Variação na qualidade da pastagem define a composição do suplemento. Marcelo Hentz Ramos, PhD Diretor-3rlab, consultor Rehagro
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- Lara Molinari Cipriano
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1 Variação na qualidade da pastagem define a composição do suplemento Marcelo Hentz Ramos, PhD Diretor-3rlab, consultor Rehagro Uma pastagem no início das chuvas com 60% de Fibra (FDN, fibra em detergente neutro) tem a mesma qualidade que uma pastagem no final da chuva com 60% de FDN? A pergunta é simples: um pasto A com 60% de FDN tem a mesma qualidade que um pasto B com 60% de FDN? Ou talvez mais interessante: o suplemento para o pasto da fazenda A é o mesmo que o suplemento para o pasto da fazenda B (considerando que todos os outros nutrientes são semelhantes)? Vamos entender um pouco mais sobre estas diferenças. É sabido que na fazenda a composição do pasto não é constante. É muito claro que o pasto das águas é melhor que o pasto das secas. Mas dentro de cada estação, e aqui vamos considerar somente águas e secas, a variação na composição da forragem também é muito grande. Como exemplo temos a fazenda A, que relata a qualidade do pasto mensalmente durante a época das chuvas (Tabela 1). Vamos analisar os meses Dezembro e Janeiro desta fazenda. Em dezembro esta fazenda estava com média de 20 kg de leite por vaca por dia suplementando com 11 kilos de concentrado e com os animais consumindo 7 kg de pasto. Devemos observar que o kd (velocidade de degradação da fibra) do mês de dezembro estava em 2 %/hora. Ou seja, a fibra estava degradando no rúmen a uma taxa de 2% a cada hora após o consumo do animal. No mês de janeiro, com o início das chuvas, e a rebrota vigorosa do pasto, a qualidade do pasto em termos de fibra manteve-se a mesma, 60% de FDN. Ou seja, se olharmos somente pela quantidade de fibra o pasto de dezembro é idêntico ao pasto de janeiro. Mas voltamos novamente na questão da velocidade de degradação da fibra. Observamos que em janeiro a fibra estava degradando a 4% por hora, o dobro da velocidade da degradação de dezembro. Este parâmetro de degradação permite que mais fibra seja utilizada no rúmen e consequentemente mais energia e proteína estaria disponível para o animal. Muito bem, o cenário está claro: ouve uma melhora na qualidade do pasto em janeiro. Portanto, um pasto com 60% de FDN pode ser melhor ou pior que outro pasto com 60% de FDN mesmo que todos os outros nutrientes
2 sejam iguais (proteína bruta por exemplo). O importante quando a variável analisada é fibra, é a velocidade de degradação desta. Em janeiro o técnico da fazenda tinha duas opções: manter a mesma quantidade de suplemento mesmo sabendo que o pasto estava melhor ou ajustar a quantidade do suplemento para poder utilizar mais pasto, sendo que este poderia contribuir mais na dieta do animal devido a uma melhora na qualidade. Se o técnico tivesse mantido a mesma quantidade de suplemento o custo seria o mesmo, pois o suplemento continuaria o mesmo, mas a produção de leite iria aumentar em aproximadamente 2 kg por vaca por dia. Por que? Simples, com a melhora do pasto mais nutrientes estariam chegando para o animal, portanto este deve responder com aumento de leite. Esta é a questão: será que os animais do meu cliente irão realmente responder em leite ou irão depositar este suplemento na carcaça? Esta é uma pergunta muito importante e que deve ser feita. Dependendo de uma grande quantidade de variáveis: dias em lactação do rebanho, ambiente, manejo, etc... Portanto o técnico precisa entender que a decisão de manter o suplemento e trabalhar com uma expectativa de aumento de leite versus diminuir o suplemento (neste caso diminuir farelo de soja) e manter a produção de leite, é uma decisão muito importante para a fazenda. Nesta ocasião, se o técnico estivesse decidido em manter o suplemento e os animais aumentassem a produção de leite, isto significaria R$2 a mais por vaca por dia para a fazenda. Mas se os animais não respondessem em leite, poderia significar um prejuízo escondido porque ele teria perdido a oportunidade de trabalhar com 1 kg a menos de farelo de soja (situação D) e obter os R$2 mesmo sem a resposta em leite dos animais, pois o custo estaria aproximadamente R$2 mais barato. Em uma terceira hipótese, se os animais estivessem em condições de responder à suplementação, o técnico retiraria 1 kilo de farelo de soja e aumentaria 1 kilo de pasto (assumiria que os animais iriam consumir 1 kg a mais de pasto). Nesta situação o lucro passaria de R$2 para R$3 reais por vaca por dia. Nesta simulação levamos em consideração somente a variação na qualidade da fibra do pasto para definir a quantidade do suplemento. É muito claro para a comunidade científica que o pasto esta sendo modificado pelos animais e pelo ambiente em cada pastejo. Poderíamos ter considerado a variação na quantidade e qualidade dos minerais para definir a quantidade de minerais no suplemento, etc... Outro ponto muito importante que
3 também é variável dentro de uma estação climática é a qualidade da proteína. Em uma maneira simplista, a proteína é dividida em frações, dentre estas as duas mais variáveis são a proteína insolúvel em detergente ácido (PIDA) e a proteína insolúvel em detergente neutro (PIDN). A PIDA não é absorvida no intestino delgado, portanto quanto maior esta fração da proteína menor a quantidade de proteína disponível para utilização pelo animal. Já a proteína insolúvel em detergente neutro (PIDN) é disponível para o animal na mesma velocidade de degradação da fibra que esta contida. Ou seja, em pasto com degradação de fibra boa mais proteína da planta (PIDN) poderá ser utilizada pelo animal. Já em pastos com fibras com baixa degradação, a disponibilidade da proteína será menor. Na fazenda da tabela 1 estas duas frações de proteína certamente não possuíam o mesmo valor, o que cria outra grande oportunidade de ajustar o suplemento levando em consideração estas variáveis também. Agora um ponto ainda mais importante, será que mesmo com a melhora de qualidade do pasto os animais conseguiram consumir 1 kilo a mais por dia? Para responder esta pergunta o técnico precisa entender a fazenda. Certamente, este técnico possui fazendas onde ele pode diminuir o concentrado e a quantidade de leite será mantida pois os animais terão a capacidade de aumentar o consumo. Entretanto, este mesmo técnico possui fazendas, e muitas vezes vizinhas, que ele é incapaz de diminuir o concentrado. Por quê? Simplesmente porque ele entende que os animais não conseguirão aumentar o consumo de pasto por inúmeros motivos: muitos animais no mesmo piquete, falta de sombra para descanso dos animais, falta de bebedouro, falta de água limpa e espaço de cocho para os animais beberem água, cochos inadequados para suplementação o que faz com que alguns animais consumam mais suplemento que outros, etc... Esta capacidade de entender qual o ponto de aperto de cada fazenda certamente é uma característica importante que o técnico desenvolve com o tempo. Mas será que eu preciso fazer este ajuste no gado de leite todo ou eu posso focar em um lote? Certamente estamos passando por um momento que a mão de obra na fazenda é um fator limitante. Portanto, o técnico pode sim trabalhar com mais precisão somente em um lote. Uma sugestão é focar no lote que deixa mais dinheiro na fazenda: o lote de alta produção. Tente trabalhar com mais detalhes neste lote porque o impacto financeiro é
4 maior com este grupo de animais. Se o técnico conseguir tirar alguns animais de baixa produção no momento que o pasto melhorar de qualidade, certamente os outros animais podem ser beneficiados com mais espaço para pastejo e com a oportunidade de consumir partes mais ricas do pasto, isto pode refletir em aumento de produção. Portanto, existem grandes oportunidades de ajustes que certamente irão resultar em respostas interessantes na fazenda. É obrigação do técnico entender estas possibilidades e aplicá-las de acordo com a capacidade de gestão de cada fazenda. Tabela 1 Simulações com variação na qualidade do pasto no custo e RSCA de um sistema de produção de leite. Fazenda A = Fazenda inicial em Dezembro, fazenda B = mesma fazenda com melhora no pasto porém mantendo a mesma quantidade de suplemento, fazenda C = mesma fazenda porém ajustando a quantidade de suplemento (mais pasto e menos soja 0,5 kg) e D = mesma fazenda utilizando mais pasto e menos soja 1 kg a menos. A B C D 60% FDN 60% FDN 60% FDN 60% FDN Dezembro Janeiro Janeiro Janeiro Kg de MS kd 2%/h kd 4%/h kd 4%/h kd 4%/h Pasto 7 7 7,5 8 Milho moído Polpa cítrica Farelo de soja 3 3 2,5 2 Total suplemento, kg ,5 10 EM, leite kg/d 20,50 22,61 22,28 21,87 Custo/vaca/dia, 10,26 10,26 9,46 8,67
5 R$/vaca RSCA, R$/vaca 10,24 12,37 12,83 13,20 EM = Energia metabolizável RSCA = Retorno sobre o custo alimentar = quantos reais o animal está dando de lucro pagando somente a alimentação.
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