IV - APELACAO CIVEL

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1 RELATOR APELANTE ADVOGADO APELADO ORIGEM : DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO BARATA : COMPANHIA DE MARCAS : DEBORAH BARRETO MENDES E OUTROS : UNIAO FEDERAL / FAZENDA NACIONAL : DÉCIMA PRIMEIRA VARA FEDERAL DO RIO DE JANEIRO ( ) R E L A T Ó R I O Trata-se de apelação cível interposta por COMPANHIA DE MARCAS em face da UNIÃO FEDERAL (FAZENDA NACIONAL) objetivando reformar a sentença que julgou improcedente o pedido para assegurar o direito à correção de suas demonstrações financeiras com base no IPC, ou em outro índice que espelhe a real inflação do período, não se aplicando o art. 4 o da Lei nº 9.249/95. Alega, em síntese, que o expurgo da inflação real no balanço da empresa gera tributação sobre um lucro fictício, recaindo sobre o próprio patrimônio e criando um verdadeiro imposto, o que viola o disposto nos artigos 43 do CTN e 154 da Constituição Federal. Com contra-razões, os autos foram recebidos neste tribunal em 25 de abril de 2001 e distribuídos ao Desembargador Federal Sergio Feltrin no dia 30 de maio seguinte (fl. 91-v). O Ministério Público Federal opinou pela desnecessidade de sua intervenção no feito (fls. 93). Por força da especialização das turmas deste tribunal, os autos me foram redistribuídos em e vieram conclusos em 14 de fevereiro do mesmo ano (fl. 96). É o relatório. Rio de Janeiro, 15 de junho de

2 PAULO FREITAS BARATA Relator V O T O EMENTA: TRIBUTÁRIO IRPJ E CSLL DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS CORREÇÃO MONETÁRIA ARTIGO 4º DA LEI 9.249/ O art. 4, da Lei n 9.249/95 expressamente proibiu a correção monetária das demonstrações financeiras, inclusive para fins societários, bem como a utilização de qualquer outro sistema de correção para este fim, a partir do exercício de Antes do advento da Lei nº 9.249/95, a correção monetária das demonstrações financeiras tinha previsão nas Leis nº 7.799/89 e 8.200/91 para o fim da determinação do lucro real tributável. 3. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE nº /MG, decidiu que não há um conceito ontológico de lucro tributável, não havendo que se falar em um lucro real que não seja o decorrente da definição legal, que adota a técnica da enumeração taxativa. 4. É, portanto, um conceito decorrente de lei para efeitos tributários, razão pela qual a extinção da correção monetária nas demonstrações financeiras não implica na tributação de lucro fictício, inexistindo ofensa aos artigos 150, IV, e 153, III, da CF e ao artigo 43 e 110 do CTN. 2

3 5. Inexiste direito à índice de indexação real, fundado na Constituição, não havendo ofensa ao princípio do direito adquirido na mudança dos índices de correção monetária com base em legislação superveniente. Precedentes do STF. 6. Apelação improvida. Trata-se de apelação cível interposta por COMPANHIA DE MARCAS em face da UNIÃO FEDERAL (FAZENDA NACIONAL) objetivando reformar a sentença que julgou improcedente o pedido para assegurar o direito à correção de suas demonstrações financeiras com base no IPC, ou em outro índice que espelhe a real inflação do período, não se aplicando o art. 4 o da Lei nº 9.249/95. O art. 4, da Lei n 9.249/95 expressamente proibiu a correção monetária das demonstrações financeiras, inclusive para fins societários, bem como a utilização de qualquer outro sistema de correção para este fim, a partir do exercício de Antes do advento da Lei nº 9.249/95, a correção monetária das demonstrações financeiras tinha previsão nas Leis nº 7.799/89 e 8.200/91 para o fim da determinação do lucro real tributável. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE nº /MG, decidiu que não há um conceito ontológico de lucro tributável, não havendo que se falar em um lucro real que não seja o decorrente da definição legal, que adota a técnica da enumeração taxativa. Assim, o lucro tributável, segundo o art. 6º do DL nº 1.598/77 é o lucro líquido do exercício, ajustado pelas adições, exclusões ou compensações prescritas ou autorizadas pela legislação tributária. É, portanto, um conceito decorrente de lei para efeitos tributários, razão pela qual a extinção da correção monetária nas demonstrações financeiras não implica na tributação de lucro fictício, inexistindo ofensa aos artigos 150, IV, e 153, III, da CF e ao artigo 43 e 110 do CTN. Nesse sentido: 3

4 TRIBUTÁRIO IMPOSTO DE RENDA PESSOA JURÍDICA - DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS CORREÇÃO MONETÁRIA SUPRESSÃO PELO ART. 4º, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI 9.249/95: POSSIBILIDADE. 1. O STJ firmou entendimento de que a correção monetária das demonstrações financeiras depende de lei que a autorize. 2. Existindo norma que vede a correção monetária sobre as demonstrações financeiras (no caso, o art. 4º, parágrafo único, da Lei 9.249/95), não é permitido ao Poder Judiciário, atuando como legislador positivo, modificar tal entendimento e determinar o indexador que lhe pareça mais adequado. 3. Recurso especial não provido. (STJ, 2 a Turma, REsp nº /RJ, Rel. Min. Eliana Calmon, Sessão de , unânime, DJ de ). TRIBUTÁRIO. CONSTITUCIONAL. IRPJ E CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO. CORREÇÃO MONETÁRIA DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS. CONSTITUCIONALIDADE DO ART. 4º DA LEI 9.249/95. APELAÇÃO PROVIDA EM PARTE. 1. Dizer juridicamente "possível" um pedido não se confunde com a análise do direito material que ele encerra, não devendo chamar-se de impossibilidade jurídica do pedido o que não passa de manifesta improcedência. 2. A correção monetária das demonstrações financeiras foi extinta a partir de 1996, com a vigência da Lei 9.249/95, 4

5 que em seu artigo 4º e parágrafo único, expressamente a revogou. 3. Sendo certo que correção monetária de valores é matéria sujeita ao princípio da legalidade, não cabe ao Poder Judiciário - que não possui função legislativa - criar regras sobre indexação de demonstrações financeiras de pessoas jurídicas, especialmente quando a lei expressamente a proíbe. 4. A jurisprudência tem se orientado no sentido de que a revogação da correção das demonstrações financeiras, determinada pelo artigo 4º da Lei nº 9.249/95, não é inconstitucional. 5. A extinção da correção monetária não implica na tributação de lucro fictício, porquanto o lucro contábil deriva, necessariamente, das inclusões e exclusões permitidas na legislação tributária. Nesta linha, não há que se cogitar em ofensa ao artigo 153, III, da CF e aos artigos 43 e 44 do CTN, visto que não configurada qualquer ofensa ao fato gerador do Imposto de Renda. 6. Apelação provida em parte, para julgar improcedente o pedido (artigo 515, 3º, do CPC). 7. Peças liberadas pelo Relator, em 11/12/2007, para publicação do acórdão. (TRF 1ª Região, AC nº , Rel. Desembargador Federal Luciano Tolentino Amaral, DJU de ) TRIBUTÁRIO. IMPOSTO DE RENDA PESSOA JURÍDICA. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO. CORREÇÃO MONETÁRIA DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS. LEI Nº 9.245/95. ARTIGO 4º. CONSTITUCIONALIDADE. 5

6 1. Sendo certo que a correção monetária está sujeita ao princípio da legalidade estrita, a pretensão de obter indexação das demonstrações financeiras relativas aos exercícios de 1996 e 1997 encontra óbice legal no artigo 4º da Lei nº 9.245/95, que não pode ser transposto pelo Poder Judiciário, que não possui função legislativa. 2. Não há que se cogitar de efeito confiscatório ou inconstitucionalidade por ofensa ao fato gerador do Imposto de Renda, porquanto o lucro contábil deriva, necessariamente, das inclusões e exclusões permitidas pela legislação. Logo, se a exclusão da correção monetária é permitida pelo regramento legal, não há que se cogitar em existência de lucro fictício, já que este (lucro) para efeito da legislação tributária possui caráter nitidamente legal. Precedentes da Corte. 3. Apelação desprovida. (TRF 1ª Região, AC nº , Rel. Juiz Federal Convocado Wilson Naves de Souza, DJU de ) O que pretende o impetrante é que a inflação seja objeto de dedução para apuração do lucro real tributável, mesmo sem permissão legal, o que levaria à afirmação de existir deduções, por essência, obrigatórias, o que não é verdade. Sendo vedada a utilização da correção monetária nas demonstrações financeiras para fins de dedução do imposto de renda e da contribuição social sobre o lucro líquido de pessoa jurídica pelo artigo 4º da Lei 9.249/95, não cabe ao Poder Judiciário atuar como legislador positivo para eleger o indexador que entender mais apropriado. Inclusive, já restou pacificado pelo Plenário do STF inexistir direito à índice de indexação real, fundado na Constituição, não havendo ofensa ao princípio do direito adquirido na mudança dos índices de correção monetária com base em legislação superveniente. Nesse sentido: 6

7 RECURSO EXTRAORDINÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL. IMPOSTO DE RENDA. PESSOA JURÍDICA. BALANÇO. CORREÇÃO MONETÁRIA. LEI Nº 8.088/ Conforme consignado pelo Plenário desta Corte no RE , não existe direito, fundado na Constituição, a índice de indexação real. 2. A mudança nos índices de correção monetária, com base em legislação superveniente, não constitui ofensa ao princípio do direito adquirido ou da irretroatividade tributária. Precedente: RE AgR, DJ de Agravo regimental improvido. (RE-AgRnº /SP, Rel. Min. Ellen Gracie, DJU de ) Assim, não vislumbro inconstitucionalidade ou ilegalidade na revogação da correção monetária nas demonstrações financeiras pela Lei nº 9.249/95. Nesse sentido, já decidiu esta Corte: TRIBUTÁRIO. CORREÇÃO MONETÁRIA. DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS DO ANO DE UFIR. PRECEDENTES DO E. STJ. ART. 4º DA LEI 9.249/95. LEGALIDADE. - A reiterada jurisprudência do E. Superior Tribunal de Justiça é no sentido de que, no cômputo da correção monetária sobre as demonstrações financeiras do ano de 1994, não deve ser aplicado o IGPM, mas sim os índices da UFIR, nos moldes estabelecidos em lei. Precedentes (REsp nº /PR, 1ª Turma, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, in DJ 28/10/2003). - Quanto à revogação das demonstrações financeiras determinada pelo art. 4º da Lei nº 9.249/95, a jurisprudência dos Tribunais orienta-se no sentido de que não há qualquer ilegalidade ou inconstitucionalidade no dispositivo impugnado. Se assim pretendeu o legislador, 7

8 não cabe ao Judiciário intervir, pena de atuar o Juiz como legislador positivo. - Remessa e recurso da União providos. Recurso da autora improvido. (AC nº , Rel. Desembargador Benedito Gonçalves, DJU de ) Diante do exposto, NEGO PROVIMENTO ao recurso. É como voto. Rio de Janeiro, de de PAULO FREITAS BARATA Relator E M E N T A TRIBUTÁRIO IRPJ E CSLL DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS CORREÇÃO MONETÁRIA ARTIGO 4º DA LEI 9.249/ O art. 4, da Lei n 9.249/95 expressamente proibiu a correção monetária das demonstrações financeiras, inclusive para fins societários, bem como a utilização de qualquer outro sistema de correção para este fim, a partir do exercício de Antes do advento da Lei nº 9.249/95, a correção monetária das demonstrações financeiras tinha previsão nas Leis nº 7.799/89 e 8.200/91 para o fim da determinação do lucro real tributável. 3. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE nº /MG, decidiu que não há um conceito ontológico de lucro tributável, não havendo que se falar em um lucro real que não seja o decorrente da definição legal, que adota a técnica da enumeração taxativa. 4. É, portanto, um conceito decorrente de lei para efeitos tributários, razão pela qual a extinção da correção monetária nas demonstrações financeiras não implica na tributação de lucro fictício, inexistindo ofensa aos artigos 150, IV, e 153, III, da CF e ao artigo 43 e 110 do CTN. 8

9 5. Inexiste direito à índice de indexação real, fundado na Constituição, não havendo ofensa ao princípio do direito adquirido na mudança dos índices de correção monetária com base em legislação superveniente. Precedentes do STF. 6. Apelação improvida. A C Ó R D Ã O Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas: Decide a Egrégia Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, à unanimidade, negar provimento ao recurso, nos termos do voto do Relator, que fica fazendo parte integrante do presente julgado. Rio de Janeiro, 07 de julho de 2009 (data do julgamento). PAULO FREITAS BARATA Relator 9