Coordenação-Geral de Tributação

Transcrição

1 Fls. 1 Coordenação-Geral de Tributação Solução de Divergência nº 39 - Data 30 de dezembro de 2013 Processo Interessado CNPJ/CPF ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO TEMPLOS QUALQUER CULTO. IMUNIDADE. ALCANCE A imunidade prevista na alínea b do inciso VI do art. 150 da Constituição aplica-se exclusivamente a impostos incidentes sobre o patrimônio, renda ou serviços relacionados com as finalidades essenciais dos templos de qualquer culto, e não se estende a qualquer outro tributo. NORMAS DE APURAÇÃO E DE PAGAMENTO COMUNS AO IRPJ E À CSLL O disposto no art. 57 da Lei nº 8.981, de 1995, não autoriza estender à CSLL a imunidade prevista para o IRPJ. Fica reformada a Solução de Consulta nº 212, de 5 de julho de 2006, da Divisão de Tributação da Superintendência Regional da Receita Federal do Brasil na 9ª Região Fiscal. Dispositivos Legais: Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, art. 150, VI, b, 4º; Lei nº 8.981, de 20 de janeiro de 1995, art. 57; Lei nº 7.689, de 15 de dezembro de 1988, art. 2º. Relatório O servidor acima identificado representou à Coordenação-Geral de Tributação () contra divergência verificada entre a Solução de Consulta nº 4, de 11 de janeiro de 2013, emitida pela Divisão de Tributação (Disit) da 8ª Região Fiscal, e a Solução de Consulta 1

2 Fls. 2 nº 212, de 5 de julho de 2006, emitida pela Disit da 9ª Região Fiscal. Observou na formulação a orientação então vigente, contida no art. 17 da Instrução Normativa RFB nº 740, de 2 de maio de De acordo com as Ementas das Soluções conflitantes, abaixo transcritas, configura a divergência o fato de a Solução de Consulta nº 4 sustentar que a imunidade de impostos não se estende a contribuições sociais (no caso, Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido - CSLL), enquanto a Solução de Consulta nº 212 diz que a receita auferida por templos de qualquer culto, oriunda de um único imóvel locado, recebido em doação, não será tributada pela Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), em face da imunidade que gozam essas entidades : Solução de Consulta SRRF08/Disit nº 4, de 11/1/2013 Ementa: TEMPLOS DE QUALQUER CULTO. IMUNIDADE. ISENÇÃO. Uma vez caracterizada a entidade como templo de qualquer culto, decorre daí sua imunidade para fins de IRPJ. Referida imunidade é somente aplicável a qualquer patrimônio, renda, ou serviços vinculados a suas atividades essenciais, não havendo, no caso, que se falar de vinculação legalmente estabelecida de aplicação no país de recursos, a fim de que se mantenha o gozo da imunidade. Incabível qualquer extensão da imunidade (a impostos) a quaisquer contribuições sociais, aqui inclusa a CSLL, rejeitada, ainda, a hipótese de isenção da CSLL com fulcro no art. 57 da Lei nº 8.981, de 1995, considerado o princípio de legalidade específica estabelecido na forma do 6º do art. 150 da CRFB. Solução de Consulta SRRF09/Disit nº 212, de 5/7/2006 Ementa: A receita auferida por templos de qualquer culto, oriunda de um único imóvel locado, recebido em doação, não será tributada pela Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), em face da imunidade que gozam essas entidades, uma vez que esse rendimento relaciona-se com suas finalidades essenciais, não caracterizando ato de natureza econômico-financeira, devendo a renda assim auferida ser integralmente aplicada nas suas atividades fins. 3. Na Solução de Consulta nº 212, da Divisão de Tributação (Disit) da 9ª Região Fiscal, entendeu-se que o art. 57 da Lei nº 8.981, de 20 de janeiro de 1995, ao equiparar a CSLL ao IRPJ - no que concerne às normas de apuração e de pagamento - teria estendido a imunidade de impostos de que gozam os templos de qualquer culto à CSLL quanto à renda proveniente de aluguel do único imóvel da entidade religiosa, desde que essa renda fosse aplicada em suas atividades fins. 4. O autor da representação citou ainda trechos da Solução de Consulta nº 212, dos quais destacou o item 21, nos termos do qual Esse entendimento (refere-se à imunidade de IRPJ para os templos de qualquer culto) também se amolda à Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), uma vez que se aplica a essa contribuição as mesmas normas de apuração e pagamento estabelecidas para o IRPJ, consoante comando do art. 57 da Lei nº 2

3 Fls , de 20 de janeiro de 1995, com a redação dada pela Lei nº 9.065, de 20 de junho de A Superintendência Regional da Receita Federal do Brasil na 8ª Região Fiscal admitiu a representação, nos termos do Despacho de fl. 6, e a encaminhou à Coordenação- Geral de Tributação (). Fundamentos 6. Não se confundem imunidade e isenção. A imunidade impede o ente político de exercer seu poder de tributar e, assim, o fato realizado pelo sujeito é afastado (pela imunidade) do campo de incidência da lei tributária. Um templo religioso é imune do pagamento de impostos sobre seu patrimônio, renda ou serviço pelo só fato de ser templo. Na isenção, o poder de tributar mantém-se incólume, embora contido pela lei. O fato gerador da obrigação tributária ocorre e é sujeito à lei tributária, mas o ente político não pode constituir o crédito enquanto este se mantiver excluído pela lei de isenção. 7. Sendo direito constitucional, a imunidade incide sobre tributo determinado, sem possibilidade de estender seu alcance a outro tributo, qualquer que seja o método interpretativo. No art. 150, VI, b, c/c 4º, da Constituição, a imunidade alcança impostos incidentes sobre o patrimônio, renda ou serviços dos templos de qualquer culto, relacionados com suas finalidades essenciais. 8. A divergência reside no alcance da imunidade prevista no art. 150, VI, b, da Constituição. A Disit da 8ª Região Fiscal entende não ser possível estender seu alcance para além dos impostos enumerados expressamente pelo dispositivo, enquanto a Disit da 9ª Região sustenta ser a imunidade extensível à CSLL. A CSLL foi instituída pela Lei nº 7.689, de 15 de dezembro de 1988, e incide sobre o lucro das pessoas jurídicas. Apesar de a lei não ter dito de forma expressa, é de se concluir que o fato gerador da obrigação de pagar CSLL é a percepção de lucro, embora a ausência deste não exclua, por si só, a incidência de CSLL sobre a pessoa jurídica. 9. Como disse a Disit da 8ª Região Fiscal, a imunidade do art. 150, VI, b, da Constituição aplica-se exclusivamente a impostos. Como imunidade tem base constitucional, é imune o que a Constituição disser que é. Lei ordinária pode conceder isenção de contribuição, mas não alterar o alcance imunidade prevista na Constituição. Esse é também o entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF), como se vê desta ementa: Contribuição sindical. Imunidade. CF, 1967, art. 21, 2º, I, e art. 19, III, b; CF, 1988, art. 149 e art. 150, VI, b. A imunidade do art. 19, III, da CF/1967 (CF/1988, art. 150, VI) diz respeito apenas a impostos. A contribuição é espécie tributária distinta,que não se confunde com o imposto. É o caso da contribuição sindical, instituída no interesse de categoria profissional (CF/1967, art. 21, 2º, I; CF/1988, art. 149), assim não abrangida pela imunidade do art. 19, III, 3

4 Fls. 4 CF/1967, ou art. 150, VI, CF/1988. (RE , Rel. Min. Carlos Velloso, julgamento em , Segunda Turma, DJ de ) 10. O art. 57 da Lei nº 8.981, de 1995, que determina a aplicação à CSLL das mesmas normas de apuração e de pagamento estabelecidas para o imposto de renda das pessoas jurídicas é indicado para o contribuinte das duas espécies tributárias. No intuito de racionalizar procedimentos, o art. 57 estabelece critérios comuns de apuração do IRPJ e da CSLL. Isso é válido para critérios operacionais de apuração, mas não para definir regras de incidência. Embora espécies distintas, com fatos geradores distintos (o da CSLL é o lucro e o do IRPJ é a renda), o contribuinte do IRPJ é, em regra, contribuinte da CSLL. Porém, o inverso não acontece: as entidades a que se referem as alíneas b e c do inciso VI do art. 150 da Constituição são imunes do pagamento do IRPJ, mas não da CSLL. Conclusão 11. Com base no exposto, conclui-se que a imunidade prevista na alínea b do inciso VI do art. 150 da Constituição aplica-se exclusivamente a impostos incidentes sobre o patrimônio, renda ou serviços relacionados com as finalidades essenciais dos templos de qualquer culto, e que o disposto no art. 57 da Lei nº 8.981, de 1995, não autoriza estender à CSLL a imunidade prevista para o IRPJ. A aplicação de normas de apuração e de pagamento comuns às duas espécies é indicada para contribuintes dos dois tributos. 12. Propõe-se: Fiscal; 12.1 manutenção da Solução de Consulta nº 4, de 2013, da SRRFB da 8ª Região 12.2 reforma da Solução de Consulta nº 212, de 2006, da SRRFB da 9ª Região Fiscal, a fim de consignar que a imunidade a que se refere o art. 150, VI, b, da Constituição, não se estende à CSLL; 12.3 encaminhamento dos autos do processo à Disit da 8ª Região Fiscal para conhecimento, e à Disit da 9ª Região Fiscal para a providência prevista no 4º do art. 19 da Instrução Normativa RFB nº 1.396, de À consideração superior. RONAN DE OLIVEIRA Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil ALEXANDRE SERRA BARRETO Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil De acordo. À consideração das Coordenadoras da Copen e da Cotir. 4

5 Fls. 5 EDUARDO GABRIEL DE G.V.F. FOGAÇA AFRFB - Chefe da Dinog RICARDO SILVA DA CRUZ AFRFB - Chefe da Dirpj De acordo. À consideração do Coordenador-Geral da. MIRZA MENDES REIS AFRFB - Coordenadora da Copen CLÁUDIA LÚCIA P. M. DA SILVA AFRFB - Coordenadora da Cotir Ordem de Intimação Aprovo a solução de divergência e o encaminhamento proposto. Fica reformada a Solução de Consulta nº 212, de 2006, da Divisão de Tributação da Superintendência Regional da Receita Federal do Brasil na 9ª Região Fiscal. Dê-se ciência ao destinatário da Solução de Consulta reformada. FERNANDO MOMBELLI Coordenador-Geral de Tributação 5