEZI, D. & FAQUIM, V. Cultivo hidropônico de plantas. Campinas: Instituto Agronômico, p. Boletim técnico, 180. KORNDORFER, G.H.; PEREIRA, H.S. & CAMARGO, M.S. Silicato de cálcio e magnésio na agricultura. Uberlândia: GPSi ICIAG UFU, p. Boletim Técnico, 01. ZONTA, E.P.; MACHADO, A.A. SANEST Sistema de análise estatística para microcomputadores. Instituto Agronômico de Campinas SEI nº ,