Cuidados com base em Valor está redefinindo a Assistência de Saúde na América Latina?
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- Márcia Costa Soares
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1 Cuidados com base em Valor está redefinindo a Assistência de Saúde na América Latina? Próximas Fronteiras no Acesso ao Mercado Henrique Neves Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein Diretor Geral 1
2 Value Based HealthCare Brasil O sistema público de saúde brasileiro atende 75% da população, porém recebe apenas 46% do valor total de recursos, resultando em uma alocação mais baixa de recursos públicos per capita e uma correspondente qualidade mais baixa da assistência aos usuários do SUS. Para aumentar a eficiência, o governo criou o CONITEC (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologia no SUS), que faz a avaliação de novas tecnologias em saúde e apoia a elaboração de diretrizes clínicas, porém a assistência com base em valor não é o foco principal. Principais desafios: 1 Não há políticas nacionais para organização da prestação de serviços de saúde em unidades integradas 2 Os sistemas são organizados por níveis da assistência e os registros não são vinculados 3 Alto nível de fragmentação no sistema de saúde 4 Apenas 10% das instituições de saúde locais utilizam prontuários de saúde eletrônicos Fonte: The Economist, 2016, 2
3 Value Based HealthCare Chile A cobertura de saúde universal do país é fornecida tanto por fundos privados de seguro de saúde, como pelo Fondo Nacional de Salud FONASA, sendo que este cobre cerca de 80% da população. Apesar desta alta cobertura, o setor público tem um baixo investimento, o que gera uma grande desigualdade assistencial e, por esta razão, o governo chileno constituiu o GES (Garantías Explícitas en Salud) que estabeleceu pagamentos por pacote de doenças priorizadas. O setor privado, através do ISAPRE (Instituições de Saúde Previsional) adotou práticas de gerenciamento baseadas em valores, como a organização da entrega de saúde em unidades integradas, mas que ainda não fazem parte da estratégia nacional de saúde. Principais desafios: 1 O país possui múltiplos registros de doenças, porém o acesso à informação para fins de pesquisa é limitado 2 O Egresos Hospitalarios, um registro obrigatório para todas as internações hospitalares, fornece estatísticas sobre o sistema de saúde chileno, porém as informações de desfechos dos pacientes não são coletadas por nenhum sistema 3 O governo coleta dados de custo do tratamento do paciente para fins de financiamento, porém os dados não abrangem todas as doenças e condições ou todos os prognósticos. Fonte: The Economist, 2016, 3
4 Value Based HealthCare Colômbia Mais de 95% da população colombiana têm acesso ao seguro saúde privado ou público no entanto, há desigualdades assistenciais, constituindo uma barreira para o uso efetivo dos serviços. Em 2012 foi criado o IETS (Instituto de Evaluación Tecnológica em Salud) que provê suporte na decisão de alocação de recursos, produz avaliações de tecnologia da saúde e revisão de diretrizes clínicas baseadas em evidências com o objetivo de melhorar a eficiência e a qualidade dos cuidados de saúde. Principais desafios: 1 Em 2016, o governo implementou um novo modelo de pagamento por desempenho (Politica de Atencion Integral en Salud) estabelecendo padrões de qualidade e medição de desfechos, porém a infraestrutura de dados de saúde do país ainda requer melhorias 2 Os registros de saúde eletrônicos são usados em um ambiente limitado e não são interoperáveis entre os hospitais 3 O setor privado possui pouco incentivo para melhorar a qualidade dos cuidados sem aumentar os custos Fonte: The Economist, 2016, 4
5 Value Based HealthCare México Com a finalidade de prover saúde universal de qualidade, o México criou o CENETEC Centro Nacional de Excelencia Tecnologica en Salud, uma organização de avaliação de tecnologia da saúde (HTA) que desenvolve diretrizes clínicas baseadas em evidências e avalia investimentos em tecnologias médicas. O México fez progressos notáveis na coleta de dados epidemiológicos, mas não possui uma ampla coleta de dados padronizados sobre desfechos e registros de saúde interoperáveis para facilitar o monitoramento e a melhoria da qualidade dos cuidados de saúde. Principais fatos e desafios: 1 FUNSALUD (Fundacion Mexicana para ala Salud A.C), um think tank que promove medições de qualidade e padronização em hospitais públicos e privados 2 CASALUD (Fundacion Carlos Slim Salud), uma organização de saúde sem fins lucrativos, promove um melhor uso da tecnologia e dos registros de saúde para melhorar os cuidados a custos reduzidos 3 SINAVE (National System for Epidemiological Vigilance) coleta e reporta informações nacionais, mas pouco se sabe sobre a qualidade da saúde e não há infraestrutura de dados para medir resultados ou métricas de atendimento ao paciente Fonte: The Economist, 2016, 5
6 Value Based HealthCare Análise Comparativa Alinhamento geral Moderado Domínios Capacitação de contexto, políticas e instituições para gerar valor no setor de saúde Moderado Moderado Mensuração de resultados e custos Moderado Assistência integrada e centrada no paciente Moderado Alto Moderado Abordagem de pagamentos com base em resultados Fonte: The Economist, 2016, Moderado 6
7 Em geral, os sistemas de saúde estão diante de demanda e custos crescentes, consumindo uma parcela importante do PIB e com potencial de inibir o crescimento econômico América Latina¹ (% do PIB gasto em saúde) Brasil¹ (% do PIB gasto em saúde) 7,2 7,1 7,0 7,2 7,3 8,3 8,5 8,3 9,0 9, O percentual do PIB destinado à saúde no Brasil é maior do que a média dos países latinos, porém está abaixo do restante do mundo que está com média próxima dos 10,0%². Fonte: ¹: Banco Mundial; ²: Estado de São Paulo Orçamento para saúde no Brasil fica abaixo da média mundial ( ) 7
8 A principal razão para o crescimento de gastos em saúde no Brasil é o aumento da frequência de uso, que é resultado de vários fatores, entre eles: Modelo de remuneração baseado no fee for service Mecanismos limitados de compartilhamento de custos com os pacientes Falta de informações que permitam continuidade do cuidado e a gestão sistêmica Esforços de prevenção limitados 8
9 Pelo menos no Brasil, a sustentabilidade do atual modelo parece estar em xeque, pois ao aumento de gastos somou-se uma redução do número de beneficiários O principal motivo da queda do número de beneficiários foi o aumento do desemprego provocado pela recessão econômica do país Devido aos altos gastos com saúde, as empresas optaram pela co-participação e o downgrade dos planos, restringindo o acesso dos beneficiários Ao perder o acesso à saúde privada, a população migra para o Sistema Único de Saúde, sobrecarregando o sistema O número de beneficiários cresceu 3,4% a.a. de 2009 a 2014, porém desde 2015 vem apresentando uma queda CAGR= 3,4% CAGR= -1,2% 42,6 44, ,8 49,4 50,4 49,3 47,9 47,4 47,5 48,7 50,2 51,7 53,2 11,5 12,9 12,8 12,3 11,8 8,6 11,3 8,3 7,6 7,3 7,0 6,7 8,4 10,8-0,1 0,5 0,3 2,5 3,0 3,0 3,0 3,0 7,5 3,9-3,8-3,6 1,9 3, Beneficiários de planos privados de saúde (milhões) PIB (%) Taxa de Desemprego (%) ¹Folha de São Paulo 28/04/17; relatório Itaú Brasil Macro 31/05/2017. Fonte Gráfico: Bradesco/ ANS/ Estimativas SD&W, IESS Jun/17 Planejamento Estratégico Einstein 9
10 O modelo baseado no Value Based Care vem sendo apresentado como a solução Valor para o paciente = Desfechos Custos Um modelo baseado em gerar valor para o paciente, com foco no resultado e na qualidade dos serviços prestados e na consequente diminuição dos custos atrelados a eles. Embora a equação pareça óbvia, definir de forma unívoca desfechos e custos não é um exercício trivial, particularmente levando em consideração que esta definição é importante para exercícios de benchmark. Better Health is the goal, not more treatment Quality improvement is the most powerful driver of cost containment and value improvement 10
11 Novos modelos estão se expandindo, não por força de intervenção regulatória ou de ações iniciadas pelos prestadores de serviços, mas por imperativo econômico, que é a redução dos recursos disponíveis Histórico de sinistralidade dos planos (%) Determinantes da variação do sinistro (R$ MM) 2002 a ,0 79,1 81,4 81,5 81,4 79,7 80,5 80,3 83,0 81,2 82,4 84,3 85,0 84,6 84,8 73,4 30,3 135,5 20,4 11,3 O aumento da sinistralidade em 50% nos últimos 15 anos pressiona também o sistema para a adoção do VBC Sinistro 2002 Aumento de volume Aumento de uso Aumento de preço e variação Sinistro 2016 Com o aumento dos custos de saúde superior à inflação que em 2016 fechou em 20,4%, decorrente do descontrole do aumento da frequência de uso, a adoção de novos modelos torna-se inevitável e é uma saída para lidar com o aumento dos custos de saúde. Fonte: IESS, ANS, IBGE. *1º semestre, Relatório Compass 11 11
12 A boa notícia é que o potencial de melhorar os resultados e reduzir custos é praticamente ilimitado 01. Educação em Saúde A Educação em Saúde da população em geral é resultado da tendência de busca de Saúde e Bem-Estar. 04. Melhoria da Qualidade da Informação Uso de bases informacionais para processar dados de maneira inteligente em toda a cadeia melhorando a qualidade, eficiência e reduzindo o custo. Exemplo: Big Data, Prontuário Eletrônico 02. Prevenção Prevenção, Promoção e Vigilância devem ser os principais norteadores do sistema. Value Based Care 05. Micro-gestão de processos Identificar possíveis ganhos de eficiência operacional. 03. Adequação dos recursos e gestão da capacidade Fim de um modelo Hospitalocêntrico: o hospital apenas para casos de alta complexidade. Incentivo à atenção primária e ambulatórios de média complexidade. 06. Melhor formação dos médicos Uma formação técnico-científica voltada para a promoção da saúde e prevenção de doenças, mais proativo e menos reativo. Uma visão sistêmica e de controle de custos. 12
13 Serviços com base em valor ainda estão no início na América Latina, mas seu potencial para melhorar os resultados de cuidados e reduzir os custos é evidente Clínica Cuidar Clínicas Ambulatoriais Programa de Ortopedia Foco em promoção de saúde através do acompanhamento contínuo da saúde (Médico de Família) para todos os colaboradores e dependentes Contribuindo para a desospitalização, as novas clínicas ambulatoriais oferecem consulta multiprofissional, imunização, coleta de exames, nebulização e educação em saúde Padronização de protocolos e práticas, cujo objetivo é evitar o excesso de indicação de cirurgias desnecessárias Telemedicina Uma evolução na interação médico-paciente de forma a possibilitar modelos de atendimento não centrado exclusivamente na atenção hospitalar presencial É importante investir fortemente na coleta e sistematização de informações que ajudem a tomada de decisões a fim de oferecer a assistência mais efetiva nas diversas condições e reconhecer que a mudança do modelo de remuneração será realizado ao longo do tempo 13
14 O ICOS defende: Uma das respostas no Brasil foi a criação do Instituto Coalizão Saúde (ICOS), formado por representantes da cadeia produtiva do setor de saúde que pretende contribuir, de forma propositiva e pluralista, para o debate e a busca de novos avanços na área, em resposta às demandas da população e às necessidades do país. Estimular a mudança cultural para o foco em promoção da saúde através de maior educação da população e atuação do empregador Fortalecer a atenção primária, principalmente no setor privado, valorizando a medicina da família e uso de multiprofissionais Ampliar acesso a medicamentos e garantir maior adesão a tratamentos Estimular e pilotar modelos inovadores de atenção Construir uma agenda nacional para inovação, respaldada por uma maior agilidade regulatória e maior integração da pesquisa acadêmica com a cadeia Estimular modelos assistenciais com foco no idoso e no doente crônico Estabelecer processo e governança para protocolos clínicos de referência nacional Iniciar discussão sobre os diferentes modelos de pagamento buscando maior alinhamento de incentivos Criar capacidade para consolidação, análise e divulgação de dados nos sistemas público e privado Integrar dados do paciente de forma centralizada por meio de prontuário eletrônico Reorganizar o sistema de redes de atenção na busca de maior eficiência e escala 14
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