LEVANTAMENTO DAS CONDIÇÕES DOS PULVERIZADORES UTILIZADOS EM LAVOURAS DE ALGODÃO NO ESTADO DE GOIÁS 1º ANO 1
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1 LEVANTAMENTO DAS CONDIÇÕES DOS PULVERIZADORES UTILIZADOS EM LAVOURAS DE ALGODÃO NO ESTADO DE GOIÁS 1º ANO 1 Cassiano Lomeu de Castro Borges (Fundação GO / cassiano@fundacaogo.com.br), Lênio Urzêda Ferreira (Fundação GO), Márcio Antonio de Oliveira e Silva (Fundação GO), Márcio Silvano da Silva (Fundação GO), Adriano Fernandes dos Santos (Fundação GO), Adriano Severino de Queiroz (Fundação GO), Paulo César Bettini (Syngenta Proteção de Cultivos Ltda.), José Ednilson Miranda (Embrapa Algodão), Washington Luiz Posse Senhorelo (Fundação GO) RESUMO Uma boa qualidade de aplicação de defensivos agrícolas é de fundamental importância para o sucesso do controle fitossanitário das culturas agrícolas. Com vistas no entendimento da qualidade destas aplicações, conservar a saúde do aplicador e diminuir os impactos ao meio ambiente, foram realizados levantamentos por amostragem em diversos equipamentos de aplicação terrestre nas lavouras cotonícolas do Estado de Goiás. O objetivo do trabalho é conhecer e avaliar os equipamentos de pulverização e como estão sendo utilizados, detectando os problemas pontuais e fatores que interferem na qualidade das pulverizações. Foi observado que a grande parte dos pulverizadores avaliados, apesar de relativamente novos, estão sendo utilizados em condições inadequadas em vários itens com destaque o controlador de vazão, água para o sistema de tríplice lavagem, inclinação na barra, rotação de trabalho e antigotejadores. Dados alarmantes foram obtidos no tocante à segurança da aplicação, sendo que na maioria das vezes o uso de EPIs é ignorado. Nota-se a necessidade de orientação dos produtores quanto a estes problemas de modo a aperfeiçoar o controle fitossanitário, reduzir o custo, garantindo a rentabilidade da cultura e, principalmente, salvaguardar a saúde dos aplicadores. Palavras-chave: tecnologia de aplicação, defensivos agrícolas, aplicações fitossanitárias. INTRODUÇÃO Dentre as várias tecnologias desenvolvidas para o agronegócio brasileiro, a mecanização pode ser considerada entre as principais técnicas que influenciaram o aumento da área cultivada, bem como o rendimento das culturas (SANTOS, 2005). Os defensivos agrícolas são aplicados para controlar plantas daninhas, patógenos e pragas. Como resultado espera-se que os prejuízos causados à produtividade da cultura pelos agentes biológicos sejam minimizados. Ao mesmo tempo, o uso correto visa eliminar eventuais problemas de fitotoxicidade às plantas de interesse econômico decorrentes de aplicações inadequadas, bem como salvaguardar a saúde tanto do operador quanto dos consumidores, causar o mínimo impacto ambiental possível e ser economicamente viável. O problema em atingir tais resultados está na dificuldade de controlar os fatores que estão interagindo e influenciando o processo de pulverização. Os setores industriais e de serviços há muito tempo estão adotando programas de gerenciamento que visam oferecer ao consumidor produtos e serviços de qualidade, de custo acessível 1 Trabalho financiado pelo Fundo de Incentivo à Cultura do Algodão em Goiás FIALGO.
2 e de produção ambientalmente correta, sendo que o setor primário necessita ter a mesma postura (SOUZA, 1997). Segundo Trindade et al. (2000), implantar a qualidade na empresa agrícola significa envolver as pessoas no processo produtivo, motivando-as para que utilizem a sua criatividade e contribuam na melhoria dos processos. Neste contexto as ferramentas da qualidade surgem como elemento facilitador na implantação de sistemas de qualidade tendo-se em vista a melhoria contínua dos processos. No setor agropecuário, a implantação de programas de qualidade já é considerada uma nova forma de gerir o processo. Considerando a hipótese de que a partir da utilização de ferramentas da qualidade total é possível desenvolver uma metodologia prática e eficiente para atestar a qualidade dos processos de pulverização. A ferramenta check-list ou lista de checagem pode auxiliar a relembrar as etapas das operações de controle químico durante toda a safra, contribuindo enormemente para a obtenção da qualidade total. No Brasil não se tem registro de obrigatoriedade de um programa de inspeção de pulverizadores, mas se tem apenas registros de ações isoladas de pesquisa neste sentido. Entrementes, dada à importância do tema para a garantia da eficiência do controle fitossanitário nas lavouras do Cerrado brasileiro, percebe-se a urgência da implementação de medidas que colaborem para a correção de erros por vezes grosseiros que se verificam cotidianamente nas fazendas agrícolas (MIRANDA e BETTINI, 2006). Boas condições dos pulverizadores são pré-requisitos primordiais para que se possa obter a eficiência desejada da pulverização, com base nestes fatos, o objetivo do presente trabalho foi avaliar à situação dos equipamentos de aplicação terrestres e cuidados na proteção individual dos aplicadores. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi realizado junto às propriedades agrícolas que cultivam algodão no Estado de Goiás, com a estrutura e logística existente para o Plano Estratégico de Controle do Bicudo em Goiás, através dos monitores, cuja execução está a cargo da Fundação GO. A lista de checagem ou check list foi elaborada com itens relacionados á marca, características físicas, acessórios, manutenção dos equipamentos e uso do EPI por parte do operador na aplicação e aplicadores de produtos fitossanitários das referidas propriedades. A partir deste levantamento efetuado durante as visitas dos monitores do Projeto Bicudo, cada item da máquina foi avaliado visualmente de acordo com os parâmetros escolhidos para a avaliação e repassados para a planilha padrão de verificação. Pulverizadores terrestres foram avaliados através de constatação in loco e entrevistas com os operadores durante o funcionamento dos equipamentos, visando obter diversas informações relacionadas aos equipamentos, modo de utilização e cuidados na segurança da aplicação. A obtenção dos dados foi feita por cada monitor do Projeto Bicudo com as suas respectivas regiões de trabalho (Tab. 1). As informações apresentadas no presente trabalho referem-se aos dados obtidos e tabulados referentes à safra 2006/07, sendo que o check list será conduzido e aprimorado no decorrer das próximas safras, a fim de se obter dados conclusivos da real situação da tecnologia de aplicação utilizada pelos cotonicultores do Estado de Goiás.
3 Tabela 1. Regiões produtoras de algodão visitadas, número de pulverizadores avaliados e número de propriedades com a atividade da cotonicultura visitadas em Goiás. Safra 2006/2007. Região N 0 de pulverizadores N de propriedades visitadas Mineiros, Chapadão do Céu, Perolândia e Portelândia Acreúna, Inaciolândia, Palmeiras, Itumbiara, Bom Jesus, Cachoeira Dourada, Santo Antônio da Barra Santa Helena, Turvelândia, Rio Verde, Montividiu, Caiapônia, Paraúna 16 7 Ipameri, Silvânia, Catalão RESULTADOS E DISCUSSÃO Grande parte dos pulverizadores (49,2%) em uso são equipamentos com idade entre 2 a 4 anos. Levando em conta a vida útil média dos equipamentos terrestres de dez anos, nota-se que a maioria dos equipamentos utilizados pelos produtores estão na fase inicial de utilização, fator positivo para a garantia da qualidade da aplicação (Fig. 1). 60 Pulverizadores avaliados (%) , ,875 17,1875 4,6875 3,125 3,125 0 IDADES 1, Figura 1. Idades dos pulverizadores de defensivos agrícolas utilizados em propriedades cotonícolas do Estado de Goiás. Safra 2006/2007. Outro dado observado é a preferência dos produtores por determinadas marcas de pulverizadores, tendo sido registrado que 80,65 % de pulverizadores são de uma mesma marca (Fig. 2), sendo 63,5% destes equipamentos do tipo autopropelido e 36,5% de arrasto, variando o tamanho do reservatório entre 2000 e 3000 litros.
4 1,61 4,84 3,23 9,68 JACTO JOHN DEERE CASE ALBA MONTANA 80,65 Figura 2. Marcas dos pulverizadores de defensivos agrícolas utilizados em propriedades cotonícolas do Estado de Goiás. Safra 2006/2007. Os itens acessórios dos equipamentos aplicadores e suas condições são mostrados na Tabela 2. Tabela 2. Acessórios dos equipamentos pulverizadores de defensivos agrícolas utilizados em propriedades cotonícolas do Estado de Goiás e suas condições. Safra 2006/2007. Acessórios/ condições Número de equipamentos avaliados Presença ou utilização adequada (%) Ausência ou utilização inadequada (%) Controlador automático de vazão 63 58,7 41,3 Manômetro 63 96,8 3,2 Sistema de tríplice lavagem de 49 81,8 18,2 embalagem Água limpa para o sistema de tríplice 49 32,6 67,4 lavagem Inclinação na barra 63 23,8 76,2 Localização das mangueiras 63 84,2 15,8 Situação das mangueiras 63 82,6 17,4 Espaçamento entre bicos 63 98,4 1,6 Padronização dos bicos 63 96,8 3,2 Graduação do tanque 63 96,8 3,2 Aceleração de 540 rpm na TDP 36 33,3 66,7 Agitador de calda ,0 0,00 Antigotejadores ,0 0,00 Antigotejadores em funcionamento 56 55,4 44,6
5 Entre os itens mais frequentemente verificados estão a presença de manômetro no equipamento (97%), espaçamento uniforme entre bicos (98%), padronização dos bicos (97%), presença de agitador de calda e de antigotejadores. O uso de água limpa no sistema de tríplice lavagem, embora de grande importância, somente está presente em 33% dos equipamentos. A inclinação da barra de pulverização somente está adequada em 24% dos casos avaliados. A aceleração da tomada de potência do trator (TDP) é outro item preocupante, visto que apenas 33% dos equipamentos utilizam-na corretamente (com 540 rpm). Antigotejadores, embora estejam presentes em todos os equipamentos avaliados, apresentam-se em bom estado de funcionamento apenas em 55% dos mesmos. Uma outra observação bastante importante extraída deste levantamento diz respeito ao volume de calda utilizado e à velocidade das pulverizações. O volume de pulverização deve depender de fatores tais como: o alvo desejado, o tipo de ponta utilizado, as condições climáticas, arquitetura da planta e o tipo de produto a ser aplicado (ANDEF 2005). Mas isso não significa que o produtor toma em consideração essas características ao definir o volume de calda, tendo casos onde o produtor define um volume de calda do inicio ao fim da cultura. Os cotonicultores preferem aplicar suspensões pesticidas a médio e alto volume, com volumes que variam entre 60 a 200 L/ha, tendo a maior freqüência de utilização volume de 150 L/ha. A velocidade de trabalho dos equipamentos terrestres varia entre 6 a 23 Km/h, embora a velocidade de 6 Km/h seja a mais utilizada Dados alarmantes foram obtidos no que se refere ao uso de equipamentos de proteção individual (EPI), notando-se pouca adesão a estes itens de segurança (Tabela 3). Itens indispensáveis como luvas, botas e avental impermeáveis e viseira facial são desprezados na quase totalidade dos casos. Os equipamentos mais utilizados são o respirador e a calça hidrorrepelente. De maneira geral, os EPI são muito pouco utilizados, o que pode comprometer a segurança dos aplicadores. Boa parte dos pulverizadores são providos de cabines climatizadas, o que não dispensa, entretanto, o uso destes equipamentos. Esta não adesão ao uso do EPI pode favorecer a chamada exposição real, que é a quantidade absoluta do agrotóxico que entra em contato intimo com o corpo, ficando prontamente disponível à absorção pelas vias dérmicas, respiratórias ou oral, em um dado momento (BONSALL, 1985). Tabela 3. Índices de adesão ao uso de EPI nas lavouras de algodão no Estado de Goiás na safra 2006/2007. Equipamento de proteção Número de casos de Percentagem de Casos avaliados individual (EPI) uso do EPI uso (%): Boné árabe ,67 Protetor de ouvido ,50 Viseira facial ,08 Respirador ,67 Calça hidrorrepelente ,75 Jaleco hidrorrepelente ,75 Avental impermeável ,00 Botas impermeáveis ,08 Luvas impermeáveis ,17 CONCLUSÕES Este trabalho mostra uma visão das condições dos equipamentos de aplicação e de segurança utilizados no controle fitossanitário, que interferem no processo produtivo da cotonicultura do estado de Goiás.
6 A maioria dos equipamentos utilizados pelos cotonicultores de Goiás são relativamente novos, com idade média de 2 a 4 anos de uso; Os fatores identificados que comprometem o atingimento do alvo no controle de pragas, doenças e ervas daninhas foram; presença de barra apresentando inclinação inadequada em 76% dos casos avaliados, a incorreta aceleração da tomada de potência do trator (TDP) em 67% dos equipamentos e o não funcionamento dos antigotejadores que chega a 44,6%. A segurança da aplicação relacionada ao uso de EPIs é insatisfatória, onde 41,6% dos aplicadores usam respirador e 0% dos mesmos usam avental impermeável. CONTRIBUIÇÃO PRÁTICA E CIENTÍFICA DO TRABALHO Através do levantamento, foi possível ter uma noção básica de como estão os pulverizadores nas diversas regiões produtoras de algodão do estado de Goiás bem como o seu uso. O presente trabalho demonstra que o bom estado da máquina é fundamental para assegurar o sucesso do controle fitossanitário, ao mesmo tempo em que denota a necessidade urgente de educação sanitária para melhorar a segurança das aplicações. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDEF. Tecnologia de aplicação de produtos fitossanitários. Disponível em Acesso em 15/03/2005. BONSALL, J.L. Measurement of occupational exposure to pesticide. In: Turnbull, G.L. (ed.) Occupational hazards of pesticide use. London: Taylor & Francis, p MIRANDA, J.E.; BETTINI, P.C. Resistência ou não. Revista Cultivar, p.15-19, abr SANTOS, S.R. Proposta metodológica utilizando ferramentas de qualidade na avaliação do processo de pulverização Tese (Doutorado) - UNICAMP,Campinas. SOUZA, A. C. C. de. A qualidade total na agricultura. In: SANTOS, L. M. F. dos e SOUZA, A. C. C. de. Qualidade total na agricultura e na pecuária. Curitiba: EMATER p TRINDADE, C.; REZENDE, J. L. P.; JACOVINE, L. A. G.; SARTORIO, M. L. Ferramentas da qualidade aplicação na atividade florestal. Viçosa, UFV, p.
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