PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO

Transcrição

1 (20GD02X`) PODER JUDICIÁRIO Numeração Única: APELAÇÃO/REEXAME NECESSÁRIO /AM Processo na Origem: EMENTA TRIBUTÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. IMPOSTO DE RENDA RETIDO NA FONTE. RENDIMENTOS ORIUNDOS DA EXPLORAÇÃO DE OBRAS AUDIOVISUAIS. ALÍQUOTA DE 15% - LEI 9.249/95, ART. 28. PEDIDO DE COMPENSAÇÃO. SEGURANÇA CONCEDIDA. SENTENÇA MANTIDA. 1. Não obstante a existência de leis tributárias anteriores que previam a incidência de alíquota de imposto de renda de 25% (DL 5.844/73, arts. 98 e 100 e Lei 3.470/58, art. 77; DL 1.089/70, art. 13), o art. 28 da Lei 9.249/95 reduziu a alíquota para 15% sobre os rendimentos oriundos da exploração de obras audiovisuais. 2. Legítima a pretensão autoral de aplicação da alíquota de 15% (Lei 9.249/95, art. 28) a título de imposto de renda retido na fonte, sobre as importâncias pagas a empresa estrangeira autorizada a explorar direitos sobre obras audiovisuais, porque inaplicável a norma do art. 7º da Lei 9.779/99, uma vez que os valores repassados pela primeira impetrante à segunda não se referem à prestação de serviço; tampouco aplicável o disposto no art. 706 do Decreto 3.000/1999, pois este ato normativo infralegal não poderia, a pretexto de compilar as leis regulamentadoras do imposto de renda, inovar na ordem jurídica, para elevar a alíquota referente à retenção do imposto na fonte. 3. Possível a compensação dos valores que foram indevidamente pagos com base no art. 706 do Decreto n. 3000/99, à alíquota de 25%, com parcelas vincendas da mesma exação imposto de renda. 4. Apelação da União e remessa oficial desprovidas. ACÓRDÃO Decide a Sexta Turma Suplementar do TRF da 1ª Região, por unanimidade, negar provimento à remessa oficial e à apelação, nos termos do voto do Relator. Brasília, 27 de novembro de JUIZ FEDERAL ITELMAR RAYDAN EVANGELISTA RELATOR CONVOCADO Criado por tr23591es

2 fls.2/5 RELATÓRIO EXMO. SR. JUIZ FEDERAL ITELMAR RAYDAN EVANGELISTA (RELATOR CONVOCADO): rata-se de apelação interposta pela União (Fazenda Nacional) contra a sentença que, em mandado de segurança impetrado pela VIDEOLAR S/A E OUTRO(A) contra ato do Delegado da Receita Federal em Manaus, concedeu a segurança para declarar o direito das Impetrantes a compensar os valores indevidamente pagos, a título de imposto de renda, com base no artigo 706 do Decreto nº 3000/99, à alíquota de 25%, com parcelas vincendas da mesma exação, nos termos do artigo 28 da Lei nº 9249/95, a salvo de qualquer penalização pela d. autoridade impetrada, assegurando-se à mesma o mais amplo poder de fiscalização quanto à exatidão deste procedimento. Em suas razões recursais (fls ), a apelante sustenta o desacerto da sentença, pugnando pela sua reforma, uma vez que a retenção do imposto de renda na fonte à alíquota de 25% (e não de 15%) teria amparo não apenas no art. 706 do Decreto 3.000/99, que não inovou na ordem jurídica, mas em diversos dispositivos legais, especialmente o art. 13 do DL 1.089/70, sendo certo que a legislação tributária deu tratamento diferenciado para os chamados direitos do autor e os direitos dos produtores ou distribuidores. Afirma que os rendimentos auferidos por produtores e distribuidores são decorrentes da licença de uso; assim, a relação contratual entre autor e produtor tem natureza de exploração econômica de uso concedida por aquele a este (Lei 9.610/88, art. 81). Alega que a inclusão do art. 7º da Lei 9.779/99, entre os dispositivos que servem de suporte para o art. 706 do RIR (Decreto 3000/99), é para destacar que, no caso dos direitos autorais serem explorados diretamente pelo próprio autor ou criador, a remuneração é considerada como rendimento do trabalho autônomo (RIR/99, art. 45, VII). Assevera que os impetrantes não comprovaram que quitaram suas obrigações fiscais, a título de imposto de renda, a uma alíquota de 25%, o que inviabiliza a pleiteada compensação. Requer o provimento do recurso. Foram apresentadas contrarrazões. O douto representante da PRR, em seu parecer de fls , pugna pela manutenção da sentença. É o relatório.

3 fls.3/5 VOTO EXMO. SR. JUIZ FEDERAL ITELMAR RAYDAN EVANGELISTA (RELATOR CONVOCADO): Não assiste razão à União (Fazenda Nacional) quando se insurge contra a sentença que concedeu a segurança, para declarar o direito das Impetrantes a compensar os valores indevidamente pagos, a título de imposto de renda, com base no artigo 706 do Decreto nº 3000/99, à alíquota de 25%, com parcelas vincendas da mesma exação, nos termos do artigo 28 da Lei nº 9249/95, a salvo de qualquer penalização pela d. autoridade impetrada, assegurando-se à mesma o mais amplo poder de fiscalização quanto à exatidão deste procedimento. Isso porque aplicável à espécie o art. 28 da Lei 9.249/95, que reduziu para 15% a alíquota do imposto de renda retido na fonte sobre as importâncias pagas em decorrência da exploração de direitos sobre obras audiovisuais. Portanto, inaplicável a norma do art. 7º da Lei 9.779/99, uma vez que os valores repassados pela primeira impetrante (Videolar S/A) à segunda (Fox Home) não se referem à prestação de serviço, mas a maior parte da receita auferida com a exploração de obras audiovisuais. Tampouco aplicável o art. 706 do Decreto 3.000/1999, pois este ato normativo infralegal não poderia, a pretexto de compilar as leis regulamentadoras do imposto de renda, inovar na ordem jurídica, para elevar a alíquota referente à retenção do imposto na fonte. Nesse sentido, cito o seguinte precedente: ADMINISTRATIVO - RESOLUÇÃO - NORMA DE CATEGORIA INFERIOR ÀQUELA QUE VISA COMPLEMENTA - IMPOSSIBILIDADE DE INOVAÇÃO - IMPROVIMENTO. 1. È inoperante a norma de hierarquia inferior que, a pretexto de regulamentar a de categoria superior, ultrapassa os limites da lei regulamentadora, inovando na ordem jurídica. 2 - Apelo e remessa oficial improvidos. 3 - Sentença confirmada. (AMS / MG, Rel. JUIZ CATÃO ALVES, Rel.Conv. JUIZ FRANCISCO DE ASSIS BETTI (CONV.), PRIMEIRA TURMA, DJ p.109 de 07/02/2000) Com acerto, manifestou-se o douto representante da Procuradoria Regional da República, ao destacar que, não obstante a regulamentação tributária anterior que previa a incidência de alíquota de 25% (DL 5.844/73, arts. 98 e 100 e Lei 3.470/58, art. 77; DL 1.089/70, art. 13), o art. 28 da Lei 9.249/95 reduziu a alíquota para 15% sobre os rendimentos oriundos da exploração de películas cinematográficas, merecendo transcrição o seguinte trecho do parecer (fls ): Ocorre que os rendimentos oriundos da exploração de películas cinematográficas, percebidos pelas pessoas físicas ou jurídicas, residentes ou domiciliadas no estrangeiro, pasaram a ser tributados, a partir de janeiro de 1996, com a alíquota de 15%, consoante preceituado no art. 28 da Lei 9.249/95: Art. 28. A alíquota do imposto de renda de que tratam o art. 77 da Lei nº 3.470, de 28 de novembro de 1958 e o art. 100 do Decreto-Lei nº 5.844, de 23 de setembro de 1943, com as modificações posteriormente introduzidas, passa, a partir de 1º de janeiro de 1996, a ser de quinze por cento. Por outro lado, as remessas ao exteior referentes ao pagamento de prestação de serviços, com o advento da Lei 9.779/99, tornaram tributadas à alíquota de 25%:

4 fls.4/5 Art. 7º. Os rendimentos do trabalho, com ou sem vínculo empregatício, e os da prestação de serviços, pagos, creditados, entregues, empregados ou remetidos a residentes ou domiciliados no exterior, sujeitam-se à incidência do imposto de renda na fonte à alíquota de vinte e cinco por cento. O Decreto 3.000/99, por fim dispôs em seu art. 706: Películas Cinematográficas Art Estão sujeitas à incidência do imposto na fonte, à alíquota de vinte e cinco por cento, as importâncias pagas, creditadas, empregadas, remetidas ou entregues aos produtores, distribuidores ou intermediários no exterior, como rendimento decorrente da exploração de obras audiovisuais estrangeiras em todo o território nacional ou por sua aquisição ou importação, a preço fixo (Lei nº 3.470, de 1958, art. 77, 1º, inciso I, Decreto-Lei nº 1.089, de 1970, art. 13, Decreto-Lei nº 1.741, de 27 de dezembro de 1979, art. 1º, Lei nº 8.685, de 1993, art. 2º, Lei nº 9.249, de 1995, art. 28, e Lei no 9.779, de 1999, art. 7o). Parágrafo único. O imposto de que trata este artigo incidirá: I - sobre os filmes importados a preço fixo, no momento da efetivação do crédito para pagamento dos direitos adquiridos; II - sobre os rendimentos decorrentes da exploração das obras audiovisuais estrangeiras em regime de distribuição e comercialização em salas de exibição, emissoras de televisão, de sinal aberto ou codificado, cabo-difusão, mercado videofonográfico ou qualquer outra modalidade de exploração comercial da obra, no momento da efetivação do crédito ao produtor, distribuidor ou intermediários domiciliados no exterior. Impende destacar, desde logo, não ser o imposto der renda um dos tributos que permitem a majoração de alíquotas por simples Decreto, como preceitua o art. 153, 1º, da Constituição Federal. De outra parte, não há na legislação indicada no citado dispositivo do Decreto (art. 706 do Decreto 3.000/99) algo que autorize a alíquota de 25% na atualidade. Nada se vê, também, na legislação indicada no apelo da União. Assim, essa alíquota de 25% somente poderia incidir sobre as remessas feitas pela Videolar à Fox Home Entertaiment Worldwide L.C.C. caso elas se amoldassem ao mencionado art. 7º da Lei 9.779/99, ou seja, se fossem decorrentes do pagamento de prestação de serviços. Bem aplicado pela v. sentença o art. 110 do CTN. A renda auferida pela Fox Home não decorre de um serviço por ela prestado mas da transferência do direito de exploração de obras para a Videolar. Sob qualquer ótica, pois, as receitas auferidas devem ser tributadas à alíquota de 15%, consoante previsto nesse dispositivo. Jamais se pode considerar que a Fox Home, ao conceder uma licença para que a Videolar distribua as obras audiovisuais que terceiros produzem, esteja prestando um serviço. Destarte, a sentença não diverge desse entendimento, devendo ser mantida. Quanto ao pedido de compensação dos valores que foram indevidamente pagos com base no art. 706 do Decreto n. 3000/99, à alíquota de 25%, com parcelas vincendas da mesma exação (Lei 9.249/95, art. 28), esse pedido não se confunde com o pedido de depósito

5 judicial da diferença entre o valor efetivamente devido (15%) e o valor exigido pelo Fisco (25%), do qual resultou o depósito judicial de fl Por óbvio, o valor que foi depositado judicialmente não será objeto de compensação, mas tão somente os que foram efetivamente quitados/pagos com base na alíquota de 25%. Desse modo, não assiste razão à apelante quando se insurge contra o deferimento da compensação do imposto de renda que fora pago a maior. Ante o exposto, nego provimento à apelação da União e à remessa oficial. É o voto. fls.5/5 JUIZ FEDERAL ITELMAR RAYDAN EVANGELISTA RELATOR CONVOCADO